Raquel Márcia Fontes Martins
O cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas
no português contemporâneo de Belo Horizonte
BELO HORIZONTE
FACULDADE DE LETRAS DA UFMG
Dezembro de 2001
Raquel Márcia Fontes Martins
O cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas
no português contemporâneo de Belo Horizonte
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos
da Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requesito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Lingüística.
Área de concentração: Lingüística
Linha de pesquisa: D (Estrutura Sonora
da Linguagem)
Orientadora: Profa. Dra. Thaïs Cristófaro
Silva
BELO HORIZONTE
FACULDADE DE LETRAS DA UFMG
Dezembro de 2001
Aos meus pais, Estrelas da Vida Inteira
AGRADECIMENTOS
À Profa. Thaïs Cristófaro Silva por sua dedicada orientação, por me
ensinar a ter seriedade e comprometimento com a pesquisa, por sempre
suscitar em mim o desejo de aprender mais sobre Lingüística.
Aos professores José Olímpio Magalhães e César Augusto Reis que me
despertaram o gosto pela Fonética e pela Fonologia.
Aos Professores Antônio Augusto Farias, César Augusto Reis, Edna Reis,
Eunice Nicolau, José Olímpio Magalhães e Luiz Carlos Rocha, pelos
ensinamentos valiosos em seus cursos.
À Profa. Evelyne Dogliani Madureira, sempre muito solícita, pelas
sugestões e pelo interesse em minha pesquisa.
Ao João Henrique Totaro, pelo competente trabalho estatístico e pelas
discussões bastante frutíferas. Ao Mário Alexandre Garcia, por ter sido
tão prestimoso ao me ajudar na análise acústica.
Aos meus colegas de curso, André Rossi, Candice Navarro, Fábio
Wenceslau, Lúcia Fernanda Barros e Lúcia Valéria Nascimento, pelos
proveitosos momentos de estudo e pela amizade. A minha amiga Luciana,
pelo carinho.
A minha família – mãe, pai, Rudy, Isaac, Carol, Dedé, Mari, Ivana,
Luciano e Léo – pelo amor incondicional e pelo apoio incomensurável.
Ao Wagner, pelo amor, pela compreensão e por ser tão companheiro
sempre.
A CAPES, pela bolsa concedida durante o curso.
Por fim, agradeço em especial aos meus informantes. Sem eles, esta
pesquisa não teria sido realizada.
Tudo é vivo e tudo fala, em redor de
nós, embora com vida e voz que não
são humanas, mas que podemos
aprender a escutar, porque muitas
vezes essa linguagem secreta ajuda a
esclarecer o nosso próprio mistério.
Como aquele Sultão Mamude, que
entendia a fala dos pássaros, podemos
aplicar toda a nossa sensibilidade a
esse aparente vazio de solidão: e
pouco a pouco nos sentiremos
enriquecidos. (...)
Oh! se vos queixais de solidão
humana, prestai atenção, em redor de
vós a essa prestigiosa presença, a essa
copiosa linguagem que de tudo
transborda,
e
que
conversará
convosco interminavelmente.
(Cecília Meireles)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................. 1
1
CARACTERIZAÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICAS DAS
LÍQUIDAS /l/ E //.............................................................................. 3
1.0
Introdução.......................................................................................... 3
1.1
As líquidas /l/ e // em posição intervocálica................................. 3
1.2
Parâmetros articulatórios................................................................. 9
1.3
Parâmetros acústicos....................................................................... 11
1.4
O efeito do cancelamento de líquidas intervocálicas observado
acusticamente................................................................................... 15
1.5
A representação fonológica das líquidas /l/ e //.......................... 17
1.5.1
O comportamento fonológico das líquidas................................ 17
1.5.2
Traços distintivos......................................................................... 19
1.5.3
Teoria de elementos..................................................................... 21
1.6
Conclusão......................................................................................... 22
2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................
2.1
Introdução.........................................................................................
2.2
O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise com foco
em clíticos..........................................................................................
2.2.1
Introdução...................................................................................
2.2.2
O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de
Corrêa..........................................................................................
2.2.3
O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de
Bisol..............................................................................................
2.2.4
Conclusão.....................................................................................
2.3
O cancelamento de líquidas intervocálicas como um reflexo da
estrutura prosódica..........................................................................
2.4
O cancelamento de líquidas intervocálicas como um fenômeno
fonológico..........................................................................................
2.4.1
Lenição........................................................................................
2.4.2
Motivações internas e externas.................................................
2.4.3
Um processo variável.................................................................
2.5
Conclusão..........................................................................................
3
24
24
24
25
25
27
31
32
33
34
37
43
45
METODOLOGIA................................................................................ 47
3.1
Introdução......................................................................................... 47
3.2
População e amostra........................................................................ 49
3.2.1
A capital mineira – Belo Horizonte........................................... 51
3.2.2
A Universidade Federal de Minas Gerais................................. 53
3.3
Coleta de Dados................................................................................ 53
3.4
Seleção de variáveis.......................................................................... 57
3.4.1
Variável dependente.................................................................... 57
3.4.2
Variáveis independentes............................................................. 57
3.4.2.1
Variáveis independentes lingüísticas................................... 57
3.4.2.2
Variáveis independentes extralingüísticas......................... 58
3.5
Levantamento dos dados................................................................. 59
3.6
Conclusão.......................................................................................... 60
4
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.......................................... 61
4.1
Introdução......................................................................................... 61
4.2
Apresentação geral dos dados......................................................... 61
4.3
Variáveis independentes lingüísticas.............................................. 64
4.3.1
Padrão acentual (paroxítono e paroxítono)............................. 68
4.3.2
Posição da líquida em relação ao acento – pretônico ou
postônico..................................................................................... 69
4.3.3
Qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida............ 75
4.3.4
Conclusão.................................................................................... 83
4.4
Variáveis independentes extralingüísticas..................................... 83
4.4.1
Sexo.............................................................................................. 84
4.4.2
Faixa etária (escolaridade)........................................................ 85
4.4.3
Estilo de fala............................................................................... 86
4.4.4
Área acadêmica.......................................................................... 87
4.4.5
Curso acadêmico........................................................................ 89
4.4.6
Indivíduo..................................................................................... 90
4.4.7
Correlações entre variáveis independentes extralingüísticas
e testes estatísticos feitos com o programa estatístico SPSS... 95
4.4.7.1
Teste-F................................................................................... 96
4.4.7.2
Teste de variância................................................................ 97
4.4.7.3
Teste-qui............................................................................... 98
4.4.7.4
Teste de desvio-padrão...................................................... 100
4.4.7.5
Teste de significância......................................................... 101
4.4.7.6
Considerações estatísticas sobre o fator palavra............. 101
5
CONCLUSÃO.................................................................................... 105
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. 107
ANEXOS..................................................................................................... 115
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Espectograma da lateral ápico-alveolar /l/ do Arrernte... 12
FIGURA 2 – Espectogramas da palavra [kao], ‘caro’.......................... 13
FIGURA 3 – Espectogramas das líquidas /l/ e //.................................... 14
FIGURA 4 – Elementos que compõem os segmentos /l/ e //................. 22
FIGURA 5 – Estrutura do léxico proposta pela fonologia lexical
(cf. LEE, 1995: 5)................................................................... 28
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Variantes (1) e (2) envolvidas no fenômeno de
cancelamento de líquidas intervocálicas.............................. 4
TABELA 2 – Fonemas consonantais do português brasileiro em
contexto intervocálico............................................................ 6
TABELA 3 – Graus de abertura dos sons................................................. 10
TABELA 4 – Freqüências dos formantes (em Hz) das laterais do
Arrernte................................................................................ 12
TABELA 5 – Classes naturais apontadas por LADEFOGED (1981: 111)
e CHOMSKY; HALLE (1968).........................…………... 18
TABELA 6 – Traços distintivos atribuídos às classes vogal, consoante,
líquidas e glides.................................................................... 20
TABELA 7 – Elementos apresentados por HARRIS (1990: 12).............. 21
TABELA 8 – Escala de sonoridade............................................................ 38
TABELA 9 – Vocábulos do ganda.............................................................. 39
TABELA 10 – Vocábulos do coreano......................................................... 39
TABELA 11 – Cursos por áreas acadêmicas............................................. 49
TABELA 12 – Distribuição dos informantes em 12 células sociais......... 51
TABELA 13 – As 20 palavras com líquidas intervocálicas utilizadas
na entrevista do tipo nomeação de figuras...................... 55
TABELA 14 – Dados da entrevista do tipo conversa livre....................... 61
TABELA 15 – Dados da entrevista do tipo nomeação de figuras............ 63
TABELA 16 – Dados de todo corpus.......................................................... 63
TABELA 17 – Palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada.... 65
TABELA 18 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras
proparoxítonas................................................................... 70
TABELA 19 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras
paroxítonas......................................................................... 71
TABELA 20 – Vogal anterior à líquida : i................................................ 76
TABELA 21 – Vogal anterior à líquida: e................................................. 76
TABELA 22 – Vogal anterior à líquida: ................................................. 76
TABELA 23 – Vogal anterior à líquida: a................................................. 77
TABELA 24 – Vogal anterior à líquida: ................................................. 77
TABELA 25 – Vogal anterior à líquida: o................................................. 77
TABELA 26 – Vogal anterior à líquida: u................................................. 78
TABELA 27 – Vogais posteriores à líquida............................................... 79
TABELA 28 – Vogal i................................................................................. 80
TABELA 29 – Vogal e................................................................................. 80
TABELA 30 – Vogal ................................................................................. 80
TABELA 31 – Vogal a................................................................................. 81
TABELA 32 – Vogal ................................................................................. 81
TABELA 33 – Vogal o................................................................................. 81
TABELA 34 – Vogal u................................................................................. 82
TABELA 35 – Sexo (entrevista do tipo conversa livre)............................ 84
TABELA 36 – Sexo (entrevista do tipo nomeação de figuras)................. 84
TABELA 37 – Faixa etária (entrevista do tipo conversa livre)............... 85
TABELA 38 – Faixa etária (entrevista do tipo nomeação de
figuras)................................................................................ 86
TABELA 39 – Área acadêmica (entrevista do tipo conversa livre)......... 87
TABELA 40 – Área acadêmica (entrevista do tipo nomeação
de figuras)........................................................................... 88
TABELA 41 – Comparação entre os resultados do fator área acadêmica
para a entrevista do tipo conversa livre e a do tipo
nomeação de figuras.......................................................... 88
TABELA 42 – Curso acadêmico (entrevista do tipo conversa
livre).................................................................................... 89
TABELA 43 – Curso acadêmico (entrevista do tipo nomeação
de figuras).......................................................................... 90
TABELA 44 – Indivíduo (entrevista do tipo conversa livre)................... 91
TABELA 45 – Indivíduo (entrevista do tipo nomeação de figuras)........ 93
TABELA 46 – Cancelamento de líquidas intervocálicas nas entrevistas do
tipo conversa livre e do tipo nomeação de figuras, para
alguns indivíduos................................................................ 94
TABELA 47 – Palavras mais expressivas................................................ 103
TABELA 48 – Correlações entre os itens mais expressivos................... 103
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Teste-F (conversa livre (A) e nomeação de figuras
(B))....................................................................................... 96
GRÁFICO 2 – Teste de variância (conversa livre (A) e nomeação de
figuras (B)) quanto ao não-cancelamento........................ 98
GRÁFICO 3 – Teste-qui (conversa livre (A) e nomeação de figuras
(B)) quanto ao cancelamento............................................ 99
GRÁFICO 4 – Desvios-padrão das percentagens (conversa livre (A) e
nomeação de figuras (B))................................................. 100
GRÁFICO 5 – Significância das percentagens (confiança = 95%) –
conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)............... 101
RESUMO
Este estudo analisa o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português
contemporâneo de Belo Horizonte: eskla > eska, fsforo> fsfo. Argumenta-se
que esse é um fenômeno incipiente. Propõe-se que tal fenômeno se apresenta como um
caso de variação lingüística. Dessa maneira, há uma alternância entre as seguintes formas:
variante (1) em que a líquida é mantida (eskla, fsforo) e variante (2) em que a
líquida é cancelada (eska, fsfo).
Esta dissertação discute duas propostas teóricas principais para a abordagem da
mudança lingüística: o modelo neogramático e o modelo da difusão lexical. Dentro da
perspectiva neogramática, como é o som que regula a mudança sonora, o cancelamento de
líquidas intervocálicas é considerado um processo fonológico. Sendo assim, a seguinte
regra poderia ser predita: o cancelamento das líquidas /l/ e // ocorre, opcionalmente,
quando tais líquidas figuram em contexto intervocálico. Dentro da perspectiva difusionista,
como é a palavra que regula a mudança lingüística, considera-se que o fenômeno em estudo
se aplica nos itens lexicais. Palavras com o mesmo ambiente fonético podem ou não ser
afetadas por uma mudança. Depende da história de cada vocábulo. Contudo, depois de
iniciada a mudança de uma palavra, o contexto fonético pode ser ativado, funcionando
como um estabilizador da mudança (cf. OLIVEIRA, 1992).
Os dados analisados foram obtidos de entrevistas com 24 informantes, nascidos ou
residentes em Belo Horizonte, há pelo menos 20 anos. Os informantes são professores e
alunos da UFMG.
Este trabalho propõe que os fatores indivíduo e curso acadêmico do informante
favorecem a aplicação do fenômeno em estudo. Também a palavra é um fator importante.
Constata-se que a sílaba postônica final é o único fator estrutural que influencia o
cancelamento de líquidas intervocálicas. Esse contexto fonético pode estar sendo o
estabilizador de tal mudança.
INTRODUÇÃO
Objetiva-se, neste trabalho, descrever o fenômeno do cancelamento das líquidas
intervocálicas /l/ e // na fala atual do português de Belo Horizonte. Reconhecemos
que a língua falada, material de nossa pesquisa, é diversa sob o ponto de vista de que se
apresenta em variação e mudança constantemente. Não reina o “caos” em seu
funcionamento. A língua falada funciona porque os falantes, que a utilizam como um
instrumento de convívio social, compartilham de um conhecimento comum em relação às
variações e mudanças.
Há duas perspectivas teóricas principais para a abordagem de fenômenos de
mudança, as quais serão discutidas no presente estudo: o modelo neogramático e o modelo
da difusão lexical. No modelo neogramático, as regras são categóricas e as poucas exceções
são tratadas como casos de empréstimo ou analogia. A mudança sonora é considerada pelos
neogramáticos como foneticamente gradual e lexicalmente abrupta. Assim, para eles, uma
mudança sonora atinge todas as palavras que apresentam o contexto fonético para essa
mudança. As análises históricas do latim como base para o surgimento de línguas
românicas são evidências para o modelo neogramático.
O modelo da difusão lexical, ao contrário do neogramático, postula que a mudança
sonora é foneticamente abrupta e lexicalmente gradual. Cada palavra tem a sua própria
história, ou seja, é a palavra que regula a mudança, A mudança atinge as palavras uma a
uma, podendo ou não chegar a se completar para todo o léxico. Com base nessas idéias,
pretendemos avaliar se o fenômeno em questão é melhor explicado pelo modelo
neogramático ou pelo modelo da difusão lexical.
O cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte
é um fenômeno incipiente. Ele não é recorrente, não se encontra em um estágio avançado
como o fenômeno da palatalização, por exemplo, que ocorre em muitas variedades do
português brasileiro. Segundo a regra de tal fenômeno, o fonema /t/ torna-se [t] toda vez
que ocorre diante de /i/. Não há como prever uma regra fonética deste tipo para o
2
cancelamento de líquidas intervocálicas. Ainda assim, tal fenômeno merece ser estudado, já
que é atestado em pelo menos uma variedade do português.
Esta dissertação foi organizada em cinco capítulos. No primeiro capítulo,
discutimos as líquidas /l/ e // em posição intervocálica, segundo as caracterizações
fonéticas e fonológicas. Nas caracterizações fonéticas, abordamos os parâmetros
articulatórios e acústicos das líquidas intervocálicas e também o efeito acústico do
cancelamento de /l/ e // em posição intervocálica. Nas caracterizações fonológicas,
abordamos o comportamento fonológico de /l/ e // como classe natural, os traços
distintivos de tais líquidas e a teoria de elementos.
No segundo capítulo, fazemos uma revisão bibliográfica relevante ao tratamento do
tema aqui pesquisado. Discutimos três análises possíveis para o fenômeno do cancelamento
das líquidas /l/ e // intervocálicas: análise com foco em clíticos, análise como um reflexo
da estrutura prosódica e análise como um fenômeno fonológico. Ainda neste capítulo,
abordamos o modelo da fonologia lexical (cf. KIPARSKY, 1982a, b; MOHANAN, 1982).
No terceiro capítulo, apresentamos a metodologia adotada em nossa pesquisa que se
fez com base na teoria variacionista. Mostramos os critérios de seleção dos informantes e
dos dados e justificamos os fatores externos e internos abordados no presente estudo.
No quarto capítulo, apresentamos a análise e discussão dos dados, em que se
procedeu à análise quantitativa desses.
Finalmente, no quinto capítulo, concluímos o estudo e buscamos indicar pesquisas
futuras potenciais. Avaliamos também a pertinência dos modelos que tratam da variação
nas línguas naturais.
3
CAPÍTULO 1
CARACTERIZAÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICAS DAS
LÍQUIDAS /l/ e //
1.0. Introdução
Neste capítulo, faremos um estudo sobre as líquidas /l/ e // intervocálicas nas
áreas da fonética e da fonologia. Dentro da fonética, analisaremos os parâmetros
articulatórios e acústicos das líquidas /l/ e // intervocálicas, bem como o efeito do
cancelamento de tais líquidas, observado acusticamente. Discutiremos ainda a
representação fonológica de /l/ e //, segundo as três abordagens apresentadas em (1):
(1) a. Classe natural
b. Traços distintivos
c. Teoria de elementos
1.1. As líquidas /l/ e // em posição intervocálica
Os estudos lingüísticos (a lingüística histórica especialmente) já comprovavam o
caráter dinâmico da língua, antes de a lingüística ser reconhecida como ciência no início do
século passado (cf. FARACO, 1991). Além de se saber que as línguas mudam com o passar
do tempo, observou-se que elas são heterogêneas, mesmo em uma análise sincrônica. Essa
é uma noção contrária à idéia de homogeneidade em um “estado de língua”, proposta por
SAUSSURE (1916), no Curso de lingüística geral. TARALLO (1990) diz que há uma
“heterogeneidade sistemática” nas línguas, seja em qual for o recorte, diacrônico ou
sincrônico. Ele afirma que só é possível entender a estrutura e o funcionamento das línguas
levando-se em consideração essa idéia de heterogeneidade.
4
Tendo em vista tal noção, apresentamos neste trabalho um fenômeno que
assumimos representar um caso de variação lingüística. Esta pesquisa discute o
cancelamento das líquidas intervocálicas /l/ e // no português contemporâneo de Belo
Horizonte.
O cancelamento de líquidas intervocálicas é opcional em princípio. Duas variantes
concorrem para essa variável: a variante (1) em que a líquida é mantida e a variante (2) em
que a líquida é cancelada. Como exemplos que ilustram esse fenômeno tem-se:
TABELA 1 – Variantes (1) e (2) envolvidas no fenômeno de cancelamento de
líquidas intervocálicas
Variante (1)
l
escola
eskla
televisão televiza
Variante (2)

