Raquel Márcia Fontes Martins O cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte BELO HORIZONTE FACULDADE DE LETRAS DA UFMG Dezembro de 2001 Raquel Márcia Fontes Martins O cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requesito parcial à obtenção do título de Mestre em Lingüística. Área de concentração: Lingüística Linha de pesquisa: D (Estrutura Sonora da Linguagem) Orientadora: Profa. Dra. Thaïs Cristófaro Silva BELO HORIZONTE FACULDADE DE LETRAS DA UFMG Dezembro de 2001 Aos meus pais, Estrelas da Vida Inteira AGRADECIMENTOS À Profa. Thaïs Cristófaro Silva por sua dedicada orientação, por me ensinar a ter seriedade e comprometimento com a pesquisa, por sempre suscitar em mim o desejo de aprender mais sobre Lingüística. Aos professores José Olímpio Magalhães e César Augusto Reis que me despertaram o gosto pela Fonética e pela Fonologia. Aos Professores Antônio Augusto Farias, César Augusto Reis, Edna Reis, Eunice Nicolau, José Olímpio Magalhães e Luiz Carlos Rocha, pelos ensinamentos valiosos em seus cursos. À Profa. Evelyne Dogliani Madureira, sempre muito solícita, pelas sugestões e pelo interesse em minha pesquisa. Ao João Henrique Totaro, pelo competente trabalho estatístico e pelas discussões bastante frutíferas. Ao Mário Alexandre Garcia, por ter sido tão prestimoso ao me ajudar na análise acústica. Aos meus colegas de curso, André Rossi, Candice Navarro, Fábio Wenceslau, Lúcia Fernanda Barros e Lúcia Valéria Nascimento, pelos proveitosos momentos de estudo e pela amizade. A minha amiga Luciana, pelo carinho. A minha família – mãe, pai, Rudy, Isaac, Carol, Dedé, Mari, Ivana, Luciano e Léo – pelo amor incondicional e pelo apoio incomensurável. Ao Wagner, pelo amor, pela compreensão e por ser tão companheiro sempre. A CAPES, pela bolsa concedida durante o curso. Por fim, agradeço em especial aos meus informantes. Sem eles, esta pesquisa não teria sido realizada. Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele Sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sentiremos enriquecidos. (...) Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente. (Cecília Meireles) SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................. 1 1 CARACTERIZAÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICAS DAS LÍQUIDAS /l/ E //.............................................................................. 3 1.0 Introdução.......................................................................................... 3 1.1 As líquidas /l/ e // em posição intervocálica................................. 3 1.2 Parâmetros articulatórios................................................................. 9 1.3 Parâmetros acústicos....................................................................... 11 1.4 O efeito do cancelamento de líquidas intervocálicas observado acusticamente................................................................................... 15 1.5 A representação fonológica das líquidas /l/ e //.......................... 17 1.5.1 O comportamento fonológico das líquidas................................ 17 1.5.2 Traços distintivos......................................................................... 19 1.5.3 Teoria de elementos..................................................................... 21 1.6 Conclusão......................................................................................... 22 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................... 2.1 Introdução......................................................................................... 2.2 O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise com foco em clíticos.......................................................................................... 2.2.1 Introdução................................................................................... 2.2.2 O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de Corrêa.......................................................................................... 2.2.3 O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de Bisol.............................................................................................. 2.2.4 Conclusão..................................................................................... 2.3 O cancelamento de líquidas intervocálicas como um reflexo da estrutura prosódica.......................................................................... 2.4 O cancelamento de líquidas intervocálicas como um fenômeno fonológico.......................................................................................... 2.4.1 Lenição........................................................................................ 2.4.2 Motivações internas e externas................................................. 2.4.3 Um processo variável................................................................. 2.5 Conclusão.......................................................................................... 3 24 24 24 25 25 27 31 32 33 34 37 43 45 METODOLOGIA................................................................................ 47 3.1 Introdução......................................................................................... 47 3.2 População e amostra........................................................................ 49 3.2.1 A capital mineira – Belo Horizonte........................................... 51 3.2.2 A Universidade Federal de Minas Gerais................................. 53 3.3 Coleta de Dados................................................................................ 53 3.4 Seleção de variáveis.......................................................................... 57 3.4.1 Variável dependente.................................................................... 57 3.4.2 Variáveis independentes............................................................. 57 3.4.2.1 Variáveis independentes lingüísticas................................... 57 3.4.2.2 Variáveis independentes extralingüísticas......................... 58 3.5 Levantamento dos dados................................................................. 59 3.6 Conclusão.......................................................................................... 60 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS.......................................... 61 4.1 Introdução......................................................................................... 61 4.2 Apresentação geral dos dados......................................................... 61 4.3 Variáveis independentes lingüísticas.............................................. 64 4.3.1 Padrão acentual (paroxítono e paroxítono)............................. 68 4.3.2 Posição da líquida em relação ao acento – pretônico ou postônico..................................................................................... 69 4.3.3 Qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida............ 75 4.3.4 Conclusão.................................................................................... 83 4.4 Variáveis independentes extralingüísticas..................................... 83 4.4.1 Sexo.............................................................................................. 84 4.4.2 Faixa etária (escolaridade)........................................................ 85 4.4.3 Estilo de fala............................................................................... 86 4.4.4 Área acadêmica.......................................................................... 87 4.4.5 Curso acadêmico........................................................................ 89 4.4.6 Indivíduo..................................................................................... 90 4.4.7 Correlações entre variáveis independentes extralingüísticas e testes estatísticos feitos com o programa estatístico SPSS... 95 4.4.7.1 Teste-F................................................................................... 96 4.4.7.2 Teste de variância................................................................ 97 4.4.7.3 Teste-qui............................................................................... 98 4.4.7.4 Teste de desvio-padrão...................................................... 100 4.4.7.5 Teste de significância......................................................... 101 4.4.7.6 Considerações estatísticas sobre o fator palavra............. 101 5 CONCLUSÃO.................................................................................... 105 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................. 107 ANEXOS..................................................................................................... 115 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Espectograma da lateral ápico-alveolar /l/ do Arrernte... 12 FIGURA 2 – Espectogramas da palavra [kao], ‘caro’.......................... 13 FIGURA 3 – Espectogramas das líquidas /l/ e //.................................... 14 FIGURA 4 – Elementos que compõem os segmentos /l/ e //................. 22 FIGURA 5 – Estrutura do léxico proposta pela fonologia lexical (cf. LEE, 1995: 5)................................................................... 28 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Variantes (1) e (2) envolvidas no fenômeno de cancelamento de líquidas intervocálicas.............................. 4 TABELA 2 – Fonemas consonantais do português brasileiro em contexto intervocálico............................................................ 6 TABELA 3 – Graus de abertura dos sons................................................. 10 TABELA 4 – Freqüências dos formantes (em Hz) das laterais do Arrernte................................................................................ 12 TABELA 5 – Classes naturais apontadas por LADEFOGED (1981: 111) e CHOMSKY; HALLE (1968).........................…………... 18 TABELA 6 – Traços distintivos atribuídos às classes vogal, consoante, líquidas e glides.................................................................... 20 TABELA 7 – Elementos apresentados por HARRIS (1990: 12).............. 21 TABELA 8 – Escala de sonoridade............................................................ 38 TABELA 9 – Vocábulos do ganda.............................................................. 39 TABELA 10 – Vocábulos do coreano......................................................... 39 TABELA 11 – Cursos por áreas acadêmicas............................................. 49 TABELA 12 – Distribuição dos informantes em 12 células sociais......... 51 TABELA 13 – As 20 palavras com líquidas intervocálicas utilizadas na entrevista do tipo nomeação de figuras...................... 55 TABELA 14 – Dados da entrevista do tipo conversa livre....................... 61 TABELA 15 – Dados da entrevista do tipo nomeação de figuras............ 63 TABELA 16 – Dados de todo corpus.......................................................... 63 TABELA 17 – Palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada.... 65 TABELA 18 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras proparoxítonas................................................................... 70 TABELA 19 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras paroxítonas......................................................................... 71 TABELA 20 – Vogal anterior à líquida : i................................................ 76 TABELA 21 – Vogal anterior à líquida: e................................................. 76 TABELA 22 – Vogal anterior à líquida: ................................................. 76 TABELA 23 – Vogal anterior à líquida: a................................................. 77 TABELA 24 – Vogal anterior à líquida: ................................................. 77 TABELA 25 – Vogal anterior à líquida: o................................................. 77 TABELA 26 – Vogal anterior à líquida: u................................................. 78 TABELA 27 – Vogais posteriores à líquida............................................... 79 TABELA 28 – Vogal i................................................................................. 80 TABELA 29 – Vogal e................................................................................. 80 TABELA 30 – Vogal ................................................................................. 80 TABELA 31 – Vogal a................................................................................. 81 TABELA 32 – Vogal ................................................................................. 81 TABELA 33 – Vogal o................................................................................. 81 TABELA 34 – Vogal u................................................................................. 82 TABELA 35 – Sexo (entrevista do tipo conversa livre)............................ 84 TABELA 36 – Sexo (entrevista do tipo nomeação de figuras)................. 84 TABELA 37 – Faixa etária (entrevista do tipo conversa livre)............... 85 TABELA 38 – Faixa etária (entrevista do tipo nomeação de figuras)................................................................................ 86 TABELA 39 – Área acadêmica (entrevista do tipo conversa livre)......... 87 TABELA 40 – Área acadêmica (entrevista do tipo nomeação de figuras)........................................................................... 88 TABELA 41 – Comparação entre os resultados do fator área acadêmica para a entrevista do tipo conversa livre e a do tipo nomeação de figuras.......................................................... 88 TABELA 42 – Curso acadêmico (entrevista do tipo conversa livre).................................................................................... 89 TABELA 43 – Curso acadêmico (entrevista do tipo nomeação de figuras).......................................................................... 90 TABELA 44 – Indivíduo (entrevista do tipo conversa livre)................... 91 TABELA 45 – Indivíduo (entrevista do tipo nomeação de figuras)........ 93 TABELA 46 – Cancelamento de líquidas intervocálicas nas entrevistas do tipo conversa livre e do tipo nomeação de figuras, para alguns indivíduos................................................................ 94 TABELA 47 – Palavras mais expressivas................................................ 103 TABELA 48 – Correlações entre os itens mais expressivos................... 103 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Teste-F (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B))....................................................................................... 96 GRÁFICO 2 – Teste de variância (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)) quanto ao não-cancelamento........................ 98 GRÁFICO 3 – Teste-qui (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)) quanto ao cancelamento............................................ 99 GRÁFICO 4 – Desvios-padrão das percentagens (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B))................................................. 100 GRÁFICO 5 – Significância das percentagens (confiança = 95%) – conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)............... 101 RESUMO Este estudo analisa o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte: eskla > eska, fsforo> fsfo. Argumenta-se que esse é um fenômeno incipiente. Propõe-se que tal fenômeno se apresenta como um caso de variação lingüística. Dessa maneira, há uma alternância entre as seguintes formas: variante (1) em que a líquida é mantida (eskla, fsforo) e variante (2) em que a líquida é cancelada (eska, fsfo). Esta dissertação discute duas propostas teóricas principais para a abordagem da mudança lingüística: o modelo neogramático e o modelo da difusão lexical. Dentro da perspectiva neogramática, como é o som que regula a mudança sonora, o cancelamento de líquidas intervocálicas é considerado um processo fonológico. Sendo assim, a seguinte regra poderia ser predita: o cancelamento das líquidas /l/ e // ocorre, opcionalmente, quando tais líquidas figuram em contexto intervocálico. Dentro da perspectiva difusionista, como é a palavra que regula a mudança lingüística, considera-se que o fenômeno em estudo se aplica nos itens lexicais. Palavras com o mesmo ambiente fonético podem ou não ser afetadas por uma mudança. Depende da história de cada vocábulo. Contudo, depois de iniciada a mudança de uma palavra, o contexto fonético pode ser ativado, funcionando como um estabilizador da mudança (cf. OLIVEIRA, 1992). Os dados analisados foram obtidos de entrevistas com 24 informantes, nascidos ou residentes em Belo Horizonte, há pelo menos 20 anos. Os informantes são professores e alunos da UFMG. Este trabalho propõe que os fatores indivíduo e curso acadêmico do informante favorecem a aplicação do fenômeno em estudo. Também a palavra é um fator importante. Constata-se que a sílaba postônica final é o único fator estrutural que influencia o cancelamento de líquidas intervocálicas. Esse contexto fonético pode estar sendo o estabilizador de tal mudança. INTRODUÇÃO Objetiva-se, neste trabalho, descrever o fenômeno do cancelamento das líquidas intervocálicas /l/ e // na fala atual do português de Belo Horizonte. Reconhecemos que a língua falada, material de nossa pesquisa, é diversa sob o ponto de vista de que se apresenta em variação e mudança constantemente. Não reina o “caos” em seu funcionamento. A língua falada funciona porque os falantes, que a utilizam como um instrumento de convívio social, compartilham de um conhecimento comum em relação às variações e mudanças. Há duas perspectivas teóricas principais para a abordagem de fenômenos de mudança, as quais serão discutidas no presente estudo: o modelo neogramático e o modelo da difusão lexical. No modelo neogramático, as regras são categóricas e as poucas exceções são tratadas como casos de empréstimo ou analogia. A mudança sonora é considerada pelos neogramáticos como foneticamente gradual e lexicalmente abrupta. Assim, para eles, uma mudança sonora atinge todas as palavras que apresentam o contexto fonético para essa mudança. As análises históricas do latim como base para o surgimento de línguas românicas são evidências para o modelo neogramático. O modelo da difusão lexical, ao contrário do neogramático, postula que a mudança sonora é foneticamente abrupta e lexicalmente gradual. Cada palavra tem a sua própria história, ou seja, é a palavra que regula a mudança, A mudança atinge as palavras uma a uma, podendo ou não chegar a se completar para todo o léxico. Com base nessas idéias, pretendemos avaliar se o fenômeno em questão é melhor explicado pelo modelo neogramático ou pelo modelo da difusão lexical. O cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte é um fenômeno incipiente. Ele não é recorrente, não se encontra em um estágio avançado como o fenômeno da palatalização, por exemplo, que ocorre em muitas variedades do português brasileiro. Segundo a regra de tal fenômeno, o fonema /t/ torna-se [t] toda vez que ocorre diante de /i/. Não há como prever uma regra fonética deste tipo para o 2 cancelamento de líquidas intervocálicas. Ainda assim, tal fenômeno merece ser estudado, já que é atestado em pelo menos uma variedade do português. Esta dissertação foi organizada em cinco capítulos. No primeiro capítulo, discutimos as líquidas /l/ e // em posição intervocálica, segundo as caracterizações fonéticas e fonológicas. Nas caracterizações fonéticas, abordamos os parâmetros articulatórios e acústicos das líquidas intervocálicas e também o efeito acústico do cancelamento de /l/ e // em posição intervocálica. Nas caracterizações fonológicas, abordamos o comportamento fonológico de /l/ e // como classe natural, os traços distintivos de tais líquidas e a teoria de elementos. No segundo capítulo, fazemos uma revisão bibliográfica relevante ao tratamento do tema aqui pesquisado. Discutimos três análises possíveis para o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas: análise com foco em clíticos, análise como um reflexo da estrutura prosódica e análise como um fenômeno fonológico. Ainda neste capítulo, abordamos o modelo da fonologia lexical (cf. KIPARSKY, 1982a, b; MOHANAN, 1982). No terceiro capítulo, apresentamos a metodologia adotada em nossa pesquisa que se fez com base na teoria variacionista. Mostramos os critérios de seleção dos informantes e dos dados e justificamos os fatores externos e internos abordados no presente estudo. No quarto capítulo, apresentamos a análise e discussão dos dados, em que se procedeu à análise quantitativa desses. Finalmente, no quinto capítulo, concluímos o estudo e buscamos indicar pesquisas futuras potenciais. Avaliamos também a pertinência dos modelos que tratam da variação nas línguas naturais. 3 CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÕES FONÉTICAS E FONOLÓGICAS DAS LÍQUIDAS /l/ e // 1.0. Introdução Neste capítulo, faremos um estudo sobre as líquidas /l/ e // intervocálicas nas áreas da fonética e da fonologia. Dentro da fonética, analisaremos os parâmetros articulatórios e acústicos das líquidas /l/ e // intervocálicas, bem como o efeito do cancelamento de tais líquidas, observado acusticamente. Discutiremos ainda a representação fonológica de /l/ e //, segundo as três abordagens apresentadas em (1): (1) a. Classe natural b. Traços distintivos c. Teoria de elementos 1.1. As líquidas /l/ e // em posição intervocálica Os estudos lingüísticos (a lingüística histórica especialmente) já comprovavam o caráter dinâmico da língua, antes de a lingüística ser reconhecida como ciência no início do século passado (cf. FARACO, 1991). Além de se saber que as línguas mudam com o passar do tempo, observou-se que elas são heterogêneas, mesmo em uma análise sincrônica. Essa é uma noção contrária à idéia de homogeneidade em um “estado de língua”, proposta por SAUSSURE (1916), no Curso de lingüística geral. TARALLO (1990) diz que há uma “heterogeneidade sistemática” nas línguas, seja em qual for o recorte, diacrônico ou sincrônico. Ele afirma que só é possível entender a estrutura e o funcionamento das línguas levando-se em consideração essa idéia de heterogeneidade. 4 Tendo em vista tal noção, apresentamos neste trabalho um fenômeno que assumimos representar um caso de variação lingüística. Esta pesquisa discute o cancelamento das líquidas intervocálicas /l/ e // no português contemporâneo de Belo Horizonte. O cancelamento de líquidas intervocálicas é opcional em princípio. Duas variantes concorrem para essa variável: a variante (1) em que a líquida é mantida e a variante (2) em que a líquida é cancelada. Como exemplos que ilustram esse fenômeno tem-se: TABELA 1 – Variantes (1) e (2) envolvidas no fenômeno de cancelamento de líquidas intervocálicas Variante (1) l escola eskla televisão televiza Variante (2) l para paa fósforo fsfoo televisão escola eska para teviza fósforo pa fosfo A tabela acima apresenta exemplos da variante (1), em que a líquida é mantida, e da variante (2), em que a líquida é cancelada, para as duas líquidas intervocálicas /l/ e //. A forma ortográfica das palavras aparece em itálico, na tabela. A forma fonética de cada uma dessas palavras aparece do lado direito de sua respectiva forma ortográfica. Além da perda de uma das duas consoantes líquidas /l/ ou // em cada uma das quatro palavras apresentadas, há também, em três delas, a perda de uma sílaba, como (2) demonstra: (2) a. televiza Æ teviza b. paa Æ pa c. fsfoo Æ fsfo 5 Somente uma palavra, na tabela 1, perde apenas a consoante líquida, nesse caso, a lateral alveolar ou dental /l/: eskla Æ eska. Podemos perceber que os casos apontados em (2) apresentam líquidas que estão entre vogais iguais. Podemos supor, para os casos de (2), a aplicação do Princípio do contorno obrigatório (PCO). Segundo o PCO, seqüências adjacentes de unidades idênticas são proibidas nas representações fonológicas (cf. CRISTÓFARO-SILVA, 1999b: 208; HARRIS, 1994: 172). Assim, o que há nos casos de (2) é a fusão de segmentos idênticos – ou seja, de duas vogais idênticas – o que resulta na redução de uma sílaba. Por exemplo, em televiza, a líquida [l] está entre duas vogais idênticas (ee) que, após o cancelamento de tal líquida, são reduzidas a uma única vogal (e): teviza. Além do contexto intervocálico, as líquidas /l/ e // podem ocorrer no português brasileiro, em final de sílaba – sal, salto, mar, porta Æ[sal, salto, ma, pota]– e em encontro consonantal tautossilábico – plano, prato, exemplo, livro Æ [plano, pato, ezeplo, livo]. A variação das líquidas no contexto de final de sílaba foi estudada por OLIVEIRA (1983, 1997). CALLOU; MORAES; LEITE (1996) estudaram a variação sonora relacionada ao arquifonema /R/, estando incluído nessa análise o tepe // em fim de sílaba. A variação sonora das líquidas /l/ e // em encontro consonantal é discutida em CRISTÓFARO-SILVA (2000a, 2000b) e FREITAS (2000). Estes dois últimos trabalhos sugerem que o cancelamento das líquidas /l/ e // é opcional em encontros consonantais tautossilábicos. O comportamento das líquidas em contexto intervocálico foi investigado por CRISTÓFARO-SILVA (1999a) e CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No prelo). Tais trabalhos apontam que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas é opcional no português de Belo Horizonte contemporâneo. No entanto, fatores internos e externos não foram avaliados nestes dois estudos. Não houve também um tratamento estatístico na investigação do fenômeno. Dessa maneira, a pesquisa apresentada nesta Dissertação de Mestrado pretende preencher essas lacunas. 6 No português brasileiro, são 19 os fonemas consonantais e todos eles ocorrem em contexto intervocálico, como se pode verificar na tabela 2 abaixo: TABELA 2 – Fonemas consonantais do português brasileiro em contexto intervocálico Fonemas consonantais 1- p 2- b 3- t 4- d 5- k 6- 7- f 8- v 9- s 10- z 11- 12- 13- h 14- m 15- n 16- 17- 18- l 19- Exemplo ortográfico capa cabo gata cada maca mago café nova caça casa cocho cajá carro dama lona manha vara tala calha Transcrição fonética kapa kabo ata kada maka mao kaf nva kasa kaza koo kaa kaho dama lona maa vaa tala kaa A tabela 2 apresenta, na primeira coluna, as 19 consoantes do português brasileiro. Na segunda coluna, são apresentadas, na forma ortográfica, palavras que contêm, cada uma, 1 das 19 consoantes do português brasileiro em posição intervocálica. Na terceira coluna, essas mesmas palavras aparecem transcritas foneticamente. O presente trabalho estuda o cancelamento das líquidas /l/ (lateral alveolar ou dental) e // (tepe ou vibrante simples) intervocálicas (cf. números 17 e 18 destacados na 7 tabela acima) no português de Belo Horizonte atual 1. Em nossa língua, os fonemas consonantais líquidos são /l/, // e //. A líquida // intervocálica não foi considerada nesta pesquisa. Essa lateral palatal2 foi analisada por MADUREIRA (1987) que estudou a sua vocalização no português, um caso de lenição. O fenômeno da vocalização da lateral palatal é, segundo Madureira, um caso de variação lingüística. Observa-se que ele ocorre, regularmente, na fala de pessoas de um grupo social menos favorecido, com baixa escolaridade. Exemplos são ilustrados em (3): (3) a. olho Æoo> oyo b. calha Ækaa> kaya c. filho Æfio> fiyo De acordo com MADUREIRA (1987), na fala de pessoas de um grupo social mais favorecido, com maior escolaridade, não se observa a aplicação do fenômeno da vocalização da lateral palatal. MADUREIRA (1997, 1999) ressalta, contudo, que a vocalização da lateral palatal ocorre na fala destas pessoas de maior escolaridade também, no entanto, em apenas alguns poucos itens que são apresentados em (4): (4) a. velho Æ vo> vyo b. trabalho Æ tabao> tabayo c. palha Æ paa> paya d. orelha Æ oea> oeya e. mulher Æ muh> muy 1 Em nosso corpus, observamos o cancelamento da nasal /m/ em palavras como, uma, alguma, respectivamente: uma> ua; awguma> awgua. Contudo, essa observação foi feita de maneira assistemática, por isso não trabalharemos com esse caso de cancelamento no presente estudo. SILVEIRA (1971:8) aponta para esse fenômeno quando afirma: “Antigamente dizia-se algua e ua...” 2 O segmento // ocorre somente em contexto intervocálico no português, como nos mostram os seguintes exemplos: bolha Æ/boa/, milho Æ/mio/, ovelha Æ/ovea/, etc. Há um único caso em que o // ocorre em início de palavra: lhama Æ/ama/. Contudo, esse é um caso de empréstimo. 