Artigo ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
Avaliação da ASIA e do potencial evocado somatosensorial
em indivíduos com paraplegia
Evaluation of ASIA and somatosensory evoked potential
in individuals with paraplegia
Evalución de la ASIA y potencial evocado somatosentitivo
em indivíduos com paraplejía
Maria Izabel Fernandes de Arruda Serra Gaspar1
Alberto Cliquet Júnior2
Vera Maura Fernandes Lima3
Daniela Cristina Carvalho de Abreu4
RESUMO
Objetivo: avaliar se há relação entre
os registros do potencial evocado somatosensorial (PESS) do nervo tibial
posterior (TP) de indivíduos paraplégicos de acordo com a classificação
da ASIA (American Spinal Injury Association), e verificar se há diferença
intergrupo e intragrupo nos valores
de latência do PESS. Métodos: foram
estudados dez indivíduos paraplégicos
(Grupo 1) com, no mínimo, um ano de
lesão, sendo três ASIA C, dois ASIA B,
cinco ASIA A e oito indivíduos normais
(Grupo 2). A avaliação eletrofisiológica foi realizada com um aparelho para
medir o potencial evocado e pelo exame
neurológico de acordo com a escala da
ASIA. As latências N8, N22 e N45 foram
analisadas baseando-se na sua ausência
ou presença e se estavam normais ou
prolongadas, utilizando-se, para isto, o
modelo de efeitos mistos. Resultados:
em todos os indivíduos foi observada
ABSTRACT
Objective: to evaluate if there is a
relationship between somatosensory
evoked potential (SSEP) of tibial
nerve of people with paraplegia and
classification of ASIA (American
Spinal Injury Association) and to
assess the difference intra- and intergroup in the latency’s values of the
tibial SSEP. Methods: ten individuals
with paraplegia (Group 1), one
year of lesion at least, 3 ASIA C, 2
ASIA B and 5 ASIA A and 8 healthy
individuals (Group 2) were evaluated.
Electrophysiological assessment of
the median nerve was performed by
evoked potential equipment and the
injury level was obtained by ASIA. The
N8, N22 and N45 latencies were analyzed
based on the presence or absence of
such variables and observed whether
SSEP recordings were normal or
delayed using the mixed linear models.
Results: in all individuals the N8 and
RESUMEN
Objetivo: evaluar si hay relación entre
registros de potencial evocado somatosensitivo (PESS) del nervio tibial posterior (TP) de parapléjicos con la clasificación de la ASIA (American Spinal
Injury Association), y verificar si hay
diferencia intergrupo e intragrupo en
los valores de latencias del PESS.
Métodos: fueron estudiados 10 parapléjicos (grupo 1), con el mínimo un
año de lesión, 3 ASIA C, 2 ASIA B y 5
ASIA A y 8 individuos saludables (grupo 2). La evaluación electrofisiología
fue hecha por un aparato de potencial
evocado, y el examen neurológico por
la ASIA. Se analizó las latencias N8, N22
y N45 basándose en la ausencia o presencia de las mismas y si estaban normales o prolongadas, utilizando, para
eso, el modelo de ejemplos mixtos.
Resultados: en todos los indi-viduos
se obtuvo las latencias N8 y N22. En los
parapléjicos ASIA A y B no hubo re-
Trabalho realizado no laboratório de Biomecânica e Reabilitação do Aparelho Locomotor do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas
– UNICAMP – Campinas (SP), Brasil. (Parte da dissertação de Mestrado apresentada à Universidade de Campinas - UNICAMP - Campinas (SP), Brasil.
Pós-graduanda do Curso de Fisioterapia, Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo – USP - Ribeirão Preto (SP), Brasil.
2
Professor Titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP
– Campinas (SP), Brasil; Professor Titular do Departamento de Engenharia Elétrica – Universidade de São Paulo - campus São Carlos (SP), Brasil;
3
Gerência Geral do Laboratório de Saúde Pública – ANVISA São Paulo (SP), Brasil.
4
Professora do Curso de Fisioterapia, Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo – USP - Ribeirão Preto (SP), Brasil.
