Historia da Medicina
History of Medicine
Barvalento Médico 2008; 1 (vol.1): 34-39
Bridas e aderências intestinais
Visão histórica de um problema que se
mantém actual
Intra-abdominal adhesions
Historical Vision of a current problem
Daniel Cartucho
Serviço de Cirurgia CHBA
Barlavento Médico
34
1 Ellis H. The clinical significance of
2
3
4
5
6
7
8
adhesions: focus on intestinal obstruction.
Eur J Surg Suppl, 1997;577: 5-9
Wilson MS, Hawkswell J, McCloy RF.
Natural history of adhesional small bowell
obstrution: counting the cost. Br J Surg
1998; 85: 1294-1298
Thompson JN, Ellis H, Parker MC et al.
Surgical impact of adhesions following
surgery in the upper abdomen. Br J Surg
1999; 86: 418-419
Herschlag A, Diamond MP, DeCherney
AH. Adhesiolysis. Clin Obstet Gynecol
1991; 34:395-401
Angioli R, Barreau G. Interceed use and
adhesion prevention in gynecology.
Contemporary OB/GYN Archive 1998
Nov. http://obgyn.pdr.net/obgyn/public.
htm?path=content/journals/g/data/1998/
gba/gba096.html
10
Van Der Krabben AA; Dijkstra FR;
Nieuwenhuijzen M; Reijnen MM;
Schaapveld M; Van Goor H. Morbidity
and mortality of inadvertent enterotomy
during adhesiotomy. Br J Surg 2000
Apr;87(4):467-71
Wiseman DM. Adhesion prevention:
Past the future. In DiZerega GS (Ed.)
Peritonea1 Surgery 2000 Springer-Verlag.
pp:401-417
Correspondência | Correspondence
[email protected]
SUMÁRIO: Bridas e aderências intrabdominais são
lesões já referenciadas nos papiros do antigo Egipto. Bem conhecida nos primórdios da patologia no
contexto da tuberculosa ou outra doença inflamatória
peritoneal, torna-se comum depois do advento da
cirurgia abdominal na segunda metade do século XIX,
pela obstrução intestinal que estas aderências pós-operatórias criam. É uma patologia que ainda hoje mantém
importante morbilidade. O autor revê a evolução
histórica desta doença e apresenta uma imagem dos
primórdios do registo gráfico desta patologia.
ABSTRACT: Knowledge of the existence of intraabdominal adhesions extends back to the ancient
Egyptians. Well recognized by early pathologists following tuberculosis and other peritoneal inflammatory
diseases, intestinal occlusion created by postoperative
adhesions became a common complication after the
advent of abdominal bowel surgery in the late 19th
century. It still is considered to be the cause of important morbidity today. The author reviews the historical
progression of this pathosis and presents a very early
graphic image found.
PALAVRAS CHAVE: Bridas, aderências intestinais,
história
KEY WORDS: Intra-abdominal adhesions, history
INTRODUÇÃO
INTRODUCTION
Na segunda metade do século XX realizaram-se
grandes avanços em praticamente todos os campos da
Medicina. No entanto as consequências da patologia
originada pelas bridas e aderências intra-abdominais,
permaneceu praticamente inalterada. Sabemos hoje
que estas membranas ou autênticos cordões de tecido
fibroso que ligam vários órgãos intra-abdominais que
normalmente não têm pontos fixos entre si lideram as
causas de obstrução intestinal. São responsáveis por
mais de 40% de todos os casos de obstrução intestinal
1
e de 60 – 70% do intestino delgado . Para além da
oclusão intestinal que pode ocorrer no pós-operató2
rio imediato ou 34 anos após o acto cirúrgico , esta
patologia é responsável ainda por quadros de dor
abdominal, infertilidade – 15 a 20% desta é causada
3
4
5
pelas aderências – gravidez ectópica , dispareunia ou
6
isquémia intestinal .
O conhecimento das adesões remonta igualmente ao
antigo Egipto onde há registo de severas adesões pélvi7
cas num doente, embora não se sugira um tratamento .