8 Para Madureira, a vocalização nessas palavras ocorre em função de uma especificidade de sentido, pela conotação afetiva desses vocábulos. Neste caso da fala de pessoas com maior escolaridade, o fato de a vocalização não ser regulada foneticamente, ou seja, // não é vocalizado em todo ambiente intervocálico, faz Madureira optar por uma análise segundo o modelo da difusão lexical. Nesse modelo, a mudança é regulada pela palavra. Discutiremos mais amplamente a teoria da difusão lexical no terceiro capítulo. Um primeiro estudo a ser mencionado aqui, o qual aponta para o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português brasileiro, é AMARAL, M. (1999). Amaral analisa o fenômeno da síncope em palavras proparoxítonas do português. Nestes sete exemplos de AMARAL, M. (1999: 216-217), observamos o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, como ilustrado em (5): (5) a. árvore > [arvi] b. abóbora > [abba] c. úlcera > [ursa] d. triângulo > [triau] e. víspora > [vispa] ~ [vispu] f. fósforo > [fsu] ~ [sfi] g. pílula > [pila] AMARAL, M. (1999: 15-16) cita três trabalhos que apresentam, entre outros, casos de cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas também3. Estes estudos são mencionados a seguir. O primeiro destes trabalhos é AMARAL, A. (1955: 53). Em O Dialeto Caipira, este autor apresenta um caso de cancelamento da líquida /l/ intervocálica: ridículo> ridico. O segundo trabalho é O linguajar carioca em 1922, de Antenor Nacentes, em que o autor apresenta os seguintes exemplos de cancelamento com a líquida intervocálica //: árvore> arve; mármore> marme; pólvora> porva. 3 Como AMARAL, M. (1999) estuda a síncope em palavras proparoxítonas, todos os exemplos apontados por tal autora são de palavras proparoxítonas. 9 O terceiro trabalho mencionado por AMARAL, M. (1999: 15) é MARROQUIM (1934). Marroquim apresenta um exemplo em que há cancelamento da líquida // intervocálica: pássaro> passo. Como podemos notar, todos os casos, apresentados acima, de cancelamento de /l/ e // intervocálicos em palavras proparoxítonas se dão em sílaba postônica final. Portanto, consideramos que o fator estrutural tipo de sílaba deve ser investigado na presente pesquisa. Devemos confirmar ou não se o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, pelo menos em palavras proparoxítonas, ocorre em sílaba postônica final. Além da posição da líquida em relação ao acento (pretônico ou postônico), investigaremos também, como fatores estruturais que podem influenciar o fenômeno estudado, o padrão acentual (proparoxítono e paroxítono) e a qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida. 1.2. Parâmetros articulatórios Segundo CRYSTAL (1988: 164), líquido “é o termo utilizado por alguns foneticistas na classificação dos sons da fala, referindo-se a todos os sons ápico-alveolares dos tipos /l/ e //”. CRYSTAL (1987: 166) diz que a maior parte das línguas naturais tem pelo menos uma líquida e que 72% das línguas têm mais de uma líquida. Nesta última obra, o autor diz que os segmentos /l/ são mais recorrentes que os segmentos // nas línguas naturais. As líquidas são chamadas de vocóides silábicos por LAVER (1994: 270) quando funcionam como centro da sílaba, o que não ocorre em português. Em nossa língua, as líquidas funcionam como margem da sílaba, ou seja, as líquidas precedem e seguem o núcleo da sílaba. Na seção 1.5.1, discutiremos o fato de as líquidas se assemelharem com as consoantes. As líquidas estudadas nesta pesquisa são o tepe // e a lateral alveolar /l/. CRYSTAL (1987: 157) define essas duas líquidas em termos articulatórios. Segundo esse autor, o tepe é produzido com uma única batida do articulador ativo (ápice da língua) contra o articulador passivo (alvéolos). A lateral é definida por Crystal como um segmento 10 produzido com o fechamento parcial em um ponto da boca (alvéolos), de modo que a corrente de ar escape pelos lados desse fechamento. ABERCROMBIE (1967: 145), LAVER (1994: 142, 144), PIKE (1943: 124-125) e TRASK (1996: 198, 350) apresentam conceituações muito semelhantes as de Crystal para as líquidas /l/ e //. Seguindo CRYSTAL (1987, 1988), NETTO (2001: 49) diz que o termo líquida abrange três tipos articulatórios, apresentados em (6): (6) a. lateral b. tepe ou vibrante simples c. “trill” ou vibrante múltipla Nesta pesquisa, iremos nos restringir à lateral /l/ e ao tepe //, como já foi dito anteriormente. LASS (1984) apresenta classes mais “largas” em que as líquidas tradicionais são agrupadas com os glides. As líquidas, juntamente com os glides, são também chamadas de aproximantes. CLARK; YALLOP (1995: 47) definem uma aproximante como “uma articulação potencialmente estável em que a constrição é normalmente maior do que a da vogal, mas não tão grande o bastante para produzir turbulência no ponto de constrição”. Clark e Yallop dizem que: “seguindo Ladefoged, o termo [aproximante] abrange as categorias tradicionais de ‘contínuo não-fricativo’, ‘semivogal’ e ‘soante’”. Essas categorias identificam as líquidas (contínuo não-fricativo, soante) e os glides (semivogais). O grau de abertura ou aproximação, distância que se estabelece entre os articuladores passivo e ativo, é um importante caracterizador da articulação de sons. O grau de abertura é discutido por NETTO (2001: 48-53). Tal autor propõe um esquema que demonstra os graus de abertura dos sons. A tabela 3 apresenta um esquema baseado em NETTO (2001: 50): TABELA 3 – Graus de abertura dos sons Graus de abertura consoantes vogais 0 1 2 3 4-6 oclusivas fricativas nasais líquidas vibrante glides vogais obstruintes soantes aproximantes 11 Na primeira coluna da tabela 3, há uma divisão entre consoantes e vogais. O grau de abertura para cada tipo de som da terceira coluna (oclusivas, fricativas, nasais, líquidas, vibrante, glides e vogais) é apresentado na segunda coluna. O grau de abertura varia de 0 a 6 para cada tipo de som. Quanto maior o grau, maior é a distância entre os articuladores ativo e passivo na produção do som. Na quarta coluna, há uma outra classificação para os tipos de consoantes em obstruintes, soantes e aproximantes. Como se pode ver, o grau de abertura das líquidas (juntamente com os glides) só é menor que o grau de abertura das vogais. Esse fato aponta para a similaridade articulatória que há entre vogais e consoantes líquidas. A tabela 3 também mostra que as líquidas, juntamente com os glides, são classificadas como aproximantes por esse autor. Os parâmetros articulatórios das líquidas, evidenciados acima, apontam para o fato de que /l/ e // se comportam como classe natural. Na seção 1.5.1, discutiremos mais amplamente tal fato. Na próxima seção, abordaremos os parâmetros acústicos das líquidas /l/ e // intervocálicas. Na seção 1.4, apresentaremos, o efeito do cancelamento das líquidas /l/ e // observado acusticamente e, assim, terminaremos a caracterização fonética de tais consoantes líquidas. 1.3 . Parâmetros acústicos Nesta seção, faremos a caracterização acústica das líquidas /l/ e // intervocálicas. Tal caracterização servirá para mostrar a semelhança acústica que há entre essas duas consoantes. Comecemos pelas propriedades acústicas da lateral /l/. A lateral é caracterizada acusticamente por formantes bem-definidos. De acordo com LADEFOGED (1996: 193), o primeiro formante é tipicamente de baixa freqüência. O segundo formante pode ter uma freqüência central com larga extensão, dependendo do local da oclusão e da postura da língua. O terceiro formante tem geralmente uma aplitude relativamente forte, como também uma freqüência alta. Se a lateral /l/ é adjacente a vogais, uma mudança abrupta na localização dos formantes pode ser observada em ambas, quando o fechamento médio para a lateral é formado e então realizado. Já as laterais laminais e dorsais, quando adjacentes a vogais, apresentam transições mais lentas nos formantes. A 12 tabela 4 abaixo apresenta as freqüências dos formantes de laterais do Arrernte, segundo LADEFOGED (1996: 194): TABELA 4 – Freqüências dos formantes (em Hz) das laterais do Arrernte n F1 F2 F3 F3-F4 1. Lateral lamino-dental 40 391 1811 2891 1080 2. Lateral ápico-alveolar 75 386 1677 3162 1481 3. Lateral ápico-pós-alveolar 37 368 2132 3278 1146 4. Lateral lamino-pós-alveolar 34 376 2324 3096 772 5. Lateral palatalizada retroflexa 26 415 2282 3290 1008 A primeira coluna da tabela 4 apresenta os tipos de laterais do Arrernte. Na segunda coluna, é apresentado o número da amostra para cada tipo de lateral. Nas outras colunas, são apresentados os formantes desses tipos de laterais. Nesta tabela 4, interessam-nos os números relacionados à lateral ápico-alveolar /l/, objeto de nossa pesquisa (cf. número 3 na tabela 4). Esses números podem ser confirmados no espectograma retirado de LADEFOGED (1996: 195), apresentado na figura 1 abaixo: FIGURA 1 – Espectograma da lateral ápico-alveolar /l/ do Arrernte 13 LADEFOGED (1996: 231) também apresenta dois espectogramas do tepe //. Tais espectogramas mostram a palavra espanhola [kao], ‘caro’, o que vemos na figura 2 abaixo: FIGURA 2 – Espectogramas da palavra [kao], ‘caro’ Os espectogramas da palavra [kao], ‘caro’, acima, mostram a produção do tepe por uma falante feminina do espanhol peninsular (espectograma à direita) e por um falante masculino do espanhol do Peru (espectograma à esquerda). No espectograma à esquerda, há uma elevação no segundo formante, quando o tepe é formado. Essa elevação não ocorre com o tepe do espectograma à direita. Isso mostra que o lugar de articulação difere nessas duas produções do tepe RUSSO; BEHLAU (1993:46), fazendo a análise acústica do português brasileiro, abordam as características acústicas das consoantes líquidas separadamente das outras consoantes. Isso aponta para o fato de que tais líquidas possuem propriedades acústicas semelhantes. As autoras afirmam que, no caso dos sons laterais, a primeira região de ressonância é determinada pelo volume da área posterior à zona articulatória. O trato vocal para /l/ é 14 mais longo e a primeira ressonância ocorre em torno de 350 Hz, a segunda, por volta de 800 Hz e a terceira, em torno de 1.500 Hz. Quanto ao tepe //, RUSSO; BEHLAU (1993: 46) apontam que o trato vocal é mais curto e, por isso, as ressonâncias são mais agudas que para /l/. O tepe apresenta como primeira ressonância 550 Hz, como segunda, 1.100 Hz e como terceira, 1.800Hz. Segundo Russo & Behlau, a duração da oclusão de // é, no mínimo, quatro vezes menor que a de /l/. Este é um importante parâmetro acústico que diferencia essas duas líquidas. RUSSO; BEHLAU (1993: 47) apresentam espectogramas em barras de /l/ e // em sílabas, o que pode ser visto na figura 3 abaixo: FIGURA 3 – Espectogramas das líquidas /l/ e // 15 Na figura 3, o espectograma à direita apresenta a lateral /l/. O espectograma à esquerda apresenta o tepe //. Em tais espectogramas, há setas indicativas dos tempos de duração das duas consoantes líquidas e os efeitos da coarticulação subseqüente, nos dois casos, a vogal /a/. 1.4. O efeito do cancelamento de líquidas intervocálicas observado acusticamente É importante ressaltar que, auditivamente, não é possível identificar nenhum traço que aponte para o fato de que uma líquida foi cancelada em posição intervocálica. Decidimos, então, investigar o registro acústico. Em pesquisa no Laboratório de Fonética da Faculdade de Letras da UFMG, pesquisamos, acusticamente, o efeito do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas. A investigação foi realizada no programa Macquaire. Tínhamos previamente investigado na literatura o correlato acústico das líquidas /l/ e // (cf. seção 1.3). Sendo assim, consideramos algumas palavras em que a líquida intervocálica foi cancelada, pois já sabíamos o que observar no sinal como correlato das líquidas. Estas palavras foram agrupadas em: Grupo 1: a. b. /l/ // Grupo 2: a. b. cancelamento ocasionou hiato (escolaÆ eskla > eska) cancelamento ocasionou formação de ditongo (moleÆ mle > me) c. cancelamento ocasionou fusão de (televisãoÆteleviza Æ teviza) duas vogais Nos espectogramas de palavras em que o tepe foi cancelado, não foi possível identificar qualquer traço que fornecesse evidência de que o tepe estivesse presente naquela palavra. O tepe é facilmente identificado acusticamente, pois ocorre um corte no espectograma (cf. figura 2). Contudo, no local esperado para se observar o tepe, nenhum 16 traço residual foi observado. Onde deveria aparecer o tepe (ou o seu resquício) aparecem duas vogais em seqüência. Tais vogais seriam aquelas que eram adjacentes ao tepe antes do seu cancelamento. Por exemplo, ao ocorrer o cancelamento do tepe na palavra ara (variante(1)), no espectograma, aparecem as vogais // e /a/ em seqüência: aa (variante (2)). Este caso expressa o tepe adjacente às vogais que ficaram em hiato. Nos casos em que a formação de ditongo ocorre (moleÆ mle > me) ou em que uma vogal funde-se a outra (televisãoÆteleviza Æ teviza) , também não foi possível identificar traços residuais do tepe. Com relação à lateral, é importante dizer que suas características acústicas mesclamse com as das vogais adjacentes. Sendo assim, diferentemente do tepe, não há uma marca específica no sinal para se proceder à investigação. Em alguns casos, suspeitamos de um traço residual. Contudo, este traço não foi recorrente em todos os dados e, além do mais, o material não nos permitiu afirmar que, de fato, o que se observou no sinal era um traço residual da lateral. Vale apontar ainda que nos casos em que o cancelamento do /l/ implica a formação de hiato, o traço residual foi potencialmente formulado. Nos casos de formação de ditongos e de fusão de vogais, não ocorre traço que nos permita avançar nas investigações. Uma conclusão parcial, que podemos fornecer no estágio atual da pesquisa, é que os indícios encontrados para demonstrar a presença da líquida ou de um traço residual são opacos nos casos em que ocorre o cancelamento. Considerando-se que a investigação detalhada de traços da líquida (ou de algum resíduo relacionado ao cancelamento da líquida) nos desviaria dos propósitos desta Dissertação, optamos por não aprofundar mais a investigação deste aspecto. Reconhecemos que uma investigação sólida sobre este tópico pode contribuir para a discussão dicotômica das perspectivas neogramática e difusionista. Afinal, enquanto a presença de resíduo para as líquidas poderia apontar que a mudança sonora é foneticamente gradual (perspectiva neogramática), a não-presença de resíduo para as líquidas poderia apontar que a mudança sonora é foneticamente abrupta (perspectiva difusionista). Contudo, tal trabalho deve ser empreendido com seriedade e idealmente considerar casos de lenição de líquidas em outras línguas naturais. Este é certamente um tópico importante a ser investigado em trabalhos futuros. 17 1.5. A representação fonológica das líquidas /l/ e // Devemos levar em conta o fato de que o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas envolve dois segmentos que são muito semelhantes fonética e fonologicamente. A fim de continuarmos demonstrando tal semelhança, iremos agora abordar a representação fonológica das líquidas /l/ e // segundo a noção de classe natural (seção 1.5.1), segundo a teoria de traços distintivos (seção 1.5.2) e a teoria de elementos (seção 1.5.3). 1.5.1. O comportamento fonológico das líquidas Fonologicamente, em português, as líquidas ocupam a posição de margem na sílaba como as consoantes. As margens de uma sílaba são preenchidas por segmentos que precedem e/ou seguem o núcleo da sílaba (que é tipicamente preenchido por uma vogal). É o que ocorre, por exemplo, na palavra [le], em que [l] e [] ocupam posição de margens da sílaba e a vogal [e] ocupa o núcleo da sílaba. Ainda quanto ao comportamento fonológico das líquidas /l/ e //, é preciso considerar que elas, tradicionalmente, formam uma classe natural. LADEFOGED (1981: 111) apresenta um esquema que especifica o maior número de classes naturais de acordo com dois sistemas: o de LADEFOGED (1981) e o de CHOMSKY; HALLE (1968). As classes naturais apresentadas pelos dois sistemas podem ser conferidas na tabela 54 abaixo: 4 No interior da tabela 5, os espaços marcados com os sinais (+) e (-) se referem aos traços relevantes para identificar as classes naturais em questão. Os espaços em branco não são relevantes para a caracterização de tais classes naturais. 18 TABELA 5 – Classes naturais apontadas por LADEFOGED (1981: 2. Consoantes + - 3. Vogais - + + 4. Plosivas e fricativas + - - - + - + - + - 5. Nasais, líquidas e glides 6. Nasais e líquidas + 7. Líquidas e glides nasal - soante 1. Vogais e glides silábico Classes naturais consonatal 111) e CHOMSKY; HALLE (1968) + - 8. Consoantes nasais + - + + 9. Líquidas + - + - 10. Glides - - + - Na primeira coluna da tabela, são apresentadas as classes naturais que apresentam os valores [+] ou [–] para os traços especificados nas outras três colunas. Como se pode conferir na tabela, Ladefoged e Chomsky e Halle apontam as líquidas como sendo uma classe natural. Deve-se dizer que, no português brasileiro, a classe natural das líquidas é formada não só pela lateral alveolar ou dental /l/ e pela vibrante simples ou tepe //, mas também pela lateral palatal // e pela vibrante múltipla [r]. É o traço [+ – anterior] que irá diferenciar /l/ e //, líquidas aqui focalizadas, de // e [r], líquidas não abordadas nesta pesquisa. As líquidas /l/ e // são [+anterior], enquanto que as líquidas // e [r] são [– anterior]. LADEFOGED (1996: 182) diz que as líquidas formam uma classe natural. Segundo Ladefoged, na fonotática das línguas, por exemplo, em encontro consonantal, os segmentos líquidos são os que ocorrem mais freqüentemente. Em português, os encontros consonantais tautussilábicos – encontro de consoantes na mesma sílaba – se fazem com 19 uma obstruinte (p, b, t, d, k, , f, v) seguida de uma líquida, no caso, /l/ ou // (cf. CRISTÓFARO-SILVA, 2000a). Este aspecto de as líquidas formarem uma classe natural será explorado posteriormente (cf. seção 2.4.2). 1.5.2. Traços distintivos Os fonemas – ‘sons que apresentam uma relação de oposição entre si’ (cf. CAGLIARI, 1997:12) – eram considerados a unidade mínima de análise no estruturalismo. Um dos principais exemplos de estudo estruturalista em que o fonema é visto como unidade mínima de análise é PIKE (1947). Essa proposta de caráter funcional ganhou o nome de fonêmica no estruturalismo. Uma outra proposta teórica estruturalista importantíssima foi o Círculo Lingüístico de Praga. Na área da fonologia, os trabalhos de maior destaque são TRUBETZKOY (1939) e JAKOBSON (1967). O Círculo Lingüístico de Praga propõe que os fonemas não são a unidade mínima de análise. Os fonemas seriam constituídos de partes menores, traços distintivos, e estas partes é que seriam a unidade mínima de análise. Assim, o fonema é entendido como sendo constituído de um feixe de traços distintivos (cf. JAKOBSON; FANT; HALLE, 1951). Os traços distintivos seriam propriedades atribuídas aos segmentos ou fonemas. JAKOBSON; FANT; HALLE (1951) propõem um primeiro inventário de traços distintivos. CHOMSKY; HALLE (1968) propõem um segundo inventário de traços distintivos que é hoje o mais conhecido. Embora tenha sido concebida no estruturalismo, essa proposta de traços distintivos foi assumida pela fonologia gerativa padrão. CALLOU; LEITE (1990: 65) afirmam que os traços [vocálico] e [consonantal] – traços inerentes de sonoridade – caracterizam quatro grandes classes de sons: as consoantes, as vogais, as líquidas e os glides. Callou e Leite apresentam o seguinte esquema, demonstrado na tabela 6, que atribui os valores [+] ou [–] para os dois traços nas quatro classes citadas: 20 TABELA 6 – Traços distintivos atribuídos às classes vogal, consoante, líquidas e glides VOGAL CONSOANTE LÍQUIDAS GLIDES CONSONANTAL - + + - VOCÁLICO + - + - Os traços [consonantal] e [vocálico] são apresentados na primeira coluna. Nas outras colunas, são apresentadas as quatro classes – vogal, consoante, líquidas e glides – com os valores [+] ou [–] para cada um dos dois traços citados. Por esse esquema de Callou e Leite, percebemos que as líquidas apresentam valor positivo para os dois traços: [+consonantal] e [+vocálico]. Isso se deve ao fato de a classe das líquidas apresentar tanto características de vogal (traço [+vocálico]) quanto de consoante (traço [+consonantal]). É somente o traço [lateral] que diferencia /l/ e //. Os conjuntos de traços distintivos das líquidas /l/ e // são apresentados em (8), abaixo: (8) Conjuntos de traços distintivos de /l/ e // /l/ +soante +contínuo +anterior +coronal +sonoro -nasal +lateral // +soante +contínuo +anterior +coronal +sonoro -nasal -lateral Notamos que o único traço que diferencia as líquidas /l/ e // é o traço [lateral]. Este traço tem valor positivo para /l/ e valor negativo para //. Todos os outros traços apresentam valores idênticos para as duas líquidas. Além do traço [lateral], ambas as líquidas são: [+soante], [+contínuo], [+anterior], [+coronal], [+sonora], [–nasal]. 21 1.5.3. Teoria de elementos A teoria de traços distintivos caracteriza os segmentos por propriedades individuais que podem ter valor negativo ou positivo. Uma outra proposta de representação segmental é a teoria de elementos. De acordo com a teoria de elementos, um segmento é composto de um elemento ou de uma combinação de elementos. Os elementos são considerados como unidades independentes. Nesta teoria, são adotados os valores positivo (+), negativo (–) e neutro (o) para determinar propriedades dos segmentos. Os segmentos marcados com valor positivo são associados a uma posição nuclear (núcleo). Os segmentos marcados com valor negativo são associados a uma posição não-nuclear (onset ou coda). E os segmentos marcados com valor neutro são associados ou a uma posição nuclear, ou a uma posição não-nuclear. As cavidades de ressonância (cavidade oral, cavidade nasal e cavidade faríngea) caracterizam os elementos. HARRIS (1990: 12), discutindo o fenômeno da lenição consonantal no inglês, apresenta alguns elementos que são mostrados na tabela 7: TABELA 7 – Elementos apresentados por HARRIS (1990: 12) Propriedade saliente Propriedades não-marcadas Lugar Uo labial aproximante, alto, baixo,... Io palatal não-labial, alto, aproximante,... Vo nenhuma não-labial, baixo, alto, aproximante,... Ro coronal Tepe,... o não contínuo glotal,... ho obstruinte glotal,... N+ nasal não-labial, aproximante,... Maneira Fonte H- cordas vogais tensas L- cordas vogais frouxas 22 A tabela 7 apresenta os elementos apontados por Harris em sua análise sobre a lenição de /t/ que se realiza como o tepe [] em contexto intervocálico. Na primeira coluna da tabela 7, são apresentados os elementos. Na segunda coluna, é apresentada a propriedade saliente de cada elemento. Na terceira coluna, são apresentadas as propriedades nãomarcadas dos elementos. Seguindo Harris, podemos caracterizar os segmentos /l/ e //, na figura 4, como: l x x o Ro Ro FIGURA 4 – Elementos que compõem os segmentos /l/ e // Os segmentos estudados na presente pesquisa são as consoantes líquidas /l/ e //. Ao compararmos a representação de Harris para o tepe // e para a lateral /l/, na figura 4, percebemos que existe uma semelhança entre esses dois segmentos em termos de o o elementos. Ambos /l/ e // apresentam o elemento R em sua composição. O elemento R expressa a coronalidade. Por essa análise das líquidas /l/ e // intervocálicas segundo a teoria de elementos, percebemos novamente que tais líquidas formam uma classe natural. Isto porque as o representações segmentais de /l/ e // apresentam o elemento R . No próximo capítulo, apresentaremos mais evidências que nos permitem assumir que /l/ e // formam uma classe natural. 1.6. Conclusão 23 A fim de discutirmos o termo “líquida”, empregado para definir as consoantes /l/ e //, abordamos, inicialmente, os aspectos articulatórios de tais segmentos. Constatamos então que as consoantes líquidas recebem esse nome, em especial, porque articulatoriamente se assemelham às vogais. É isso que diferencia as líquidas das demais consoantes. Ainda, dentro das características fonéticas, vimos os parâmetros acústicos que definem essas duas líquidas. Uma caracterização de /l/ e // dentro da fonologia foi apresentada. Primeiramente, demonstramos que essas líquidas, em português, se assemelham às consoantes, porque, assim como estas últimas, as líquidas funcionam como margem da sílaba. É nesse ponto que as líquidas se afastam das vogais, que funcionam como centro da sílaba. Depois, vimos que /l/ e // formam uma classe natural, motivo pelo qual se faz necessário abordar essas duas consoantes em conjunto, no presente trabalho. Em seguida, apresentamos os traços distintivos de /l/ e // e então constatamos que é somente o traço [lateral] que diferencia tais consoantes líquidas: /l/ recebe o traço [+lateral], e // recebe o traço [–lateral]. Por fim, abordamos semelhança entre essas duas líquidas dentro da teoria de elementos. Toda a caracterização das líquidas /l/ e //, feita neste capítulo, aponta para o fato de que tais consoantes apresentam muitas semelhanças em termos fonético e fonológico. Portanto, justifica-se abordar tanto /l/ como // no fenômeno do cancelamento de consoantes líquidas intervocálicas, no português de Belo Horizonte atual. 24 CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Introdução Neste capítulo, discutiremos orientações teóricas possíveis para o nosso estudo. A fim de analisarmos o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, apresentamos três abordagens possíveis. A primeira abordagem seria considerar a variante (2) do fenômeno em estudo (forma que tem a líquida cancelada) como um clítico. Para tanto, apresentaremos dois trabalhos que nortearão a nossa discussão sobre o fenômeno da cliticização: CORRÊA (1998) e BISOL (2000). Na segunda abordagem, o cancelamento de líquidas intervocálicas seria analisado como um reflexo da estrutura prosódica. A fim de discutirmos a influência da prosódia no fenômeno aqui pesquisado, apresentaremos um estudo que aborda a relevância da estrutura prosódica na língua italiana (CUTUGNO; SAVY, 1999). A terceira e última abordagem seria analisar o cancelamento das liquidas /l/ e // intervocálicas como um fenômeno fonológico. Sendo um fenômeno sonoro opcional, temos um caso de variação. A variação e a mudança podem ser abordadas pela visão neogramática ou pela visão difusionista. Estas duas perspectivas serão tratadas posteriormente. A seguir, discutimos cada uma das três abordagens para o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas: 1) fenômeno de cliticização; 2) fenômeno prosódico; 3) fenômeno fonológico. 2.2. O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise com foco em clíticos 25 2.2.1. Introdução O interesse em estudar o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas com foco em clíticos advém da relevância de se discutir dois trabalhos que podem contribuir para o estudo do fenômeno aqui focalizado: CORRÊA (1998) e BISOL (2000). Em sua pesquisa, Corrêa apresenta formas pronominais de 3a pessoa que têm a líquida /l/ intervocálica cancelada. Por exemplo, de acordo com Corrêa, as formas plenas [eles] e [la] transformam-se nas formas reduzidas [es] e [a], respectivamente. Esse autor argumenta que tais formas reduzidas são clíticas. Já Bisol faz uma relação entre a sintaxe e a fonologia, discutindo o status do clítico no componente prosódico, dentro da teoria da fonologia lexical. A discussão dessa teoria interessa à presente pesquisa, pois o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas pode ser avaliado dentro da fonologia lexical. Consideremos os estudos de Bisol e de Corrêa separadamente. 