O IMPACTO DA VIOLÊNCIA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DE SÃO JOSÉ - SC
1
1
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Gilmar Staviski , Whyllerton M. da Cruz , Guilherme Martins da Silva , Feliciano S. Menezes Filho
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CEFID / UDESC - Florianópolis – SC – Brasil
RESUMO
Este estudo tem como objetivo investigar a violência no âmbito da Educação Física Escolar através
da percepção dos professores desta disciplina, bem como, verificar se a mesma interfere
negativamente na sua ação pedagógica. Fizeram parte deste estudo 39 professores de EF de 12
instituições diferentes, com idade média de 37 anos (- 23 / + 52), dos quais 22 são do sexo
masculino e 17 do sexo feminino, todos professores de escolas públicas municipais e estaduais do
Município de São José – SC. Para identificar a percepção dos professores de EF em relação à
violência no âmbito escolar, foi construído um questionário especificamente para este estudo. Este
instrumento é composto por 25 questões (abertas e fechadas) e abordou principalmente os aspectos
relacionados à existência da violência, tipos de violência, interferências geradas pela violência e as
intervenções dos professores em suas aulas. Em sua maioria os professores responderam já ter
presenciado algum tipo de violência realizada por alunos dentro da escola, mas consideraram seu
ambiente de trabalho com periculosidade inexistente a razoável. A violência mostrou interferir
negativamente os professores, uma vez que alguns revelaram medo em desenvolver suas
atividades em conseqüência da violência. O professor de Educação Física possui uma posiçã o
vantajosa quando se pensa em ações de prevenção à violência, pois lida com os alunos de forma
mais prazerosa e livre, tendo o contato corporal e o movimento como ferramentas importantes para
conquistar seus objetivos, mesmo que muitas vezes coagido por um fenômeno que se mostra mais
forte do que ele.
Palavras chave: Educação Física, professor, violência, escola.
INTRODUÇÃO
A violência é um fenômeno observado com freqüência em todos os domínios da sociedade,
inclusive no contexto escolar (CHAUÍ, 1995; GONÇALVES et al., 2005). A escola deve ser um
ambiente no qual professores e alunos possam participar do processo de ensino -aprendizagem em
um clima ameno, livres de quaisquer fenômenos que possam desequilibrar este processo. No
entanto, em determinadas localidades, o que se têm percebido é que a violência, nas suas formas
mais perigosas como agressões físicas e risco de mortes, ora presente apenas fora das escolas,
passa a co-habitar também dentro das intuições de ensino e afetar negativamente o sistema
educacional.
Existem várias definições de violência, mas como comenta Koller (1999), todo ato de
violência tem em comum o fato de ser caracterizado por ações e, ou omissões que podem cessar,
impedir, deter ou retardar o desenvolvimento pleno dos seres humanos. Assim como as definições
de violência, muitas também são as suas modalidades, neste sentido, Ristum e Bastos, (2004)
classificaram os fatores geradores de violência em dois grupos, os fatores contextuais e os fatores
pessoais. O primeiro grupo ainda subdivide-se em causas proximais distais, que são produzidas
pelas conjunturas econômicas, sociais, políticas e culturais e as causas contextuais proximais, como
por exemplo, a violência doméstica, a violência na rua ou na TV, uso de punições em instituições
sociais, entre outros. Além disso, existem as causas pessoais que podem ser tanto biológicas como
psicológicas e que se referem ao consumo de drogas e álcool, desequilíbrios emocionais, questões
passionais, temperamento, índole e outros.
Colaborando com este assunto, Camacho citado por Marriel et al., (2006) aponta duas
formas básicas de violência que ocorrem na escola, a violência física (brigas, agressões físicas e
depredações) e não-física (ofensas verbais, discriminações, humilhações e desvalorização com
palavras e atitudes de desmerecimento), sendo esta última forma de violência difícil de ser
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diagnosticada, muitas vezes mascarada, podendo envolver tanto professores quanto alunos, quer
como vítimas ou protagonistas.
Segundo Zaluar e Leal (2001) referenciando os dados do Instituto de Pesquisa Econômica
Avançada de 2005, a desigualdade social é considerada como um dos principais fatores
responsáveis pelos atos de violência observados em um âmbito geral, uma vez que o Brasil
apresenta disparidade elevada quanto ao acesso da população aos bens materiais, bem como, aos
fatores a ele diretamente relacionados, como a cultura, o lazer, a saúde, o saneamento básico, a
moradia, dentre outras igualmente importantes. Praticamente um terço da população brasileira
(31,7%) era considerada pobre em 2003, ou seja, 53,9 milhões de pessoas viviam com uma renda
per capita de até meio salário mínimo. Assim, tais contrastes sociais também podem ter impacto no
cotidiano escolar que tem se protegido através de atitudes como, levan tar muros cada vez mais
altos, implantação de grades de ferro em portas e janelas, câmeras de vigilância, guardas entre
outros recursos usados pelas escolas na tentativa de se proteger de atos de violência, sejam eles
agressões físicas, verbais, depredações ou invasões (SPOSITO, 2001) de origem interna ou externa
à escola.