l
para
paa
fósforo
fsfoo televisão
escola
eska

para
teviza fósforo
pa
fosfo
A tabela acima apresenta exemplos da variante (1), em que a líquida é mantida, e da
variante (2), em que a líquida é cancelada, para as duas líquidas intervocálicas /l/ e //. A
forma ortográfica das palavras aparece em itálico, na tabela. A forma fonética de cada uma
dessas palavras aparece do lado direito de sua respectiva forma ortográfica. Além da perda
de uma das duas consoantes líquidas /l/ ou // em cada uma das quatro palavras
apresentadas, há também, em três delas, a perda de uma sílaba, como (2) demonstra:
(2) a. televiza Æ teviza
b. paa Æ pa
c. fsfoo Æ fsfo
5
Somente uma palavra, na tabela 1, perde apenas a consoante líquida, nesse caso, a
lateral alveolar ou dental /l/: eskla Æ eska. Podemos perceber que os casos
apontados em (2) apresentam líquidas que estão entre vogais iguais. Podemos supor, para
os casos de (2), a aplicação do Princípio do contorno obrigatório (PCO). Segundo o PCO,
seqüências adjacentes de unidades idênticas são proibidas nas representações fonológicas
(cf. CRISTÓFARO-SILVA, 1999b: 208; HARRIS, 1994: 172). Assim, o que há nos casos
de (2) é a fusão de segmentos idênticos – ou seja, de duas vogais idênticas – o que resulta
na redução de uma sílaba. Por exemplo, em televiza, a líquida [l] está entre duas
vogais idênticas (ee) que, após o cancelamento de tal líquida, são reduzidas a uma única
vogal (e): teviza.
Além do contexto intervocálico, as líquidas /l/ e // podem ocorrer no português
brasileiro, em final de sílaba – sal, salto, mar, porta Æ[sal, salto, ma, pota]– e em
encontro consonantal tautossilábico – plano, prato, exemplo, livro Æ [plano, pato,
ezeplo, livo]. A variação das líquidas no contexto de final de sílaba foi estudada por
OLIVEIRA (1983, 1997). CALLOU; MORAES; LEITE (1996) estudaram a variação
sonora relacionada ao arquifonema /R/, estando incluído nessa análise o tepe // em fim de
sílaba. A variação sonora das líquidas /l/ e // em encontro consonantal é discutida em
CRISTÓFARO-SILVA (2000a, 2000b) e FREITAS (2000). Estes dois últimos trabalhos
sugerem que o cancelamento das líquidas /l/ e // é opcional em encontros consonantais
tautossilábicos.
O comportamento das líquidas em contexto intervocálico foi investigado por
CRISTÓFARO-SILVA (1999a) e CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No
prelo). Tais trabalhos apontam que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas é
opcional no português de Belo Horizonte contemporâneo. No entanto, fatores internos e
externos não foram avaliados nestes dois estudos. Não houve também um tratamento
estatístico na investigação do fenômeno. Dessa maneira, a pesquisa apresentada nesta
Dissertação de Mestrado pretende preencher essas lacunas.
6
No português brasileiro, são 19 os fonemas consonantais e todos eles ocorrem em
contexto intervocálico, como se pode verificar na tabela 2 abaixo:
TABELA 2 – Fonemas consonantais do português brasileiro em contexto
intervocálico
Fonemas consonantais
1- p
2- b
3- t
4- d
5- k
6- 
7- f
8- v
9- s
10- z
11- 
12- 
13- h
14- m
15- n
16- 
17- 
18- l
19- 
Exemplo ortográfico
capa
cabo
gata
cada
maca
mago
café
nova
caça
casa
cocho
cajá
carro
dama
lona
manha
vara
tala
calha
Transcrição fonética
kapa
kabo
ata
kada
maka
mao
kaf
nva
kasa
kaza
koo
kaa
kaho
dama
lona
maa
vaa
tala
kaa
A tabela 2 apresenta, na primeira coluna, as 19 consoantes do português brasileiro.
Na segunda coluna, são apresentadas, na forma ortográfica, palavras que contêm, cada uma,
1 das 19 consoantes do português brasileiro em posição intervocálica. Na terceira coluna,
essas mesmas palavras aparecem transcritas foneticamente.
O presente trabalho estuda o cancelamento das líquidas /l/ (lateral alveolar ou
dental) e // (tepe ou vibrante simples) intervocálicas (cf. números 17 e 18 destacados na
7
tabela acima) no português de Belo Horizonte atual 1. Em nossa língua, os fonemas
consonantais líquidos são /l/, // e //. A líquida // intervocálica não foi considerada
nesta pesquisa. Essa lateral palatal2 foi analisada por MADUREIRA (1987) que estudou a
sua vocalização no português, um caso de lenição.
O fenômeno da vocalização da lateral palatal é, segundo Madureira, um caso de
variação lingüística. Observa-se que ele ocorre, regularmente, na fala de pessoas de um
grupo social menos favorecido, com baixa escolaridade. Exemplos são ilustrados em (3):
(3) a. olho Æoo> oyo
b. calha Ækaa> kaya
c. filho Æfio> fiyo
De acordo com MADUREIRA (1987), na fala de pessoas de um grupo social mais
favorecido, com maior escolaridade, não se observa a aplicação do fenômeno da
vocalização da lateral palatal. MADUREIRA (1997, 1999) ressalta, contudo, que a
vocalização da lateral palatal ocorre na fala destas pessoas de maior escolaridade também,
no entanto, em apenas alguns poucos itens que são apresentados em (4):
(4) a. velho Æ vo> vyo
b. trabalho Æ tabao> tabayo
c. palha Æ paa> paya
d. orelha Æ oea> oeya
e. mulher Æ muh> muy
1
Em nosso corpus, observamos o cancelamento da nasal /m/ em palavras como, uma, alguma,
respectivamente: uma> ua; awguma> awgua. Contudo, essa observação foi feita de maneira
assistemática, por isso não trabalharemos com esse caso de cancelamento no presente estudo. SILVEIRA
(1971:8) aponta para esse fenômeno quando afirma: “Antigamente dizia-se algua e ua...”
2
O segmento // ocorre somente em contexto intervocálico no português, como nos mostram os seguintes
exemplos: bolha Æ/boa/, milho Æ/mio/, ovelha Æ/ovea/, etc. Há um único caso em que o //
ocorre em início de palavra: lhama Æ/ama/. Contudo, esse é um caso de empréstimo.
8
Para Madureira, a vocalização nessas palavras ocorre em função de uma
especificidade de sentido, pela conotação afetiva desses vocábulos. Neste caso da fala de
pessoas com maior escolaridade, o fato de a vocalização não ser regulada foneticamente, ou
seja, // não é vocalizado em todo ambiente intervocálico, faz Madureira optar por uma
análise segundo o modelo da difusão lexical. Nesse modelo, a mudança é regulada pela
palavra. Discutiremos mais amplamente a teoria da difusão lexical no terceiro capítulo.
Um primeiro estudo a ser mencionado aqui, o qual aponta para o cancelamento das
líquidas /l/ e // intervocálicas no português brasileiro, é AMARAL, M. (1999). Amaral
analisa o fenômeno da síncope em palavras proparoxítonas do português. Nestes sete
exemplos de AMARAL, M. (1999: 216-217), observamos o cancelamento das líquidas /l/
e // intervocálicas, como ilustrado em (5):
(5) a. árvore > [arvi]
b. abóbora > [abba]
c. úlcera > [ursa]
d. triângulo > [triau]
e. víspora > [vispa] ~ [vispu]
f. fósforo > [fsu] ~ [sfi]
g. pílula > [pila]
AMARAL, M. (1999: 15-16) cita três trabalhos que apresentam, entre outros, casos
de cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas também3. Estes estudos são
mencionados a seguir. O primeiro destes trabalhos é AMARAL, A. (1955: 53). Em O
Dialeto Caipira, este autor apresenta um caso de cancelamento da líquida /l/ intervocálica:
ridículo> ridico. O segundo trabalho é O linguajar carioca em 1922, de Antenor Nacentes,
em que o autor apresenta os seguintes exemplos de cancelamento com a líquida
intervocálica //: árvore> arve; mármore> marme; pólvora> porva.
3
Como AMARAL, M. (1999) estuda a síncope em palavras proparoxítonas, todos os exemplos apontados por
tal autora são de palavras proparoxítonas.
9
O terceiro trabalho mencionado por AMARAL, M. (1999: 15) é MARROQUIM
(1934). Marroquim apresenta um exemplo em que há cancelamento da líquida //
intervocálica: pássaro> passo.
Como podemos notar, todos os casos, apresentados acima, de cancelamento de /l/ e
// intervocálicos em palavras proparoxítonas se dão em sílaba postônica final. Portanto,
consideramos que o fator estrutural tipo de sílaba deve ser investigado na presente pesquisa.
Devemos confirmar ou não se o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, pelo
menos em palavras proparoxítonas, ocorre em sílaba postônica final. Além da posição da
líquida em relação ao acento (pretônico ou postônico), investigaremos também, como
fatores estruturais que podem influenciar o fenômeno estudado, o padrão acentual
(proparoxítono e paroxítono) e a qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida.
1.2. Parâmetros articulatórios
Segundo CRYSTAL (1988: 164), líquido “é o termo utilizado por alguns
foneticistas na classificação dos sons da fala, referindo-se a todos os sons ápico-alveolares
dos tipos /l/ e //”. CRYSTAL (1987: 166) diz que a maior parte das línguas naturais tem
pelo menos uma líquida e que 72% das línguas têm mais de uma líquida. Nesta última obra,
o autor diz que os segmentos /l/ são mais recorrentes que os segmentos // nas línguas
naturais.
As líquidas são chamadas de vocóides silábicos por LAVER (1994: 270) quando
funcionam como centro da sílaba, o que não ocorre em português. Em nossa língua, as
líquidas funcionam como margem da sílaba, ou seja, as líquidas precedem e seguem o
núcleo da sílaba. Na seção 1.5.1, discutiremos o fato de as líquidas se assemelharem com as
consoantes.
As líquidas estudadas nesta pesquisa são o tepe // e a lateral alveolar /l/.
CRYSTAL (1987: 157) define essas duas líquidas em termos articulatórios. Segundo esse
autor, o tepe é produzido com uma única batida do articulador ativo (ápice da língua) contra
o articulador passivo (alvéolos). A lateral é definida por Crystal como um segmento
10
produzido com o fechamento parcial em um ponto da boca (alvéolos), de modo que a
corrente de ar escape pelos lados desse fechamento. ABERCROMBIE (1967: 145),
LAVER (1994: 142, 144), PIKE (1943: 124-125) e TRASK (1996: 198, 350) apresentam
conceituações muito semelhantes as de Crystal para as líquidas /l/ e //.
Seguindo CRYSTAL (1987, 1988), NETTO (2001: 49) diz que o termo líquida
abrange três tipos articulatórios, apresentados em (6):
(6) a. lateral
b. tepe ou vibrante simples
c. “trill” ou vibrante múltipla
Nesta pesquisa, iremos nos restringir à lateral /l/ e ao tepe //, como já foi dito
anteriormente. LASS (1984) apresenta classes mais “largas” em que as líquidas tradicionais
são agrupadas com os glides. As líquidas, juntamente com os glides, são também chamadas
de aproximantes. CLARK; YALLOP (1995: 47) definem uma aproximante como “uma
articulação potencialmente estável em que a constrição é normalmente maior do que a da
vogal, mas não tão grande o bastante para produzir turbulência no ponto de constrição”.
Clark e Yallop dizem que: “seguindo Ladefoged, o termo [aproximante] abrange as
categorias tradicionais de ‘contínuo não-fricativo’, ‘semivogal’ e ‘soante’”. Essas
categorias identificam as líquidas (contínuo não-fricativo, soante) e os glides (semivogais).
O grau de abertura ou aproximação, distância que se estabelece entre os
articuladores passivo e ativo, é um importante caracterizador da articulação de sons. O grau
de abertura é discutido por NETTO (2001: 48-53). Tal autor propõe um esquema que
demonstra os graus de abertura dos sons. A tabela 3 apresenta um esquema baseado em
NETTO (2001: 50):
TABELA 3 – Graus de abertura dos sons
Graus de abertura
consoantes
vogais
0
1
2
3
4-6
oclusivas
fricativas
nasais
líquidas
vibrante
glides
vogais
obstruintes
soantes
aproximantes
11
Na primeira coluna da tabela 3, há uma divisão entre consoantes e vogais. O grau de
abertura para cada tipo de som da terceira coluna (oclusivas, fricativas, nasais, líquidas,
vibrante, glides e vogais) é apresentado na segunda coluna. O grau de abertura varia de 0 a
6 para cada tipo de som. Quanto maior o grau, maior é a distância entre os articuladores
ativo e passivo na produção do som. Na quarta coluna, há uma outra classificação para os
tipos de consoantes em obstruintes, soantes e aproximantes. Como se pode ver, o grau de
abertura das líquidas (juntamente com os glides) só é menor que o grau de abertura das
vogais. Esse fato aponta para a similaridade articulatória que há entre vogais e consoantes
líquidas. A tabela 3 também mostra que as líquidas, juntamente com os glides, são
classificadas como aproximantes por esse autor.
Os parâmetros articulatórios das líquidas, evidenciados acima, apontam para o fato
de que /l/ e // se comportam como classe natural. Na seção 1.5.1, discutiremos mais
amplamente tal fato. Na próxima seção, abordaremos os parâmetros acústicos das líquidas
/l/ e // intervocálicas. Na seção 1.4, apresentaremos, o efeito do cancelamento das
líquidas /l/ e // observado acusticamente e, assim, terminaremos a caracterização fonética
de tais consoantes líquidas.
1.3 . Parâmetros acústicos
Nesta seção, faremos a caracterização acústica das líquidas /l/ e // intervocálicas.
Tal caracterização servirá para mostrar a semelhança acústica que há entre essas duas
consoantes. Comecemos pelas propriedades acústicas da lateral /l/.
A lateral é caracterizada acusticamente por formantes bem-definidos. De acordo
com LADEFOGED (1996: 193), o primeiro formante é tipicamente de baixa freqüência. O
segundo formante pode ter uma freqüência central com larga extensão, dependendo do
local da oclusão e da postura da língua. O terceiro formante tem geralmente uma aplitude
relativamente forte, como também uma freqüência alta. Se a lateral /l/ é adjacente a vogais,
uma mudança abrupta na localização dos formantes pode ser observada em ambas, quando
o fechamento médio para a lateral é formado e então realizado. Já as laterais laminais e
dorsais, quando adjacentes a vogais, apresentam transições mais lentas nos formantes. A
12
tabela 4 abaixo apresenta as freqüências dos formantes de laterais do Arrernte, segundo
LADEFOGED (1996: 194):
TABELA 4 – Freqüências dos formantes (em Hz) das laterais do Arrernte
n
F1
F2
F3
F3-F4
1. Lateral lamino-dental
40
391
1811
2891
1080
2. Lateral ápico-alveolar
75
386
1677
3162
1481
3. Lateral ápico-pós-alveolar
37
368
2132
3278
1146
4. Lateral lamino-pós-alveolar
34
376
2324
3096
772
5. Lateral palatalizada retroflexa
26
415
2282
3290
1008
A primeira coluna da tabela 4 apresenta os tipos de laterais do Arrernte. Na segunda
coluna, é apresentado o número da amostra para cada tipo de lateral. Nas outras colunas,
são apresentados os formantes desses tipos de laterais. Nesta tabela 4, interessam-nos os
números relacionados à lateral ápico-alveolar /l/, objeto de nossa pesquisa (cf. número 3 na
tabela 4). Esses números podem ser confirmados no espectograma retirado de
LADEFOGED (1996: 195), apresentado na figura 1 abaixo:
FIGURA 1 – Espectograma da lateral ápico-alveolar /l/ do Arrernte
13
LADEFOGED (1996: 231) também apresenta dois espectogramas do tepe //. Tais
espectogramas mostram a palavra espanhola [kao], ‘caro’, o que vemos na figura 2
abaixo:
FIGURA 2 – Espectogramas da palavra [kao], ‘caro’
Os espectogramas da palavra [kao], ‘caro’, acima, mostram a produção do tepe
por uma falante feminina do espanhol peninsular (espectograma à direita) e por um falante
masculino do espanhol do Peru (espectograma à esquerda). No espectograma à esquerda, há
uma elevação no segundo formante, quando o tepe é formado. Essa elevação não ocorre
com o tepe do espectograma à direita. Isso mostra que o lugar de articulação difere nessas
duas produções do tepe
RUSSO; BEHLAU (1993:46), fazendo a análise acústica do português brasileiro,
abordam as características acústicas das consoantes líquidas separadamente das outras
consoantes. Isso aponta para o fato de que tais líquidas possuem propriedades acústicas
semelhantes.
As autoras afirmam que, no caso dos sons laterais, a primeira região de ressonância
é determinada pelo volume da área posterior à zona articulatória. O trato vocal para /l/ é
14
mais longo e a primeira ressonância ocorre em torno de 350 Hz, a segunda, por volta de
800 Hz e a terceira, em torno de 1.500 Hz.
Quanto ao tepe //, RUSSO; BEHLAU (1993: 46) apontam que o trato vocal é mais
curto e, por isso, as ressonâncias são mais agudas que para /l/. O tepe apresenta como
primeira ressonância 550 Hz, como segunda, 1.100 Hz e como terceira, 1.800Hz. Segundo
Russo & Behlau, a duração da oclusão de // é, no mínimo, quatro vezes menor que a de
/l/. Este é um importante parâmetro acústico que diferencia essas duas líquidas. RUSSO;
BEHLAU (1993: 47) apresentam espectogramas em barras de /l/ e // em sílabas, o que
pode ser visto na figura 3 abaixo:
FIGURA 3 – Espectogramas das líquidas /l/ e //
15
Na figura 3, o espectograma à direita apresenta a lateral /l/. O espectograma à
esquerda apresenta o tepe //. Em tais espectogramas, há setas indicativas dos tempos de
duração das duas consoantes líquidas e os efeitos da coarticulação subseqüente, nos dois
casos, a vogal /a/.
1.4. O efeito do cancelamento de líquidas intervocálicas observado
acusticamente
É importante ressaltar que, auditivamente, não é possível identificar nenhum traço
que aponte para o fato de que uma líquida foi cancelada em posição intervocálica.
Decidimos, então, investigar o registro acústico. Em pesquisa no Laboratório de Fonética
da Faculdade de Letras da UFMG, pesquisamos, acusticamente, o efeito do cancelamento
das líquidas /l/ e // intervocálicas. A investigação foi realizada no programa Macquaire.
Tínhamos previamente investigado na literatura o correlato acústico das líquidas /l/
e // (cf. seção 1.3). Sendo assim, consideramos algumas palavras em que a líquida
intervocálica foi cancelada, pois já sabíamos o que observar no sinal como correlato das
líquidas. Estas palavras foram agrupadas em:
Grupo 1:
a.
b.
/l/
//
Grupo 2:
a.
b.
cancelamento ocasionou hiato (escolaÆ eskla > eska)
cancelamento ocasionou formação de ditongo (moleÆ mle >
me)
c.
cancelamento
ocasionou
fusão
de
(televisãoÆteleviza Æ teviza)
duas
vogais
Nos espectogramas de palavras em que o tepe foi cancelado, não foi possível
identificar qualquer traço que fornecesse evidência de que o tepe estivesse presente naquela
palavra. O tepe é facilmente identificado acusticamente, pois ocorre um corte no
espectograma (cf. figura 2). Contudo, no local esperado para se observar o tepe, nenhum
16
traço residual foi observado. Onde deveria aparecer o tepe (ou o seu resquício) aparecem
duas vogais em seqüência. Tais vogais seriam aquelas que eram adjacentes ao tepe antes do
seu cancelamento. Por exemplo, ao ocorrer o cancelamento do tepe na palavra ara
(variante(1)), no espectograma, aparecem as vogais // e /a/ em seqüência: aa (variante
(2)). Este caso expressa o tepe adjacente às vogais que ficaram em hiato. Nos casos em que
a formação de ditongo ocorre (moleÆ mle > me) ou em que uma vogal funde-se a
outra (televisãoÆteleviza Æ teviza) , também não foi possível identificar
traços residuais do tepe.
Com relação à lateral, é importante dizer que suas características acústicas mesclamse com as das vogais adjacentes. Sendo assim, diferentemente do tepe, não há uma marca
específica no sinal para se proceder à investigação. Em alguns casos, suspeitamos de um
traço residual. Contudo, este traço não foi recorrente em todos os dados e, além do mais, o
material não nos permitiu afirmar que, de fato, o que se observou no sinal era um traço
residual da lateral. Vale apontar ainda que nos casos em que o cancelamento do /l/ implica
a formação de hiato, o traço residual foi potencialmente formulado. Nos casos de formação
de ditongos e de fusão de vogais, não ocorre traço que nos permita avançar nas
investigações.
Uma conclusão parcial, que podemos fornecer no estágio atual da pesquisa, é que os
indícios encontrados para demonstrar a presença da líquida ou de um traço residual são
opacos nos casos em que ocorre o cancelamento. Considerando-se que a investigação
detalhada de traços da líquida (ou de algum resíduo relacionado ao cancelamento da
líquida) nos desviaria dos propósitos desta Dissertação, optamos por não aprofundar mais a
investigação deste aspecto. Reconhecemos que uma investigação sólida sobre este tópico
pode contribuir para a discussão dicotômica das perspectivas neogramática e difusionista.
Afinal, enquanto a presença de resíduo para as líquidas poderia apontar que a mudança
sonora é foneticamente gradual (perspectiva neogramática), a não-presença de resíduo para
as líquidas poderia apontar que a mudança sonora é foneticamente abrupta (perspectiva
difusionista). Contudo, tal trabalho deve ser empreendido com seriedade e idealmente
considerar casos de lenição de líquidas em outras línguas naturais. Este é certamente um
tópico importante a ser investigado em trabalhos futuros.
17
1.5. A representação fonológica das líquidas /l/ e //
Devemos levar em conta o fato de que o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/
e // intervocálicas envolve dois segmentos que são muito semelhantes fonética e
fonologicamente. A fim de continuarmos demonstrando tal semelhança, iremos agora
abordar a representação fonológica das líquidas /l/ e // segundo a noção de classe natural
(seção 1.5.1), segundo a teoria de traços distintivos (seção 1.5.2) e a teoria de elementos
(seção 1.5.3).
1.5.1. O comportamento fonológico das líquidas
Fonologicamente, em português, as líquidas ocupam a posição de margem na sílaba
como as consoantes. As margens de uma sílaba são preenchidas por segmentos que
precedem e/ou seguem o núcleo da sílaba (que é tipicamente preenchido por uma vogal). É
o que ocorre, por exemplo, na palavra [le], em que [l] e [] ocupam posição de margens
da sílaba e a vogal [e] ocupa o núcleo da sílaba.
Ainda quanto ao comportamento fonológico das líquidas /l/ e //, é preciso
considerar que elas, tradicionalmente, formam uma classe natural. LADEFOGED (1981:
111) apresenta um esquema que especifica o maior número de classes naturais de acordo
com dois sistemas: o de LADEFOGED (1981) e o de CHOMSKY; HALLE (1968). As
classes naturais apresentadas pelos dois sistemas podem ser conferidas na tabela 54 abaixo:
4
No interior da tabela 5, os espaços marcados com os sinais (+) e (-) se referem aos traços relevantes para
identificar as classes naturais em questão. Os espaços em branco não são relevantes para a caracterização de
tais classes naturais.
18
TABELA 5 – Classes naturais apontadas por LADEFOGED (1981:
2. Consoantes
+
-
3. Vogais
-
+
+
4. Plosivas e fricativas
+
-
-
-
+
-
+
-
+
-
5. Nasais, líquidas e glides
6. Nasais e líquidas
+
7. Líquidas e glides
nasal
-
soante
1. Vogais e glides
silábico
Classes naturais
consonatal
111) e CHOMSKY; HALLE (1968)
+
-
8. Consoantes nasais
+
-
+
+
9. Líquidas
+
-
+
-
10. Glides
-
-
+
-
Na primeira coluna da tabela, são apresentadas as classes naturais que apresentam
os valores [+] ou [–] para os traços especificados nas outras três colunas. Como se pode
conferir na tabela, Ladefoged e Chomsky e Halle apontam as líquidas como sendo uma
classe natural. Deve-se dizer que, no português brasileiro, a classe natural das líquidas é
formada não só pela lateral alveolar ou dental /l/ e pela vibrante simples ou tepe //, mas
também pela lateral palatal // e pela vibrante múltipla [r]. É o traço [+ – anterior] que irá
diferenciar /l/ e //, líquidas aqui focalizadas, de // e [r], líquidas não abordadas nesta
pesquisa. As líquidas /l/ e // são [+anterior], enquanto que as líquidas // e [r] são [–
anterior].
LADEFOGED (1996: 182) diz que as líquidas formam uma classe natural. Segundo
Ladefoged, na fonotática das línguas, por exemplo, em encontro consonantal, os segmentos
líquidos são os que ocorrem mais freqüentemente. Em português, os encontros
consonantais tautussilábicos – encontro de consoantes na mesma sílaba – se fazem com
19
uma obstruinte (p, b, t, d, k, , f, v) seguida de uma líquida, no caso, /l/ ou // (cf.
CRISTÓFARO-SILVA, 2000a). Este aspecto de as líquidas formarem uma classe natural
será explorado posteriormente (cf. seção 2.4.2).
1.5.2. Traços distintivos
Os fonemas – ‘sons que apresentam uma relação de oposição entre si’ (cf.
CAGLIARI, 1997:12) – eram considerados a unidade mínima de análise no estruturalismo.
Um dos principais exemplos de estudo estruturalista em que o fonema é visto como unidade
mínima de análise é PIKE (1947). Essa proposta de caráter funcional ganhou o nome de
fonêmica no estruturalismo.
Uma outra proposta teórica estruturalista importantíssima foi o Círculo Lingüístico
de Praga. Na área da fonologia, os trabalhos de maior destaque são TRUBETZKOY (1939)
e JAKOBSON (1967). O Círculo Lingüístico de Praga propõe que os fonemas não são a
unidade mínima de análise. Os fonemas seriam constituídos de partes menores, traços
distintivos, e estas partes é que seriam a unidade mínima de análise. Assim, o fonema é
entendido como sendo constituído de um feixe de traços distintivos (cf. JAKOBSON;
FANT; HALLE, 1951). Os traços distintivos seriam propriedades atribuídas aos segmentos
ou fonemas.
JAKOBSON; FANT; HALLE (1951) propõem um primeiro inventário de traços
distintivos. CHOMSKY; HALLE (1968) propõem um segundo inventário de traços
distintivos que é hoje o mais conhecido. Embora tenha sido concebida no estruturalismo,
essa proposta de traços distintivos foi assumida pela fonologia gerativa padrão.
CALLOU; LEITE (1990: 65) afirmam que os traços [vocálico] e [consonantal] –
traços inerentes de sonoridade – caracterizam quatro grandes classes de sons: as
consoantes, as vogais, as líquidas e os glides. Callou e Leite apresentam o seguinte
esquema, demonstrado na tabela 6, que atribui os valores [+] ou [–] para os dois traços nas
quatro classes citadas:
20
TABELA 6 – Traços distintivos atribuídos às classes vogal, consoante,
líquidas e glides
VOGAL
CONSOANTE
LÍQUIDAS
GLIDES
CONSONANTAL
-
+
+
-
VOCÁLICO
+
-
+
-
Os traços [consonantal] e [vocálico] são apresentados na primeira coluna. Nas
outras colunas, são apresentadas as quatro classes – vogal, consoante, líquidas e glides –
com os valores [+] ou [–] para cada um dos dois traços citados. Por esse esquema de Callou
e Leite, percebemos que as líquidas apresentam valor positivo para os dois traços:
[+consonantal] e [+vocálico]. Isso se deve ao fato de a classe das líquidas apresentar tanto
características de vogal (traço [+vocálico]) quanto de consoante (traço [+consonantal]). É
somente o traço [lateral] que diferencia /l/ e //. Os conjuntos de traços distintivos das
líquidas /l/ e // são apresentados em (8), abaixo:
(8) Conjuntos de traços distintivos de /l/ e //
/l/
+soante
+contínuo
+anterior
+coronal
+sonoro
-nasal
+lateral
//
+soante
+contínuo
+anterior
+coronal
+sonoro
-nasal
-lateral
Notamos que o único traço que diferencia as líquidas /l/ e // é o traço [lateral].
Este traço tem valor positivo para /l/ e valor negativo para //. Todos os outros traços
apresentam valores idênticos para as duas líquidas. Além do traço [lateral], ambas as
líquidas são: [+soante], [+contínuo], [+anterior], [+coronal], [+sonora], [–nasal].
21
1.5.3. Teoria de elementos
A teoria de traços distintivos caracteriza os segmentos por propriedades individuais
que podem ter valor negativo ou positivo. Uma outra proposta de representação segmental é
a teoria de elementos.
De acordo com a teoria de elementos, um segmento é composto de um elemento ou
de uma combinação de elementos. Os elementos são considerados como unidades
independentes. Nesta teoria, são adotados os valores positivo (+), negativo (–) e neutro (o)
para determinar propriedades dos segmentos. Os segmentos marcados com valor positivo
são associados a uma posição nuclear (núcleo). Os segmentos marcados com valor negativo
são associados a uma posição não-nuclear (onset ou coda). E os segmentos marcados com
valor neutro são associados ou a uma posição nuclear, ou a uma posição não-nuclear.
As cavidades de ressonância (cavidade oral, cavidade nasal e cavidade faríngea)
caracterizam os elementos. HARRIS (1990: 12), discutindo o fenômeno da lenição
consonantal no inglês, apresenta alguns elementos que são mostrados na tabela 7:
TABELA 7 – Elementos apresentados por HARRIS (1990: 12)
Propriedade saliente
Propriedades não-marcadas
Lugar
Uo
labial
aproximante, alto, baixo,...
Io
palatal
não-labial, alto, aproximante,...
Vo
nenhuma
não-labial, baixo, alto, aproximante,...
Ro
coronal
Tepe,...
o
não contínuo
glotal,...
ho
obstruinte
glotal,...
N+
nasal
não-labial, aproximante,...
Maneira
Fonte
H-
cordas vogais tensas
L-
cordas vogais frouxas
22
A tabela 7 apresenta os elementos apontados por Harris em sua análise sobre a
lenição de /t/ que se realiza como o tepe [] em contexto intervocálico. Na primeira coluna
da tabela 7, são apresentados os elementos. Na segunda coluna, é apresentada a propriedade
saliente de cada elemento. Na terceira coluna, são apresentadas as propriedades nãomarcadas dos elementos. Seguindo Harris, podemos caracterizar os segmentos /l/ e //, na
figura 4, como:
l