2.2.2. O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de Corrêa A primeira abordagem que investigaremos está relacionada ao fato de as formas que apresentam o cancelamento de líquidas intervocálicas poderem refletir um comportamento sintático de clítico. Assim, devemos apresentar inicialmente a definição de clítico. De acordo com NESPOR; VOGEL (1986), “os clíticos têm dependência fonológica que outros elementos fonológicos não têm; não ocorrem sós, não podendo constituir único elemento da elocução”. A etimologia da palavra clítico nos ajuda a compreender o seu sentido. Clítico tem raiz grega e significa ‘inclinar’. Segundo HOPPER; TRAUGOTT (1993), “uma forma que se inclina em direção a outra”. Esta última definição aponta para o fato de o clítico não poder ocorrer sozinho em um enunciado. Consideremos então o trabalho de CORRÊA (1998). Esse autor estuda a alternância das formas plenas (ele(s), ela(s)) e reduzidas (el, éa, éiz, ês, êz, ezi) dos pronomes de terceira pessoa, no português falado na cidade de Belo Horizonte. Segundo Corrêa, as 26 formas reduzidas são diferentes das plenas, por apresentarem um comportamento clítico, ou seja, as formas reduzidas não podem ocorrer como único elemento da elocução. Dessa forma, não se espera encontrar uma seqüência como: “ – Quem vem almoçar hoje? *– Ês5.”. Deve-se dizer que Corrêa aborda somente pronomes pessoais ele, ela, eles, elas. A presente pesquisa se propõe a discutir formas reduzidas não pronominais também. Acreditamos que uma explicação sintática como essa de Corrêa para o fenômeno aqui estudado não é conveniente. A nossa pesquisa aponta para um ponto diverso do abordado por Corrêa, por termos constatado que a variante (2) – forma reduzida: forma que passou por alguma redução fonética – pode ocorrer sozinha em um enunciado. É o que comprovamos pelos nossos dados em uma ocorrência como a seguinte: “ –Como chamamos o objeto que algumas pessoas usam no rosto para enxergar melhor? – [kus]”. Observamos formas que tiveram a líquida cancelada ocorrendo sozinhas na elocução, não podendo, portanto, figurarem como formas clíticas. O favorecimento de determinadas funções sintáticas no cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas é uma outra explicação sintática que não se mostrou produtiva para o fenômeno em estudo. Por exemplo, não encontramos uma regra, segundo a qual toda palavra que apresenta líquida intervocálica, estando na posição de sujeito do enunciado, tem tal líquida cancelada. Em princípio, acreditamos que qualquer palavra que apresenta uma líquida intervocálica, de qualquer classe gramatical, exercendo qualquer função sintática, tem a possibilidade de ter duas formas alternantes. Uma em que a líquida não é cancelada (variante (1)) e outra, em que a líquida é cancelada (variante (2)). A pesquisa de Corrêa apresenta um aspecto relacionado à sintaxe interessante para a nossa pesquisa. Os exemplos dados por Corrêa ao longo de sua Dissertação de Mestrado não apresentam as formas reduzidas em final de enunciado, como podemos ver em (9): 5 CORRÊA (1998) adota a forma ortográfica ês para representar a forma reduzida do pronome de terceira pessoa eles. Contudo, adotaremos a forma fonética para as representações das variantes (1) e (2) de nossa pesquisa. 27 (9) a. se não fosse eu, éa tinha matado a colega. (CORRÊA,1998: i) b. a classe mais baixa tem ações, mas ês procuram mais a DP. (CORRÊA, 1998:25) c. acabamos com a alegria do pessoal ês num aceitaram. (CORRÊA, 1998: 35) d. e tá chegando o final do ano, eis gosta é de ferrar a gente. (CORRÊA, 1998: 66) Assim, a partir desta constatação, podemos inferir que uma seqüência como, *Quem são ês?, não seria esperada no português de Belo Horizonte, já que a forma reduzida ês ocorre no final da construção sintática. Ao contrário, seqüências como, Quem são ês, Tatiana? e São êz, ó?, são possíveis. Podemos supor, assim, que as formas reduzidas não ocorrem em final de enunciado, porque não podem funcionar como foco prosódico, não podem ser salientes sonora e sintaticamente. Em outras palavras, estamos sugerindo que a ausência de formas reduzidas em final de enunciado pode estar relacionada a aspectos prosódicos. Retomamos este ponto na seção 2.3. 2.2.3. O cancelamento de líquidas intervocálicas e a análise de Bisol Um outro trabalho que discute o comportamento clítico é BISOL (2000). A autora analisa o status prosódico do clítico que estaria, segundo ela, no componente pós-lexical. Tal estudo é interessante, porque considera uma teoria fonológica tradicional: a fonologia lexical. Assim, antes de abordarmos a discussão de Bisol especificamente, discutiremos a fonologia lexical que trata dos componentes lexical e pós-lexical. A fonologia lexical (cf. KIPARSKY, 1982a, b; MOHANAN, 1982) é uma das sucessoras da fonologia gerativa padrão. Ela se diferencia da fonologia gerativa padrão por ser menos abstrata. Mas a sua maior inovação é propor a interação do componente fonológico com o componente morfológico. Essa teoria começou a ser desenvolvida no início de 1980, quando se percebeu que, ao se adicionar sufixos em palavras, alguns provocavam um movimento no acento, enquanto outros sufixos não mudavam o acento. MCMAHON (1994: 65) dá os seguintes exemplos do inglês, apresentados em (10): 28 (10) a. átom – atómic (-ic: sufixo que provoca mudança do acento) b. édit – éditor (-or: sufixo que não provoca mudança do acento) Segundo a teoria da fonologia lexical, há regras fonológicas que se aplicam no nível léxical, e outras que operam no nível pós-léxical. As regras lexicais são aquelas que, geralmente, se relacionam com a morfologia, como o caso da regra de acento acima. Nelas, há exceções lexicais. Também tais regras se aplicam somente no interior dos vocábulos. Já as regras pós-lexicais podem se aplicar nas palavras (cf. HARRIS, 1989). A fonologia lexical tem como base a idéia de que a estrutura do léxico é composta de níveis ordenados, que são os domínios de algumas regras morfológicas e de algumas regras fonológicas. LEE (1995: 5) apresenta um esquema que mostra a estrutura do léxico proposta pela fonologia lexical, o que podemos conferir na figura 5 abaixo: LÉXICO ITENS LEXICAIS NÃO-DERIVADOS NÍVEL 1 MORFOLOGIA NÍVEL 1 FONOLOGIA NÍVEL 2 MORFOLOGIA NÍVEL 2 FONOLOGIA : NÍVEL n : MORFOLOGIA SINTAXE NÍVEL n FONOLOGIA FONOLOGIA PÓS-LEXICAL FIGURA 5 – Estrutura do léxico proposta pela fonologia lexical (cf. LEE, 1995:5) A figura 5 acima demonstra como os componentes fonológico e morfológico interagem, segundo a perspectiva da fonologia lexical. Como percebemos pela 29 representação da figura, as regras fonológicas aplicam-se à saída de toda regra morfológica, de forma a criar uma entrada para outra regra morfológica. A entrada de cada processo de formação de palavras passa por regras fonológicas dentro do próprio léxico. Assim, percebemos que a estrutura do léxico admite a aplicação cíclica de regras. As representações lexicais advêm da interação que há entre as regras morfológicas e as regras fonológicas. As representações lexicais são as palavras geradas pelo léxico, que, quando inseridas nas estruturas sintáticas, proporcionam a constituição de sintagmas através de regras de inserção lexical. Por fim, como percebemos pela figura 5, os sintagmas sintáticos são submetidos ao componente fonológico pós-lexical, a fim de terem realização fonética. Na fonologia lexical, há então dois tipos de regras fonológicas: as regras lexicais que se aplicam no léxico, e as regras pós-lexicais que se aplicam fora do léxico, na saída da sintaxe. Após a aplicação das regras pós-lexicais, a representação fonética ocorre. Um resumo das distinções entre as regras lexicais e as regras pós-lexicais, baseado em LEE (1996), é apresentado em (11): (11) a. As regras lexicais podem referir-se à estrutura interna das palavras e as regras pós-lexicais não podem. b. As regras lexicais são cíclicas e as regras pós-lexicais não são. c. As regras lexicais submetem-se à Preservação de Estrutura e as regras póslexicais não se submetem. d. As regras lexicais devem preceder todas as aplicações de regras pós-lexicais e as regras pós-lexicais devem ser aplicadas após as regras lexicais. e. As regras lexicais sujeitam-se à ordem disjuntiva e as regras pós-lexicais sujeitam-se à ordem conjuntiva. Voltemos à análise de BISOL (2000). Para comprovar a afirmação de que o clítico ganha status prosódico no componente pós-lexical, Bisol primeiramente aborda a noção de clítico. A autora diz que o clítico não pode ser classificado como palavra independente, pois não é candidato a receber acento primário ou lexical que identifica a palavra fonológica. Ao mesmo tempo, o clítico não pode ser considerado um afixo (forma presa) porque o clítico é uma forma livre. Assim, BISOL (2000: 11) afirma que, como o clítico é invisível à palavra fonológica, atinge o status prosódico “somente depois de ter assumido um papel sintático”. Por isso, o grupo clítico (palavra fonológica + clítico) é o menor constituinte pós-lexical, segundo a autora. 30 A fim de provar isso, Bisol tece alguns argumentos. Um primeiro está relacionado à diferença entre prefixo e clítico. De acordo com ela, os prefixos sem autonomia, como o prefixo pos- na palavra postônico, “fazem parte da palavra fonológica, depois de terem sido anexados a uma base morfológica” (cf. BISOL, 2000: 16). Os prefixos integram a palavra fonológica que ajudam a construir. Já os clíticos anexam-se diretamente a uma palavra fonológica bem formada, sem integrá-la (cf. BISOL, 2000: 15). Essa é a diferença essencial entre clíticos e prefixos que aponta para o fato de os clíticos serem formados no nível póslexical. Em um segundo argumento, Bisol lembra dos três elementos que definem a palavra fonológica lexical: acento, pé e sílaba. Desses três, o principal identificador da palavra fonológica é o acento. Há palavras que não satisfazem a condição mínima de pé. Como já se disse anteriormente, o clítico não recebe o acento primário, o que faz com que ele não possa ser considerado uma palavra fonológica lexical. O clítico “figura no léxico como categoria morfológica, identificada prosodicamente apenas como sílaba” (BISOL, 2000: 19). O fato de ele possuir sílaba não lhe confere status prosódico particular, porque todo segmento deve ser silabado lexical ou pós-lexicalmente. Bisol aponta três evidências para a sua hipótese de que o clítico assume, somente com o seu hospedeiro, no pós-léxico, o seu real status prosódico. A primeira evidência é o fato de o clítico poder ser, ao contrário da palavra fonológica, insensível à restrição das três janelas. Segundo tal restrição, o acento primário deve se dar ou na última sílaba, ou na penúltima, ou na antepenúltima sílaba. Exemplos de casos em que os clíticos quebram essa restrição, porque o acento primário se dá na quarta sílaba de trás para frente, seriam: dávamos-lhe, contávamos-lhe, considerávamo-lo. A segunda evidência tem a ver com a mobilidade que os clíticos têm na frase, em se tratando de clíticos pronominais que podem estar em próclise, em ênclise e em mesóclise. Deve-se lembrar que os clíticos podem ser encontrados em diversas categorias: verbo, preposição, conjunção, determinante, pronome. Uns têm mobilidade, como é o caso do pronome. Outros são fixos, como é o caso do artigo. A terceira evidência relaciona-se ao fato de os clíticos serem sensíveis a regras póslexicais, que pressupõem que a estrutura sintática esteja pronta. Contudo, Bisol afirma que as regras de sandi é que oferecem o argumento decisivo para a sua proposta. Dentro de tal 31 regra, a elisão não ocorre em locais onde não há fronteira morfológica. Se a elisão ocorre entre o clítico e a palavra de conteúdo com que se relaciona, isso prova então que o grupo clítico é um constituinte pós-lexical. Exemplos de elisão com clíticos retirados de BISOL (2000: 28) são apresentados em (12): (12) a. É uma hotelaria b. Olhe para o lado c. Venho pela estrada d. Em cada esquina u[mo]telaria pa[u]lado pe[lis]trada ca[dis]quina Com isso, Bisol conclui que o clítico não faz parte da palavra fonológica lexical, mas, juntamente com a palavra de conteúdo com que se relaciona, constitui um constituinte prosódico pós-lexical. No caso do fenômeno em estudo, a variante (2), forma em que a líquida intervocálica é cancelada, não pode ser considerada como clítico. O clítico não pode ocorrer sozinho em um enunciado, já a variante (2) ocorreu como palavra isolada em nosso corpus:“ –Como chamamos o objeto que algumas pessoas usam no rosto para enxergar melhor? – [kus]”. Dessa maneira, podemos afirmar que a variante (2) de nosso estudo é uma palavra que tem acento, pé e sílaba. Na abordagem da fonologia lexical, esta variante estaria no nível lexical, o que será discutido posteriormente. 2.2.4. Conclusão Na seção 2.2.2, abordamos o trabalho de CORRÊA (1998). Tal autor afirma haver uma alternância entre as formas plenas (ele(s), ela(s)) e as formas reduzidas (el, éa, éiz, ês, êz, ezi) dos pronomes de 3a pessoa no português falado na cidade de Belo Horizonte. Corrêa afirma que estas formas reduzidas têm um comportamento de clítico. Vimos que o clítico não pode ocorrer como único elemento da elocução. A partir dessa consideração, podemos afirmar que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas não pode ser abordado como um fenômeno sintático de cliticização. Constatamos em nossa pesquisa 32 casos em que a variante (2) – forma que passa por uma redução fonética ao ter a líquida intervocálica cancelada – ocorre sozinha no enunciado. Na seção 2.2.3, abordamos BISOL (2000) que também discute a forma clítica. Bisol analisa essa forma dentro da fonologia lexical. Tal autora argumenta que o clítico adquire status prosódico no nível pós-lexical. De maneira diversa de Bisol, vimos que a variante (2) do fenômeno em estudo, por ocorrer como palavra isolada (tendo, portanto, acento, pé e sílaba), está no nível lexical. Há ainda outras duas perspectivas de abordagem do fenômeno aqui estudado: avaliar o cancelamento de líquidas intervocálicas como um efeito da estrutura prosódica ou como um fenômeno fonológico. Veremos essas duas perspectivas nas próximas seções. 2.3. O cancelamento de líquidas intervocálicas como um reflexo da estrutura prosódica A segunda abordagem para o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte se faz com base na consideração da estrutura prosódica. Para tanto, consideraremos a pesquisa de CUTUGNO; SAVY (1999) que estudaram a influência da prosódia em um caso de redução, só que vocálica, na fala espontânea da língua italiana. Primeiramente, Cutugno e Savy levantaram favorecimentos estruturais em relação ao fenômeno de redução de vogais na fala espontânea do italiano. Segundo tais autores, o favorecimento estrutural mais relevante é o fato de que as vogais não-acentuadas e em final de palavra, ou seja, as vogais postônicas, são mais afetadas pelo fenômeno da redução vocálica. Os resultados de tal pesquisa ainda apontam para um outro aspecto interessante: é dentro da Unidade de Tom que ocorre a maior parte das reduções segmentais. A sílaba imediatamente seguinte ao acento nuclear (ou pitch) tem maior probabilidade de apresentar redução, especialmente quando ela se dá nas fronteiras das unidades entoacionais. Assim, foi constatado pelos autores que o ritmo da fala corrente influencia no fenômeno de redução vocálica. Os resultados finais da pesquisa de Cutugno e Savy mostram que aproximadamente 90% da redução ocorrem em posição postônica. Os autores concluem que as relações entre 33 redução segmental e estruturas prosódicas na fala espontânea no italiano devem passar por uma análise mais acurada da estrutura rítmica da fala corrente. Não podemos afirmar que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte seja regulado pelo ritmo (prosódia), como propõem Cutugno e Savy para a redução vocálica no italiano. Se houvesse alguma dependência do ritmo na aplicação desse fenômeno, não poderíamos esperar formas isoladas, como a que apontamos na seção 2.2.2 (Como chamamos o objeto que algumas pessoas usam no rosto para enxergar melhor? – [kus]). Dessa forma, não temos evidências suficientes que nos façam optar por uma análise prosódica do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte. 2.4. O cancelamento de líquidas intervocálicas como um fenômeno fonológico A análise do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte com base em um fenômeno fonológico tem um caráter neogramático. No modelo neogramático, a noção de regra ou processo fonológico é adotada. O som é que regula a mudança sonora. Um exemplo de regra fonológica é a vocalização de /l/ em final de sílaba no português brasileiro. Percebemos que a regra da vocalização é regulada pelo seu ambiente de ocorrência: final de sílaba. Tal regra é categórica em muitas variedades de fala do português brasileiro, por exemplo, na variedade de fala dos jovens da cidade de Belo Horizonte. O processo fonológico de vocalização do /l/ posvocálico pode ser formalizado como: /l/ Æ [w] / – $6. De acordo com essa formalização por processo, interpretamos que o fonema /l/ torna-se [w] em contexto de final de sílaba. Exemplos em que ocorre a aplicação desse fenômeno são apresentados em (13): 6 Esta é uma formalização estrutural. A formalização gerativista envolve traços. Mas isso não altera a nossa discussão sobre processo fonológico. 34 (13) a. /kulto/ Æ[kuwto] b. /balsa/ Æ[bawsa] c. /peralta/ Æ[pawta] d. /vinil/ Æ [viniw] e. /varal/ Æ [varaw] f. /kal/ Æ [kaw] Nos exemplos de (13), as formas à esquerda da seta foram transcritas fonologicamente. As formas à direita da seta foram transcritas foneticamente e demonstram a aplicação do fenômeno de vocalização descrito acima. Ao considerarmos o fenômeno abordado na presente pesquisa como um caso de processo fonológico, assumimos o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte como uma regra. Assim, diríamos que uma das consoantes líquidas – /l/ ou // – em posição intervocálica pode ser cancelada. Esta regra teria um caráter opcional, uma vez que a líquida pode ou não ser cancelada. Tentando investigar a opcionalidade da regra podemos verificar se um determinado fator (estrutural e/ou nãoestrutural) atua favorecendo a aplicação do fenômeno. Um caso de favorecimento por fator estrutural ou lingüístico seria, por exemplo: as sílabas postônicas que apresentam líquida intervocálica favorecem a aplicação do fenômeno. Um caso de favorecimento por fator não-estrutural ou extralingüístico seria: os jovem de Belo Horizonte tendem a cancelar mais as líquidas /l/ e // intervocálicas do que os idosos dessa cidade. No quarto capítulo, seções 4.3.1 a 4.3.3, deveremos confirmar ou não essa análise com base em fenômeno fonológico. A seguir, abordaremos a lenição que é um processo fonológico que ocorre tipicamente em ambientes intervocálicos. O nosso interesse em estudar a lenição advém do fato de o fenômeno aqui pesquisado envolver o contexto intervocálico. 2.4.1. Lenição 35 A lenição ou enfraquecimento consonantal ocorre quando uma consoante é produzida com um grau relativamente fraco de esforço muscular e força respiratória. Ela resulta na perda de um traço por um segmento. Segundo CRYSTAL (1988: 157), a lenição “é o enfraquecimento das consoantes intervocálicas, no decorrer da história de uma língua”. Ele afirma que “em inglês e português, as consoantes sonoras (...) tendem a ser produzidas com uma articulação fraca”. TRASK (1996: 201) define lenição como sendo um processo fonológico em que um segmento se transforma em um outro mais fraco. Este autor cita como exemplos de lenição: a queda de aspiração, o encurtamento de segmentos longos e a monotongação de ditongos. HARRIS (1994: 120) também conceitua lenição. De acordo com Harris, a lenição ou enfraquecimento consonantal é um processo em que, tipicamente, um segmento passa por uma série de estágios, sendo o último deles o seu cancelamento. É o que Harris exemplifica com os processos de lenição por fricativização e por glotalização no inglês, apresentados em (14): (14) a. Fricativização > Plosiva > fricativa > ‘aspiração’ b. Glotalização Plosiva cancelamento ø > > > > cancelamento ø Essa conceituação de lenição feita por HARRIS (1994: 120) pode ser ilustrada com um caso de lenição e cancelamento de consoantes estudado por MARUSSO (1995). Marusso analisa o fenômeno de enfraquecimento consonantal das oclusivas sonoras /b, d, / no espanhol argentino da cidade de Rosário. Ela descreve esse fenômeno, esquematicamente, como, /b, d, / : oclusivas> aproximantes> ø. Segundo a autora, as oclusivas sonoras ocorrem como oclusivas apenas em um estilo de fala muito formal. Em outros estilos de fala, /b, d, / se realizam como as aproximantes /, , /. Exemplos desse fenômeno (cf. MARUSSO, 1995: 11) são apresentados em (15): 36 (15) a. [faula] b. [pien] c. [freoli] Marusso acrescenta que há alguns casos de cancelamento de /b, d, / intervocálicas. Exemplos de queda de /b, d, / intervocálicas ocorrem em vocábulos como (cf. MARUSSO, 1995: 176): (16) a. estaba Æ esta ø a; b. federal Æ fe ø eral; c. preguntado Æ pre ø untado. O cancelamento de /b, d, / intervocálicas ocorre em um estilo de fala bastante informal e em palavras que apresentam um sentido mais comum. A autora diz que “quanto mais erudita a palavra, menores são as chances de queda das oclusivas sonoras” (cf. MARUSSO, 1995: 177). O cancelamento de consoantes ocorre tipicamente em meio de palavra, em contexto intervocálico, que é também o contexto que mais favorece a lenição (cf. HARRIS, 1989: 18). Iremos agora exemplificar um caso de cancelamento da líquida /l/ que ocorreu na passagem do latim para o português. Em tal passagem, houve cancelamento de algumas consoantes em posição intervocálica (cf. TESSYIER (1997), WILLIAMS (1975) e ZÁGARI (1988)). A lateral /l/, alveolar ou dental, foi uma dessas consoantes canceladas em palavras como: dolor> dor; salire> sair; avolo> avô; malo> mau.7. Essa origem histórica do fenômeno é importante por apontar para essa tendência de o contexto intervocálico, um contexto de alta sonoridade, favorecer o cancelamento de segmentos consonantais. 7 As outras consoantes intervocálicas que apresentaram cancelamento nesse processo diacrônico foram /n, d, /: corona> coroa; pede>pé; legere> ler. ZÁGARI (1988: 138) aponta também o cancelamento de /w/Æ /v/ Æ /ø/, como na palavra santi/u/u (latim) Æ sadi/ø/o (português). 37 Com relação ao tepe //, o que se observa na passagem do latim ao português, é que ele sofre uma modificação do ambiente intervocálico para o ambiente de final de sílaba (em final e em meio de palavra): amare> amar; veride> verde. Essa modificação foi categórica em relação aos verbos que, no latim, terminavam em –re. Os verbos tiveram a última vogal cancelada (vivere> viver), o que descaracterizou o ambiente intervocálico do tepe. Um outro processo de lenição que merece ser mencionado, já que envolve o tepe //, é o caso apontado por HARRIS (1990: 32). Esse autor trata da lenição de /t/ no inglês. Segundo Harris, em muitas variedades do inglês, /t/ passa por três processos de lenição: 1) glotalização, 2) tapping e 3) fricativização. O tipo de lenição de /t/ no inglês que abordaremos aqui é o tapping, também conhecido como flapping. Esse fenômeno do tapping ocorre tipicamente na América do norte, na Austrália e em algumas partes da Irlanda e da Inglaterra. HARRIS (1990) diz que o tapping, no inglês, refere-se à realização de /t/ e /d/ como o tepe [], em contexto intervocálico. Como exemplos desse fenômeno de lenição, HARRIS (1990: 32) apresenta: (17) a. ci/t/y Æ ci[]y; b. Pe/t/er Æ Pe[]er. HARRIS (1994: 121) aponta a palavra ready como um exemplo em que ocorre a lenição de /d/ por tapping: rea[d]yÆ rea[]y. A partir dos exemplos apresentados acima, percebemos que os processos de lenição e de cancelamento de consoantes podem ocorrer tipicamente em ambiente intervocálico. Esse fato nos faz acreditar que é importante que se aborde o cancelamento das consonantes líquidas intervocálicas no português, como um caso de lenição ou enfraquecimento consonantal. 2.4.2. Motivações internas e externas 38 A escolha pelo estudo do cancelamento das líquidas /l/ e // deveu-se a algumas motivações ou evidências, que podem ser divididas em internas e externas. As motivações ou evidências internas se relacionam com características da própria análise fonológica (consistência, economia, simplicidade, generalização). As motivações ou evidências externas são trazidas para a análise fonológica. Geralmente estes casos envolvem classes naturais. Exemplos de motivações externas são: características da linguagem infantil, aspectos da linguagem patológica, certos tipos de experimentos psicolingüísticos, casos de empréstimo e outros (cf. TRASK, 1996: 137; 182). Abordaremos, inicialmente, as motivações internas. Uma primeira diz respeito ao fato de as consoantes líquidas serem altamente sonoras, vindo em segundo lugar na escala de sonoridade (cf. HARRIS, 1994: 56 e BIONDO, 1993: 40). A tabela 8 abaixo apresenta tal escala: TABELA 8 – Escala de sonoridade [soante] [aproximante] [vocóide] Obstruinte - - - Escala de sonoridade 0 Nasal + - - 1 Líquida + + - 2 Vocóide + + + 3 Pela tabela 8, observa-se que somente as vogais são os únicos segmentos mais sonoros do que as líquidas. LADEFOGED (1996: 182) diz que, foneticamente, as líquidas são as consoantes mais sonoras. O contexto em que os segmentos estudados aqui ocorrem é o contexto intervocálico. E, como vimos acima, a lenição e o cancelamento de consoantes ocorrem, com freqüência, nesse ambiente. Assim, temos o fato de que há, no caso do fenômeno em estudo, um ambiente de alta sonoridade (vogal + líquida + vogal) que pode favorecer o cancelamento da consoante. Esse é um dos motivos pelo qual se faz relevante estudar o cancelamento de líquidas intervocálicas. A segunda motivação interna está relacionada ao comportamento semelhante dessas duas líquidas em algumas línguas, nas quais elas se apresentam como alofones, em distribuição complementar. É o que ocorre no ganda. Nessa língua, a líquida [l] ocorre 39 após vogais com traço [+ posterior]. Já a líquida [] ocorre após vogais com o traço [+ anterior]. A tabela 9 abaixo demonstra tal alofonia entre as líquidas [l] e [] no ganda (cf. HALLE; CLEMENTS, 1983: 51). TABELA 9 – Vocábulos do ganda Vocábulos do ganda Líquida [l] após vogais com traço Líquida [] após vogais com traço [+posterior] [+anterior] 1. kola 2. olunanda 5. beea 6. eaddu 3. olulimi 4. omulio 7. eyato 8. wawaabia Na tabela 9, são apresentadas palavras do ganda transcritas foneticamente. Na primeira coluna, são listadas as palavras que contêm a líquida [l] seguindo vogais com traço [+posterior]: [o,u]. Na segunda coluna, são listadas as palavras que contêm a líquida [] seguindo vogais com traço [+anterior]: [e, i]. Os ambientes de ocorrência exclusivos para cada líquida mostram que elas estão em distribuição complementar. Na língua coreana, [l] e [] estão também em distribuição complementar. A líquida [l] ocorre em final de sílaba (meio ou final de palavra). Já a líquida [] ocorre em início de sílaba (no início de palavra ou no meio entre vogais). A tabela 10 abaixo demonstra a alofonia que há entre essas duas líquidas no coreano (cf. FROMKIN; RODMAN, 1993). TABELA 10 – Vocábulos do coreano Vocábulos do coreano Líquida [l] em final de sílaba (em Líquida [] em início de sílaba (no início meio ou final de palavra) de palavra ou no meio entre vogais) 1. ilkop 2. ipalsa 5. upi 6. atio 3. mul 4. pal 7. kii 8. saam 40 As palavras do coreano exemplificadas acima foram transcritas foneticamente nesta tabela 10. Na primeira coluna, são apresentadas as palavras que contêm a líquida [l] em final de sílaba (início ou final de palavra). Na segunda coluna, são apresentadas as palavras que contêm a líquida [] em início de sílaba (em início ou em meio de palavra, entre vogais). Novamente, os ambientes exclusivos para cada uma das líquidas comprovam que elas estão em distribuição complementar nessa língua. Portanto, a partir desses exemplos do ganda e do coreano, podemos afirmar que [l] e [] apresentam um comportamento semelhante não só no português como em outras línguas. Passemos, agora, à análise das motivações externas no que se refere à semelhança de comportamento de /l/ e // no português. Uma primeira motivação