XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental
II-053 - SISTEMA MULTIMUNICIPAL DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA À
ÁREA NORTE DO GRANDE PORTO INÍCIO DE EXPLORAÇÃO
Carla Sá Fernandes(1)
Engenheira Química pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal.
Assessora do Director de Operações, Águas do Cávado, SA, Portugal.
Carlos Vieira
Engenheiro Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Portugal.
Director de Operações, Águas do Cávado, SA, Portugal.
Endereço(1): Rua Duque de Barcelos, 6 - 4750 Barcelos - Portugal - Tel: + 351 253919020 Fax: + 351 253919029 - e-mail: [email protected]
RESUMO
Desde a captação até à distribuição domiciliária, a água percorre hoje um processo complexo que só a
evolução tecnológica, grandes investimentos e uma criteriosa política de gestão permitem assegurar o seu
abastecimento contínuo e garantir a sua qualidade, de acordo com os requisitos exigíveis em termos de saúde
pública. A criação do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água à Área Norte do Grande Porto,
insere-se neste quadro: captar água em caudal suficiente para garantir o abastecimento contínuo das
populações da área de influência definida (sete Municípios: Barcelos, Esposende, Maia (Norte), Póvoa de
Varzim, Santo Tirso, Vila do Conde e Vila Nova de Famalicão ) e promover todas as acções necessárias para
garantir elevados padrões de qualidade do “produto” distribuído.
Anteriormente, a gestão da água era de responsabilidade municipal. Cada Município geria os seus recursos
próprios para satisfação das necessidades das suas populações, verificando-se desequilíbrios que só a gestão
integrada, a nível regional, permite superar. Com a entrada em funcionamento deste Sistema, apenas a
distribuição “em baixa” é gerida pelos Municípios. O Sistema foi construído de raíz, durando a sua execução
cerca de três anos e meio, e é constituído por uma estação de tratamento de água (ETA), 211 km de condutas
adutoras (com diâmetros até 1400 mm), 11 estações elevatórias e 41 reservatórios. A ETA, situada em Areias
de Vilar, Barcelos, possui uma capacidade de produção diária actual de 164 000 m3 e compreende uma
captação superficial, no rio Cávado, e dois reservatórios de água bruta que lhe conferem uma autonomia de
24 horas em caso de emergência (aparecimento de poluição pontual, falhas de regularização do rio, ...). Na
linha de tratamento, sucedem-se as etapas de pré-ozonização (dose média de ozono de 0,7 mg/l),
remineralização (doses médias de dióxido de carbono e de cal de 60 mg/l e de 64-70 mg/l, respectivamente),
coagulação/floculação com sulfato de alumínio a 8-9 mg/l (dose média do produto líquido comercial) e
polímero a 0,2 mg/l, decantação lamelar com pulsação, filtração gravítica rápida em monocamada de areia e
desinfecção final com cloro a 2 mg/l. A ETA compreende, ainda, um reservatório de água tratada de 20 000
m3 e uma estação elevatória para o sistema adutor que eleva a água tratada para um reservatório de
regularização a uma altura de 136 m, a partir do qual a água é aduzida aos Municípios. O início de
exploração deu-se em Janeiro de 2000, tendo sido o volume de água aduzido no 1º Semestre de 6 063 372 m3.
PALAVRAS-CHAVE: Descrição do Sistema, Início de Exploração, Dados de Operação, Volumes Aduzidos.
INTRODUÇÃO
O crescimento populacional e a melhoria das condições de vida das populações são algumas das razões que
justificam o significativo aumento do consumo de água verificado ao longo dos últimos anos. Estes factos,
conjugados com as crescentes dificuldades de gestão das reservas existentes, atribuíram à água - que é, hoje,
indiscutivelmente, um recurso escasso - uma importância económica e estratégica que justifica o
aparecimento de uma verdadeira “indústria da água”.