1
Recebido: 27/06/2008 Aprovado: 24/09/2008
COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)223-229
Gaspar MIFAS, Cliquet Junior A, Lima VMF, Abreu DCC
224
latência N8 e N22. Nos indivíduos paraplégicos ASIA A e B não foi observada resposta cortical, enquanto que nos
indivíduos paraplégicos ASIA C houve
resposta cortical, com diferença entre
as latências dos indivíduos saudáveis e
dos paraplégicos (P<0,05). Entre os indivíduos paraplégicos houve diferença
entre o lado direito e esquerdo (p<0,05),
fato que coincidiu com a avaliação de
acordo com a classificação da ASIA.
Conclusão: os resultados sugerem que
há relação entre a avaliação por meio
da escala da ASIA e do PESS, uma
vez que o exame de PESS confirmou a
avaliação clínica realizada por meio da
avaliação da ASIA. Esta relação é bem
relevante visto que o exame de PESS
nem sempre é possível de ser realizado
e a avaliação da ASIA é simples, fácil
de aplicar e de baixo custo.
N22 were found. In paraplegics ASIA A
and B the cortical latency was absent;
in paraplegics ASIA C the cortical
latency was present, but with difference
between the latencies of healthy and
paraplegic people (p<0.05). The
differences between the sides, right
and left, in the group 1 (p<0.05) were
also verified by ASIA. Conclusion:
these results suggest that there is a
relation between the ASIA and SSEP
evaluations, since the SSEP exam
confirmed the clinical evaluation done
by ASIA. This relation is important due
to the fact that the SSEP evaluation is
not always available and, on the other
hand, the ASIA assessment is simple,
cheap and easy to apply.
spuesta cortical; ya en los parapléjicos
ASIA C hubo respuesta cortical, y hubo
diferencia entre las latencias de los individuos saludables e de los parapléjicos (p< 0,05) y entre los parapléjicos
hubo diferencia entre los lados derecho
e izquierdo (p<0,05), lo que coincidió
con la ASIA. Conclusión: los resultados sugieren que hay relación entre la
evaluación de la ASIA y PESS, una vez
que el examen de PESS confirmó la
evaluación clínica hecha por la ASIA.
Esta relación es muy importante pues
el examen de PESS ni siempre es posible de ser hecho y la evaluación de
la ASIA es simple, fácil de aplicar y
cuesta poco.
DESCRITORES: Traumatismos da
medula espinal; Paraplegia/
classificação; Potencial evocado
somatossensorial; Nervo tibial
KEYWORDS: Spinal cord injuries;
Paraplejia/classification; Evoked
potentials, somatosensory; Tibial
nerve
DESCRIPTORES: Traumatismos de
la médula espinal; Paraplejia/
classificación; Potenciales
evocados somatosensoriales;
Nervio tibial
INTRODUÇÃO
Informações entre o encéfalo e o sistema nervoso periférico
(SNP) são carreadas pela medula espinhal (ME)1-2. A
lesão medular (LME), seja traumática ou não, acarreta
incapacidades e graves danos, devido à interrupção da
conexão entre encéfalo e SNP3. Entre os vários déficits que
um indivíduo com LME apresenta, destaca-se a disfunção
sensitivo-motora abaixo do nível da lesão4. Esta disfunção
tem sido avaliada pela escala de deficiência proposta
pela American Spinal Injury Association (ASIA), cuja
avaliação clínica e qualitativa permite estabelecer o tipo
e nível da lesão5-6 e a extensão da lesão em cinco níveis
(A – E). A) Lesão completa, nenhuma função motora ou
sensorial nos segmentos sacrais baixos (S4 – S5); B) Lesão
incompleta, nenhuma função motora, mas alguma função
sensorial preservada abaixo do nível neurológico incluindo
os segmentos sacrais S4 – S5; C) Lesão incompleta,
função motora preservada abaixo do nível neurológico,
porém mais da metade dos músculos (MM) abaixo deste
nível apresentam grau de força muscular (FM), abaixo
de 3; D) Lesão incompleta, função motora preservada
abaixo do nível neurológico com pelo menos metade dos
músculos (MM) abaixo deste nível com grau de FM > 3; E)
Normal, funções motora e sensitiva intactas3. Porém, essa
classificação não permite uma extensa compreensão das
alterações que a LME ocasiona, já que é baseada somente
em escores da função motora e sensitiva7 e necessita da
cooperação do indivíduo.