externa relaciona-se à fase de aquisição do português. As líquidas são os últimos segmentos adquiridos pelas crianças (cf. YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRECHT, 1992: 91). Assim, é muito comum haver um estágio em que a criança, não conseguindo articular as líquidas /l/ e //, pronuncia, em seu lugar, o glide /j/ (cf. MARTINS, Em andamento), como em (18): (18) a. blaÆbja b. aaÆ aja Como se vê, ambas as líquidas são substituídas por um mesmo segmento, o /j/. Isso aponta para um comportamento semelhante entre elas. Além disso, também na fase de aquisição, podem ocorrer as trocas de // por /l/, de /l/ e // por nasais e, ainda, pode ocorrer o cancelamento desses dois segmentos líquidos. Podemos constatar isso através dos exemplos, em (19), retirados de YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRECHT (1992: 9497): (19) a. troca de // por /l/ : cadeira Æ [kadela], dinheiro Æ [zielu] b. troca de /l/ e // por nasais: beira Æ [pema], eles Æ [emis] c. cancelamento de /l/ e //: aranha Æ [aaa], bolo Æ [bou] 41 MOTA (2001: 55) aponta ainda para o fato de que pode haver, durante a fase de aquisição, uma plosivização das líquidas /l/ e //, como nos seguintes exemplos de (20): (20) a. /l/ - cabelo Æ [kabeu] b. // - nariz Æ [nais] Mais uma vez, vemos uma semelhança de comportamento entre essas duas líquidas /l/ e //. Todos os exemplos, apresentados acima, relacionados à fase de aquisição mostram que as líquidas /l/ e // formam uma classe natural no português (cf. HYMAN, 1975). Vejamos os critérios propostos por HYMAN (1975), os quais definem se dois segmentos formam uma classe natural. De acordo com tal autor, dois segmentos constituem uma classe natural quando um ou mais dos seguintes critérios são obedecidos: (21) a. os dois segmentos submetem-se juntos às regras fonológicas; b. os dois segmentos funcionam juntos nos ambientes das regras fonológicas; c. um segmento é convertido em outro segmento por uma regra fonológica; d. um segmento é derivado no ambiente de outro segmento (como nos casos de assimilação). Dois destes critérios apresentados em (21) justificam o fato de as líquidas /l/ e // formarem uma classe natural. O primeiro é o critério (21a), segundo o qual dois segmentos formam uma classe natural se se submeterem juntos às regras fonológicas. É o que ocorre nos exemplos apresentados em (18), para o caso de MARTINS (Em andamento); nos exemplos (19b,c) retirados de YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRETCH (1992), e nos exemplos (20a,b) retirados de MOTTA (2001). O segundo critério é o (21c), segundo o qual dois segmentos fazem parte de uma mesma classe natural se um segmento pode ser convertido em outro segmento por uma regra fonológica. É o que ocorre nos exemplos de (19a) retirados de YAVAS; HERNANDORENA; LAMPRETCH (1992). Uma maior discussão sobre o comportamento das líquidas como classe natural pode ser vista na seção 1.5.1 deste estudo. A segunda motivação externa diz respeito à distribuição das líquidas em encontros consonantais tautossilábicos, no português. Nestes, somente /l/ e // podem ocorrer após 42 uma das obstruintes – /p, b, t, d, k, , f, v/. É o que podemos constatar em exemplos como, plaka, bava, atlas, drastika, klaa, avata, aflita, afika, vladimih. Há ainda outra motivação externa ligada à variação de /l/ e // nesses encontros consonantais. No dialeto caipira, variedade de fala estigmatizada no português brasileiro, é comum a troca de /l/ por // em todos os encontros consonantais tautossilábicos (cf. NETTO, 2001: 103). Os seguintes exemplos em (22) ilustram essa troca: (22) a. bluzaÆ buza b. klaoÆ kao c. plastikoÆ pastiko d. atltaÆ atta As formas à direita das setas são geralmente pronunciadas por falantes do dialeto caipira. As formas à esquerda das setas são geralmente pronunciadas por falantes da variedade de prestígio do português brasileiro.8 Há ainda o fato de que as consoantes líquidas /l/ e // poderem ser canceladas, opcionalmente, em encontros consonantais tautossilábicos. CRISTÓFARO-SILVA (2000a, 2000b) e FREITAS (2000) estudam esse fenômeno. Exemplos são apresentados em (25): (25) a. livo Æ livo b. prisiza Æ pisiza c. ezeplo Æ ezepo d. atletizmo Æ atetizmo 8 Não se observa a troca de // por /l/ nos encontros consonantais tautossilábicos, em nenhuma variedade do português brasileiro. A não ser em casos de patologia de fala em que se diz platu, tles para pratu, tres, respectivamente. Ainda assim, este último caso aponta para a semelhança de comportamento entre /l/ e //, no português. 43 Por todas as motivações – internas e externas – apresentadas acima, justifica-se abordar o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas9. Resta-nos investigar a variação entre as variantes (1) e (2) do fenômeno em estudo, com o objetivo de fornecer uma explicação mais delimitada do fenômeno. 2.4.3. Um processo variável Assumimos, na presente pesquisa, que o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte é um caso de variação lingüística. Sendo assim, a fim de tratarmos do cancelamento de líquidas intervocálicas, discutiremos duas possíveis abordagens teóricas para fenômenos de variação e mudança: a teoria da variação e a teoria da difusão lexical. A teoria da variação, também chamada de sociolingüística, foi proposta por Labov (cf. LABOV 1966). Segundo esse modelo teórico, as variações ou mudanças que ocorrem em uma língua podem ser explicadas pela correlação que há entre fatores estruturais ou lingüísticos e fatores não-estruturais ou extralingüísticos. Uma das maiores contribuições da teoria da variação é justamente a consideração dos fatores extralingüísticos ou sociais na análise lingüística. LABOV (1972) afirma que fatores sociais como, idade, sexo, classe social e escolaridade, podem explicar os casos de mudança. Por exemplo, no caso do português brasileiro, os seguintes fenômenos podem ser atribuídos, mais provavelmente aos respectivos fatores sociais: (24) 9 a. velarização de /l/ em final de sílaba (/sal/> [sa]) Æ ocorre, geralmente, na fala de velhos (fator idade). b. maior utilização de palavras no diminutivo (Que menininho bonitinho!) Æ ocorre, geralmente, na fala de mulheres (fator sexo). c. troca do segmento /v/ pelo /b/ em palavras como: [v]assoura> [b]assoura Æ ocorre, geralmente, na fala de pessoas com baixa ou nenhuma escolaridade e de classe social mais baixa (fatores escolaridade e classe social). O cancelamento de outros segmentos consonantais no português brasileiro não será visto nesta pesquisa. Contudo, reconhecemos que há cancelamento de outras consoantes nasais em palavras como: vamos Æ va (cancelamento da nasal /m/); onibus Æ os (cancelamento da nasal /n/ e da bilabial /b/), etc. 44 Para os casos de (24), vemos que a teoria laboviana fornece uma explicação consistente. A presente pesquisa utilizou princípios da metodologia variacionista, o que será apresentado no terceiro capítulo. Mas será no quarto capítulo que discutiremos a influência ou não desses fatores sociais no fenômeno em estudo. A teoria sociolingüística se faz com base em uma perspectiva neogramática. Os neogramáticos propõem que a mudança sonora é regulada pelo som. Isso quer dizer que a mudança sonora é foneticamente gradual e lexicalmente abrupta. Assim, segundo essa perspectiva, a mudança de um som acontece em todas as palavras que apresentam o contexto fonético onde ele está inserido. Seguindo essa visão neogramática, uma explicação variacionista prevê regras para os fenômenos de mudança, como as explicitadas em (24). A outra proposta teórica que devemos avaliar nesta Dissertação de Mestrado é a teoria da difusão lexical10 (cf. WANG, 1969; CHEN; WANG, 1975). Ao contrário dos neogramáticos, os difusionistas propõem que é a palavra que comanda a mudança sonora, ou seja, a mudança é foneticamente abrupta e lexicalmente gradual. Uma mudança pode não atingir todas as palavras que apresentam o mesmo contexto fonético, por isso é lexicalmente gradual. Dessa forma, não é o som que controla a mudança sonora, mas a palavra. Segundo tal modelo, cada palavra tem a sua própria história11. MCMAHON (1994: 67), aborda esses dois tipos de mudança sonora: pelo modelo da difusão lexical e pelo modelo neogramático. A autora afirma que esses dois modelos de mudança têm uma relação direta com os dois tipos de regras fonológicas da fonologia lexical: regras lexicais e regras pós-lexicais. McMahon faz uma analogia entre as propriedades das regras lexicais e as do modelo da difusão lexical, e uma analogia entre as propriedades das regras pós-lexicais e as do modelo neogramático. Tal autora segue LABOV (1981) que afirma haver mudanças difusionistas e mudanças neogramáticas. Os esquemas apresentados em (25) e (26), baseados em MCMAHON (1994: 66-67), demonstram essas analogias: 10 O presente estudo está incluído em uma pesquisa maior sobre difusão lexical, coordenada pela Profa. Thaïs Cristófaro Silva da Faculdade de Letras da UFMG (cf. CRISTÓFARO-SILVA, 1999a). 11 Alguns trabalhos que discutem a difusão lexical são AULER (1992), BORTONI; MALVAR (1992), FIDELHOLTZ (1975), MADUREIRA (1997, 1999), MOLLICA (1992), OLIVEIRA (1991, 1992, 1995) e PHILLIPS (1984, 1999). 45 (25) Regras lexicais Regras pós-lexicais Saída binária, discreta Pode ser condicionada morfologicamente Pode ter exceções lexicais Entrada e saída são distinguidas pelos falantes (26) Discreto Condicionamento fonético Exceções lexicais Condicionamento gramatical Afetação social Previsível Pode ser aprendido Categorizado Entradas dicionárias Difusão lexical Saída gradual Puramente foneticamente condicionada Aplica-se em todas as palavras Não perceptíveis pelos falantes Difusão Lexical Mudança neogramática sim desigual sim sim não não não sim 2 sim não sim não não sim sim sim não 1 não Pela comparação entre os esquemas (25) e (26), percebemos a semelhança que há entre as regras lexicais e a difusão lexical e a semelhança que há entre as regras pós-lexicais e o modelo neogramático. Como as regras lexicais, a difusão lexical é discreta e pode ter exceções lexicais. Como as regras pós-lexicais, o modelo neogramático é condicionado foneticamente – não aceitando exceções gramaticais – portanto, é previsível. Neste trabalho, o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português de Belo Horizonte deve ser avaliado dentro do estudo da variação lingüística, segundo o modelo neogramático e o modelo da difusão lexical. Como explicitamos anteriormente, o fenômeno do cancelamento das líquidas intervocálicas é um caso de variação lingüística. 2.5. Conclusão Neste capítulo, fizemos uma revisão bibliográfica que abordou três análises possíveis para o fenômeno de cancelamento das líquida /l/ e // intervocálicas. A primeira análise foi com base no fenômeno da cliticização. Para tanto, discutimos os trabalhos de 46 CORRÊA (1998) e BISOL (2000). Através da análise do trabalho de Corrêa, chegamos à conclusão de que o cancelamento de líquidas intervocálicas não pode ser tratado como um fenômeno sintático de cliticização. Já o trabalho de Bisol, além de ter discutido a forma clítica, trouxe como principal contribuição a abordagem da fonologia lexical. A segunda análise proposta para a abordagem do cancelamento de líquidas intervocálicas está relacionada ao fato de esse poder ser um fenômeno que tem reflexo na estrutura prosódica. Para tanto, discutimos o trabalho de CUTUGNO; SAVY (1999). Tais autores estudam a redução vocálica na fala espontânea do italiano. Cutugno e Savy concluíram que tal fenômeno é influenciado pelo ritmo. O fenômeno do cancelamento de liquidas intervocálicas não pode ser analisado segundo essa abordagem de Cutugno e Savy, porque se houvesse a influência do ritmo, não poderíamos esperar formas isoladas em uma elocução, o que ocorreu em nosso corpus: Como chamamos o recipiente onde geralmente colocamos o café ou o chá? – [ika]. A última análise proposta neste capítulo para o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas seria considerá-lo como um fenômeno fonológico. Dessa forma, discutimos a noção de processo. Vimos que é relevante investigar o fenômeno de variação em estudo segundo dois modelos teóricos: a teoria da variação e a teoria da difusão lexical. 47 CAPÍTULO 3 METODOLOGIA 3.1. Introdução Como o fenômeno em estudo apresenta-se como um caso de variação, a metodologia utilizada neste trabalho se baseia em princípios da teoria da variação ou sociolingüística, proposta por LABOV (1966). Investigaremos se há algum condicionamento decorrente da correlação entre fatores estruturais e não-estruturais, no caso do cancelamento das líquidas intervocálicas /l/ e //. Analisaremos também se os fatores palavra (cf. WANG, 1969) e indivíduo (cf. OLIVEIRA, 1992) são relevantes para o fenômeno em estudo. Por isso, iremos considerar a teoria da difusão lexical que contempla estes dois fatores. Segundo LABOV (1966), para se analisar a variação ou a mudança existente em uma língua, deve-se correlacionar os fatores estruturais envolvidos no fenômeno aos fatores não-estruturais ou sociais como, sexo, idade, escolaridade e classe social. Mesmo que aponte para estes fatores sociais, a teoria da variação apresenta um caráter neogramático, porque considera o fator lingüístico ou estrutural como atuante nos casos de mudança. E, segundo a visão neogramática, a mudança sonora é foneticamente gradual e lexicalmente abrupta. A mudança é regulada pelo som: todas as palavras que apresentam o mesmo contexto fonético potencialmente irão sofrer a aplicação do fenômeno de mudança sonora. Labov argumenta que os diversos grupos sociais de uma determinada comunidade de fala se comportam de maneira diferente quanto a sua língua. Ele propõe que a variação é condicionada ou por aspectos sociais, ou por aspectos lingüísticos, ou pelos dois aspectos simultaneamente. Dessa maneira, é possível ordenar o aparente “caos” da linguagem, que existiria, à primeira vista, para um observador menos atento. WEINREICH, LABOV; HERZOG (1968) defendem a idéia de que há uma “heterogeneidade estruturada” na língua, dentro da qual a variação existente quanto a um 48 uso lingüístico é regulada por fatores sociais, como os citados acima. Os trabalhos em lingüística anteriores a LABOV (1966) apontam para uma visão de língua homogênea. É o que percebemos, por exemplo, em SAUSSURE (1916) que nos apresenta essa idéia de homogeneidade em um “estado de língua”. Também CHOMSKY (1965) assume buscar em sua pesquisa “a competência de um falante-ouvinte ideal, em uma comunidade de fala completamente homogênea”. Além de apontar que a heterogeneidade ou variação é inerente a todas as línguas, a sociolingüística apresenta uma metodologia eficaz que demonstra a ordem na aparente desordem ou heterogeneidade. Dessa forma, esse modelo teórico-metodológico proposto por Labov busca analisar e sistematizar a variação ou heterogeneidade existente na fala de uma comunidade lingüística. Faz parte dessa metodologia a gravação de entrevistas com a fala o mais espontânea possível. Contudo, Labov reconhece que há o paradoxo do observador (cf. LABOV, 1972: 209). O observador quer ter acesso à fala dos informantes quando eles não estão sendo observados sistematicamente. Contudo, a melhor forma de ele obter seus dados é através da observação sistemática. Portanto, é praticamente impossível conseguir-se uma fala totalmente natural, seja por causa da presença do investigador ou por causa do aparato tecnológico (gravador, microfone e outros). Mesmo assim, Labov aponta para a necessidade de se atenuar o efeito disso, buscando-se fazer a entrevista da maneira mais descontraída possível. Ao contrário do modelo neogramático mencionado acima, o modelo da difusão lexical aponta que a mudança é regulada pela palavra. Cada item lexical tem a sua própria história. Nem todas as palavras, com o mesmo contexto fonético, são atingidas, necessariamente, por uma mudança sonora. Neste trabalho, devemos verificar se o fator palavra é importante ou não no cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, no português de Belo Horizonte. Investigaremos também se o fator indivíduo é relevante na análise do cancelamento de líquidas intervocálicas. Seguindo OLIVEIRA (1992), o indivíduo pode apresentar um comportamento mais homogêneo do que o grupo e, por isso, deve-se verificar a influência deste fator nos estudos sobre mudança. A teoria da difusão lexical será abordada neste trabalho por ampliar a discussão em torno da mudança sonora. 49 Segundo tal teoria, a mudança sonora é foneticamente abrupta e lexicalmente gradual (cf. CHEN; WANG, 1975). 3.2. População e amostra A população desta pesquisa é composta por 24 informantes: 12 do sexo masculino e 12 do sexo feminino; nascidos em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, ou residentes nessa cidade há, pelo menos, 20 anos. Todos têm 3o grau como nível de escolaridade, sendo 12 deles professores e os outros 12, alunos universitários. Mais especificamente, professores e alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Eles foram selecionados de acordo com as seguintes áreas acadêmicas: Exatas/Gerenciais, Humanas e Biológicas. Tentou-se selecionar, em cada área, cursos que tivessem alunos com “perfis” diferentes e, por isso, falas diferentes quanto ao nível de formalidade. Optou-se, nesta pesquisa, pela escolha de dois cursos para cada uma destas áreas, o que resulta em um total de seis cursos. Os roteiros de entrevistas visaram à adequação de vocabulário próprio a cada curso (ANEXO 1). Os cursos já referidos são apresentados a seguir na tabela 11: TABELA 11 – Cursos por áreas acadêmicas Áreas de Formação Acadêmica a - Humanas b – Exatas/gerenciais c - Biológicas Cursos 1. Direito 2. Psicologia 3. Ciências Contábeis 4. Estatísticas 5. Medicina 6. Educação Física A tabela 11 acima agrupa os cursos segundo a área acadêmica a que eles pertencem. Acreditamos que, em princípio, dentro da área de Humanas, um estudante de direito tenha um cuidado maior de fala, com relação à norma culta do que um estudante de Psicologia. Também um estudante de Ciências Contábeis se aproximaria mais do padrão do que um estudante de Estatística, dentro da área de Exatas/Gerenciais. E, por fim, um estudante de Medicina, dentro da área de Biológicas, seguiria mais a norma culta na fala do que um 50 estudante de Educação Física. Essas afirmações são possíveis se consideramos os fatores sociais (externos ou extralingüísticos) correlacionados com os fatores gramaticais (internos ou lingüísticos), o que é proposto pela sociolingüística (LABOV, 1972). Afinal, o uso de uma fala mais próxima do padrão por uma profissão e não por outra é algo socialmente definido (CHAMBERS, 1995). De certa forma, é exigido de um profissional de Direito que ele mantenha uma linguagem falada mais culta em seus contatos sociais. Para cada uma das 3 áreas de formação acadêmica, tem-se 8 informantes, o que resulta em 4 informantes para cada um dos 6 cursos, sendo 2 professores e 2 alunos em cada curso. Quanto ao sexo, no total, tem-se 12 homens e 12 mulheres: 2 representantes de cada sexo em cada curso. As faixas etárias dos informantes foram duas: de 18 a 35 anos, para alunos, e de 35 a 55 anos, para professores. Foram estabelecidas 12 células sociais, de acordo com as variáveis sociais: sexo, faixa etária, profissão, escolaridade e área acadêmica. Como foi dito acima, a escolaridade de todos os informantes é de 3o grau. Contudo, faz-se necessária uma divisão em: escolaridade 1 (aluno graduandos) e escolaridade 2 (professores com Pós-Graduação – mestrado, doutorado ou pós-doutorado). Há de se considerar, como uma outra variável, a área de formação acadêmica (Humanas, Exatas/ Gerenciais e Biológicas). Isso se deve ao fato de poder haver comportamentos diferentes dos informantes com 3o grau de escolaridade, segundo a sua área de formação, em relação ao fenômeno aqui estudado. Dessa maneira, tem-se a seguir: a) sexo → masculino e feminino; b) faixa etária → 18 a 35 anos/ 35 a 55 anos; c) escolaridade → 3o grau: escolaridade 1 (alunos graduandos), escolaridade 2 (professores com Pós-Graduação); d) área de formação acadêmica → a – Humanas, b – Exatas/Gerenciais, c – Biológicas. Na combinação das quatro variáveis, tem-se 12 células, apresentadas na tabela 12 abaixo: 51 TABELA 12 – Distribuição dos informantes em 12 células sociais Sexo Faixa Etária Escolaridade (3º grau) 1 – masculino 18 a 35 anos escolaridade 1 Área de acadêmica humanas 2 – masculino 35 a 55 anos escolaridade 2 exatas/gerenciais 3 – masculino 18 a 35 anos escolaridade 1 biológicas 4 – masculino 35 a 55 anos escolaridade 2 humanas 5 – masculino 18 a 35 anos escolaridade 1 exatas/gerenciais 6 – masculino 35 a 55 anos escolaridade 2 biológicas 7 – feminino 18 a 35 anos escolaridade 1 humanas 8 – feminino 35 a 55 anos escolaridade 2 exatas/gerenciais 9 – feminino 18 a 35 anos escolaridade 1 biológicas 10 – feminino 35 a 55 anos escolaridade 2 humanas 11 – feminino 18 a 35 anos escolaridade 1 exatas/gerenciais 12 – feminino 35 a 55 anos escolaridade 2 biológicas formação Como a amostra é composta de 12 células sociais com 2 informantes em cada uma, tem-se um total de 24 informantes. 3.2.1. A capital mineira – Belo Horizonte Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, conta hoje com mais de 2 milhões de habitantes. Os dados da contagem de 1996 atestam 2.091.371 habitantes: 989.714 homens e 1.101.657 mulheres (cf. www.ibge.gov.com). Do total da população, aproximadamente, 99,7% é urbana e 0, 3% é rural. Por estes dados, constatamos que a cidade de Belo Horizonte é essencialmente urbana. A população se ocupa de atividades como, indústria, comércio, transporte e outros. 52 As origens de Belo Horizonte remontam de 1701, quando o bandeirante João Leite da Silva Ortiz, em busca de ouro, chegou a tal região. A nova capital de Minas Gerais, em substituição a Ouro Preto, surgiu de um pequeno povoado denominado Arraial do Curral Del Rei. Belo Horizonte foi inaugurada em 1897. A cidade foi projetada inicialmente para 200 mil habitantes, e já na década de 40, havia ultrapassado essa marca. Esse fato aponta para o crescimento desordenado da cidade, o que ocorre até hoje. O município de Belo Horizonte está localizado no centro-sul do Estado de Minas Gerais. Capital estadual e município-sede da Microrregião de Belo Horizonte e da Região Metropolitana de mesmo nome (ANEXO 2), possui extensão territorial de 335 km2 (cf. www.pbh.gov.com). A capital de Minas Gerais está ligada a todo país através de aeroportos, rodovias e ferrovias. As principais atividades econômicas de Belo Horizonte são: indústria de minerais, metalurgia, químicos, perfumaria, têxtil, e outros. Belo Horizonte é formada de aproximadamente 250 bairros, divididos em 9 regionais. As 9 Administrações Regionais de Belo Horizonte são as seguintes: 1. Administração Regional Venda Nova 2. Administração Regional Norte 3. Administração Regional Pampulha 4. Administração Regional Nordeste 5. Administração Regional Noroeste 6. Administração Regional Leste 7. Administração Regional Centro Sul 8. Administração Regional Oeste 9. Administração Regional Barreiro Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, as Administrações Regionais funcionam como sub-prefeituras, por intermédio de suas sedes administrativas, onde atuam equipes dos setores de zoonose, educação, controle urbano, dentre outras. A UFMG, local onde estudam e/ou trabalham os informantes de nossa pesquisa, localiza-se na Regional Pampulha (cf. número 3 acima). Os informantes residem em outras Regionais. A Região Metropolitana de Belo Horizonte conta com 27 cidades satélites ao redor dessa capital. São 8 as cidades vizinhas diretas de Belo Horizonte: Nova Lima, Sabará, Santa Luzia, Vespasiano, Ribeirão das Neves, Contagem, Ibirité, Brumadinho. Juntamente 53 com Belo Horizonte. Estes e mais outros 19 municípios fazem parte do conjunto de 28 municípios que compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte - RMBH. 3.2.2. A Universidade Federal de Minas Gerais A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi criada em 1927. Inicialmente, tinha 5 cursos: Direito, Medicina, Engenharia e Odontologia e Farmácia. Hoje, a UFMG conta com 55 cursos de graduação, distribuídos em 19 unidades. Há também 55 cursos de especialização, 27 de residência médica, 55 de mestrados e 36 de doutorado. Ainda, há 450 cursos e 163 projetos na área de extensão universitária da UFMG. Em tal universidade, existem 2.413 professores, 4.500 funcionários técnico-administrativos e 24.358 estudantes matriculados na graduação e pós-graduação, além de mais de 19 mil em cursos de extensão (cf. www.ufmg.br). É dentro desse universo acadêmico que se situam os sujeitos da presente pesquisa. 3.3. Coleta de dados A coleta de dados foi realizada em maio de 2001. Das 24 entrevistas feitas, 2 foram gravadas em Dat para análise acústica. Os dois informantes gravados em Dat são o professor e a professora de Estatística. Nas outras 22 entrevistas, foi utilizado o gravador Marantz, modelo CP240. Foi utilizado também o microfone unidirecional (Sure Prologue), a fim de se atenuar os efeitos de ruídos externos. As entrevistas foram feitas em campo, mais especificamente nas faculdades de cada informante. Com exceção de 3 entrevistas. A primeira, com o estudante de Educação Física, foi gravada em um ambiente familiar a ele e à entrevistadora. Deve-se dizer que este era o único informante conhecido pela entrevistadora antes da gravação. As outras duas entrevistas, com o professor e a professora de Direito, foram gravadas nos escritórios de cada um dos informantes e não na Faculdade de Direito. De certa forma, avaliou-se o estilo de fala. Ele variou de mais formal quando a entrevista foi feita na faculdade (escritório) do informante, a menos formal quando a entrevista foi feita no ambiente familiar, como foi o único caso do aluno de Educação 54 Física. É preciso esclarecer que, como não há nenhuma professora de Ciências Contábeis na FACE (Faculdade de Ciências Econômicas)/UFMG, optamos por selecionar uma professora do curso de Administração. A escolha por este curso se deveu ao fato de ele guardar mais semelhanças com o curso de Ciências Contábeis do que os demais. Por esta ser uma pesquisa na área de fonologia, especialmente, os dados foram obtidos a partir de entrevista. Antes das entrevistas, os sujeitos foram informados de que estariam contribuindo para um trabalho de cunho acadêmico e que o investigador fazia parte da universidade (UFMG). Contudo, não foram revelados os objetivos principais da pesquisa, como sugerem os trabalhos em sociolingüística, a fim de que o informante não ficasse monitorando a sua fala e, com isso, a entrevista se afastasse da fala mais espontânea. O tempo de duração total das entrevistas é de aproximadamente 13 horas e 45 minutos. O tempo de duração de cada entrevista para cada informante variou de 15 a 58 minutos. As entrevistas foram de dois tipos: 1) conversa livre: foi dividida em duas partes. Na primeira, as perguntas foram mais pessoais e, na maioria das vezes, provocaram, no entrevistado, respostas mais opinativas e não narrativas como propõem vários trabalhos em sociolingüística. Essa opção deveu-se ao fato de todos informantes terem 3o grau de escolaridade. Acredita-se que as perguntas que provocam respostas opinativas são mais interessantes a tais sujeitos. Na segunda parte, as perguntas foram feitas ao entrevistado de acordo com a sua área/curso, como citado acima (ANEXO 1). O tempo total de duração desse tipo de entrevista foi de 11 horas e 21 minutos aproximadamente. 2) nomeação de figuras (cf. SULLIVAN, 1992): foram apresentadas figuras com desenhos de elementos que levassem o informante a dizer as palavras que se supunha que favorecessem a ocorrência do fenômeno em estudo. A partir de tais figuras, o entrevistador fez perguntas ao entrevistado que o levassem a dizer as palavras desejadas pela pesquisa (ANEXO 3). O tempo de duração total deste tipo de entrevista foi de 2 horas e 24 minutos aproximadamente. 