A descrição mais antiga de adesões em relação com
lesão funcional de órgão, tanto quanto se conhece, é o
registo no Talmud babilónio neste caso para adesões
8
pleurais . Ao longo do tempo, em particular na Idade
Média, vai persistindo um debate acerca das adesões
pleurais como causa ou consequência de perfuração. A
partir de Hunter (1728-1793) temos estabelecida a rela-
In the second half of the twentieth century, enormous
advances were made in virtually all fields of medicine.
However, on entering the twenty-first century, the
graveness of the consequences of abdominal fibrosis,
with its adherences and fibrotic bands, has remained
practically unaltered. We know today that these membranes, or authentic fibrotic laces, bind the intra-abdominal viscera that normally do not have fixed points
between each other leading to intestinal occlusion.
These membranes are responsible for 60-70% of all
small bowel disease and more than 40% of all the cases
1
of intestinal occlusion . Intestinal occlusion can occur
in the immediate postoperative period or 34 years
2
after surgery . It is still responsible for abdominal pain,
3
infertility (15 to 20% are caused by adhesions) , ectopic
4
5
6
pregnancy , dispareunia and intestinal ischemia .
The knowledge of adhesions retraces equally to ancient
Egypt where a case of severe pelvic adhesions in a
sick person is registered on papyrus, although there is
7
no suggestion of a treatment . The oldest description
of adhesions in relation with functional organ injury,
as far back as is known, is a register in the Babylonian
8
Talmud of a case of pleural adhesions . Throughout
evolution, with particular reference to the Medieval
Age, the debate persisted concerning pleural adhesions
as a cause or a consequence of perforation. From
Hunter (1728-1793), we established the relationship
Fig. 1 - Um caso de gestação
peritoneal retida.
In Thivet M. Maladies du péritoine
– Grossesse péritonéale, morte au
bout de dix-huit ans. In Anatomie
pathologique du corps humain.
Ed. J Cruveilhier, Tome second,
Livraison XXXVII, Libraire de
l’Academie Royale de Medicine,
1843, Paris.
A case of retained peritoneal
gestation
9 Von Dembowski T (1889) Ueber die
Ursachen der peritonea¬len Adhãsionen
nach chirurgischen Eingriffen mit
RUcksicht auf die Frage des Ileus nach
Laparotomien. Langenbecks Arch Chir 37:
745 citado por Treutner KH, Schumpelick
V. Adhäsionsprophylaxe – Wunsch und
wirklichleit (Adhesions prevention – wish
and reality) Chirurg (2000) 71: 510-517
10 Ellis H. Adhesions: the early history.
Hospital Medicine, Vol. 65, Iss. 6, 10 Jun
2004, pp 328 - 329
11 Bryant T (1872) Clinical lectures on
intestinal obstruction. Med Times Gaz 1:
363 citado por Treutner KH, Schumpelick
V. Adhäsionsprophylaxe – Wunsch und
wirklichleit (Adhesions prevention – wish
and reality) Chirurg (2000) 71: 510-517
1
ção entre as adesões, peritonite e infecção . Danbarski
em 1889, descreve causas de adesividade peritoneal
pós-operatórias, com ênfase das localizadas ao íleo e
concluiu, com base num trabalho experimental no cão,
que eram induzidas tanto pelos fios de compressas,
9
como pela escarificação do intestino .
Estas bridas que podem ser congénitas são normalmente secundárias a um processo intrabdominal como
uma cirurgia, uma inflamação ou um trauma. Estas
lesões referenciadas nos primórdios da patologia no
contexto da tuberculosa ou outra doença inflamatória
peritoneal, tornam-se comuns depois do advento da
cirurgia abdominal na segunda metade do século XIX,
pela obstrução intestinal que estas aderências pós-ope10
ratórias criam . Brant em 1897, descreve um caso de
adesividade no íleo depois de exerése de quisto do ová11
rio . Payr em 1911, descreve a relação entre as adesões
a fibrinólise e a importância das primeiras 48 h para a
12
formação destas aderências . Posteriormente, utilizou
a expressão “problemas de adesividade peritoneal”
chamando a atenção da maior relevância do problema
pelo maior número de laparotomias que cirurgiões e
ginecologistas praticavam. Valoriza a lesão da mucosa
pelo trauma na laparotomia asséptica e a lesão do
peritoneu pela falta de humidade, lesões químicas e
térmicas.