Desde a captação até à distribuição domiciliária, a água percorre hoje um processo complexo que só a
evolução tecnológica, grandes investimentos e uma criteriosa política de gestão permitem assegurar o seu
abastecimento contínuo e garantir a sua qualidade, de acordo com os requisitos exigíveis em termos de saúde
pública. A criação do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água à Área Norte do Grande Porto,
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insere-se neste quadro: captar água em caudal suficiente para garantir o abastecimento contínuo das
populações da área de influência definida (sete Municípios) e promover todas as acções necessárias para
garantir elevados padrões de qualidade do “produto” distribuído.
Anteriormente, a gestão da captação de água, do seu tratamento, da adução e da distribuição era de
responsabilidade municipal. Cada Município geria os seus recursos próprios para satisfação das necessidades
das suas populações, verificando-se desequilíbrios que só a gestão integrada, a nível regional, permite
superar. Actualmente, com a entrada em funcionamento do Sistema Multimunicipal, apenas a distribuição
em baixa é gerida pelos Municípios.
É objectivo da presente comunicação apresentar o Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água à Área
Norte do Grande Porto e o seu início de exploração que aconteceu em Janeiro de 2000.
DESCRIÇÃO DO SISTEMA
O Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água à Área Norte do Grande Porto foi construído de raiz,
durando a sua execução cerca de três anos e meio.
A captação da água para o abastecimento do Sistema é feita no rio Cávado, junto a Areias de Vilar, concelho
de Barcelos, num troço do rio onde a qualidade da água é adequada e o caudal suficiente para permitir a
captação dos volumes necessários à integral satisfação das necessidades previstas.
Neste local fica localizada uma captação superficial, uma estação de tratamento, com capacidade de produção
diária actual de 164 000 m3, podendo atingir os 230 mil metros cúbicos, e dois reservatórios de água bruta,
que conferem à Estação uma autonomia de 24 horas em caso de emergência (aparecimento de poluição
pontual, falhas de regularização do rio, ...). A partir de Areias de Vilar , a Água é elevada a uma altura de
136 m, percorrendo cerca de 211 km de condutas adutoras, instaladas de raiz, até aos reservatórios
municipais.
O Sistema abastece os Municípios de Barcelos, Esposende, Maia (Norte), Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Vila
do Conde e Vila Nova de Famalicão, prevendo-se que os consumos totais evoluam entre os 35 milhões de
metros cúbicos e os 65 milhões (em 2024).
O número de utilizadores situa-se entre os 600 mil e 900 mil (em 2024).
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Figura 1: Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água à Área Norte do Grande Porto.
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A ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA DE AREIAS DE VILAR
A Estação de Tratamento de Água de Areias de Vilar compreende uma captação superficial, no rio Cávado, e
dois reservatórios de água bruta que lhe conferem uma autonomia de 24 horas em caso de emergência
(aparecimento de poluição pontual, falhas de regularização no rio,...). Na linha de tratamento, sucedem-se as
etapas de pré-ozonização, remineralização, coagulação/floculação com sulfato de alumínio, decantação
lamelar com pulsação, filtração gravítica rápida em monocamada de areia, ajuste final do pH com água de cal
e desinfecção final com cloro. A ETA compreende, ainda, um reservatório de água tratada de 20 000 m3 e
uma estação elevatória para o sistema adutor.
A sala de comando situa-se no Edifício de Exploração, tendo ainda sido instalado um laboratório de análises
do processo de tratamento.
O Processo de Tratamento adoptado é apresentado na figura 2.
CAPTAÇÃO
RESERVATÓRIO DE
ÁGUA BRUTA
OZONO
PRÉ -OZONIZAÇÃO
ANIDRIDO CARBÓNICO
LEITE DE CAL
POLIELECTRÓLITO
SULFATO DE ALUMÍNIO
MISTURA RÁPIDA
FLOCULAÇÃO
ÁGUA DE CAL
DECANTAÇÃO
FILTRAÇÃO
CLORO
ESPESSAMENTO DE
LAMAS
RESERVATÓRIO DE
CONTACTO CLORO
ÁGUA DE CAL
DESIDRATAÇÃO DE
LAMAS
RESERVATÓRIO DE
ÁGUA TRATADA
ESTAÇÃO ELEVATÓRIA
SISTEMA ADUTOR
Figura 2: Diagrama linear da Estação de Tratamento de Água de Areias de Vilar
Na figura 3 pode ver-se a Estação de Tratamento de Água de Areias de Vilar.
