CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DA IDÉIA DE PROGRESSO
Humberto José Bis – UFOP1
RESUMO: Concebida atualmente como um avanço contínuo da humanidade, seja em
decorrência de suas virtudes morais e espirituais, ou mesmo se referindo às habilidades
técnicas dos seres humanos de resolver os problemas materiais que são colocados pela
natureza e pela própria vida em comunidade, a idéia de progresso penetrou no imaginário
comum do mundo ocidental servindo de substrato teórico a outras idéias, como liberdade,
justiça, igualdade e democracia. É precisamente a história desta idéia que pretendemos
abordar, procurando responder as seguintes questões: O que é progresso? Onde e quando essa
idéia surgiu? Terá ela o mesmo significado de quatro ou cinco séculos atrás? Será a idéia de
progresso basicamente moral ou espiritual? Ou será a presença ou não de riqueza material um
melhor indicador de progresso?
PALAVRAS-CHAVE: Progresso, Modernidade, Iluminismo.
INTRODUÇÃO
Concebida atualmente como um avanço contínuo da humanidade, seja em decorrência
de suas virtudes morais e espirituais, ou mesmo se referindo às habilidades técnicas dos seres
humanos de resolver os problemas materiais que são colocados pela natureza ou pela própria
vida em comunidade, a idéia de progresso penetrou o imaginário comum do mundo ocidental
servindo de substrato teórico a outras idéias – que sustentam as instituições políticas de nosso
tempo – tais como liberdade, justiça, igualdade e democracia. Assim, ao refletirmos sobre a
idéia de progresso algumas questões inevitavelmente nos vem à tona. O que é progresso?
Onde e quando essa idéia surgiu? Terá ela o mesmo significado de quatro ou cinco séculos
atrás? Será a idéia de progresso basicamente moral ou espiritual? Ou será a presença ou não
de riqueza material um melhor indicador de progresso?
Questões desta natureza nos levam naturalmente a outros tipos de problemas e para
que eles não se tornem indissolúveis, ao longo deste trabalho nos focaremos em alguns pontos
que consideramos essenciais para elucidarmos tais questões: primeiro, a idéia de progresso
teria sua gênese numa concepção judaico-cristã de tempo, que se articula em passado,
presente e futuro. “O presente vincula-se ao passado pela morte e ressurreição de Cristo e
também ao futuro pela salvação e a consumação”(TERRA, 2004, p.27), desse modo as
concepções de temporalidade judaica e, principalmente a cristã, vão abrir o campo para
algumas teorias modernas a respeito do progresso; segundo, a idéia de um avanço do saber e
1
Graduando do curso de História da Universidade Federal de Ouro Preto
de um crescimento do gênero humano, está presente de maneira variada em autores como
Bacon, Condorcert, Adam Smit, Spencer e Comte; e terceiro, “nenhum dos expoentes da
chamada Revolução científica jamais afirmou que a libertação do homem pudesse se confiada
à ciência e à técnica enquanto tais”(ROSSI, 2000, p. 15), para eles o domínio do homem sobre
a natureza por meio de uma evolução constante do saber técnico-científico, só angariaria valor
se realizados num contexto mais amplo que concerne em conjunto e simultaneamente – à
religião, à moral, à política.
CONCEPÇÃO JUDAÍCO-CRISTÃ DE TEMPO.
A datação precisa sobre as origens da idéia de progresso provoca muitas divergências.
Há autores como Robert Nisbet que compartilham a idéia de que, mesmo de forma não
absoluta, a perspectiva de progresso estava presente no mundo clássico:
Chegamos a verificar que os gregos e os romanos, ao contrário do que
mantém a interpretação tradicional, tinham uma concepção nítida de um
passado longo, viam uma progressão mensurável das artes e das ciências e
da situação do homem na terra e referiram-se, em sua época, a um futuro no
qual a civilização teria se projetado muito além do que ela era então.