O potencial evocado somatosensorial (PESS), que
é uma avaliação eletrofisiológica e pode ser utilizado
COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)223-229
nos pacientes com LME como exame complementar para
determinar as características da lesão e colaborar para o
melhor entendimento do prognóstico8-9, já que permite uma
avaliação quantitativa do sistema somatosensorial10-11. As
respostas cerebrais de PESS por estimulação dos nervos
periféricos foram registradas pela primeira vez por Dawson,
em 194712. Depois disso, pesquisas com PESS para doenças
específicas têm sido feitas, como acidente vascular encefálico
e LME13. Entretanto, para a realização do exame de PESS é
necessária a disponibilidade do equipamento de avaliação,
assim como profissional com experiência na realização do
teste, o que dificulta a sua execução na prática clínica.
O objetivo deste estudo foi avaliar, por meio de dois
métodos diferentes – ASIA e PESS, a lesão neurológica
do nervo tibial posterior (TP) de pacientes paraplégicos e
verificar se há uma relação entre estes tipos de avaliação,
visto que uma é qualitativa e a outra quantitativa.
MÉTODOS
Foram estudados dez indivíduos paraplégicos (T3 – T10)
(Grupo 1), sem trauma crânio-encefálico associado, com
pelo menos um ano de lesão e oito indivíduos normais, sem
lesões neurológicas (Grupo 2), todos do sexo masculino. As
características antropométricas e da lesão dos paraplégicos
estão apresentadas na Tabela 1 e as características
antropométricas do grupo controle na Tabela 2. A avaliação
clínica foi realizada conforme o protocolo de avaliação
proposto pela ASIA e sempre pelo mesmo terapeuta, para
quem o exame era familiar. A avaliação eletrofisiológica
Avaliação da ASIA e do potencial evocado somatosensorial em indivíduos com paraplegia
225
ocorreu por meio de um equipamento de potencial evocado
Neuropack Four® (Nihon Kohden, Tóquio, Japão), com
quatro canais simultâneos de registro. O nervo estimulado
foi o tibial posterior (TP) ao nível do maléolo medial, por
ser o mais freqüentemente avaliado dos membros inferiores
(MMII) de indivíduos com paraplegia14.
Os eletrodos (0.7cm de prata) foram colocados
sobre a pele. O eletrodo de estimulação foi posicionado
em cima do nervo tibial posterior ao nível do maléolo
medial. Os eletrodos de registro foram posicionados
na fossa poplítea com a referência do côndilo lateral
da tíbia (canal 4), em T12 com a referência no
sacro (canal 3) em Cz (baseado no sistema
TABELA 1 – Características antropométricas e
internacional 10/20) com a referência no
da lesão dos indivíduos com paraplegia
ínion (canal 2) e em Cz’ (baseado no sistema
Indivíduos Idade Peso Altura Tempo de
Causa
Nível ASIA internacional 10/20) com a referência no ínion
(canal 1). O parâmetro utilizado para analisar
(anos) (kg) (cm) lesão (anos) da lesão
as respostas de PESS foi a latência, que possui
1
22 73 1,73
5
ac. Auto* T9
A
maior relevância clínica 16, e os registros de
2
32 76 1,78
5
FAF**
T4
B
potencial evocado foram avaliados de acordo
com a presença ou ausência da latência N 8
3
34 60 1,56
2
ac. auto
T5
A
(fossa poplítea), da latência N 22 (medula
4
53 96 1,79
30
vírus
T10 C
tóraco-lombar) e da latência N 45 (cortical).
5
34 100 1,75
19
ac. auto
T5
C
Os dados obtidos foram analisados com base
6
26 66 1,80
4
ac. auto
T8
C
nas latências normais ou prolongadas dos
registros de PESS. Para avaliar se a latência
7
23 65 1,73
1
ac. auto
T7
A
estava ou não prolongada comparou-se as
8
23 70 1,75
5
ac. auto
T5
A
latências dos indivíduos paraplégicos com
9
21 80 1,90
2
ac. auto
T3
A
as dos indivíduos saudáveis. Compararam10
42 74 1,68
3
ac. auto
T10 B
se também as latências entre os hemicorpos
*ac. auto = acidente automobilístico; **FAF = ferimento por arma de fogo
dos indivíduos com paraplegia (nervos
tibiais direito e esquerdo) para ver se havia
assimetria de lesão.