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Figura 3: A Estação de Tratamento de Água de Areias de Vilar.
Na tabela 1 são apresentadas as características principais da ETA de Areias de Vilar.
Tabela 1: Características Principais da Estação de Tratamento.
• 4 grupos electrobomba de capacidade unitária 0,95 m3/s
Captação Superficial de Água
Bruta
Reserva de Água Bruta
• 2 reservatórios de água bruta que lhe conferem uma autonomia de
24 h
Linha de Tratamento
• Pré-ozonização;
• Remineralização;
• Coagulação Química com sulfato de alumínio;
• 4 decantadores lamelares com pulsação;
• 6 Filtros gravíticos rápidos em monocamada de areia;
• Desinfecção final com cloro gasoso.
• Ajuste final do pH, com água de cal.
• Reservatório de 20 000 m3.
Armazenamento de Água
Tratada
Estação Elevatória
• 3 grupos electrobomba com capacidade unitária de 0,92 m3/s a 136
m.
Instalações Complementares
• Edifício de Exploração :Sala de Comando e Laboratório de Análises.
Alimentação Eléctrica
• Sub - Estação de 60 Kv/15 Kv que alimenta toda a instalação
O SISTEMA ADUTOR
O Sistema Adutor, construído de raíz, integra:
•
•
•
Um conjunto de adutoras, com diâmetros até 1400 mm e com uma extensão total de 211 Km;
41 reservatórios, sendo 4 de regularização e 37 de entrega (25 dos quais construídos de raíz);
11 estações elevatórias.
O seu comando será feito através de telegestão, a partir da sala de comando da ETA de Areias de Vilar.
Na figura 4 pode ver-se obra de instalação de conduta adutora e na figura 5 um dos reservatórios e estação
elevatória construídos de raíz.
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Figura 4: Instalação de Conduta Adutora.
Figura 5: Reservatório e Estação Elevatória de Barradas.
DADOS DE EXPLORAÇÃO
A Estação de Tratamento de Água ainda se encontra em fase de arranque. Assim, a produção só se tornou
possível devido a um grande esforço do pessoal técnico, tendo-se verificado que a água produzida apresenta
qualidade de acordo com a legislação portuguesa em vigor (Decreto-Lei nº 236/98).
O controlo da qualidade da água é da responsabilidade do Serviço de Laboratório. Além das análises
laboratoriais, existem medidores on-line ao longo do processo de tratamento para os parâmetros relevantes,
nomeadamente, pH, temperatura, turvação, amónia e cloro.
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O trabalho de limpeza e desinfecção do Sistema Adutor exigiu um grande esforço por parte dos recursos
humanos afectos à exploração, dado tratar-se, como referido, de cerca de 211 Km de condutas e 37
reservatórios. Este trabalho foi faseado de acordo com as necessidades mais urgentes, ou seja, com os pontos
mais críticos em termos de abastecimento de água quer em quantidade, quer em qualidade.
Além dos trabalhos de limpeza e desinfecção, salienta-se a entrada em funcionamento das 11 estações
elevatórias e o esforço realizado pelo pessoal envolvido nesta área.
Salienta-se que alguns dos reservatórios pontuais não estão a ser abastecidos, devido aos Municípios ainda
não terem concluído as obras da rede de distribuição em baixa.
Sendo a área de abastecimento abrangida pelo Sistema fortemente influenciada por migrações estivais para o
litoral, prevê-se que o consumo de água aumente substancialmente durante os meses de Julho, Agosto e
Setembro em cerca de 40 a 50%.
Dado que o Sistema de Telegestão ainda não se encontra em funcionamento, a gestão da adução tem
apresentado grandes dificuldades, apenas sendo possível devido à experiência e a uma gestão rigorosa de
recursos humanos.
DOSAGENS APLICADAS NO TRATAMENTO DE ÁGUA NA ETA DE AREIAS DE VILAR
Na tabela 2 são apresentadas as doses médias aplicadas no tratamento da água.
Tabela 2: Doses de Produtos Químicos utilizadas no Tratamento da Água.
