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Dossier Especial da edição de dia 17 de Março de 2010
Os portugueses no Luxemburgo,
história e memória...
por António de Vasconcelos Nogueira
Os Portugueses representam, hoje, a
maior comunidade de estrangeiros residentes no Grão-Ducado.
Desde logo, falamos de Portugueses, não apenas de imigrantes portugueses, nem de comunidades portuguesas, por que os imigrantes portugueses fazem a sua entrada na história
do Grão-Ducado somente a partir dos
anos 1960; enquanto a existência de
comunidades portuguesas é posterior
a 1986, ano em que Portugal e Espanha aderem à CEE e para aqui se
deslocam os primeiros funcionários
portugueses das instituições europeias, com as suas famílias.
Quatro anos (2006-2010) tomaram
esta investigação, cujos resultados
apresentamos, em síntese. Para mais
desenvolvimentos, convidamos o público leitor a assistir à conferência "Os
Portugueses no Luxemburgo: história
e memória - da Idade Moderna à Idade
Contemporânea", promovida pelo
CONTACTO, e que tem lugar este
sábado, 20 de Março, às 15h30, no hall
1 da Luxexpo, em Kirchberg, no âmbito das festividades do 40° aniversário
do jornal e integrado no 27° Festival
das Migrações.
PORTUGAL
E LUXEMBURGO
SOB A MESMA COROA
(1) Falamos de Grão-Ducado do Luxemburgo somente a partir de 1815,
ano em que se realizou o Congresso de
Viena e se configurou uma nova ordem geopolítica na Europa. Outra referência importante: os anos 1830,
ano da formação e independência do
Reino Belga, o ano 1839, separação do
Grão-Ducado do Luxemburgo do
Reino Belga, com o reconhecimento
das suas actuais fronteiras e população, pelos tratados de Londres (1839 e
1867). Anteriormente a estas datas,
existe o Ducado do Luxemburgo, governado por diferentes casas dinásticas
europeias, entre as quais a dos Habsburgos espanhóis, de Carlos V aos
Filipes, reis de Espanha e de Portugal,
durante o período da União Ibérica
(1580-1640), que governam os chamados Países Baixos espanhóis, incluindo o Ducado do Luxemburgo.
PORTUGUESES NO
DUCADO... EM 1546
Esta perspectiva leva-nos a reflectir
sobre (2) a presença de Portugueses no
Luxemburgo. Um episódio histórico
fala-nos de um incidente com mercadores e banqueiros judeus portugueses, provenientes de Antuérpia, na
fronteira do Ducado do Luxemburgo,
em 1546. O seu destino seria Colónia,
na Alemanha. Estariam, portanto, em
trânsito, visto que o imperador Carlos
V, casado com D. Isabel de Portugal,
Duque do Luxemburgo, pai e avô dos
nossos reis Filipes, de Espanha e Portugal, interditou a permanência nos
seus domínios de mercadores e banqueiros protestantes, mas condescendeu no livre-trânsito aos Portugueses,
ainda que suspeitos de judaizarem,
exercendo sobre eles medidas de controlo e tributação fiscal, para financiar
a sua Corte e as campanhas militares
em todo o seu Império.
Portanto, existe uma presença portuguesa nos Países Baixos, em meados
de 1550, que é muito anterior ao
fenómeno imigratório português dos
anos 1960. Trata-se de uma elite de
portugueses relacionados com a banca
e o comércio das especiarias. Estabele-
Tiermchen"], e nos seus principais palácios. Quanto aos nomes, apenas Spanier [espanhol] surge associado a alguns apelidos de família luxemburguesa.
Maria Ana de Bragança, infanta de
Portugal e regente do Luxemburgo
entre 1908 e 1912
cem uma rede global de trocas, através
das suas empresas de tipo familiar e
dos entrepostos ou principais praças
financeiras, para a época. São mercadores e banqueiros judeus portugueses. Dão início à diáspora dos tempos
modernos, não propriamente à imigração. São perseguidos por motivos religiosos e económicos. Pelo seu reduzido número, pelo seu estatuto e papel
socioeconómico, distinguem-se da figura do imigrante português contemporâneo. São também os primeiros que
por estas paragens circulam e exercem
actividades.
Há representantes da nossa casa
dinástica, os Habsburgos espanhóis,
casados com princesas portuguesas,
com descendência – os nossos reis
Filipes, na governação dos Países Baixos, incluindo, o Ducado do Luxemburgo. Deste período histórico restamnos vestígios na arquitectura do burgo, nas suas muralhas, com baluartes e
guaritas [em lux.: "Spueneschen
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LUXEMBURGUESES NO
BRASIL: SÉC. XVII E XVIII
Outro momento histórico (3) diz respeito à parceria do Padre Jean Philipe
Bettendorff (1625-98), autor da "Crónica dos Padres da Companhia de
Jesus no Estado do Maranhão" (ed.
póstuma, 1910), com o Padre António
Vieira (1608-97), ambos da Companhia de Jesus, nas missões da Amazónia, no período do Brasil colonial
português.
