TRISTE FIM DE
POLICARPO QUARESMA
AUTOR: LIMA BARRETO
O AUTOR
• Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) era
filho de um tipógrafo e de uma professora primária,
ambos mestiços.
• Aos sete anos, ficou órfão de mãe. Quando foi
proclamada a república, seu pai é demitido da
Imprensa Nacional pelo fato de ter sido indicado pelo
Visconde de Ouro Preto, padrinho de Afonso
Henriques.
• O novo emprego do pai é como tipógrafo na Colônia
dos Alienados na ilha do Governador. Lima Barreto
conclui os estudos graças à contribuição de seu
padrinho.
• Ele começa a trabalhar como pequeno funcionário
público quando o pai enlouquece, e é internado na
colônia em que trabalhava. É a partir daí que Lima
Barreto começa a escrever seus contos e romances.
• Lendo a literatura européia, Lima Barreto familiarizou-se com
os escritores europeus, foi um dos poucos intelectuais
brasileiros, na época, a conhecer os romancistas russos.
Nesses romances encontrou a tradição realista e social que
vinha ao encontro da revolta contra as injustiças de que se
sentia vítima. Vivendo em constantes crises, entregou-se à
bebida e precisou ser internado duas vezes no Hospício
Nacional.
• Essa história de vida explica o tom ideológico da temática de
sua obra: a origem humilde, a questão da cor, a vida penosa
de jornalista pobre, aliadas à viva consciência da própria
condição social na produção de romances tão emotivos nas
raízes quanto penetrante nas análises.
• Lima Barreto falece de colapso cardíaco, aos quarenta e um
anos de idade. A maior parte de suas obras é conhecida
posteriormente, organizada por Antônio Houaiss e Cavalcanti
Proença.
TRISTE FIM DE POLICARPO
QUARESMA
• O significado do nome
• No Major Policarpo Quaresma afloram tanto as revoltas
do brasileiro marginalizado em uma sociedade onde o
capital já não tem pátria, quanto a própria consciência
do romancista de que o caminho meufanista é veleitário
e impotente. Tal duplicidade de planos, o narrativo
(relatos dos percalços do brasileiro em sua pátria) e o
crítico (enfoque dos limites da ideologia) aviva de forma
singular a personalidade literária de Lima Barreto, em
que se reconhece a inteligência como força sempre
atuante. (BOSI, Alfredo. In História Concisa da Literatura
Brasileira, p.359)
ESTRUTURA DA NARRATIVA
• NARRADOR
• Triste fim de Policarpo Quaresma é um romance em terceira pessoa
• Supostamente no tom impessoal e eqüidistante em que se nota
maior esforço de construção e acabamento formal.
• Em algumas passagens, no entanto, o narrador se imiscui no
relato, como por exemplo, “Era de ver como aquela vida tão
estranha à nossa, naquele instante penetrava em nós e sentíamoslhe o sofrimento a agonia e a dor” (Seg. parte, cap. IV)
• Recurso para uso da voz da personagem: no cap. IV da terceira
parte, Policarpo escreve uma carta à irmã contando os horrores da
batalha em que se feriu e sua decepção com os homens. É a
primeira vez que o leitor ouve a personagem, de dentro para fora,
numa primeira pessoa que se confessa e que se revela.
ENREDO
• O enredo é a procura de deixar de lado o ufanismo romântico.
• Policarpo torna-se anacrônico ao viver esse sentimento
• O narrador mostra um desencontro social e psíquico; entre o ideal e o
real
• O romance está dividido em três partes, cada uma com cinco capítulos.
• A primeira parte do romance gira em torno do projeto cultural de
Policarpo Quaresma: a defesa das tradições brasileiras, o cultivo da
memória nacional, a defesa do idioma nativo (que ele associa ao tupi).
• A segunda parte focaliza o projeto agrícola, a reforma agrária que quer
sugerir ao governo a partir de suas próprias experiências no sítio do
“Sossego”
• A terceira parte enfatiza os acontecimentos políticos do governo Floriano
e o projeto de reforma administrativa de Policarpo Quaresma, que o leva
a engajar-se militarmente no episódio da Revolta Armada.
• O triste fim de Policarpo é descobrir na prisão que a pátria que ele amou
não existe, dedicou sua vida a um sonho de pátria; não viveu, não teve
aventuras outras que não fossem as coisas da sua terra.