Tabela 2 – Características
A
análise
estatística foi efetuada de acordo com o
antropométricas dos
modelo
linear
misto 17-18 para verificar se as latências
indivíduos normais
dos
indivíduos
com paraplegia estavam normais ou
Controles Idade Peso Altura
prolongadas comparadas às dos indivíduos saudáveis,
(anos) (kg) (cm)
através do SAS versão 9 19. Os resultados foram
1
30
73
1,78
apresentados como média e desvio padrão (DP).
As diferenças foram consideradas relevantes com
2
24
70
1,75
p<0.05.
3
24
63
1,63
4
26
80
1,86
5
24
72
1,70
6
32
85
1,79
7
36
77
1,80
8
32
70
1,78
O estímulo elétrico apresentou os seguintes parâmetros:
onda quadrada de 0,2ms de duração a uma freqüência de 5Hz
e impedância de 10kΩ de acordo com os padrões da Federação
Internacional de Neurofisiologia Clínica15. As avaliações foram
repetidas três vezes, em três dias diferentes, para obter resposta
mais fidedigna e média dos valores, levando-se também em
consideração a variabilidade do dia-a-dia e do próprio paciente.
Em cada avaliação eram realizadas três análises, cada qual
com 2000 respostas e uma resposta era sobreposta à outra para
maior fidedignidade dos resultados. A intensidade do estímulo
foi ajustada de modo a produzir contração muscular visível
ou atingir o limiar motor, sendo que a máxima intensidade
atingiu 40mA. O potencial de ação foi obtido na região da fossa
poplítea. Os indivíduos foram posicionados na posição supina
em uma maca (Figura 1).
A
B
Figura 1
Paciente em exame de
PESS. A) Posição supina na
maca. B) Demonstração
do posicionamento de
alguns eletrodos: eletrodo
C
de referência localizado no
côndilo medial; eletrodo terra
localizado entre o eletrodo de estimulação e um dos eletrodos
de captação (localizado na fossa poplítea); eletrodo de
estimulação. C) Eletrodo de estimulação localizado ao nível
do maléolo medial
COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)223-229
Gaspar MIFAS, Cliquet Junior A, Lima VMF, Abreu DCC
226
RESULTADOS
A média dos valores das latências N8, N22 e N45 para
cada indivíduo estudado está apresentada na Tabela 3. A
descrição dos dados referente às latências N8, N22 e N45
está ilustrada nas Figuras 2 (A, B e C), as quais mostram
a média, mediana, valores mínimo e máximo das latências
dos indivíduos controle e dos indivíduos com paraplegia.
Foram realizadas comparações de médias entre os grupos
para cada lado e entre os lados para cada grupo. Os valores
estão demonstrados nas Tabelas 4 e 5.
Os resultados mostraram que as latências N8 e N22
estão presentes em todos os indivíduos com paraplegia,
e os valores encontrados foram todos normais, isto é,
não se obteve latência prolongada em nenhum indivíduo
paraplégico quando se compara com os indivíduos normais
estudados. Isto era esperado visto que as latências N8 e N22
foram captadas abaixo do nível de lesão. A latência N45
estava presente somente nos indivíduos com paraplegia
ASIA C, ou seja, com motricidade abaixo do nível da
lesão, pois em indivíduos paraplégicos ASIA A e mesmo em
indivíduos paraplégicos ASIA B a latência estava ausente.
Nos indivíduos ASIA C os valores das latências estavam
prolongados comparados aos indivíduos saudáveis, mostrando
que houve diferença estatística entre os grupos (p<0.05).
