PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA
CARDÍACA NO HOSPITAL SANTA GENOVEVA EM GOIÂNIA
Ludmilla Bizinoto Ferreira, Mara Olívia Viegas
de cirurgia cardíaca. A coleta de dados foi
RESUMO
realizada de julho a setembro de 2004,
O presente estudo tem como objetivo
determinar o perfil epidemiológico dos
pacientes
cardiopatas
cirúrgicos
diariamente. Foram excluídos do estudo os
pacientes menores de dezoito anos de idade.
Os
adultos
atendidos no Hospital Santa Genoveva em
Goiânia. É um estudo prospectivo qualiquantitativo, no qual foi utilizado um
questionário contendo itens relativos ao pré-
resultados
mostraram
maior
predominância do sexo masculino, maior
número de internações pelo SUS, idade
média de 52,18 ± 14,31 e uma porcentagem
de óbito de 9,09%.
Palavras
operatório, intra-operatório e pós-operatório
chaves:
estudo
epidemiológico, cirurgia cardíaca.
miocárdio, entre outros. Populações de
INTRODUÇÃO
diferentes faixas etárias podem necessitar da
A
cirurgia
cardíaca
é
um
mesma, dependendo da patologia que venha
procedimento invasivo de alto risco, que tem
apresentar,
como alvo um órgão vital, o coração, dessa
acompanhado de doenças pré-existentes.
As
forma, os pacientes que se submetem a essa
podendo
doenças
estar
ou
cardiovasculares
não
no
cirurgia necessitam de um cuidado maior por
início do século XX eram responsáveis por
parte de toda a equipe multiprofissional
menos de 10% dos óbitos em todo o mundo,
durante o pós-operatório, pois a forma de
mas ao final desse mesmo século, esse grupo
abordagem é que irá contribuir para a
de
obtenção de resultados satisfatórios ou não,
aproximadamente, 50% dos óbitos nos
resultando no aumento ou declínio da taxa
países desenvolvidos e 25% nos países em
de morbi- mortalidade.
desenvolvimento. São estimados 25 milhões
doenças
foi
o
responsável
por,
As cirurgias cardíacas podem vir a
de óbitos em 2020, sendo que a maior causa
ser realizadas para a correção de valvopatias,
de morte será as doenças isquêmicas do
cardiopatias congênitas, revascularização do
1
coração, superando os casos de doenças
1
a 69 anos a prevalência do diabete melito é
de 17,4% 4 .
infecciosas .
No Brasil, 32,6% dos óbitos com
A insuficiência cardíaca hoje é
causa confirmada estão relacionados às
reconhecida como um problema crescente e
1
importante de saúde pública. Fatores como a
Existem diversos fatores de risco que
industrialização e a urbanização implicaram
podem contribuir para o surgimento de uma
mudanças na dieta alimentar, aumento do
doença cardiovascular, entre eles podemos
tabagismo, sedentarismo e obesidade. A
citar: idade avançada, sexo masculino,
conseqüência natural desse processo é o
hipertensão arterial sistêmica, tabagismo,
desenvolvimento da hipertensão arterial,
níveis séricos elevados das lipoproteínas de
diabete e doença das artérias coronárias,
baixa densidade (LDL-colesterol), níveis
sendo a insuficiência cardíaca a via final
séricos baixos das lipoproteínas de alta
dessas e de outras doenças. Estima-se que
densidade
6,4 milhões de brasileiros sofram de
doenças cardiovasculares .
(HDL-colesterol)
e
diabete
melito 2 .
insuficiência cardíaca 5 .
O risco de doença cardiovascular em
2
fumantes é de duas a quatro vezes maior .
valvopatias
A hipertensão arterial é um dos
fatores
de
risco
fundamental
desenvolvimento
o
reumática
é
6
resultado
da
cardiopatia
, mais precisamente da febre
reumática.
doenças
A febre reumática trata-se de uma
brasileiros
complicação auto- imune de infecção da
mostram uma prevalência entre 12% e 35%
orofaringe por um estreptococus em um
em diferentes regiões 3 .
hospedeiro suscetível entre 6 e 15 anos de
cardiovasculares.
de
para
Em nosso meio, grande parte das
Estudos
O diabete melito é uma doença
crônica freqüente e estima-se um aumento
idade 7.
