Unidade II
Unidade II
PRINCÍPIOS DE METODOLOGIA CIENTÍFICA
8 LEITURA CRÍTICA
O processo do conhecimento se dá por meio de várias etapas.
A primeira delas é a necessidade de “estar no mundo”, isto é,
perceber o mundo que nos rodeia através dos nossos sentidos;
percepção que constitui nosso repertório.
5
Um pesquisador necessita estar em constante integração com
o mundo. E a nossa maneira primária de percepção busca novos
repertórios e referências para depois analisarmos o texto no qual
estamos trabalhando. Entende-se por texto todos os tipos de
linguagens existentes na atualidade, sejam elas verbais ou não.
Portanto, a leitura e a maneira como entendemos o mundo é
essencial para o trabalho do estudante-pesquisador. É por meio dela
que ampliamos nosso repertório. Ela é a base da pesquisa. Propicia
a ampliação de conhecimentos, a obtenção de informações e a
abertura de novos horizontes, além de contribuir na sistematização
15 do pensamento e enriquecer nosso vocabulário.
10
A melhor forma de aprender a escrever é ler. Ler significa
conhecer, interpretar, distinguir e decifrar quais são os elementos
principais e secundários dentro de um texto.
Por meio da leitura crítica podemos distinguir o grau de
20 conotação e denotação das mensagens, compreendendo, assim,
a visão de mundo do autor. A partir daí podemos estabelecer
novas estruturas e ideias com referência e base em antigos
estudos, tendo como objetivo a reformulação das ideias e não
apenas a sua repetição.
25
22
O não entendimento do texto, seja por falta de análise ou de
interpretação, deixa-nos restritos à mera repetição de conceitos
METODOLOGIA CIENTÍFICA
que muitas vezes não farão sentido para nós, e ainda menos
para nossos leitores.
No quadro abaixo, podemos observar algumas dicas
importantes para a leitura.1
Bom leitor
Mau leitor
O bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem
habilidades e hábitos como:
O mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem
hábitos como:
1. Ler com objetivo determinado: exemplo: aprender certo
assunto – repassar detalhes – responder a questões.
1. Ler sem finalidade: raramente sabe por que lê.
2. Ler unidades de pensamento: abarca, num relance, o
sentido de um grupo de palavras. Relata rapidamente as ideias
encontradas numa frase ou num parágrafo.
2. Ler palavra por palavra: pega o sentido da palavra
isoladamente. Esforça-se para ajuntar os termos para poder
entender a frase. Frequentemente, tem de reler as palavras.
3. Tem vários padrões de velocidade: ajusta a velocidade da leitura
com o assunto que lê. Se lê uma novela, é rápido. Se é um livro
científico, para guardar detalhes – lê mais devagar para entender bem.
3. Só tem um ritmo de leitura: seja qual for o assunto, lê
sempre vagarosamente.
4. Avalia o que lê: pergunta-se frequentemente: que sentido tem isso
para mim? Está o autor qualificado para escrever sobre tal assunto? Está
ele apresentando apenas um ponto de vista do problema? Qual é a ideia
principal deste trecho? Quais seus fundamentos?
4. Acredita em tudo que lê: para ele, tudo que é impresso é
verdadeiro. Raramente confronta o que lê com suas próprias
ideias, experiências ou com outras fontes. Nunca julga
criticamente o escritor ou seu ponto de vista.
5. Possui bom vocabulário: sabe o que muitas palavras
significam. É capaz de perceber o sentido das palavras novas
pelo contexto. Sabe usar dicionários e o faz frequentemente para
esclarecer o sentido de certos termos, no momento oportuno.
5. Possui vocabulário limitado: sabe o sentido de poucas
palavras. Nunca relê uma frase para pegar o sentido de uma
palavra difícil ou nova. Raramente consulta o dicionário. Quando
o faz, atrapalha-se em achar a palavra. Tem dificuldade em
entender a definição das palavras e em escolher o sentido exato.