Ao longo dos anos vão sendo propostas uma série
de soluções para evitar a formação destas aderências.
Wiseman8 em 2000 dá-nos uma visão ampla do tema e
1
between the adhesions, peritonitis and infection . Danbarski, in 1889, described with basis on experimental
10
work on the dog , postoperative causes of peritoneal
adhesions, emphasizing on adhesions located on the
ileum, and concluded that adhesions could be induced
by the gauze fibres as well as by intestinal scarifica10
tion . Brant, in 1897, described a case of adhesions
11
of the ileum after excision of an ovarian cyst . Payr,
in 1911, described the relationship between adhesions,
fibrinolysis and the importance of the first 48 hours
12
for the formation of these adhesions . The expression
“problems of peritoneal adhesiveness” was later used
by him to call attention to the great relevance of the
problem through the large number of laparotomies
that surgeons and gynaecologists were practising. He
valued traumatic injury of the mucosa and peritoneal
injury due to lack of moisture, chemical and thermal
injuries in aseptic laparotomy.
Congenital bands have been found to exist, but the
great majority of all adhesions are secondary to some
intra abdominal process such as a surgery, inflammation or intra-abdominal trauma. Adhesions following
tuberculosis and other peritoneal inflammatory diseases were well recognized by early pathologists, but it
was not until the advent of abdominal surgery in the
19th century that postoperative adhesions, and thus
small bowel obstruction complications, became common. Through the years several proposals, for a series
of solutions, were made to prevent these formations.
Barlavento Médico
35
Fig. 2 - Thivet M. Maladies du
péritoine – Grossesse péritonéale,
morte au bout de dix-huit ans.
In Anatomie pathologique du
corps humain. Ed. J Cruveilhier,
Tome second, Livraison XXXVII,
Libraire de l’Academie Royale de
Medicine, 1843, Paris.
A case of peritoneal extrauterine
gestation presenting an image
of the embryo, restrained for 18
years, in the abdominal cavity.
Barlavento Médico
36
reporta uma primeira tentativa para a resolução destas
lesões motiva uma comunicação com a utilização de
óleo de massagem para impedir a sua formação em
1880s. Depois, respectivamente em 1886 e 1889, tanto
Muller como Malcolm, descreveram a utilização de soluções salinas para “float the intestines”. Conceito que
como iremos verificar mantém toda a actualidade. Um
agente chamado “fibrinolysin” (tiosinarnine e salicilato
de sódio) foi introduzida em 1892, mas não teve eficácia e caiu em desuso. A goma-arábica foi recomendada
como “lubricant between the viscera” em 1902, e
em 1905, a Johnson and Johnson lançou no mercado
uma preparação de peritoneu cecal bovino (disponível até 1993). Desde então, uma grande variedade de
substâncias, algumas bem exóticas, tem sido utilizada
numa tentativa de evitar a formação destas adesões
pós-operatórias: intestino grosso de touro, peritoneu
de tubarão, lanolina, bílis, membrana amniótica, bexiga
de peixe, retalhos de epiploon e múltiplas películas.
IMAGEM NOTÁVEL DE 1839
A Anatomia ciência morfológica do estudo da arquitectura do corpo baseado na dissecação, legou à História
da Medicina tratados com excepcionais ilustrações.
Disciplina muito tempo limitado aos dados de Galeno
(129-200), iria ter um novo impulso na Idade Média
a que se juntou com a dinâmica trazida pela impressa
de Gutenberg, cerca de 1450. Vários autores publicam
tratados de anatomia com ilustrações. De entre estes
André Vesálio publica em 1543 De humani corporir
fabrica, obra notável de anatomia tanto no plano
conceptual com estético e chegamos ao século XIX
com um corpo de excepcionais tratados de anatomia.
