64º Congresso Nacional de Botânica
Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013
O EFEITO DE BORDA INFLUENCIA A HERBIVORIA DE ESTRUTURAS
REPRODUTIVAS EM UMA ESPÉCIE HERBÁCEA DA CAATINGA?
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Diego N. N. Souza¹*, Cibele C. Castro , Lúcia H. P. Kiill , Elcida L. Araújo
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Universidade Federal Rural de Pernambuco. *E-mail para correspondência: [email protected]. Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA.
Introdução
As atividades antrópicas cada vez mais devastam e
alteram vários ecossistemas pelo mundo, com o intuito de
criar áreas de pastagens e de agricultura, como por
exemplo, em áreas de florestas tropicais secas [5, 1, 2].
Os ecossistemas passam por alterações em seus
processos ecológicos, o que gera o efeito de borda [4]. O
efeito de borda causa, em um primeiro momento,
mudanças microclimáticas locais e, em seguida, afeta
diretamente interações entre plantas e animais [10].
Dentre essas interações pode-se citar a herbivoria,
constatando-se que nas áreas de borda há um aumento
desta interação planta–animal [11].
Diante do exposto, objetivou-se verificar se o efeito de
borda afeta a herbivoria de estruturas reprodutivas de
uma espécie herbácea presente próxima da borda e no
interior de uma floresta tropical seca (caatinga).
Metodologia
O estudo foi desenvolvido durante o período chuvoso
de 2011 em uma área de caatinga pertencente ao
Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Caruaru –
PE. Essa área possui clima estacional, com precipitação
média anual de 710 mm e temperatura média de 22,7ºC
[8].
Duas populações com 15 indivíduos de Commelina
obliqua (Commelinaceae) foram selecionadas e tiveram
suas flores e frutos acompanhados para se quantificar a
ocorrência de danos causados por herbívoros. Uma
população situa-se na borda da floresta (estrada) e a
outra no interior. Utilizou-se o teste de Mann-Whitney
para a comparação da quantidade de flores e frutos com
danos entre as populações.
Resultados e Discussão
Não houve diferença significativa na quantidade de
flores danificadas entre as populações na borda e no
interior (U=69,00; p=0,09). No norte de Manaus verificouse que há uma maior densidade de herbívoros nas
bordas, e isto afeta com maior intensidade o
desenvolvimento das espécies vegetais, pois além de
consumirem partes das plantas, como as folhas, alguns
desses herbívoros também chegam a danificar estruturas
reprodutivas [3]. No presente estudo, isto não foi tão
evidenciado com as flores.
Em outros casos, pode ocorrer um maior número de
herbívoros no interior da floresta, uma vez que esses
animais estão menos expostos aos seus predadores
naturais [6]. No entanto, houve uma maior danificação de
frutos na borda (U=53,00; p=0,01), o que corrobora com a
ideia de que na borda existe uma maior intensidade de
herbivoria de frutos, principalmente por insetos [7].
Sabe-se que o efeito da florivoria pode ser crucial
para o sucesso reprodutivo da espécie em questão, uma
vez que dependendo da área danificada, a flor pode
perder a capacidade de ser fecundada, e assim, há uma
menor produção de frutos [9].
Conclusões
Pode-se concluir que a espécie pode ter perdas em
seu sucesso reprodutivo na borda, uma vez que seus
frutos foram mais danificados nessa área da floresta.
Agradecimentos
Agradecemos ao IPA-Caruaru e ao CNPq (Processo
477239/2009-9).
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