6. Tem habilidades para conhecer o valor do livro: sabe que a
primeira coisa a fazer quando se toma um livro é indagar do que
trata, através do título, subtítulos encontrados na página de rosto
e não apenas na capa. Em seguida, lê os títulos do autor. Edição do
livro. Índice. “Orelha do livro”. Prefácio. Bibliografia citada. Só depois
é que se vê em condições de decidir pela conveniência ou não da
leitura. Sabe selecionar o que lê. Sabe quando consultar e quando ler.
6. Não possui nenhum critério técnico para conhecer o
valor do livro: nunca ou raramente lê a página de rosto do livro,
o índice, o prefácio, a bibliografia, etc., antes de iniciar a leitura.
Começa a ler a partir do primeiro capítulo. É comum até ignorar o
autor, mesmo depois de terminada a leitura. Jamais seria capaz de
decidir entre leitura e simples consulta. Não consegue selecionar o
que vai ler. Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro.
7. Sabe quando deve ler o livro até o fim, quando interromper a
leitura definitivamente ou periodicamente: sabe quando e como
retomar a leitura, sem perda de tempo e sem perder a continuidade.
7. Não sabe decidir se é conveniente ou não interromper
uma leitura: ou lê todo o livro, ou o interrompe sem critério
objetivo, apenas por questões subjetivas.
9. Adquire livros com frequência e cuida de ter sua
biblioteca particular: quando é estudante, procura os livros
de textos indispensáveis e se esforça em possuir os chamados
clássicos e fundamentais. Tem interesse em fazer assinaturas
de periódicos científicos. Formado, continua alimentando sua
biblioteca e restringe a aquisição dos chamados “compêndios”.
Tem o hábito de ir direto às fontes; de ir além dos livros de texto.
9. Não possui biblioteca particular: às vezes, é capaz de
adquirir “metros de livro” para decorar a casa. É frequentemente
levado a adquirir livros secundários em vez dos fundamentais.
Quando estudante, só lê e adquire compêndios de aula. Formado,
não sabe o que representa o hábito das “boas aquisições” de livro.
10. Lê assuntos vários: livros, revistas, jornais. Em áreas
diversas: ficção, ciência, história, etc. Habitualmente nas áreas de
seu interesse ou especialização.
10. Está condicionado a ler sempre a mesma espécie de
assunto.
11. Lê muito e gosta de ler: acha que ler traz informações e
causa prazer. Lê sempre que pode.
11. Lê pouco e não gosta de ler: acha que ler é ao mesmo
tempo um trabalho e um sofrimento.
12. O bom leitor é aquele que não é só bom na hora da
leitura: é bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é
constantemente bom leitor. Não só lê, mas sabe ler.
12. O mau leitor não se revela apenas no ato da leitura, seja
silenciosa ou oral: é constantemente mau leitor, porque se trata
de uma atitude de resistência ao hábito de saber ler.
Salomon, 1974, p. 45-48.
1
23
Unidade II
Outras dicas:2
Identificação do texto
a. Título: estabelece o assunto e, às vezes, até a intenção do
autor.
5
10
b. A data de publicação: contextualiza o texto e fornece
elementos para certificar-se de sua atualidade e
aceitação.
c. A “orelha” ou contracapa: local que possibilita aferir as
credenciais ou qualificações do autor. Podemos identificar
para qual público a obra é destinada.
d. O índice ou sumário: apresenta todos os tópicos abordados
na obra e como ele está dividido.
15
e. A introdução, prefácio ou nota do autor: indica os
objetivos do autor e muitas vezes a metodologia por ele
empregada.
f. A bibliografia: fornece as informações a respeito das obras
consultadas.
Leitura proveitosa
Muitas vezes, lemos inúmeros textos e não aproveitamos
20 devidamente suas informações. Além de fazer o fichamento3 é
importante:
a. Ter atenção: é necessário concentração para buscar o
entendimento, a assimilação e a apreensão dos conteúdos
básicos do texto.
25
b. Intenção: propósito de conseguir um aproveitamento
intelectual por meio da leitura.
Lakatos; Marconi , 2008, p. 19.
Fichamento: retirar do texto informações essenciais utilizando
marcações, o fichamento é o resumo das referências que serão consultadas
ao longo do trabalho.