55 As palavras que nomeiam os elementos das figuras e que foram estimuladas a aparecer na fala dos informantes pelo investigador, são 20. Tais vocábulos foram agrupados segundo a posição da líquida intervocálica na sílaba tônica (postônica ou pretônica) e podem ser observados abaixo12: TABELA 13 – As 20 palavras com líquidas intervocálicas utilizadas na entrevista do tipo nomeação de figuras Posição da líquida intervocálica em relação à sílaba tônica Posição pretônica Posição postônica Líquida distante da Líquida tônica (CVCVCV) logo antes tônica (CVCV) da Líquida em Líquida em posição final (CVCV) posição medial (CVCVCV) Paroxítona Proparoxítona Proparoxítona paroxítona l l ______________ l l telefone amarelada prateleira amarelo ______________ Óculos árvore bola de futebol horas televisão aeroporto relógio de bailarina ______________ pílula pássaros panela professora parede coração restaurante ______________ xícara Óculos escuros A tabela 13 acima apresenta as 20 palavras com líquidas intervocálicas (que nomeiam os desenhos dos elementos presentes nas figuras) em relação à sílaba tônica – pretônica ou postônica. Dentro dessa primeira segmentação, há uma subdivisão em: pretônicas → líquida longe da sílaba tônica e logo antes da sílaba tônica; pretônicas → líquida em posição final e em posição medial. Por fim, são separadas as líquidas em: tepe ou vibrante simples // e lateral alveolar /l/. 12 Na 3a linha da tabela 13, o símbolo C em negrito corresponde à consoante líquida que está sendo observada. Nas 20 palavras apresentadas nas 3 últimas linhas da tabela, a líquida em itálico é a que interessa à pesquisa. 56 Note-se que foi listada somente uma palavra com líquida em posição medial: pílula. Mesmo assim, como se pode observar pela tabela, na palavra pílula, estamos analisando a líquida em posição final. AMARAL, M. (1999) afirma que, no Dicionário Aurélio, há 120.000 verbetes aproximadamente, e somente cerca de 8.520, ou seja, 7% deles são proparoxítonos. Por isso, para muitos estudiosos, as palavras que apresentam esse acento antepenúltimo são consideradas exceções, formas marcadas no léxico. Dessa maneira, como não encontramos palavras suficientes com líquidas em posição medial para uma análise adequada, e como podemos considerá-las como exceções no português, resolvemos não tratar deste contexto nas palavras proparoxítonas desta tabela. Ainda assim, não deixamos de abordar totalmente as proparoxítonas que estão presentes na tabela, na coluna das líquidas postônicas em posição final de sílaba (com /l/: óculos, pílula; com //: árvore, pássaros, xícara), mesmo que em número menor: 5. Pelo fato de a estrutura acentual paroxítona ser recorrente em nossa língua, justifica-se ter 15 palavras paroxítonas no total de 20 palavras. É possível observar também, pela tabela 13, que as 20 palavras selecionadas para a entrevista do tipo nomeação de figuras são nomes. Tal escolha se deu pelo fato de ser mais fácil os informantes falarem os nomes dos seres (objetos, pessoas, animais, etc.) que são representados pelos desenhos do que falarem não-nomes. E, nesse tipo de entrevista (nomeação de figuras), deve-se garantir ao máximo que o informante irá dizer as palavras desejadas pela pesquisa, sendo a escolha de nomes uma busca por essa garantia. Outra observação a se fazer é quanto às palavras que possuem duas líquidas intervocálicas apresentadas na tabela acima: amarelada, prateleira, bailarina, amarela e pílula. Pretendeu-se observar o que ocorre, em relação ao fenômeno estudado, nessas palavras. Há cancelamento de alguma líquida? Se há, é apenas de uma ou de mais? Qual líquida favorece mais o cancelamento? Essas são questões que necessitavam de esclarecimentos e, tendo a presença dessas palavras nesta pesquisa, foi possível iluminar tais questões de alguma maneira (cf. quarto capítulo). Entretanto, este trabalho se concentrou mais nas palavras que apresentam apenas uma líquida intervocálica que, nessa parte de elicitação de figuras, são 15. Isso se deve ao fato de as palavras com uma líquida apenas serem muito freqüentes na nossa língua. Por fim, resta dizer que não se trabalhou aqui com palavras oxítonas: jiló Æ il > i; cará Æ kaa > kaa. As oxítonas 57 são em número reduzido no português. Mais reduzido ainda é o número de oxítonas com líquida intervocálica. A análise do fator estrutural tonicidade apresenta lacunas decorrentes da estrutura da nossa língua. 3.4. Seleção de variáveis Ao se analisar a fala, deve-se levar em consideração tanto os fatores internos à língua quanto os fatores externos (cf. Teoria da variação). Pretende-se investigar se as escolhas feitas pelos falantes, quanto a uma das variantes do fenômeno em estudo, resultam desses dois fatores. Por isso, foram investigados os condicionadores internos e externos da variação que ocorre com as líquidas intervocálicas. 3.4.1. Variável dependente Há uma alternância entre a forma que apresenta a líquida (variante (1)) e a forma em que a líquida é cancelada (variante (2)). Dessa maneira, tem-se duas variantes: (1) nãocancelamento da líquida e (2) cancelamento da líquida. 3.4.2. Variáveis independentes 3.4.2.1. Variáveis independentes lingüísticas Quanto às variáveis independentes analisados nesta pesquisa, as lingüísticas foram: 1) Padrão acentual (paroxítono ou proparoxítono): AMARAL, M. (1999: 216-217), estudando a síncope em palavras proparoxítonas, aponta para o cancelamento de líquidas intervocálicas nas seguintes palavras: árvore> [arvi]; abóbora> [abba]; úlcera> [ursa]; triângulo> [trianu]; víspora > [vispa]~[vispu]; fósforo> [fsu]~[sfi]; pílula> [pila]. Deve-se 58 investigar se há diferença de comportamento entre as paroxítonas e as proparoxítonas, em relação ao fenômeno em estudo. 2) Posição da líquida em relação ao acento (pretônico ou postônico): CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No prelo) afirmam que a líquida em posição postônica apresenta um cancelamento maior. Deve-se confirmar ou não esse dado aqui. 3) Qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida: como o ambiente em que ocorre a líquida em estudo é o ambiente intervocálico, é de fundamental importância a observação deste fator. 3.4.2.2. Variáveis independentes extralingüísticas As variáveis independentes extralingüísticas analisadas foram: 1) Sexo → masculino e feminino. As pesquisas em variação apontam para o comportamento lingüístico diferenciado de acordo com o sexo. Segundo Labov, as mulheres tendem a ser mais conservadoras em relação à norma culta do que os homens. Contudo, em relação à mudança, as mulheres são mais inovadoras. Devemos investigar se há influência do fator sexo no fenômeno estudado. 2) Faixa etária → 18 a 35 anos/ 35 a 55 anos. As idades foram dividas dessa forma, em função de se estar analisando a fala de professores e alunos universitários. Foi-nos mais fácil encontrar alunos com idade entre 18 e 35 anos, assim também como professores com idade entre 35 a 55 anos. As pesquisas em variação lingüística mostram que pode haver uma interferência da faixa etária nos fenômenos de mudança. Em geral, as pessoas mais jovens são mais inovadoras e as pessoas mais velhas, mais conservadoras com relação à mudança. Esta pesquisa trabalha com as idades em tempo aparente, pois é feita segundo um recorte sincrônico, em função das diferentes faixas etárias. 59 3) Escolaridade → 3º grau: escolaridade 1 (alunos graduandos), escolaridade 2 (professores com Pós-Graduação). A escolaridade é apontada como uma forte influência no comportamento lingüístico dos falantes. As pessoas com maior grau de escolaridade utilizam mais a norma culta do que as pessoas com menor ou nenhuma escolaridade, que tendem a utilizar a variante estigmatizada. A escolaridade está implícita na faixa etária dos informantes. A escolaridade 1 corresponde à faixa etária de 18-35 anos de idade. A escolaridade 2 corresponde à faixa etária de 35-55 anos de idade. 4) Estilo de Fala → mais formal (entrevista do tipo nomeação de figuras); menos formal (entrevista do tipo conversa livre). Sabe-se que o grau de formalidade da fala influencia no uso de uma determinada variante. Em um estilo mais formal, o falante tende a cuidar mais de sua fala e, por isso, ela se aproxima mais da norma culta. Ao contrário, em um estilo de fala menos formal, o falante tende a se distanciar da norma culta. Devemos verificar a influência desse fator que se mostra muito produtivo nas pesquisas de cunho sociolingüístico. 3.5. Levantamento dos dados As fitas com as entrevistas foram submetidas à audição e à transcrição. A transcrição foi feita de forma diferente para os dois tipos de entrevistas: conversa livre e nomeação de figuras. Na entrevista do tipo conversa livre, a transcrição foi integral. Após tal transcrição, foram selecionadas todas as palavras que apresentavam líquida intervocálica. Assim, procedeu-se a diversas audições das fitas, a fim de informar, para cada palavra selecionada, se a líquida era ou não cancelada. Na entrevista do tipo nomeação de figuras, foram transcritas somente as 20 palavras de interesse nesta parte. Tais palavras foram apresentadas na tabela 13. Posteriormente, também foram realizadas várias audições, para se confirmar ou não o cancelamento de líquida intervocálica nestas palavras. 60 3.6. Conclusão Neste capítulo, discutimos alguns aspectos da teoria da variação que serviram de base para a metodologia adotada no presente trabalho. Também abordamos a teoria da difusão lexical que é relevante para estudos de fenômenos de variação lingüística. Apresentamos os procedimentos metodológicos adotados em nossa pesquisa: critérios de seleção da população e da amostra, coleta e levantamento dos dados. Falamos ainda sobre a cidade de Belo Horizonte, onde nasceram e residem os informantes, e sobre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde trabalham e/ou estudam os sujeitos desta pesquisa. Por fim, abordamos a seleção das variáveis dependente e independentes (lingüísticas e extralingüísticas). 61 CAPÍTULO 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 4.1. Introdução Neste capítulo, analisaremos e discutiremos os resultados de nossa pesquisa. Inicialmente, abordaremos as variáveis independentes lingüísticas. Em seguida, veremos as variáveis independentes extralingüísticas selecionadas no presente trabalho. A análise estatística sobre o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas, feita pelo programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) – Versão 10.0 – também será apresentada. 4.2. Apresentação geral dos dados do corpus O corpus da presente pesquisa é composto de dados obtidos de dois tipos de entrevistas: 1o) conversa livre e 2o) nomeação de figuras (cf. terceiro capítulo). A tabela 14 demonstra a distribuição dos dados quanto ao primeiro tipo de entrevista, conversa livre: TABELA 14: Dados da entrevista do tipo conversa livre Entrevista tipo conversa livre 1 2 3 4 Líquidas /l/ e // Líquida l Líquida Duas líquidas NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 9409 (94%) 4362 (95%) 4749 (94%) 298 (95%) 567 (6%) 241 (5%) 309 (6%) 17 (5%) 9976 4603 5058 315 A tabela 14 apresenta números relativos aos dados da entrevista do tipo conversa livre. Na terceira coluna da tabela, são diferenciados os dados que ocorreram nesta 62 entrevista, o que vemos nas linhas (1) a (4). Na linha (1) da tabela, vê-se o total das palavras com líquida intervocálica que ocorreram neste tipo de entrevista. Na linha (2), vêse o total somente das palavras com a líquida /l/ intervocálica. Já na linha (3), vê-se o total de palavras com a líquida // intervocálica e, na linha (4), o total de palavras com duas líquidas intervocálicas na mesma palavra. Na quarta coluna da tabela 14, são apresentados os números de não-cancelamento para os dados diferenciados nas linhas (1) a (4). Na quinta coluna, são apresentados os números de cancelamento para tais dados. Nestas duas colunas, quarta e quinta, são apresentados os valores percentuais entre parênteses, ao lado dos seus correspondentes valores absolutos. Na quinta coluna, são apresentados os totais gerais para os dados diferenciados nas linhas (1) a (4). Uma primeira conclusão a que se pode chegar analisando os dados acima é que a líquida //, com 5% de ocorrência, é ligeiramente mais cancelada do que a líquida /l/, com 6% de ocorrência. Há apenas 1% de diferença entre elas. Nas palavras que apresentam duas líquidas, tais líquidas tiveram o mesmo percentual de cancelamento que a líquida //: 5%. Portanto, devido à semelhança de valores que há nestes três casos (linhas (2), (3), (4)), é possível afirmar, preliminarmente, que o cancelamento independe do tipo de líquida. Tal fenômeno ocorre, em praticamente igual proporção, seja com a líquida /l/, ou com a líquida //, ou com duas líquidas. Não há favorecimento de nenhum dos casos explicitados nas linhas (2), (3) e (4) da tabela 14. Contudo, deve-se levar em conta que este é um fenômeno incipiente e que, portanto, esse resultado pode vir a mudar em um estágio posterior. Os números relativos aos dados que ocorreram na entrevista do tipo nomeação de figuras são apresentados a seguir na tabela 15: 63 TABELA 15: Dados da entrevista do tipo nomeação de figuras 1 2 3 4 Entrevista do tipo nomeação de figuras Líquidas /l/ e // Líquida l Líquida Duas líquidas (só a palavra pílula) NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 522 (94%) 193 (89%) 306 (98%) 23 (92%) 31 (6%) 23 (11%) 6 (2%) 2 (8%) 553 216 312 25 Na tabela 15, é apresentada a divisão dos dados da entrevista do tipo nomeação de figuras na terceira coluna. A mesma descrição feita para a tabela 14 vale para esta tabela 15. É preciso lembrar que estes dados são relacionados às vinte palavras selecionadas para o tipo de entrevista nomeação de figuras (cf. tabela 13). Pela quinta coluna da tabela 15, na linha (1), percebemos que o percentual de palavras com líquidas canceladas na entrevista do tipo nomeação de figuras é o mesmo percentual da entrevista do tipo conversa livre: 6%. Contudo, na entrevista do tipo nomeação de figuras, notamos um favorecimento do cancelamento da líquida /l/, com 11%, o que não encontramos na entrevista do tipo conversa livre. A líquida // apresenta um baixo percentual de cancelamento na entrevista do tipo nomeação de figuras, apenas 2%. O percentual de 8% de cancelamento para palavras com duas líquidas se refere à palavra pílula. Esta foi a única palavra, das cinco palavras com duas líquidas, a ter uma líquida intervocálica cancelada. As outras quatro palavras com duas líquidas nãocanceladas são: prateleira, amarelo, amarelada e bailarina. Vejamos, agora, na tabela 16, os resultados de todo o corpus (entrevistas do tipo conversa livre e do tipo nomeação de figuras). TABELA 16: Dados de todo corpus Corpus Inteiro 1 2 3 4 Líquidas /l/ e // Líquida l Líquida Duas líquidas NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 9931 (94%) 4555 (95%) 5055 (94%) 321 (95%) 598 (6%) 264 (5%) 315 (6%) 19 (5%) 10529 4819 5370 340 64 A tabela 16, que demonstra os resultados de todo o corpus, apresenta dados percentuais idênticos aos da tabela 14, a qual demonstra os resultados da entrevista do tipo conversa livre. Assim, na quinta coluna da tabela 16, que apresenta os percentuais de cancelamento para as linhas (1) a (4), temos: líquidas /l/ e //Æ 6% de cancelamento; líquida /l/ Æ 5% de cancelamento; líquida // Æ 6% de cancelamento; duas líquidas na mesma palavra Æ 5% de cancelamento. Essa igualdade de resultados entre as tabelas 14 e 16 se deve ao fato de o número de dados da entrevista do tipo conversa livre (9976 dados) ser muito superior ao número de dados da entrevista do tipo nomeação de figuras (553 dados). Assim, prevalecem, no corpus inteiro, os resultados da entrevista do tipo conversa livre. É bom ressaltar que o baixo valor de cancelamento de líquida intervocálica para todo o corpus (entrevistas conversa livre e nomeação de figuras), 6%, indica que o fenômeno em estudo é incipiente. Ainda assim, tal fenômeno merece ser analisado quanto as suas possíveis tendências de favorecimento, o que nos ocuparemos em fazer daqui em diante. 4.3. Variáveis independentes lingüísticas Vejamos, agora, os resultados referentes às três variáveis independentes lingüísticas – (1) padrão acentual; (2) posição da líquida em relação ao acento; (3) qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida. A análise de tais variáveis está relacionada à entrevista do tipo conversa livre. A análise dessas variáveis lingüísticas para a entrevista do tipo nomeação de figuras foi feita no terceiro capítulo (cf. tabela 13)13. É preciso apresentar as palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada na entrevista do tipo conversa livre, pois toda a análise abaixo das variáveis lingüísticas envolvidas no fenômeno em estudo será feita com base somente em tais palavras. Na entrevista do tipo conversa livre, foram 125 as palavras com líquida intervocálica cancelada. Tais palavras são apresentadas na tabela 17: 13 A variável lingüística (3), qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida, não foi considerada para as 20 palavras da entrevista do tipo nomeação de figuras (cf. tabela 13). 65 TABELA 17 – Palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada LÍQUIDA l PALAVRAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. alcoólica análise aquela aquelas aquele aqueles aquilo aula Belo cálculo círculo colégio colocando colocar colonização contabilidade daquilo daquele dela dele deles ela elas ele eles escola escolas especialidade especialista estímulo fala falam falando falar falava falo favela favelas flexibilização militar CANCELA NÃO CANCELA TOTAL 1 1 1 2 1 1 3 1 9 1 1 1 1 1 1 3 1 1 1 5 6 34 4 26 42 3 1 1 1 1 7 1 3 9 1 2 3 2 4 1 100% 13% 50% 100% 50% 100% 75% 50% 60% 100% 100% 100% 100% 50% 50% 8% 50% 100% 100% 56% 86% 20% 57% 12% 29% 30% 100% 100% 100% 100% 50% 100% 100% 56% 100% 50% 20% 67% 44% 100% 0 7 1 0 1 0 1 1 6 0 0 0 0 1 1 34 1 0 0 4 1 135 10 188 102 7 0 0 0 0 7 0 0 7 0 2 12 1 5 0 0% 88% 50% 0% 50% 100% 25% 50% 40% 0% 0% 0% 0% 50% 50% 92% 50% 0% 0% 44% 14% 80% 43% 88% 71% 70% 0% 0% 0% 0% 50% 0% 0% 44% 0% 50% 80% 33% 56% 0% 1 8 2 2 2 1 4 2 15 1 1 1 1 2 2 37 2 1 1 9 7 169 14 214 144 10 1 1 1 1 14 1 3 16 1 4 15 3 9 1 66 l 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. 79. 80. 81. 82. 83. 84. músculo músculos naquele óculos Paulo pelo personalidade possibilidade psicanálise relacionado revolução sala século SUBTOTAL adaptaram agora área árvore autores brincadeiras cadeira câmara cânceres Cícero claro classificatório deixarem dinheiro direito ditadura escritores escritório escuro escuros estarem etecétera fatores fora futuro gênero história hora horas Horizonte inteiro 2 1 2 32 2 1 1 1 1 1 1 1 4 239 1 13 2 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 5 1 1 1 4 1 2 6 1 1 2 1 1 7 1 12 2 100% 50% 50% 80% 33% 100% 100% 33% 9% 100% 100% 100% 100% 30% 100% 22% 29% 100% 100% 100% 14% 40% 100% 50% 50% 100% 100% 50% 12% 50% 100% 100% 57% 100% 67% 55% 100% 33% 67% 25% 20% 58% 100% 48% 29% 0 1 2 8 4 0 0 2 10 0 0 0 1 563 0 47 5 0 0 0 6 3 0 1 2 0 0 1 37 1 0 0 3 0 1 5 0 2 1 3 4 5 0 13 5 0% 50% 50% 20% 67% 0% 0% 67% 91% 0% 0% 0% 0% 70% 0% 78% 71% 0% 0% 0% 86% 60% 0% 50% 50% 0% 0% 50% 88% 50% 0% 0% 43% 0% 33% 45% 0% 67% 33% 75% 80% 42% 0% 52% 71% 2 2 4 40 6 1 1 3 11 1 1 1 5 802 1 60 7 1 1 1 7 5 1 2 4 1 1 2 42 2 1 1 7 1 3 11 1 3 3 4 5 12 1 25 7 67 l+ +l + l+l l+l 85. 86. 87. 88. 89. 90. 91. 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. 100. 101. 102. 103. 104. 105. 106. 107. 108. 109. 110. 111. 112. 113. 114. 115. 116. 117. 118. 119. 120. 121. 122. 123 124. 125. intermediárias janeiro lugares maneiras marido matéria matérias menores morei mulheres necessária número números para poderia prefere primeiros procura procurar professores querem querer questionário senadores série Teixeira teóricas teria tributária vários voltaram SUBTOTAL brasileiro brasileiros calculadora musculatura valores generalizar variabilidade horário celular megalópole SUBTOTAL TOTAL GERAL 1 5 6 1 1 1 1 7 5 6 1 1 1 172 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 2 1 311 1 2 1 1 1 1 1 1 6 2 17 567 100% 100% 37% 100% 100% 20% 25% 54% 83% 24% 100% 50% 20% 20% 50% 100% 100% 100% 50% 50% 100% 33% 100% 100% 50% 100% 50% 100% 25% 50% 100% 26% 33% 100% 50% 100% 50% 50% 17% 50% 55% 67% 50% 28% 0 0 10 0 0 4 3 6 1 19 0 1 4 687 3 0 0 0 1 1 0 2 0 0 4 0 1 0 3 2 0 895 2 0 1 0 1 1 5 1 5 1 17 1475 0% 0% 63% 0% 0% 80% 75% 46% 17% 76% 0% 50% 80% 80% 50% 0% 0% 0% 50% 50% 0% 67% 0% 0% 50% 0% 50% 0% 75% 50% 0% 74% 67% 0% 50% 0% 50% 50% 83% 50% 45% 33% 50% 72% 1 5 16 1 1 5 4 13 6 25 1 2 5 859 6 1 1 1 2 2 1 3 1 1 8 1 2 1 4 4 1 1206 3 2 2 1 2 2 6 2 11 3 34 2042 68 A tabela 17 apresenta as 125 palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada na entrevista do tipo conversa livre. Esta tabela discrimina, com números absolutos e percentagens, as vezes em que houve e não houve cancelamento de líquida intervocálica em cada palavra uma das 125 palavras. O total de ocorrências para cada palavra também é apresentado na última coluna desta tabela. Os números relativos a todas as ocorrências de nosso corpus foram apresentados na tabela 16. Pelo total geral (cf. última linha da tabela 17), vê-se que, das 2042 vezes que as 125 palavras ocorreram, elas tiveram líquida intervocálica cancelada por 567 (28%) vezes. Na tabela 17, as 125 palavras estão separadas quanto à líquida que apresentam. De (1) a (53), são apresentadas as palavras com a líquida /l/, o que soma um total de 53 ocorrências com esta líquida. De (54) a (115) são apresentadas as palavras com a líquida //, o que soma um total de 62 ocorrências com esta líquida. A diferença entre as palavras que apresentam /l/ e as que apresentam // é relativamente pequena: há 9 (8%) palavras com // a mais De (116) a (125) são apresentadas as palavras com duas líquidas que estão separadas quanto às possíveis combinações entre /l/ e //: l + ; + l; + ; l + l. No total, há 10 ocorrências de palavras com duas líquidas. Esse baixo número se deve ao fato de tais palavras serem menos recorrentes em nossa língua. Deve-se salientar que, nesta parte, a líquida cancelada está marcada em itálico na tabela 17. Passemos, afinal, à análise de cada variável independente lingüística selecionada pelo presente estudo. 4.3.1. Padrão acentual (paroxítono e proparoxítono) Constatamos, em nosso corpus, o cancelamento de líquidas tanto em palavras paroxítonas como em palavras proparoxítonas. Das 125 palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada, 84% são paroxítonas e 16% são proparoxítonas. Na próxima seção, 4.3.2, são apresentadas tabelas que dividem, em proparoxítonas (cf. tabela 18) e paroxítonas (cf. tabela 19), as 125 palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada na entrevista do tipo conversa livre. 69 A grande diferença de comportamento entre palavras paroxítonas e proparoxítonas deve-se mesmo ao fato de as palavras proparoxítonas serem pouco numerosas em português. O padrão acentual proparoxítono é uma forma marcada em nossa língua, como já se disse anteriormente. Acreditamos que não podemos considerar o acento paroxítono como um favorecedor da aplicação do fenômeno focalizado aqui, apesar de sua alta ocorrência (84%). É preciso relevar o que foi dito logo acima e na seção 3.3, a respeito das proparoxítonas. A maior contribuição de nossa pesquisa, nesse caso, é mostrar que o cancelamento de líquidas intervocálicas ocorre tanto em vocábulos paroxítonos como em vocábulos proparoxítonos. 4.3.2. Posição da líquida em relação ao acento – pretônico ou postônico Quanto à posição da líquida em relação ao acento, observou-se o favorecimento do ambiente postônico final, para o cancelamento de líquidas intervocálicas. As tabelas 18 e 19 abaixo ilustram esse fato. 70 TABELA 18 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras proparoxítonas LÍQUIDA PALAVRAS (proparoxítonas) 1 alcoólica 2 análise 3 cálculo 4 círculo 5 estímulo l 6 músculo 7músculos 8 óculos 9 psicanálise 10 século 11 árvore 12 câmara 13 cânceres 14 Cícero 15 etecétera 16 gênero 17 número 18 números 19 teóricas 20 megalópole l+l Ambiente da líquida Postônica medial Postônica medial Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica medial Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica medial Postônica final TOTAL PARCIAL DE PROPAROXÍTONA (20 ocorrências ou 16%) Total Post. Medial: 3 Post. Final: 7 Post. Medial: 1 Post. Final: 8 Post. Final: Post. Medial: 4 (20%) Post. Final: 16 (80%) 1 71 TABELA 19 – Posição da líquida quanto ao acento, em palavras paroxítonas LÍQUIDA PALAVRAS (paroxítonas) 1 aquela 2 aquelas 3 aquele 4 aqueles 5 aquilo 6 aula 7 Belo 8 colégio 9 colocando 10 colocar 11 colonização 12 contabilidade 13 daquilo 14 daquele 15 dela 16 dele 17 deles 18 ela 19 elas 20 ele 21 eles 22 escola l 23 escolas 24 especialidade 25 especialista 26 fala 27 falam 28 falando 29 falar 30 falava 31 falo 32 favela 33 favelas 34 flexibilização 35 militar 36 naquele 37 Paulo 38 pelo 39 personalidade Ambiente da líquida Total Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica perto Pretônica longe Pretônica longe Pretônica longe Pretônica longe Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica longe Pretônica perto Postônica final Postônica final Pretônica perto Postônica final Pretônica perto Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica longe Pretônica longe Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica longe Post. Final: 28 Pret. Perto tôn.: 4 Pret. Longe tôn: 11 72 l 40 possibilidade 41 relacionado 42 revolução 43 sala 44 adaptaram 45 agora 46 área 47 autores 48 brincadeiras 49 cadeira 50 claro 51 classificatório 52 deixarem 53 dinheiro 54 direito 55 ditadura 56 escritores 57 escritório 58 escuro 59 escuros 60 estarem 61 fatores 62 fora 63 futuro 64 história Pretônica longe Pretônica longe Pretônica longe Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final 65 hora 66 horas 67 Horizonte 68 inteiro 69 intermediárias 70 janeiro 71 lugares 72 maneiras 73 marido 74 matéria 75 matérias 76 menores 77 morei 78 mulheres 79 necessária 80 para 81 poderia 82 prefere 83 primeiros Postônica final Postônica final Pretônica longe Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica perto Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica perto Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica perto Postônica final Postônica final Post. Final: 46 Pret. Perto tôn.: 6 Pret. Longe tôn. 1 73 l+ +l + l+l 84 procura 85 procurar 86 professores 87 querem 88 querer 89 questionário 90 senadores 91 série 92 Teixeira 93 teria 94 tributária 95 vários 96 voltaram 97 brasileiro 98 brasileiros 99 calculadora 100 musculatura 101 valores 102 generalizar 103 variabilidade 104 horário 105 celular Postônica final Pretônica perto Postônica final Postônica final Pretônica perto Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica perto Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Postônica final Pretônica longe Pretônica longe Postônica final Pretônica perto TOTAL PARCIAL DE PAROXÍTONA (105 ocorrências ou 84% ) TOTAL GERAL (das tabelas 18, proparoxítonas, e 19, paroxítonas) Post. final: 6 Pret perto tôn.: 1 Pret. longe tôn.: 2 Post. Final: 80 (76%) Pret. perto tôn.: 11 (11%) Pret. longe tôn.: 14 (13%) Post. Final: 96 (77%) Post. Medial: 4 (3%) Pret. perto tôn.: 11 (9%) Pret. longe tôn.: 14 (11%) Soma geral: 125 Além de as tabelas 18 e 19 separarem as palavras paroxítonas das palavras proparoxítonas, também, em cada uma delas, são separadas as palavras que contêm a lateral /l/ das palavras que contêm o tepe // e das palavras que apresentam duas líquidas 74 intervocálicas. O ambiente em que ocorre a líquida é fornecido na terceira coluna das tabelas e, na quarta coluna, vemos os números relativos a tais ambientes. Assim, quanto às proparoxítonas (cf. última linha da tabela 18), os resultados são os seguintes: a) postônica medial: 20% b) postônica final: 80% Não se observam números relativos ao ambiente pretônico nesta parte das palavras proparoxítonas, pelo fato de as líquidas canceladas em tais palavras terem se apresentado somente na posição postônica. Nota-se, por esses dados, a maior ocorrência de cancelamento de líquida intervocálica em palavras com líquida em posição postônica final. Quanto às paroxítonas (cf. antepenúltima linha da tabela 19), tem-se os seguintes resultados: a) pretônica perto da tônica: 11% b) pretônica longe da tônica: 13% c) postônica final: 76% Neste caso, cancelamento de líquidas intervocálicas é bem mais freqüente em palavras com líquida em posição postônica final do que em palavras com líquida em posição pretônica, perto ou longe da tônica. Não há postônicas mediais, pois estas ocorrem somente em palavras proparoxítonas. Quanto aos resultados relativos às palavras proparoxítonas e paroxítonas juntas (cf. penúltima linha da tabela 19, total geral), tem-se: a) b) c) d) pretônica perto da tônica: 9% pretônica longe da tônica: 11% postônica medial: 3% postônica final: 77% Pela análise desses últimos números, percebemos que a posição postônica final pode ser apontada como um fator favorecedor à aplicação do fenômeno em estudo. Esse dado confirma a hipótese de CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No prelo) de que o 75 cancelamento de líquidas intervocálicas ocorre preferencialmente, na posição postônica final. Contudo, é preciso considerar que esse favorecimento do ambiente postônico final não tem o caráter de uma regra neogramática, visto que o cancelamento de líquidas intervocálicas ocorre também no ambiente pretônico e, mesmo, na sílaba postônica medial (cf. tabelas 18 e 19). É provável que o favorecimento deste fator estrutural se deva ao fato de que o ambiente postônico final é prosodicamente mais fraco. Nas línguas naturais, o enfraquecimento consonantal é recorrente neste tipo de sílaba. Assim, esse favorecimento do fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas em sílaba postônica final segue o comportamento recorrente nas línguas naturais: sílabas átonas ou sem proeminência podem estar sujeitas a alterações segmentais. 