É
uma
doença
de
distribuição
da sua prevalência de aproximadamente 30%
universal tendo incidência e prevalência
até o final da próxima década, segundo a
variáveis. Nos EUA a incidência tem
Organização Mundial de Saúde (OMS) 4 .
diminuído e isso se deve a uma melhor
No Brasil estima-se existirem 5
qualidade de vida, melhor conhecimento da
milhões de diabéticos. Na faixa etária de 60
doença, melhores serviços de saúde e o
advento de antibióticos. Em contrapartida, a
2
incidência nos países em desenvolvimento
não apresenta este perfil animador.
A dissecção da aorta trata-se da
Na
delaminação da sua parede. Caso não seja
América Latina a prevalência da doença em
tratada, apesar de ser rara, consiste numa
escolares é de 1 a 17 por cada 1.000
doença com alto índice de mortalidade. Sua
7
habitantes .
incidência
foi
estimada
em
5
a
29
O número de cirurgias cardíacas de
casos/milhão de população/ano. Em muitos
etiologia reumática realizadas em hospitais
casos, a dissecção da aorta está associada,
públicos do Brasil está em torno de 8.000
entre outros fatores, à hipertensão arterial.
7
cirurgias por ano .
A
congênitas
Apenas uma pequena porcentagem dos
incidência
varia
das
com
a
cardiopatias
metodologia
utilizada 8 .
pacientes
não
tem
nenhuma
condição
12
associada .
O
pós-operatório
em
cirurgia
A comunicação interatrial (CIA)
cardíaca caracteriza-se por um período
como lesão isolada representa 7% de todas
crítico e delicado, com a possibilidade de
as anomalias congênitas do coração e tem
surgimento de complicações, das quais
grande predomínio no sexo feminino, cerca
podemos citar as pulmonares, digestivas,
9
de dois terços .
A
constitui
neurológicas, renais, cardíacas e infecciosas.
coarctação
uma
aórtica
das
(CoAo)
O
Hospital
Santa
Genoveva
é
malformações
considerado referência na prestação desse
cardiovasculares mais freqüentes, fazendo
tipo de procedimento, contando com três
parte de 5 a 8% das cardiopatias em geral,
equipes médicas, equipes de fisioterapia,
ocupando, segundo muitas estatísticas, o 6º
enfermagem, nutrição e psicologia. Portanto,
ou 7º lugar entre os defeitos existentes 10 .
faz-se necessário a realização de um trabalho
O aneurisma da aorta abdominal é
que investigue o perfil da população nele
causado por um processo degenerativo não
atendida para melhor compreender os fatores
específico
considerado
que interferem na evolução da mesma e
dos
melhorar a assistência prestada por parte das
(comumente
aterosclerótico)
em
95%
casos.
Raramente são de outras etiologias como:
sífilis, trauma, inflamatório, micótico e
síndrome de Marfan 11 .
equipes.
O presente estudo tem como objetivo
determinar o perfil dos pacientes cardiopatas
3
cirúrgicos adultos atendidos no Hospital
Santa Genoveva em Goiânia.
• GRUPO I: Pacientes que fizeram
cirurgia para troca e/ou plastia valvar (troca
de valva aórtica - TVA, troca de valva mitral
- TVM e TVA + TVM);
MATERIAL E MÉTODOS
• GRUPO II: Pacientes que fizeram
Por meio de uma análise prospectiva
revascularização
do
miocárdio
(RM)
de prontuários, foram pesquisados dados de
associada ou não a aneurismectomia de
66 pacientes, no período pré-determinado de
ventrículo esquerdo (VE);
• GRUPO III: Pacientes que fizeram
julho a setembro de 2004, no Hospital Santa
Genoveva em Goiânia. Foi um estudo
troca valvar e RM;
observacional do tipo quali-quantitativo,
• GRUPO IV: Pacientes submetidos a
avaliado por meio de uma ficha individual
cirurgia cardíaca para correção de dissecção
contendo os fatores precedentes à cirurgia
de aorta (DA) ou correção de aneurisma da
(antecedentes
aorta abdominal (AAA).
familiares,
cirúrgicos,
doenças
características
antecedentes
• Grupo V: Pacientes submetidos a
pré-existentes),
individuais
do
paciente
(idade, sexo, hábitos de vida em geral), itens
cirurgia cardíaca de outra natureza (correção
de coarctação aórtica, correção de CIA).