2
3
24
METODOLOGIA CIENTÍFICA
5
c. Reflexão: observar todos os ângulos e ponderar as
informações, descobrir novas perspectivas e pontos de
vista. A reflexão favorece o entendimento e a assimilação
das ideias do autor, aprofundando, assim, nosso
conhecimento.
d. Espírito crítico: implica julgamento, comparação,
aprovação ou não do texto. É a avaliação do texto.
Ler com espírito critico significa fazê-lo com reflexão,
não admitindo ideias sem analisar ou ponderar,
proposições sem discutir, nem raciocínio sem examinar;
consiste em emitir juízo de valor, percebendo no texto
o bom e o verdadeiro, da mesma forma que o fraco, o
medíocre ou o falso.4
10
15
e. Análise: (a) divisão do tema em partes e (b) determinações
das relações existentes entre elas.
f. Síntese: tem como objetivo não perder a sequência lógica
do pensamento. É a reconstituição das partes decompostas
pela análise.
Para o estudante-pesquisador o que mais interessa é a
20 chamada leitura de estudo ou informativa. Seu objetivo é a
coleta de informações para determinado propósito. Segundo
Lakatos e Marconi,5 apresenta três objetivos essenciais:
25
1. certificar-se do conteúdo do texto, constatando o que o
autor afirma — os dados que apresenta e as informações
que oferece;
2. correlacionar os dados coletados a partir das informações
do autor com o problema em pauta;
3. verificar a validade dessas informações.
Lakatos; Marconi, 2008, p. 21.
Ibid., 2008, p. 22.
4
5
25
Unidade II
O professor Antonio Joaquim Severino6 sugere uma sequência
de tarefas a serem cumpridas para a análise completa do texto.
9 ANÁLISE DE TEXTOS
9.1 Análise textual
Preparação do texto: divida o texto em unidades de leitura,
em capítulos ou subtítulos.
5
Leia uma primeira vez na íntegra para ter uma visão de
conjunto do texto.
Ao se deparar com palavras ou conceitos desconhecidos, é
preciso buscar esclarecimento de vocabulário, doutrinas, fatos e
autores.
10
Em seguida, procure criar uma esquematização do texto.
Isso pode ser feito dividindo os parágrafos e anotando sobre o
que cada um trata.
9.2 Análise temática
O objetivo da análise temática é a compreensão da mensagem
do autor. Para isso, é preciso distinguir dentro do texto:
15
• tema: do que fala o texto, qual o seu assunto central;
• problema: qual problema o texto procura discutir. O
problema é específico dentro do tema central;
• tese: é a ideia central que o autor defende. É a resposta
que ele deu para o problema levantado no tema;
20
• raciocínio: é o processo lógico utilizado pelo autor; de
onde ele partiu, as etapas, até a conclusão;
Severino, 2005, p. 61.
6
26
METODOLOGIA CIENTÍFICA
• ideias secundárias: são ideias apresentadas pelo autor, mas
não aprofundadas. Também aparecem como exemplos
para argumentação.
9.3 Análise interpretativa
Após compreender a mensagem do texto, é possível fazer a
5 interpretação.
A pesquisa inicial sobre os conceitos utilizados pelo autor
auxilia a identificar sua situação filosófica e influências. Assim,
aparecem os pressupostos do autor e a associação de ideias.
Conhecendo esses dados, é possível fazer a crítica, identificar
10 a coerência interna do texto, a validade dos argumentos, a
originalidade, a profundidade da análise do autor, seu alcance e
a apreciação e juízo pessoal das ideias defendidas.
9.4 Problematização
Levantamento e discussões de problemas relacionados com
a mensagem do autor.
15
Nessa etapa, faz-se a discussão dos problemas que o texto
sugere.
A solução apresentada pelo autor poder ser problemática. O
leitor faz novos questionamentos.
Podem também surgir questões implícitas no texto.
9.5 Síntese
20
Reelaboração da mensagem com base na reflexão pessoal.
Este é o momento em que o estudante retoma com as suas
palavras o que foi abordado no texto e inclui a sua própria
análise e seu próprio texto.
27
Unidade II
A leitura crítica é a base de um bom trabalho acadêmico. Ao
longo do tempo, ficará mais fácil para o estudante-pesquisador
analisar e entender um texto. É apenas uma questão de treino.