x
x
o
Ro
Ro
FIGURA 4 – Elementos que compõem os segmentos /l/ e //
Os segmentos estudados na presente pesquisa são as consoantes líquidas /l/ e //.
Ao compararmos a representação de Harris para o tepe // e para a lateral /l/, na figura 4,
percebemos que existe uma semelhança entre esses dois segmentos em termos de
o
o
elementos. Ambos /l/ e // apresentam o elemento R em sua composição. O elemento R
expressa a coronalidade.
Por essa análise das líquidas /l/ e // intervocálicas segundo a teoria de elementos,
percebemos novamente que tais líquidas formam uma classe natural. Isto porque as
o
representações segmentais de /l/ e // apresentam o elemento R . No próximo capítulo,
apresentaremos mais evidências que nos permitem assumir que /l/ e // formam uma
classe natural.
1.6. Conclusão
23
A fim de discutirmos o termo “líquida”, empregado para definir as consoantes /l/ e
//, abordamos, inicialmente, os aspectos articulatórios de tais segmentos. Constatamos
então que as consoantes líquidas recebem esse nome, em especial, porque
articulatoriamente se assemelham às vogais. É isso que diferencia as líquidas das demais
consoantes. Ainda, dentro das características fonéticas, vimos os parâmetros acústicos que
definem essas duas líquidas.
Uma caracterização de /l/ e // dentro da fonologia foi apresentada. Primeiramente,
demonstramos que essas líquidas, em português, se assemelham às consoantes, porque,
assim como estas últimas, as líquidas funcionam como margem da sílaba. É nesse ponto
que as líquidas se afastam das vogais, que funcionam como centro da sílaba. Depois, vimos
que /l/ e // formam uma classe natural, motivo pelo qual se faz necessário abordar essas
duas consoantes em conjunto, no presente trabalho. Em seguida, apresentamos os traços
distintivos de /l/ e // e então constatamos que é somente o traço [lateral] que diferencia
tais consoantes líquidas: /l/ recebe o traço [+lateral], e // recebe o traço [–lateral]. Por
fim, abordamos semelhança entre essas duas líquidas dentro da teoria de elementos.
Toda a caracterização das líquidas /l/ e //, feita neste capítulo, aponta para o fato
de que tais consoantes apresentam muitas semelhanças em termos fonético e fonológico.
Portanto, justifica-se abordar tanto /l/ como // no fenômeno do cancelamento de
consoantes líquidas intervocálicas, no português de Belo Horizonte atual.
24
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Introdução
Neste capítulo, discutiremos orientações teóricas possíveis para o nosso estudo. A
fim de analisarmos o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas,
apresentamos três abordagens possíveis. A primeira abordagem seria considerar a variante
(2) do fenômeno em estudo (forma que tem a líquida cancelada) como um clítico. Para
tanto, apresentaremos dois trabalhos que nortearão a nossa discussão sobre o fenômeno da
cliticização: CORRÊA (1998) e BISOL (2000).
Na segunda abordagem, o cancelamento de líquidas intervocálicas seria analisado
como um reflexo da estrutura prosódica. A fim de discutirmos a influência da prosódia no
fenômeno aqui pesquisado, apresentaremos um estudo que aborda a relevância da estrutura
prosódica na língua italiana (CUTUGNO; SAVY, 1999).
A terceira e última abordagem seria analisar o cancelamento das liquidas /l/ e //
intervocálicas como um fenômeno fonológico. Sendo um fenômeno sonoro opcional, temos
um caso de variação. A variação e a mudança podem ser abordadas pela visão
neogramática ou pela visão difusionista. Estas duas perspectivas serão tratadas
posteriormente. A seguir, discutimos cada uma das três abordagens para o cancelamento
das líquidas /l/ e // intervocálicas: 1) fenômeno de cliticização; 2) fenômeno prosódico;
3) fenômeno fonológico.
2.2. O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise com foco
em clíticos
25
2.2.1. Introdução
O interesse em estudar o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas com
foco em clíticos advém da relevância de se discutir dois trabalhos que podem contribuir
para o estudo do fenômeno aqui focalizado: CORRÊA (1998) e BISOL (2000). Em sua
pesquisa, Corrêa apresenta formas pronominais de 3a pessoa que têm a líquida /l/
intervocálica cancelada. Por exemplo, de acordo com Corrêa, as formas plenas [eles] e
[la] transformam-se nas formas reduzidas [es] e [a], respectivamente. Esse autor
argumenta que tais formas reduzidas são clíticas. Já Bisol faz uma relação entre a sintaxe e
a fonologia, discutindo o status do clítico no componente prosódico, dentro da teoria da
fonologia lexical. A discussão dessa teoria interessa à presente pesquisa, pois o fenômeno
do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas pode ser avaliado dentro da fonologia
lexical. Consideremos os estudos de Bisol e de Corrêa separadamente.
2.2.2. O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de
Corrêa
A primeira abordagem que investigaremos está relacionada ao fato de as formas que
apresentam o cancelamento de líquidas intervocálicas poderem refletir um comportamento
sintático de clítico. Assim, devemos apresentar inicialmente a definição de clítico. De
acordo com NESPOR; VOGEL (1986), “os clíticos têm dependência fonológica que outros
elementos fonológicos não têm; não ocorrem sós, não podendo constituir único elemento da
elocução”. A etimologia da palavra clítico nos ajuda a compreender o seu sentido. Clítico
tem raiz grega e significa ‘inclinar’. Segundo HOPPER; TRAUGOTT (1993), “uma forma
que se inclina em direção a outra”. Esta última definição aponta para o fato de o clítico não
poder ocorrer sozinho em um enunciado.
Consideremos então o trabalho de CORRÊA (1998). Esse autor estuda a alternância
das formas plenas (ele(s), ela(s)) e reduzidas (el, éa, éiz, ês, êz, ezi) dos pronomes de
terceira pessoa, no português falado na cidade de Belo Horizonte. Segundo Corrêa, as
26
formas reduzidas são diferentes das plenas, por apresentarem um comportamento clítico, ou
seja, as formas reduzidas não podem ocorrer como único elemento da elocução. Dessa
forma, não se espera encontrar uma seqüência como: “ – Quem vem almoçar hoje? *–
Ês5.”. Deve-se dizer que Corrêa aborda somente pronomes pessoais ele, ela, eles, elas. A
presente pesquisa se propõe a discutir formas reduzidas não pronominais também.
Acreditamos que uma explicação sintática como essa de Corrêa para o fenômeno aqui
estudado não é conveniente.
A nossa pesquisa aponta para um ponto diverso do abordado por Corrêa, por termos
constatado que a variante (2) – forma reduzida: forma que passou por alguma redução
fonética – pode ocorrer sozinha em um enunciado. É o que comprovamos pelos nossos
dados em uma ocorrência como a seguinte: “ –Como chamamos o objeto que algumas
pessoas usam no rosto para enxergar melhor? – [kus]”. Observamos formas que
tiveram a líquida cancelada ocorrendo sozinhas na elocução, não podendo, portanto,
figurarem como formas clíticas.
O favorecimento de determinadas funções sintáticas no cancelamento das líquidas
/l/ e // intervocálicas é uma outra explicação sintática que não se mostrou produtiva para
o fenômeno em estudo. Por exemplo, não encontramos uma regra, segundo a qual toda
palavra que apresenta líquida intervocálica, estando na posição de sujeito do enunciado,
tem tal líquida cancelada. Em princípio, acreditamos que qualquer palavra que apresenta
uma líquida intervocálica, de qualquer classe gramatical, exercendo qualquer função
sintática, tem a possibilidade de ter duas formas alternantes. Uma em que a líquida não é
cancelada (variante (1)) e outra, em que a líquida é cancelada (variante (2)).
A pesquisa de Corrêa apresenta um aspecto relacionado à sintaxe interessante para a
nossa pesquisa. Os exemplos dados por Corrêa ao longo de sua Dissertação de Mestrado
não apresentam as formas reduzidas em final de enunciado, como podemos ver em (9):
5
CORRÊA (1998) adota a forma ortográfica ês para representar a forma reduzida do pronome de terceira
pessoa eles. Contudo, adotaremos a forma fonética para as representações das variantes (1) e (2) de nossa
pesquisa.
27
(9)
a. se não fosse eu, éa tinha matado a colega. (CORRÊA,1998: i)
b. a classe mais baixa tem ações, mas ês procuram mais a DP. (CORRÊA,
1998:25)
c. acabamos com a alegria do pessoal ês num aceitaram. (CORRÊA, 1998: 35)
d. e tá chegando o final do ano, eis gosta é de ferrar a gente. (CORRÊA, 1998: 66)
Assim, a partir desta constatação, podemos inferir que uma seqüência como, *Quem
são ês?, não seria esperada no português de Belo Horizonte, já que a forma reduzida ês
ocorre no final da construção sintática. Ao contrário, seqüências como, Quem são ês,
Tatiana? e São êz, ó?, são possíveis. Podemos supor, assim, que as formas reduzidas não
ocorrem em final de enunciado, porque não podem funcionar como foco prosódico, não
podem ser salientes sonora e sintaticamente. Em outras palavras, estamos sugerindo que a
ausência de formas reduzidas em final de enunciado pode estar relacionada a aspectos
prosódicos. Retomamos este ponto na seção 2.3.
2.2.3. O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de
Bisol
Um outro trabalho que discute o comportamento clítico é BISOL (2000). A autora
analisa o status prosódico do clítico que estaria, segundo ela, no componente pós-lexical.
Tal estudo é interessante, porque considera uma teoria fonológica tradicional: a fonologia
lexical. Assim, antes de abordarmos a discussão de Bisol especificamente, discutiremos a
fonologia lexical que trata dos componentes lexical e pós-lexical.
A fonologia lexical (cf. KIPARSKY, 1982a, b; MOHANAN, 1982) é uma das
sucessoras da fonologia gerativa padrão. Ela se diferencia da fonologia gerativa padrão por
ser menos abstrata. Mas a sua maior inovação é propor a interação do componente
fonológico com o componente morfológico. Essa teoria começou a ser desenvolvida no
início de 1980, quando se percebeu que, ao se adicionar sufixos em palavras, alguns
provocavam um movimento no acento, enquanto outros sufixos não mudavam o acento.
MCMAHON (1994: 65) dá os seguintes exemplos do inglês, apresentados em (10):
28
(10) a. átom – atómic (-ic: sufixo que provoca mudança do acento)
b. édit – éditor (-or: sufixo que não provoca mudança do acento)
Segundo a teoria da fonologia lexical, há regras fonológicas que se aplicam no nível
léxical, e outras que operam no nível pós-léxical. As regras lexicais são aquelas que,
geralmente, se relacionam com a morfologia, como o caso da regra de acento acima. Nelas,
há exceções lexicais. Também tais regras se aplicam somente no interior dos vocábulos. Já
as regras pós-lexicais podem se aplicar nas palavras (cf. HARRIS, 1989).
A fonologia lexical tem como base a idéia de que a estrutura do léxico é composta
de níveis ordenados, que são os domínios de algumas regras morfológicas e de algumas
regras fonológicas. LEE (1995: 5) apresenta um esquema que mostra a estrutura do léxico
proposta pela fonologia lexical, o que podemos conferir na figura 5 abaixo:
LÉXICO
ITENS LEXICAIS NÃO-DERIVADOS
NÍVEL 1
MORFOLOGIA
NÍVEL 1
FONOLOGIA
NÍVEL 2
MORFOLOGIA
NÍVEL 2
FONOLOGIA
:
NÍVEL n
:
MORFOLOGIA
SINTAXE
NÍVEL n
FONOLOGIA
FONOLOGIA PÓS-LEXICAL
FIGURA 5 – Estrutura do léxico proposta pela fonologia lexical (cf. LEE,
1995:5)
A figura 5 acima demonstra como os componentes fonológico e morfológico
interagem, segundo a perspectiva da fonologia lexical. Como percebemos pela
29
representação da figura, as regras fonológicas aplicam-se à saída de toda regra morfológica,
de forma a criar uma entrada para outra regra morfológica. A entrada de cada processo de
formação de palavras passa por regras fonológicas dentro do próprio léxico. Assim,
percebemos que a estrutura do léxico admite a aplicação cíclica de regras. As
representações lexicais advêm da interação que há entre as regras morfológicas e as regras
fonológicas. As representações lexicais são as palavras geradas pelo léxico, que, quando
inseridas nas estruturas sintáticas, proporcionam a constituição de sintagmas através de
regras de inserção lexical. Por fim, como percebemos pela figura 5, os sintagmas sintáticos
são submetidos ao componente fonológico pós-lexical, a fim de terem realização fonética.
Na fonologia lexical, há então dois tipos de regras fonológicas: as regras lexicais que se
aplicam no léxico, e as regras pós-lexicais que se aplicam fora do léxico, na saída da
sintaxe. Após a aplicação das regras pós-lexicais, a representação fonética ocorre.
Um resumo das distinções entre as regras lexicais e as regras pós-lexicais, baseado
em LEE (1996), é apresentado em (11):
(11) a. As regras lexicais podem referir-se à estrutura interna das palavras e as regras
pós-lexicais não podem.
b. As regras lexicais são cíclicas e as regras pós-lexicais não são.
c. As regras lexicais submetem-se à Preservação de Estrutura e as regras póslexicais não se submetem.
d. As regras lexicais devem preceder todas as aplicações de regras pós-lexicais e as
regras pós-lexicais devem ser aplicadas após as regras lexicais.
e. As regras lexicais sujeitam-se à ordem disjuntiva e as regras pós-lexicais
sujeitam-se à ordem conjuntiva.
Voltemos à análise de BISOL (2000). Para comprovar a afirmação de que o clítico
ganha status prosódico no componente pós-lexical, Bisol primeiramente aborda a noção de
clítico. A autora diz que o clítico não pode ser classificado como palavra independente, pois
não é candidato a receber acento primário ou lexical que identifica a palavra fonológica. Ao
mesmo tempo, o clítico não pode ser considerado um afixo (forma presa) porque o clítico é
uma forma livre. Assim, BISOL (2000: 11) afirma que, como o clítico é invisível à palavra
fonológica, atinge o status prosódico “somente depois de ter assumido um papel sintático”.
Por isso, o grupo clítico (palavra fonológica + clítico) é o menor constituinte pós-lexical,
segundo a autora.
30
A fim de provar isso, Bisol tece alguns argumentos. Um primeiro está relacionado à
diferença entre prefixo e clítico. De acordo com ela, os prefixos sem autonomia, como o
prefixo pos- na palavra postônico, “fazem parte da palavra fonológica, depois de terem sido
anexados a uma base morfológica” (cf. BISOL, 2000: 16). Os prefixos integram a palavra
fonológica que ajudam a construir. Já os clíticos anexam-se diretamente a uma palavra
fonológica bem formada, sem integrá-la (cf. BISOL, 2000: 15). Essa é a diferença essencial
entre clíticos e prefixos que aponta para o fato de os clíticos serem formados no nível póslexical.
Em um segundo argumento, Bisol lembra dos três elementos que definem a palavra
fonológica lexical: acento, pé e sílaba. Desses três, o principal identificador da palavra
fonológica é o acento. Há palavras que não satisfazem a condição mínima de pé. Como já
se disse anteriormente, o clítico não recebe o acento primário, o que faz com que ele não
possa ser considerado uma palavra fonológica lexical. O clítico “figura no léxico como
categoria morfológica, identificada prosodicamente apenas como sílaba” (BISOL, 2000:
19). O fato de ele possuir sílaba não lhe confere status prosódico particular, porque todo
segmento deve ser silabado lexical ou pós-lexicalmente.
Bisol aponta três evidências para a sua hipótese de que o clítico assume, somente
com o seu hospedeiro, no pós-léxico, o seu real status prosódico. A primeira evidência é o
fato de o clítico poder ser, ao contrário da palavra fonológica, insensível à restrição das três
janelas. Segundo tal restrição, o acento primário deve se dar ou na última sílaba, ou na
penúltima, ou na antepenúltima sílaba. Exemplos de casos em que os clíticos quebram essa
restrição, porque o acento primário se dá na quarta sílaba de trás para frente, seriam:
dávamos-lhe, contávamos-lhe, considerávamo-lo.
A segunda evidência tem a ver com a mobilidade que os clíticos têm na frase, em se
tratando de clíticos pronominais que podem estar em próclise, em ênclise e em mesóclise.
Deve-se lembrar que os clíticos podem ser encontrados em diversas categorias: verbo,
preposição, conjunção, determinante, pronome. Uns têm mobilidade, como é o caso do
pronome. Outros são fixos, como é o caso do artigo.
A terceira evidência relaciona-se ao fato de os clíticos serem sensíveis a regras póslexicais, que pressupõem que a estrutura sintática esteja pronta. Contudo, Bisol afirma que
as regras de sandi é que oferecem o argumento decisivo para a sua proposta. Dentro de tal
31
regra, a elisão não ocorre em locais onde não há fronteira morfológica. Se a elisão ocorre
entre o clítico e a palavra de conteúdo com que se relaciona, isso prova então que o grupo
clítico é um constituinte pós-lexical. Exemplos de elisão com clíticos retirados de BISOL
(2000: 28) são apresentados em (12):
(12) a. É uma hotelaria
b. Olhe para o lado
c. Venho pela estrada
d. Em cada esquina
u[mo]telaria
pa[u]lado
pe[lis]trada
ca[dis]quina
Com isso, Bisol conclui que o clítico não faz parte da palavra fonológica lexical,
mas, juntamente com a palavra de conteúdo com que se relaciona, constitui um constituinte
prosódico pós-lexical.
No caso do fenômeno em estudo, a variante (2), forma em que a líquida
intervocálica é cancelada, não pode ser considerada como clítico. O clítico não pode
ocorrer sozinho em um enunciado, já a variante (2) ocorreu como palavra isolada em nosso
corpus:“ –Como chamamos o objeto que algumas pessoas usam no rosto para enxergar
melhor? – [kus]”. Dessa maneira, podemos afirmar que a variante (2) de nosso estudo
é uma palavra que tem acento, pé e sílaba. Na abordagem da fonologia lexical, esta variante
estaria no nível lexical, o que será discutido posteriormente.
2.2.4. Conclusão
Na seção 2.2.2, abordamos o trabalho de CORRÊA (1998). Tal autor afirma haver
uma alternância entre as formas plenas (ele(s), ela(s)) e as formas reduzidas (el, éa, éiz, ês,
êz, ezi) dos pronomes de 3a pessoa no português falado na cidade de Belo Horizonte.
Corrêa afirma que estas formas reduzidas têm um comportamento de clítico. Vimos que o
clítico não pode ocorrer como único elemento da elocução. A partir dessa consideração,
podemos afirmar que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas não pode ser
abordado como um fenômeno sintático de cliticização. Constatamos em nossa pesquisa
32
casos em que a variante (2) – forma que passa por uma redução fonética ao ter a líquida
intervocálica cancelada – ocorre sozinha no enunciado.
Na seção 2.2.3, abordamos BISOL (2000) que também discute a forma clítica. Bisol
analisa essa forma dentro da fonologia lexical. Tal autora argumenta que o clítico adquire
status prosódico no nível pós-lexical. De maneira diversa de Bisol, vimos que a variante (2)
do fenômeno em estudo, por ocorrer como palavra isolada (tendo, portanto, acento, pé e
sílaba), está no nível lexical.
Há ainda outras duas perspectivas de abordagem do fenômeno aqui estudado:
avaliar o cancelamento de líquidas intervocálicas como um efeito da estrutura prosódica ou
como um fenômeno fonológico. Veremos essas duas perspectivas nas próximas seções.
2.3. O cancelamento de líquidas intervocálicas como um reflexo da
estrutura prosódica
A segunda abordagem para o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e //
intervocálicas no português de Belo Horizonte se faz com base na consideração da estrutura
prosódica. Para tanto, consideraremos a pesquisa de CUTUGNO; SAVY (1999) que
estudaram a influência da prosódia em um caso de redução, só que vocálica, na fala
espontânea da língua italiana.
Primeiramente, Cutugno e Savy levantaram favorecimentos estruturais em relação
ao fenômeno de redução de vogais na fala espontânea do italiano. Segundo tais autores, o
favorecimento estrutural mais relevante é o fato de que as vogais não-acentuadas e em final
de palavra, ou seja, as vogais postônicas, são mais afetadas pelo fenômeno da redução
vocálica. Os resultados de tal pesquisa ainda apontam para um outro aspecto interessante: é
dentro da Unidade de Tom que ocorre a maior parte das reduções segmentais. A sílaba
imediatamente seguinte ao acento nuclear (ou pitch) tem maior probabilidade de apresentar
redução, especialmente quando ela se dá nas fronteiras das unidades entoacionais. Assim,
foi constatado pelos autores que o ritmo da fala corrente influencia no fenômeno de redução
vocálica.
Os resultados finais da pesquisa de Cutugno e Savy mostram que aproximadamente
90% da redução ocorrem em posição postônica. Os autores concluem que as relações entre
33
redução segmental e estruturas prosódicas na fala espontânea no italiano devem passar por
uma análise mais acurada da estrutura rítmica da fala corrente.
Não podemos afirmar que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no
português de Belo Horizonte seja regulado pelo ritmo (prosódia), como propõem Cutugno e
Savy para a redução vocálica no italiano. Se houvesse alguma dependência do ritmo na
aplicação desse fenômeno, não poderíamos esperar formas isoladas, como a que apontamos
na seção 2.2.2 (Como chamamos o objeto que algumas pessoas usam no rosto para
enxergar melhor? – [kus]). Dessa forma, não temos evidências suficientes que nos
façam optar por uma análise prosódica do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas
no português de Belo Horizonte.
2.4. O cancelamento de líquidas intervocálicas como um fenômeno
fonológico
A análise do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo
Horizonte com base em um fenômeno fonológico tem um caráter neogramático. No modelo
neogramático, a noção de regra ou processo fonológico é adotada. O som é que regula a
mudança sonora.
Um exemplo de regra fonológica é a vocalização de /l/ em final de sílaba no
português brasileiro. Percebemos que a regra da vocalização é regulada pelo seu ambiente
de ocorrência: final de sílaba. Tal regra é categórica em muitas variedades de fala do
português brasileiro, por exemplo, na variedade de fala dos jovens da cidade de Belo
Horizonte. O processo fonológico de vocalização do /l/ posvocálico pode ser formalizado
como: /l/ Æ [w] / – $6. De acordo com essa formalização por processo, interpretamos que o
fonema /l/ torna-se [w] em contexto de final de sílaba. Exemplos em que ocorre a aplicação
desse fenômeno são apresentados em (13):
6
Esta é uma formalização estrutural. A formalização gerativista envolve traços. Mas isso não altera a nossa
discussão sobre processo fonológico.
34
(13) a. /kulto/ Æ[kuwto]
b. /balsa/ Æ[bawsa]
c. /peralta/ Æ[pawta]
d. /vinil/ Æ [viniw]
e. /varal/ Æ [varaw]
f. /kal/ Æ [kaw]
Nos exemplos de (13), as formas à esquerda da seta foram transcritas
fonologicamente. As formas à direita da seta foram transcritas foneticamente e demonstram
a aplicação do fenômeno de vocalização descrito acima.
Ao considerarmos o fenômeno abordado na presente pesquisa como um caso de
processo fonológico, assumimos o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no
português de Belo Horizonte como uma regra. Assim, diríamos que uma das consoantes
líquidas – /l/ ou // – em posição intervocálica pode ser cancelada. Esta regra teria um
caráter opcional, uma vez que a líquida pode ou não ser cancelada. Tentando investigar a
opcionalidade da regra podemos verificar se um determinado fator (estrutural e/ou nãoestrutural) atua favorecendo a aplicação do fenômeno. Um caso de favorecimento por fator
estrutural ou lingüístico seria, por exemplo: as sílabas postônicas que apresentam líquida
intervocálica favorecem a aplicação do fenômeno.
Um caso de favorecimento por fator não-estrutural ou extralingüístico seria: os
jovem de Belo Horizonte tendem a cancelar mais as líquidas /l/ e // intervocálicas do que
os idosos dessa cidade. No quarto capítulo, seções 4.3.1 a 4.3.3, deveremos confirmar ou
não essa análise com base em fenômeno fonológico.
A seguir, abordaremos a lenição que é um processo fonológico que ocorre
tipicamente em ambientes intervocálicos. O nosso interesse em estudar a lenição advém do
fato de o fenômeno aqui pesquisado envolver o contexto intervocálico.
2.4.1. Lenição
35
A lenição ou enfraquecimento consonantal ocorre quando uma consoante é
produzida com um grau relativamente fraco de esforço muscular e força respiratória. Ela
resulta na perda de um traço por um segmento. Segundo CRYSTAL (1988: 157), a lenição
“é o enfraquecimento das consoantes intervocálicas, no decorrer da história de uma língua”.
Ele afirma que “em inglês e português, as consoantes sonoras (...) tendem a ser produzidas
com uma articulação fraca”. TRASK (1996: 201) define lenição como sendo um processo
fonológico em que um segmento se transforma em um outro mais fraco. Este autor cita
como exemplos de lenição: a queda de aspiração, o encurtamento de segmentos longos e a
monotongação de ditongos.
HARRIS (1994: 120) também conceitua lenição. De acordo com Harris, a lenição
ou enfraquecimento consonantal é um processo em que, tipicamente, um segmento passa
por uma série de estágios, sendo o último deles o seu cancelamento. É o que Harris
exemplifica com os processos de lenição por fricativização e por glotalização no inglês,
apresentados em (14):
(14)
a. Fricativização
>
Plosiva
> fricativa >
‘aspiração’
b. Glotalização
Plosiva
cancelamento
ø
>
>
>
>
cancelamento
ø
Essa conceituação de lenição feita por HARRIS (1994: 120) pode ser ilustrada com
um caso de lenição e cancelamento de consoantes estudado por MARUSSO (1995).
Marusso analisa o fenômeno de enfraquecimento consonantal das oclusivas sonoras
/b, d, / no espanhol argentino da cidade de Rosário. Ela descreve esse fenômeno,
esquematicamente, como, /b, d, / : oclusivas> aproximantes> ø. Segundo a autora, as
oclusivas sonoras ocorrem como oclusivas apenas em um estilo de fala muito formal. Em
outros estilos de fala, /b, d, / se realizam como as aproximantes /, , /.
Exemplos desse fenômeno (cf. MARUSSO, 1995: 11) são apresentados em (15):
36
(15)
a. [faula]
b. [pien]
c. [freoli]
Marusso acrescenta que há alguns casos de cancelamento de /b, d, /
intervocálicas. Exemplos de queda de /b, d, / intervocálicas ocorrem em vocábulos
como (cf. MARUSSO, 1995: 176):
(16)
a. estaba Æ esta ø a;
b. federal Æ fe ø eral;
c. preguntado Æ pre ø untado.
O cancelamento de /b, d, / intervocálicas ocorre em um estilo de fala bastante
informal e em palavras que apresentam um sentido mais comum. A autora diz que “quanto
mais erudita a palavra, menores são as chances de queda das oclusivas sonoras” (cf.
MARUSSO, 1995: 177).
O cancelamento de consoantes ocorre tipicamente em meio de palavra, em contexto
intervocálico, que é também o contexto que mais favorece a lenição (cf. HARRIS, 1989:
18). Iremos agora exemplificar um caso de cancelamento da líquida /l/ que ocorreu na
passagem do latim para o português. Em tal passagem, houve cancelamento de algumas
consoantes em posição intervocálica (cf. TESSYIER (1997), WILLIAMS (1975) e
ZÁGARI (1988)). A lateral /l/, alveolar ou dental, foi uma dessas consoantes canceladas
em palavras como: dolor> dor; salire> sair; avolo> avô; malo> mau.7. Essa origem
histórica do fenômeno é importante por apontar para essa tendência de o contexto
intervocálico, um contexto de alta sonoridade, favorecer o cancelamento de segmentos
consonantais.
7
As outras consoantes intervocálicas que apresentaram cancelamento nesse processo diacrônico foram
/n, d, /: corona> coroa; pede>pé; legere> ler. ZÁGARI (1988: 138) aponta também o cancelamento de
/w/Æ /v/ Æ /ø/, como na palavra santi/u/u (latim) Æ sadi/ø/o (português).
37
Com relação ao tepe //, o que se observa na passagem do latim ao português, é
que ele sofre uma modificação do ambiente intervocálico para o ambiente de final de sílaba
(em final e em meio de palavra): amare> amar; veride> verde. Essa modificação foi
categórica em relação aos verbos que, no latim, terminavam em –re. Os verbos tiveram a
última vogal cancelada (vivere> viver), o que descaracterizou o ambiente intervocálico do
tepe.
Um outro processo de lenição que merece ser mencionado, já que envolve o tepe
//, é o caso apontado por HARRIS (1990: 32). Esse autor trata da lenição de /t/ no
inglês. Segundo Harris, em muitas variedades do inglês, /t/ passa por três processos de
lenição: 1) glotalização, 2) tapping e 3) fricativização. O tipo de lenição de /t/ no
inglês que abordaremos aqui é o tapping, também conhecido como flapping.
Esse fenômeno do tapping ocorre tipicamente na América do norte, na Austrália e
em algumas partes da Irlanda e da Inglaterra. HARRIS (1990) diz que o tapping, no inglês,
refere-se à realização de /t/ e /d/ como o tepe [], em contexto intervocálico. Como
exemplos desse fenômeno de lenição, HARRIS (1990: 32) apresenta:
(17)
a. ci/t/y Æ ci[]y;
b. Pe/t/er Æ Pe[]er.
HARRIS (1994: 121) aponta a palavra ready como um exemplo em que ocorre a
lenição de /d/ por tapping: rea[d]yÆ rea[]y. A partir dos exemplos apresentados acima,
percebemos que os processos de lenição e de cancelamento de consoantes podem ocorrer
tipicamente em ambiente intervocálico. Esse fato nos faz acreditar que é importante que se
aborde o cancelamento das consonantes líquidas intervocálicas no português, como um
caso de lenição ou enfraquecimento consonantal.
2.4.2. Motivações internas e externas
38
A escolha pelo estudo do cancelamento das líquidas /l/ e // deveu-se a algumas
motivações ou evidências, que podem ser divididas em internas e externas. As motivações
ou evidências internas se relacionam com características da própria análise fonológica
(consistência, economia, simplicidade, generalização). As motivações ou evidências
externas são trazidas para a análise fonológica. Geralmente estes casos envolvem classes
naturais. Exemplos de motivações externas são: características da linguagem infantil,
aspectos da linguagem patológica, certos tipos de experimentos psicolingüísticos, casos de
empréstimo e outros (cf. TRASK, 1996: 137; 182).
Abordaremos, inicialmente, as motivações internas. Uma primeira diz respeito ao
fato de as consoantes líquidas serem altamente sonoras, vindo em segundo lugar na escala
de sonoridade (cf. HARRIS, 1994: 56 e BIONDO, 1993: 40). A tabela 8 abaixo apresenta
tal escala:
TABELA 8 – Escala de sonoridade
[soante]
[aproximante]
[vocóide]
Obstruinte
-
-
-
Escala de
sonoridade
0
Nasal
+
-
-
1
Líquida
+
+
-
2
Vocóide
+
+
+
3
Pela tabela 8, observa-se que somente as vogais são os únicos segmentos mais
sonoros do que as líquidas. LADEFOGED (1996: 182) diz que, foneticamente, as líquidas
são as consoantes mais sonoras. O contexto em que os segmentos estudados aqui ocorrem é
o contexto intervocálico. E, como vimos acima, a lenição e o cancelamento de consoantes
ocorrem, com freqüência, nesse ambiente. Assim, temos o fato de que há, no caso do
fenômeno em estudo, um ambiente de alta sonoridade (vogal + líquida + vogal) que pode
favorecer o cancelamento da consoante. Esse é um dos motivos pelo qual se faz relevante
estudar o cancelamento de líquidas intervocálicas.
A segunda motivação interna está relacionada ao comportamento semelhante dessas
duas líquidas em algumas línguas, nas quais elas se apresentam como alofones, em
distribuição complementar. É o que ocorre no ganda. Nessa língua, a líquida [l] ocorre
39
após vogais com traço [+ posterior]. Já a líquida [] ocorre após vogais com o traço [+
anterior]. A tabela 9 abaixo demonstra tal alofonia entre as líquidas [l] e [] no ganda (cf.
HALLE; CLEMENTS, 1983: 51).
TABELA 9 – Vocábulos do ganda
Vocábulos do ganda
Líquida [l] após vogais com traço
Líquida [] após vogais com traço
[+posterior]
[+anterior]
1. kola
2. olunanda
5. beea
6. eaddu
3. olulimi
4. omulio
7. eyato
8. wawaabia
Na tabela 9, são apresentadas palavras do ganda transcritas foneticamente. Na
primeira coluna, são listadas as palavras que contêm a líquida [l] seguindo vogais com
traço [+posterior]: [o,u]. Na segunda coluna, são listadas as palavras que contêm a líquida
[] seguindo vogais com traço [+anterior]: [e, i]. Os ambientes de ocorrência exclusivos
para cada líquida mostram que elas estão em distribuição complementar.
Na língua coreana, [l] e [] estão também em distribuição complementar. A líquida
[l] ocorre em final de sílaba (meio ou final de palavra). Já a líquida [] ocorre em início
de sílaba (no início de palavra ou no meio entre vogais). A tabela 10 abaixo demonstra a
alofonia que há entre essas duas líquidas no coreano (cf. FROMKIN; RODMAN, 1993).
TABELA 10 – Vocábulos do coreano
Vocábulos do coreano
Líquida [l] em final de sílaba (em
Líquida [] em início de sílaba (no início
meio ou final de palavra)
de palavra ou no meio entre vogais)
1. ilkop
2. ipalsa
5. upi
6. atio
3. mul
4. pal
7. kii
8. saam
40
As palavras do coreano exemplificadas acima foram transcritas foneticamente nesta
tabela 10. Na primeira coluna, são apresentadas as palavras que contêm a líquida [l] em
final de sílaba (início ou final de palavra). Na segunda coluna, são apresentadas as palavras
que contêm a líquida [] em início de sílaba (em início ou em meio de palavra, entre
vogais). Novamente, os ambientes exclusivos para cada uma das líquidas comprovam que
elas estão em distribuição complementar nessa língua. Portanto, a partir desses exemplos do
ganda e do coreano, podemos afirmar que [l] e [] apresentam um comportamento
semelhante não só no português como em outras línguas.
Passemos, agora, à análise das motivações externas no que se refere à semelhança
de comportamento de /l/ e // no português. Uma primeira motivação externa relaciona-se
à fase de aquisição do português. As líquidas são os últimos segmentos adquiridos pelas
crianças (cf. YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRECHT, 1992: 91). Assim, é muito
comum haver um estágio em que a criança, não conseguindo articular as líquidas /l/ e //,
pronuncia, em seu lugar, o glide /j/ (cf. MARTINS, Em andamento), como em (18):
(18) a. blaÆbja
b. aaÆ aja
Como se vê, ambas as líquidas são substituídas por um mesmo segmento, o /j/. Isso
aponta para um comportamento semelhante entre elas. Além disso, também na fase de
aquisição, podem ocorrer as trocas de // por /l/, de /l/ e // por nasais e, ainda, pode
ocorrer o cancelamento desses dois segmentos líquidos. Podemos constatar isso através dos
exemplos, em (19), retirados de YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRECHT (1992: 9497):
(19) a. troca de // por /l/ : cadeira Æ [kadela], dinheiro Æ [zielu]
b. troca de /l/ e // por nasais: beira Æ [pema], eles Æ [emis]
c. cancelamento de /l/ e //: aranha Æ [aaa], bolo Æ [bou]
41
MOTA (2001: 55) aponta ainda para o fato de que pode haver, durante a fase de
aquisição, uma plosivização das líquidas /l/ e //, como nos seguintes exemplos de (20):
(20) a. /l/ - cabelo Æ [kabeu]
b. // - nariz Æ [nais]
Mais uma vez, vemos uma semelhança de comportamento entre essas duas líquidas
/l/ e //. Todos os exemplos, apresentados acima, relacionados à fase de aquisição
mostram que as líquidas /l/ e // formam uma classe natural no português (cf. HYMAN,
1975). Vejamos os critérios propostos por HYMAN (1975), os quais definem se dois
segmentos formam uma classe natural. De acordo com tal autor, dois segmentos constituem
uma classe natural quando um ou mais dos seguintes critérios são obedecidos:
(21)
a. os dois segmentos submetem-se juntos às regras fonológicas;
b. os dois segmentos funcionam juntos nos ambientes das regras fonológicas;
c. um segmento é convertido em outro segmento por uma regra fonológica;
d. um segmento é derivado no ambiente de outro segmento (como nos casos de
assimilação).
Dois destes critérios apresentados em (21) justificam o fato de as líquidas /l/ e //
formarem uma classe natural. O primeiro é o critério (21a), segundo o qual dois segmentos
formam uma classe natural se se submeterem juntos às regras fonológicas. É o que ocorre
nos exemplos apresentados em (18), para o caso de MARTINS (Em andamento); nos
exemplos (19b,c) retirados de YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRETCH (1992), e nos
exemplos (20a,b) retirados de MOTTA (2001).
O segundo critério é o (21c), segundo o qual dois segmentos fazem parte de uma
mesma classe natural se um segmento pode ser convertido em outro segmento por uma
regra fonológica. É o que ocorre nos exemplos de (19a) retirados de YAVAS;
HERNANDORENA; LAMPRETCH (1992). Uma maior discussão sobre o comportamento
das líquidas como classe natural pode ser vista na seção 1.5.1 deste estudo.
A segunda motivação externa diz respeito à distribuição das líquidas em encontros
consonantais tautossilábicos, no português. Nestes, somente /l/ e // podem ocorrer após
42
uma das obstruintes – /p, b, t, d, k, , f, v/. É o que podemos constatar em exemplos
como, plaka, bava, atlas, drastika, klaa, avata, aflita,
afika, vladimih.
Há ainda outra motivação externa ligada à variação de /l/ e // nesses encontros
consonantais. No dialeto caipira, variedade de fala estigmatizada no português brasileiro, é
comum a troca de /l/ por // em todos os encontros consonantais tautossilábicos (cf.
NETTO, 2001: 103). Os seguintes exemplos em (22) ilustram essa troca:
(22) a. bluzaÆ buza
b. klaoÆ kao
c. plastikoÆ pastiko
d. atltaÆ atta
As formas à direita das setas são geralmente pronunciadas por falantes do dialeto
caipira. As formas à esquerda das setas são geralmente pronunciadas por falantes da
variedade de prestígio do português brasileiro.8
Há ainda o fato de que as consoantes líquidas /l/ e // poderem ser canceladas,
opcionalmente, em encontros consonantais tautossilábicos. CRISTÓFARO-SILVA (2000a,
2000b) e FREITAS (2000) estudam esse fenômeno. Exemplos são apresentados em (25):
(25) a. livo Æ livo
b. prisiza Æ pisiza
c. ezeplo Æ ezepo
d. atletizmo Æ atetizmo
8
Não se observa a troca de // por /l/ nos encontros consonantais tautossilábicos, em nenhuma variedade do
português brasileiro. A não ser em casos de patologia de fala em que se diz platu, tles para pratu,
tres, respectivamente. Ainda assim, este último caso aponta para a semelhança de comportamento entre
/l/ e //, no português.
43
Por todas as motivações – internas e externas – apresentadas acima, justifica-se
abordar o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas9. Resta-nos
investigar a variação entre as variantes (1) e (2) do fenômeno em estudo, com o objetivo de
fornecer uma explicação mais delimitada do fenômeno.
2.4.3. Um processo variável
Assumimos, na presente pesquisa, que o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/
e // intervocálicas no português de Belo Horizonte é um caso de variação lingüística.
Sendo assim, a fim de tratarmos do cancelamento de líquidas intervocálicas, discutiremos
duas possíveis abordagens teóricas para fenômenos de variação e mudança: a teoria da
variação e a teoria da difusão lexical.
A teoria da variação, também chamada de sociolingüística, foi proposta por Labov
(cf. LABOV 1966). Segundo esse modelo teórico, as variações ou mudanças que ocorrem
em uma língua podem ser explicadas pela correlação que há entre fatores estruturais ou
lingüísticos e fatores não-estruturais ou extralingüísticos. Uma das maiores contribuições
da teoria da variação é justamente a consideração dos fatores extralingüísticos ou sociais na
análise lingüística. LABOV (1972) afirma que fatores sociais como, idade, sexo, classe
social e escolaridade, podem explicar os casos de mudança. Por exemplo, no caso do
português brasileiro, os seguintes fenômenos podem ser atribuídos, mais provavelmente aos
respectivos fatores sociais:
(24)
9
a. velarização de /l/ em final de sílaba (/sal/> [sa]) Æ ocorre, geralmente, na
fala de velhos (fator idade).
b. maior utilização de palavras no diminutivo (Que menininho bonitinho!) Æ ocorre,
geralmente, na fala de mulheres (fator sexo).
c. troca do segmento /v/ pelo /b/ em palavras como: [v]assoura> [b]assoura Æ
ocorre, geralmente, na fala de pessoas com baixa ou nenhuma escolaridade e de
classe social mais baixa (fatores escolaridade e classe social).
O cancelamento de outros segmentos consonantais no português brasileiro não será visto nesta pesquisa.
Contudo, reconhecemos que há cancelamento de outras consoantes nasais em palavras como: vamos Æ va
(cancelamento da nasal /m/); onibus Æ os (cancelamento da nasal /n/ e da bilabial /b/), etc.
44
Para os casos de (24), vemos que a teoria laboviana fornece uma explicação
consistente. A presente pesquisa utilizou princípios da metodologia variacionista, o que
será apresentado no terceiro capítulo. Mas será no quarto capítulo que discutiremos a
influência ou não desses fatores sociais no fenômeno em estudo.
A teoria sociolingüística se faz com base em uma perspectiva neogramática. Os
neogramáticos propõem que a mudança sonora é regulada pelo som. Isso quer dizer que a
mudança sonora é foneticamente gradual e lexicalmente abrupta. Assim, segundo essa
perspectiva, a mudança de um som acontece em todas as palavras que apresentam o
contexto fonético onde ele está inserido. Seguindo essa visão neogramática, uma explicação
variacionista prevê regras para os fenômenos de mudança, como as explicitadas em (24).
A outra proposta teórica que devemos avaliar nesta Dissertação de Mestrado é a
teoria da difusão lexical10 (cf. WANG, 1969; CHEN; WANG, 1975). Ao contrário dos
neogramáticos, os difusionistas propõem que é a palavra que comanda a mudança sonora,
ou seja, a mudança é foneticamente abrupta e lexicalmente gradual. Uma mudança pode
não atingir todas as palavras que apresentam o mesmo contexto fonético, por isso é
lexicalmente gradual. Dessa forma, não é o som que controla a mudança sonora, mas a
palavra. Segundo tal modelo, cada palavra tem a sua própria história11.
MCMAHON (1994: 67), aborda esses dois tipos de mudança sonora: pelo modelo
da difusão lexical e pelo modelo neogramático. A autora afirma que esses dois modelos de
mudança têm uma relação direta com os dois tipos de regras fonológicas da fonologia
lexical: regras lexicais e regras pós-lexicais.
McMahon faz uma analogia entre as propriedades das regras lexicais e as do modelo
da difusão lexical, e uma analogia entre as propriedades das regras pós-lexicais e as do
modelo neogramático. Tal autora segue LABOV (1981) que afirma haver mudanças
difusionistas e mudanças neogramáticas. Os esquemas apresentados em (25) e (26),
baseados em MCMAHON (1994: 66-67), demonstram essas analogias:
10
O presente estudo está incluído em uma pesquisa maior sobre difusão lexical, coordenada pela Profa. Thaïs
Cristófaro Silva da Faculdade de Letras da UFMG (cf. CRISTÓFARO-SILVA, 1999a).
11
Alguns trabalhos que discutem a difusão lexical são AULER (1992), BORTONI; MALVAR (1992),
FIDELHOLTZ (1975), MADUREIRA (1997, 1999), MOLLICA (1992), OLIVEIRA (1991, 1992, 1995) e
PHILLIPS (1984, 1999).
45
(25) Regras lexicais
Regras pós-lexicais
Saída binária, discreta
Pode ser condicionada morfologicamente
Pode ter exceções lexicais
Entrada e saída são distinguidas pelos falantes
(26)
Discreto
Condicionamento fonético
Exceções lexicais
Condicionamento gramatical
Afetação social
Previsível
Pode ser aprendido
Categorizado
Entradas dicionárias
Difusão lexical
Saída gradual
Puramente foneticamente condicionada
Aplica-se em todas as palavras
Não perceptíveis pelos falantes
Difusão Lexical
Mudança neogramática
sim
desigual
sim
sim
não
não
não
sim
2
sim
não
sim
não
não
sim
sim
sim
não
1
não
Pela comparação entre os esquemas (25) e (26), percebemos a semelhança que há
entre as regras lexicais e a difusão lexical e a semelhança que há entre as regras pós-lexicais
e o modelo neogramático. Como as regras lexicais, a difusão lexical é discreta e pode ter
exceções lexicais. Como as regras pós-lexicais, o modelo neogramático é condicionado
foneticamente – não aceitando exceções gramaticais – portanto, é previsível.
Neste trabalho, o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no
português de Belo Horizonte deve ser avaliado dentro do estudo da variação lingüística,
segundo o modelo neogramático e o modelo da difusão lexical. Como explicitamos
anteriormente, o fenômeno do cancelamento das líquidas intervocálicas é um caso de
variação lingüística.
2.5. Conclusão
Neste capítulo, fizemos uma revisão bibliográfica que abordou três análises
possíveis para o fenômeno de cancelamento das líquida /l/ e // intervocálicas. A primeira
análise foi com base no fenômeno da cliticização. Para tanto, discutimos os trabalhos de
46
CORRÊA (1998) e BISOL (2000). Através da análise do trabalho de Corrêa, chegamos à
conclusão de que o cancelamento de líquidas intervocálicas não pode ser tratado como um
fenômeno sintático de cliticização. Já o trabalho de Bisol, além de ter discutido a forma
clítica, trouxe como principal contribuição a abordagem da fonologia lexical.
A segunda análise proposta para a abordagem do cancelamento de líquidas
intervocálicas está relacionada ao fato de esse poder ser um fenômeno que tem reflexo na
estrutura prosódica. Para tanto, discutimos o trabalho de CUTUGNO; SAVY (1999). Tais
autores estudam a redução vocálica na fala espontânea do italiano. Cutugno e Savy
concluíram que tal fenômeno é influenciado pelo ritmo. O fenômeno do cancelamento de
liquidas intervocálicas não pode ser analisado segundo essa abordagem de Cutugno e Savy,
porque se houvesse a influência do ritmo, não poderíamos esperar formas isoladas em uma
elocução, o que ocorreu em nosso corpus: Como chamamos o recipiente onde geralmente
colocamos o café ou o chá? – [ika].
A última análise proposta neste capítulo para o cancelamento das líquidas /l/ e //
intervocálicas seria considerá-lo como um fenômeno fonológico. Dessa forma, discutimos a
noção de processo. Vimos que é relevante investigar o fenômeno de variação em estudo
segundo dois modelos teóricos: a teoria da variação e a teoria da difusão lexical.
47
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA
3.1. Introdução
Como o fenômeno em estudo apresenta-se como um caso de variação, a
metodologia utilizada neste trabalho se baseia em princípios da teoria da variação ou
sociolingüística,
proposta
por
LABOV
(1966).
Investigaremos
se
há
algum
condicionamento decorrente da correlação entre fatores estruturais e não-estruturais, no
caso do cancelamento das líquidas intervocálicas /l/ e //. Analisaremos também se os
fatores palavra (cf. WANG, 1969) e indivíduo (cf. OLIVEIRA, 1992) são relevantes para o
fenômeno em estudo. Por isso, iremos considerar a teoria da difusão lexical que contempla
estes dois fatores.
Segundo LABOV (1966), para se analisar a variação ou a mudança existente em
uma língua, deve-se correlacionar os fatores estruturais envolvidos no fenômeno aos fatores
não-estruturais ou sociais como, sexo, idade, escolaridade e classe social. Mesmo que
aponte para estes fatores sociais, a teoria da variação apresenta um caráter neogramático,
porque considera o fator lingüístico ou estrutural como atuante nos casos de mudança. E,
segundo a visão neogramática, a mudança sonora é foneticamente gradual e lexicalmente
abrupta. A mudança é regulada pelo som: todas as palavras que apresentam o mesmo
contexto fonético potencialmente irão sofrer a aplicação do fenômeno de mudança sonora.
Labov argumenta que os diversos grupos sociais de uma determinada comunidade
de fala se comportam de maneira diferente quanto a sua língua. Ele propõe que a variação é
condicionada ou por aspectos sociais, ou por aspectos lingüísticos, ou pelos dois aspectos
simultaneamente. Dessa maneira, é possível ordenar o aparente “caos” da linguagem, que
existiria, à primeira vista, para um observador menos atento.
WEINREICH, LABOV; HERZOG (1968) defendem a idéia de que há uma
“heterogeneidade estruturada” na língua, dentro da qual a variação existente quanto a um
48
uso lingüístico é regulada por fatores sociais, como os citados acima. Os trabalhos em
lingüística anteriores a LABOV (1966) apontam para uma visão de língua homogênea. É o
que percebemos, por exemplo, em SAUSSURE (1916) que nos apresenta essa idéia de
homogeneidade em um “estado de língua”. Também CHOMSKY (1965) assume buscar em
sua pesquisa “a competência de um falante-ouvinte ideal, em uma comunidade de fala
completamente homogênea”.
Além de apontar que a heterogeneidade ou variação é inerente a todas as línguas, a
sociolingüística apresenta uma metodologia eficaz que demonstra a ordem na aparente
desordem ou heterogeneidade. Dessa forma, esse modelo teórico-metodológico proposto
por Labov busca analisar e sistematizar a variação ou heterogeneidade existente na fala de
uma comunidade lingüística.
Faz parte dessa metodologia a gravação de entrevistas com a fala o mais espontânea
possível. Contudo, Labov reconhece que há o paradoxo do observador (cf. LABOV, 1972:
209). O observador quer ter acesso à fala dos informantes quando eles não estão sendo
observados sistematicamente. Contudo, a melhor forma de ele obter seus dados é através da
observação sistemática. Portanto, é praticamente impossível conseguir-se uma fala
totalmente natural, seja por causa da presença do investigador ou por causa do aparato
tecnológico (gravador, microfone e outros). Mesmo assim, Labov aponta para a
necessidade de se atenuar o efeito disso, buscando-se fazer a entrevista da maneira mais
descontraída possível.
Ao contrário do modelo neogramático mencionado acima, o modelo da difusão
lexical aponta que a mudança é regulada pela palavra. Cada item lexical tem a sua própria
história. Nem todas as palavras, com o mesmo contexto fonético, são atingidas,
necessariamente, por uma mudança sonora. Neste trabalho, devemos verificar se o fator
palavra é importante ou não no cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, no
português de Belo Horizonte. Investigaremos também se o fator indivíduo é relevante na
análise do cancelamento de líquidas intervocálicas. Seguindo OLIVEIRA (1992), o
indivíduo pode apresentar um comportamento mais homogêneo do que o grupo e, por isso,
deve-se verificar a influência deste fator nos estudos sobre mudança. A teoria da difusão
lexical será abordada neste trabalho por ampliar a discussão em torno da mudança sonora.
49
Segundo tal teoria, a mudança sonora é foneticamente abrupta e lexicalmente gradual (cf.
CHEN; WANG, 1975).
3.2. População e amostra
A população desta pesquisa é composta por 24 informantes: 12 do sexo masculino e
12 do sexo feminino; nascidos em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, ou residentes
nessa cidade há, pelo menos, 20 anos. Todos têm 3o grau como nível de escolaridade, sendo
12 deles professores e os outros 12, alunos universitários. Mais especificamente,
professores e alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Eles foram selecionados de acordo com as seguintes áreas acadêmicas:
Exatas/Gerenciais, Humanas e Biológicas. Tentou-se selecionar, em cada área, cursos que
tivessem alunos com “perfis” diferentes e, por isso, falas diferentes quanto ao nível de
formalidade. Optou-se, nesta pesquisa, pela escolha de dois cursos para cada uma destas
áreas, o que resulta em um total de seis cursos. Os roteiros de entrevistas visaram à
adequação de vocabulário próprio a cada curso (ANEXO 1). Os cursos já referidos são
apresentados a seguir na tabela 11:
TABELA 11 – Cursos por áreas acadêmicas
Áreas de Formação Acadêmica
a - Humanas
b – Exatas/gerenciais
c - Biológicas
Cursos
1. Direito
2. Psicologia
3. Ciências Contábeis
4. Estatísticas
5. Medicina
6. Educação Física
A tabela 11 acima agrupa os cursos segundo a área acadêmica a que eles pertencem.
Acreditamos que, em princípio, dentro da área de Humanas, um estudante de direito tenha
um cuidado maior de fala, com relação à norma culta do que um estudante de Psicologia.
Também um estudante de Ciências Contábeis se aproximaria mais do padrão do que um
estudante de Estatística, dentro da área de Exatas/Gerenciais. E, por fim, um estudante de
Medicina, dentro da área de Biológicas, seguiria mais a norma culta na fala do que um
50
estudante de Educação Física. Essas afirmações são possíveis se consideramos os fatores
sociais (externos ou extralingüísticos) correlacionados com os fatores gramaticais (internos
ou lingüísticos), o que é proposto pela sociolingüística (LABOV, 1972). Afinal, o uso de
uma fala mais próxima do padrão por uma profissão e não por outra é algo socialmente
definido (CHAMBERS, 1995). De certa forma, é exigido de um profissional de Direito que
ele mantenha uma linguagem falada mais culta em seus contatos sociais.
Para cada uma das 3 áreas de formação acadêmica, tem-se 8 informantes, o que
resulta em 4 informantes para cada um dos 6 cursos, sendo 2 professores e 2 alunos em
cada curso. Quanto ao sexo, no total, tem-se 12 homens e 12 mulheres: 2 representantes de
cada sexo em cada curso. As faixas etárias dos informantes foram duas: de 18 a 35 anos,
para alunos, e de 35 a 55 anos, para professores.
Foram estabelecidas 12 células sociais, de acordo com as variáveis sociais: sexo,
faixa etária, profissão, escolaridade e área acadêmica. Como foi dito acima, a escolaridade
de todos os informantes é de 3o grau. Contudo, faz-se necessária uma divisão em:
escolaridade 1 (aluno graduandos) e escolaridade 2 (professores com Pós-Graduação –
mestrado, doutorado ou pós-doutorado). Há de se considerar, como uma outra variável, a
área de formação acadêmica (Humanas, Exatas/ Gerenciais e Biológicas). Isso se deve ao
fato de poder haver comportamentos diferentes dos informantes com 3o grau de
escolaridade, segundo a sua área de formação, em relação ao fenômeno aqui estudado.
Dessa maneira, tem-se a seguir:
a) sexo → masculino e feminino;
b) faixa etária → 18 a 35 anos/ 35 a 55 anos;
c) escolaridade → 3o grau: escolaridade 1 (alunos graduandos), escolaridade 2
(professores com Pós-Graduação);
d) área de formação acadêmica → a – Humanas, b – Exatas/Gerenciais, c – Biológicas.
Na combinação das quatro variáveis, tem-se 12 células, apresentadas na tabela 12
abaixo:
51
TABELA 12 – Distribuição dos informantes em 12 células sociais
Sexo
Faixa Etária
Escolaridade (3º grau)
1 – masculino
18 a 35 anos
escolaridade 1
Área
de
acadêmica
humanas
2 – masculino
35 a 55 anos
escolaridade 2
exatas/gerenciais
3 – masculino
18 a 35 anos
escolaridade 1
biológicas
4 – masculino
35 a 55 anos
escolaridade 2
humanas
5 – masculino
18 a 35 anos
escolaridade 1
exatas/gerenciais
6 – masculino
35 a 55 anos
escolaridade 2
biológicas
7 – feminino
18 a 35 anos
escolaridade 1
humanas
8 – feminino
35 a 55 anos
escolaridade 2
exatas/gerenciais
9 – feminino
18 a 35 anos
escolaridade 1
biológicas
10 – feminino
35 a 55 anos
escolaridade 2
humanas
11 – feminino
18 a 35 anos
escolaridade 1
exatas/gerenciais
12 – feminino
35 a 55 anos
escolaridade 2
biológicas
formação
Como a amostra é composta de 12 células sociais com 2 informantes em cada uma,
tem-se um total de 24 informantes.
3.2.1. A capital mineira – Belo Horizonte
Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, conta hoje com mais de 2 milhões de
habitantes. Os dados da contagem de 1996 atestam 2.091.371 habitantes: 989.714 homens e
1.101.657 mulheres (cf. www.ibge.gov.com). Do total da população, aproximadamente,
99,7% é urbana e 0, 3% é rural. Por estes dados, constatamos que a cidade de Belo
Horizonte é essencialmente urbana. A população se ocupa de atividades como, indústria,
comércio, transporte e outros.
52
As origens de Belo Horizonte remontam de 1701, quando o bandeirante João Leite
da Silva Ortiz, em busca de ouro, chegou a tal região. A nova capital de Minas Gerais, em
substituição a Ouro Preto, surgiu de um pequeno povoado denominado Arraial do Curral
Del Rei. Belo Horizonte foi inaugurada em 1897. A cidade foi projetada inicialmente para
200 mil habitantes, e já na década de 40, havia ultrapassado essa marca. Esse fato aponta
para o crescimento desordenado da cidade, o que ocorre até hoje.
O município de Belo Horizonte está localizado no centro-sul do Estado de Minas
Gerais. Capital estadual e município-sede da Microrregião de Belo Horizonte e da Região
Metropolitana de mesmo nome (ANEXO 2), possui extensão territorial de 335 km2 (cf.
www.pbh.gov.com). A capital de Minas Gerais está ligada a todo país através de
aeroportos, rodovias e ferrovias. As principais atividades econômicas de Belo Horizonte
são: indústria de minerais, metalurgia, químicos, perfumaria, têxtil, e outros.
Belo Horizonte é formada de aproximadamente 250 bairros, divididos em 9
regionais. As 9 Administrações Regionais de Belo Horizonte são as seguintes:
1. Administração Regional Venda Nova
2. Administração Regional Norte
3. Administração Regional Pampulha
4. Administração Regional Nordeste
5. Administração Regional Noroeste
6. Administração Regional Leste
7. Administração Regional Centro Sul
8. Administração Regional Oeste
9. Administração Regional Barreiro
Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, as Administrações Regionais funcionam
como sub-prefeituras, por intermédio de suas sedes administrativas, onde atuam equipes
dos setores de zoonose, educação, controle urbano, dentre outras. A UFMG, local onde
estudam e/ou trabalham os informantes de nossa pesquisa, localiza-se na Regional
Pampulha (cf. número 3 acima). Os informantes residem em outras Regionais.
A Região Metropolitana de Belo Horizonte conta com 27 cidades satélites ao redor
dessa capital. São 8 as cidades vizinhas diretas de Belo Horizonte: Nova Lima, Sabará,
Santa Luzia, Vespasiano, Ribeirão das Neves, Contagem, Ibirité, Brumadinho. Juntamente
53
com Belo Horizonte. Estes e mais outros 19 municípios fazem parte do conjunto de 28
municípios que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte - RMBH.
3.2.2. A Universidade Federal de Minas Gerais
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi criada em 1927. Inicialmente,
tinha 5 cursos: Direito, Medicina, Engenharia e Odontologia e Farmácia. Hoje, a UFMG
conta com 55 cursos de graduação, distribuídos em 19 unidades. Há também 55 cursos de
especialização, 27 de residência médica, 55 de mestrados e 36 de doutorado. Ainda, há 450
cursos e 163 projetos na área de extensão universitária da UFMG. Em tal universidade,
existem 2.413 professores, 4.500 funcionários técnico-administrativos e 24.358 estudantes
matriculados na graduação e pós-graduação, além de mais de 19 mil em cursos de extensão
(cf. www.ufmg.br). É dentro desse universo acadêmico que se situam os sujeitos da
presente pesquisa.
3.3. Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada em maio de 2001. Das 24 entrevistas feitas, 2 foram
gravadas em Dat para análise acústica. Os dois informantes gravados em Dat são o
professor e a professora de Estatística. Nas outras 22 entrevistas, foi utilizado o gravador
Marantz, modelo CP240. Foi utilizado também o microfone unidirecional (Sure Prologue),
a fim de se atenuar os efeitos de ruídos externos. As entrevistas foram feitas em campo,
mais especificamente nas faculdades de cada informante. Com exceção de 3 entrevistas. A
primeira, com o estudante de Educação Física, foi gravada em um ambiente familiar a ele e
à entrevistadora. Deve-se dizer que este era o único informante conhecido pela
entrevistadora antes da gravação. As outras duas entrevistas, com o professor e a professora
de Direito, foram gravadas nos escritórios de cada um dos informantes e não na Faculdade
de Direito.
De certa forma, avaliou-se o estilo de fala. Ele variou de mais formal quando a
entrevista foi feita na faculdade (escritório) do informante, a menos formal quando a
entrevista foi feita no ambiente familiar, como foi o único caso do aluno de Educação
54
Física. É preciso esclarecer que, como não há nenhuma professora de Ciências Contábeis
na FACE (Faculdade de Ciências Econômicas)/UFMG, optamos por selecionar uma
professora do curso de Administração. A escolha por este curso se deveu ao fato de ele
guardar mais semelhanças com o curso de Ciências Contábeis do que os demais.
Por esta ser uma pesquisa na área de fonologia, especialmente, os dados foram
obtidos a partir de entrevista. Antes das entrevistas, os sujeitos foram informados de que
estariam contribuindo para um trabalho de cunho acadêmico e que o investigador fazia
parte da universidade (UFMG). Contudo, não foram revelados os objetivos principais da
pesquisa, como sugerem os trabalhos em sociolingüística, a fim de que o informante não
ficasse monitorando a sua fala e, com isso, a entrevista se afastasse da fala mais espontânea.
O tempo de duração total das entrevistas é de aproximadamente 13 horas e 45 minutos. O
tempo de duração de cada entrevista para cada informante variou de 15 a 58 minutos. As
entrevistas foram de dois tipos:
1) conversa livre: foi dividida em duas partes. Na primeira, as perguntas foram mais
pessoais e, na maioria das vezes, provocaram, no entrevistado, respostas mais
opinativas e não narrativas como propõem vários trabalhos em sociolingüística. Essa
opção deveu-se ao fato de todos informantes terem 3o grau de escolaridade. Acredita-se
que as perguntas que provocam respostas opinativas são mais interessantes a tais
sujeitos. Na segunda parte, as perguntas foram feitas ao entrevistado de acordo com a
sua área/curso, como citado acima (ANEXO 1). O tempo total de duração desse tipo de
entrevista foi de 11 horas e 21 minutos aproximadamente.
2) nomeação de figuras (cf. SULLIVAN, 1992): foram apresentadas figuras com desenhos
de elementos que levassem o informante a dizer as palavras que se supunha que
favorecessem a ocorrência do fenômeno em estudo. A partir de tais figuras, o
entrevistador fez perguntas ao entrevistado que o levassem a dizer as palavras desejadas
pela pesquisa (ANEXO 3). O tempo de duração total deste tipo de entrevista foi de 2
horas e 24 minutos aproximadamente.
55
As palavras que nomeiam os elementos das figuras e que foram estimuladas a
aparecer na fala dos informantes pelo investigador, são 20. Tais vocábulos foram agrupados
segundo a posição da líquida intervocálica na sílaba tônica (postônica ou pretônica) e
podem ser observados abaixo12:
TABELA 13 – As 20 palavras com líquidas intervocálicas utilizadas na
entrevista do tipo nomeação de figuras
Posição da líquida intervocálica em relação à sílaba tônica
Posição pretônica
Posição postônica
Líquida distante da Líquida
tônica (CVCVCV)
logo
antes
tônica (CVCV)
da Líquida
em Líquida em posição final (CVCV)
posição medial
(CVCVCV)
Paroxítona
Proparoxítona
Proparoxítona
paroxítona
l