4.3.3. Qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida A última variável lingüística a ser analisada no presente trabalho é a qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida. As tabelas 20 a 26 abaixo dividem as 125 palavras, que tiveram líquida intervocálica cancelada na entrevista do tipo conversa livre, quanto às vogais anterior e posterior à líquida. Essas palavras são apresentadas da seguinte forma: as palavras não-grifadas são as que apresentam a líquida //. As palavras em itálico são as que apresentam a líquida /l/, e as sublinhadas são as que apresentam duas líquidas ao mesmo tempo. As palavras em caixa alta são as que apresentam ditongos orais ou nasais. Dito isto, é importante salientar que não encontramos restrições quanto à presença de vogais orais ou nasais, e de ditongos orais ou nasais, adjacentes às líquidas /l/ e //. Todos ocorrem em nosso corpus (cf. tabelas 20, 22-26). 76 TABELA 20 – Vogal anterior à líquida: i Vogal anterior à líquida i Vogal posterior à líquida i e a o Palavras Total Contabilidade, flexibilização, militar, possibilidade, variabilidade 5 (28%) BRINCADEIRAS, CADEIRA, MANEIRAS, TEIXEIRA 4 (22%) Aquilo, daquilo, DINHEIRO, DIREITO, INTEIRO, JANEIRO, brasileiro, brasileiros 9 (50%) PRIMEIROS, u Total 18 (14%) TABELA 21 – Vogal anterior à líquida: e Vogal anterior à líquida e Vogal posterior à líquida i e a o u Palavras Total Poderia, teria Aquele, aqueles, daquele, dele, deles, ele, eles, naquele, cânceres 2 (12%) 9 (53%) Relacionado 1 (6%) Pelo, Cícero, gênero, número, números 5 (29%) Total 17 (14%) TABELA 22 – Vogal anterior à líquida: Vogal anterior à líquida Total Vogal posterior à líquida i e a o u Palavras Total Matéria, matérias, série Mulheres, prefere, QUEREM, querer 3 (19%) 4 (25%) Aquela, aquelas, dela, ela, elas, favela, favelas, etecétera 8 (50%) Belo 1 (6%) 16 (13%) 77 TABELA 23 – Vogal anterior à líquida: a Vogal anterior à líquida a Vogal posterior à líquida i Palavras e a Área, DEIXAREM, ESTAREM, lugares 4 (14%) Fala, falam, falando, falar, falava, sala, ADAPTARAM, câmara, para, VOLTARAM 10 (34%) o u Análise, especialidade, especialista, personalidade, psicanálise, Total 13 (45%) INTERMEDIÁRIAS, marido, NECESSÁRIA, QUESTIONÁRIO, TRIBUTÁRIA, VÁRIOS, generalizar, horário Falo, claro Total 2 (7%) 29 (23%) TABELA 24 – Vogal anterior à líquida: Vogal anterior à líquida Vogal posterior à líquida i e a o u Palavras Alcoólica, CLASSIFICATÓRIO, ESCRITÓRIO, HISTÓRIA, teóricas Menores Colégio Escola, escolas, agora, fora, hora, horas Total Total 5 (38%) 1 (8%) 1 (8%) 6 (46%) 13 (10%) TABELA 25 – Vogal anterior à líquida: o Vogal anterior à líquida o Total Vogal posterior à líquida i e a o u Palavras Total Horizonte Árvore, autores, escritores, fatores, MOREI, professores, senadores, valores, megalópole 1 (7%) 9 (60%) calculadora 1 (7%) Colocando, colocar, colonização Revolução 3 (20%) 1 (7%) 15 (12%) 78 TABELA 26 – Vogal anterior à líquida: u Vogal anterior à líquida u Vogal posterior à líquida i e a o Palavras Total AULA, ditadura, procura, procurar, musculatura, celular 6 (35%) Cálculo, círculo, estímulo, músculo, músculos, óculos, PAULO, século, escuro, escuros, futuro 11 (65%) u Total 17 (14%) As tabelas 20 a 26 acima esgotam as possibilidades de combinações entre as vogais anteriores e posteriores à líquida. Na primeira coluna de tais tabelas, aparecem as vogais anteriores à líquida. Na segunda coluna, tem-se as vogais posteriores à líquida. Na terceira, aparecem as palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada no corpus. Na quarta coluna das tabelas 20 a 26, tem-se o total das ocorrências em números absolutos e percentagens. As percentagens das linhas (2) a (8) de tais tabelas são calculadas com base no total de cada uma das tabelas de 20 a 26. As percentagens da última linha de cada tabela (cf. total nas tabelas 20 a 26) são calculadas com base naquele no total de 125 palavras. Como observamos pelas tabelas 20 a 26, a vogal anterior à líquida que mais favoreceu a aplicação do fenômeno é a vogal /a/, com 23% de ocorrência. Mesmo assim, não podemos afirmar, categoricamente, que a vogal /a/ é, estruturalmente, determinante na aplicação do fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas, porque 23% é um valor baixo. Podemos apontar o favorecimento de tal vogal como uma tendência, no máximo. Nas tabelas 20 a 26, as outras vogais se encontram relativamente distantes de /a/. As vogais /i/, /e/ e /u/ apresentam 14% de ocorrência de cancelamento de líquida intervocálica cada uma. Depois, vêm as vogais // com 13%, /o/ com 12% e // com 10%. Em relação à vogal posterior à líquida, vejamos a tabela 27 que nos apresenta os seguintes dados: 79 TABELA 27 – Vogais posteriores à líquida Vogais posteriores à líquida Ocorrência total em percentagem i Ocorrência total em números absolutos 29 e a o u TOTAL 27 1 36 0 31 1 125 21% 0,8% 29% 0% 25% 0,8% 100% 23% Como se pode notar, a vogal posterior à líquida que mais favoreceu o cancelamento é também a vogal /a/, com 29%. Em segundo lugar, vem a vogal /o/ com 25%. Em terceiro, a vogal /i/ com 23% e, em quarto, a vogal /e/ com 21%. Novamente, temos um número baixo, para a vogal /a/ (29%), que não nos permite dizer que tal vogal, em posição posterior à líquida, é determinante na aplicação do fenômeno em estudo. Neste caso, podemos falar somente em uma possível tendência. As outras três vogais, numericamente, se distanciam em muito das quatro primeiras. As vogais // e /u/ apresentam um percentual baixíssimo: 0,8%. Já a vogal // não ocorreu após a líquida: 0%. Podemos dizer que há uma tendência de as vogais // e /u/ e //, quando seguindo a líquida, desfavorecerem o cancelamento de líquidas intervocálicas. Analisando as combinações entre as vogais anteriores e posteriores, temos os seguintes valores apresentados nas tabelas 28 a 34: 80 TABELA 28 – Vogal i Vogal anterior à líquida Vogal líquida i posterior i e a o u TOTAL à Números percentuais em relação ao total de ocorrências de palavras canceladas (125 palavras) 4% 0% 0% 3% 0% 7% 0% 14% TABELA 29 – Vogal e Vogal anterior à líquida Vogal líquida e posterior i e a o u TOTAL à Números percentuais em relação ao total de ocorrências de palavras canceladas (125 palavras) 2% 7% 0% 1% 0% 4% 0% 14% TABELA 30 – Vogal Vogal anterior à líquida Vogal líquida i e a o u TOTAL posterior à Números percentuais em relação ao total de ocorrências de palavras canceladas (125 palavras) 2% 3% 0% 6% 0% 1% 0% 12% 81 TABELA 31 – Vogal a Vogal anterior à líquida Vogal líquida a posterior i e a o u TOTAL à Números percentuais em relação ao total de ocorrências de palavras canceladas (125 palavras) 10% 3% 0% 8% 0% 2% 0% 23% TABELA 32 – Vogal Vogal anterior à líquida Vogal líquida posterior i e a o u TOTAL à Números percentuais em relação ao total de ocorrências de palavras canceladas (125 palavras) 4% 1% 1% 5% 0% 0% 0% 11% TABELA 33 – Vogal o Vogal anterior à líquida Vogal líquida o i e a o u TOTAL posterior à Números percentuais em relação ao total de ocorrências de palavras canceladas (125 palavras) 1% 7% 0% 1% 0% 2% 1% 12% 82 TABELA 34 – Vogal u Vogal anterior à líquida Vogal líquida u i e a o u TOTAL posterior à Números percentuais em relação ao total de ocorrências de palavras canceladas (125 palavras) 0% 0% 0% 5% 0% 9% 0% 14% Os dados percentuais apresentados nas tabelas 28 a 34 são calculados com base no total das 125 palavras que tiveram líquida intervocálica cancelada, demonstradas na tabela 17. Notamos, através das tabelas 28 a 34, que o ambiente intervocálico que mais tende a favorecer o cancelamento de líquidas é a seqüência /a/ + /i/, com 10% de ocorrência. Em segundo lugar, vem a seqüência /u/ + /o/, com 9% e, em terceiro, vem a seqüência /a/ + /a/, com 8%. As seqüências /i/ + /o/, /e/ + /e/, /o/ + /e/ têm 7% de ocorrência cada uma. Estas seriam as combinações de vogais anteriores e posteriores que mais tendem a favorecer a aplicação do fenômeno em estudo. Novamente, percebe-se que as vogais médias baixas desfavorecem o cancelamento de líquidas intervocálicas. A combinação // + // apresenta ocorrência muito baixa: 1 única ocorrência, ou seja, 1%. Em todas as outras combinações das vogais anteriores à líquida com as vogais médias baixas // e // posteriores à líquida, não há uma única ocorrência (0% de ocorrência). Contudo, não nos é possível apontar a seqüência /a/ + /i/ como determinante na aplicação do fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. Tal seqüência, apesar de ser mais recorrente do que as outras, ainda apresenta uma freqüência muito baixa: 10% de ocorrência. Portanto, podemos afirmar, por tudo que foi visto nesta seção, que a qualidade da vogal não parece influenciar, de forma definitiva, no cancelamento de líquidas intervocálicas. O que podemos fazer, neste estágio de pesquisa e análise, no máximo, são conjecturas a respeito de tendências do ambiente intervocálico. 83 4.3.4. Conclusão Foram selecionadas três variáveis independentes lingüísticas na presente pesquisa: 1) padrão acentual (paroxítono ou proparoxítono); 2) posição da líquida em relação ao acento – pretônico ou postônico – e 3) qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida. Ao analisarmos tais variáveis, vimos que somente a posição da líquida em relação ao acento – pretônico ou postônico – é que é relevante ao fenômeno em estudo. Assim, constatamos, como CRISTÓFARO-SILVA; FONTES MARTINS (No prelo), que a sílaba postônica final tende a favorecer o cancelamento de líquidas intervocálicas. Contudo, não como em uma regra categórica, já que líquidas em sílaba pretônica, ou mesmo em sílaba postônica medial, são canceladas quando em posição intervocálica. Apontamos que o fato de o ambiente postônico final ser fraco prosodicamente pode estar determinando esse favorecimento. 4.4. Variáveis independentes extralingüísticas Passemos, agora, a tratar dos resultados quanto às seguintes variáveis independentes extralingüísticas (cf. terceiro capítulo): 1) sexo; 2) faixa etária – a escolaridade é prevista por este fator – e 3) estilo de fala. Analisamos também os fatores área acadêmica e curso acadêmico pelo fato de os informantes de nossa pesquisa serem alunos ou professores universitários. Consideramos, ainda, os fatores palavra e indivíduo, por estarmos considerando a proposta teórica da difusão lexical (cf. WANG, 1969; OLIVEIRA, 1992). Devemos esclarecer que a análise feita aqui é válida para os dois tipos de entrevistas, conversa livre e nomeação de figuras. Essas entrevistas são analisadas em separado, na maior parte das vezes, por causa de alguma diferença no comportamento dos informantes em cada uma delas. Isto será discutido em cada caso relevante. Além da análise das variáveis extralingüísticas em separado, são demonstradas, posteriormente, algumas correlações entre elas. Os ANEXOS 4 e 5 apresentam, em tabelas e gráficos, os dados percentuais de nossa pesquisa quanto a essas variáveis e às correlações entre tais variáveis, para os dois tipos de entrevistas: entrevista livre e nomeação de figuras. O ANEXO 6 84 apresenta os casos de cancelamento e de não-cancelamento na entrevista do tipo nomeação de figuras. 4.4.1. Sexo A tabela 35 abaixo apresenta os números relativos à ocorrência de palavras com líquidas – canceladas e não-canceladas – na entrevista do tipo conversa livre, quanto ao sexo: masculino e feminino. Vejamos: TABELA 35 – Sexo (entrevista do tipo conversa livre) Sexo NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 1. Homens 5174 (93%) 379 (7%) 5553 2. Mulheres 4235 (96%) 188 (4%) 4423 Quanto ao sexo, é possível perceber que os homens, com um total de 7% de cancelamento, tendem a cancelar mais líquidas intervocálicas do que as mulheres, com um total de 4%. Essa tendência se manifesta também na entrevista do tipo nomeação de figuras, o que vemos na tabela 36: TABELA 36 – Sexo (entrevista do tipo nomeação de figuras) Sexo NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 1. Homens 263 (92%) 22 (8%) 285 2. Mulheres 259 (97%) 9 (3%) 268 Os homens, com 8% de cancelamento de líquidas intervocálicas, apresentam um pouco mais que o dobro de cancelamento das mulheres, com 3%. Esse comportamento é confirmado na análise dos informantes individualmente. Por esse motivo, é importante investigar se é o fator sexo ou o fator indivíduo que determina a aplicação do fenômeno em estudo. Faremos uma análise do fator indivíduo na seção 4.4.6. E nas seções 4.4.7.1 a 4.4.7.5, apresentaremos testes estatísticos que devem responder a tal questão. 85 4.4.2. Faixa etária (escolaridade) A faixa etária foi estabelecida segundo os dois níveis de escolaridade dos informantes, todos com 3o grau: a) Nível de escolaridade 1: aluno(a) universitário(a)Æ 18-35 anos de idade b) Nível de escolaridade 2: professor(a) universitário(a)Æ 35 a 55 anos de idade Como se pode ver, a escolaridade dos informantes pode ser prevista pela sua faixa etária e vice-versa. A tabela 37 apresenta o número de cancelamento e de não-cancelamento das palavras com líquida intervocálica que ocorreram na entrevista do tipo conversa livre, segundo as faixas etárias explicitadas acima. TABELA 37 – Faixa etária (entrevista do tipo conversa livre) Faixa etária 1 2 Professores Alunos NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 5376 (96%) 4033 (93%) 252 (4%) 315 (7%) 5628 4348 A tabela 37 demonstra que os alunos (18-35 anos), com um total de 7% de cancelamento, tendem a cancelar mais as líquidas intervocálicas do que os professores universitários (35-55 anos), com um total de 4%. Se os jovens favorecem mais a aplicação de um fenômeno de mudança, podemos postular que essa é uma mudança em progresso. Contudo, não nos é possível afirmar categoricamente que o cancelamento de líquidas intervocálicas é um caso de mudança em progresso, pelo fato de o número de cancelamento total de nosso corpus ser baixo: 598 palavras ou 6% do corpus. Contudo, seria interessante que pesquisas futuras observassem se essa tendência de os jovens cancelarem mais líquidas intervocálicas do que os velhos progride, mantém-se ou não. Vejamos agora a variável extralingüística faixa etária na entrevista do tipo nomeação de figuras. A tabela 38 apresenta os números de cancelamento e de não cancelamento em tal entrevista, quanto a esse fator. 86 TABELA 38 – Faixa etária (entrevista do tipo nomeação de figuras) Faixa etária 1. 2. Professores Alunos NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 248 (95%) 274 (94%) 14 (5%) 17 (6%) 262 291 Em relação à faixa etária observou-se uma semelhança entre os resultados dos dois tipos de entrevistas: os jovens (alunos) tendem a cancelar mais líquidas intervocálicas dos que os velhos (professor). Contudo, nessa entrevista de nomeação de figuras, a diferença entre jovens (com 6% de cancelamento de líquidas) e velhos (com 5%) é muito pequena: apenas de 1%. Já na entrevista do tipo conversa livre, como se viu, os jovens cancelaram 7% e os mais velhos, 4%; havendo quase o dobro de diferença entre eles. Com base nesse resultado, podemos chegar à conclusão de que o fator faixa etária talvez não tenha tanta relevância na análise do fenômeno em estudo. Em decorrência disso, devemos observar os resultados dos dados estatísticos (cf. seções 4.4.7.1 a 4.4.7.5). Por esse motivo, é preciso ter cautela ao se considerar o fenômeno em estudo como um caso de mudança em progresso. Não há resultados conclusivos que nos permitam fazer tal afirmação. 4.4.3. Estilo de fala O estilo de fala foi avaliado quanto aos dois tipos de entrevistas adotados na presente pesquisa: conversa livre e nomeação de figuras. Acreditamos que, na entrevista do tipo nomeação de figuras, predomina um estilo de fala mais formal do que na entrevista do tipo conversa livre. O falante se atém mais à forma de cada palavra que pronuncia na entrevista do tipo nomeação de figuras. Há, então, uma tendência de se usar mais a fala formal neste tipo de entrevista. Já na conversa livre, no início da entrevista, o falante pode até se manifestar lingüisticamente de maneira mais cuidada. Contudo, após esse começo, o falante vai se descontraindo e a sua fala se torna menos formal. Através de tal entrevista é que se obtém a fala o mais espontânea possível. 87 Como se viu na seção 4.2 (cf. tabelas 14 e 15), o número total de não-cancelamento e de cancelamento de líquidas intervocálicas é o mesmo nos dois tipos de entrevistas citados acima: 94% de não-cancelamento e 6% de cancelamento. Esse dado nos permite concluir que o fator estilo de fala parece não ser relevante ao fenômeno em estudo. Mais à frente, deveremos confirmar ou não essa hipótese (cf. seção 4.4.6). 4.4.4. Área acadêmica Como os informantes de nossa pesquisa são professores e alunos universitários, eles foram divididos segundo a área acadêmica a que pertencem. Assim, trabalhou-se com três áreas no presente estudo: 1) Humanas; 2) Exatas/Gerenciais; 3) Biológicas. A tabela 39 abaixo apresenta os números de cancelamento e não-cancelamento das palavras com líquidas intervocálicas que ocorreram na parte de entrevista do tipo conversa livre. TABELA 39 – Área acadêmica (entrevista do tipo conversa livre) Área Acadêmica 1 Humanas 2 Exatas/Gerenciais 3 Biológicas NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 3804 (96%) 2781 (95%) 2824 (92%) 158 (4%) 150 (5%) 259 (8%) 3962 2931 3083 Pela tabela 39, nota-se que a área de Biológicas apresenta um maior número de cancelamento: 8%. As áreas de Humanas e de Exatas/Gerenciais apresentam, respectivamente, 4% e 5% de cancelamento. Acreditamos que essa diferença, que aponta a área de Biológicas com um maior percentual, reflita o comportamento lingüístico de dois dos oito falantes da área de Biológicas, em especial: o professor e o aluno de Educação Física (ao falarmos do fator indivíduo na seção 4.4.6, trataremos com detalhes desse fato). Por causa disso, podemos supor que a variável área acadêmica não seja tão importante para o fenômeno de cancelamento de líquidas. Os testes estatísticos apresentados, à frente, deverão esclarecer-nos sobre essa questão. Vejamos agora como o fator área acadêmica atua na entrevista do tipo nomeação de figura, através da tabela 40: 88 TABELA 40 – Área acadêmica (entrevista do tipo nomeação de figuras) Áreas Acadêmicas 1. 2. 3. Humanas Exatas/Gerenciais Biológicas NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 176 (93%) 177 (95%) 169 (96%) 14 (7%) 10 (5%) 7 (4%) 190 187 176 Pela análise da tabela 40, observa-se o inverso do que ocorreu, quanto à área acadêmica, na entrevista do tipo conversa livre (tabela 39). A tabela 41 apresenta uma comparação entre os resultados do fator área acadêmica para os dois tipos de entrevistas. TABELA 41 – Comparação entre os resultados do fator área acadêmica para a entrevista do tipo conversa livre e a do tipo nomeação de figuras Entrevista do tipo conversa livre o Entrevista do tipo nomeação de figuras 1 ) Biológicas (8%) 1o) Humanas (7%) 2o) Exatas/Gerenciais (5%) 2o) Exatas/Gerenciais (5%) 3o) Humanas (4%) 3o) Biológicas (4%) A percentagem maior na entrevista de nomeação de figuras, para a área acadêmica de Humanas, se deve ao comportamento lingüístico do aluno de Direito que foi o informante que mais cancelou líquida neste tipo de entrevista, com 16% de cancelamento. A professora de Direito, por exemplo, teve 0% de cancelamento. Porém, o desempenho desse aluno fez elevar a média de cancelamento nesse grupo, área de Humanas. Na análise do fator indivíduo, na seção 4.4.6, esse dado deverá ficar mais claro. Mas, novamente, serão as análises estatísticas, apresentadas à frente, que deverão confirmar ou não a importância do fator área acadêmica no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. 4.4.5. Curso acadêmico 89 Os informantes desta pesquisa foram selecionados segundo os seguintes cursos, dentro das já citadas áreas acadêmicas (cf. seção 3.2): 1) Humanas: Direito e Psicologia. 2) Exatas/gerenciais: Ciências Contábeis e Estatística. 3) Biológicas: Medicina e Educação Física. Na tabela 42, tem-se a distribuição dos valores de cancelamento e de nãocancelamento na entrevista do tipo conversa livre, de acordo com esses cursos: TABELA 42 – Curso acadêmico (entrevista do tipo conversa livre) Curso 1. 2. 3. 4. 5. 6. Direito Psicologia Ciências Contábeis Estatística Medicina Educação Física NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 2128 (95%) 1676 (97%) 1748 (95%) 1033 (94%) 1094 (93%) 1730 (91%) 106 (5%) 52 (3%) 89 (5%) 61 (6%) 78 (7%) 181 (9%) 2234 1728 1837 1094 1172 1911 Como a tabela acima demonstra, dos seis cursos selecionados nesta pesquisa – Direito, Psicologia, Ciências Contábeis, Estatística, Medicina e Educação Física – este último apresentou uma percentagem maior de cancelamento de líquidas intervocálicas: 9%. O curso com menor freqüência de cancelamento de líquidas é o de psicologia, com 3%. Há uma diferença entre o curso que mais apresentou cancelamento e o que menos apresentou cancelamento é de exatamente o triplo. Isso nos permite inferir que o fator curso acadêmico pode ser relevante quanto ao fenômeno em estudo. Devemos ver o que a análise estatística feita à frente concluirá a esse respeito. Vejamos agora, na tabela 43, o comportamento do fator curso acadêmico quanto à entrevista do tipo nomeação de figuras: 90 TABELA 43 – Curso acadêmico (entrevista do tipo nomeação de figuras) Cursos 1. 2. 3. 4. 5. 6. Direito Psicologia Ciências contábeis Estatística Medicina Educação Física NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 86 (92%) 90 (93%) 90 (94%) 87 (96%) 83 (96%) 86 (95%) 7 (8%) 7 (7%) 6 (6%) 4 (4%) 3 (4%) 4 (5%) 93 97 96 91 86 90 Na entrevista do tipo conversa livre, o curso no qual houve um maior cancelamento de líquidas intervocálicas foi o de Educação Física, com 9% de cancelamento. Diferentemente, na entrevista do tipo nomeação de figuras, houve um maior cancelamento no curso de Direito, com 8% de cancelamento de líquidas intervocálicas. Em segundo lugar, vem o curso se Psicologia com 7%. Na análise do fator indivíduo, logo abaixo, esclareceremos a razão desses resultados. Como se apontou acima, as análises estatísticas, apresentadas à frente, deverão confirmar ou não a importância do fator curso acadêmico no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. 4.4.6. Indivíduo O fator indivíduo é considerado neste trabalho por acreditarmos ser importante avaliar se o indivíduo apresenta um comportamento mais homogêneo do que o grupo ( cf. OLIVEIRA, 1992). Apresentamos, na tabela 44, os números de cancelamento e de nãocancelamento de líquidas intervocálicas quanto ao fator indivíduo. 