Diante de tais fatos, deduz-se que a escola pode viver dois papéis distintos diante do quadro
de violência, num primeiro momento vivencia um papel de vítima, na medida em que sofre as
agressões descritas e num segundo momento, passa atuar como co-responsável no incentivo à
violência quando através de seus procedimentos didáticos metodológicos ultrapassados e
inadequados reforça a desigualdade alimentando as estatísticas de reprovação e eva são escolar
(AQUINO, 1998), além disso, quando esta não possui um controle efetivo de atos indesejados, pode
servir de modelo e incentivo para novos casos de violência, uma vez que as crianças que
freqüentam os pátios e salas de aula aprendem com o que vêem e vivenciam diariamente.
Neste contexto, têm sido relatadas ações e medidas objetivando estancar a escala da
violência, ainda que pequenos diante da magnitude do problema, como policiais nas portas das
escolas ou projetos com o intuito de aproximar a escola da comunidade. O que se questiona de fato,
é se toda esta gama de variáveis relacionadas à violência pode, de alguma maneira, prejudicar o
andamento do processo de ensino aprendizagem dentro de uma escola, a considerar todas as
disciplinas e os objetivos pedagógicos dos professores.
Assim, não seria incorreto afirmar que no contexto escolar uma das disciplinas que mais está
exposta ou potencialmente exposta à violência seria a Educação Física, uma vez que suas aulas
normalmente ocorrem nos pátios abertos, em espaços mais vulneráveis a algum tipo de violência,
seja por características inerentes a própria disciplina, como maior liberdade e interação entre os
alunos, ou mesmo pela escola estar situada próxima a lugares considerados de alto risco social.
Neste sentido, considerando a violência como um fenômeno que cresce e atinge o ambiente escolar
é que se fundamenta este trabalho, que tem como objetivo principal investigar a violência no âmbito
da Educação Física Escolar por meio da percepção dos professores desta disciplina, bem como,
verificar se a mesma interfere negativamente sua ação pedagógica .
MÉTODO
Este estudo se caracteriza como descritivo exploratório (RUDIO, 1986), pois visou investigar
aspectos relacionados à violência nas aulas de Educação Física (EF) através da percepção de
professores desta disciplina. Fizeram parte deste estudo 39 professores de EF de 12 escolas
diferentes, dos quais 22 são do sexo masculino e 17 do sexo feminino, com idade média de 37 anos
(- 23 / + 52), todos professores de escolas públicas municipais e estaduais do Município de São
José – SC. Para participar deste estudo os professores assinaram um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido.
Para identificar a percepção dos professores de EF em relação à violência no âmb ito
escolar, foi construído um questionário especificamente para este estudo. Este instrumento é
composto por 25 questões (abertas e fechadas) e abordou principalmente os aspectos relacionados
à existência da violência na escola, tipos de violência, quais eram as interferências geradas pela
violência e as intervenções dos professores em suas aulas.
A coleta de dados aconteceu na própria instituição de ensino de cada professor. Os
questionários foram respondidos de forma individual, sem a necessidade de ide ntificação, no sentido
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de preservar a integridade dos professores e na presença do pesquisador responsável, com o intuito
sanar quaisquer dúvidas que surgissem durante o preenchimento. Os dados foram analisados com
estatística descritiva obtendo-se desta maneira a freqüência, média, e desvio padrão.
RESULTADOS
Entre os 39 professores participantes desta pesquisa, 24 responderam ministrar aulas em
escolas municipais, 10 em escolas estaduais e 5 em Instituições de ensino tanto municipais como
estaduais. A maioria dos professores trabalha nos períodos matutino e vespertino, sendo que
apenas 1 trabalha no período noturno. Quanto ao grau de formação e capacitação profissional, 20
professores responderam já ter concluído uma especialização e 19 declaram possuir a penas a
graduação em Educação Física, nenhum professor afirmou possuir mestrado ou doutorado.