l

______________
l

l

telefone
amarelada
prateleira
amarelo
______________
Óculos
árvore
bola de futebol
horas
televisão
aeroporto
relógio
de bailarina
______________
pílula
pássaros
panela
professora
parede
coração
restaurante
______________
xícara
Óculos
escuros
A tabela 13 acima apresenta as 20 palavras com líquidas intervocálicas (que
nomeiam os desenhos dos elementos presentes nas figuras) em relação à sílaba tônica –
pretônica ou postônica. Dentro dessa primeira segmentação, há uma subdivisão em:
pretônicas → líquida longe da sílaba tônica e logo antes da sílaba tônica; pretônicas →
líquida em posição final e em posição medial. Por fim, são separadas as líquidas em: tepe
ou vibrante simples // e lateral alveolar /l/.
12
Na 3a linha da tabela 13, o símbolo C em negrito corresponde à consoante líquida que está sendo observada.
Nas 20 palavras apresentadas nas 3 últimas linhas da tabela, a líquida em itálico é a que interessa à pesquisa.
56
Note-se que foi listada somente uma palavra com líquida em posição medial: pílula.
Mesmo assim, como se pode observar pela tabela, na palavra pílula, estamos analisando a
líquida em posição final.
AMARAL, M. (1999) afirma que, no Dicionário Aurélio, há 120.000 verbetes
aproximadamente, e somente cerca de 8.520, ou seja, 7% deles são proparoxítonos. Por
isso, para muitos estudiosos, as palavras que apresentam esse acento antepenúltimo são
consideradas exceções, formas marcadas no léxico. Dessa maneira, como não encontramos
palavras suficientes com líquidas em posição medial para uma análise adequada, e como
podemos considerá-las como exceções no português, resolvemos não tratar deste contexto
nas palavras proparoxítonas desta tabela. Ainda assim, não deixamos de abordar totalmente
as proparoxítonas que estão presentes na tabela, na coluna das líquidas postônicas em
posição final de sílaba (com /l/: óculos, pílula; com //: árvore, pássaros, xícara), mesmo
que em número menor: 5. Pelo fato de a estrutura acentual paroxítona ser recorrente em
nossa língua, justifica-se ter 15 palavras paroxítonas no total de 20 palavras.
É possível observar também, pela tabela 13, que as 20 palavras selecionadas para a
entrevista do tipo nomeação de figuras são nomes. Tal escolha se deu pelo fato de ser mais
fácil os informantes falarem os nomes dos seres (objetos, pessoas, animais, etc.) que são
representados pelos desenhos do que falarem não-nomes. E, nesse tipo de entrevista
(nomeação de figuras), deve-se garantir ao máximo que o informante irá dizer as palavras
desejadas pela pesquisa, sendo a escolha de nomes uma busca por essa garantia.
Outra observação a se fazer é quanto às palavras que possuem duas líquidas
intervocálicas apresentadas na tabela acima: amarelada, prateleira, bailarina, amarela e
pílula. Pretendeu-se observar o que ocorre, em relação ao fenômeno estudado, nessas
palavras. Há cancelamento de alguma líquida? Se há, é apenas de uma ou de mais? Qual
líquida favorece mais o cancelamento? Essas são questões que necessitavam de
esclarecimentos e, tendo a presença dessas palavras nesta pesquisa, foi possível iluminar
tais questões de alguma maneira (cf. quarto capítulo). Entretanto, este trabalho se
concentrou mais nas palavras que apresentam apenas uma líquida intervocálica que, nessa
parte de elicitação de figuras, são 15. Isso se deve ao fato de as palavras com uma líquida
apenas serem muito freqüentes na nossa língua. Por fim, resta dizer que não se trabalhou
aqui com palavras oxítonas: jiló Æ il > i; cará Æ kaa > kaa. As oxítonas
57
são em número reduzido no português. Mais reduzido ainda é o número de oxítonas com
líquida intervocálica. A análise do fator estrutural tonicidade apresenta lacunas decorrentes
da estrutura da nossa língua.
3.4. Seleção de variáveis
Ao se analisar a fala, deve-se levar em consideração tanto os fatores internos à
língua quanto os fatores externos (cf. Teoria da variação). Pretende-se investigar se as
escolhas feitas pelos falantes, quanto a uma das variantes do fenômeno em estudo, resultam
desses dois fatores. Por isso, foram investigados os condicionadores internos e externos da
variação que ocorre com as líquidas intervocálicas.
3.4.1. Variável dependente
Há uma alternância entre a forma que apresenta a líquida (variante (1)) e a forma em
que a líquida é cancelada (variante (2)). Dessa maneira, tem-se duas variantes: (1) nãocancelamento da líquida e (2) cancelamento da líquida.
3.4.2. Variáveis independentes
3.4.2.1. Variáveis independentes lingüísticas
Quanto às variáveis independentes analisados nesta pesquisa, as lingüísticas foram:
1) Padrão acentual (paroxítono ou proparoxítono): AMARAL, M. (1999: 216-217),
estudando a síncope em palavras proparoxítonas, aponta para o cancelamento de
líquidas intervocálicas nas seguintes palavras: árvore> [arvi]; abóbora>
[abba];
úlcera>
[ursa];
triângulo>
[trianu];
víspora
>
[vispa]~[vispu]; fósforo> [fsu]~[sfi]; pílula> [pila]. Deve-se
58
investigar se há diferença de comportamento entre as paroxítonas e as
proparoxítonas, em relação ao fenômeno em estudo.
2) Posição da líquida em relação ao acento (pretônico ou postônico):
CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No prelo) afirmam que a líquida
em posição postônica apresenta um cancelamento maior. Deve-se confirmar ou
não esse dado aqui.
3) Qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida: como o ambiente em que
ocorre a líquida em estudo é o ambiente intervocálico, é de fundamental
importância a observação deste fator.
3.4.2.2. Variáveis independentes extralingüísticas
As variáveis independentes extralingüísticas analisadas foram:
1) Sexo → masculino e feminino. As pesquisas em variação apontam para o
comportamento lingüístico diferenciado de acordo com o sexo. Segundo Labov,
as mulheres tendem a ser mais conservadoras em relação à norma culta do que
os homens. Contudo, em relação à mudança, as mulheres são mais inovadoras.
Devemos investigar se há influência do fator sexo no fenômeno estudado.
2) Faixa etária → 18 a 35 anos/ 35 a 55 anos. As idades foram dividas dessa
forma, em função de se estar analisando a fala de professores e alunos
universitários. Foi-nos mais fácil encontrar alunos com idade entre 18 e 35
anos, assim também como professores com idade entre 35 a 55 anos. As
pesquisas em variação lingüística mostram que pode haver uma interferência da
faixa etária nos fenômenos de mudança. Em geral, as pessoas mais jovens são
mais inovadoras e as pessoas mais velhas, mais conservadoras com relação à
mudança. Esta pesquisa trabalha com as idades em tempo aparente, pois é feita
segundo um recorte sincrônico, em função das diferentes faixas etárias.
59
3) Escolaridade → 3º grau: escolaridade 1 (alunos graduandos), escolaridade 2
(professores com Pós-Graduação). A escolaridade é apontada como uma forte
influência no comportamento lingüístico dos falantes. As pessoas com maior
grau de escolaridade utilizam mais a norma culta do que as pessoas com menor
ou nenhuma escolaridade, que tendem a utilizar a variante estigmatizada. A
escolaridade está implícita na faixa etária dos informantes. A escolaridade 1
corresponde à faixa etária de 18-35 anos de idade. A escolaridade 2
corresponde à faixa etária de 35-55 anos de idade.
4) Estilo de Fala → mais formal (entrevista do tipo nomeação de figuras); menos
formal (entrevista do tipo conversa livre). Sabe-se que o grau de formalidade da
fala influencia no uso de uma determinada variante. Em um estilo mais formal,
o falante tende a cuidar mais de sua fala e, por isso, ela se aproxima mais da
norma culta. Ao contrário, em um estilo de fala menos formal, o falante tende a
se distanciar da norma culta. Devemos verificar a influência desse fator que se
mostra muito produtivo nas pesquisas de cunho sociolingüístico.
3.5. Levantamento dos dados
As fitas com as entrevistas foram submetidas à audição e à transcrição. A
transcrição foi feita de forma diferente para os dois tipos de entrevistas: conversa livre e
nomeação de figuras. Na entrevista do tipo conversa livre, a transcrição foi integral. Após
tal transcrição, foram selecionadas todas as palavras que apresentavam líquida
intervocálica. Assim, procedeu-se a diversas audições das fitas, a fim de informar, para
cada palavra selecionada, se a líquida era ou não cancelada.
Na entrevista do tipo nomeação de figuras, foram transcritas somente as 20 palavras
de interesse nesta parte. Tais palavras foram apresentadas na tabela 13. Posteriormente,
também foram realizadas várias audições, para se confirmar ou não o cancelamento de
líquida intervocálica nestas palavras.
60
3.6. Conclusão
Neste capítulo, discutimos alguns aspectos da teoria da variação que serviram de
base para a metodologia adotada no presente trabalho. Também abordamos a teoria da
difusão lexical que é relevante para estudos de fenômenos de variação lingüística.
Apresentamos os procedimentos metodológicos adotados em nossa pesquisa:
critérios de seleção da população e da amostra, coleta e levantamento dos dados. Falamos
ainda sobre a cidade de Belo Horizonte, onde nasceram e residem os informantes, e sobre a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde trabalham e/ou estudam os sujeitos
desta pesquisa. Por fim, abordamos a seleção das variáveis dependente e independentes
(lingüísticas e extralingüísticas).
61
CAPÍTULO 4
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
4.1. Introdução
Neste capítulo, analisaremos e discutiremos os resultados de nossa pesquisa.
Inicialmente, abordaremos as variáveis independentes lingüísticas. Em seguida, veremos as
variáveis independentes extralingüísticas selecionadas no presente trabalho. A análise
estatística sobre o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, feita pelo programa
estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) – Versão 10.0 – também será
apresentada.
4.2. Apresentação geral dos dados do corpus
O corpus da presente pesquisa é composto de dados obtidos de dois tipos de
entrevistas: 1o) conversa livre e 2o) nomeação de figuras (cf. terceiro capítulo). A tabela 14
demonstra a distribuição dos dados quanto ao primeiro tipo de entrevista, conversa livre:
TABELA 14: Dados da entrevista do tipo conversa livre
Entrevista tipo
conversa livre
1
2
3
4
Líquidas /l/ e //
Líquida l
Líquida 
Duas líquidas
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
9409 (94%)
4362 (95%)
4749 (94%)
298 (95%)
567 (6%)
241 (5%)
309 (6%)
17 (5%)
9976
4603
5058
315
A tabela 14 apresenta números relativos aos dados da entrevista do tipo conversa
livre. Na terceira coluna da tabela, são diferenciados os dados que ocorreram nesta
62
entrevista, o que vemos nas linhas (1) a (4). Na linha (1) da tabela, vê-se o total das
palavras com líquida intervocálica que ocorreram neste tipo de entrevista. Na linha (2), vêse o total somente das palavras com a líquida /l/ intervocálica. Já na linha (3), vê-se o total
de palavras com a líquida // intervocálica e, na linha (4), o total de palavras com duas
líquidas intervocálicas na mesma palavra.
Na quarta coluna da tabela 14, são apresentados os números de não-cancelamento
para os dados diferenciados nas linhas (1) a (4). Na quinta coluna, são apresentados os
números de cancelamento para tais dados. Nestas duas colunas, quarta e quinta, são
apresentados os valores percentuais entre parênteses, ao lado dos seus correspondentes
valores absolutos. Na quinta coluna, são apresentados os totais gerais para os dados
diferenciados nas linhas (1) a (4).
Uma primeira conclusão a que se pode chegar analisando os dados acima é que a
líquida //, com 5% de ocorrência, é ligeiramente mais cancelada do que a líquida /l/, com
6% de ocorrência. Há apenas 1% de diferença entre elas. Nas palavras que apresentam duas
líquidas, tais líquidas tiveram o mesmo percentual de cancelamento que a líquida //: 5%.
Portanto, devido à semelhança de valores que há nestes três casos (linhas (2), (3), (4)), é
possível afirmar, preliminarmente, que o cancelamento independe do tipo de líquida. Tal
fenômeno ocorre, em praticamente igual proporção, seja com a líquida /l/, ou com a
líquida //, ou com duas líquidas. Não há favorecimento de nenhum dos casos explicitados
nas linhas (2), (3) e (4) da tabela 14. Contudo, deve-se levar em conta que este é um
fenômeno incipiente e que, portanto, esse resultado pode vir a mudar em um estágio
posterior.
Os números relativos aos dados que ocorreram na entrevista do tipo nomeação de
figuras são apresentados a seguir na tabela 15:
63
TABELA 15: Dados da entrevista do tipo nomeação de figuras
1
2
3
4
Entrevista do tipo
nomeação de figuras
Líquidas /l/ e //
Líquida l
Líquida 
Duas líquidas (só a
palavra pílula)
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
522 (94%)
193 (89%)
306 (98%)
23 (92%)
31 (6%)
23 (11%)
6 (2%)
2 (8%)
553
216
312
25
Na tabela 15, é apresentada a divisão dos dados da entrevista do tipo nomeação de
figuras na terceira coluna. A mesma descrição feita para a tabela 14 vale para esta tabela
15. É preciso lembrar que estes dados são relacionados às vinte palavras selecionadas para
o tipo de entrevista nomeação de figuras (cf. tabela 13).
Pela quinta coluna da tabela 15, na linha (1), percebemos que o percentual de
palavras com líquidas canceladas na entrevista do tipo nomeação de figuras é o mesmo
percentual da entrevista do tipo conversa livre: 6%. Contudo, na entrevista do tipo
nomeação de figuras, notamos um favorecimento do cancelamento da líquida /l/, com
11%, o que não encontramos na entrevista do tipo conversa livre. A líquida // apresenta
um baixo percentual de cancelamento na entrevista do tipo nomeação de figuras, apenas
2%. O percentual de 8% de cancelamento para palavras com duas líquidas se refere à
palavra pílula. Esta foi a única palavra, das cinco palavras com duas líquidas, a ter uma
líquida intervocálica cancelada. As outras quatro palavras com duas líquidas nãocanceladas são: prateleira, amarelo, amarelada e bailarina.
Vejamos, agora, na tabela 16, os resultados de todo o corpus (entrevistas do tipo
conversa livre e do tipo nomeação de figuras).
TABELA 16: Dados de todo corpus
Corpus Inteiro
1
2
3
4
Líquidas /l/ e //
Líquida l
Líquida 
Duas líquidas
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
9931 (94%)
4555 (95%)
5055 (94%)
321 (95%)
598 (6%)
264 (5%)
315 (6%)
19 (5%)
10529
4819
5370
340
64
A tabela 16, que demonstra os resultados de todo o corpus, apresenta dados
percentuais idênticos aos da tabela 14, a qual demonstra os resultados da entrevista do tipo
conversa livre. Assim, na quinta coluna da tabela 16, que apresenta os percentuais de
cancelamento para as linhas (1) a (4), temos: líquidas /l/ e //Æ 6% de cancelamento;
líquida /l/ Æ 5% de cancelamento; líquida // Æ 6% de cancelamento; duas líquidas na
mesma palavra Æ 5% de cancelamento. Essa igualdade de resultados entre as tabelas 14 e
16 se deve ao fato de o número de dados da entrevista do tipo conversa livre (9976 dados)
ser muito superior ao número de dados da entrevista do tipo nomeação de figuras (553
dados). Assim, prevalecem, no corpus inteiro, os resultados da entrevista do tipo conversa
livre.
É bom ressaltar que o baixo valor de cancelamento de líquida intervocálica para
todo o corpus (entrevistas conversa livre e nomeação de figuras), 6%, indica que o
fenômeno em estudo é incipiente. Ainda assim, tal fenômeno merece ser analisado quanto
as suas possíveis tendências de favorecimento, o que nos ocuparemos em fazer daqui em
diante.
4.3.
Variáveis independentes lingüísticas
Vejamos, agora, os resultados referentes às três variáveis independentes lingüísticas
– (1) padrão acentual; (2) posição da líquida em relação ao acento; (3) qualidade das vogais
precedente e seguinte à líquida. A análise de tais variáveis está relacionada à entrevista do
tipo conversa livre. A análise dessas variáveis lingüísticas para a entrevista do tipo
nomeação de figuras foi feita no terceiro capítulo (cf. tabela 13)13.
É preciso apresentar as palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada na
entrevista do tipo conversa livre, pois toda a análise abaixo das variáveis lingüísticas
envolvidas no fenômeno em estudo será feita com base somente em tais palavras. Na
entrevista do tipo conversa livre, foram 125 as palavras com líquida intervocálica
cancelada. Tais palavras são apresentadas na tabela 17:
13
A variável lingüística (3), qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida, não foi considerada para as
20 palavras da entrevista do tipo nomeação de figuras (cf. tabela 13).
65
TABELA 17 – Palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada
LÍQUIDA
l
PALAVRAS
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
35.
36.
37.
38.
39.
40.
alcoólica
análise
aquela
aquelas
aquele
aqueles
aquilo
aula
Belo
cálculo
círculo
colégio
colocando
colocar
colonização
contabilidade
daquilo
daquele
dela
dele
deles
ela
elas
ele
eles
escola
escolas
especialidade
especialista
estímulo
fala
falam
falando
falar
falava
falo
favela
favelas
flexibilização
militar
CANCELA NÃO CANCELA TOTAL
1
1
1
2
1
1
3
1
9
1
1
1
1
1
1
3
1
1
1
5
6
34
4
26
42
3
1
1
1
1
7
1
3
9
1
2
3
2
4
1
100%
13%
50%
100%
50%
100%
75%
50%
60%
100%
100%
100%
100%
50%
50%
8%
50%
100%
100%
56%
86%
20%
57%
12%
29%
30%
100%
100%
100%
100%
50%
100%
100%
56%
100%
50%
20%
67%
44%
100%
0
7
1
0
1
0
1
1
6
0
0
0
0
1
1
34
1
0
0
4
1
135
10
188
102
7
0
0
0
0
7
0
0
7
0
2
12
1
5
0
0%
88%
50%
0%
50%
100%
25%
50%
40%
0%
0%
0%
0%
50%
50%
92%
50%
0%
0%
44%
14%
80%
43%
88%
71%
70%
0%
0%
0%
0%
50%
0%
0%
44%
0%
50%
80%
33%
56%
0%
1
8
2
2
2
1
4
2
15
1
1
1
1
2
2
37
2
1
1
9
7
169
14
214
144
10
1
1
1
1
14
1
3
16
1
4
15
3
9
1
66
l

41.
42.
43.
44.
45.
46.
47.
48.
49.
50.
51.
52.
53
54.
55.
56.
57.
58.
59.
60.
61.
62.
63.
64.
65.
66.
67.
68.
69.
70.
71.
72.
73.
74.
75.
76.
77.
78.
79.
80.
81.
82.
83.
84.
músculo
músculos
naquele
óculos
Paulo
pelo
personalidade
possibilidade
psicanálise
relacionado
revolução
sala
século
SUBTOTAL
adaptaram
agora
área
árvore
autores
brincadeiras
cadeira
câmara
cânceres
Cícero
claro
classificatório
deixarem
dinheiro
direito
ditadura
escritores
escritório
escuro
escuros
estarem
etecétera
fatores
fora
futuro
gênero
história
hora
horas
Horizonte
inteiro
2
1
2
32
2
1
1
1
1
1
1
1
4
239
1
13
2
1
1
1
1
2
1
1
2
1
1
1
5
1
1
1
4
1
2
6
1
1
2
1
1
7
1
12
2
100%
50%
50%
80%
33%
100%
100%
33%
9%
100%
100%
100%
100%
30%
100%
22%
29%
100%
100%
100%
14%
40%
100%
50%
50%
100%
100%
50%
12%
50%
100%
100%
57%
100%
67%
55%
100%
33%
67%
25%
20%
58%
100%
48%
29%
0
1
2
8
4
0
0
2
10
0
0
0
1
563
0
47
5
0
0
0
6
3
0
1
2
0
0
1
37
1
0
0
3
0
1
5
0
2
1
3
4
5
0
13
5
0%
50%
50%
20%
67%
0%
0%
67%
91%
0%
0%
0%
0%
70%
0%
78%
71%
0%
0%
0%
86%
60%
0%
50%
50%
0%
0%
50%
88%
50%
0%
0%
43%
0%
33%
45%
0%
67%
33%
75%
80%
42%
0%
52%
71%
2
2
4
40
6
1
1
3
11
1
1
1
5
802
1
60
7
1
1
1
7
5
1
2
4
1
1
2
42
2
1
1
7
1
3
11
1
3
3
4
5
12
1
25
7
67

l+
+l
+
l+l
l+l
85.
86.
87.
88.
89.
90.
91.
92.
93.
94.
95.
96.
97.
98.
99.
100.
101.
102.
103.
104.
105.
106.
107.
108.
109.
110.
111.
112.
113.
114.
115.
116.
117.
118.
119.
120.
121.
122.
123
124.
125.
intermediárias
janeiro
lugares
maneiras
marido
matéria
matérias
menores
morei
mulheres
necessária
número
números
para
poderia
prefere
primeiros
procura
procurar
professores
querem
querer
questionário
senadores
série
Teixeira
teóricas
teria
tributária
vários
voltaram
SUBTOTAL
brasileiro
brasileiros
calculadora
musculatura
valores
generalizar
variabilidade
horário
celular
megalópole
SUBTOTAL
TOTAL GERAL
1
5
6
1
1
1
1
7
5
6
1
1
1
172
3
1
1
1
1
1
1
1
1
1
4
1
1
1
1
2
1
311
1
2
1
1
1
1
1
1
6
2
17
567
100%
100%
37%
100%
100%
20%
25%
54%
83%
24%
100%
50%
20%
20%
50%
100%
100%
100%
50%
50%
100%
33%
100%
100%
50%
100%
50%
100%
25%
50%
100%
26%
33%
100%
50%
100%
50%
50%
17%
50%
55%
67%
50%
28%
0
0
10
0
0
4
3
6
1
19
0
1
4
687
3
0
0
0
1
1
0
2
0
0
4
0
1
0
3
2
0
895
2
0
1
0
1
1
5
1
5
1
17
1475
0%
0%
63%
0%
0%
80%
75%
46%
17%
76%
0%
50%
80%
80%
50%
0%
0%
0%
50%
50%
0%
67%
0%
0%
50%
0%
50%
0%
75%
50%
0%
74%
67%
0%
50%
0%
50%
50%
83%
50%
45%
33%
50%
72%
1
5
16
1
1
5
4
13
6
25
1
2
5
859
6
1
1
1
2
2
1
3
1
1
8
1
2
1
4
4
1
1206
3
2
2
1
2
2
6
2
11
3
34
2042
68
A tabela 17 apresenta as 125 palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada na
entrevista do tipo conversa livre. Esta tabela discrimina, com números absolutos e
percentagens, as vezes em que houve e não houve cancelamento de líquida intervocálica em
cada palavra uma das 125 palavras. O total de ocorrências para cada palavra também é
apresentado na última coluna desta tabela. Os números relativos a todas as ocorrências de
nosso corpus foram apresentados na tabela 16. Pelo total geral (cf. última linha da tabela
17), vê-se que, das 2042 vezes que as 125 palavras ocorreram, elas tiveram líquida
intervocálica cancelada por 567 (28%) vezes.
Na tabela 17, as 125 palavras estão separadas quanto à líquida que apresentam. De
(1) a (53), são apresentadas as palavras com a líquida /l/, o que soma um total de 53
ocorrências com esta líquida. De (54) a (115) são apresentadas as palavras com a líquida
//, o que soma um total de 62 ocorrências com esta líquida. A diferença entre as palavras
que apresentam /l/ e as que apresentam // é relativamente pequena: há 9 (8%) palavras
com // a mais
De (116) a (125) são apresentadas as palavras com duas líquidas que estão
separadas quanto às possíveis combinações entre /l/ e //: l + ;  + l;  + ; l + l. No
total, há 10 ocorrências de palavras com duas líquidas. Esse baixo número se deve ao fato
de tais palavras serem menos recorrentes em nossa língua. Deve-se salientar que, nesta
parte, a líquida cancelada está marcada em itálico na tabela 17. Passemos, afinal, à análise
de cada variável independente lingüística selecionada pelo presente estudo.
4.3.1. Padrão acentual (paroxítono e proparoxítono)
Constatamos, em nosso corpus, o cancelamento de líquidas tanto em palavras
paroxítonas como em palavras proparoxítonas. Das 125 palavras que tiveram líquida
intervocálica cancelada, 84% são paroxítonas e 16% são proparoxítonas. Na próxima seção,
4.3.2, são apresentadas tabelas que dividem, em proparoxítonas (cf. tabela 18) e
paroxítonas (cf. tabela 19), as 125 palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada na
entrevista do tipo conversa livre.
69
A grande diferença de comportamento entre palavras paroxítonas e proparoxítonas
deve-se mesmo ao fato de as palavras proparoxítonas serem pouco numerosas em
português. O padrão acentual proparoxítono é uma forma marcada em nossa língua, como
já se disse anteriormente. Acreditamos que não podemos considerar o acento paroxítono
como um favorecedor da aplicação do fenômeno focalizado aqui, apesar de sua alta
ocorrência (84%). É preciso relevar o que foi dito logo acima e na seção 3.3, a respeito das
proparoxítonas. A maior contribuição de nossa pesquisa, nesse caso, é mostrar que o
cancelamento de líquidas intervocálicas ocorre tanto em vocábulos paroxítonos como em
vocábulos proparoxítonos.
4.3.2. Posição da líquida em relação ao acento – pretônico ou
postônico
Quanto à posição da líquida em relação ao acento, observou-se o favorecimento do
ambiente postônico final, para o cancelamento de líquidas intervocálicas. As tabelas 18 e
19 abaixo ilustram esse fato.
70
TABELA 18 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras
proparoxítonas
LÍQUIDA PALAVRAS
(proparoxítonas)
1 alcoólica
2 análise
3 cálculo
4 círculo
5 estímulo
l
6 músculo
7músculos
8 óculos
9 psicanálise
10 século
11 árvore
12 câmara
13 cânceres
14 Cícero
15 etecétera
16 gênero

17 número
18 números
19 teóricas
20 megalópole
l+l
Ambiente da líquida
Postônica medial
Postônica medial
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica medial
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica medial
Postônica final
TOTAL PARCIAL DE
PROPAROXÍTONA
(20 ocorrências ou
16%)
Total
Post. Medial:
3
Post. Final:
7
Post. Medial:
1
Post. Final:
8
Post. Final:
Post. Medial:
4 (20%)
Post. Final:
16 (80%)
1
71
TABELA 19 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras
paroxítonas
LÍQUIDA PALAVRAS
(paroxítonas)
1 aquela
2 aquelas
3 aquele
4 aqueles
5 aquilo
6 aula
7 Belo
8 colégio
9 colocando
10 colocar
11 colonização
12 contabilidade
13 daquilo
14 daquele
15 dela
16 dele
17 deles
18 ela
19 elas
20 ele
21 eles
22 escola
l
23 escolas
24 especialidade
25 especialista
26 fala
27 falam
28 falando
29 falar
30 falava
31 falo
32 favela
33 favelas
34 flexibilização
35 militar
36 naquele
37 Paulo
38 pelo
39 personalidade
Ambiente da líquida
Total
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica perto
Pretônica longe
Pretônica longe
Pretônica longe
Pretônica longe
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica longe
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica longe
Pretônica longe
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica longe
Post. Final:
28
Pret. Perto tôn.: 4
Pret. Longe tôn: 11
72
l

40 possibilidade
41 relacionado
42 revolução
43 sala
44 adaptaram
45 agora
46 área
47 autores
48 brincadeiras
49 cadeira
50 claro
51 classificatório
52 deixarem
53 dinheiro
54 direito
55 ditadura
56 escritores
57 escritório
58 escuro
59 escuros
60 estarem
61 fatores
62 fora
63 futuro
64 história
Pretônica longe
Pretônica longe
Pretônica longe
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
65 hora
66 horas
67 Horizonte
68 inteiro
69 intermediárias
70 janeiro
71 lugares
72 maneiras
73 marido
74 matéria
75 matérias
76 menores
77 morei
78 mulheres
79 necessária
80 para
81 poderia
82 prefere
83 primeiros
Postônica final
Postônica final
Pretônica longe
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Post. Final:
46
Pret. Perto tôn.: 6
Pret. Longe tôn. 1
73
l+
+l
+
l+l
84 procura
85 procurar
86 professores
87 querem
88 querer
89 questionário
90 senadores
91 série
92 Teixeira
93 teria
94 tributária
95 vários
96 voltaram
97 brasileiro
98 brasileiros
99 calculadora
100 musculatura
101 valores
102 generalizar
103 variabilidade
104 horário
105 celular
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica perto
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Postônica final
Pretônica longe
Pretônica longe
Postônica final
Pretônica perto
TOTAL PARCIAL
DE PAROXÍTONA
(105 ocorrências ou
84% )
TOTAL GERAL
(das tabelas 18,
proparoxítonas, e 19,
paroxítonas)
Post. final:
6
Pret perto tôn.: 1
Pret. longe tôn.: 2
Post. Final:
80 (76%)
Pret. perto tôn.:
11 (11%)
Pret. longe tôn.:
14 (13%)
Post. Final:
96 (77%)
Post. Medial:
4 (3%)
Pret. perto tôn.:
11 (9%)
Pret. longe tôn.:
14 (11%)
Soma geral: 125
Além de as tabelas 18 e 19 separarem as palavras paroxítonas das palavras
proparoxítonas, também, em cada uma delas, são separadas as palavras que contêm a lateral
/l/ das palavras que contêm o tepe // e das palavras que apresentam duas líquidas
74
intervocálicas. O ambiente em que ocorre a líquida é fornecido na terceira coluna das
tabelas e, na quarta coluna, vemos os números relativos a tais ambientes. Assim, quanto às
proparoxítonas (cf. última linha da tabela 18), os resultados são os seguintes:
a) postônica medial: 20%
b) postônica final: 80%
Não se observam números relativos ao ambiente pretônico nesta parte das palavras
proparoxítonas, pelo fato de as líquidas canceladas em tais palavras terem se apresentado
somente na posição postônica. Nota-se, por esses dados, a maior ocorrência de
cancelamento de líquida intervocálica em palavras com líquida em posição postônica final.
Quanto às paroxítonas (cf. antepenúltima linha da tabela 19), tem-se os seguintes
resultados:
a) pretônica perto da tônica: 11%
b) pretônica longe da tônica: 13%
c) postônica final: 76%
Neste caso, cancelamento de líquidas intervocálicas é bem mais freqüente em
palavras com líquida em posição postônica final do que em palavras com líquida em
posição pretônica, perto ou longe da tônica. Não há postônicas mediais, pois estas ocorrem
somente em palavras proparoxítonas.
Quanto aos resultados relativos às palavras proparoxítonas e paroxítonas juntas (cf.
penúltima linha da tabela 19, total geral), tem-se:
a)
b)
c)
d)
pretônica perto da tônica: 9%
pretônica longe da tônica: 11%
postônica medial: 3%
postônica final: 77%
Pela análise desses últimos números, percebemos que a posição postônica final pode
ser apontada como um fator favorecedor à aplicação do fenômeno em estudo. Esse dado
confirma a hipótese de CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No prelo) de que o
75
cancelamento de líquidas intervocálicas ocorre preferencialmente, na posição postônica
final.
Contudo, é preciso considerar que esse favorecimento do ambiente postônico final
não tem o caráter de uma regra neogramática, visto que o cancelamento de líquidas
intervocálicas ocorre também no ambiente pretônico e, mesmo, na sílaba postônica medial
(cf. tabelas 18 e 19). É provável que o favorecimento deste fator estrutural se deva ao fato
de que o ambiente postônico final é prosodicamente mais fraco. Nas línguas naturais, o
enfraquecimento consonantal é recorrente neste tipo de sílaba. Assim, esse favorecimento
do fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas em sílaba postônica final segue o
comportamento recorrente nas línguas naturais: sílabas átonas ou sem proeminência podem
estar sujeitas a alterações segmentais.
4.3.3. Qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida
A última variável lingüística a ser analisada no presente trabalho é a qualidade das
vogais precedente e seguinte à líquida. As tabelas 20 a 26 abaixo dividem as 125 palavras,
que tiveram líquida intervocálica cancelada na entrevista do tipo conversa livre, quanto às
vogais anterior e posterior à líquida.
Essas palavras são apresentadas da seguinte forma: as palavras não-grifadas são as
que apresentam a líquida //. As palavras em itálico são as que apresentam a líquida /l/, e
as sublinhadas são as que apresentam duas líquidas ao mesmo tempo. As palavras em caixa
alta são as que apresentam ditongos orais ou nasais. Dito isto, é importante salientar que
não encontramos restrições quanto à presença de vogais orais ou nasais, e de ditongos orais
ou nasais, adjacentes às líquidas /l/ e //. Todos ocorrem em nosso corpus (cf. tabelas 20,
22-26).
76
TABELA 20 – Vogal anterior à líquida: i
Vogal
anterior à
líquida
i
Vogal
posterior
à líquida
i
e

a

o
Palavras
Total
Contabilidade, flexibilização, militar, possibilidade,
variabilidade
5 (28%)
BRINCADEIRAS, CADEIRA, MANEIRAS, TEIXEIRA
4 (22%)
Aquilo, daquilo, DINHEIRO, DIREITO, INTEIRO, JANEIRO,
brasileiro, brasileiros
9 (50%)
PRIMEIROS,
u
Total
18 (14%)
TABELA 21 – Vogal anterior à líquida: e
Vogal
anterior à
líquida
e
Vogal
posterior
à líquida
i
e

a

o
u
Palavras
Total
Poderia, teria
Aquele, aqueles, daquele, dele, deles, ele, eles, naquele,
cânceres
2 (12%)
9 (53%)
Relacionado
1 (6%)
Pelo, Cícero, gênero, número, números
5 (29%)
Total
17 (14%)
TABELA 22 – Vogal anterior à líquida: 
Vogal
anterior à
líquida

Total
Vogal
posterior
à líquida
i
e

a

o
u
Palavras
Total
Matéria, matérias, série
Mulheres, prefere, QUEREM, querer
3 (19%)
4 (25%)
Aquela, aquelas, dela, ela, elas, favela, favelas, etecétera
8 (50%)
Belo
1 (6%)
16 (13%)
77
TABELA 23 – Vogal anterior à líquida: a
Vogal
anterior à
líquida
a
Vogal
posterior
à líquida
i
Palavras
e

a
Área, DEIXAREM, ESTAREM, lugares
4 (14%)
Fala, falam, falando, falar, falava, sala, ADAPTARAM, câmara,
para, VOLTARAM
10 (34%)

o
u
Análise, especialidade, especialista, personalidade, psicanálise,
Total
13 (45%)
INTERMEDIÁRIAS, marido, NECESSÁRIA, QUESTIONÁRIO,
TRIBUTÁRIA, VÁRIOS, generalizar, horário
Falo, claro
Total
2 (7%)
29 (23%)
TABELA 24 – Vogal anterior à líquida: 
Vogal
anterior à
líquida