Foram excluídos do estudo pacientes
que foram analisados no intra-operatório
(tipo de procedimento cirúrgico, tempo de
menores de dezoito anos.
circulação extracorpórea - CEC, tempo
O projeto foi aprovado pelo Comitê
cirúrgico e possíveis intercorrências) e no
de Ética e Pesquisa da Universidade Católica
pós-operatório
de Goiás.
mecânica,
(tempo
tempo
de
sob
ventilação
UTI/internação,
complicações existentes, alta/óbito).
Os
dados
estatisticamente
foram
através
do
RESULTADOS
analisados
programa
Microsoft Excel Xp.
No período de julho a setembro de
2004,
66
pacientes
cardiopatas
foram
Os pacientes desse estudo foram
submetidos à cirurgia cardíaca. A faixa
divididos em 5 grupos para critério de
etária variou de 19 a 82 anos de idade
análise dos dados:
(média de 52,18 ± 14,31), dos quais 51,52%
eram
do
sexo
masculino.
O
SUS
4
correspondeu a 68,18% dos atendimentos.
Os dados obtidos para os cinco
As principais cirurgias realizadas foram para
grupos são apresentados sob a forma de
troca de valva cardíaca (56,06%) seguida
dados
pela
operatórios, dados intra-operatório e dados
revascularização
do
miocárdio
(31,82%).
de
identificação,
dados
pré-
pós-operatório. Os dados de identificação
No mês de julho foram realizadas 22
dos cinco grupos encontram-se na tabela I.
cirurgias, em agosto 16 cirurgias e em
setembro 28 cirurgias cardíacas.
Tabela I - Identificação
Sexo
Masculino
Feminino
Idade
Atendimento
Convênio
SUS
Particular
Naturalidade
Goiás
Outro estado
Não relatado
Número de pacientes
Troca Valvar
(TV)
40,54%
59,46%
46,00 ± 12,42
24,32%
75,68%
0,00%
54,05%
40,54%
5,41%
37
Revascularização
do Miocárdio (RM)
76,19%
23,81%
63,76 ± 9,66
42,86%
52,38%
4,76%
33,33%
52,38%
14,29%
21
TV + RM
DA ou AAA
33,33%
66,66%
62,33 ± 8,62
33,33%
66,67%
0,00%
66,67%
33,33%
0,00%
03
50,00%
50,00%
54,00 ± 18,38
50,00%
50,00%
0,00%
50,00%
50,00%
0,00%
02
Outras
cirurgias
33,33%
66,67%
36,00 ± 6,24
0,00%
100,00%
0,00%
33,33%
66,67%
0,00%
03
Os dados referentes ao pré-operatório dos cinco grupos encontram-se na tabela II.
Tabela II – Pré -Operatório
Tabagismo
Sedentarismo
Dislipidemia
H.A.S
Disfunção
renal
Pneumopatia
Diabete melito
Sim/já foi
Não
Não relatado
Sim
Não
Não relatado
Sim
Não
Não sabe/não relatado
Sim
Não
Não sabe/não relatado
Sim
Não
Não sabe/não relatado
Sim
Não
Não sabe/não relatado
Sim
Troca
Valvar
(TV)
27,03%
56,76%
16,22%
24,32%
56,76%
18,92%
5,41%
56,76%
37,84%
16,22%
54,05%
29,73%
0,00%
75,68%
24,32%
5,41%
78,38%
16,22%
2,70%
Revascularização
do Miocárdio
(RM)
33,33%
38,10%
28,57%
23,81%
47,62%
28,57%
42,86%
14,29%
42,86%
38,10%
33,33%
28,57%
4,76%
66,67%
28,57%
4,76%
66,67%
28,57%
19,05%
TV + RM
DA ou AAA
Outras
cirurgias
33,33%
66,67%
0,00%
0,00%
100,00%
0,00%
0,00%
100,00%
0,00%
33,33%
33,33%
33,33%
0,00%
66,67%
33,33%
0,00%
66,67%
33,33%
33,33%
100,00
0,00
0,00
50,00
50,00
0,00
50,00
0,00
50,00
10,00
0,00
0,00
0,00
100,00
0,00
0,00
100,00
0,00
50,00
0,00%
66,67%
33,33%
0,00%
66,67%
33,33%
0,00%
66,67%
33,33%
33,33%
33,33%
33,33%
0,00%
66,67%
33,33%
0,00%
66,67%
33,33%
0,00%
5
Outras
doenças
prévias
Antec.