Ainda, (4) a emigração de camponeses luxemburgueses, cerca de cinco mil
pessoas, nos anos 1764 e 1786, para a
colonização do Banat, província do
Império Austro-Húngaro, envolvendo
a mediação do Padre Antoine Vernel
OFM, recolecto do Convento de Virton,
em 1754, junto do Conde Sylva-Tarouca, aliás, Manuel Teles da Silva,
diplomata português em Viena de Áustria, prestando serviço na chancelaria
dos Habsburgos austríacos. Os colonos
luxemburgueses estabeleceram-se em
Triebswetter [actual Nagyosz, na Hungria] e em Temeswar [Timisoara, na
actual Roménia]. Outros camponeses
luxemburgueses terão sido levados
para as colónias francesas na Louisiana, nos EUA, para Pondichéry, no
Golfo de Bengala, na Índia francesa,
para a Prússia, no reinado de Frederico
II (1712-81), e para o Império Russo,
no reinado da czarina Catarina II
(1729-96).
(5) A emigração de camponeses e
artesãos luxemburgueses decorre durante todo o séc. XIX e a primeira
metade do séc. XX, coincidente com a
industrialização e a imigração de Alemães e Italianos para o Grão-Ducado.
Faz-se com destino às Américas, para
países e mercados onde a presença
imigratória portuguesa também acontece, por ex., no Brasil, nos anos
1820-1940; nos EUA, pradarias do
Midwest, anos 1830-1940; na Argentina, nos anos 1850-1900. Outros destinos da emigração luxemburguesa, no
séc. XIX, são a região de Paris, da
Lorena e de Bruxelas. Regiões estas
que um século depois atraem também
imigrantes portugueses.
COROA LUXEMBURGUESA
E SANGUE PORTUGUÊS
(6) De permeio, temos dois períodos
históricos contemporâneos da maior
importância: os anos 1920, depois da I
Guerra Mundial (1914-18); os anos
1930 e 1940, caracterizados pela
Guerra Civil de Espanha (1936-39) e a
II Guerra Mundial (1939-45). O GrãoDucado é ocupado militarmente pelas
tropas do II e do III Reich. Nos anos
1920, a casa grão-ducal reinante é a
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dos Nassau-Weiburg-Bragança, na
pessoa de Maria Ana de Bragança
(1861-1942), regente de 1908-12; das
suas filhas, Maria Adelaide de Bragança (1894-1924), grã-duquesa de
1912-19, e Carlota de Bragança
(1899-1985), grã-duquesa de 191964. Nos anos 1940, a grã-duquesa
Carlota é forçada ao exílio, com a sua
família, alguns membros do seu Governo, e centenas de Luxemburgueses
de confissão mosaica, ou seja, judeus.
Aristides de Sousa Mendes (18851954), à revelia das instruções do MNE
e da PVDE, sob Governo de António de
Oliveira Salazar (1899-1970), emitelhes vistos de trânsito, salvando mais
de 30 mil pessoas da deportação e
morte. A grã-duquesa Carlota consegue entrar em Portugal em 1943, de
onde partiu para o exílio, nos EUA e
Canadá, antes de regressar a Inglaterra, nesse mesmo ano, e ao Grão-Ducado, depois da libertação militar, em
1944.
DEPOIS DE 1960
(7) A imigração portuguesa para o
Grão-Ducado faz-se, ‘a salto’, nos
anos 1960, no contexto da emigração
clandestina para França. Apresenta características específicas, que temos
vindo a analisar nesta rubrica do CONTACTO. Ocupa-se nas obras, nas limpezas e nos serviços HORECA. Segundo dados do STATEC para 2008,
excede as 80 mil pessoas.
Os imigrantes portugueses constituem outro elo na cadeia descontínua
de pedreiros que construíram o Luxemburgo, no seguimento dos pedreiros, artífices, mercadores e banqueiros
italianos das regiões dos Alpes, de
Sabóia, do Tirol e de Grisões, que
imigraram para o Luxemburgo durante
o séc. XVII, e dos camponeses italianos
do Piemonte, Friuli e Abruzzi, nos anos
1870 a 1950, tornando-se mineiros e
operários fabris, pedreiros, nos estaleiros de obras, com quem muitos dos
imigrantes portugueses da primeira
geração aprenderam o falar e a arte.
Conclusão. Os Luxemburgueses,
que desde os anos 1870, com a industrialização e as minas, e a seguir à crise
da OPEP, em meados dos anos 1970,
que está na origem da economia de
serviços (banca, finanças, bolsa, seguros), acolhem os seus imigrantes e
outros estrangeiros, por motivos económicos e demográficos, também conheceram ao longo de gerações o
fenómeno da emigração através dos
portos fluviais no Mosela, de Bremen e
de Antuérpia, e encontraram na emigração respostas para a sua situação
de pobreza, contribuindo, a seu modo
e em número, para a economia das
Nações. Conheceram, também, o exílio
e buscaram refúgio em Portugal. Afinal, por outros caminhos, marcamos
encontro com a História, o mesmo é
dizer, connosco.
Com o prof. Vasconcelos Nogueira
CONTACTO promove
conferência
"Os Portugueses no Luxemburgo:
história e memória – da Idade
Moderna à Idade Contemporânea"
é o tema da conferência de António
de Vasconcelos Nogueira, investigador-estagiário na associação
Amizade
Portugal-Luxemburgo
(APL) e cronista do CONTACTO, a
apresentar no Festival das Migrações, no Kirchberg, este sábado, dia
20, às 15h30, no Hall 1. A conferência tem lugar a convite do CONTACTO, no âmbito do seu 40o aniversário (1970-2010).
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Os portugueses no Luxemburgo, história e memória