A maioria dos professores (31) leciona para o ensino fundamental, 11 para o ensino infantil e
7 para o ensino médio. Em relação ao tempo de serviço, 13 professore s responderam que lecionam
há apenas cinco anos, 13 revelaram que atuam como professores num intervalo de tempo
compreendido entre cinco e quinze anos e 11 responderam que já trabalham há mais de quinze
anos. Somente 1 professor respondeu trabalhar por mais de trinta anos.
A forma como os professores percebem o seu ambiente de trabalho em relação ao nível de
periculosidade considerando a existência de violência dentro da sua escola, pode ser visto na tabela 1:
Tabela 1 - Nível de periculosidade percebida pelos professores e professoras dentro do
ambiente que trabalha.
Periculosidade no ambiente de trabalho
Sexo
Total
Inexistente
Razoável
Perigoso
Muito perigoso
Masculino
12
7
1
2
22
Feminino
8
6
3
0
17
Total
20
13
4
2
39
Para a maioria dos professores entrevistados o nível de periculosidade do ambiente no qual
trabalha é percebida como nula, ou seja, não existe perigo, entretanto, 4 professores responderam
que percebem seu ambiente de trabalho como perigoso e 2 professores revelaram perceber como
muito perigoso, sendo estes professores todos do sexo masculino.
A percepção dos professores quanto ao grau de risco social da comunidade na qual a escola
que leciona está inserida em função e o nível de periculosidade do ambiente no qual trabalha pode
ser verificada na tabela 2.
Tabela 2- Nível de periculosidade do ambiente de trabalho em função do risco social na
qual a escola está inserida.
Periculosidade do Trabalho
Risco Social da Comunidade
Total
Baixo risco
Médio risco
Alto risco
Não
12
6
2
20
Razoável
2
19
1
13
Perigoso
0
2
2
4
Muito perigoso
0
1
1
2
Total
14
19
6
39
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Os professores que responderam perceber a comunidade como baixo risco social também
responderam ser o nível de periculosidade do seu trabalho como inexistente ou razoável, o q ue
também ocorre com aqueles que percebem como de médio risco social a comunidade e nível de
periculosidade para o trabalho.
As respostas dos professores quanto a já terem ou não presenciado algum tipo de violência
realizado por alunos dentro da escola em função do tempo que trabalham como professores de
educação física é apresentado na tabela 3:
Tabela 3 – Professores que já presenciaram algum tipo de violência realizada por alunos no
local de trabalho em função do tempo que lecionam.
Tempo que Leciona
Até cinco anos
De cinco a quinze anos
Mais que quinze anos
Total
Presenciou Violência
Sim
Não
13
0
13
0
11
2
37
2
Total
13
13
13
39
Embora a maioria dos professores considere seu ambiente de trabalho um lugar de
periculosidade inexistente a razoável; com exceção de dois professores, os demais revelaram já ter
presenciado algum tipo de violência realizado por alunos em seu local de trabalho. Dos professores
que presenciaram algum tipo de violência, 13 responderam estar trabalhando por apenas cinco
anos.
Alguns professores mesmo considerando seu ambiente de trabalho seguro e tranqüilo já
foram vítimas de violência. A freqüência dos professores que já foram vítimas de algum tipo de
violência durante as aulas de Educação Física em função do sexo está exposta na tabela 4.
Tabela 4 - Professores que já foram vítimas de algum tipo de violência durante as aulas de
Educação Física.
Sexo
Masculino
Feminino
Total
Vítima de violência durante aula de educação física
Sim
Não
10
12
10
7
20
19
Total
22
17
39
Os professores apresentaram um equilíbrio quanto à freqüência de terem sido vítimas ou
não de algum tipo de violência durante as aulas de educação física, equilíbrio que também se
manteve quando analisado este fenômeno entre os sexos masculino e feminino.
A violência dentro da escola pode provocar um sentimento de medo tanto nos alunos quanto
nos professores. A tabela 5 mostra a freqüência dos professores que responderam já ter tido medo
de desenvolver atividades devido à violência.
Tabela 5 - Medo de desenvolver atividades em função da violência
Sexo
Masculino
Feminino
Total
Medo de desenvolver atividades
Sim
Não
5
17
5
12
10
29
Total
22
17
39
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Aproximadamente um terço dos professores entrevistados responderam já ter tido medo de
desenvolver atividades devido à violência, contudo, este medo mostra -se afetar em igual proporção
tanto homens quanto mulheres.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Atualmente a educação tem recebido além da função de transm itir conhecimento o papel de
auxiliar na prevenção da violência, haja vista, o aumento da prática de atos violentos nas diversas
esferas da sociedade moderna, a destacar aqueles realizados por crianças e adolescentes.