cirúrgicos
cardíacos
Antecedentes
familiares
Não
Não sabe/não relatado
Sim
Não
Não relatado
Sim
Não
Não relatado
Sim
Não
Não sabe/não relatado
72,97%
24,32%
56,76%
27,03%
16,22%
21,62%
62,16%
16,22%
40,54%
18,92%
40,54%
47,62%
33,33%
38,10%
33,33%
28,57%
9,52%
61,90%
28,57%
52,38%
9,52%
38,10%
33,33%
33,33%
66,67%
33,33%
0,00%
33,33%
66,67%
0,00%
66,67%
0,00%
33,33%
50,00
0,00
50,00
50,00
0,00
50,00
50,00
0,00
50,00
50,00
0,00
66,67%
33,33%
66,67%
0,00%
33,33%
0,00%
66,67%
33,33%
33,33%
33,33%
33,33%
Os dados referentes ao intra-operatório dos cinco grupos encontram-se na tabela III.
Tabela III – Intra -Operatório
Tempo CEC *
Tempo cirúrgico *
Intercorrências
Troca Valvar
(TV)
01:09 ± 00:39
03:21 ± 01:16
0,00%
Revascularização do
Miocárdio (RM)
01:16 ± 00:26
03:22 ± 01:08
0,00%
TV + RM
01:11 ± 00:10
03:30 ± 01:19
0,00%
DA ou AAA
Outras
cirurgias
01:25
00:39 ± 00:12
04:15 ± 00:21 02:00 ± 00:30
0,00%
0,00%
Os dados referentes ao pós-operatório dos cinco grupos encontram-se na tabela IV.
Tabela IV – Pós-Operatório
Tempo sob VM *
Tempo UTI **
Tempo enfermaria **
Complicações
Traqueostomia
Óbito
Troca Valvar
(TV)
13:01 ± 11:11
2,33 ± 0,86
5,17 ± 1,38
5,41%
0,00%
5,41%
Revascularização do
Miocárdio (RM)
12:15 ± 04:07
2,24 ± 0,94
4,65 ± 2,18
9,52%
0,00%
19,05%
TV + RM
11:40 ± 06:22
3,67 ± 1,53
4,33 ± 2,08
0,00%
0,00%
0,00%
DA ou AAA
Outras
cirurgias
12:05 ± 02:56 10:00 ± 00:51
2,50 ± 0,71
2,00 ± 0,00
5,00 ± 1,41
4,33 ± 1,15
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
* valores em horas
** valores em dias
Diagnóstico Pré-Operatório do Grupo I:
18%
32%
20%
30%
DLM + DLA + DLMA
Ins. Valvar
Estenose Mitral
Outros
6
DLM: Dupla Lesão Mitral
DLA: Dupla Lesão Aórtica
DLMA: Dup la Lesão Mitro-aórtica
Dos trinta e sete pacientes desse
DISCUSSÃO
grupo apenas quatro relataram ter febre
Os maiores grupos foram o grupo I e
o grupo II, com 37 pacientes e 21 pacientes,
conhecida
Grupo I
O grupo I é constituído por trinta e
sete pacientes, sendo que 59,46% são do
sexo feminino. O atendimento pelo SUS teve
o maior índice, representando 75,68% das
cirurgias realizadas para correção valvar. O
particulares
quanto
não
aos
houve
atendimentos
nenhum
nesse
período. Em relação à naturalidade, 54,05%
são
naturais
do
estado
de
Goiás.