91 TABELA 44 – Indivíduo (entrevista do tipo conversa livre) Indivíduos 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. Professor Direito Professora Direito Professor Psicologia Professora Psicologia Professor Ciências Contábeis Professora Ciências Contábeis Professor Estatística Professora Estatística Professor Medicina Professora Medicina Professor Educação Física Professora Educação Física Aluno Direito Aluna Direito Aluno Psicologia Aluna Psicologia Aluno Ciências Contábeis Aluna Ciências Contábeis Aluno Estatística Aluna Estatística Aluno Medicina Aluna Medicina Aluno Educação Física Aluna Educação Física NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 620 (95%) 482 (99%) 431 (100%) 580 (94%) 704 (97%) 306 (96%) 303 (94%) 485 (95%) 430 (93%) 117 (94%) 436 (90%) 482 (97%) 733 (92%) 293 (98%) 240 (96%) 425 (99%) 414 (96%) 324 (89%) 106 (94%) 139 (95%) 313 (92%) 234 (96%) 444 (81%) 368 (96%) 30 (5%) 7 (1%) 0 (0%) 36 (6%) 19 (3%) 12 (4%) 19 (6%) 27 (5%) 34 (7%) 7 (6%) 46 (10%) 15 (3%) 63 (8%) 6 (2%) 11 (4%) 5 (1%) 17 (4%) 41 (11%) 7 (6%) 8 (5%) 27 (8%) 10 (4%) 106 (19%) 14 (4%) 650 489 431 616 723 318 322 512 464 124 482 497 796 299 251 430 431 365 113 147 340 244 550 382 Em relação ao indivíduo, notamos que o maior percentual de cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo conversa livre ocorreu na fala do informante de número (23) na tabela 44, aluno de Educação Física: 19% de cancelamento. O menor percentual ocorreu com o informante (3), professor de Psicologia: 0%. Esse contraste nos leva a crer que é importante verificar o comportamento do indivíduo. Tanto o informante com maior percentual de cancelamento de líquidas pode influenciar elevando o percentual nas análises do seu(s) grupo(s), como o informante de menor percentual pode influenciar reduzindo o percentual nas análises do seu(s) grupo(s). A informante (18), aluna de Ciências Contábeis, e o informante (11), professor de Educação Física, merecem destaque como os informantes que mais cancelaram líquidas intervocálicas, depois do aluno de Educação Física, com 11% e 10% cada um deles, respectivamente. A informante (2), professora de Direito; a informante (16), aluna de Psicologia, com 1% de cancelamento cada uma e a informante (14), aluna de Direito, com 92 2%, representam os informantes que menos cancelaram líquidas intervocálicas, depois do professor de Psicologia. A tendência de os homens cancelarem mais líquidas intervocálicas do que as mulheres (o que foi apresentado na seção 4.4.1) pode ser questionada mais uma vez, se consideramos que o menor percentual de cancelamento o foi de um homem: professor de Psicologia. Deve-se dizer que este informante, além de falar pausadamente e de maneira muito clara (sem hesitações, repetições ou gaguejos comuns à linguagem oral), apresenta uma formação cultural erudita, em que há um cuidado maior com a linguagem culta. Segundo o que o próprio informante disse na entrevista do tipo conversa livre, sua formação incluiu serões e saraus literários em casa, com familiares e amigos. Acreditamos que isso possa ter influenciado sua linguagem que é, dentre todos os outros informantes, a mais próxima do formal. Questionando ainda o comportamento de informantes do sexo masculino, vamos avaliar o caso da alta percentagem de cancelamento do aluno de Educação Física (19%). Deve-se considerar o fato de este ser o único informante que já conhecia a entrevistadora antes da entrevista, sendo que a entrevistadora até mantém um relacionamento familiar com ele. Tal informante é namorado de uma prima de primeiro grau da entrevistadora. Esse fato pode ter provocado o uso de uma linguagem mais descontraída por parte de tal informante. Assim, vemos que o comportamento dos homens entre si pode ser muito diferente. Por isso, o fator indivíduo deve ser considerado nesta pesquisa. Maiores considerações sobre o indivíduo serão feitas à frente na análise com testes estatísticos. A tabela 45 abaixo apresenta os dados referentes ao comportamento individual dos informantes com relação ao cancelamento de líquidas, na entrevista do tipo nomeação de figuras: 93 TABELA 45 – Indivíduo (entrevista do tipo nomeação de figuras) Indivíduos 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. Professor Direito Professora Direito Professor Psicologia Professora Psicologia Professor Ciências Contábeis Professora Ciências Contábeis Professor Estatística Professora Estatística Professor Medicina Professora Medicina Professor Educação Física Professora Educação Física Aluno Direito Aluna Direito Aluno Psicologia Aluna Psicologia Aluno Ciências Contábeis Aluna Ciências Contábeis Aluno Estatística Aluna Estatística Aluno Medicina Aluna Medicina Aluno Educação Física Aluna Educação Física NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL 19 (91%) 19 (100%) 26 (93%) 22 (96%) 19 (86%) 19 (91%) 22 (96%) 21 (96%) 22 (96%) 21 (100%) 19 (100%) 19 (95%) 21 (84%) 27 (96%) 21 (88%) 21 (96%) 29 (97%) 23 (100%) 22 (100%) 22 (92%) 18 (90%) 22 (100%) 25 (89%) 23 (100%) 2 (9%) 0 (0%) 2 (7%) 1 (4%) 3 (14%) 2 (9%) 1 (4%) 1 (4%) 1 (4%) 0 (0%) 0 (0%) 1 (5%) 4 (16%) 1 (4%) 3 (12%) 1 (4%) 1 (3%) 0 (0%) 0 (0%) 2 (8%) 2 (10%) 0 (0%) 3 (11%) 0 (0%) 21 19 28 23 22 21 23 22 23 21 19 20 25 28 24 22 30 23 22 24 20 22 28 23 Neste momento, é oportuno fazer considerações sobre o estilo de fala que irá influenciar no comportamento individual, mas que como já se mostrou na seção 4.4.3, não influenciou nos resultados gerais. Vimos que houve 6% de cancelamento de líquidas intervocálicas para cada uma das duas entrevistas e, conseqüentemente, para todo o corpus. Como se pode perceber, há sete indivíduos que não cancelaram líquidas intervocálicas, ou seja, tais sujeitos apresentaram 0% de cancelamento. Estes indivíduos são: (2) professora de Direito; (10) professora de Medicina; (11) professor de Educação Física; (18) aluna de Ciências Contábeis; (19) aluno de Estatística; (22) aluna de Medicina e (24) aluna de Educação Física. É importante notar que a aluna de Ciências Contábeis, que foi o indivíduo que ficou em segundo lugar na ordem dos que mais cancelaram na entrevista do tipo conversa livre, com 11% de cancelamento de líquidas intervocálicas, não cancelou uma única vez na nomeação de figuras. O mesmo ocorreu como o professor de Educação física, indivíduo 94 que ficou em terceiro lugar na ordem dos que mais cancelaram na conversa livre, com 10% de cancelamento. Ele também não cancelou uma única vez na nomeação de figuras. Isso aponta para o fato de que o estilo de fala pode influenciar no comportamento do indivíduo, no caso do fenômeno estudado aqui. Notamos, pela tabela 45, que o indivíduo que mais cancelou foi o aluno de Direito, com 16% de cancelamento de líquidas intervocálicas. Em segundo lugar, vem o professor de Ciências Contábeis com 14% de cancelamento. Em terceiro, vem o aluno de Psicologia com 12%. Em quarto, o aluno de Educação Física com 11% e, em quinto, o aluno de Medicina com 10%. A tabela 46 apresenta uma comparação entre os resultados destes indivíduos, para os dois tipos de entrevista. As percentagens de cancelamento de líquidas intervocálicas são apresentadas na ordem decrescente, na tabela 46: TABELA 46 – Cancelamento de líquidas intervocálicas nas entrevistas do tipo conversa livre e do tipo nomeação de figuras, para alguns indivíduos Entrevista do tipo conversa livre Entrevista do tipo nomeação de figuras 1 ) aluno de Educação Física Æ 19% 1o) aluno de Direito Æ 16% 2o) alunos de Direito e de Medicina Æ 8% 2o) professor de Ciências Contábeis Æ 14% 3o) aluno de Psicologia Æ 4% 3o) aluno de Psicologia Æ 12% 4o) professor de Ciências Contábeis Æ3% 4o) aluno de Educação Física Æ 11% o 5o) aluno de Medicina Æ 10% Pela comparação dos dados da tabela 46, vê-se que os informantes alunos de Educação Física, de Direito e de Medicina, mantiveram um comportamento parecido nos dois tipos de entrevista. Portanto, para eles, o fator estilo não foi relevante. Já para os indivíduos, aluno de Psicologia e professor de Ciências Contábeis, houve uma grande diferença de comportamento quanto aos dois tipos de entrevistas. Isso mostra que, para estes sujeitos, o fator estilo de fala se mostrou produtivo quanto ao fenômeno em estudo. Podemos entender, agora, a razão de o curso de Direito ter sido o que apresentou o maior percentual de cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo nomeação de figuras. O comportamento lingüístico do aluno de Direito influenciou no resultado do grupo curso. Podemos também entender o porquê de a área de Humanas ter apresentado maior cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo nomeação de figuras. O 95 comportamento dos alunos de Direito e de Psicologia influenciaram nos resultado desse grupo da área de Humanas. Por fim, é bom ressaltar que o único indivíduo que tinha apresentado 0% de cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo conversa livre, o professor de Psicologia, apresentou na entrevista de nomeação de figuras 7% de cancelamento. Em número absoluto, esses 7% representam 2 ocorrências de cancelamento em um total de 28 ocorrências (cf. número (3) da tabela 45). Deve-se ressaltar que esses dois cancelamentos se deram em uma mesma palavra: óculos. Esse fato nos permite dizer que é importante considerar o indivíduo em relação ao item lexical também, como propõe OLIVEIRA (1992). Faremos considerações sobre o fator palavra no final deste capítulo. 4.4.7. Correlações entre variáveis independentes extralingüísticas e apresentação dos testes estatísticos feitos pelo programa estatístico SPSS A partir deste momento, apresentaremos a análise estatística de nossos dados. Tal análise foi realizada pelo programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) – Versão 10.0. O programa SPSS 10.0 roda no Windows nas seguintes versões: Windows 95, Windows 98, Windows NT 4.0 e todas as versões de Windows 2000. O SPSS 10.0 é um programa estatístico que tem um alto poder de análise, porque é capaz de trabalhar com um grande número de dados, fazendo várias operações estatísticas. Maiores detalhamentos sobre os nossos dados estatísticos podem ser conferidos no ANEXO 7. É importante ressaltar que a análise estatística será feita para os dois tipos de entrevistas: conversa livre (a partir desse momento, denominada também como (A)) e nomeação de figuras (a partir desse momento, denominada também como (B)). Os testes estatísticos realizados pelo programa SPSS 10.0, aqui analisados, são 5: teste-F, teste de variância, teste-qui, teste de desvio-padrão e teste de significância Nessa análise estatística, consideram-se os fatores curso acadêmico e área acadêmica. Como se explicitou na seção 3.2, é importante verificar se estes dois fatores interferem no fenômeno em estudo. 96 O fator indivíduo também será analisado nos testes estatísticos por estarmos considerando a teoria da difusão lexical O fator será representado pela correlação nível/ sexo/ curso em todos os gráficos que serão apresentados a partir de agora. É preciso dizer que, em tais gráficos, a palavra nível se refere ao nível de escolaridade do informante (aluno ou professor universitário) e, conseqüentemente, à faixa etária deles: aluno Æ 18-35 anos de idade; professor Æ 35 a 55 anos de idade. O fator palavra, que é proposto pelo modelo difusionista, será analisado estatisticamente em separado, no final deste capítulo. Esses testes estatísticos consideram ainda as seguintes conjugações entre variáveis extralingüísticas: 1)sexo/ área acadêmica; 2) nível (faixa etária)/ sexo; 3) nível (faixa etária)/ área acadêmica; 4) sexo/ curso. A correlação nível (faixa etária)/ sexo/ curso corresponde ao fator indivíduo, como se disse acima. 4.4.7.1. Teste-F Vejamos agora os resultados obtidos a partir do teste-F. Esse teste estatístico mede a variância dos dados. O gráfico 1 demonstra os valores fornecidos pelo teste-F, para os dois tipos de entrevistas (A e B), de acordo com as seguintes conjugações de variáveis em análise: 1 0,93 0,94 0,89 0,89 0,83 0,8 0,57 0,6 teste F - A e B 0,33 0,4 0,2 0 sexo / área nível / sexo nível / área nível / curso curso sexo / curso nível / sexo / curso GRÁFICO 1: Teste-F (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)) 97 No gráfico 1, as conjugações de variáveis com menor valor apresentam uma menor dispersão nos dois tipos de entrevistas (A e B). Assim, vemos que a conjugação nível (faixa etária)/ sexo/ curso, ou seja, indivíduo, é a que apresenta a menor dispersão: 0,33. Esse dado aponta para a maior relevância do fator indivíduo no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas, o que confirma a análise da seção 4.4.6. Em segundo lugar, temos o curso como a variável com menor dispersão de dados nos dois tipos de entrevistas: 0,57. Isso mostra que tal variável pode estar também definindo o fenômeno em estudo. Na seção 4.4.5, fizemos uma análise da variável curso, o qual já se mostrava relevante. As outras conjugações de variáveis – nível/ área (0,94), sexo/ curso (0,93), sexo/área e nível/área (0,89 cada) e nível/curso (0,83) – apresentam valores de dispersão muito altos. Isso aponta para uma possível não-influência de tais conjugações de variáveis no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. Devemos comprovar ou não esse dado através da análise dos outros testes estatísticos aqui utilizados. 4.4.7.2. Teste de variância O teste de variância foi utilizado na presente pesquisa para definir a dispersão que há nos dados de não-cancelamento. Assim, o gráfico 2 apresenta tal teste aplicado às conjugações de variáveis avaliadas nas análises estatísticas deste estudo. 98 Variância das percentagens de não-cancelamento 23,57 25 20 15,65 15 13,37 12,68 11,62 10,21 var A var B 8,98 10 5,97 7,06 6,44 6,91 7,85 4,81 5 2,80 0 sexo / área nível / sexo nível / área nível / curso curso sexo / curso nível / sexo / curso GRÁFICO 2 – Teste de variância (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)) quanto ao não-cancelamento No gráfico 2, quanto maior os valores de (A) e (B), para cada variável ou correlação de variáveis, maior a dispersão dos dados de não-cancelamento. Assim, vemos que o fator curso é o que possui uma menor dispersão de não-cancelamento tanto em (A) como em (B), pois apresenta os valores mais baixos do gráfico 2. É curioso notar que o fator indivíduo, representado no gráfico por nível/ sexo/ curso, apresenta a maior dispersão de não-cancelamento tanto para (A) quanto para (B). Isso se deve ao fato, mencionado em 4.4.6, de que alguns indivíduos se comportaram de modo muito diferente. Há, por exemplo, na entrevista do tipo conversa livre, um indivíduo que não cancelou nenhuma líquida intervocálica e outro indivíduo que não cancelou em 81% das vezes. 4.4.7.3. Teste-qui O teste-qui mede a variância entre os dados de (A) e (B). O teste-qui irá avaliar o cancelamento de líquidas intervocálicas. Dessa maneira, vejamos o gráfico 3 abaixo: 99 Teste-qui ( cancelamento ) 1,2 0,94 0,85 0,79 0,82 0,79 0,70 0,8 0,98 0,96 0,93 0,94 1 0,93 0,82 0,78 0,69 A 0,6 B 0,4 0,2 0 sexo / área nível / sexo nível / área nível / curso curso sexo / curso nível / sexo / curso GRÁFICO 3 – Teste-qui (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)) quanto ao cancelamento No teste-qui, quanto maiores os valores que medem o cancelamento para as entrevistas (A) e (B), maior a importância da variável ou da correlação de variáveis no fenômeno em estudo. Assim, pelo gráfico 3, percebemos que as variáveis de maior importância para o fenômeno do cancelamento são: 1o) nível/ sexo/ curso (indivíduo); 2o) nível/ curso; 3o) sexo/ curso e 4o ) curso. Esse fato nos leva a concluir que as correlações que envolvem a variável área acadêmica não são importantes. Já havíamos indicado, preliminarmente, a não-relevância do fator área acadêmica na seção 4.4.4. Essa variável não se mostrou produtiva em nenhuma análise estatística. Assim, as correlações nível/ área e sexo/ área podem ser descartadas. Outra correlação que não se mostrou produtiva nos testes estatísticos foi nível/ sexo. No teste-qui, esta é a correlação que apresenta o menor valor. Tal fato nos permite descartar a correlação nível/ sexo também. Assim, mais uma vez, vemos que os fatores indivíduo (representado pelo nível/ sexo/ curso) e curso acadêmico do informante (que está presente nas 4 melhores correlações apresentadas acima) se destacam. Pelo fato de isto ter acontecido em outros 100 testes, podemos chegar à conclusão de que os fatores curso acadêmico e indivíduo são relevantes para o fenômeno em estudo. 4.4.7.4. Teste de desvio-padrão O teste de desvio-padrão aqui utilizado apresenta a dispersão de cancelamento e de não-cancelamento, que há nas entrevistas (A) e (B). Vejamos os resultados de tal teste no gráfico 4: Desvios-padrão das percentagens 6 4,86 5 3,66 4 3,19 3,41 3 2,66 2,44 2,63 2,80 3,00 2,54 3,96 3,56 desvpad A desvpad B 2,19 1,67 2 1 0 sexo / área nível / sexo nível / área nível / curso curso sexo / curso nível / sexo / curso GRÁFICO 4 – Desvios-padrão das percentagens (conversa livre (A) e nomeação de figuras (B)) Os desvios-padrão das percentagens de cancelamento e de não-cancelamento medem a dispersão que há entre as entrevistas (A) e (B). No teste de desvio-padrão, quanto maior os valores das entrevistas (A) e (B) para as variáveis e para as correlações de variáveis acima, maior a dispersão das mesmas. Assim, pelo gráfico 4, notamos que a menor dispersão, para (A) e (B), encontra-se no fator curso. Isso indica, novamente que a variável curso define mais o comportamento dos dados de nosso corpus. Também aqui, o fator indivíduo (nível/ sexo/ curso) apresenta a maior dispersão para (A) e (B). Isso se deve ao fato de haver grandes diferenças de comportamentos entre os indivíduos, como se demonstrou na seção 4.4.6. Mas esse dado só faz reforçar a idéia de que o indivíduo tem influência no fenômeno em estudo. 101 4.4.7.5. Teste de significância O último teste estatístico a ser abordado é o de significância. Esse teste também considera as variáveis extralingüísticas e as correlações entre tais variáveis vistas até o momento. Vejamos, no gráfico 5, a significância das percentagens de cancelamento e de não-cancelamento nas entrevistas (A) e (B): Significância das percentagens ( confiança = 95% ) 3 2,56 2,73 2,5 2,60 2,39 2,03 2,10 2 2,01 2,07 1,59 1,70 1,75 1,5 1,94 1,58 1,34 signif A signif B 1 0,5 0 sexo / área nível / sexo nível / área nível / curso curso sexo / curso nível / sexo / curso GRÁFICO 5: Significância das percentagens (confiança = 95%) – Conversa livre (a) e nomeação de figuras (B) Como se indicou no gráfico 5, a significância das percentagens de cancelamento e de não-cancelamento, para as entrevistas (A) e (B), foi avaliada com um grau de confiança de 95%. Os valores mais baixos, para as variáveis ou para as correlações de variáveis, indicam uma maior significância para as mesmas. Assim, as correlações de variáveis mais importantes quanto ao fenômeno em estudo são: curso; nível/ curso e nível/ sexo/ curso. Esse resultado confirma, mais uma vez, os resultados dos outros testes que apontaram o fato de que o indivíduo (nível/ sexo/ curso) e o curso (presente na correlação nível/curso) influenciam na aplicação do fenômeno em estudo. 102 4.4.7.6. Considerações estatísticas sobre o fator palavra Vimos que os fatores estruturais avaliados nesta pesquisa – padrão acentual (paroxítono e proparoxítono), posição da líquida em relação ao acento (pretônico e postônico) e qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida – não permitem delimitar um contexto estrutural que favoreça a aplicação do fenômeno em estudo. No máximo, pudemos apontar que a sílaba postônica final tem uma influência no fenômeno estudado, na medida em que grande parte das palavras que tem líquida intervocálica cancelada em nosso corpus apresenta a líquida no contexto postônico final. Mas, ainda assim, esse fator estrutural não é uma boa explicação para o fenômeno aqui estudado, visto que houve cancelamento de líquidas em sílabas pretônicas, na sílaba postônica medial e, ainda, houve casos de não-cancelamento na sílaba postônica final. Podemos dizer que, neste estágio incipiente de mudança, a posição postônica final pode indicar um contexto favorecedor para a estabilização da mudança. Como se destacou na seção 4.3.2, a sílaba postônica final é um ambiente prosodicamente fraco e, portanto, favorecedor natural de processos de enfraquecimento consonantal. Disso resulta essa observação de que a sílaba postônica final foi a mais recorrente em nosso corpus, nos casos de cancelamento da consoante líquida intervocálica. Vejamos, a partir desse momento, a relevância do fator palavra no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. Na seção 4.4.6, destacamos o fato de que, na entrevista do tipo conversa livre, o único indivíduo que não cancelou líquida intervocálica nenhuma vez, cancelou, na entrevista do tipo nomeação de figuras, em 7% das vezes. Mas esses 7% se referem a dois cancelamentos em uma mesma palavra: óculos. Inclusive, tal item lexical foi o mais cancelado na entrevista do tipo nomeação de figuras, com 33% de cancelamento nas vezes em que ocorreu (cf. ANEXO 6). Vale dizer que, nessa entrevista, das 20 palavras selecionadas, somente 6 tiveram a líquida cancelada: óculos (33% de cancelamento de líquida intervocálica), pílula (9%), árvore (4%), óculos escuros (5%), restaurante (4%) e xícara (11%). Esses dados apontam para o fato de que a palavra é relevante na análise do fenômeno em estudo. Em nossos dados de palavras que tiveram a líquida intervocálica cancelada na entrevista do tipo conversa livre (cf. tabela 17), também notamos uma diferença no número 103 de cancelamento de líquidas para cada vocábulo. Observamos que certos itens lexicais foram mais expressivos estatisticamente do que outros. Selecionamos essas palavras segundo o critério de freqüência – no sentido de elas terem ocorrido mais em nosso corpus, acima de 2% de ocorrência – e também pelo maior índice de cancelamento de líquidas intervocálicas em tais palavras (cf. tabela 17). Estes itens são: ela, ele, eles, óculos e para. É interessante notar que, excetuando a palavra óculos, que é uma palavra de conteúdo; as outras palavras – ela, ele, eles e para – são funcionais. Assim, podemos afirmar que há uma tendência de palavras funcionais cancelarem mais do que outros tipos de palavras. Devemos ressaltar, contudo, que encontramos palavras de diversas classes gramaticais – (cf. tabela 17) – as quais tiveram a líquida cancelada: substantivo, adjetivo, advérbio, verbo, preposição e outros. Os números absolutos de ocorrência das 5 palavras mais expressivas de nosso corpus, bem como o valor percentual de tais números entre parênteses, são apresentados na tabela 47. TABELA 47 – Palavras mais expressivas Palavras mais expressivas ela ele eles óculos para Cancelamento 34 (20%) 26 (12%) 42 (29%) 32 (80%) 172 (20%) Não-cancelamento 135 (80%) 188 (88%) 102 (71%) 8 (20%) 687 (80%) Total 169 214 144 40 859 Foi feito um tratamento estatístico dessas 5 palavras mais expressivas com o teste de correlação, através do programa SPSS 10.0. A tabela 48 apresenta as correlações entre esses itens mais expressivos. TABELA 48 – Correlações entre os itens mais expressivos CORRELAÇÕES 1 2 3 4 ela/ele 0,5139766295 ele/eles -0,85039406 eles/óculos -0,101712424 óculos/para 0,64013161 ENTRE OS ITENS ela/eles -0,22501758 ele/óculos 0,15919973 eles/para -0,4924454 MAIS EXPRESSIVOS ela/óculos 0,98564499 ele/para 0,48084529 ela/para 0,770635443 104 A tabela 48 esgota as possibilidades de correlações entre as palavras mais expressivas (ela, ele, eles, óculos, para). Os valores mais altos nesta tabela são os que demonstram as melhores correlações, e os mais baixos, as piores. Assim, percebemos que as melhores correlações são: ela/ óculos (98%); ela/ para (77%), óculos/ para (64%). Esses resultados apontam para o fato de que as palavras ela, óculos e para, quando em correlação entre si, são ainda mais favoráveis ao cancelamento do que as palavras ele e eles, quando correlacionadas a qualquer outro item lexical. Por exemplo, as palavras ela e óculos têm 98% de chance de ter a líquida intervocálica cancelada, quando ocorrem juntas. Já as piores correlações, todas com valores negativos, são: ele/ eles (-85%); eles/ para (-49%), ela/ eles (-22%), eles/ óculos (-10%). Tais correlações se fazem com a palavra eles. Isso indica que tal palavra, correlacionada as outras 4 mais expressivas, é que provoca correlação ruim. As outras correlações ainda não analisadas se fazem com a palavra ele: ela/ ele (51%); ele/ óculos (15%) e ele/ para (48%). Tais correlações ficam em um nível intermediário: não são tão boas, mas também não são ruins. A palavra ele, quando em correlação, ainda favorece mais o fenômeno de cancelamento de líquidas intervocálicas do que a palavra eles, quando correlacionada a outro item. Por toda essa análise, concluímos que a palavra é importante no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. Vimos que certos itens lexicais (ela, ele, eles, óculos e para) têm mais chances de ser cancelados do que outros. Observamos que, dos 5 itens mais expressivos, somente a palavra óculos é uma palavra de conteúdo. As outras 4 são palavras funcionais: ela, ela, eles, para. Em razão disso, pudemos formular que as palavras funcionais tendem a ser mais afetadas pelo fenômeno em estudo do que outros tipos de palavras. Contudo, lembramos o fato de que palavras de diversas classes gramaticais ocorreram em nosso corpus (cf. tabela 17): substantivo, adjetivo, verbo e outros. Dessa forma, acreditamos que o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte é melhor explicado pela teoria da difusão lexical. 105 106 CAPÍTULO 5 CONCLUSÃO Neste trabalho, foram discutidas três possíveis abordagens para o fenômeno do cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte: 1) fenômeno de cliticização; 2) fenômeno prosódico; 3) fenômeno fonológico. Como há uma tendência de favorecimento da sílaba postônica final no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas, optou-se por considerar a terceira abordagem (fenômeno fonológico). No capítulo anterior, foram analisados e discutidos os dados da presente pesquisa. Vimos que o fenômeno em estudo tem um caráter incipiente. Uma evidência disso é a baixa freqüência de cancelamento de líquidas intervocálicas em nosso corpus: 6% (cf. tabela 16) Analisamos as variáveis independentes lingüísticas e extralingüísticas propostas para este estudo. Na abordagem das variáveis independentes (somente para a entrevista do tipo conversa livre), vimos que, quanto ao padrão acentual, pode-se afirmar que há cancelamento de líquidas intervocálicas tanto em palavras paroxítonas quanto em proparoxítonas. Portanto, o padrão acentual não se mostrou relevante. Quanto à posição da líquida em relação ao acento (pretônico ou postônico), vimos que, nas palavras que tiveram a líquida intervocálica cancelada, tal líquida encontrava-se com mais freqüência na posição postônica final. Contudo, isso já era previsível, visto que tal contexto é fraco prosodicamente e, portanto, favorecedor de fenômenos como cancelamento e enfraquecimento consonantal. Ainda, constatamos que ocorre cancelamento de líquidas intervocálicas em sílaba pretônica (colocar Æ kolokah > kookah) e mesmo em sílaba postônica medial (análise Æ analize > anaize). Assim também como há não-cancelamento de líquida intervocálica ocorrendo em sílaba postônica final. Tudo isso demonstra que o fator estrutural acento não um tem papel determinante no fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas. Quanto à qualidade das vogais precedente e seguinte à líquida, vimos que não há como apontar um contexto intervocálico determinantemente favorecedor da aplicação do 107 fenômeno estudado. Podemos falar, no máximo, em tendências de favorecimento para o ambiente intervocálico: vogal precedente à líquida Æ /a/; vogal seguinte à líquida Æ /a/; combinação entre vogais precedente e seguinte à líquida Æ /a/ + /i/. Concluindo, podemos dizer que o contexto postônico final é aquele em que se observa mais recorrentemente o cancelamento de líquidas intervocálicas. Na abordagem das variáveis independentes extralingüísticas (todo corpus: entrevistas conversa livre e nomeação de figuras), fizemos primeiramente uma análise dos dados brutos para os seguintes fatores: sexo, faixa etária (escolaridade), estilo de fala, área acadêmica, curso acadêmico e indivíduo. Já nessa primeira análise das variáveis extralingüísticas, indicou-se que os fatores curso acadêmico e indivíduo poderiam ser importantes para o fenômeno em estudo. Isso foi confirmado, de modo geral, pelos testes estatísticos (teste-F, teste de variância, teste-qui, teste de desvio-padrão e teste de significância). Por fim, avaliamos a palavra e constatamos que tal fator também é importante para explicar o fenômeno em estudo, visto que há vocábulos (palavras funcionais) que favorecem mais o cancelamento de líquidas intervocálicas do que outros. Assim, apontamos para o fato de que o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte é melhor explicado pela teoria da difusão lexical. A teoria da Difusão Lexical permite analisar não apenas a importância do fator palavra, mas também a relevância do fator indivíduo. Nos testes estatísticos, vimos que os fatores indivíduo e palavra são muito relevantes na análise do cancelamento de líquidas intervocálicas. Pretendemos, com esta pesquisa, analisar o cancelamento das líquidas /l/ e // intervocálicas no português contemporâneo de Belo Horizonte. Seria interessante que trabalhos futuros investigassem o fenômeno do cancelamento de líquidas intervocálicas em outros dialetos do português brasileiro, a fim de que se façam análises comparativas que possibilitem uma maior compreensão desse fenômeno. Também, pesquisas subseqüentes poderiam investigar o comportamento do fenômeno estudado daqui a algum tempo, o que possibilitaria outras análises comparativas. 108 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERCROMBIE, D. Elements of General Phonetics. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1967. AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. São Paulo: Anhembi, 1955. AMARAL, Marisa P. As proparoxítonas: teoria e variação. Porto alegre: Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1999. AULER, M. A difusão lexical num fenômeno de aspiração do português. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, v. 1, p. 43-52, 1992. BIONDO, Delson. O estudo da sílaba na fonologia auto-segmental. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, v. 2, p. 37-51, 1993. BISOL, Leda. O clítico e seu status prosódico. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, v. 9, p. 5-30, 2000. BORTONI, S. 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E em uma cidade do interior? Você pretende morar em outro lugar que não Belo Horizonte? Se, sim, por que? Porque escolheu esta cidade? 4) Quantos anos tem? 5) Você é casado ou solteiro? Se casado, tem filhos? Quantos? Se solteiro, mora sozinho ou com os pais? 6) É professor ou aluno universitário? 7) Há quanto tempo estuda e/ou trabalha na Universidade Federal de Minas Gerais? 8) O que você acha da nova proposta de flexibilização curricular? Será melhor para você? 9) Se professor, há quanto tempo leciona? E na UFMG? O que você pensa sobre o espaço da sala de aula? Como é a sua relação com os alunos? E com os outros professores do seu departamento, da sua faculdade? Há algum fato curioso, ocorrido em sala de aula, que mereça ser contado? O que é importante para se ser um bom professor, na sua avaliação? Que tipo de aluno você valoriza? Como você avalia o mercado de trabalho para os alunos que se formam na sua faculdade? Quais as possibilidades deles? 