PERSONAGENS - POLICARPO
• Solitário, de hábitos regulares, vestia-se sempre de fraque, usava
uma cartola e usava pince-nez.
• Era pequeno, magro, olhava sempre baixo. Embora recebesse o
tratamento de major, não era realmente do exército, recebeu esse
título quando um amigo colocou seu nome numa lista de guardas
nacionais, com esse posto.(Cap I, III parte)
• Na terceira parte, no entanto, entra para o exército de Floriano
Peixoto com a patente de major, tornando-se um militar “em
defesa da pátria”
• Ingênuo, sonhador, honesto, desinteressado, respeitador de
hierarquia, patriota convicto, nacionalista fanático, Quaresma era
um otimista que acreditava no futuro da Pátria e naqueles a quem
cabia administrá-la. Era um idealista, que não conseguia adaptarse à realidade circundante, e não era compreendido, conforme se
lê no capítulo I da primeira parte: “E desse modo ele ia levando a
vida, metade na repartição, sem ser compreendido, e a outra
metade em casa, também sem ser compreendido”.
• Fanático em seus projetos culturais agrários e políticos.
• Dono de uma grande biblioteca, fazia pesquisas para realizar
seus projetos
• Amante da literatura e da história do Brasil, Policarpo
defende as coisas brasileiras,.
• Quando foi encarcerado, Policarpo defendia a causa dos
direitos humanos.
• Revoltado com a escolha aleatória e com a morte injusta de
soldados que estavam sob a sua guarda, ele se decepciona
com a campanha militar na qual lutara até então.
• Neste momento, ele transcende o amor da pátria, elevando-o
a amor à humanidade.
• A desmistificação da pátria e de Floriano
• Percepção da insensibilidade do governante.
• No último capítulo do livro, fica clara a decepção de
Quaresma com o governo autoritário e despótico, para o qual
escreve uma carta de protesto contra a violência para com
os soldados indefesos.
• O triste fim que atormenta Quaresma é a morte
de suas crenças e convicções.
• Policarpo caminha do sonho para a realidade,
Ele morre “antes de morrer”.
• Há uma leitura desta obra que associa a figura
de Policarpo Quaresma à de Dom Quixote.
• Ele também é um sonhador, um visionário, um
louco. E a idéia da loucura é acentuada no
episódio do internamento no hospício.
• Assim como o Quixote, Policarpo é um herói da
queda, da ironia, ridículo e comovente que
encarna a parte mais pura dos ideais humanos.
FLORIANO PEIXOTO
• Vice-presidente da República, em 1891, com a renúncia
do Marechal Deodoro, Floriano passou à presidência,
que exerceu até 15 de novembro de 1894.
• Graves problemas inquietaram o seu período de
governo: a Revolta da Fortaleza Santa Cruz; a invasão
do Rio Grande do Sul pelos federalistas; a Revolta da
Armada, comandada por Custódio de Melo.
• Segundo a História, Floriano representou a defesa e
consolidação do regime republicano, aplicando um
Executivo forte e defendendo uma centralização
autoritária.
• O narrador o descreve como um ditador tirano, de
caráter indolente, de natureza tíbia e de temperamento
preguiçoso.
• No cap. I da terceira parte, refere-se à forma como foi criado
o mito de Floriano:
• Dessa preguiça de pensar e agir, vinha o seu mutismo. Os
seus misteriosos monossílabos, levados à altura de ditos
sibilinos, as famosas encruzilhadas dos talvezes, que tanto
reagiram sobre a inteligência e imaginação nacionais,
mendigas de heróis e grandes homens.
• Policarpo Quaresma adere a Floriano porque vê nele, a
salvação da administração pública, idealiza nele o homem
capaz de organizar a política e a sociedade brasileira e
concretizar seus projetos patrióticos. Mas...
• Ele o chama de “homem-talvez”, como no trecho a seguir:
• A sua preguiça, a sua tibieza de ânimo e o seu amor
fervoroso ao lar deram em resultado esse homem-talvez que,
refratado nas necessidades mentais e sociais dos homens
do tempo, foi transformado em estadista, em Richelieu, e
pôde resistir a uma séria revolta com mais teimosia que
vigor, obtendo vidas, dinheiro e despertando até entusiasmo
e fanatismo. (p. 147)
RICARDO CORAÇÃO DOS
OUTROS
• Esse personagem era morador do subúrbio carioca,
trovador, seresteiro, que tocava violão e compunha
modinhas e canções.