Particularmente, a estenose mitral é
uma seqüela da febre reumática, acometendo
em maior número as mulheres
13
. E nesse
com estenose mitral e que foram submetidos
tabagismo,
sedentarismo,
hip ertensão
arterial,
valvopatias,
dislipidemia,
disfunção
renal,
pneumopatia e diabete melito. Mas por outro
lado pode haver relação com antecedentes
pois
40,54%
dos
pacientes
relataram ter casos de problemas cardíacos
na família. A maior parte dos pacientes,
62,16%, nunca tinha se submetido a uma
cirurgia cardíaca.
Um total de 56,76% relatou ter outra
doença prévia, que não seja cardíaca,
incluindo
as
doenças
neurológicas,
endócrinas.
Um
a troca valvar, seis eram mulheres.
De uma maneira geral, os pacientes
com valvopatias evoluem assintomáticos até
13
,
apresentado nesse estudo uma média de
idade de 46,00 ± 12,42.
das
ortopédicas, gastro- intestinais, pulmonares e
estudo verificou-se que dos oito pacientes
a quarta ou quinta décadas de vida
etiologia
verificou-se que não houve relação com o
familiares,
segundo lugar é ocupado pelos convênios,
e
valvopatias tem dado lugar a outras causas
em virtude da mudança de hábitos 6 . Pela
respectivamente.
24,32%,
reumática. Mas a etiologia reumática das
tempo
de
circulação
extracorpórea maio r que 2 horas evolui para
um tempo maior sob ventilação mecânica,
pois a CEC é um dos principais fatores que
retarda o desmame em cirurgia cardíaca,
devido ao importante distúrbio fisiológico
7
causado
pela
resposta
ao
de revascularização do miocárdio (RM)
. Foi constatado que
associada ou não a aneurismectomia de
o tempo médio de CEC correspondeu a
ventrículo esquerdo (VE), sendo este o
01:09 ± 00:39, e o tempo sob ventilação
segundo maior grupo. Apenas um paciente
mecânica de 13:01 ± 11:11; valores dados
foi
em horas.
miocárdio associada a aneurismectomia de
circuito extracorpóreo
14
inflamatória
O tempo médio de cirurgia foi de
submetido
a
revascularização
do
ventrículo esquerdo (VE).
03:21 ± 01:16 (valor dado em horas) não
Nos
havendo nenhuma intercorrência no intra-
aproximadamente
operatório e nem necessidade, no pós-
indivíduos por ano é submetido à cirurgia
operatório de realizar a traqueostomia.
para RM 1 .
O tempo médio de UTI foi de 2,33 ±
foi
5,17 ± 1,38; valores dados em dias.
predominância
pacientes
evoluíram
1
em
Unidos
cada
1.000
A idade média apresentada no grupo
0,86 e o tempo médio de enfermaria foi de
Dois
Estados
de
63,76
±
do
9,66,
sexo
com
maior
masculino,
com
correspondendo a 76,19%. Estudos relatam
complicações no pós-operatório, sendo essas
uma maior relação de pacientes do sexo
complicações do tipo cardíaca e pulmonar. A
masculino submetidos a cirurgia de RM, mas
paciente que evoluiu com complicação
essa tendência vem se modificando na
cardíaca foi a óbito no sexto dia pós-
atualidade 15 .
operatório e de acordo com o prontuário
Quanto à naturalidade observou-se
analisado, a causa foi por insuficiência
que 52,38% dos pacientes eram de outro
cardíaca congestiva e choque cardiogênico.
estado.
O índice de óbito nas cirurgias para
No Brasil, a RM pelo atendimento do
troca valvar foi de 5,41%, esse valor refere-
SUS totalizou 1.465 em 2001, sofrendo um
se a dois pacientes, sendo que o segundo foi
acréscimo de 27% em relação a 1996 (1.157
a óbito ainda na UTI logo após a cirurgia
atendimentos) 1 .
cardíaca. A causa do óbito não foi relatada
no prontuário.