Vogal
posterior à
líquida
i
e

a

o
u
Palavras
Alcoólica, CLASSIFICATÓRIO, ESCRITÓRIO, HISTÓRIA, teóricas
Menores
Colégio
Escola, escolas, agora, fora, hora, horas
Total
Total
5 (38%)
1 (8%)
1 (8%)
6 (46%)
13 (10%)
TABELA 25 – Vogal anterior à líquida: o
Vogal
anterior à
líquida
o
Total
Vogal
posterior à
líquida
i
e

a

o
u
Palavras
Total
Horizonte
Árvore, autores, escritores, fatores, MOREI, professores,
senadores, valores, megalópole
1 (7%)
9 (60%)
calculadora
1 (7%)
Colocando, colocar, colonização
Revolução
3 (20%)
1 (7%)
15 (12%)
78
TABELA 26 – Vogal anterior à líquida: u
Vogal
anterior à
líquida
u
Vogal
posterior à
líquida
i
e

a

o
Palavras
Total
AULA, ditadura, procura, procurar, musculatura, celular
6 (35%)
Cálculo, círculo, estímulo, músculo, músculos, óculos,
PAULO, século, escuro, escuros, futuro
11 (65%)
u
Total
17 (14%)
As tabelas 20 a 26 acima esgotam as possibilidades de combinações entre as vogais
anteriores e posteriores à líquida. Na primeira coluna de tais tabelas, aparecem as vogais
anteriores à líquida. Na segunda coluna, tem-se as vogais posteriores à líquida. Na terceira,
aparecem as palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada no corpus.
Na quarta coluna das tabelas 20 a 26, tem-se o total das ocorrências em números
absolutos e percentagens. As percentagens das linhas (2) a (8) de tais tabelas são calculadas
com base no total de cada uma das tabelas de 20 a 26. As percentagens da última linha de
cada tabela (cf. total nas tabelas 20 a 26) são calculadas com base naquele no total de 125
palavras.
Como observamos pelas tabelas 20 a 26, a vogal anterior à líquida que mais
favoreceu a aplicação do fenômeno é a vogal /a/, com 23% de ocorrência. Mesmo assim,
não podemos afirmar, categoricamente, que a vogal /a/ é, estruturalmente, determinante na
aplicação do fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas, porque 23% é um valor
baixo. Podemos apontar o favorecimento de tal vogal como uma tendência, no máximo.
Nas tabelas 20 a 26, as outras vogais se encontram relativamente distantes de /a/. As
vogais /i/, /e/ e /u/ apresentam 14% de ocorrência de cancelamento de líquida intervocálica
cada uma. Depois, vêm as vogais // com 13%, /o/ com 12% e // com 10%. Em relação à
vogal posterior à líquida, vejamos a tabela 27 que nos apresenta os seguintes dados:
79
TABELA 27 – Vogais posteriores à líquida
Vogais posteriores à
líquida
Ocorrência total em
percentagem
i
Ocorrência total
em números
absolutos
29
e

a

o
u
TOTAL
27
1
36
0
31
1
125
21%
0,8%
29%
0%
25%
0,8%
100%
23%
Como se pode notar, a vogal posterior à líquida que mais favoreceu o cancelamento
é também a vogal /a/, com 29%. Em segundo lugar, vem a vogal /o/ com 25%. Em
terceiro, a vogal /i/ com 23% e, em quarto, a vogal /e/ com 21%. Novamente, temos um
número baixo, para a vogal /a/ (29%), que não nos permite dizer que tal vogal, em posição
posterior à líquida, é determinante na aplicação do fenômeno em estudo. Neste caso,
podemos falar somente em uma possível tendência.
As outras três vogais, numericamente, se distanciam em muito das quatro primeiras.
As vogais // e /u/ apresentam um percentual baixíssimo: 0,8%. Já a vogal // não ocorreu
após a líquida: 0%. Podemos dizer que há uma tendência de as vogais // e /u/ e //,
quando seguindo a líquida, desfavorecerem o cancelamento de líquidas intervocálicas.
Analisando as combinações entre as vogais anteriores e posteriores, temos os
seguintes valores apresentados nas tabelas 28 a 34:
80
TABELA 28 – Vogal i
Vogal anterior à líquida Vogal
líquida
i
posterior
i
e

a

o
u
TOTAL
à Números percentuais em relação ao total de
ocorrências de palavras canceladas (125
palavras)
4%
0%
0%
3%
0%
7%
0%
14%
TABELA 29 – Vogal e
Vogal anterior à líquida Vogal
líquida
e
posterior
i
e

a

o
u
TOTAL
à Números percentuais em relação ao total de
ocorrências de palavras canceladas (125
palavras)
2%
7%
0%
1%
0%
4%
0%
14%
TABELA 30 – Vogal 
Vogal anterior à líquida Vogal
líquida

i
e

a

o
u
TOTAL
posterior
à Números percentuais em relação ao total de
ocorrências de palavras canceladas (125
palavras)
2%
3%
0%
6%
0%
1%
0%
12%
81
TABELA 31 – Vogal a
Vogal anterior à líquida Vogal
líquida
a
posterior
i
e

a

o
u
TOTAL
à Números percentuais em relação ao total de
ocorrências de palavras canceladas (125
palavras)
10%
3%
0%
8%
0%
2%
0%
23%
TABELA 32 – Vogal 
Vogal anterior à líquida Vogal
líquida

posterior
i
e

a

o
u
TOTAL
à Números percentuais em relação ao total de
ocorrências de palavras canceladas (125
palavras)
4%
1%
1%
5%
0%
0%
0%
11%
TABELA 33 – Vogal o
Vogal anterior à líquida Vogal
líquida
o
i
e

a

o
u
TOTAL
posterior
à Números percentuais em relação ao total de
ocorrências de palavras canceladas (125
palavras)
1%
7%
0%
1%
0%
2%
1%
12%
82
TABELA 34 – Vogal u
Vogal anterior à líquida Vogal
líquida
u
i
e