Considerada como um fenômeno nocivo, a violência pode ser observada com freqüência em
todos os domínios da vida social, inclusive no contexto escolar. Neste âmbito, o professor possui
uma função de destaque no caráter preventivo da violência, uma vez que ele é considerado um
intermediador no processo de ensino aprendizagem (MARTINS JÚNIOR, 2000; STAVISKI, 2006).
No entanto, é importante verificar que em determinados locais ou regiões do Brasil, o fenômeno
violência tomou tamanha proporção que o professor passou de uma posição considerada de ce rta
forma imune, para uma posição de vítima da violência, quando não dizer refém da mesma, uma vez
que dotado de conhecimento e vontade de agir metodológica e pedagogicamente na sua prevenção,
é impedido por um fenômeno que se mostra complexo e com forças superiores a que ele possui.
É reconhecido por pesquisas (SPOSITO, 2001; MALDONADO & WILLIAMS, 2005; MARRIEL
et al., 2006) e pela mídia, que a escola, de modo concomitante e paradoxal, além de se instituir
como instância de aprendizagem, de conhecimento e de valores, tem-se configurado como espaço
de proliferação de violências, incluindo brigas, invasões depredações e até mortes, o que de certa
maneira, pode ser confirmado com os resultados desta pesquisa. Marriel et al. (2006) considera que
a escola é um espaço em que os alunos, em plena fase de desenvolvimento, se deparam,
constroem e também elaboram experiências de violência.
Considerando isso, ao investigar a violência através da opinião dos professores de escolas
municipais e estaduais foi constatado que a violência é muito presente no meio educacional, haja
vista que quando perguntado a estes se já haviam presenciado algum tipo de violência realizada
pelos alunos na escola, a resposta “sim” foi quase unânime (Tabela 3). Ao verificar o tempo que
estes professores atuam e sua relação com o fato de já terem presenciado algum tipo de violência
realizada pelos alunos, pôde-se perceber que embora existam professores que lecionam há poucos
anos, a freqüência de respostas positivas em relação a vivencia de vio lência é igual a dos
professores que trabalham na faixa de cinco a quinze anos e superior àqueles que são professores
de EF há mais de quinze anos. Tal informação pode nos sugerir que nos últimos anos elevaram -se
os índices de violência dentro das escolas, quando olhado pela ótica da freqüência e do tempo que
estes professores já atuam, lembrando que todas são escolas públicas, sejam elas estaduais ou
municipais (Tabela 3).
Segundo Sposito, (2001), desde 1980 o fenômeno violência afeta principalmente o sist ema
de ensino público no Brasil, e é nas periferias que ele se torna mais visível. A princípio a concepção
de violência desta época no sistema educacional era vinculada especialmente às ações de
depredação do patrimônio público, e em menor grau, ao medo de invasão dos prédios por
adolescentes ou jovens moradores nos finais de semana, aparentemente sem vínculo com a
unidade escolar. Nos dias atuais, estes fatores continuam presentes, porém, o medo passa a existir
não somente em feriados ou finais de semana, mas diariamente, principalmente quando a escola
está localizada em uma região considerada de alto risco social.
Neste estudo, a maioria dos professores respondeu achar seu ambiente de trabalho
tranqüilo, com um nível de periculosidade inexistente ou razo ável (tabela 1). De modo geral, houve
coincidência entre a percepção de baixo nível de periculosidade do ambiente de trabalho e o baixo
risco social no local em que a escola está inserida. Segundo Sposito (2001), em muitos casos, a
violência que é observada na escola retraduz parte do ambiente externo em que as unidades
escolares operam. No entanto, contrapondo a esta posição, dos professores que responderam
perceber como alto risco social o local no qual está inserida a escola que trabalha, apenas um
respondeu ser o seu ambiente de trabalho muito perigoso, o que pode sugerir que não
necessariamente um ambiente de trabalho é perigoso se este encontra -se em um local considerado
de alto risco social.
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A conseqüência que não se deseja neste fenômeno, é que a violência chegue até as salas e
pátios escolares, prejudicando o trabalho educacional e fazendo até como vítimas os próprios
professores. Para os professores que já foram vítimas de algum tipo de violência (Tabela 4), um
incidente como este acaba não só repercutindo negativamente no âmbito escolar, mas também em
outros setores de sua vida social. Ainda com respeito a este assunto, contrariando ao que
comumente pensa uma sociedade que foi construída segundo normas masculinas a respeito da
fragilidade da mulher (SARAIVA, 1994) supõe-se que as professoras estariam mais vulneráveis a
atos de violência ou mesmo de agressões, o que não se confirmou neste estudo, uma vez que
professores de ambos os sexos já foram vitimas de violência em ambientes escolares na mesma
proporção (Tabela 4).