O presente estudo não mostrou
diferenças
significativas
entre
os
Grupo II
atendimentos pelo SUS (52,38%) em relação
O grupo II é composto por vinte e um
aos convênios (42,86%). Houve apenas um
pacientes que foram submetidos a cirurgia
8
atendimento
particular,
responsável
por
4,76% dos atendimentos.
insuficiência renal e da doença arterial
periférica. Essa condição responde por
Os dados colhidos no pré-operatório
grande
parte
das
mostraram uma pequena porcentagem de
cardiovasculares
pacientes com disfunção renal, 4,76%, sendo
3
morbi- mortalidades
nos
países
industrializados .
que essa porcentagem é igual à encontrada
Somente 9,52% dos pacientes já
nos pacientes com pneumopatia. Dados estes
haviam sido submetidos anteriormente à
com pouca ou nenhuma significância. Em
cirurgia cardíaca, e os dados relacionados às
relação aos antecedentes familiares, houve
doenças prévias foram de 38,10%, com
uma prevalência alta presente em cerca de
maior
52,38%
de
ortopédicas. O diagnóstico pré-operatório de
doença
insuficiência coronariana correspondeu a
coronariana se mostra um importante fator
95,24% dos casos. Somente um paciente
dos
antecedentes
pacientes.
familiares
O
relato
de
15
de risco cardiovascular .
predominância
associada
33,33% e a dislipidemia taxa de 42,86%. O
esquerdo.
juntamente
doenças
teve diagnóstico de insuficiência coronariana
O tabagismo apresentou taxa de
tabagismo
das
com
a
aneurisma
de
ventrículo
a
O intra-operatório não apresentou
hipercolesterolemia e a hipertensão arterial
nenhuma intercorrência, apesar do tempo
sistêmica, é o maior fator de risco para
cirúrgico ter sido de 03:22 ± 01:08. O tempo
doença aterosclerótica coronária, sendo que
de CEC apresentou uma média de 01:16 ±
a probabilidade de ocorrer um evento
00:26; valores dados em horas.
coronariano é de 40% em 10 anos 2 .
Apenas 23,81% dos pacientes relatou
ser sedentário.
O diabete melito esteve presente em
A
CEC
utilizada
na
RM
é
considerada um procedimento padrão para o
tratamento
cirúrgico
da
insuficiência
coronariana, pois apresenta ótimas condições
19,05% dos casos, e a HAS apresentou taxa
de
segurança
e
reprodutibilidade
dos
de 38,10%. Na atualidade a HAS tem sua
resultados. No entanto, a mesma contribui de
importância como um dos principais fatores
forma decisiva para as complicações pós-
de risco para o desenvolvimento arterial de
operatórias e falência de múltiplos órgãos
16
.
doença coronariana, do acidente vascular
O tempo de VM foi de 12:15 ±
encefálico, da insuficiência cardíaca, da
04:07; valor dado em horas. Não houve
9
necessidade de realizar traqueostomia em
disfunção renal ou dislipidemia. Apenas um
nenhum paciente.
paciente era tabagista.
A prevalência de complicações pós-
Quanto a HAS somente um paciente
operatórias foi relevante, 9,52%, sendo que
relatou ser hipertenso, e também apenas um
os dois casos que apresentaram foram de
diz ser diabético.
origem cardíaca.
Em
relação
aos
antecedentes
O tempo de UTI fo i de 2,24 ± 0,94 e
familiares, dois pacientes disseram ter na
o tempo de enfermaria foi de 4,65 ± 2,18;
família pessoas com problemas cardíacos, e
valores dados em dias.
o mesmo número de pacientes relatou ter
O número de óbitos foi considerável,
outra doença prévia.
19,05%, correspondendo a quatro pacientes.
O tempo médio de CEC foi de 01:11
Grupo III
± 00:10 e o tempo médio de cirurgia foi de
Esse grupo é composto por três
03:30 ± 01:19, valores dados em horas. Não
pacientes, sendo dois do sexo feminino. A
houve relatos de intercorrências no intra-
idade méd ia é de 62,33 ± 8,62. Dos três
operatório.
pacientes, dois são de Goiás e dois foram
O tempo médio sob VM foi de 11:40
atendidos pelo SUS. Houve apenas um
± 06:22, valor dado em horas. Nesse grupo
atendimento por convênio.
não houve complicações pós-operatórias
São pacientes que realizaram a
nem a realização de traqueostomia.
cirurgia cardíaca para troca valvar e RM.