Ao se comparar os nervos tibiais posteriores de ambos
os lados, direito e esquerdo, houve diferença estatística
no grupo dos indivíduos com paraplegia (p<0.05), o
que coincidiu com a avaliação da ASIA, demonstrando
haver assimetria entre os lados, o que é freqüentemente
observado na prática clínica. As Figuras 3, 4, 5 e 6
mostram os gráficos de PESS dos seguintes indivíduos:
um normal, um paraplégico ASIA A, um paraplégico ASIA
B e um paraplégico ASIA C, respectivamente. A primeira
linha indica Cz’ (latência N45), a segunda linha indica Cz, a
terceira linha representa T12 (latência N22) e a quarta linha
representa a fossa poplítea (N8). Estes gráficos mostram a
ausência de resposta cortical nos indivíduos paraplégicos
ASIA A e B e a presença de resposta cortical nos indivíduos
paraplégicos ASIA C.
Tabela 3 - Média dos valores das latências N8,
N22 e N45 para cada indivíduo
Indivíduos
paraplégicos
Direito
N22
N45
N22
N45
1
7,66
21,14
ND
7,79
21,16
ND
2
8,01
20,17
ND
7,87
20
ND
3
8,06
20,1
ND
7,44
19,72
ND
4
8,19
19,03
48,86
7,44
20,08
54,64
5
8,34
20,52
52,23
9,12
21,45
55,07
6
8,2
19,33
49,81
8,4
20,48
53,8
7
9,04
20,56
ND
9,14
20,98
ND
8
8,1
19,11
ND
8,46
19,31
ND
9
8,84
19,86
ND
9,24
21,58
ND
11,4
21,9
ND
11,01
19,53
ND
Média
8,85
19,91
43,57
9
20,06
43,99
DP
0,50
0,41
1,56
0,15
1,25
10
N 8
Esquerdo
N8
Controles
0,30
N8 = latência N8 (captada na fossa poplítea); N22 = latência N22 (latência da medula
tócaco-lombar); N45 = latência N45 (latência cortical); ND = não detectável;
DP = desvio padrão
Figura 2
Latências do nervo mediano. A) Box-plot para média, mediana,
valores máximos e mínimos dos controles e sujeitos com paraplegia
para a latência N8 para cada lado; P = Grupo de paciente;
C = Grupo controle. B) Box plot para média, mediana, valores
máximos e mínimos dos controles e sujeitos com paraplegia para a
latência N22 para cada lado; P = grupo de paciente; C = Grupo
controle. C) Box plot para média, mediana, valores máximos e
mínimos dos controles e indivíduos com paraplegia para a latência
N45 para cada lado; P = grupo; C = grupo controlede paciente
COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)223-229
2A) Box-plot
para a variável
N8 para cada
grupo e lado
2B) Box-plot
para a variável
Medula (N22)
para cada
grupo e lado
2C) Box-plot
para a variável
Córtex (N45)
para cada
grupo e lado
Avaliação da ASIA e do potencial evocado somatosensorial em indivíduos com paraplegia
227
Tabela 4 - Comparação de médias entre os grupos para cada lado
Variável
Lado
Comparação
Média
N8
D
C
8,85
0,50
P
9,00
0,30
C
8,57
1,11
P
9,06
2,64
C
19,91
0,41
P
20,06
0,15
C
20,18
1,09
P
20,59
1,07
C
43,57
1,56
P
43,99
1,25
C
51,01
2,22
P
54,58
0,73
E
N22
D
E
N45
D
E
DP
Diferença
I.C 95%
Valor-p
0,33
(-0,56; 1,22)
0,41
0,31
(-0,58; 1,21)
0,41
-0,23
(-1,04; 0,57)
0,57
-0,49
(-1,31; 0,32)
0,24
-7,23
(-9,29; -5,17)
<0,01*
-10,39
(-12,45; -8,33)
<0,01*
D = lado direito; E = lado esquerdo; DP = desvio padrão; IC = intervalo de confiança. *Diferença estatística
Tabela 5 - Comparação de médias entre os lados para cada grupo
Variável
Grupo
Comparação
Média
DP
Diferença
N8
C
D
8,85
0,50
-0,16
(-0,72; 0,41)
0,56
E
8,57
1,11
P
D
9,00
0,30
-0,17
(-0,51; 0,17)
0,33
E
9,06
2,64
D
19,91
0,41
-0,15
(-1,02; 0,73)
0,73
E
20,06
0,15
D
20,06
0,15
-0,40
(-0,92; 0,11)
0,12
E
20,59
1,07
D
43,57
1,56
-0,42
(-1,38; 0,55)
0,30
E
51,01
2,22
D
43,99
1,25
-3,58
(-4,61; -2,55)
<0,01*
E
54,58
0,73
N22
C
P
N45
C
P
I.C 95%
Valor-p D = lado direito; E = lado esquerdo; DP = desvio padrão; IC = intervalo de confiança. *Diferença estatística
N45
Cz’ - ínion
Cz - ínion
N22
T12 - sacro
N8
Fossa Poplítea