a

o
u
TOTAL
posterior
à Números percentuais em relação ao total de
ocorrências de palavras canceladas (125
palavras)
0%
0%
0%
5%
0%
9%
0%
14%
Os dados percentuais apresentados nas tabelas 28 a 34 são calculados com base no
total das 125 palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada, demonstradas na tabela
17. Notamos, através das tabelas 28 a 34, que o ambiente intervocálico que mais tende a
favorecer o cancelamento de líquidas é a seqüência /a/ + /i/, com 10% de ocorrência. Em
segundo lugar, vem a seqüência /u/ + /o/, com 9% e, em terceiro, vem a seqüência /a/ +
/a/, com 8%. As seqüências /i/ + /o/, /e/ + /e/, /o/ + /e/ têm 7% de ocorrência cada uma.
Estas seriam as combinações de vogais anteriores e posteriores que mais tendem a
favorecer a aplicação do fenômeno em estudo.
Novamente, percebe-se que as vogais médias baixas desfavorecem o cancelamento
de líquidas intervocálicas. A combinação // + // apresenta ocorrência muito baixa: 1
única ocorrência, ou seja, 1%. Em todas as outras combinações das vogais anteriores à
líquida com as vogais médias baixas // e // posteriores à líquida, não há uma única
ocorrência (0% de ocorrência).
Contudo, não nos é possível apontar a seqüência /a/ + /i/ como determinante na
aplicação do fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. Tal seqüência, apesar
de ser mais recorrente do que as outras, ainda apresenta uma freqüência muito baixa: 10%
de ocorrência. Portanto, podemos afirmar, por tudo que foi visto nesta seção, que a
qualidade da vogal não parece influenciar, de forma definitiva, no cancelamento de líquidas
intervocálicas. O que podemos fazer, neste estágio de pesquisa e análise, no máximo, são
conjecturas a respeito de tendências do ambiente intervocálico.
83
4.3.4. Conclusão
Foram selecionadas três variáveis independentes lingüísticas na presente pesquisa:
1) padrão acentual (paroxítono ou proparoxítono); 2) posição da líquida em relação ao
acento – pretônico ou postônico – e 3) qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida.
Ao analisarmos tais variáveis, vimos que somente a posição da líquida em relação ao
acento – pretônico ou postônico – é que é relevante ao fenômeno em estudo.
Assim, constatamos, como CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No
prelo), que a sílaba postônica final tende a favorecer o cancelamento de líquidas
intervocálicas. Contudo, não como em uma regra categórica, já que líquidas em sílaba
pretônica, ou mesmo em sílaba postônica medial, são canceladas quando em posição
intervocálica. Apontamos que o fato de o ambiente postônico final ser fraco
prosodicamente pode estar determinando esse favorecimento.
4.4.
Variáveis independentes extralingüísticas
Passemos, agora, a tratar dos resultados quanto às seguintes variáveis independentes
extralingüísticas (cf. terceiro capítulo): 1) sexo; 2) faixa etária – a escolaridade é prevista
por este fator – e 3) estilo de fala. Analisamos também os fatores área acadêmica e curso
acadêmico pelo fato de os informantes de nossa pesquisa serem alunos ou professores
universitários. Consideramos, ainda, os fatores palavra e indivíduo, por estarmos
considerando a proposta teórica da difusão lexical (cf. WANG, 1969; OLIVEIRA, 1992).
Devemos esclarecer que a análise feita aqui é válida para os dois tipos de
entrevistas, conversa livre e nomeação de figuras. Essas entrevistas são analisadas em
separado, na maior parte das vezes, por causa de alguma diferença no comportamento dos
informantes em cada uma delas. Isto será discutido em cada caso relevante. Além da análise
das variáveis extralingüísticas em separado, são demonstradas, posteriormente, algumas
correlações entre elas. Os ANEXOS 4 e 5 apresentam, em tabelas e gráficos, os dados
percentuais de nossa pesquisa quanto a essas variáveis e às correlações entre tais variáveis,
para os dois tipos de entrevistas: entrevista livre e nomeação de figuras. O ANEXO 6
84
apresenta os casos de cancelamento e de não-cancelamento na entrevista do tipo nomeação
de figuras.
4.4.1. Sexo
A tabela 35 abaixo apresenta os números relativos à ocorrência de palavras com
líquidas – canceladas e não-canceladas – na entrevista do tipo conversa livre, quanto ao
sexo: masculino e feminino. Vejamos:
TABELA 35 – Sexo (entrevista do tipo conversa livre)
Sexo
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
1.
Homens
5174 (93%)
379 (7%)
5553
2.
Mulheres
4235 (96%)
188 (4%)
4423
Quanto ao sexo, é possível perceber que os homens, com um total de 7% de
cancelamento, tendem a cancelar mais líquidas intervocálicas do que as mulheres, com um
total de 4%. Essa tendência se manifesta também na entrevista do tipo nomeação de figuras,
o que vemos na tabela 36:
TABELA 36 – Sexo (entrevista do tipo nomeação de figuras)
Sexo
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
1.
Homens
263 (92%)
22 (8%)
285
2.
Mulheres
259 (97%)
9 (3%)
268
Os homens, com 8% de cancelamento de líquidas intervocálicas, apresentam um
pouco mais que o dobro de cancelamento das mulheres, com 3%. Esse comportamento é
confirmado na análise dos informantes individualmente. Por esse motivo, é importante
investigar se é o fator sexo ou o fator indivíduo que determina a aplicação do fenômeno em
estudo. Faremos uma análise do fator indivíduo na seção 4.4.6. E nas seções 4.4.7.1 a
4.4.7.5, apresentaremos testes estatísticos que devem responder a tal questão.
85
4.4.2. Faixa etária (escolaridade)
A faixa etária foi estabelecida segundo os dois níveis de escolaridade dos
informantes, todos com 3o grau:
a) Nível de escolaridade 1: aluno(a) universitário(a)Æ 18-35 anos de idade
b) Nível de escolaridade 2: professor(a) universitário(a)Æ 35 a 55 anos de idade
Como se pode ver, a escolaridade dos informantes pode ser prevista pela sua faixa
etária e vice-versa. A tabela 37 apresenta o número de cancelamento e de não-cancelamento
das palavras com líquida intervocálica que ocorreram na entrevista do tipo conversa livre,
segundo as faixas etárias explicitadas acima.
TABELA 37 – Faixa etária (entrevista do tipo conversa livre)
Faixa etária
1
2
Professores
Alunos
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
5376 (96%)
4033 (93%)
252 (4%)
315 (7%)
5628
4348
A tabela 37 demonstra que os alunos (18-35 anos), com um total de 7% de
cancelamento, tendem a cancelar mais as líquidas intervocálicas do que os professores
universitários (35-55 anos), com um total de 4%. Se os jovens favorecem mais a aplicação
de um fenômeno de mudança, podemos postular que essa é uma mudança em progresso.
Contudo, não nos é possível afirmar categoricamente que o cancelamento de líquidas
intervocálicas é um caso de mudança em progresso, pelo fato de o número de cancelamento
total de nosso corpus ser baixo: 598 palavras ou 6% do corpus. Contudo, seria interessante
que pesquisas futuras observassem se essa tendência de os jovens cancelarem mais líquidas
intervocálicas do que os velhos progride, mantém-se ou não.
Vejamos agora a variável extralingüística faixa etária na entrevista do tipo
nomeação de figuras. A tabela 38 apresenta os números de cancelamento e de não
cancelamento em tal entrevista, quanto a esse fator.
86
TABELA 38 – Faixa etária (entrevista do tipo nomeação de figuras)
Faixa etária
1.
2.
Professores
Alunos
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
248 (95%)
274 (94%)
14 (5%)
17 (6%)
262
291
Em relação à faixa etária observou-se uma semelhança entre os resultados dos dois
tipos de entrevistas: os jovens (alunos) tendem a cancelar mais líquidas intervocálicas dos
que os velhos (professor). Contudo, nessa entrevista de nomeação de figuras, a diferença
entre jovens (com 6% de cancelamento de líquidas) e velhos (com 5%) é muito pequena:
apenas de 1%. Já na entrevista do tipo conversa livre, como se viu, os jovens cancelaram
7% e os mais velhos, 4%; havendo quase o dobro de diferença entre eles.
Com base nesse resultado, podemos chegar à conclusão de que o fator faixa etária
talvez não tenha tanta relevância na análise do fenômeno em estudo. Em decorrência disso,
devemos observar os resultados dos dados estatísticos (cf. seções 4.4.7.1 a 4.4.7.5). Por
esse motivo, é preciso ter cautela ao se considerar o fenômeno em estudo como um caso de
mudança em progresso. Não há resultados conclusivos que nos permitam fazer tal
afirmação.
4.4.3. Estilo de fala
O estilo de fala foi avaliado quanto aos dois tipos de entrevistas adotados na
presente pesquisa: conversa livre e nomeação de figuras. Acreditamos que, na entrevista do
tipo nomeação de figuras, predomina um estilo de fala mais formal do que na entrevista do
tipo conversa livre. O falante se atém mais à forma de cada palavra que pronuncia na
entrevista do tipo nomeação de figuras. Há, então, uma tendência de se usar mais a fala
formal neste tipo de entrevista.
Já na conversa livre, no início da entrevista, o falante pode até se manifestar
lingüisticamente de maneira mais cuidada. Contudo, após esse começo, o falante vai se
descontraindo e a sua fala se torna menos formal. Através de tal entrevista é que se obtém a
fala o mais espontânea possível.
87
Como se viu na seção 4.2 (cf. tabelas 14 e 15), o número total de não-cancelamento
e de cancelamento de líquidas intervocálicas é o mesmo nos dois tipos de entrevistas
citados acima: 94% de não-cancelamento e 6% de cancelamento. Esse dado nos permite
concluir que o fator estilo de fala parece não ser relevante ao fenômeno em estudo. Mais à
frente, deveremos confirmar ou não essa hipótese (cf. seção 4.4.6).
4.4.4. Área acadêmica
Como os informantes de nossa pesquisa são professores e alunos universitários, eles
foram divididos segundo a área acadêmica a que pertencem. Assim, trabalhou-se com três
áreas no presente estudo: 1) Humanas; 2) Exatas/Gerenciais; 3) Biológicas. A tabela 39
abaixo apresenta os números de cancelamento e não-cancelamento das palavras com
líquidas intervocálicas que ocorreram na parte de entrevista do tipo conversa livre.
TABELA 39 – Área acadêmica (entrevista do tipo conversa livre)
Área Acadêmica
1 Humanas
2 Exatas/Gerenciais
3 Biológicas
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
3804 (96%)
2781 (95%)
2824 (92%)
158 (4%)
150 (5%)
259 (8%)
3962
2931
3083
Pela tabela 39, nota-se que a área de Biológicas apresenta um maior número de
cancelamento: 8%. As áreas de Humanas e de Exatas/Gerenciais apresentam,
respectivamente, 4% e 5% de cancelamento. Acreditamos que essa diferença, que aponta a
área de Biológicas com um maior percentual, reflita o comportamento lingüístico de dois
dos oito falantes da área de Biológicas, em especial: o professor e o aluno de Educação
Física (ao falarmos do fator indivíduo na seção 4.4.6, trataremos com detalhes desse fato).
Por causa disso, podemos supor que a variável área acadêmica não seja tão importante para
o fenômeno de cancelamento de líquidas. Os testes estatísticos apresentados, à frente,
deverão esclarecer-nos sobre essa questão.
Vejamos agora como o fator área acadêmica atua na entrevista do tipo nomeação de
figura, através da tabela 40:
88
TABELA 40 – Área acadêmica (entrevista do tipo nomeação de figuras)
Áreas Acadêmicas
1.
2.
3.
Humanas
Exatas/Gerenciais
Biológicas
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
176 (93%)
177 (95%)
169 (96%)
14 (7%)
10 (5%)
7 (4%)
190
187
176
Pela análise da tabela 40, observa-se o inverso do que ocorreu, quanto à área
acadêmica, na entrevista do tipo conversa livre (tabela 39). A tabela 41 apresenta uma
comparação entre os resultados do fator área acadêmica para os dois tipos de entrevistas.
TABELA 41 – Comparação entre os resultados do fator área acadêmica para a
entrevista do tipo conversa livre e a do tipo nomeação de figuras
Entrevista do tipo conversa livre
o
Entrevista do tipo nomeação de figuras
1 ) Biológicas (8%)
1o) Humanas (7%)
2o) Exatas/Gerenciais (5%)
2o) Exatas/Gerenciais (5%)
3o) Humanas (4%)
3o) Biológicas (4%)
A percentagem maior na entrevista de nomeação de figuras, para a área acadêmica
de Humanas, se deve ao comportamento lingüístico do aluno de Direito que foi o
informante que mais cancelou líquida neste tipo de entrevista, com 16% de cancelamento.
A professora de Direito, por exemplo, teve 0% de cancelamento. Porém, o desempenho
desse aluno fez elevar a média de cancelamento nesse grupo, área de Humanas. Na análise
do fator indivíduo, na seção 4.4.6, esse dado deverá ficar mais claro. Mas, novamente,
serão as análises estatísticas, apresentadas à frente, que deverão confirmar ou não a
importância do fator área acadêmica no fenômeno do cancelamento de líquidas
intervocálicas.
4.4.5. Curso acadêmico
89
Os informantes desta pesquisa foram selecionados segundo os seguintes cursos,
dentro das já citadas áreas acadêmicas (cf. seção 3.2):
1) Humanas: Direito e Psicologia.
2) Exatas/gerenciais: Ciências Contábeis e Estatística.
3) Biológicas: Medicina e Educação Física.
Na tabela 42, tem-se a distribuição dos valores de cancelamento e de nãocancelamento na entrevista do tipo conversa livre, de acordo com esses cursos:
TABELA 42 – Curso acadêmico (entrevista do tipo conversa livre)
Curso
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Direito
Psicologia
Ciências Contábeis
Estatística
Medicina
Educação Física
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
2128 (95%)
1676 (97%)
1748 (95%)
1033 (94%)
1094 (93%)
1730 (91%)
106 (5%)
52 (3%)
89 (5%)
61 (6%)
78 (7%)
181 (9%)
2234
1728
1837
1094
1172
1911
Como a tabela acima demonstra, dos seis cursos selecionados nesta pesquisa –
Direito, Psicologia, Ciências Contábeis, Estatística, Medicina e Educação Física – este
último apresentou uma percentagem maior de cancelamento de líquidas intervocálicas: 9%.
O curso com menor freqüência de cancelamento de líquidas é o de psicologia, com 3%. Há
uma diferença entre o curso que mais apresentou cancelamento e o que menos apresentou
cancelamento é de exatamente o triplo. Isso nos permite inferir que o fator curso acadêmico
pode ser relevante quanto ao fenômeno em estudo. Devemos ver o que a análise estatística
feita à frente concluirá a esse respeito.
Vejamos agora, na tabela 43, o comportamento do fator curso acadêmico quanto à
entrevista do tipo nomeação de figuras:
90
TABELA 43 – Curso acadêmico (entrevista do tipo nomeação de figuras)
Cursos
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Direito
Psicologia
Ciências contábeis
Estatística
Medicina
Educação Física
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
86 (92%)
90 (93%)
90 (94%)
87 (96%)
83 (96%)
86 (95%)
7 (8%)
7 (7%)
6 (6%)
4 (4%)
3 (4%)
4 (5%)
93
97
96
91
86
90
Na entrevista do tipo conversa livre, o curso no qual houve um maior cancelamento
de líquidas intervocálicas foi o de Educação Física, com 9% de cancelamento.
Diferentemente, na entrevista do tipo nomeação de figuras, houve um maior cancelamento
no curso de Direito, com 8% de cancelamento de líquidas intervocálicas. Em segundo
lugar, vem o curso se Psicologia com 7%. Na análise do fator indivíduo, logo abaixo,
esclareceremos a razão desses resultados. Como se apontou acima, as análises estatísticas,
apresentadas à frente, deverão confirmar ou não a importância do fator curso acadêmico no
fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas.
4.4.6. Indivíduo
O fator indivíduo é considerado neste trabalho por acreditarmos ser importante
avaliar se o indivíduo apresenta um comportamento mais homogêneo do que o grupo ( cf.
OLIVEIRA, 1992). Apresentamos, na tabela 44, os números de cancelamento e de nãocancelamento de líquidas intervocálicas quanto ao fator indivíduo.
91
TABELA 44 – Indivíduo (entrevista do tipo conversa livre)
Indivíduos
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
Professor Direito
Professora Direito
Professor Psicologia
Professora Psicologia
Professor Ciências Contábeis
Professora Ciências Contábeis
Professor Estatística
Professora Estatística
Professor Medicina
Professora Medicina
Professor Educação Física
Professora Educação Física
Aluno Direito
Aluna Direito
Aluno Psicologia
Aluna Psicologia
Aluno Ciências Contábeis
Aluna Ciências Contábeis
Aluno Estatística
Aluna Estatística
Aluno Medicina
Aluna Medicina
Aluno Educação Física
Aluna Educação Física
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
620 (95%)
482 (99%)
431 (100%)
580 (94%)
704 (97%)
306 (96%)
303 (94%)
485 (95%)
430 (93%)
117 (94%)
436 (90%)
482 (97%)
733 (92%)
293 (98%)
240 (96%)
425 (99%)
414 (96%)
324 (89%)
106 (94%)
139 (95%)
313 (92%)
234 (96%)
444 (81%)
368 (96%)
30 (5%)
7 (1%)
0 (0%)
36 (6%)
19 (3%)
12 (4%)
19 (6%)
27 (5%)
34 (7%)
7 (6%)
46 (10%)
15 (3%)
63 (8%)
6 (2%)
11 (4%)
5 (1%)
17 (4%)
41 (11%)
7 (6%)
8 (5%)
27 (8%)
10 (4%)
106 (19%)
14 (4%)
650
489
431
616
723
318
322
512
464
124
482
497
796
299
251
430
431
365
113
147
340
244
550
382
Em relação ao indivíduo, notamos que o maior percentual de cancelamento de
líquidas intervocálicas na entrevista do tipo conversa livre ocorreu na fala do informante de
número (23) na tabela 44, aluno de Educação Física: 19% de cancelamento. O menor
percentual ocorreu com o informante (3), professor de Psicologia: 0%. Esse contraste nos
leva a crer que é importante verificar o comportamento do indivíduo. Tanto o informante
com maior percentual de cancelamento de líquidas pode influenciar elevando o percentual
nas análises do seu(s) grupo(s), como o informante de menor percentual pode influenciar
reduzindo o percentual nas análises do seu(s) grupo(s).
A informante (18), aluna de Ciências Contábeis, e o informante (11), professor de
Educação Física, merecem destaque como os informantes que mais cancelaram líquidas
intervocálicas, depois do aluno de Educação Física, com 11% e 10% cada um deles,
respectivamente. A informante (2), professora de Direito; a informante (16), aluna de
Psicologia, com 1% de cancelamento cada uma e a informante (14), aluna de Direito, com
92
2%, representam os informantes que menos cancelaram líquidas intervocálicas, depois do
professor de Psicologia.
A tendência de os homens cancelarem mais líquidas intervocálicas do que as
mulheres (o que foi apresentado na seção 4.4.1) pode ser questionada mais uma vez, se
consideramos que o menor percentual de cancelamento o foi de um homem: professor de
Psicologia. Deve-se dizer que este informante, além de falar pausadamente e de maneira
muito clara (sem hesitações, repetições ou gaguejos comuns à linguagem oral), apresenta
uma formação cultural erudita, em que há um cuidado maior com a linguagem culta.
Segundo o que o próprio informante disse na entrevista do tipo conversa livre, sua
formação incluiu serões e saraus literários em casa, com familiares e amigos. Acreditamos
que isso possa ter influenciado sua linguagem que é, dentre todos os outros informantes, a
mais próxima do formal.
Questionando ainda o comportamento de informantes do sexo masculino, vamos
avaliar o caso da alta percentagem de cancelamento do aluno de Educação Física (19%).
Deve-se considerar o fato de este ser o único informante que já conhecia a entrevistadora
antes da entrevista, sendo que a entrevistadora até mantém um relacionamento familiar com
ele. Tal informante é namorado de uma prima de primeiro grau da entrevistadora. Esse fato
pode ter provocado o uso de uma linguagem mais descontraída por parte de tal informante.
Assim, vemos que o comportamento dos homens entre si pode ser muito diferente.
Por isso, o fator indivíduo deve ser considerado nesta pesquisa. Maiores considerações
sobre o indivíduo serão feitas à frente na análise com testes estatísticos.
A tabela 45 abaixo apresenta os dados referentes ao comportamento individual dos
informantes com relação ao cancelamento de líquidas, na entrevista do tipo nomeação de
figuras:
93
TABELA 45 – Indivíduo (entrevista do tipo nomeação de figuras)
Indivíduos
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
Professor Direito
Professora Direito
Professor Psicologia
Professora Psicologia
Professor Ciências Contábeis
Professora Ciências Contábeis
Professor Estatística
Professora Estatística
Professor Medicina
Professora Medicina
Professor Educação Física
Professora Educação Física
Aluno Direito
Aluna Direito
Aluno Psicologia
Aluna Psicologia
Aluno Ciências Contábeis
Aluna Ciências Contábeis
Aluno Estatística
Aluna Estatística
Aluno Medicina
Aluna Medicina
Aluno Educação Física
Aluna Educação Física
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
19 (91%)
19 (100%)
26 (93%)
22 (96%)
19 (86%)
19 (91%)
22 (96%)
21 (96%)
22 (96%)
21 (100%)
19 (100%)
19 (95%)
21 (84%)
27 (96%)
21 (88%)
21 (96%)
29 (97%)
23 (100%)
22 (100%)
22 (92%)
18 (90%)
22 (100%)
25 (89%)
23 (100%)
2 (9%)
0 (0%)
2 (7%)
1 (4%)
3 (14%)
2 (9%)
1 (4%)
1 (4%)
1 (4%)
0 (0%)
0 (0%)
1 (5%)
4 (16%)
1 (4%)
3 (12%)
1 (4%)
1 (3%)
0 (0%)
0 (0%)
2 (8%)
2 (10%)
0 (0%)
3 (11%)
0 (0%)
21
19
28
23
22
21
23
22
23
21
19
20
25
28
24
22
30
23
22
24
20
22
28
23
Neste momento, é oportuno fazer considerações sobre o estilo de fala que irá
influenciar no comportamento individual, mas que como já se mostrou na seção 4.4.3, não
influenciou nos resultados gerais. Vimos que houve 6% de cancelamento de líquidas
intervocálicas para cada uma das duas entrevistas e, conseqüentemente, para todo o corpus.
Como se pode perceber, há sete indivíduos que não cancelaram líquidas intervocálicas, ou
seja, tais sujeitos apresentaram 0% de cancelamento.
Estes indivíduos são: (2) professora de Direito; (10) professora de Medicina; (11)
professor de Educação Física; (18) aluna de Ciências Contábeis; (19) aluno de Estatística;
(22) aluna de Medicina e (24) aluna de Educação Física.
É importante notar que a aluna de Ciências Contábeis, que foi o indivíduo que ficou
em segundo lugar na ordem dos que mais cancelaram na entrevista do tipo conversa livre,
com 11% de cancelamento de líquidas intervocálicas, não cancelou uma única vez na
nomeação de figuras. O mesmo ocorreu como o professor de Educação física, indivíduo
94
que ficou em terceiro lugar na ordem dos que mais cancelaram na conversa livre, com 10%
de cancelamento. Ele também não cancelou uma única vez na nomeação de figuras. Isso
aponta para o fato de que o estilo de fala pode influenciar no comportamento do indivíduo,
no caso do fenômeno estudado aqui.
Notamos, pela tabela 45, que o indivíduo que mais cancelou foi o aluno de Direito,
com 16% de cancelamento de líquidas intervocálicas. Em segundo lugar, vem o professor
de Ciências Contábeis com 14% de cancelamento. Em terceiro, vem o aluno de Psicologia
com 12%. Em quarto, o aluno de Educação Física com 11% e, em quinto, o aluno de
Medicina com 10%. A tabela 46 apresenta uma comparação entre os resultados destes
indivíduos, para os dois tipos de entrevista. As percentagens de cancelamento de líquidas
intervocálicas são apresentadas na ordem decrescente, na tabela 46:
TABELA 46 – Cancelamento de líquidas intervocálicas nas entrevistas do tipo
conversa livre e do tipo nomeação de figuras, para alguns indivíduos
Entrevista do tipo conversa livre
Entrevista do tipo nomeação de figuras
1 ) aluno de Educação Física Æ 19%
1o) aluno de Direito Æ 16%
2o) alunos de Direito e de Medicina Æ 8%
2o) professor de Ciências Contábeis Æ 14%
3o) aluno de Psicologia Æ 4%
3o) aluno de Psicologia Æ 12%
4o) professor de Ciências Contábeis Æ3%
4o) aluno de Educação Física Æ 11%
o
5o) aluno de Medicina Æ 10%
Pela comparação dos dados da tabela 46, vê-se que os informantes alunos de
Educação Física, de Direito e de Medicina, mantiveram um comportamento parecido nos
dois tipos de entrevista. Portanto, para eles, o fator estilo não foi relevante. Já para os
indivíduos, aluno de Psicologia e professor de Ciências Contábeis, houve uma grande
diferença de comportamento quanto aos dois tipos de entrevistas. Isso mostra que, para
estes sujeitos, o fator estilo de fala se mostrou produtivo quanto ao fenômeno em estudo.
Podemos entender, agora, a razão de o curso de Direito ter sido o que apresentou o
maior percentual de cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo nomeação
de figuras. O comportamento lingüístico do aluno de Direito influenciou no resultado do
grupo curso. Podemos também entender o porquê de a área de Humanas ter apresentado
maior cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo nomeação de figuras. O
95
comportamento dos alunos de Direito e de Psicologia influenciaram nos resultado desse
grupo da área de Humanas.
Por fim, é bom ressaltar que o único indivíduo que tinha apresentado 0% de
cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo conversa livre, o professor de
Psicologia, apresentou na entrevista de nomeação de figuras 7% de cancelamento. Em
número absoluto, esses 7% representam 2 ocorrências de cancelamento em um total de 28
ocorrências (cf. número (3) da tabela 45). Deve-se ressaltar que esses dois cancelamentos
se deram em uma mesma palavra: óculos. Esse fato nos permite dizer que é importante
considerar o indivíduo em relação ao item lexical também, como propõe OLIVEIRA
(1992). Faremos considerações sobre o fator palavra no final deste capítulo.
4.4.7. Correlações
entre
variáveis
independentes
extralingüísticas e apresentação dos testes estatísticos
feitos pelo programa estatístico SPSS
A partir deste momento, apresentaremos a análise estatística de nossos dados. Tal
análise foi realizada pelo programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social
Sciences) – Versão 10.0. O programa SPSS 10.0 roda no Windows nas seguintes versões:
Windows 95, Windows 98, Windows NT 4.0 e todas as versões de Windows 2000. O SPSS
10.0 é um programa estatístico que tem um alto poder de análise, porque é capaz de
trabalhar com um grande número de dados, fazendo várias operações estatísticas.
Maiores detalhamentos sobre os nossos dados estatísticos podem ser conferidos no
ANEXO 7. É importante ressaltar que a análise estatística será feita para os dois tipos de
entrevistas: conversa livre (a partir desse momento, denominada também como (A)) e
nomeação de figuras (a partir desse momento, denominada também como (B)).
Os testes estatísticos realizados pelo programa SPSS 10.0, aqui analisados, são 5:
teste-F, teste de variância, teste-qui, teste de desvio-padrão e teste de significância Nessa
análise estatística, consideram-se os fatores curso acadêmico e área acadêmica. Como se
explicitou na seção 3.2, é importante verificar se estes dois fatores interferem no fenômeno
em estudo.
96
O fator indivíduo também será analisado nos testes estatísticos por estarmos
considerando a teoria da difusão lexical O fator será representado pela correlação nível/
sexo/ curso em todos os gráficos que serão apresentados a partir de agora.
É preciso dizer que, em tais gráficos, a palavra nível se refere ao nível de
escolaridade do informante (aluno ou professor universitário) e, conseqüentemente, à faixa
etária deles: aluno Æ 18-35 anos de idade; professor Æ 35 a 55 anos de idade. O fator
palavra, que é proposto pelo modelo difusionista, será analisado estatisticamente em
separado, no final deste capítulo.
Esses testes estatísticos consideram ainda as seguintes conjugações entre variáveis
extralingüísticas: 1)sexo/ área acadêmica; 2) nível (faixa etária)/ sexo; 3) nível (faixa
etária)/ área acadêmica; 4) sexo/ curso. A correlação nível (faixa etária)/ sexo/ curso
corresponde ao fator indivíduo, como se disse acima.
4.4.7.1. Teste-F
Vejamos agora os resultados obtidos a partir do teste-F. Esse teste estatístico mede a
variância dos dados. O gráfico 1 demonstra os valores fornecidos pelo teste-F, para os dois
tipos de entrevistas (A e B), de acordo com as seguintes conjugações de variáveis em
análise:
1
0,93
0,94
0,89
0,89
0,83
0,8
0,57
0,6
teste F - A e B
0,33
0,4
0,2
0
sexo / área
nível / sexo
nível / área
nível / curso
curso
sexo / curso
nível / sexo /
curso
GRÁFICO 1: Teste-F (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B))
97
No gráfico 1, as conjugações de variáveis com menor valor apresentam uma menor
dispersão nos dois tipos de entrevistas (A e B). Assim, vemos que a conjugação nível (faixa
etária)/ sexo/ curso, ou seja, indivíduo, é a que apresenta a menor dispersão: 0,33. Esse
dado aponta para a maior relevância do fator indivíduo no fenômeno do cancelamento de
líquidas intervocálicas, o que confirma a análise da seção 4.4.6.
Em segundo lugar, temos o curso como a variável com menor dispersão de dados
nos dois tipos de entrevistas: 0,57. Isso mostra que tal variável pode estar também
definindo o fenômeno em estudo. Na seção 4.4.5, fizemos uma análise da variável curso, o
qual já se mostrava relevante.
As outras conjugações de variáveis – nível/ área (0,94), sexo/ curso (0,93),
sexo/área e nível/área (0,89 cada) e nível/curso (0,83) – apresentam valores de dispersão
muito altos. Isso aponta para uma possível não-influência de tais conjugações de variáveis
no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. Devemos comprovar ou não esse
dado através da análise dos outros testes estatísticos aqui utilizados.
4.4.7.2. Teste de variância
O teste de variância foi utilizado na presente pesquisa para definir a dispersão que
há nos dados de não-cancelamento. Assim, o gráfico 2 apresenta tal teste aplicado às
conjugações de variáveis avaliadas nas análises estatísticas deste estudo.
98
Variância das percentagens de não-cancelamento
23,57
25
20
15,65
15
13,37
12,68
11,62
10,21
var A
var B
8,98
10
5,97
7,06
6,44
6,91
7,85
4,81
5
2,80
0
sexo / área
nível / sexo
nível / área
nível / curso
curso
sexo / curso
nível / sexo /
curso
GRÁFICO 2 – Teste de variância (conversa livre (A) e nomeação de figuras
(B)) quanto ao não-cancelamento
No gráfico 2, quanto maior os valores de (A) e (B), para cada variável ou correlação
de variáveis, maior a dispersão dos dados de não-cancelamento. Assim, vemos que o fator
curso é o que possui uma menor dispersão de não-cancelamento tanto em (A) como em (B),
pois apresenta os valores mais baixos do gráfico 2.
É curioso notar que o fator indivíduo, representado no gráfico por nível/ sexo/ curso,
apresenta a maior dispersão de não-cancelamento tanto para (A) quanto para (B). Isso se
deve ao fato, mencionado em 4.4.6, de que alguns indivíduos se comportaram de modo
muito diferente. Há, por exemplo, na entrevista do tipo conversa livre, um indivíduo que
não cancelou nenhuma líquida intervocálica e outro indivíduo que não cancelou em 81%
das vezes.
4.4.7.3. Teste-qui
O teste-qui mede a variância entre os dados de (A) e (B). O teste-qui irá avaliar o
cancelamento de líquidas intervocálicas. Dessa maneira, vejamos o gráfico 3 abaixo:
99
Teste-qui ( cancelamento )
1,2
0,94
0,85
0,79
0,82
0,79
0,70
0,8
0,98 0,96
0,93
0,94
1
0,93
0,82
0,78
0,69
A
0,6
B
0,4
0,2
0
sexo / área
nível / sexo
nível / área
nível / curso
curso
sexo / curso
nível / sexo /
curso
GRÁFICO 3 – Teste-qui (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B))
quanto ao cancelamento
No teste-qui, quanto maiores os valores que medem o cancelamento para as
entrevistas (A) e (B), maior a importância da variável ou da correlação de variáveis no
fenômeno em estudo. Assim, pelo gráfico 3, percebemos que as variáveis de maior
importância para o fenômeno do cancelamento são: 1o) nível/ sexo/ curso (indivíduo); 2o)
nível/ curso; 3o) sexo/ curso e 4o ) curso.
Esse fato nos leva a concluir que as correlações que envolvem a variável área
acadêmica não são importantes. Já havíamos indicado, preliminarmente, a não-relevância
do fator área acadêmica na seção 4.4.4. Essa variável não se mostrou produtiva em
nenhuma análise estatística. Assim, as correlações nível/ área e sexo/ área podem ser
descartadas. Outra correlação que não se mostrou produtiva nos testes estatísticos foi nível/
sexo. No teste-qui, esta é a correlação que apresenta o menor valor. Tal fato nos permite
descartar a correlação nível/ sexo também.
Assim, mais uma vez, vemos que os fatores indivíduo (representado pelo nível/
sexo/ curso) e curso acadêmico do informante (que está presente nas 4 melhores
correlações apresentadas acima) se destacam. Pelo fato de isto ter acontecido em outros
100
testes, podemos chegar à conclusão de que os fatores curso acadêmico e indivíduo são
relevantes para o fenômeno em estudo.
4.4.7.4. Teste de desvio-padrão
O teste de desvio-padrão aqui utilizado apresenta a dispersão de cancelamento e de
não-cancelamento, que há nas entrevistas (A) e (B). Vejamos os resultados de tal teste no
gráfico 4:
Desvios-padrão das percentagens
6
4,86
5
3,66
4
3,19 3,41
3
2,66
2,44
2,63
2,80 3,00
2,54
3,96
3,56
desvpad A
desvpad B
2,19
1,67
2
1
0
sexo / área
nível / sexo
nível / área
nível / curso
curso
sexo / curso
nível / sexo /
curso
GRÁFICO 4 – Desvios-padrão das percentagens (conversa livre (A) e
nomeação de figuras (B))
Os desvios-padrão das percentagens de cancelamento e de não-cancelamento
medem a dispersão que há entre as entrevistas (A) e (B). No teste de desvio-padrão, quanto
maior os valores das entrevistas (A) e (B) para as variáveis e para as correlações de
variáveis acima, maior a dispersão das mesmas.
Assim, pelo gráfico 4, notamos que a menor dispersão, para (A) e (B), encontra-se
no fator curso. Isso indica, novamente que a variável curso define mais o comportamento
dos dados de nosso corpus. Também aqui, o fator indivíduo (nível/ sexo/ curso) apresenta a
maior dispersão para (A) e (B). Isso se deve ao fato de haver grandes diferenças de
comportamentos entre os indivíduos, como se demonstrou na seção 4.4.6. Mas esse dado só
faz reforçar a idéia de que o indivíduo tem influência no fenômeno em estudo.
101
4.4.7.5. Teste de significância
O último teste estatístico a ser abordado é o de significância. Esse teste também
considera as variáveis extralingüísticas e as correlações entre tais variáveis vistas até o
momento. Vejamos, no gráfico 5, a significância das percentagens de cancelamento e de
não-cancelamento nas entrevistas (A) e (B):
Significância das percentagens ( confiança = 95% )
3
2,56 2,73
2,5
2,60
2,39
2,03
2,10
2
2,01 2,07
1,59 1,70
1,75
1,5
1,94
1,58
1,34
signif A
signif B
1
0,5
0
sexo / área
nível / sexo
nível / área
nível / curso
curso
sexo / curso
nível / sexo /
curso
GRÁFICO 5: Significância das percentagens (confiança = 95%) – Conversa
livre (a) e nomeação de figuras (B)
Como se indicou no gráfico 5, a significância das percentagens de cancelamento e
de não-cancelamento, para as entrevistas (A) e (B), foi avaliada com um grau de confiança
de 95%. Os valores mais baixos, para as variáveis ou para as correlações de variáveis,
indicam uma maior significância para as mesmas.
Assim, as correlações de variáveis mais importantes quanto ao fenômeno em estudo
são: curso; nível/ curso e nível/ sexo/ curso. Esse resultado confirma, mais uma vez, os
resultados dos outros testes que apontaram o fato de que o indivíduo (nível/ sexo/ curso) e o
curso (presente na correlação nível/curso) influenciam na aplicação do fenômeno em
estudo.
102
4.4.7.6. Considerações estatísticas sobre o fator palavra
Vimos que os fatores estruturais avaliados nesta pesquisa – padrão acentual
(paroxítono e proparoxítono), posição da líquida em relação ao acento (pretônico e
postônico) e qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida – não permitem delimitar
um contexto estrutural que favoreça a aplicação do fenômeno em estudo. No máximo,
pudemos apontar que a sílaba postônica final tem uma influência no fenômeno estudado, na
medida em que grande parte das palavras que tem líquida intervocálica cancelada em nosso
corpus apresenta a líquida no contexto postônico final. Mas, ainda assim, esse fator
estrutural não é uma boa explicação para o fenômeno aqui estudado, visto que houve
cancelamento de líquidas em sílabas pretônicas, na sílaba postônica medial e, ainda, houve
casos de não-cancelamento na sílaba postônica final. Podemos dizer que, neste estágio
incipiente de mudança, a posição postônica final pode indicar um contexto favorecedor
para a estabilização da mudança.
Como se destacou na seção 4.3.2, a sílaba postônica final é um ambiente
prosodicamente fraco e, portanto, favorecedor natural de processos de enfraquecimento
consonantal. Disso resulta essa observação de que a sílaba postônica final foi a mais
recorrente em nosso corpus, nos casos de cancelamento da consoante líquida intervocálica.
Vejamos, a partir desse momento, a relevância do fator palavra no fenômeno do