O tempo médio de UTI foi de 3,67 ±
Dois pacientes fizeram troca de valva aórtica
1,53 e o de enfermaria foi de 4,33 ± 2,08,
(TVA) e RM e o outro fez RM, plastia de
valores dados em dias.
valva mitral e aneurismectomia de ventrículo
esquerdo.
A porcentagem de óbito foi de
0,00%.
Uma
paciente
estava
sendo
Grupo IV
submetida à segunda troca valvar, e os
O grupo IV é composto por dois
demais não realizaram cirurgia cardíaca
pacientes que foram submetidos à cirurgia
anteriormente.
para correção de dissecção da aorta ou
Nenhum
sedentário,
ter
paciente
alguma
relatou
ser
pneumopatia,
correção de aneurisma da aorta abdominal.
O primeiro paciente tinha 41 anos de
idade, era tabagista, sedentário, hipertenso e
10
com antecedentes familiares de doença
O tempo médio de UTI foi de 2,50 ±
cardíaca. Em várias ocasiões, a hipertensão
0,71 e o de enfermaria foi de 5,00 ± 1,41,
arterial pode estar associada a dissecção da
valores dados em dias.
aorta, correspondendo de 70 a 90% dos
casos
12
. Nesse caso podemos perceber que o
Não ocorreu nenhum óbito nesse
grupo.
paciente possuía esse fator de risco para a
Grupo V
doença da aorta.
O grupo V é constituído por três
O segundo paciente tinha 67 anos de
pacientes que realizaram cirurgia cardíaca de
idade, já havia sido submetida à cirurgia
outra natureza, ou seja, cirurgias diferentes
cardíaca
anteriormente,
daquelas já mencionadas.
diabética,
hipertensa
era
apresentava
É um grupo que realizou a cirurgia
tratamento
cardíaca para correção de alguma cardiopatia
convencional do aneurisma abdominal tem
congênita, sendo composto em sua maior
alta taxa de morbi- mortalidade, pois na
parte por pacientes do sexo feminino
maioria dos casos, os pacientes são de faixa
(66,67%), e com idade média de 36,00 ±
etária alta e apresentam outras doenças,
6,24. Verificamos que 66,67% dos pacientes
como a doença isquêmica do coração, as
são naturais de outros estados e todos foram
doenças prévias da aorta, doença pulmonar
atendidos pelo SUS.
hipercolesterolemia.
e
tabagista,
O
obstrutiva crônica ou disfunção renal
17
.
Foram realizadas duas cirurgias para
O tempo de CEC foi de 01:25, valor
correção de comunicação interatrial (CIA) e
relativo a um paciente, pois não foi
uma para correção de coarctação aórtica.
registrado no prontuário o tempo de CEC do
As anomalias congênitas, incluindo
outro paciente. O tempo médio cirúrgico foi
as cardiopatias congênitas, podem ser
de 04:15 ± 00:21, valores dados em horas.
decorrentes de alterações endógenas, ou seja,
Não houve relatos de intercorrê ncias no
alterações
intra-operatório.
exógenas representadas por teratógenos
O tempo médio sob VM foi de 12:05
genéticas;
de
alterações
externos, como as irradiações ou ação de
± 02:56, valor dado em horas. Nesse grupo
infecções
não houve complicações pós-operatórias
embriogênese 8 .
nem a realização de traqueostomia.
ou
viróticas
no
período
da
Estudos que relatam a recorrência
familiar de CIA são relativamente poucos, e
11
nesse estudo não houve relação de CIA com
tempo sob VM foi de 10:00 ± 00:51, e como
antecedentes familiares.
foi um tempo curto não houve necessidade
Ainda em relação a CIA apenas um
paciente é portador de outra doença prévia e
de realizar nenhuma traqueostomia. Esses
valores são dados em horas.
ao mesmo tempo de HAS. Em relação ao
Nenhum
paciente
no
apresentou
outro paciente não foi relatado nenhum fator
intercorrências
intra-operatório
do questionário pré-operatório.
complicações no pós-operatório.
nem
Nesse estudo foi visto que a idade
O tempo de UTI foi de 2,00 ± 0,00 e
média dos pacientes que se submeteram a
o de enfermaria de 4,33 ± 1,15; valores
cirurgia cardíaca para correção de CIA foi de
dados em dias.