(NISBET, 1985, p.24)
A nosso ver, predominou na antiguidade clássica uma maneira de conceber o futuro,
quando este era tido como positivo, como uma volta a uma idade de ouro do passado – uma
visão cíclica que assimilou os processos da história aos processos da natureza. A idéia mesmo
de um tempo linear fluindo em direção ao fim pré-estabelecido teve sua gênese nas
concepções de temporalidade judaica e, principalmente, cristã. São estas que vão abrir
caminho para algumas idéias modernas a respeito do progresso.2
A visão teleológica da história tem seu expoente máximo na figura de Santo
Agostinho, mais precisamente na sua obra Cidade de Deus. Dentre os pontos de sua filosofia
da história que contribuíram de forma essencial à formulação da idéia moderna de progresso
destacamos, esquematicamente, os seguintes: sua visão ecumênica da raça humana pensada
2
Segundo Nisbet: “Dos Judeus, os cristãos obtiveram a concepção de história sagrada, como guiada por Deus e
conseqüentemente como necessária. Também dos Judeus, e mais especialmente das correntes de milenarismo
que se faziam presentes tanto antes como depois do advento da religião cristã, veio a fé numa futura idade de
ouro terrena, crença estabelecida no Livro da Revelação do Novo Testamento e que pode ser rastreada, com
variados graus de intensidade, através da história da humanidade – mas, sobretudo, no que concerne a idéia de
progresso, no puritanismo do século XVII” (NISBET, 1985, p. 60)
agora em sua totalidade; seu interesse pelo fluir do tempo por meio de periodizações; sua
doutrina da necessidade histórica; e o conflito incessante, como motor desta dinâmica
temporal, entre a cidade do homem e a cidade de Deus.
A idéia de que a humanidade, independente de determinado povo, império, nação ou
estado, está em constante progresso como um todo, influenciará pensadores modernos como
Condorcet, Kant, Comte, Spengler e muitos outros do século XVIII e XIX. Esse princípio da
unidade do gênero humano teve sua fundamentação substancial no cristianismo, entre os
teólogos ávidos em promover os temas da universalidade da Igreja e da aceitação em seu seio
de todos os seres humanos. Mas “é em A Cidade de Deus de Santo Agostinho que esta idéia
de um vínculo social universal, de uma humanidade unificada, atingiu sua expressão mais rica
e poderosa”. (NISBET, 1985, p. 71-72)
Em conexão com o aspecto da unidade do gênero humano, Santo Agostinho concebeu
o tempo como um fluir linear, único e abrangendo tudo o que aconteceu com a humanidade
no passado e tudo o que continuaria a ocorrer no futuro. Esse avanço através do tempo pode
ser deduzido em termos de estágios sucessivos e emergentes, análogo aos estágios da vida de
um indivíduo. Na seguinte passagem Robert Nisbet nos revela a periodização proposta por
Santo Agostinho em A Cidade de Deus:
Santo Agostinho é bastante liberal e flexível em sua periodização da história
humana. Assim, em diferentes capítulos de A Cidade de Deus, adota um
esquema com duas, três e até mesmo seis etapas, sendo que esta última com
implicação na existência de uma sétima etapa, que constitui a transição
entre o histórico e o transistórico. Ao dividir a história em duas etapas,
distingue os períodos “antes de Cristo” e “depois de Cristo”: é a
glorificação do Cristo iniciada nos primórdios da religião cristã. A
diferenciação entre juventude, maturidade e velhice da humanidade,
fundamentada em raízes pagãs, é mais interessante estando aí comprimidos
todos os acontecimentos e mudanças ocorridas entre Adão e Roma; que
segundo ele estava em vias de destruição. (NISBET, 1985, p. 76-77)
Mas, como e por que se daria esse transcorrer do tempo, em sucessivas etapas, que
abrangeria todo o gênero humano? Santo Agostinho se utiliza da noção de necessidade para
caracterizar um sentido de tempo desejado por Deus, este permitiria, em segunda instância,
que as leis da natureza agissem por si mesmas. Esta necessidade seria, mais tarde, o que
grande parte dos pensadores do iluminismo denominou como leis da ciência social, tendo
como paradigma teórico as leis das ciências naturais.