Figura 3
Traçado de PESS do nervo tibial posterior de um
indivíduo saudável. A primeira linha representa Cz’
(latência N45); a segunda linha representa Cz; a
terceira linha representa a medula tóraco-lombar
(latência N22) e a última linha representa a fossa
poplítea (latência N8)
COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)223-229
Gaspar MIFAS, Cliquet Junior A, Lima VMF, Abreu DCC
228
DISCUSSÃO
Cz’ - ínion
Cz - ínion
N22
T12 - sacro
N8
Fossa Poplítea
Figura 4
Traçado de PESS do nervo tibial posterior de um indivíduo
com lesão medular ASIA A. A primeira linha representa Cz’
(latência N45); a segunda linha representa Cz; a terceira linha
representa a medula tóracolombar (latência N22) e a última
linha representa a fossa poplítea (latência N8)
Cz’ - ínion
Cz - ínion
N22
T12 - sacro
N8
Fossa Poplítea
Figura 5
Traçado de PESS do nervo tibial posterior de um indivíduo
com lesão medular ASIA B. A primeira linha representa Cz’
(latência N45); a segunda linha representa Cz; a terceira linha
representa a medula tóraco-lombar (latência N22) e a última
linha representa a fossa poplítea (latência N8)
N45
Cz’ - ínion
Cz - ínion
N22
T12 - sacro
N8
Fossa Poplítea
Figura 6
Traçado de PESS do nervo tibial posterior de um indivíduo
com lesão medular ASIA C. A primeira linha representa Cz’
(latência N45); a segunda linha representa Cz; a terceira linha
representa a medula tóraco-lombar (latência N22) e a última
linha representa a fossa poplítea (latência N8)
Após a LME, a transmissão das informações entre o sistema
nervoso central e o sistema nervoso periférico ficam
parcial ou totalmente prejudicadas. É importante conhecer
as formas de se avaliar a LME e se estas apresentam
relação entre si. O melhor entendimento da relação entre
a avaliação da ASIA e as respostas eletrofisiológicas
obtidas pelo PESS é importante, visto que o exame do
potencial evocado nem sempre é possível de ser realizado
na prática clínica, enquanto que a avaliação da ASIA é uma
avaliação simples, fácil de aplicar e de baixo custo, além
de proporcionar informações sobre o comprometimento
sensitivo-motor3,5-6. Entretanto, necessita da cooperação do
paciente e não pode ser quantificada, enquanto que o exame
de PESS é uma avaliação quantitativa, não necessita da
cooperação do paciente e permite avaliar a lesão no sistema
nervoso20-22.
Portanto, pesquisas que mostrem a relação entre a
ASIA e o PESS, no que se refere ao melhor entendimento
da extensão da lesão e os seus comprometimentos, são
importantes, permitindo, assim, por meio da avaliação da
ASIA, estabelecer relação com a preservação ou não da
conexão entre o sistema nervoso central e periférico, uma
vez que há controvérsias na literatura sobre as respostas
de PESS nas lesões completas da medula, visto que um
estudo mostrou que não há resposta cortical em lesões
medulares completas, mas somente em incompletas23.
Outros estudos mostraram que houve resposta cortical
tanto nas lesões completas quanto nas incompletas, mas
estas respostas não significam recuperação sensorial ou
motora24-25. Os resultados deste estudo mostraram que
somente os indivíduos com paraplegia ASIA C possuem
resposta cortical, visto que nenhum paraplégico ASIA A
ou mesmo ASIA B apresentaram tal resposta, sugerindo
que é necessário algum grau de motricidade abaixo do
nível da lesão para apresentar resposta cortical. E quando
esta resposta existe, a latência é prolongada comparada
aos indivíduos saudáveis. Estes dados corroboram com
Kovindha & Mahachai13, que também não observaram
resposta cortical nos indivíduos com lesão medular
completa ou com grande perda sensorial.