Gonçalves et al. (2005) parte do pressuposto que a escola possua uma ação educativa que
vise à formação para a cidadania além de procurar favorecer a emergência de interação social
construtiva e integrada no cotidiano escolar, de tal forma que o professor seja capaz de aproveitar
os múltiplos momentos de conflito que surgem na escola para contribuir de forma mais eficiente para
esta formação. Baseando-se nisso, cabe ao professor criar situações educativas que proporcionem
a internalização de normas sociais construtivas pelo aluno. Como os demais professores do sistema
de ensino, o professor de educação física, na prevenção da violência na escola deve possuir o
conhecimento dos conteúdos que estruturam sua disciplina, por sua vez, esta n ão deve ser
entendida apenas como esporte ou simples prática pela prática (SOARES et al.; FREIRE e
SCAGLIA, 2003), mas também um espaço prazeroso no qual se produz conhecimento, valores,
respeito e criticidade (KUNZ, 2006).
Já é bem fundamentado cientificamente sobre a importância do planejamento dos conteúdos
e das atividades que são desenvolvidas nas aulas de EF (SOARES et al., 1991; FREIRE e
SCAGLIA, 2003). Dessa forma, ações mais efetivas no controle da violência podem ser realizadas
pelo professor de Educação Física, principalmente pelo fato deste apresentar um contato maior com
os alunos, marcado pela questão do “toque”, o contato físico do aluno com este professor, haja vista
que suas aulas são geralmente realizadas fora da sala, em um ambiente que pe rmite a socialização
e uma maior interação dos alunos. No entanto, a violência na escola tem tomado tamanha
proporção que, por vezes, acaba intimidando os professores e suas ações. Neste estudo, alguns
professores consideraram que o sentimento de medo em relação à violência acabava interferindo no
desempenho das suas aulas. Aquino (1998) comenta que infelizmente diante dos atos de violência,
os professores por vezes coagidos, reféns de determinadas situações, assumem uma postura que
desencoraja o cumprimento da sua ação ou plano pedagógico. Entretanto, é importante ressaltar
que assim como o medo prejudica a ação pedagógica do professor, a coragem também pode ser um
componente que se demonstra dialético, ou seja, ao mesmo tempo em que as atividades são
importantes ferramentas na prevenção da violência, a ausência delas contribui para uma sociedade
cada vez mais fria e carente de contato humano.
Sendo assim, Neto (2005), afirma que os melhores resultados no controle e prevenção da
violência na escola é alcançada quando se unem educadores, pais e alunos, por meio de
intervenções precoces. Desta maneira, o diálogo, a criação de pactos de convivência, o apoio e o
estabelecimento de elos de confiança e informação são instrumentos eficazes para se chegar a
estes objetivos na escola.
Freire (2003) afirma que a Educação Física deve ser fundamentada, independentemente do
conteúdo ou prática, no amor, e isso os professores devem resgatar ou simplesmente não deixar
morrer em sua essência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados que apresentamos revelam que a violência está presente no âmbito escolar, em
específico nas aulas de Educação Física. Nesta pesquisa, os professores desta disciplina, em
proporções significativas, já foram vítimas de algum tipo de violência, o que pode v ir a prejudicá-los
em seus objetivos pedagógicos, uma vez que existem professores que já sentiram medo de
desenvolver atividades em aulas ou mesmo de vir a trabalhar.
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A violência dentro da escola preocupa os professores de Educação Física, principalmente d e
intuições publicas, nas quais causa um importante impacto na percepção destes professores que já
afirmaram sofrer algum tipo de violência.
Sugere-se também, que para contribuir na discussão desses resultados, outras pesquisas
sejam realizadas com intuito de conhecer e valorizar a opinião dos professores em geral, assim
como, tentar conhecer este fenômeno em maior profundidade. O conhecimento sobre este assunto
urge para que possa surgir atitudes coerentes sobre a violência na escola, e assim favorecer os
maiores necessitados, os professores, a educação e conseqüentemente os próprios alunos.
Nota: agradecemos aos professores e professoras que se disponibilizaram a responder
atenciosamente os questionários e colaborar com esta pesquisa. Acreditamos que é em ações como
essas, pequenas, porém realizadas com comprometimento e critérios metodológicos, que se
consegue aprofundar em um assunto e valorizar o trabalho de profissionais que se encontram, de
certa forma esquecidos.
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