Como complemento a uma espécie de filosofia da história, Santo Agostinho trata do
conflito das duas cidades, a terrena e a de Deus, que teve início com o aparecimento da raça
humana e que deverá continuar até o eventual triunfo da Cidade de Deus. Para ele, toda a raça
humana encontra-se incluída nas duas categorias de cidades, sendo que uma consiste de quem
deseja viver segundo a carne e a outra dos que desejam viver de acordo com o espírito. O
interessante nesta idéia de conflito é que ela pode ser encontrada de forma variada na
modernidade, podendo ser “tanto entre os membros das espécies, como em Darwin, ou entre
classes, como em Marx, ou ainda entre manifestações do Espírito, como em Hegel” (NISBET,
1985, p. 84), mas o que importa para Santo Agostinho e os autores em questão é a ênfase no
conflito como processo indispensável para o progresso da humanidade.
Assim, como legado à idéia de progresso, “o cristianismo em sua interpretação
agostiniana elabora uma teoria a respeito da temporalidade que entra em choque com a
concepção clássica do eterno retorno, com as teorias cíclicas tanto cosmológicas quanto
políticas” (TERRA, 2004, p. 27) possibilitando uma assimilação da temporalidade como una
e linear, estando o sentido dos acontecimentos locais em conexão direta com a vontade de
Deus, só podendo ser interpretados se concebidos como uma totalidade.
Neste sentido, a reflexão agostiniana abre, sem dúvida, o campo para as filosofias da
história que concebem o tempo como contínuo e o movimento histórico como progressivo,
mas ao contrário do pensamento cristão, a concepção de progresso dos modernos não abarca a
noção de um fim definido na história – que para Santo Agostinho seria o triunfo da cidade de
deus. O futuro seria antes indefinido, possibilitado por desenvolvimento contínuo e inexorável
de toda a humanidade na terra. Deste modo, compartilhamos da idéia de Ricardo Ribeiro
Terra para quem a mera secularização de elementos cristãos não são suficientes para se pensar
a idéia de progresso dos modernos:
Os temas ressurgem função de uma situação político-social inteiramente
diferente da antiga e, mais ainda, boa parte dos elementos emprestados e
são por inadequação terminológica. Já que a influência cristã é muito
grande, torna-se difícil criar novas palavras que expressem adequadamente
os novos conceitos. Freqüentemente a explicação das filosofias da história
pela secularização não passa de polêmicas mal colocadas que não ajudam
em nada a compreensão destas filosofias e de suas irredutíveis
particularidades. (TERRA, 2004, p. 30)
O RENASCIMENTO: ALGUMAS TENDÊNCIAS CONFLITANTES
Para a reflexão acerca da idéia de progresso no Renascimento, utilizaremos como
referências teóricas as obras: História da Idéia de Progresso de Robert Nisbet e Naufrágios
sem Espectador – A idéia de Progresso de Paolo Rossi. Já de início, insistiremos na idéia de
Rossi, de que há na modernidade uma co-presença de uma concepção unilinear e de uma
concepção cíclica de tempo. Segundo esse autor, durante boa parte do chamado Renascimento
(século XVI ao XVIII) há a permanência de uma tensão característica deste período, entre
esperanças de novidades extraordinárias e angústias de catástrofe. Para tanto, focalizaremos
nossa análise em Francis Bacon, autor essencial na obra de Rossi citada acima.
Para este autor a imagem moderna de ciência (formulada em alternativa a uma visão
mágico-hermética do mundo) teve um papel importante na formação da idéia de progresso.