cancelamento de líquidas intervocálicas. Na seção 4.4.6, destacamos o fato de que, na
entrevista do tipo conversa livre, o único indivíduo que não cancelou líquida intervocálica
nenhuma vez, cancelou, na entrevista do tipo nomeação de figuras, em 7% das vezes. Mas
esses 7% se referem a dois cancelamentos em uma mesma palavra: óculos. Inclusive, tal
item lexical foi o mais cancelado na entrevista do tipo nomeação de figuras, com 33% de
cancelamento nas vezes em que ocorreu (cf. ANEXO 6). Vale dizer que, nessa entrevista,
das 20 palavras selecionadas, somente 6 tiveram a líquida cancelada: óculos (33% de
cancelamento de líquida intervocálica), pílula (9%), árvore (4%), óculos escuros (5%),
restaurante (4%) e xícara (11%). Esses dados apontam para o fato de que a palavra é
relevante na análise do fenômeno em estudo.
Em nossos dados de palavras que tiveram a líquida intervocálica cancelada na
entrevista do tipo conversa livre (cf. tabela 17), também notamos uma diferença no número
103
de cancelamento de líquidas para cada vocábulo. Observamos que certos itens lexicais
foram mais expressivos estatisticamente do que outros. Selecionamos essas palavras
segundo o critério de freqüência – no sentido de elas terem ocorrido mais em nosso corpus,
acima de 2% de ocorrência – e também pelo maior índice de cancelamento de líquidas
intervocálicas em tais palavras (cf. tabela 17). Estes itens são: ela, ele, eles, óculos e para.
É interessante notar que, excetuando a palavra óculos, que é uma palavra de conteúdo; as
outras palavras – ela, ele, eles e para – são funcionais. Assim, podemos afirmar que há uma
tendência de palavras funcionais cancelarem mais do que outros tipos de palavras.
Devemos ressaltar, contudo, que encontramos palavras de diversas classes
gramaticais – (cf. tabela 17) – as quais tiveram a líquida cancelada: substantivo, adjetivo,
advérbio, verbo, preposição e outros. Os números absolutos de ocorrência das 5 palavras
mais expressivas de nosso corpus, bem como o valor percentual de tais números entre
parênteses, são apresentados na tabela 47.
TABELA 47 – Palavras mais expressivas
Palavras mais expressivas
ela
ele
eles
óculos
para
Cancelamento
34 (20%)
26 (12%)
42 (29%)
32 (80%)
172 (20%)
Não-cancelamento
135 (80%)
188 (88%)
102 (71%)
8 (20%)
687 (80%)
Total
169
214
144
40
859
Foi feito um tratamento estatístico dessas 5 palavras mais expressivas com o teste de
correlação, através do programa SPSS 10.0. A tabela 48 apresenta as correlações entre
esses itens mais expressivos.
TABELA 48 – Correlações entre os itens mais expressivos
CORRELAÇÕES
1
2
3
4
ela/ele
0,5139766295
ele/eles
-0,85039406
eles/óculos
-0,101712424
óculos/para
0,64013161
ENTRE OS ITENS
ela/eles
-0,22501758
ele/óculos
0,15919973
eles/para
-0,4924454
MAIS EXPRESSIVOS
ela/óculos
0,98564499
ele/para
0,48084529
ela/para
0,770635443
104
A tabela 48 esgota as possibilidades de correlações entre as palavras mais
expressivas (ela, ele, eles, óculos, para). Os valores mais altos nesta tabela são os que
demonstram as melhores correlações, e os mais baixos, as piores.
Assim, percebemos que as melhores correlações são: ela/ óculos (98%); ela/ para
(77%), óculos/ para (64%). Esses resultados apontam para o fato de que as palavras ela,
óculos e para, quando em correlação entre si, são ainda mais favoráveis ao cancelamento
do que as palavras ele e eles, quando correlacionadas a qualquer outro item lexical. Por
exemplo, as palavras ela e óculos têm 98% de chance de ter a líquida intervocálica
cancelada, quando ocorrem juntas.
Já as piores correlações, todas com valores negativos, são: ele/ eles (-85%); eles/
para (-49%), ela/ eles (-22%), eles/ óculos (-10%). Tais correlações se fazem com a palavra
eles. Isso indica que tal palavra, correlacionada as outras 4 mais expressivas, é que provoca
correlação ruim.
As outras correlações ainda não analisadas se fazem com a palavra ele: ela/ ele
(51%); ele/ óculos (15%) e ele/ para (48%). Tais correlações ficam em um nível
intermediário: não são tão boas, mas também não são ruins. A palavra ele, quando em
correlação, ainda favorece mais o fenômeno de cancelamento de líquidas intervocálicas do
que a palavra eles, quando correlacionada a outro item.
Por toda essa análise, concluímos que a palavra é importante no fenômeno do
cancelamento de líquidas intervocálicas. Vimos que certos itens lexicais (ela, ele, eles,
óculos e para) têm mais chances de ser cancelados do que outros. Observamos que, dos 5
itens mais expressivos, somente a palavra óculos é uma palavra de conteúdo. As outras 4
são palavras funcionais: ela, ela, eles, para. Em razão disso, pudemos formular que as
palavras funcionais tendem a ser mais afetadas pelo fenômeno em estudo do que outros
tipos de palavras. Contudo, lembramos o fato de que palavras de diversas classes
gramaticais ocorreram em nosso corpus (cf. tabela 17): substantivo, adjetivo, verbo e
outros. Dessa forma, acreditamos que o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e //
intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte é melhor explicado pela
teoria da difusão lexical.
105
106
CAPÍTULO 5
CONCLUSÃO
Neste trabalho, foram discutidas três possíveis abordagens para o fenômeno do
cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo
Horizonte: 1) fenômeno de cliticização; 2) fenômeno prosódico; 3) fenômeno fonológico.
Como há uma tendência de favorecimento da sílaba postônica final no fenômeno do
cancelamento de líquidas intervocálicas, optou-se por considerar a terceira abordagem
(fenômeno fonológico).
No capítulo anterior, foram analisados e discutidos os dados da presente pesquisa.
Vimos que o fenômeno em estudo tem um caráter incipiente. Uma evidência disso é a baixa
freqüência de cancelamento de líquidas intervocálicas em nosso corpus: 6% (cf. tabela 16)
Analisamos as variáveis independentes lingüísticas e extralingüísticas propostas
para este estudo. Na abordagem das variáveis independentes (somente para a entrevista do
tipo conversa livre), vimos que, quanto ao padrão acentual, pode-se afirmar que há
cancelamento de líquidas intervocálicas tanto em palavras paroxítonas quanto em
proparoxítonas. Portanto, o padrão acentual não se mostrou relevante.
Quanto à posição da líquida em relação ao acento (pretônico ou postônico), vimos
que, nas palavras que tiveram a líquida intervocálica cancelada, tal líquida encontrava-se
com mais freqüência na posição postônica final. Contudo, isso já era previsível, visto que
tal contexto é fraco prosodicamente e, portanto, favorecedor de fenômenos como
cancelamento e enfraquecimento consonantal. Ainda, constatamos que ocorre cancelamento
de líquidas intervocálicas em sílaba pretônica (colocar Æ kolokah > kookah) e mesmo
em sílaba postônica medial (análise Æ analize > anaize). Assim também como há
não-cancelamento de líquida intervocálica ocorrendo em sílaba postônica final. Tudo isso
demonstra que o fator estrutural acento não um tem papel determinante no fenômeno do
cancelamento de líquidas intervocálicas.
Quanto à qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida, vimos que não há
como apontar um contexto intervocálico determinantemente favorecedor da aplicação do
107
fenômeno estudado. Podemos falar, no máximo, em tendências de favorecimento para o
ambiente intervocálico: vogal precedente à líquida Æ /a/; vogal seguinte à líquida Æ /a/;
combinação entre vogais precedente e seguinte à líquida Æ /a/ + /i/.
Concluindo, podemos dizer que o contexto postônico final é aquele em que se
observa mais recorrentemente o cancelamento de líquidas intervocálicas.
Na abordagem das variáveis independentes extralingüísticas (todo corpus:
entrevistas conversa livre e nomeação de figuras), fizemos primeiramente uma análise dos
dados brutos para os seguintes fatores: sexo, faixa etária (escolaridade), estilo de fala, área
acadêmica, curso acadêmico e indivíduo. Já nessa primeira análise das variáveis
extralingüísticas, indicou-se que os fatores curso acadêmico e indivíduo poderiam ser
importantes para o fenômeno em estudo. Isso foi confirmado, de modo geral, pelos testes
estatísticos (teste-F, teste de variância, teste-qui, teste de desvio-padrão e teste de
significância).
Por fim, avaliamos a palavra e constatamos que tal fator também é importante para
explicar o fenômeno em estudo, visto que há vocábulos (palavras funcionais) que
favorecem mais o cancelamento de líquidas intervocálicas do que outros. Assim,
apontamos para o fato de que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no
português contemporâneo de Belo Horizonte é melhor explicado pela teoria da difusão
lexical. A teoria da Difusão Lexical permite analisar não apenas a importância do fator
palavra, mas também a relevância do fator indivíduo. Nos testes estatísticos, vimos que os
fatores indivíduo e palavra são muito relevantes na análise do cancelamento de líquidas
intervocálicas.
Pretendemos, com esta pesquisa, analisar o cancelamento das líquidas /l/ e //
intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte. Seria interessante que
trabalhos futuros investigassem o fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas em
outros dialetos do português brasileiro, a fim de que se façam análises comparativas que
possibilitem uma maior compreensão desse fenômeno. Também, pesquisas subseqüentes
poderiam investigar o comportamento do fenômeno estudado daqui a algum tempo, o que
possibilitaria outras análises comparativas.
108
6
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116
ANEXOS
117
ANEXO 1
Observação: as palavras em negrito nas perguntas abaixo são aquelas que apresentam
líquida(s) intervocálica(s).
1a parte: perguntas iniciais dirigidas a todos os entrevistados:
1) Qual o seu nome completo?
2) Em qual cidade você nasceu? Por quanto tempo mora ou morou lá? Se não nasceu em
Belo Horizonte, há quanto tempo vive aqui?
3) Você gosta de Belo Horizonte? Por que? Quais as vantagens e desvantagens de se
morar na capital de Minas Gerais? E em uma cidade do interior? Você pretende
morar em outro lugar que não Belo Horizonte? Se, sim, por que? Porque escolheu esta
cidade?
4) Quantos anos tem?
5) Você é casado ou solteiro? Se casado, tem filhos? Quantos? Se solteiro, mora sozinho
ou com os pais?
6) É professor ou aluno universitário?
7) Há quanto tempo estuda e/ou trabalha na Universidade Federal de Minas Gerais?
8) O que você acha da nova proposta de flexibilização curricular? Será melhor para
você?
9) Se professor, há quanto tempo leciona? E na UFMG? O que você pensa sobre o espaço
da sala de aula? Como é a sua relação com os alunos? E com os outros professores do
seu departamento, da sua faculdade? Há algum fato curioso, ocorrido em sala de aula,
que mereça ser contado? O que é importante para se ser um bom professor, na sua
avaliação? Que tipo de aluno você valoriza? Como você avalia o mercado de trabalho
para os alunos que se formam na sua faculdade? Quais as possibilidades deles?
10) Se aluno, foi difícil ou fácil para você passar no vestibular? Por que? Como você fez
para passar? O seu curso é licenciatura ou bacharelado? Seu curso tem habilitação
118
(qual é a sua habilitação?) ou ênfase? Você gosta do curso que faz? Por que? Por que o
escolheu? Como você avalia o seu curso nesta universidade? Quais são os pontos
positivos do seu curso? e quais os negativos? Qual a matéria de que você mais gostou
até agora, no curso? Por que? Depois de formado(a), qual a sua expectativa em relação
ao mercado de trabalho na sua área de formação? Você acha que o seu histórico e o
seu currículo são bons para você conseguir um emprego na sua área? O que pretende
exercer depois de formado?
11) Você tem telefone celular? Para você, quais a vantagens e/ou desvantagens de se ter
um telefone celular? Quando o celular incomoda? Você conhece alguém que conversa
muito ao celular? Em quais profissões você acha imprescindível o celular?
12) Você assiste à televisão? De que tipo de programas de televisão você mais gosta?
Como você acha que está a qualidade dos programas de televisão? Você acha que os
pais estão delegando a educação de seus filhos à televisão? Muitos dizem que a
televisão faz parte da família brasileira, você concorda com isso? Você acha que a
televisão aliena as pessoas?
13) Você gosta de música? De qual estilo, cantor, cantora, grupo? O que você acha das
músicas funk? Você acha que o funk estimula o sexo precoce? E o que pensa sobre
bailes funk do Rio de Janeiro? O que pensa sobre o fato de haver meninas dizendo que
estão ficando grávidas e contraindo o vírus HIV nesses bailes funks?
14) Que análise você faz dos adolescentes de hoje? Em que eles se assemelham ou se
diferenciam dos adolescentes da sua época? Como você pensa que será o Brasil das
próximas décadas, tendo em vista esta nova geração?
15) A questão do lixo é discutida no mundo inteiro, o que você acha da coleta seletiva que
visa a reciclagem do lixo? Em que proporção você acha que ela vem ocorrendo no
Brasil, em Belo Horizonte ou na sua cidade natal? Como ela poderia ser maior?
16) E quanto aos menores infratores, o que você acha da existência deles em nosso país?
Você já foi agredido/roubado por um deles? Como você pensa que este problema
poderia ser reduzido ou totalmente solucionado?
17) E em relação às favelas e periferias, você acha que elas aumentaram? O que você
pensa sobre elas? Elas refletem o que? Você conhece alguma favela? Se sim, como é
ela (quanto ao tráfico e consumo de drogas especialmente)?
119
18) Você tem costume de usar óculos escuros? Porque?
19) Há pouco, comemoramos o Dia Internacional da Mulher, você acha que as mulheres
têm motivos para comemorar? Elas conquistaram a tão desejada igualdade em
relação aos homens? Quais são as expectativas para o sexo feminino neste novo
século? Você pensa que as mulheres devem sempre ter um tratamento diferenciado
dos homens (seja no trabalho, no estudo, na família ou nas outras relações sociais)?
20) Muitas pessoas reclamam que “as coisas (no que tange a melhores empregos, lazer,
cultura, educação, saúde, etc.) só acontecem no trecho Rio de Janeiro - São Paulo”.
Você concorda com esta afirmação? Quais são as vantagens e desvantagens de Belo
Horizonte em relação àquelas duas maiores capitais do Brasil?
21) O que você pensa sobre a violência nas grandes capitais? Em especial, sobre a
violência relacionada a Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília?
Qual(is) seria(m) a(s) causa(s) de tanta violência hoje no Brasil, segundo o seu ponto
de vista? Como se poderia contê-la? Há muitos casos de violência no bairro onde você
mora? Ou o seu bairro é tranqüilo? Você gosta de morar nele? Por que?
22) Você acha que, mesmo com tantas intempéries (desigualdade social, violência, etc.), o
brasileiro pode ter orgulho de seu país?
23) No ano passado, comemoramos os 500 anos de Brasil. Você acha que essa data
merecia comemorações? Por que? A situação política do Brasil, segundo sua opinião,
alterou nos últimos séculos?
120
2a parte: perguntas relacionadas às áreas específicas:
Direito
1) Diz-se que o curso de Direito é muito complexo, que são várias as áreas de estudo e
que, inclusive é humanamente impossível dominar todas as suas áreas. Isso é uma
verdade? Se sim, por que?
2) Apesar disso, o quê que todos que se formam em Direito têm que ter conhecimento?
3) Qual a sua área de atuação dentro do Direito?
4) O que você acha da atual Legislação Brasileira?
5) Em que nível você acha que os cidadãos brasileiros têm noção de seus direitos e os
deveres? Quando procuram conhecê-los (mais)?
6) O que você acha da afirmação de Michel Foucault (quando de sua conferência, “A
verdade e as formas jurídicas”) de que a verdade é um acidente dentro do sistema das
leis e julgamentos e que provas e processos, desde a Grécia, são uma simples
construção retórica ou verbal? Você pensa que isso tem algo a ver com a atividade de
advogados, promotores, juízes e outros relacionados à área de Direito? Por que?
7) O que acha da área de promotoria?
8) É muito comum policiais militares fazerem Direito. O que você pensa sobre isso?
Você acha que os conhecimentos de Direito são importantes para a polícia? A polícia
pode trazer alguma contribuição para a área de Direito? Se sim, qual(is)?
Psicologia
1) A Psicologia apresenta diversas abordagens (linhas, teorias). Na sua opinião, existe
uma abordagem melhor ou pior, ou todas se complementam e devem ser avaliadas de
acordo com o caso específico?
2) De modo geral, que tipo de terapia você considera mais adequada: a terapia
individual, a terapia familiar ou a terapia em grupo? Para que casos cada uma dessas
é indicada?
121
3) Como você acha que as pessoas enxergam alguém que se forma em Psicologia?
4) A Psicologia Empresarial é uma área da Psicologia. Como você vê tal área no
mercado de trabalho atual?
5) Como você acha que os brasileiros, em geral, consideram as patologias mentais?
Eles admitem a existência delas? Aqueles que possuem alguma aceitam tratamento?
6) O que você pensa sobre a Psicanálise? Você gosta da Teoria Psicanalítica? Quais as
maiores contribuições dela na sua opinião?
7) Em geral, as pessoas preferem um tratamento baseado na Psicologia ou na
Psicanálise? Por que?
8) Os brasileiros têm costume de procurar psicólogo?
Estatística
1) Muitos dizem que “os números não mentem”. Isso é uma verdade?
2) Segundo Pierre Simon, “a Estatística nada mais é do que o bom senso em números”.
Você concorda com esse autor? Por que?
3) Quando ou em que casos é possível se trabalhar com números absolutos? Quando é
melhor se trabalhar com números relativos?
4) A Estatística resolve o problema da variabilidade presente em dados? De que forma?
As medidas de variabilidade são precisas?
5) Todas as análises estatísticas são feitas da mesma forma ou há diversas abordagens?
6) Você acha que a Estatística deveria ser um conteúdo de todos cursos universitários?
Por que?
7) Como é o conhecimento do brasileiro sobre a Estatística?
8) A mídia, as empresas e até os políticos em época de eleição “usam e abusam” dos
números, através da estatística? Como?
Ciências Contábeis
1) O que você acha da área de auditoria? Quais as vantagens e desvantagens?
2) O que você acha da área de contabilidade? Quais a vantagens e desvantagens?
122
3) Como você analisa a relação entre o Direito e a Contabilidade? Você acha que, em
sua formação, o contador deveria se aprofundar mais na matéria de Direito? Você
acha importante estudar Direito civil e comercial em seu curso? Por que? Qual dessas
áreas do Direito você prefere? Por que?
4) Como você encara a questão dos técnicos contábeis? Você acha que o grande número
deles prejudica a “mentalidade” das pessoas em relação à contabilidade?
5) O que você acha da Prova de Suficiência do CRC? Você acha que ela garante a
melhoria dos cursos de Contábeis?
6) O que você pensa sobre a calculadora financeira no trabalho na área de Ciências
Contábeis? Você domina todos os seus recursos?
7) O curso de Ciências Contábeis é mais “números ou teorias”?
8) Você acha que a Contabilidade no Brasil privilegia muito o fisco, esquecendo-se às
vezes de si mesma?
Medicina
1) Você acha que Belo Horizonte (e até mesmo o Brasil) está preparada para um
eventual alastramento da febre amarela? Há recursos suficientes para o combate a
essa doença?
2) O vírus da AIDS preocupa muito as pessoas. Você acha que a medicina ainda irá
acabar com esse vírus ou quem sabe inventar uma vacina contra ele ainda neste século?
3) O câncer de pele também preocupa as pessoas. Você acha que todos os brasileiros
estão conscientes dos malefícios do sol? Eles têm se prevenido contra isso? Você acha
que o câncer de pele tende a aumentar?
4) As empresas têm realmente se ocupado em prevenir problemas de coluna, postura ou
LER em relação aos seus funcionários?
5) O cérebro é ainda um mistério para a medicina. Será possível “mapear” todo o
cérebro?
6) Os problemas de saúde relacionados ao coração (colesterol ruim e triglicérides alto,
por exemplo) atingem muitas pessoas. Você acha que ainda haverá cura para as
doenças do coração, neste século?
123
7) As mulheres têm procurado muito o silicone para aumentar os seios. O que você
pensa sobre isso? Você não acha que o silicone pode ser prejudicial ao organismo?
8) O soro antiofídico pode ser encontrado com facilidade em todas as cidades do Brasil
(especialmente no interior)?
Educação Física
1) As pessoas têm se preocupado muito com a aparência. Em que sentido um profissional
formado em Educação Física pode ajudar nisso?
2) Qual seria o exercício mais completo?
3) Quais os esportes que proporcionam maior flexibilidade, elasticidade ao corpo?
4) O brasileiro apresenta uma boa taxa de gordura e de massa muscular no corpo, em
geral?
5) O que você pensa sobre as pessoas que vivem querendo reduzir a gordura de seu
corpo, estar “em dia com a balança”, mas nunca o conseguem por definitivo? O que
ocorre com elas? O que você acha que deveriam fazer?
6) A musculação “está na moda”. Isso se deve a que, na sua opinião? Você considera esse
exercício bom para todas as pessoas?
7) O que um professor de Educação Física pode fazer para dinamizar suas aulas, tendo
em vista que alguns alunos reclamam que as aulas muitas vezes são monótonas,
repetitivas?
8) Vocês, como alunos ou professores de Educação Física, praticam muito esporte na
faculdade, durante os cursos?
124
ANEXO 2
O mapa abaixo apresenta o estado de Minas Gerais dividido em Meso Regiões. As Meso Regiões de outros
estados que fazem fronteira com Minas Gerais (Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato
Grosso do Sul, Goiás, Brasília) também aparecem no mapa. A Região Metropolitana de Belo Horizonte é a de
número 3107. Tal região está destacada no mapa.
FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
125
ANEXO 3
Perguntas diretas induzidas, com auxílio de figuras.
Observação: as palavras em negrito nas perguntas abaixo são aquelas que apresentam
líquida(s) intervocálica(s).
Figura 1
™ Como se chama o objeto que se usa para tomar café, chá ou leite? (xícara)
Figura 2
™ Como se chama uma mulher que dança de sapatilha e collant? (bailarina)
Figura 3
™ Como se chama o lugar onde aterrissam e pousam os aviões? (aeroporto)
™ Como se chama o órgão que fica do lado esquerdo do peito por onde passa todo o
sangue do corpo? (coração)
Figura 4
™ Como se chama o estabelecimento comercial onde almoçamos ou jantamos?
(restaurante)
™ Como se chama o objeto utilizado no rosto para proteger os olhos dos raios solares?
(óculos escuros)
™ Como se chama o objeto que algumas pessoas usam no rosto para enxergar solares?
(óculos)
™ Como se chama a cor que é presente no sol, no girassol e na gema de ovo? (amarelo)
™ Quando uma pessoa está com hepatite ou febre amarela, ela fica com uma coloração
característica, qual é essa cor? (amarelada)
126
Figura 5
™ Como se chama o objeto pregado na parede que serve para colocar outros objetos?
(prateleira)
™ Como se chama o remédio que as mulheres geralmente compram nas farmácias para
poderem se prevenir da gravidez indesejada? (pílula)
Figura 6
™ Como se chama o elemento da natureza do qual se tira madeira para fazer móveis e do
qual o ser humano necessita para sobreviver, por esse elemento produzir o oxigênio da
Terra? (árvore)
™ Como se chamam os animais que voam? (pássaros)
Figura 7
™ Como se chama o objeto que os jogadores de futebol chutam em campo? (bola de
futebol)
™ Como se chama uma mulher que dá aulas? (professora)
™ Como se chama o objeto com o qual se faz comida, e que é levado ao fogo? (panela)
™ Como se chama o objeto que usamos para falar com as pessoas que estão longe, através
do qual ouvimos a sua voz? (telefone)
Figura 8
™ O que procuramos saber quando olhamos no relógio? (horas)
™ Como se chama o relógio grande que é usado pregado em casa? (relógio de parede)
Figura 9
™ Como se chama o objeto muito presente nas casas no qual se assistem a programas
diversos como filmes, novelas e outros? (televisão)
127
ANEXO 4
ENTREVISTA DO TIPO CONVERSA LIVRE
CATEGORIAS
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
Líquidas /l/ e //
Líquida l
Líquida 
2 ou mais líquidas
9409 (94%)
4362 (95%)
4749 (94%)
298 (95%)
567 (6%)
241 (5%)
309 (6%)
17 (5%)
9976
4603
5058
315
Homens
Mulheres
5174 (93%)
4235 (96%)
379 (7%)
188 (4%)
5553
4423
Áreas Acadêmicas
Humanas
Exatas/Gerenciais
Biológicas
3804 (96%)
2781 (95%)
2824 (92%)
158 (4%)
150 (5%)
259 (8%)
3962
2931
3083
Sexo/ Áreas
Acadêmicas
Homens humanas
Mulheres humanas
Homens exatas/gerenciais
Mulheres exatas/gerenciais
Homens biológicas
Mulheres biológicas
2024 (95%)
1780 (97%)
1527 (96%)
1254 (93%)
1623 (88%)
1201 (96%)
104 (5%)
54 (3%)
62 (4%)
88 (7%)
213 (12%)
46 (4%)
2128
1834
1589
1342
1836
1247
Professores
Alunos
5376 (96%)
4033 (93%)
252 (4%)
315 (7%)
5628
4348
Professor
Professora
Aluno
Aluna
2924 (95%)
2452 (96%)
2250 (91%)
1783 (96%)
148 (5%)
104 (4%)
231 (9%)
84 (4%)
3072
2556
2481
1867
2113 (97%)
1798 (96%)
1465 (93%)
1691 (95%)
983 (93%)
1359 (90%)
73 (3%)
77 (4%)
102 (7%)
85 (5%)
73 (7%)
157 (10%)
2186
1875
1567
1776
1056
1516
Direito
Psicologia
Ciências contábeis
Estatística
Medicina
Educação Física
2128 (95%)
1676 (97%)
1748 (95%)
1033 (94%)
1094 (93%)
1730 (91%)
106 (5%)
52 (3%)
89 (5%)
61 (6%)
78 (7%)
181 (9%)
2234
1728
1837
1094
1172
1911
Homens Direito
Mulheres Direito
Homens Psicologia
Mulheres Psicologia
Homens Ciências Contábeis
Mulheres Ciências Contábeis
1353 (94%)
775 (98%)
671 (98%)
1005 (96%)
1118 (97%)
630 (92%)
93 (6%)
13 (2%)
11 (2%)
41 (4%)
36 (3%)
53 (8%)
1446
788
682
1046
1154
683
Geral
Sexo
Faixa etária
Faixa etária/ sexo
Professores humanas
Professores exatas/gerenciais
Faixa etária/ Áreas Professores biológica
Acadêmicas
Alunos humanas
Alunos exatas/gerenciais
Alunos biológicas
Cursos
Sexo/ curso
128
Sexo/ curso
Homens Estatística
Mulheres Estatística
Homens Medicina
Mulheres Medicina
Homens Educação Física
Mulheres Educação Física
409 (94%)
624 (95%)
743 (92%)
351 (95%)
880 (85%)
850 (97%)
26 (6%)
35 (5%)
61 (8%)
17 (5%)
152 (15%)
29 (3%)
435
659
804
368
1032
879
Professores Direito
Professores Psicologia
Professores Ciências Contábeis
Professores Estatística
Professores Medicina
1102 (97%)
1011 (97%)
1010 (97%)
788 (94%)
547 (93%)
37 (3%)
36 (3%)
31 (3%)
46 (6%)
41 (7%)
1139
1047
1041
834
588
918 (94%)
1026 (94%)
665 (98%)
738 (93%)
245 (94%)
547 (94%)
812 (87%)
61 (6%)
69 (6%)
16 (2%)
58 (7%)
15 (6%)
37 (6%)
120 (13%)
979
1095
681
796
260
584
932
620 (95%)
482 (99%)
431 (100%)
580 (94%)
704 (97%)
306 (96%)
303 (94%)
485 (95%)
430 (93%)
117 (94%)
436 (90%)
482 (97%)
733 (92%)
293 (98%)
240 (96%)
425 (99%)
414 (96%)
324 (89%)
106 (94%)
139 (95%)
313 (92%)
234 (96%)
444 (81%)
368 (96%)
30 (5%)
7 (1%)
0 (0%)
36 (6%)
19 (3%)
12 (4%)
19 (6%)
27 (5%)
34 (7%)
7 (6%)
46 (10%)
15 (3%)
63 (8%)
6 (2%)
11 (4%)
5 (1%)
17 (4%)
41 (11%)
7 (6%)
8 (5%)
27 (8%)
10 (4%)
106 (19%)
14 (4%)
650
489
431
616
723
318
322
512
464
124
482
497
796
299
251
430
431
365
113
147
340
244
550
382
Faixa etária/ cursos Professores Educação Física
Alunos Direito
Alunos Psicologia
Alunos Ciências Contábeis
Alunos Estatística
Alunos Medicina
Alunos Educação Física
Indivíduos
Professor Direito
Professora Direito
Professor Psicologia
Professora Psicologia
Professor Ciências Contábeis
Professora Ciências Contábeis
Professor Estatística
Professora Estatística
Professor Medicina
Professora Medicina
Professor Educação Física
Professora Educação Física
Aluno Direito
Aluna Direito
Aluno Psicologia
Aluna Psicologia
Aluno Ciências Contábeis
Aluna Ciências Contábeis
Aluno Estatística
Aluna Estatística
Aluno Medicina
Aluna Medicina
Aluno Educação Física
Aluna Educação Física
129
GRÁFICOS DAS PORCENTAGENS DA ENTREVISTA DE CONVERSA LIVRE
Obs: Nos gráficos abaixo, a palavra nível representa a faixa etária dos informantes. A
correlação nível, sexo, curso corresponde ao fator indivíduo. Nas legendas dos gráficos, o
símbolo + (cor vermelha) representa o número de cancelamento, e o símbolo – (cor azul)
representa o número de não-cancelamento.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
97
95
Sexo / área
96
96
93
88
+
12
7
4
5
4
3
Hhum
Mhum
Hex/ger
Mex/ger
Hb
Mb
Nível / sexo
95
100
96
96
91
80
60
-
40
+
9
20
5
4
4
0
ProfH
ProfM
AlH
AlM
Nível / área
97
96
95
93
100
93
90
80
60
-
40
+
20
0
3
Prof-h
4
Prof-ex/ger
7
Prof-bio
5
Al-h
7
Al-ex/ger
10
Al-bio
130
Nível / curso
97
100
80
60
40
20
0
97
97
94
93
94
98
94
94
93
94
87
3
3
6
3
7
6
6
7
Prof-Dir Prof-Psi ProfCont
ProfEst
ProfMed
Prof-EF Al-Dir
6
6
2
+
13
Al-Psi Al-Cont Al-Est Al-Med
Al-EF
Curso
97
95
95
94
93
91
100
80
60
-
40
+
20
5
5
3
6
9
7
0
Dir
Psi
Cont
Est
Med
EF
Sexo / curso
100
98
94
98
96
97
95
94
92
97
95
92
85
80
-
60
40
20
8
6
2
2
4
HDir
MDir
HPsi
MPsi
0
3
HCont
MCont
6
5
HEst
MEst
5
HMed
+
15
8
MMed
3
HEF
MEF
Pr
of
H
Pr Dir
of
M
Pr Dir
of
H
Pr Psi
of
M
Ps
Pr
of
H i
C
o
Pr
of nt
M
C
on
Pr
of t
H
Pr Est
of
M
Pr Es
t
of
H
Pr Me
d
of
M
M
e
d
Pr
of
H
EF
Pr
of
M
EF
Al
H
D
i
Al r
M
D
i
Al r
H
Ps
Al i
M
Ps
Al
i
H
C
o
Al nt
M
C
on
Al t
H
Es
Al t
M
E
Al st
H
M
ed
Al
M
M
ed
Al
H
EF
Al
M
EF
131
100
10
0
95
99 100
Nível / sexo / curso
94
5
1
97
0
96
94
3
95
6
4
93
20
6
5
94
7
90
97
6
92
98
10
3
96
2
99
4
96
90
89
1
94
8
11
4
95
92
6
5
96
96
80
81
70
60
50
-
40
+
30
8
19
4
4
132
ANEXO 5
ENTREVISTA DO TIPO NOMEAÇÃO DE FIGURAS
CATEGORIAS
NÃO
CANCELADO
CANCELADO
TOTAL
Líquidas /l/ e //
Líquida l
Líquida 
Duas líquidas
522 (94%)
215 (89%)
306 (98%)
23 (92%)
31 (6%)
26 (11%)
6 (2%)
2 (8%)
553
241
312
25
Homens
Mulheres
263 (92%)
259 (97%)
22 (8%)
9 (3%)
285
268
Áreas Acadêmicas
Humanas
Exatas/Gerenciais
Biológicas
176 (93%)
177 (95%)
169 (96%)
14 (7%)
10 (5%)
7 (4%)
190
187
176
Sexo/ Áreas
Acadêmicas
Homens humanas
Mulheres humanas
Homens exatas/gerenciais
Mulheres exatas/gerenciais
Homens biológicas
Mulheres biológicas
87 (89%)
89 (97%)
92 (95%)
85 (94%)
84 (93%)
85 (99%)
11 (11%)
3 (3%)
5 (5%)
5 (6%)
6 (7%)
1 (1%)
98
92
97
90
90
86
Professores
Alunos
248 (95%)
274 (94%)
14 (5%)
17 (6%)
262
291
Professor
Professora
Aluno
Aluna
127 (93%)
121 (96%)
136 (91%)
138 (97%)
9 (7%)
5 (4%)
13 (9%)
4 (3%)
136
126
149
142
Professores humanas
Professores exatas/gerenciais
Professores biológica
Alunos humanas
Alunos exatas/gerenciais
Alunos biológicas
86 (94%)
81 (92%)
81 (97%)
90 (91%)
96 (97%)
88 (95%)
5 (6%)
7 (8%)
2 (3%)
9 (9%)
3 (3%)
5 (5%)
91
88
83
99
99
93
Professores Direito
Professores Psicologia
Professores Ciências Contábeis
Professores Estatística
Professores Medicina
38 (95%)
48 (94%)
38 (88%)
43 (95%)
43 (98%)
2 (55)
3 (6%)
5 (12%)
2 (5%)
1 (2%)
40
51
43
45
44
Professores Educação Física
Alunos Direito
Alunos Psicologia
Alunos Ciências Contábeis
Alunos Estatística
Alunos Medicina
Alunos Educação Física
38 (97%)
48 (91%)
42 (91%)
52 (98%)
44 (96%)
40 (95%)
48 (94%)
1 (3%)
5 (9%)
4 (9%)
1 (2%)
2 (4%)
2 (5%)
3 (6%)
39
53
46
53
46
42
51
Geral
Sexo
Faixa etária
Faixa etária/ sexo
Faixa etária/ Áreas
Acadêmicas
Faixa etária/ cursos
133
Cursos
Sexo/ curso
Indivíduos
Direito
Psicologia
Ciências contábeis
Estatística
Medicina
Educação Física
86 (92%)
90 (93%)
90 (94%)
87 (96%)
83 (96%)
86 (95%)
7 (8%)
7 (7%)
6 (6%)
4 (4%)
3 (4%)
4 (5%)
93
97
96
91
86
90
Homens Direito
Mulheres Direito
Homens Psicologia
Mulheres Psicologia
Homens Ciências Contábeis
Mulheres Ciências Contábeis
Homens estatística
Mulheres estatística
Homens Medicina
Mulheres Medicina
Homens Educação Física
Mulheres Educação Física
40 (87%)
46 (98%)
47 (90%)
43 (95%)
48 (92%)
42 (95%)
44 (98%)
43 (93%)
40 (93%)
43 (100%)
44 (94%)
42 (98%)
6 (13%)
1 (2%)
5 (10%)
2 (5%)
4 (8%)
2 (5%)
1 (2%)
3 (7%)
3 (7%)
0 (0%)
3 (6%)
1 (2%)
46
47
52
45
52
44
45
46
43
43
47
43
Professor Direito
Professora Direito
Professor Psicologia
Professora Psicologia
Professor Ciências Contábeis
Professora Ciências Contábeis
Professor Estatística
Professora Estatística
Professor Medicina
Professora Medicina
Professor Educação Física
Professora Educação Física
Aluno Direito
Aluna Direito
Aluno Psicologia
Aluna Psicologia
Aluno Ciências Contábeis
Aluna Ciências Contábeis
Aluno Estatística
Aluna Estatística
Aluno Medicina
Aluna Medicina
Aluno Educação Física
Aluna Educação Física
19 (91%)
19 (100%)
26 (93%)
22 (96%)
19 (86%)
19 (91%)
22 (96%)
21 (96%)
22 (96%)
21 (100%)
19 (100%)
19 (95%)
21 (84%)
27 (96%)
21 (88%)
21 (96%)
29 (97%)
23 (100%)
22 (100%)
22 (92%)
18 (90%)
22 (100%)
25 (89%)
23 (100%)
2 (9%)
0 (0%)
2 (7%)
1 (4%)
3 (14%)
2 (9%)
1 (4%)
1 (4%)
1 (4%)
0 (0%)
0 (0%)
1 (5%)
4 (16%)
1 (4%)
3 (12%)
1 (4%)
1 (3%)
0 (0%)
0 (0%)
2 (8%)
2 (10%)
0 (0%)
3 (11%)
0 (0%)
21
19
28
23
22
21
23
22
23
21
19
20
25
28
24
22
30
23
22
24
20
22
28
23
134
GRÁFICOS COM AS PORCENTAGENS DA NOMEAÇÃO DE FIGURAS
Obs: Nos gráficos abaixo, a palavra nível representa a faixa etária dos informantes. A
correlação nível, sexo, curso corresponde ao fator indivíduo. Nas legendas dos gráficos, o
símbolo + (cor vermelha) representa o número de cancelamento, e o símbolo – (cor azul)
representa o número de não-cancelamento.
Sexo / área
100
97
89
95
94
99
93
80
-
60
40
+
11
20
5
3
7
6
1
0
Hhum
Mhum
Hex/ger
Mex/ger
Hb
Mb
Nível / sexo
96
93
100
97
91
80
-
60
40
+
9
7
20
3
4
0
ProfH
ProfM
AlH
AlM
Nível / área
100
95
98
92
97
91
95
80
-
60
40
20
5
8
9
0
Prof-h
Prof-ex/ger
Prof-bio
5
3
2
Al-h
Al-ex/ger
Al-bio
+
135
Nível / curso
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
95
98
96
94
98
97
91
88
95
96
94
91
+
12
6
5
9
3
4
9
Prof-Dir Prof-Psi
ProfCont
Prof-Est
ProfMed
Prof-EF
Al-Dir
Al-Psi
Al-Cont
Al-Est
6
5
4
2
2
Al-Med
Al-EF
Curso
100
92
97
96
94
93
96
80
60
-
40
+
20
8
7
4
6
4
3
0
Dir
Psi
Cont
Est
Med
EF
Sexo / curso
98
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
96
100
98
95
92
93
98
94
93
90
87
+
13
10
4
8
HDir
MDir
7
5
7
2
2
HPsi
MPsi
HCont
MCont
HEst
6
2
0
MEst
HMed
MMed
HEF
MEF
Pr
of
H
Pr Dir
of
M
Pr Dir
of
H
Pr Psi
of
Pr MP
s
of
H i
Pr Con
of
M t
C
Pr ont
of
H
Pr Es
of t
M
Pr Es
t
of
H
Pr Me
d
of
M
M
Pr ed
of
H
Pr EF
of
M
EF
Al
H
D
Al ir
M
D
i
Al r
H
P
Al si
M
Ps
Al
H i
C
o
Al nt
M
C
on
Al t
H
Es
Al t
M
E
Al st
H
M
Al ed
M
M
ed
Al
H
EF
Al
M
EF
136
100 90
20
100
10
0
93
96
7
90
4
10
96
95
4
96 100 100 95
Nível / sexo / curso
86
5
4
0
0
96
84
14
5
88
95
16
4
97 100 100 92 90
5
3
0
0
8
100
13
89
100
80
60
40
-
14 11
+
0
10
0
137
ANEXO 6
A tabela abaixo apresenta os casos de cancelamento e de não-cancelamento de
líquidas intervocálicas na entrevista do tipo nomeação de figuras. Os informantes são
listados na primeira coluna. Como se viu na tabela 12 (terceiro capítulo desta dissertação),
foram selecionadas 20 palavras para esta entrevista. Tais palavras aparecem separadas de
acordo com a líquida intervocálica que apresentam, /l/ ou //, na tabela abaixo.
Os espaços em branco na tabela, com o símbolo (--), correspondem à não-produção
da palavra pelo falante. O símbolo ø, no interior da tabela, foi adotado para indicar o
cancelamento da palavra pelo falante. Ainda, para marcar que o falante pronunciou por
mais de uma vez uma palavra, usou-se uma barra (/) em cada espaço preenchido com cor
(amarela, verde, azul ou vermelha). O valor à esquerda da barra se refere ao número de
ocorrência total da palavra. O valor à direita da barra se refere ao número de cancelamento
da palavra.
Da 2a a 9a coluna aparecem as palavras com /l/. Nesta parte, os espaços em verde
correspondem à produção da palavra com a lateral /l/, e os espaços em amarelo
correspondem ao cancelamento de tal líquida intervocálica. Da 10a a 12a coluna, são
apresentadas as palavras com //. Nesta parte, os espaços em azul correspondem a
produção da palavra com o tepe //, e os espaços em vermelho correspondem ao
cancelamento desta líquida intervocálica.
Na 13a coluna são apresentados os totais de não-cancelamento e de cancelamento
separados por barra (/), para cada informante. Assim, o valor à esquerda da barra
corresponde ao total de não-cancelamento. O valor à direita da barra corresponde ao total
de cancelamento. A porcentagem que aparece nesta coluna refere-se a este valor de
cancelamento à direita da barra. A última coluna, 14a, apresenta o número total de palavras
ditas por cada informante.
Por fim, a antepenúltima linha da tabela apresenta o total de não-cancelamento das
20 palavras, enquanto a última linha apresenta o total de cancelamento delas. O total de
ocorrência de cada palavra aparece na última linha.
138