Nessa altura com a litografia era possível publicar
“sem demasiados encargos, obras iconográficas muito
volumosas (…) um favor aos médicos colocar ao
alcance de todos o conjunto dos trabalhos que tiveram
13
a anatomia como objecto” . Estamos nos inícios dos
anos 1880s, a anatomia encontrava-se no seu apogeu e
escrevia-se: “Sem a anatomia a fisiologia é apenas um
tecido de fábulas mais ou menos engenhosas, a cirurgia
encontra-se sem orientação e a medicina está reduzida
13
a um empirismo cego” . É patente o primado existente então da anatomia entre as disciplinas médicas e na
evolução dos conceitos científicos.
A anatomia patológica faz igualmente o seu percurso
e entre 1828 e 1842 Léon Jean Baptiste Cruveilhier
publica em Paris um memorável tratado Anatomie
pathologique du corps humain. A Cruveilhier (17911874) foi conferido o título de doctor de medicina em
Paris, em 1816, com uma dissertação com uma nova
classificação de órgãos de acordo com suas alterações
patalógicas. Em 1830 torna-se director do Hospice
de la Maternité, mais tarde Salpêtrière e Charité, e em
1836 tornou-se o primeiro catedrático da cadeira de
anatomia patalógica, que tinha sido estabelecida pelo
14
seu professor, Dupuytren . Dedicando sempre um
A first attempt for its resolution, in 1880s, motivated a
paper on the use of massage oil to hinder the formation of adhesions. In 1886, Muller spoke of the use
of a saline solution and in 1889; Malcolm described
the use of fluid to “float the intestines”. This concept,
we go on to verify, is pertinent today. In 1892, an
agent called “fibrinolysin” (sodium tiosinarnine and
salicylate) was introduced, but it was not effective and
fell into disuse. The gum-Arabic was recommended
as a “lubricant between the viscera” in 1902, and in
1905, Johnson and Johnson launched, on the market,
a preparation of bovine peritoneal cecum (available
up to 1993). Since then, a great variety of substances,
some quite exotic, have been used in an attempt to
prevent the formation of these postoperative adhesions: large intestine from bulls, shark peritoneum,
lanoline, bile, amniotic membrane, fish bladder, strips
of epiploon and multiple films.
A SINGULAR IMAGE FROM 1839
Anatomy, the morphologic science of the study of
the architecture of the body based on dissection,
bequeathed to the History of the Medicine compendiums with exceptional illustrations. Long limited to
Galen’s data (129-200), anatomy would go on to have
a new impulse in the Medieval age with the Gutenberg
prints cerca 1450. Various authors publish illustrated
compendiums of anatomy. Among them, Andres
Vesálio publishes, in 1543, De humani corporir fabrica, a highly notable work on anatomy in its conception as well as aesthetically. We arrive at XIX century
with a body of exceptional textbooks on anatomy. At
this point, with lithography, it was possible to publish
“without too much expense, voluminous iconographic
compendiums (…) as a favour to doctors to place,
within reach of all, the object of a set of works of
anatomy”. We are at the beginnings of the 1880s, anatomy was at its epitomy and thus was written: “Without
anatomy, physiology is just a weaving of more or less
ingenious tales, surgery finds itself without orientation
13
and medicine is reduced to blind empirism” . The existing primacy of anatomy then is evident amongst the
medical disciplines and in the evolution of scientific
concepts.
Pathological anatomy equally follows suit between
1828 and 1842. Léon Jean Baptiste Cruveilhier
publishes, in Paris, a memorable compendium on
Anatomie pathologique du corps humain. Cruveilhier
(1791-1874) was conferred with the title of Doctor
of Medicine, in Paris in 1816, for his dissertation on
a new classification of organs according to pathological alterations. In 1830 he became physician-in-chief
and director of the Hospice de La Maternité, later
Salpêtrière and the Charité, and in 1836, he became
the first Professor to hold the chair of pathological
anatomy, which had been established by his Professor,
14
Dupuytren . Always dedicating great interest to
DISCUSSÃO
12 Payr E (1924) Biologisches zur Ents-
13
14
15
16
tehung, Rtickbildung und Vorbeugung
von Bauchfel lverwachsungen. Zentralbl
Gyniikol 14: 718 citado por Treutner KH,
Schumpelick V. Adhäsionsprophylaxe
– Wunsch und wirklichleit (Adhesions
prevention – wish and reality) Chirurg
(2000) 71: 510-517
Bourgery JM, Jacob NH. Traité complet
de l’anatomie de l’homme. Na Edição
Taschen Gmbh 2006
http://www.whonamedit.com/doctor.