A Tabela 4 demonstra que não houve diferença
nas latências N8 e N 22 quando se compara o grupo de
pacientes com o grupo controle, para ambos os lados,
direito e esquerdo. Quando se faz a mesma comparação
para a latência cortical nota-se uma diferença entre
os grupos para os dois hemicorpos, mostrando que
o grupo de indivíduos paraplégicos apresenta uma
latência prolongada comparando com o grupo controle.
O mesmo ocorreu no trabalho de Curt & Dietz8, no qual
também foi observada latência cortical prolongada nas
lesões medulares.
Na prática clínica, é freqüente a observação da assimetria na LME. Ela é facilmente diagnosticada pela avaliação
da ASIA, já que permite uma avaliação de ambos os lados,
direito e esquerdo, em separado3. No exame de PESS verificou-se uma assimetria na LME quando se comparou os
COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)223-229
Avaliação da ASIA e do potencial evocado somatosensorial em indivíduos com paraplegia
lados direito e esquerdo dos indivíduos com paraplegia (Tabela 5), coincidindo com o que foi observado pela avaliação
da ASIA no exame clínico. Os resultados sugerem que há relação entre a avaliação da ASIA e o exame do PESS, conforme estudo de Curt & Dietz8 que também observaram estreita
relação entre a ASIA e o PESS. Embora estas duas avaliações devam ser complementares para melhor compreensão
do comprometimento medular, a utilização da avaliação
ASIA na prática clínica já possibilita um bom entendimento
sobre a extensão da lesão em indivíduos paraplégicos. Estudos com tamanho amostral maior e com maior variedade de
níveis de lesão medular devem ser realizados para confirmarem os resultados aqui demonstrados. Além disso, estudos
longitudinais que incluam o tratamento da reabilitação são
importantes para esclarecer se os exames de PESS e ASIA
possuem relação com o prognóstico sensorial e motor de pacientes com lesão medular.
229
CONCLUSão
A metodologia proposta pela ASIA e o exame de PESS
são muito importantes na avaliação e acompanhamento da
LME. Embora a primeira seja uma avaliação qualitativa e a
segunda quantitativa, os resultados deste estudo mostraram
que há relação entre estes dois tipos de avaliação.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Prof. Dr. Fernando Cendes e ao Dr.
Marcondes Cavalcanti Franca Júnior pelo auxílio nesta pesquisa.
Agradecem também o suporte dado pela Fundação de Amparo e
Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (#2005/53530-0, #
2003/05856-9 e #1996/12198-2); à Fundação de Apoio ao Ensino,
Pesquisa e Assistência- FAEPA do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto - USP pelo auxílio financeiro concedido
e ao Centro de Métodos Quantitativos - CEMEQ da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto - USP pela análise estatística realizada.
REFERÊNCIAS
1. Machado A. Neuroanatomia funcional. 2a
ed. São Paulo: Atheneu; 2003.
2. Graaff V. Anatomia humana. 6a ed. Barueri
(SP): Manole; 2003.
3. Staas WE, Formal CS, Freedman MK,
Fried GW, Read MES. Lesões medulares
e tratamento medico nas lesões medulares.
In: Delisa JA, Gans BM, editors. Tratado
de medicina de reabilitação: princípios e
prática. 3a ed. São Paulo: Manoel;2002. p.
1325- 59.
4. Rowley S, Forde H, Glickman S,
Middleton FRI. Lesão da medula
espinhal. In: Stokes M. Neurologia para
fisioterapeutas. São Paulo: Premier lo;
2000. p. 117-33.
5. Ditunno JF, Young W, Donovan WH,
Creasey G. The international standards
booklet for neurological and functional
classification of spinal cord injury.
Paraplegia. 1994; 32: (2):70-80.
6. Waters RL, Adkins R, Yakura J, Vigil D.
Prediction of ambulatory performance
based on motor scores derived from
standards of the American Spinal Cord
Injury Association. Arch Phys Med
Rehabil. 1994;75(7): 756-60.