Dos primeiros anos do século XVII até a segunda metade do século XIX, a idéia de um
crescimento, de um avanço do saber, acompanhou todos os vários e diferentes programas
científicos, constituindo, por assim dizer, seu fundo comum.
Esta imagem de ciência estaria contraposta a um profundo desânimo com o presente,
cujos limites e insuficiências são visíveis aos olhos de filósofos como Descartes, Galileu,
Bacon e Kepler, estes acudidos por uma espécie de dúvida comum, questionaram
intensivamente as instituições e as doutrinas de seu tempo que estavam amparadas no mito de
uma sapiência originária, perdida num passado remoto na qual é possível abeberar-se como
numa inexaurível fonte de verdade. Recusavam assim, o caráter secreto e iniciático presente
nas interpretações dos antigos.
As crises e as revoluções foram interpretadas como sinais de possibilidades novas,
somado-se a isso, as novas descobertas referentes aos planetas e aos fenômenos naturais
abriam possibilidades para outras formas de filosofar, visto que a tradição antiga não
conseguia abarcar as grandes transformações no curso do conhecimento prático. Nesse
sentido, Rossi destaca que:
Para transpor o oceano e descobrir um novo mundo foi necessária a
descoberta da bússola. Ao lado da invenção da imprensa e da pólvora
explosiva, a descoberta da bússola e as viagens oceânicas revolucionaram a
história do mundo; modificaram a posição do homem. Nenhum império,
nenhuma escola filosófica, nenhuma estrela tiveram sobre a história humana
um efeito maior do que tiveram aquelas invenções. São elas que tornaram as
filosofias dos antigos não mais utilizáveis. (ROSSI, 2000, p.24)
Bacon faz uso recorrente de metáforas marinhas em suas obras para indicar uma
espécie de viagem sem destino certo que a humanidade empreenderia em seu tempo,
implicando necessariamente a idéia do naufrágio. Na sua obra A Redargutio Philosophiarum
(1608) Bacon efetua uma crítica contundente a Aristóteles, que desprezou a “tal ponto a
antiguidade que só se dignou nomear algum filósofo para desprezá-lo e insultá-lo”. (ROSSI,
2000, p. 24)
Bacon manteve uma posição crítica em relação a filósofos como Platão e Aristóteles
que se deterão em problemas de caráter moral e lingüísticos, abandonando a pesquisa severa
das coisas naturais. Desse modo, ele acredita haver três períodos do saber – o grego, o romano
e o contemporâneo do ocidente – que podem ser reconhecidos quando se observa a longa
história do gênero humano. A história do saber só aparentemente é longa e os tempos
propícios foram na realidade muito escassos.
Para Bacon as culturas aparecem como florescimentos momentâneos, como
produtos raros e de breves períodos, destinados a ser arrastados e submersos
no rio do tempo, fazendo emergir, como tábuas de um naufrágio, seus
produtos menos nobres e severos. (ROSSI, 2000, p. 37)
A partir destas passagens podemos observar que coexistem em Bacon posições que,
aparentemente, são totalmente contraditórias para um filósofo considerado moderno. Como
outros tantos de sua época, a filosofia de Bacon é bastante ambivalente e não se deixa encerrar
facilmente dentro de um esquema. Sua ambivalência emerge quando afirma estar a
humanidade num estágio propício ao avanço do conhecimento, mas esse avanço não significa
um caminho linear e contínuo. Assim, convergem em Bacon uma noção de tempo linear e
uma visão de tempo cíclica, provando que ao contrário do que se atribui ao Renascimento, há
uma tensão essencial entre esperanças de novidades extraordinárias e angústia de catástrofes.