cfm/892.html
http://www.cosmovisions.com/Cruveilhier.htm
Thivet M. Maladies du péritoine
– Grossesse péritonéale, morte au bout
de dix-huit ans. in Anatomie pathologique
du corps humain. Ed. J Cruveilhier,
Tome second, Livraison XXXVII, Libraire
de l’Academie Royale de Medicine,
1843, Paris.
O peritoneu com uma superfície de 10,000 cm2 no
adulto, quase igual à superfície da pele, diminui a
fricção entre as vísceras abdominais permitindo o
seu movimento livre. Apresenta à superfície células
mesoteliais altamente diferenciadas e é a este nível que,
após um factor desencadeante, por exemplo um acto
cirúrgico, ocorre aquela cascata de eventos que pode
confluir para a formação de bridas e aderências. Estas
podem ser responsáveis por um cortejo de sintomatologia que pode ir da dor abdominal à oclusão intestinal.
O seu diagnóstico é em larga medida confirmado
intra-operatoriamente, já que não dispomos de exames
complementares de diagnóstico para a sua identificação. Pela sua natureza não visualizamos estas lesões, só
identificamos o seu rebate.
No século XX a maior parte de tipos de materiais
actualmente em utilização ou em desenvolvimento
foram propostos para prevenção das aderências: líquidos, geles, barreiras, drogas fibrinolíticos, polímeros
hidrossoluveis e polímeros orgânicos. No entanto após
um período inicial de algum entusiasmo a prática não
consagrou a sua utilização. E voltamos mesmo assumir
uma referência prévia com o conceito “flot the intesti-
Anatomy, his days were spent within the school pavilion laboratories, gathering material for the works on
Anatomie Pathologique du Corps Humain (1828-1842)
and the Traité D’Anatomie Pathologique Générale
(1849-1864). Cruveilhier’ s claims fame for his remarkable illustrations, even today, and establishes a first and
magnificent attempt to popularize anatomo-pathological science through its accessibility of loyal images of
15
the lesions .
This chapter shows a truly notable image 1. The
author describes a case of peritoneal extrauterine gestation presenting an image of the embryo, restrained
16
for 18 years, in the abdominal cavity . Shown are 3
adhesions, using the expressions adhesions and tacks.
It describes the neovascularization observed in the
membranes presents an image of the great severity of
these injuries. “on voit qu’il est encore recouvert de
ses envelopes primitives, qui, après s’ètre appliquées
etroitement sur lui, se porolongent sous forme de
brides, et vont se fixer aux colons ascendant et transverse, en se continuant insensiblement avec le péritoine
(…) La partie médiane et occipitale de la tête donne
insertion à un grand nombre de cês brides (…) et qui
vont s’insérer d’autre au cólon ascendent; elles m’ont
paru organisées, car j’ai pu y constater la presénce de
vaisseaux et de petits paquets graisseux de la grosseur
d’une noisette (…) Tous ces prolongemens que nous
retrouverons encore aux pieds AF, servaient de moyens
de suspension à l’enfant dans la cavité abdominale.”
DISCUSSION
The peritoneum with a surface area of 10,000 cm2
in the adult, almost equal to the surface of the skin,
reduces the friction between abdominal viscera permitting its free movement. On the surface are highly
differentiated mesothelial cells. It is on this level that,
a surgical act sets off a cascade of events that flows
toward the formation of membranes and adhesions.
These can be responsible for a parade of symptoms
which can go from abdominal pain to intestinal occlusion. Its diagnosis is, in wide measure, confirmed on
surgery since there are no diagnostic procedures available for its identification. Due to the nature of these
formations we cannot see them, unless directly due to
their effect.
In the XX century, most of the types materials in use
or under development currently considered for prevention of adhesions: liquids, gels, barriers, fibrinolytic
drugs, water soluble polymers and organic polymers.