35,00 ± 8,49.
Apesar
Não ocorreu nenhum óbito nesse
da
cirurgia
ser
um
grupo.
procedimento seguro apresenta mortalidade
de 0,5-2% nas melhores séries
18
, mas nesse
período não ocorreu nenhum óbito.
cardiovasculares
observou-se que o grupo I apresentou um
alto número de pacientes sedentários e o
A coarctação aórtica é uma das
malformações
Após a análise de todos os grupos
maior tempo sob ventilação mecânica.
mais
O grupo II apresentou o maior
freqüentes e pode se apresentar como lesão
percentual
isolada ou associada a outras anomalias.
quantidade de pacientes com antecedentes
Tem predomínio no sexo masculino numa
familiares de problemas cardíacos e a maior
proporção de 2 a 3:1
10
. No nosso estudo o
único paciente que realizou cirurgia para
porcentagem
de
tabagistas,
de
uma
óbitos
maior
(19,05%),
correspondendo a quatro pacientes.
correção de CoAo era do sexo masculino.
A
hipertensão
arterial
e
a
Esse paciente apresenta outra doença prévia
dislipidemia tiveram destaque no grupo II, e
e tem antecedente familiar de problema
esse mesmo grupo apresentou um tempo de
cardíaco. Quanto aos outros critérios do pré-
CEC superior aos demais.
operatório o paciente não apresenta nenhum
deles.
O
grupo
III
apresentou,
proporcionalmente, um maior número de
Considerando o grupo como um
pacientes diabéticos. O tempo cirúrgico e o
todo, o tempo de CEC foi de 00:39 ± 00:12 e
tempo de UTI também se destacaram nesse
o tempo cirúrgico de 02:00 ± 00:30. O
grupo.
12
Observou-se que o tempo de CEC
próprio paciente no pós-operatório, algumas
não teve relação com o tempo sob ventilação
vezes não foi possível pelo fato do mesmo
mecânica.
ter ido a óbito ou por não saber responder à
pergunta.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Considerando
o
objetivo
deste
estudo, pode-se concluir que foi possível
1. Almeida FF, Barreto SM, Couto BRGM,
traçar parcialmente o perfil epidemiológico
Starling
dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca
Mortalidade Hospitalar e de Complicações
no Hospital Santa Genoveva em Goiânia,
Per-Operatórias Graves em Cirurgia de
pois seria necessário um tempo e uma
Revascularização do Miocárdio. Arquivo
amostra maior para que se obtivesse o perfil
Brasileiro de Cardiologia 2003; 80(1): 41-
real dos mesmos. Além disso, seria de
50.
grande
importância
a
inclusão
CEF.
Fatores
Preditores
da
nos
prontuários de todos os dados necessários.
2. Armaganijan D, Batlouni M. Impacto dos
Verificou-se que a idade média do
Fatores de Risco Tradicionais. Revista da
grupo foi de 52,18 ± 14,31, com maior
Sociedade de Cardiologia do Estado de São
predominância do sexo masculino e mais
Paulo 2000 Nov/Dez; 10(6): 686-693.
atendimentos pelo SUS. O número de óbitos
foi
relativamente
significante,
3. Brandão AP, Brandão AA, Magalhães
correspondendo a seis pacientes. Os fatores
MEC,
de risco nem sempre tiveram relação com o
Hipertensão Arterial. Revista da Sociedade
diagnóstico pré-operatório.
de Cardiologia do Estado de São Paulo 2003
O presente estudo tem as suas
Pozzan
R.
Epidemiologia
da
Jan/Fev; 13(1): 7-19.
limitações por ser uma análise de prontuário,
sendo que muitas informações não foram
4. Lerario AC. Diabete Melito: Aspectos
possíveis de serem colhidas pela ausência de
Epidemiológicos. Revista da Sociedade de
registro.
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Alguns dados que deveriam ter sido
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colhidos por meio da ficha individual com o
13
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15
Download

Perfil epidemiológico dos pacientes submetidos à cirurgia