10) Se aluno, foi difícil ou fácil para você passar no vestibular? Por que? Como você fez para passar? O seu curso é licenciatura ou bacharelado? Seu curso tem habilitação 118 (qual é a sua habilitação?) ou ênfase? Você gosta do curso que faz? Por que? Por que o escolheu? Como você avalia o seu curso nesta universidade? Quais são os pontos positivos do seu curso? e quais os negativos? Qual a matéria de que você mais gostou até agora, no curso? Por que? Depois de formado(a), qual a sua expectativa em relação ao mercado de trabalho na sua área de formação? Você acha que o seu histórico e o seu currículo são bons para você conseguir um emprego na sua área? O que pretende exercer depois de formado? 11) Você tem telefone celular? Para você, quais a vantagens e/ou desvantagens de se ter um telefone celular? Quando o celular incomoda? Você conhece alguém que conversa muito ao celular? Em quais profissões você acha imprescindível o celular? 12) Você assiste à televisão? De que tipo de programas de televisão você mais gosta? Como você acha que está a qualidade dos programas de televisão? Você acha que os pais estão delegando a educação de seus filhos à televisão? Muitos dizem que a televisão faz parte da família brasileira, você concorda com isso? Você acha que a televisão aliena as pessoas? 13) Você gosta de música? De qual estilo, cantor, cantora, grupo? O que você acha das músicas funk? Você acha que o funk estimula o sexo precoce? E o que pensa sobre bailes funk do Rio de Janeiro? O que pensa sobre o fato de haver meninas dizendo que estão ficando grávidas e contraindo o vírus HIV nesses bailes funks? 14) Que análise você faz dos adolescentes de hoje? Em que eles se assemelham ou se diferenciam dos adolescentes da sua época? Como você pensa que será o Brasil das próximas décadas, tendo em vista esta nova geração? 15) A questão do lixo é discutida no mundo inteiro, o que você acha da coleta seletiva que visa a reciclagem do lixo? Em que proporção você acha que ela vem ocorrendo no Brasil, em Belo Horizonte ou na sua cidade natal? Como ela poderia ser maior? 16) E quanto aos menores infratores, o que você acha da existência deles em nosso país? Você já foi agredido/roubado por um deles? Como você pensa que este problema poderia ser reduzido ou totalmente solucionado? 17) E em relação às favelas e periferias, você acha que elas aumentaram? O que você pensa sobre elas? Elas refletem o que? Você conhece alguma favela? Se sim, como é ela (quanto ao tráfico e consumo de drogas especialmente)? 119 18) Você tem costume de usar óculos escuros? Porque? 19) Há pouco, comemoramos o Dia Internacional da Mulher, você acha que as mulheres têm motivos para comemorar? Elas conquistaram a tão desejada igualdade em relação aos homens? Quais são as expectativas para o sexo feminino neste novo século? Você pensa que as mulheres devem sempre ter um tratamento diferenciado dos homens (seja no trabalho, no estudo, na família ou nas outras relações sociais)? 20) Muitas pessoas reclamam que “as coisas (no que tange a melhores empregos, lazer, cultura, educação, saúde, etc.) só acontecem no trecho Rio de Janeiro - São Paulo”. Você concorda com esta afirmação? Quais são as vantagens e desvantagens de Belo Horizonte em relação àquelas duas maiores capitais do Brasil? 21) O que você pensa sobre a violência nas grandes capitais? Em especial, sobre a violência relacionada a Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília? Qual(is) seria(m) a(s) causa(s) de tanta violência hoje no Brasil, segundo o seu ponto de vista? Como se poderia contê-la? Há muitos casos de violência no bairro onde você mora? Ou o seu bairro é tranqüilo? Você gosta de morar nele? Por que? 22) Você acha que, mesmo com tantas intempéries (desigualdade social, violência, etc.), o brasileiro pode ter orgulho de seu país? 23) No ano passado, comemoramos os 500 anos de Brasil. Você acha que essa data merecia comemorações? Por que? A situação política do Brasil, segundo sua opinião, alterou nos últimos séculos? 120 2a parte: perguntas relacionadas às áreas específicas: Direito 1) Diz-se que o curso de Direito é muito complexo, que são várias as áreas de estudo e que, inclusive é humanamente impossível dominar todas as suas áreas. Isso é uma verdade? Se sim, por que? 2) Apesar disso, o quê que todos que se formam em Direito têm que ter conhecimento? 3) Qual a sua área de atuação dentro do Direito? 4) O que você acha da atual Legislação Brasileira? 5) Em que nível você acha que os cidadãos brasileiros têm noção de seus direitos e os deveres? Quando procuram conhecê-los (mais)? 6) O que você acha da afirmação de Michel Foucault (quando de sua conferência, “A verdade e as formas jurídicas”) de que a verdade é um acidente dentro do sistema das leis e julgamentos e que provas e processos, desde a Grécia, são uma simples construção retórica ou verbal? Você pensa que isso tem algo a ver com a atividade de advogados, promotores, juízes e outros relacionados à área de Direito? Por que? 7) O que acha da área de promotoria? 8) É muito comum policiais militares fazerem Direito. O que você pensa sobre isso? Você acha que os conhecimentos de Direito são importantes para a polícia? A polícia pode trazer alguma contribuição para a área de Direito? Se sim, qual(is)? Psicologia 1) A Psicologia apresenta diversas abordagens (linhas, teorias). Na sua opinião, existe uma abordagem melhor ou pior, ou todas se complementam e devem ser avaliadas de acordo com o caso específico? 2) De modo geral, que tipo de terapia você considera mais adequada: a terapia individual, a terapia familiar ou a terapia em grupo? Para que casos cada uma dessas é indicada? 121 3) Como você acha que as pessoas enxergam alguém que se forma em Psicologia? 4) A Psicologia Empresarial é uma área da Psicologia. Como você vê tal área no mercado de trabalho atual? 5) Como você acha que os brasileiros, em geral, consideram as patologias mentais? Eles admitem a existência delas? Aqueles que possuem alguma aceitam tratamento? 6) O que você pensa sobre a Psicanálise? Você gosta da Teoria Psicanalítica? Quais as maiores contribuições dela na sua opinião? 7) Em geral, as pessoas preferem um tratamento baseado na Psicologia ou na Psicanálise? Por que? 8) Os brasileiros têm costume de procurar psicólogo? Estatística 1) Muitos dizem que “os números não mentem”. Isso é uma verdade? 2) Segundo Pierre Simon, “a Estatística nada mais é do que o bom senso em números”. Você concorda com esse autor? Por que? 3) Quando ou em que casos é possível se trabalhar com números absolutos? Quando é melhor se trabalhar com números relativos? 4) A Estatística resolve o problema da variabilidade presente em dados? De que forma? As medidas de variabilidade são precisas? 5) Todas as análises estatísticas são feitas da mesma forma ou há diversas abordagens? 6) Você acha que a Estatística deveria ser um conteúdo de todos cursos universitários? Por que? 7) Como é o conhecimento do brasileiro sobre a Estatística? 8) A mídia, as empresas e até os políticos em época de eleição “usam e abusam” dos números, através da estatística? Como? Ciências Contábeis 1) O que você acha da área de auditoria? Quais as vantagens e desvantagens? 2) O que você acha da área de contabilidade? Quais a vantagens e desvantagens? 122 3) Como você analisa a relação entre o Direito e a Contabilidade? Você acha que, em sua formação, o contador deveria se aprofundar mais na matéria de Direito? Você acha importante estudar Direito civil e comercial em seu curso? Por que? Qual dessas áreas do Direito você prefere? Por que? 4) Como você encara a questão dos técnicos contábeis? Você acha que o grande número deles prejudica a “mentalidade” das pessoas em relação à contabilidade? 5) O que você acha da Prova de Suficiência do CRC? Você acha que ela garante a melhoria dos cursos de Contábeis? 6) O que você pensa sobre a calculadora financeira no trabalho na área de Ciências Contábeis? Você domina todos os seus recursos? 7) O curso de Ciências Contábeis é mais “números ou teorias”? 8) Você acha que a Contabilidade no Brasil privilegia muito o fisco, esquecendo-se às vezes de si mesma? Medicina 1) Você acha que Belo Horizonte (e até mesmo o Brasil) está preparada para um eventual alastramento da febre amarela? Há recursos suficientes para o combate a essa doença? 2) O vírus da AIDS preocupa muito as pessoas. Você acha que a medicina ainda irá acabar com esse vírus ou quem sabe inventar uma vacina contra ele ainda neste século? 3) O câncer de pele também preocupa as pessoas. Você acha que todos os brasileiros estão conscientes dos malefícios do sol? Eles têm se prevenido contra isso? Você acha que o câncer de pele tende a aumentar? 4) As empresas têm realmente se ocupado em prevenir problemas de coluna, postura ou LER em relação aos seus funcionários? 5) O cérebro é ainda um mistério para a medicina. Será possível “mapear” todo o cérebro? 6) Os problemas de saúde relacionados ao coração (colesterol ruim e triglicérides alto, por exemplo) atingem muitas pessoas. Você acha que ainda haverá cura para as doenças do coração, neste século? 123 7) As mulheres têm procurado muito o silicone para aumentar os seios. O que você pensa sobre isso? Você não acha que o silicone pode ser prejudicial ao organismo? 8) O soro antiofídico pode ser encontrado com facilidade em todas as cidades do Brasil (especialmente no interior)? Educação Física 1) As pessoas têm se preocupado muito com a aparência. Em que sentido um profissional formado em Educação Física pode ajudar nisso? 2) Qual seria o exercício mais completo? 3) Quais os esportes que proporcionam maior flexibilidade, elasticidade ao corpo? 4) O brasileiro apresenta uma boa taxa de gordura e de massa muscular no corpo, em geral? 5) O que você pensa sobre as pessoas que vivem querendo reduzir a gordura de seu corpo, estar “em dia com a balança”, mas nunca o conseguem por definitivo? O que ocorre com elas? O que você acha que deveriam fazer? 6) A musculação “está na moda”. Isso se deve a que, na sua opinião? Você considera esse exercício bom para todas as pessoas? 7) O que um professor de Educação Física pode fazer para dinamizar suas aulas, tendo em vista que alguns alunos reclamam que as aulas muitas vezes são monótonas, repetitivas? 8) Vocês, como alunos ou professores de Educação Física, praticam muito esporte na faculdade, durante os cursos? 124 ANEXO 2 O mapa abaixo apresenta o estado de Minas Gerais dividido em Meso Regiões. As Meso Regiões de outros estados que fazem fronteira com Minas Gerais (Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Brasília) também aparecem no mapa. A Região Metropolitana de Belo Horizonte é a de número 3107. Tal região está destacada no mapa. FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 125 ANEXO 3 Perguntas diretas induzidas, com auxílio de figuras. Observação: as palavras em negrito nas perguntas abaixo são aquelas que apresentam líquida(s) intervocálica(s). Figura 1 Como se chama o objeto que se usa para tomar café, chá ou leite? (xícara) Figura 2 Como se chama uma mulher que dança de sapatilha e collant? (bailarina) Figura 3 Como se chama o lugar onde aterrissam e pousam os aviões? (aeroporto) Como se chama o órgão que fica do lado esquerdo do peito por onde passa todo o sangue do corpo? (coração) Figura 4 Como se chama o estabelecimento comercial onde almoçamos ou jantamos? (restaurante) Como se chama o objeto utilizado no rosto para proteger os olhos dos raios solares? (óculos escuros) Como se chama o objeto que algumas pessoas usam no rosto para enxergar solares? (óculos) Como se chama a cor que é presente no sol, no girassol e na gema de ovo? (amarelo) Quando uma pessoa está com hepatite ou febre amarela, ela fica com uma coloração característica, qual é essa cor? (amarelada) 126 Figura 5 Como se chama o objeto pregado na parede que serve para colocar outros objetos? (prateleira) Como se chama o remédio que as mulheres geralmente compram nas farmácias para poderem se prevenir da gravidez indesejada? (pílula) Figura 6 Como se chama o elemento da natureza do qual se tira madeira para fazer móveis e do qual o ser humano necessita para sobreviver, por esse elemento produzir o oxigênio da Terra? (árvore) Como se chamam os animais que voam? (pássaros) Figura 7 Como se chama o objeto que os jogadores de futebol chutam em campo? (bola de futebol) Como se chama uma mulher que dá aulas? (professora) Como se chama o objeto com o qual se faz comida, e que é levado ao fogo? (panela) Como se chama o objeto que usamos para falar com as pessoas que estão longe, através do qual ouvimos a sua voz? (telefone) Figura 8 O que procuramos saber quando olhamos no relógio? (horas) Como se chama o relógio grande que é usado pregado em casa? (relógio de parede) Figura 9 Como se chama o objeto muito presente nas casas no qual se assistem a programas diversos como filmes, novelas e outros? (televisão) 127 ANEXO 4 ENTREVISTA DO TIPO CONVERSA LIVRE CATEGORIAS NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL Líquidas /l/ e // Líquida l Líquida 2 ou mais líquidas 9409 (94%) 4362 (95%) 4749 (94%) 298 (95%) 567 (6%) 241 (5%) 309 (6%) 17 (5%) 9976 4603 5058 315 Homens Mulheres 5174 (93%) 4235 (96%) 379 (7%) 188 (4%) 5553 4423 Áreas Acadêmicas Humanas Exatas/Gerenciais Biológicas 3804 (96%) 2781 (95%) 2824 (92%) 158 (4%) 150 (5%) 259 (8%) 3962 2931 3083 Sexo/ Áreas Acadêmicas Homens humanas Mulheres humanas Homens exatas/gerenciais Mulheres exatas/gerenciais Homens biológicas Mulheres biológicas 2024 (95%) 1780 (97%) 1527 (96%) 1254 (93%) 1623 (88%) 1201 (96%) 104 (5%) 54 (3%) 62 (4%) 88 (7%) 213 (12%) 46 (4%) 2128 1834 1589 1342 1836 1247 Professores Alunos 5376 (96%) 4033 (93%) 252 (4%) 315 (7%) 5628 4348 Professor Professora Aluno Aluna 2924 (95%) 2452 (96%) 2250 (91%) 1783 (96%) 148 (5%) 104 (4%) 231 (9%) 84 (4%) 3072 2556 2481 1867 2113 (97%) 1798 (96%) 1465 (93%) 1691 (95%) 983 (93%) 1359 (90%) 73 (3%) 77 (4%) 102 (7%) 85 (5%) 73 (7%) 157 (10%) 2186 1875 1567 1776 1056 1516 Direito Psicologia Ciências contábeis Estatística Medicina Educação Física 2128 (95%) 1676 (97%) 1748 (95%) 1033 (94%) 1094 (93%) 1730 (91%) 106 (5%) 52 (3%) 89 (5%) 61 (6%) 78 (7%) 181 (9%) 2234 1728 1837 1094 1172 1911 Homens Direito Mulheres Direito Homens Psicologia Mulheres Psicologia Homens Ciências Contábeis Mulheres Ciências Contábeis 1353 (94%) 775 (98%) 671 (98%) 1005 (96%) 1118 (97%) 630 (92%) 93 (6%) 13 (2%) 11 (2%) 41 (4%) 36 (3%) 53 (8%) 1446 788 682 1046 1154 683 Geral Sexo Faixa etária Faixa etária/ sexo Professores humanas Professores exatas/gerenciais Faixa etária/ Áreas Professores biológica Acadêmicas Alunos humanas Alunos exatas/gerenciais Alunos biológicas Cursos Sexo/ curso 128 Sexo/ curso Homens Estatística Mulheres Estatística Homens Medicina Mulheres Medicina Homens Educação Física Mulheres Educação Física 409 (94%) 624 (95%) 743 (92%) 351 (95%) 880 (85%) 850 (97%) 26 (6%) 35 (5%) 61 (8%) 17 (5%) 152 (15%) 29 (3%) 435 659 804 368 1032 879 Professores Direito Professores Psicologia Professores Ciências Contábeis Professores Estatística Professores Medicina 1102 (97%) 1011 (97%) 1010 (97%) 788 (94%) 547 (93%) 37 (3%) 36 (3%) 31 (3%) 46 (6%) 41 (7%) 1139 1047 1041 834 588 918 (94%) 1026 (94%) 665 (98%) 738 (93%) 245 (94%) 547 (94%) 812 (87%) 61 (6%) 69 (6%) 16 (2%) 58 (7%) 15 (6%) 37 (6%) 120 (13%) 979 1095 681 796 260 584 932 620 (95%) 482 (99%) 431 (100%) 580 (94%) 704 (97%) 306 (96%) 303 (94%) 485 (95%) 430 (93%) 117 (94%) 436 (90%) 482 (97%) 733 (92%) 293 (98%) 240 (96%) 425 (99%) 414 (96%) 324 (89%) 106 (94%) 139 (95%) 313 (92%) 234 (96%) 444 (81%) 368 (96%) 30 (5%) 7 (1%) 0 (0%) 36 (6%) 19 (3%) 12 (4%) 19 (6%) 27 (5%) 34 (7%) 7 (6%) 46 (10%) 15 (3%) 63 (8%) 6 (2%) 11 (4%) 5 (1%) 17 (4%) 41 (11%) 7 (6%) 8 (5%) 27 (8%) 10 (4%) 106 (19%) 14 (4%) 650 489 431 616 723 318 322 512 464 124 482 497 796 299 251 430 431 365 113 147 340 244 550 382 Faixa etária/ cursos Professores Educação Física Alunos Direito Alunos Psicologia Alunos Ciências Contábeis Alunos Estatística Alunos Medicina Alunos Educação Física Indivíduos Professor Direito Professora Direito Professor Psicologia Professora Psicologia Professor Ciências Contábeis Professora Ciências Contábeis Professor Estatística Professora Estatística Professor Medicina Professora Medicina Professor Educação Física Professora Educação Física Aluno Direito Aluna Direito Aluno Psicologia Aluna Psicologia Aluno Ciências Contábeis Aluna Ciências Contábeis Aluno Estatística Aluna Estatística Aluno Medicina Aluna Medicina Aluno Educação Física Aluna Educação Física 129 GRÁFICOS DAS PORCENTAGENS DA ENTREVISTA DE CONVERSA LIVRE Obs: Nos gráficos abaixo, a palavra nível representa a faixa etária dos informantes. A correlação nível, sexo, curso corresponde ao fator indivíduo. Nas legendas dos gráficos, o símbolo + (cor vermelha) representa o número de cancelamento, e o símbolo – (cor azul) representa o número de não-cancelamento. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 97 95 Sexo / área 96 96 93 88 + 12 7 4 5 4 3 Hhum Mhum Hex/ger Mex/ger Hb Mb Nível / sexo 95 100 96 96 91 80 60 - 40 + 9 20 5 4 4 0 ProfH ProfM AlH AlM Nível / área 97 96 95 93 100 93 90 80 60 - 40 + 20 0 3 Prof-h 4 Prof-ex/ger 7 Prof-bio 5 Al-h 7 Al-ex/ger 10 Al-bio 130 Nível / curso 97 100 80 60 40 20 0 97 97 94 93 94 98 94 94 93 94 87 3 3 6 3 7 6 6 7 Prof-Dir Prof-Psi ProfCont ProfEst ProfMed Prof-EF Al-Dir 6 6 2 + 13 Al-Psi Al-Cont Al-Est Al-Med Al-EF Curso 97 95 95 94 93 91 100 80 60 - 40 + 20 5 5 3 6 9 7 0 Dir Psi Cont Est Med EF Sexo / curso 100 98 94 98 96 97 95 94 92 97 95 92 85 80 - 60 40 20 8 6 2 2 4 HDir MDir HPsi MPsi 0 3 HCont MCont 6 5 HEst MEst 5 HMed + 15 8 MMed 3 HEF MEF Pr of H Pr Dir of M Pr Dir of H Pr Psi of M Ps Pr of H i C o Pr of nt M C on Pr of t H Pr Est of M Pr Es t of H Pr Me d of M M e d Pr of H EF Pr of M EF Al H D i Al r M D i Al r H Ps Al i M Ps Al i H C o Al nt M C on Al t H Es Al t M E Al st H M ed Al M M ed Al H EF Al M EF 131 100 10 0 95 99 100 Nível / sexo / curso 94 5 1 97 0 96 94 3 95 6 4 93 20 6 5 94 7 90 97 6 92 98 10 3 96 2 99 4 96 90 89 1 94 8 11 4 95 92 6 5 96 96 80 81 70 60 50 - 40 + 30 8 19 4 4 132 ANEXO 5 ENTREVISTA DO TIPO NOMEAÇÃO DE FIGURAS CATEGORIAS NÃO CANCELADO CANCELADO TOTAL Líquidas /l/ e // Líquida l Líquida Duas líquidas 522 (94%) 215 (89%) 306 (98%) 23 (92%) 31 (6%) 26 (11%) 6 (2%) 2 (8%) 553 241 312 25 Homens Mulheres 263 (92%) 259 (97%) 22 (8%) 9 (3%) 285 268 Áreas Acadêmicas Humanas Exatas/Gerenciais Biológicas 176 (93%) 177 (95%) 169 (96%) 14 (7%) 10 (5%) 7 (4%) 190 187 176 Sexo/ Áreas Acadêmicas Homens humanas Mulheres humanas Homens exatas/gerenciais Mulheres exatas/gerenciais Homens biológicas Mulheres biológicas 87 (89%) 89 (97%) 92 (95%) 85 (94%) 84 (93%) 85 (99%) 11 (11%) 3 (3%) 5 (5%) 5 (6%) 6 (7%) 1 (1%) 98 92 97 90 90 86 Professores Alunos 248 (95%) 274 (94%) 14 (5%) 17 (6%) 262 291 Professor Professora Aluno Aluna 127 (93%) 121 (96%) 136 (91%) 138 (97%) 9 (7%) 5 (4%) 13 (9%) 4 (3%) 136 126 149 142 Professores humanas Professores exatas/gerenciais Professores biológica Alunos humanas Alunos exatas/gerenciais Alunos biológicas 86 (94%) 81 (92%) 81 (97%) 90 (91%) 96 (97%) 88 (95%) 5 (6%) 7 (8%) 2 (3%) 9 (9%) 3 (3%) 5 (5%) 91 88 83 99 99 93 Professores Direito Professores Psicologia Professores Ciências Contábeis Professores Estatística Professores Medicina 38 (95%) 48 (94%) 38 (88%) 43 (95%) 43 (98%) 2 (55) 3 (6%) 5 (12%) 2 (5%) 1 (2%) 40 51 43 45 44 Professores Educação Física Alunos Direito Alunos Psicologia Alunos Ciências Contábeis Alunos Estatística Alunos Medicina Alunos Educação Física 38 (97%) 48 (91%) 42 (91%) 52 (98%) 44 (96%) 40 (95%) 48 (94%) 1 (3%) 5 (9%) 4 (9%) 1 (2%) 2 (4%) 2 (5%) 3 (6%) 39 53 46 53 46 42 51 Geral Sexo Faixa etária Faixa etária/ sexo Faixa etária/ Áreas Acadêmicas Faixa etária/ cursos 133 Cursos Sexo/ curso Indivíduos Direito Psicologia Ciências contábeis Estatística Medicina Educação Física 86 (92%) 90 (93%) 90 (94%) 87 (96%) 83 (96%) 86 (95%) 7 (8%) 7 (7%) 6 (6%) 4 (4%) 3 (4%) 4 (5%) 93 97 96 91 86 90 Homens Direito Mulheres Direito Homens Psicologia Mulheres Psicologia Homens Ciências Contábeis Mulheres Ciências Contábeis Homens estatística Mulheres estatística Homens Medicina Mulheres Medicina Homens Educação Física Mulheres Educação Física 40 (87%) 46 (98%) 47 (90%) 43 (95%) 48 (92%) 42 (95%) 44 (98%) 43 (93%) 40 (93%) 43 (100%) 44 (94%) 42 (98%) 6 (13%) 1 (2%) 5 (10%) 2 (5%) 4 (8%) 2 (5%) 1 (2%) 3 (7%) 3 (7%) 0 (0%) 3 (6%) 1 (2%) 46 47 52 45 52 44 45 46 43 43 47 43 Professor Direito Professora Direito Professor Psicologia Professora Psicologia Professor Ciências Contábeis Professora Ciências Contábeis Professor Estatística Professora Estatística Professor Medicina Professora Medicina Professor Educação Física Professora Educação Física Aluno Direito Aluna Direito Aluno Psicologia Aluna Psicologia Aluno Ciências Contábeis Aluna Ciências Contábeis Aluno Estatística Aluna Estatística Aluno Medicina Aluna Medicina Aluno Educação Física Aluna Educação Física 19 (91%) 19 (100%) 26 (93%) 22 (96%) 19 (86%) 19 (91%) 22 (96%) 21 (96%) 22 (96%) 21 (100%) 19 (100%) 19 (95%) 21 (84%) 27 (96%) 21 (88%) 21 (96%) 29 (97%) 23 (100%) 22 (100%) 22 (92%) 18 (90%) 22 (100%) 25 (89%) 23 (100%) 2 (9%) 0 (0%) 2 (7%) 1 (4%) 3 (14%) 2 (9%) 1 (4%) 1 (4%) 1 (4%) 0 (0%) 0 (0%) 1 (5%) 4 (16%) 1 (4%) 3 (12%) 1 (4%) 1 (3%) 0 (0%) 0 (0%) 2 (8%) 2 (10%) 0 (0%) 3 (11%) 0 (0%) 21 19 28 23 22 21 23 22 23 21 19 20 25 28 24 22 30 23 22 24 20 22 28 23 134 GRÁFICOS COM AS PORCENTAGENS DA NOMEAÇÃO DE FIGURAS Obs: Nos gráficos abaixo, a palavra nível representa a faixa etária dos informantes. A correlação nível, sexo, curso corresponde ao fator indivíduo. Nas legendas dos gráficos, o símbolo + (cor vermelha) representa o número de cancelamento, e o símbolo – (cor azul) representa o número de não-cancelamento. Sexo / área 100 97 89 95 94 99 93 80 - 60 40 + 11 20 5 3 7 6 1 0 Hhum Mhum Hex/ger Mex/ger Hb Mb Nível / sexo 96 93 100 97 91 80 - 60 40 + 9 7 20 3 4 0 ProfH ProfM AlH AlM Nível / área 100 95 98 92 97 91 95 80 - 60 40 20 5 8 9 0 Prof-h Prof-ex/ger Prof-bio 5 3 2 Al-h Al-ex/ger Al-bio + 135 Nível / curso 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 95 98 96 94 98 97 91 88 95 96 94 91 + 12 6 5 9 3 4 9 Prof-Dir Prof-Psi ProfCont Prof-Est ProfMed Prof-EF Al-Dir Al-Psi Al-Cont Al-Est 6 5 4 2 2 Al-Med Al-EF Curso 100 92 97 96 94 93 96 80 60 - 40 + 20 8 7 4 6 4 3 0 Dir Psi Cont Est Med EF Sexo / curso 98 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 96 100 98 95 92 93 98 94 93 90 87 + 13 10 4 8 HDir MDir 7 5 7 2 2 HPsi MPsi HCont MCont HEst 6 2 0 MEst HMed MMed HEF MEF Pr of H Pr Dir of M Pr Dir of H Pr Psi of Pr MP s of H i Pr Con of M t C Pr ont of H Pr Es of t M Pr Es t of H Pr Me d of M M Pr ed of H Pr EF of M EF Al H D Al ir M D i Al r H P Al si M Ps Al H i C o Al nt M C on Al t H Es Al t M E Al st H M Al ed M M ed Al H EF Al M EF 136 100 90 20 100 10 0 93 96 7 90 4 10 96 95 4 96 100 100 95 Nível / sexo / curso 86 5 4 0 0 96 84 14 5 88 95 16 4 97 100 100 92 90 5 3 0 0 8 100 13 89 100 80 60 40 - 14 11 + 0 10 0 137 ANEXO 6 A tabela abaixo apresenta os casos de cancelamento e de não-cancelamento de líquidas intervocálicas na entrevista do tipo nomeação de figuras. Os informantes são listados na primeira coluna. Como se viu na tabela 12 (terceiro capítulo desta dissertação), foram selecionadas 20 palavras para esta entrevista. Tais palavras aparecem separadas de acordo com a líquida intervocálica que apresentam, /l/ ou //, na tabela abaixo. Os espaços em branco na tabela, com o símbolo (--), correspondem à não-produção da palavra pelo falante. O símbolo ø, no interior da tabela, foi adotado para indicar o cancelamento da palavra pelo falante. Ainda, para marcar que o falante pronunciou por mais de uma vez uma palavra, usou-se uma barra (/) em cada espaço preenchido com cor (amarela, verde, azul ou vermelha). O valor à esquerda da barra se refere ao número de ocorrência total da palavra. O valor à direita da barra se refere ao número de cancelamento da palavra. Da 2a a 9a coluna aparecem as palavras com /l/. Nesta parte, os espaços em verde correspondem à produção da palavra com a lateral /l/, e os espaços em amarelo correspondem ao cancelamento de tal líquida intervocálica. Da 10a a 12a coluna, são apresentadas as palavras com //. Nesta parte, os espaços em azul correspondem a produção da palavra com o tepe //, e os espaços em vermelho correspondem ao cancelamento desta líquida intervocálica. Na 13a coluna são apresentados os totais de não-cancelamento e de cancelamento separados por barra (/), para cada informante. Assim, o valor à esquerda da barra corresponde ao total de não-cancelamento. O valor à direita da barra corresponde ao total de cancelamento. A porcentagem que aparece nesta coluna refere-se a este valor de cancelamento à direita da barra. A última coluna, 14a, apresenta o número total de palavras ditas por cada informante. Por fim, a antepenúltima linha da tabela apresenta o total de não-cancelamento das 20 palavras, enquanto a última linha apresenta o total de cancelamento delas. O total de ocorrência de cada palavra aparece na última linha. 138 ø 2/1 Prof. de Direito. l ø l ø l l l l 2/0 Aluna de Direito l ø 3/1 l l l l l l 2/0 5/0 2/0 Profa. de Direito Aluno de Psicologia -- -- l l l l l -- -- ø 3/1 l l l l l 3/0 l l 2/0 l -- ø 4/2 Prof. de Psicologia l ø 6/2 l l l 4/0 -- l 2/0 l 2/0 -- Aluna de Psicologia l ø 4/1 l l -- l l l 2/0 2/0 -- -- Profa. de Psicologia l ø 3/1 l l l l l l 2/0 1/0 Aluno de Contábeis l ø 4/1 l l l l l l 3/0 4/0 -- 3/0 2/0 Prof. de Contábeis l ø 4/3 l l l l l l -- Aluna de Contábeis Profa. De Contábeis l l 3/0 ø 2/1 l l l l l l l l -- l l l 2/0 2/0 ø Aluno de Estatística l l 2/0 l l l l l l 2/0 Prof. de Estatística l l l l l l l l 3/0 ø Aluna de Estatística l ø 4/2 l l l l l l 3/0 -- 2/0 Profa. de Estatística l ø 3/1 l l l l l l Aluno de Medicina l ø l ø 2/1 l l l l -- Prof. De Medicina l ø 5/1 l l l l l l -- Aluna de Medicina Profa. de Medicina l l 3/0 l 3/0 l l l l l l l l -- l l l -- 2/0 l l Xícara (xícaras) 2/0 Horas l TOTAIS NÃO CAN./ CANCELA TOTAL GERAL Restaurante Professora Pássaro(s) Óculos escuros l Coração l Bailarina l Árvore Amarelo (amarela) l Televisão l Telefone ø 4/3 Prateleira l Pílula Aluno de Direito Panela Aeroporto Amarelada Relógio de parede Óculos (óculos escuros) Informantes Bola de futebol l 21/ 4 16% 19/ 2 9% 27/ 1 4% 19/ 0 21/ 3 12 % 26/ 2 7% 21/ 1 4% 22/ 1 4% 29/ 1 3% 19/ 3 14% 23/ 0 19/ 2 9% 22/ 0 22/ 1 4% 25 21 28 19 24 28 22 23 30 22 23 21 22 23 22/ 2 8% 21/ 1 4% 18/ 2 10% 22/ 1 4% 22/ 0 24 21/ 21 0 22 20 23 22 139 Aluno de Ed. Física l ø 3/2 l l l l l l 4/0 2/0 ø 2/0 2/0 Prof. de Ed. Física Aluna de Ed. Física Profa. de Ed. Física l l 2/0 l 5/0 ø 2/1 l l l l l l -- -- l l l l l l -- l l l l l l -- NÃO CANCELA CANCELA 23 48 24 23 24 23 26 25 28 44 23 23 29 25 17 21 19 24 TOTAL GERAL l l 0 23 23 33% 71 25/ 3 11% 19/ 0 28 23/ 23 19/ 1 5% 20 19 0 0 24 2 9% 25 0 24 0 23 0 26 0 25 0 28 0 44 0 23 1 4% 24 0 29 0 25 1 5% 18 0 21 0 19 0 24 28 1 4% 29 25 3 11% 28 522 (94%) 31 (6%) 553 140 ANEXO 7 TABELAS CONTENDO MAIORES DETALHAMENTOS NUMÉRICOS A RESPEITO DOS DADOS ESTATÍSTICOS Obs: nas tabelas abaixo, a palavra nível se refere à faixa etária dos informantes. A correlação nível/ sexo/ curso corresponde ao fator indivíduo. TesteF - A Variância Variância eB A B sexo / área nível / sexo nível / área nível / curso curso sexo / curso nível / sexo / curso 0,890543471 0,89352853 0,940105756 0,827950901 0,56655908 0,931111878 0,332537302 Significância A sexo / área nível / sexo nível / área nível / curso curso sexo / curso nível / sexo / curso 2,556199 2,394839 2,03075 1,585725 1,754284 2,01472 1,5825 10,20577 5,971972 6,441238 7,854929 4,8068 12,6799 15,64602 11,61565 7,06329 6,912666 8,98228 2,796076 13,37445 23,57402 Desvio Padrão A Desvio Padrão B 3,194647 2,443762 2,537959 2,802665 2,192442 3,560884 3,955505 3,408174 2,657685 2,629195 2,997045 1,672147 3,65711 4,855308 Significân- Teste-Qui A Teste-Qui B cia B 2,727053 2,60448 2,103752 1,695704 1,33797 2,069164 1,942489 0,7929985 0,6899098 0,7790053 0,9374677 0,8206423 0,9298743 0,9843109 0,791692313 0,697123094 0,820831373 0,944539636 0,850475357 0,926730771 0,95979954