7. Cacho EWA, Cliquet Junior A. Effects of
gait training with neuromuscular electrical
stimulation on the electromyographic
activity in paraplegic patients. In: 8th
Vienna International Workshop on
Functional Electrical Stimulation. Vienna:
Blackweel Science; 2004. p. 88-91.
8. Curt A, Dietz V. Ambulatory capacity
in spinal cord injury: significance of
somatosensory evoked potentials and ASIA
protocol in predicting outcome. Arch Phys
Med Rehabil. 1997;78(1):39-43.
9. Lim PA , Tow AM. Recovery and
regeneration after spinal cord injury:
a review and summary of recent
literature. Ann Acad Med Singapore.
2007;36(1):49-57.
10.Dorfman LJ, Perkash I, Bosley TM,
Cummins KL. Use of cerebral evoked
potentials to evaluate spinal somatosensory
function in patients with traumatic and
surgical myelopathies. J Neurosurg.
1980;52(5):654-60.
11.Chabot R, York DH, Watts C, Waugh WA.
Somatosensory evoked potentials evaluated
in normal subjects and spinal-injured
patients. J Neurosurg. 1985;63:544-51.
12.Dawson GD. Cerebral responses to
electrical stimulation of peripheral nerve
in man. J Neurol Neurosurg Psychiatry.
1947;10(3):134-40.
13.Kovindha A, Mahachai R. Short-latency
somatosensory evoked potentials (SSEPs)
of the tibial nerves in spinal cord injuries.
Paraplegia. 1992;30(7):502-6.
14.Dumitru DMD. Electrodiagnostic
medicine. Philadelphia: Hanley & Belfus;
1995.
15.Nuwer MR, Aminoff M, Desmedt JE, Eisen
AA, Goodin D, Matsuoka S, et al. IFCN
recommended standards for short latency
somatosensory evoked potentials. Report
of an IFCN committee. Electroenceph Clin
Neurophysiol. 1994;91(1):6-11.
16.Sonoo M, Kobayashi M, Genba-Shimizu
K, Mannen T, Shimizu T. Detailed
analysis of the latencies of median
nerve somatosensory evoked potential
components, 1: selection of the best
standard parameters and the establishment
of normal values. Electroenceph Clin
Neurophysiol. 1996;100(4):319-31.
17.MacLean RA, Sanders, WL, Stroup
WW. A unified approach to mixed linear
models. The American Statistician.
1991;45(1):54-64.
18. Littell RC, Milliken GA, Stroup WW,
Wolfinger, RD. SAS System for mixed
models. Cary, NC: SAS Institute Inc; 1996.
19.SAS Institute. SAS/STAT® User’s Guide.
Version 9. USA: Cary; 2002-2003.
20.Jones SJ. Investigation of brachial plexus
traction lesions by peripheral and spinal
somatosensory evoked potentials. J Neurol
Neurosurg Psychiatry. 1979;42(2):107-16.
21.Livingstone EF, De Lisa JA, Halar EM.
Electrodiagnostic values through the
thoracic outlet using C8 root needle studies,
F-waves, and cervical somatosensory
evoked potentials. Arch Phys Med Rehabil.
1984;65(11):726-30.
22.Houlden DA, Schwart ML, Kleuke
KA. Neurophysiologic diagnosis in
uncooperative patients confounding factors.
J Trauma. 1992;33(2):244- 51.
23.Perot PL Jr. The clinical use of SEPs
in spinal cord injury. Clin Neurosurg.
1973;20:367-81.
24.Iob I, Salar G, Mingrino S, Pellegrini A,
Ori C. Indications and limits of somesthesic
evoked potentials in spinal cord trauma. J
Neurosurg. 1984;28(3-4):191-3.
25.York DH, Watts C, Raffensberger M,
Spagnolia T, Joyce C. Utilization of
somatosensory evoked potentials in spinal
cord injury: prognostic limitation. Spine.
1983;8(8):832-9.
Correspondência
Daniela Cristina Carvalho de Abreu
Av. Bandeirantes, 3900
Ribeirão Preto, SP, Brasil
CEP: 14049-900
Tel: + 16 3602-4413 / 3058
E-mails: [email protected]
[email protected]
COLUNA/COLUMNA. 2008;7(3)223-229
Download

Avaliação da ASIA e do potencial evocado somatosensorial em