Portanto, nunca se deixe intimidar por um texto
5 complexo, tenha sempre à mão um bom dicionário e procure
decifrar as palavras-chave do texto. Esse processo logo será
automatizado.
Existem outros processos importantes — o resumo e o fichamento
de um texto —, que estudaremos mais tarde. Esses dois processos
10 são tarefas muito solicitadas pelos professores nas universidades.
Falaremos primeiramente sobre a pesquisa bibliográfica.
10 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
A pesquisa bibliografia atual conta com uma série de
recursos que não existiam tempos atrás. Por exemplo: hoje não
precisamos consultar apenas os livros. Há várias informações
15 e referências na rede. Além dos livros, usamos a Internet e os
programas audiovisuais. É extremamente importante citar as
fontes utilizadas para obter o conhecimento. Na Unidade III
destacaremos as normas utilizadas pela ABNT a serem seguidas.
A principal base da pesquisa bibliográfica consiste em análise
20 e leitura de texto. Essas fontes de informação devem ser bem
utilizadas, e o trabalho acadêmico deve ser construído, e não
copiado. A Internet pode ser utilizada, desde que sejam feitas
as corretas referências, de acordo com suas especificidades
(aprofundaremos esse assunto na próxima unidade).
25
Os livros ainda são as fontes mais confiáveis, mas isso não
significa que os mesmos devam ser lidos de qualquer maneira; a
leitura crítica é essencial para o bom aproveitamento dos dados.
Lembre-se sempre: a cópia de trabalhos (plágios), além de
ser uma prática desonesta, é ilegal.
28
METODOLOGIA CIENTÍFICA
Ao fazermos um trabalho científico, devemos estabelecer,
em primeiro lugar, o tema, ou seja, aquilo que queremos
pesquisar. A partir desse ponto, podemos buscar fontes amplas
sobre o assunto, para depois delimitá-lo. Uma dica é pesquisar
5 na biblioteca e na Internet autores que já escreveram artigos
sobre o assunto que escolhemos. Isso é muito importante para
conhecermos melhor o que iremos pesquisar.
Quando se inicia a pesquisa é importante identificar:
O que vou pesquisar, qual é o meu tema? E onde encontrarei
10 as fontes a respeito desse assunto?
Delimitar o assunto também é igualmente importante.
Para começarmos a definir nosso projeto de pesquisa, que
será desenvolvido com mais propriedade na Unidade III, devemos
responder a seguinte pergunta:
15
Eu estudando ______________ (tema), pois quero descobrir
(como, por que, onde...) ____________________________.
Nessa primeira pesquisa, é importante que o estudante
consiga saber até que ponto aquele assunto foi estudado.
Portanto, ele deve pesquisar em primeiro lugar temas mais
20 gerais sobre o assunto e, aos poucos, aprofundar-se. Após ter
conhecimento dos diversos pontos de vista sobre o seu tema, ele
deve selecionar aquele que melhor atenda seus objetivos.
Como encontrar as fontes?
10.1 Biblioteca
Pode ser a biblioteca da faculdade, do bairro ou da cidade.
25 Podemos acessar vários desses acervos através da Internet e
consultar quais são os livros disponíveis naquela instituição que
poderão favorecer nosso trabalho.
29
Unidade II
Abaixo, sugerimos uma relação de bons links para pesquisa
bibliográfica.
Dédalus, da USP
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
Banco de Teses da CAPES
Acesso Livre — Portal de Periódicos da CAPES
Biblioteca Virtual de Estudos Culturais
Biblioteca Virtual de Inovação Tecnológica
SciELO — Scientific Eletronic Library Online
Pesquisa de artigos
Livre — Periódicos on-line
Relação de base de dados da UNIP
Google acadêmico
As bibliotecas seguem uma categorização na catalogação
de livros. A melhor maneira de utilizarmos as informações é
5 conhecer o catálogo ou fichário. Neles constam as informações
essenciais que sempre serão citadas nas notas de rodapé e na
bibliografia.
Quais são essas informações essenciais?
Autor, Título, Editora, Local e Data.
As bibliotecas têm sistemas diferentes de catalogação.