• Policarpo, em seu projeto cultural, defendia a música e os
instrumentos genuinamente nacionais. Ricardo representava
essa cultura, essa música e esses instrumentos.
• Ricardo Coração dos Outros era amigo verdadeiro de
Quaresma: conseguiu a aposentadoria por ocasião do
internamento no hospício;
• Foi cabo e depois sargento na Revolta da Armada, ao lado
do major Policarpo Quaresma, tendo sido gravemente ferido.
A VISÃO DA MULHER
• Três mulheres merecem destaque na
obra.
• A primeira D. Adelaide, irmã de Policarpo
Quaresma, é descrita pelo narrador como
uma “bela velha” de cinqüenta anos, típica
solteirona de outros tempos, sem anseios
amorosos e acomodada ao lar, dedicada
aos cuidados com o irmão, o homem da
família.
ISMÊNIA
• Ismênia reflete o destino da mulher em fins do século XIX.
• Era educada para um único fim: o casamento, forma de
realização feminina.
• O pai de Ismênia, General Albernaz, tinha como projeto de
vida casar a qualquer custo, suas filhas, com amor ou sem
amor.
• Há uma imagem que revela a fragilidade de Ismênia: o
biscuit que se esfacela (último período do cap. V)
• Esse esfacelamento como que sublinha a fragilidade da
personagem e o desmoronamento fatal de seu sonho.
• A tragédia de Ismênia : autodestruição, a loucura e a morte.
• As aves de Vênus sobrevoando o coche fúnebre
• Os pombos brancos que sobrevoam o caixão de Ismênia
estabelecem uma ironia amarga em relação ao fracassado
sonho de amor da virgem morta.
OLGA
• Olga é afilhada de Policarpo.
• Ela vê no padrinho: “alguma coisa superior, uma ânsia de ideal, uma
tenacidade em seguir um sonho, uma idéia, um vôo enfim para as altas
regiões do espírito que ela não estava habituada a ver em ningúem do
mundo que freqüentava”. (Cap. II, primeira parte)
• Casa-se, não por convicção íntima, mas por acomodação àquilo que “é
um impulso de seu meio, uma coisa que não vinha dela”.
• O grito de independência: na defesa do padrinho aprisionado, rebela-se
contra o marido e assume definitivamente sua individualidade de mulher
e pessoa humana. “É o que te digo: vou e vou, porque devo, porque
quero, porque é do meu direito”.
• O marido de Olga a vê como um bibelô É contra essa visão que Olga se
rebela.
• Em geral, as mulheres são estimuladas ao casamento, o amor não é
ingrediente necessário; os homens vivem de exaltar feitos dos quais não
participaram, ou fingem-se de intelectuais.
ESPAÇO
• A narrativa se passa no subúrbio do Rio de Janeiro, espaço
preferido por Lima Barreto em suas narrativas.
• No início, o autor contrapõe o mundo da cidade e do centro
ao mundo do subúrbio e da periferia.
• Mais adiante, contrapõe-se o mundo rural ao mundo urbano.
• No final há uma confrontação com o mundo do
autoritarismo dos governantes, que assumem as revoluções
e revoltas, contrapondo-se ao povo que assiste a tudo
passivamente, como espectador.
• 1ª parte: entre o subúrbio e o local de trabalho do major
Quaresma.
• 2ª parte: acontece na chácara “Sossego”.
• 3ª parte: passa-se novamente no Rio de Janeiro, quando
Policarpo Quaresma integra o exército brasileiro em defesa
de República, na revolta da Armada.
TEMPO DA NARRATIVA
• O tempo da narrativa corresponde ao final do
século XIX, especificamente ao período do
governo de Floriano Peixoto.
• As questões políticas, a visão da mulher, os
dramas do subúrbio, as fraquezas do
governo constituem-se em fatos do romance
que são retirados da ideologia do período
compreendido entre 1891 e 1894.
• É de modo irônico que o narrador descreve a
batalha: “queimou” torna-se expressão de
riso e deboche por parte do povo que assiste
à batalha.
BOA
LEITURA:
O SUCESSO
TE ESPERA
Download

document