O PROGRESSO NA MODERNIDADE
Marcado pelo que Hobsbawn denominou de a dupla revolução, a era moderna
inaugurou uma nova maneira de conceber o tempo, tendo como referencial o futuro e não o
passado (ROBSBAWM, 2008, p. 325–348). Até bem poucos séculos no ocidente, o passado,
e não o futuro, constituía a orientação dominante do tempo histórico. Esse aspecto
praticamente imutável da vida, tão essencial ao mundo antigo, era devido a três fatores
fundamentais: primeiro, o homem se relacionava com a natureza de modo subserviente;
segundo, ele não possuía a convicção de aperfeiçoamento humano; e terceiro, faltava-lhe uma
estrutura de instituições sociais que lhe possibilitasse um otimismo em relação ao futuro.
Metaforicamente, como uma confluência de três grandes rios do desenvolvimento
humano, esses requisitos surgiram a partir do século XVII, e em conjunto, praticamente
libertaram o homem de suas amarras históricas. No século XVIII um otimismo imenso varreu
a Europa, e quem melhor expressou esse ambiente foi Condorcet.
É desnecessário dizer que o movimento iluminista não foi um movimento sem base na
realidade, coincidiu indiscutivelmente com a chamada Revolução Industrial. Por todo o
século XVII, um ritmo cada vez mais intenso de descobertas – e mais importante ainda, de
pesquisa sistemática – deu início a uma cadeia de realizações tecnológicas cujo efeito de
alterar a sociedade e seus variados níveis seria maior nos séculos seguintes do que todo o
progresso técnico dos dois mil anos precedentes. A natureza, até então senhora do homem,
tornou-se sua grande escrava, movimento esse favorecido por transformações políticas que
começaram com a Revolução Inglesa e culminaram com as Revoluções Francesa e
Americana.
Esse ambiente extremamente favorável ao capitalismo emergente, que teve como
característica substancial a crença na capacidade dos homens em compreender tudo e
solucionar todos os problemas pelo uso da razão, possibilitou a ascensão da idéia de progresso
como um movimento natural, pairando acima da vontade individual, tornando as forças
sociais o principal impulso da história.
Como nos aponta Heilbroner, fazendo uma importante analogia entre as relações
sociais e o universo da física, “para uma época alimentada pela mecânica newtoniana, não foi
preciso muito tempo para ver a semelhança entre o universo físico das partículas de ação
mutua e o universo social de seres humanos de ação mutua”(HEILBRONER, 1963, p.25).
Neste sentido uma nova maneira de perscrutar o futuro surgia, marcada por um tom de
inexorabilidade, de inflexibilidade, de causação social e de processo social tão implacável
quanto uma causação ou um processo físico. O futuro parecia previsível.
Desse modo, é neste contexto de transformações sócio-econômicas que emerge uma
visão específica da idéia de progresso, baseada no conhecimento científico e atestado pelas
transformações no mundo econômico, essa idéia atingirá definitivamente o senso comum. A
idéia do homem como ser racional e as provas irrefutáveis do avanço da razão acabam por
envolver o processo econômico em uma áurea de progresso e evolução lógica. Assim, “o ideal
de liberdade casa-se com a idéia de progresso ao mesmo tempo em que a idéia de progresso
confunde-se com a idéia de progresso material”(LOBÂO, 2003, p.62). Foi Adam Smith, na
obra A Riqueza das Nações (1776), quem melhor elucidou tal relação intima entre liberdade e
progresso material.
Para Smith, as atividades econômicas, quando deixadas o tanto quanto possível fora de
controle, produzem não só uma ordem social natural, mas também o mais rápido aumento
possível da riqueza das nações, quer dizer, do conforto e do bem-estar, e, portanto, da
felicidade de todos os homens. Na seguinte passagem Hobsbawn resume bem o pensamento
de Smith no concernente à idéia de progresso:
O progresso era, portanto, tão natural quanto o capitalismo. Se fossem
removidos os obstáculos artificiais que no passado lhe haviam colocado, se
produziria de modo inevitável; e era evidente que o progresso da produção
estava de braços dados com o progresso das artes, das ciências e da
civilização em geral. Que não se pense que os homens que tinham tais
opiniões eram meros advogados dos consumados interesses dos homens de
negócio. Eram homens que acreditavam, com considerável justificativa
histórica neste período, que o caminho para o avanço da humanidade
passava pelo capitalismo. (HOBSBAWM, 2008, p. 331)
A tese central de A Riqueza das Nações é a conciliação entre liberdade individual e o
progresso da humanidade, a sociedade é vista como um enorme organismo, cujas leis gerais
se manifestam por meio das leis de mercado. Na busca pela satisfação de seus próprios
anseios, os indivíduos contribuiriam naturalmente para o progresso da humanidade como um
todo.