10 Há varias pessoas que podem ajudar o estudante a encontrar
o livro, como também auxiliá-lo na boa utilização do
mesmo.
É importante lembrarmos que os livros são de uso coletivo.
Devemos cuidar para não sujar, estragar ou rabiscar, pois eles
15 serão utilizados por outros alunos.
30
METODOLOGIA CIENTÍFICA
Valorize sempre esse acervo, pois as bibliotecas são “a mina
de ouro” dos estudantes.
Muitas vezes, estudamos muito, mas esquecemos de fazer
anotações sobre o livro. Em um trabalho cientifico, isso é
5 considerado erro, pois dificultará a otimização do seu tempo.
Portanto, sempre faça um resumo, um fichamento e uma ficha
bibliográfica do livro.
Ficha bibliográfica
Ela deve conter as informações técnicas do livro:
10
• localização;
• autor;
• título completo;
• editora;
• ano;
15
• quantidade de páginas que foram lidas.
É necessário anotar todas essas informações, pois elas serão
cobradas na bibliografia e nas notas de rodapé utilizadas no
trabalho científico.
Outras fontes utilizadas
10.2 Arquivos oficiais do estado ou município
20
São arquivos importantes que guardam uma enorme
quantidade de diversos materiais, como jornais, revistas, atas e
documentos oficiais. Cada instituição tem suas regras; muitas
vezes é necessário apresentar uma carta formal da faculdade ou
da escola para ter acesso a esses documentos.
31
Unidade II
10.3 Internet
Possui inúmeros acervos eletrônicos das grandes
universidades e sites de pesquisa (relacionados acima) além
de uma grande variedade de sites de busca. É de extrema
importância fazer as citações corretas nas referências, para
5 evitar o plágio. Devemos citar nas notas de rodapé o link (site)
utilizado para adquirir a informação e a data de acesso.
10.4 Resumo
Tem como objetivo retirar do texto as informações essenciais
e reescrevê-las, mantendo a lógica do autor.
Pode ser dividido nas seguintes etapas:
10
• ler o texto na íntegra;
• reler parágrafo por parágrafo;
• retirar de cada parágrafo as informações essenciais;
• reescrever (reelaboração da mensagem baseada na
reflexão pessoal).
15
Jamais devemos colar as frases. O texto é escrito no discurso
indireto, deixando claro que as informações são do autor (para
destacá-las, podemos usar o negrito, itálico ou sublinhá-las).
O objetivo é deixar claro quais são as ideias do autor e quais
são as ideias do aluno.
11 RESENHA CRÍTICA
20
32
Para fazer uma resenha critica, o primeiro passo é
contextualizar a obra e apresentar seu autor. Devemos fazer
uma análise mais apurada sobre: (a) o contexto histórico e social
em que a obra foi escrita; e (b) a visão de mundo do autor.
METODOLOGIA CIENTÍFICA
Ela é a apresentação de um texto ao leitor, com comentários
sobre seu enredo. Portanto, é uma junção entre o resumo e as
análises do aluno.
Quando um professor nos pede um resumo, ele não
5 precisa necessariamente ter uma opinião crítica do estudante.
Já a resenha crítica tem sempre essa característica. Daí a
necessidade de aprofundar no texto, buscar a contextualização
no tempo e espaço e conhecer as influências e a biografia do
autor.
10
É a partir dessas influências que o autor constrói a sua
visão de mundo e suas ideologias. O aluno pode concordar
com essas ideias ou não, mas, para argumentar a sua posição,
ele deve ter um conhecimento mais amplo adquirido pela
análise da obra.
12 FICHAMENTO
15
Utilizamos a ficha bibliográfica citada anteriormente.
O fichamento administra melhor o tempo do aluno. O
tempo utilizado para escrever uma dissertação de mestrado, ou
mesmo um trabalho acadêmico não é longo, portanto, devemos
otimizá-lo para ter melhores resultados.
20
O objetivo do fichamento é retirar do texto os elementos
essenciais, que retomem a lógica interna do texto. Para fazê-lo,
devemos utilizar marcações com os números das páginas de
onde as informações foram retiradas.