ETAPA
REAGENTE
Pré-ozonização
Ozono
Remineralização
Dióxido de Carbono
Cal (Total)
Coagulação/Floculação
Sulfato de Alumínio Líquido Comercial
Polímero
Desinfecção Final
Cloro
DOSE MÉDIA (mg/l)
0,7
60
64 - 70
8-9
0,2
2
VOLUMES DE ÁGUA ADUZIDOS
Os volumes totais aduzidos, e respectiva variação mensal são apresentados na tabela 3.
Tabela 3: Volumes totais aduzidos por mês, média diária, volume total aduzido e média diária total
atingida no 1º Semestre de 2000
Mês
Volume Total Aduzido (m3)
Média Diária (m3)
Janeiro
623.777
20.122
Fevereiro
687.707
23.714
Março
1.018.759
32.863
Abril
979.778
32.659
Maio
1.215.127
39.198
Junho
1.538.224
51.274
TOTAL (m3)
6.063.372
33.315
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Na figura 6 é apresentada a distribuição por Município dos Volumes Aduzidos no 1º Semestre de 2000.
3
445 936 m
202 093 m Santo Tirso
Maia
7%
3%
3
3
213 753 m
Barcelos
4%
3
447 708 m
Esposende
7%
Vila Nova de
Famalicão
20%
Vila do Conde
22%
3
3
1 361 270 m
1 211 534 m
Póvoa de Varzim
37%
3
2 181 078 m
Figura 6: Distribuição por Município dos Volumes Aduzidos (1º Semestre 2000).
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Na figura 7 são apresentados os volumes mensais aduzidos por Município.
1.538.224
129.663
113.657
277.654
Junho
411.884
308.847
101.261
195.258
1.215.127
108.028
37.210
243.054
Maio
394.301
270.475
146.109
15.950
979.778
79.868
30.237
193.341
309.921
227.820
136.964
Abril
Total Mensal
1.627
Santo Tirso
1.018.759
80.917
20.989
Maia
232.545
Março
Vila do Conde
374.331
254.021
Póvoa de Varzim
55.222
734
687.707
47.460
Esposende
0
205.719
Fevereiro
Vila Nova de Famalicão
Barcelos
332.598
94.507
7.239
184
623.777
0
0
208.957
Janeiro
358.043
55.864
913
0
Figura 7: Volumes mensais aduzidos (m3) por Município.
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CONCLUSÕES
De acordo com estudos de tratabilidade efectuados na Estação Piloto de Tratamento de Água (SÁ
FERNANDES e CHENG, 1998), as dosagens utilizadas no tratamento de água são baixas, devido a uma boa
qualidade de água na origem.
O volume total de água potável aduzido no 1º semestre de 2000 foi de cerca de 6 milhões de metros cúbicos.
Apesar deste valor estar bastante aquém da capacidade de produção instalada, pode considerar-se um bom
arranque do Sistema, dado que este ainda se encontra em fase experimental, não tendo sido ainda
recepcionadas todas as obras.
O Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água à Área Norte do Grande Porto funciona actualmente a
100%, suprindo fortes carências de água potável de qualidade e em quantidade. Esperamos continuar a
corresponder às elevadas expectativas da população abastecida. Como prioridades temos:
•
•
•
Abastecer os reservatórios que ainda não se encontram em exploração;
Colocar em funcionamento o Sistema de Telegestão, para uma gestão mais eficaz da adução;
Promover o Sistema de Garantia da Qualidade através da certificação da empresa no ano 2000. O
objectivo de atingir internamente elevadas performances ao nível da organização e de proporcionar
maiores garantias aos seus clientes, levou a que a empresa optasse pela certificação do Sistema de
Garantia de Qualidade - NP EN ISSO 9001. Esta norma define o modelo de garantia da qualidade na
concepção/desenvolvimento, produção, instalação e assistência pós-venda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
SÁ FERNANDES,C., CHENG, C. Y. Estudo de Tratabilidade da Água do Rio Cávado. 4º CONGRESSO
DA ÁGUA. 1998. Anais. Lisboa, Portugal, 1998
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