Portanto, compreendemos que Adam Smith foi dentre os vários pensadores de seu
tempo quem melhor representou uma concepção de progresso estreitamente vinculada como
uma noção de desenvolvimento científico, verificável ao nível prático através da economia.
CONCLUSÃO
A guisa de conclusão, entendemos que os três autores trabalhados até então, são
representantes de algumas concepções acerca da idéia de progresso que nos possibilitam
compreender, de determinada maneira, o progresso tal como ele é concebido hoje: “(...) como
a idéia de que o curso das coisas, especialmente da civilização, conta desde o início com um
gradual crescimento do bem-estar ou da felicidade, com uma melhora do indivíduo e da
humanidade, constituindo um movimento em direção a um objetivo desejável”(BOBBIO,
1986, p. 1009).
Nesse sentido, Santo Agostinho teria contribuído para idéia de progresso com atributos
tais como a visão da unidade de todo o gênero humano, o papel da necessidade histórica, o
desenrolar através de largos períodos de um designo presente desde o início da história do
homem e finalmente, uma confiança no futuro. Já em Bacon encontramos uma afirmação do
progresso – mais verificável no que ele denomina de ciência natural – ao mesmo tempo em
que ele mantém a concepção cíclica para dar conta dos períodos em que a humanidade entra
em decadência, assim o avanço do saber é um longo e difícil caminho que tende a reconduzir
o homem próximo de seu originário estado de perfeição. Esta posição nos remete a idéia de
Paolo Rossi de que há uma “co-presença, na modernidade, de uma concepção unilinear e de
uma concepção cíclica do tempo” (ROSSI, 2000, p. 40).
Finalmente, em Adam Smith o progresso é sentido e constatado se refletido em bases
materiais, daí esta noção estar indiretamente ligado ao crivo da ciência, adquirindo um valor
neutro que é próprio de qualquer termo da ciência, que parece advogar um sentido próprio a
história. Seu pensamento consolida a idéia de que a acumulação capitalista é a única
alternativa viável para garantir o atendimento da necessidade das massas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBBIO, Norberto et all. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1986.
HEILBRONER, Robert L. O Futuro Como Historia. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1963.
HOBSBAWM, Eric J. A Ideologia Secular In: A Era das Revoluções, 1789-1848. Trad. Maria
Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. 23º Edição. São Paulo: Editora Paz e Terra. 2008.
cap. 13, p. 325-348.
LOBÂO, Antônio Carlos de Azevedo. O Pensamento de Adam Smith e a Crença na Idéia de
Progresso. Cadernos da FACECA, Campinas V. 12, nº 2, p. 67 – 69, jul/dez. 2003.
NISBET, Robert. História da Idéia de Progresso. PENSAMENTO CIENTÍFICO, Nº21.
Trad: LEOPOLDO JOSÉ COLLOR JOBIM. EDITORA UNIVERSIDADE DE BRASILIA,
DF, 1985.
ROSSI, Paolo. Naufrágios Sem Espectador, A idéia de Progresso. Trad. Álvaro Lorencini.
São Paulo: Editora UNESP, 2000.
TERRA, Ricardo R. Algumas Questões Sobre a Filosofia da História em Kant. In: KANT,
Immanuel. Idéia de Uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita. São Paulo:
Brasiliense, 1986, p. 22-67.
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