However, after some initial enthusiasm, experience
did not consecrate its use. We go back to assume a
previous reference on the concept of “floating the
intestines”. In fact if we maintain the intestines and abdominal organs in a solution that keeps them in movement, the injured peritoneal surfaces cannot adhere to
form membranes and adhesions. For this purpose, a
solution used in dialysis is being proposed
37
Barlavento Médico
grande interesse à Anatomia passava os seus dias nos
pavilhões da Escola prática, recolhendo os materiais
para as obras Anatomie Pathologique du Corps Humain (1828-1842) e o Traité D’Anatomie Pathologique
Générale (1849-1864), Cruveilhier assenta a sua fama
nas suas illustrações, notáveis ainda hoje, bem como o
estabelecimento do que constituí a primeira e magnifica tentativa de vulgarização da ciência anatomo-patolo15
gica pela acessibilidade da imagem fiel das lesões .
De entre as “diversas alterações mórbidas susceptíveis
de ocorrer no corpo humano”, apresenta-nos em 1839,
no segundo tomo da obra, um capítulo por Thivet M.
com o título: Maladies du péritoine – Grossesse péri16
tonéale, morte au bout de dix-huit ans . Neste texto
o autor descrevendo um caso de gestação peritoneal,
apresenta uma imagem verdadeiramente notável do
feto retido, durante 18 anos, na cavidade abdominal
por gestação extra-uterina. Exibem-se várias aderências
nesta estampa de grande rigor destas lesões. “on voit
qu’il est encore recouvert de ses envelopes primitives,
qui, après s’ètre appliquées etroitement sur lui, se
porolongent sous forme de brides, et vont se fixer aux
colons ascendant et transverse, en se continuant insensiblement avec le péritoine (…) La partie médiane et
occipitale de la tête donne insertion à un grand nombre
de cês brides (…) et qui vont s’insérer d’autre au cólon
ascendent; elles m’ont paru organisées, car j’ai pu y
constater la presénce de vaisseaux et de petits paquets
graisseux de la grosseur d’une noisette (…) Tous ces
prolongemens que nous retrouverons encore aux pieds
AF, servaient de moyens de suspension à l’enfant dans
la cavité abdominale.”
Barlavento Médico
38
nes”. De facto se mantivermos os intestinos e órgãos
intra-abdominais com uma solução que os mantenha
com movimento não permitimos a junção de duas
superfícies peritoneais lesadas que possam levar à
formação de bridas. Para este fim vem sendo proposto
o uso de solução utilizada na diálise que se mantém no
abdómen por um período de cerca de 5 dias, antes da
sua reabsorção.
No texto que descrevia o caso da gestação intraperitoneal retida verificamos que há cerca de 180 anos atrás
se utilizava uma nomenclatura, bridas e aderências, que
se mantém actual. Por outro lado a noção de maturidade das bridas, já está igualmente presente nesse
texto. Sabemos hoje que a maturidade pode condicionar a sua classificação Histológica e Macroscópica. A
neovascularização que o autor tão bem assinala é factor
de verificação na classificação Histológica das bridas de
17
Zuhlke . De acordo com a sua classificação Macroscópica que se refere à facilidade com que se liberta
as aderências, desde uma película que se separa com
facilidade por dissecção romba (grau I) ou onde a sua
lise só é possível por dissecção com tesoura ou bisturi
e onde a libertação do órgão previsivelmente acarreta
a sua lesão (grau IV) a maturidade proporcionada
pelo tempo que já levam desde a sua formação, deixa
antever uma consistência que está de acordo com a sua
observação:”serviam de meios de suspensão da criança
na cavidade abdominal”.
São lesões que tal como então ainda hoje nos confrontamos quotidianamente. Na imagem 3 verificamos a
ansa do delgado atingida, depois da lise de brida unica,
numa operação de Janeiro de 2007.
Este é um campo que vem merecendo a atenção
de muitos investigadores. Utilizando duas citações
poderemos dizer, em conclusão, que nesta patologia
oscilamos hoje entre uma constatação e um desejo. Por
um lado “as aderências desde sempre fizeram parte da
vida de um doente cirúrgico bem como do cirurgião.