ø
2/1

Prof. de
Direito.
l
ø
l
ø
l
l
l
l


2/0










Aluna de
Direito
l
ø
3/1
l
l
l
l
l
l
2/0


5/0









2/0

Profa. de
Direito
Aluno de
Psicologia
--
--
l
l
l
l
l




--

--



ø
3/1
l
l
l
l
l


3/0


l
l
2/0
l






--


ø
4/2
Prof. de
Psicologia
l
ø
6/2
l
l
l
4/0
--
l
2/0
l


2/0
--









Aluna de
Psicologia
l
ø
4/1
l
l
--
l
l
l


2/0




2/0
--

--



Profa. de
Psicologia
l
ø
3/1
l
l
l
l
l
l

2/0

1/0










Aluno de
Contábeis
l
ø
4/1
l
l
l
l
l
l

3/0

4/0
--


3/0






2/0

Prof. de
Contábeis
l
ø
4/3
l
l
l
l
l
l








--



Aluna de
Contábeis
Profa. De
Contábeis
l
l
3/0
ø
2/1
l
l
l
l
l
l











l
l
--
l
l
l


2/0

2/0









ø
Aluno de
Estatística
l
l
2/0
l
l
l
l
l
l


2/0










Prof. de
Estatística
l
l
l
l
l
l
l
l





3/0

ø





Aluna de
Estatística
l
ø
4/2
l
l
l
l
l
l


3/0





--



2/0

Profa. de
Estatística
l
ø
3/1
l
l
l
l
l
l












Aluno de
Medicina
l
ø
l
ø
2/1
l
l
l
l






--





Prof. De
Medicina
l
ø
5/1
l
l
l
l
l
l








--



Aluna de
Medicina
Profa. de
Medicina
l
l
3/0
l
3/0
l
l
l
l
l
l












l
l
--
l
l
l






--




2/0

l
l
Xícara
(xícaras)

2/0
Horas
l
TOTAIS
NÃO CAN./
CANCELA
TOTAL
GERAL
Restaurante
Professora
Pássaro(s)
Óculos escuros
l
Coração
l
Bailarina
l
Árvore
Amarelo
(amarela)
l
Televisão
l
Telefone
ø
4/3
Prateleira
l
Pílula
Aluno de
Direito
Panela
Aeroporto
Amarelada

Relógio de
parede
Óculos (óculos
escuros)
Informantes
Bola de futebol
l
21/
4
16%
19/
2
9%
27/
1
4%
19/
0
21/
3
12 %
26/
2
7%
21/
1
4%
22/
1
4%
29/
1
3%
19/
3
14%
23/
0
19/
2
9%
22/
0
22/
1
4%
25
21
28
19
24
28
22
23
30
22
23
21
22
23
22/
2
8%
21/
1
4%
18/
2
10%
22/
1
4%
22/
0
24
21/
21
0
22
20
23
22
139
Aluno de
Ed. Física
l
ø
3/2
l
l
l
l
l
l


4/0

2/0
ø

2/0






2/0

Prof. de
Ed. Física
Aluna de
Ed. Física
Profa. de
Ed. Física
l
l
2/0
l
5/0
ø
2/1
l
l
l
l
l
l






--
--




l
l
l
l
l
l






--





l
l
l
l
l
l







--


NÃO
CANCELA
CANCELA
23
48
24
23
24
23
26
25
28
44
23
23
29
25
17
21
19
24
TOTAL
GERAL
l
l
0
23
23
33%
71
25/
3
11%
19/
0
28
23/
23
19/
1
5%
20
19
0
0
24
2
9%
25
0
24
0
23
0
26
0
25
0
28
0
44
0
23
1
4%
24
0
29
0
25
1
5%
18
0
21
0
19
0
24

28
1
4%
29

25
3
11%
28
522
(94%)
31
(6%)
553
140
ANEXO 7
TABELAS CONTENDO MAIORES DETALHAMENTOS NUMÉRICOS A RESPEITO
DOS DADOS ESTATÍSTICOS
Obs: nas tabelas abaixo, a palavra nível se refere à faixa etária dos informantes. A
correlação nível/ sexo/ curso corresponde ao fator indivíduo.
TesteF - A Variância Variância
eB
A
B
sexo / área
nível / sexo
nível / área
nível / curso
curso
sexo / curso
nível / sexo /
curso
0,890543471
0,89352853
0,940105756
0,827950901
0,56655908
0,931111878
0,332537302
Significância A
sexo / área
nível / sexo
nível / área
nível / curso
curso
sexo / curso
nível / sexo /
curso
2,556199
2,394839
2,03075
1,585725
1,754284
2,01472
1,5825
10,20577
5,971972
6,441238
7,854929
4,8068
12,6799
15,64602
11,61565
7,06329
6,912666
8,98228
2,796076
13,37445
23,57402
Desvio
Padrão A
Desvio
Padrão B
3,194647
2,443762
2,537959
2,802665
2,192442
3,560884
3,955505
3,408174
2,657685
2,629195
2,997045
1,672147
3,65711
4,855308
Significân- Teste-Qui A Teste-Qui B
cia B
2,727053
2,60448
2,103752
1,695704
1,33797
2,069164
1,942489
0,7929985
0,6899098
0,7790053
0,9374677
0,8206423
0,9298743
0,9843109
0,791692313
0,697123094
0,820831373
0,944539636
0,850475357
0,926730771
0,95979954
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O cancelamento das líquidas /l/ e / / intervocálicas