O cirurgião aceita a formação destas aderências como
uma lesão inevitável, assim como algo que pode ser
controlado tão facilmente como o tempo que fará
18
amanhã” . Por outro “as feridas convivem com a
humanidade desde o seu início. A evolução na cura não
pode ser deixada em paz com a moderna tecnologia.
O grau de inflamação e fibrose necessária em tempos
19
pré-históricos pode ser excessiva hoje” .
which remains in the cavity for a period of five days
before being absorbed.
In the text which described the case of the retained intra peritoneal gestation, 180 years ago, we verified the
use of the nomenclature, adhesions and membranes,
still used today. On the other hand, the notion of
the maturity of membranes is equally present in that
text. We understand today that maturity can condition its histological and macroscopic classification. In
the second half of the twentieth century enormous
advances were made in virtually all fields of medicine.
Nevertheless, we have entered the twenty-first century
and the situation concerning the gravity of the consequences of abdominal fibrosis, with its adherences
and fibrotic bands, has remained practically unaltered.
Neovascularization, which the author so well remarks,
is a factor which is verified in the Zuhlke histological
classification of membranes. In agreement with his
macroscopic classification which refers to the ease
with which the membranes are freed, from the membrane which is separated with ease through rhombus
dissection (grade I), or its lysis only possible through
dissection with scissors or scalpel blade where the
freeing of the organ will provoke its lesion (grade IV).
The maturity proportioned by time evolved from its
formation allows the foresee all of a consistency in accordance with its observation: “the use of the means
of suspension of the child in the abdominal cavity”
Lesions, which just as before, still confront us today.
In image 3, we verify that the small intestine segment
affected, after lysis of the only membrane, in an operation in January of 2007.
This is an area which has received the attention of
several investigators. Citing two quotes, we could say
that, in conclusion, in this pathology we swing today
between acknowledgement and desire. On the one
hand “adhesions have always been part of the life of
the surgical patient and of the surgeon. The surgeon
accepts the formation of these adhesions as inevitable, something so easily controlled as the weather
18
tomorrow” . On the other hand “wounds are familiar
to humanity since the beginning. The evolution of
healing has not kept up with modern technology. The
degree of inflammation and fibrosis necessary in pre
19
historic times can be excessive today” .
Fig. 3 - Imagem II. Ansa do intestino delgado atingida,
depois da lise de brida única.
Vídeo - wwww.chbalgarvio.min-saude.pt/barlavento_medico
Referências | References
39
Barlavento Médico
1.Ellis H. The clinical significance of adhesions: focus on intestinal obstruction. Eur J Surg Suppl,
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2. Wilson MS, Hawkswell J, McCloy RF. Natural history of adhesional small bowell obstrution:
counting the cost. Br J Surg 1998; 85: 1294-1298
3. Thompson JN, Ellis H, Parker MC et al. Surgical impact of adhesions following surgery in the
upper abdomen. Br J Surg 1999; 86: 418-419
4. Herschlag A, Diamond MP, DeCherney AH. Adhesiolysis. Clin Obstet Gynecol 1991; 34:395-401
5. Angioli R, Barreau G. Interceed use and adhesion prevention in gynecology. Contemporary
OB/GYN Archive 1998 Nov. http://obgyn.pdr.net/obgyn/public.htm?path=content/journals/g/
data/1998/gba/gba096.html
6. 10
7. Van Der Krabben AA; Dijkstra FR; Nieuwenhuijzen M; Reijnen MM; Schaapveld M; Van
Goor H. Morbidity and mortality of inadvertent enterotomy during adhesiotomy. Br J Surg 2000
Apr;87(4):467-71
8. Wiseman DM. Adhesion prevention: Past the future. In DiZerega GS (Ed.) Peritonea1 Surgery
2000 Springer-Verlag. pp:401-417
9. Von Dembowski T (1889) Ueber die Ursachen der peritonea¬len Adhãsionen nach chirurgischen Eingriffen mit RUcksicht auf die Frage des Ileus nach Laparotomien. Langenbecks Arch Chir
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