Exemplo:
25
800.42
S54c
_____________________________________________
33
Unidade II
Luis Suárez — cap.1 da obra Las grandes interpretaciones
de la Historia. Vol.13 — Biblioteca de Divulgación Cultural. Ed.
Moretón, Bilbao. España, 1968.
_____________________________________________
5
O conceito de História
História sucedido e História conhecimento
_____________________________________________
A palavra “História” expressa dois conceitos diferentes: (a) a
plenitude do suceder; (b) o conhecimento deste suceder.
Vem do grego historien, que significa “curiosear”, “inquirir”
ou “investigar”. Em alemão: Historie = a realidade do suceder;
10 Geschichte = a ciência.
O autor se ocupa das interpretações do suceder histórico
no ocidente. A cultura ocidental busca uma explicação total do
passado, o que se mostra impossível. Alguns motivos:
15
• o historiador se ocupa não de todos os acontecimentos
passados, mas de certa classe deles, aos quais chama
“fatos históricos” (p. 14);
20
• dos fatos históricos, o pesquisador elege somente
aqueles que tem a ver com seu trabalho. O historiador
é filho do seu tempo, sua tarefa não é o estudo objetivo
do passado, mas o conhecimento do presente através
do passado. Exemplo: a tendência atual aos estudos
de história econômica e social; não é moda, mas
necessidade.
Importante: nenhum fato pode ser apreendido sem
25 que ao mesmo tempo seja compreendido, isso vai contra o
positivismo. Nenhum historiador contempla a historia de fora
(p. 15).
34
METODOLOGIA CIENTÍFICA
800.42
S54c
Estes números e letras se encontram nas lombadas dos livros
quando os mesmos pertencem a uma biblioteca, e é através
5 deles que nos localizamos nas diversas estantes existentes na
biblioteca. É importante anotarmos esses números, porque
muitas vezes durante os estudos termos que utilizar novamente
um livro. A anotação dessas referências otimiza nosso tempo.
No início desta aula, salientamos:
10
• a importância de ler para escrever melhor;
• como coletar e registrar essas informações de maneira
organizada.
Agora vamos sugerir sobre a escrita
13 O PROCESSO DA ESCRITA
O autor Whitaker Penteado7 apresenta um processo para
15 ajudar o estudante no processo da escrita. Segundo ele, a escrita
está dividida em três fases:
13.1 Invenção
É o esforço do “espírito”; operação por meio da qual
assimilamos o assunto da exposição e adquirimos sobre ele o
mais completo domínio. Ou seja:
20
• caracterização da evidência: nada aceitar por verdadeiro
que não seja evidente;
• regra da análise: dividir cada dificuldade em tantas partes
quantas sejam necessárias; conhecer cada elemento
isolado do texto que você quer escrever;
Whitaker Penteado, “A exposição da escrita”, 1977, p. 242.
7
35
Unidade II
• regra da análise e da síntese: fazer pesquisas e revisões
minuciosas, não omitir nada.
13.2 Disposição
Arte de bem dispor o que vai escrever; organização dos
materiais reunidos durante a invenção.
5
a. Exórdio: captar as graças de quem lê. Uma introdução
atraente para o leitor.
b. Proposição: sumário do assunto. Um resumo do que será
tratado no texto.
10
c. Narração: dar a conhecer os fatos indispensáveis à
compreensão da causa que quer sustentar.
d. Demonstração: provar que a nossa opinião é incontestável;
usar raciocínios dos quais se extraem consequências.
e. Confirmação: desenvolvimento das provas em apoio à
tese;
15
f. Refutação: destruir antecipadamente as provas em
contrário.
g. Peroração: coroamento da disposição; deve ser oportuna
e pode compreender uma recapitulação geral, com
encerramento persuasivo.
13.3 Elocução
20
Procura da forma, execução técnica do estilo, a transposição
do pensamento em palavras.
Essas três etapas compreendem uma lógica interna no texto,
com começo, meio e fim. Um bom texto terá essas etapas
postas de forma clara.
36
METODOLOGIA CIENTÍFICA
Whitaker Penteado (1977) deixa algumas dicas para o
estudante escrever melhor:
• escreva com naturalidade;
• conheça a língua;
5
• aprenda a pensar;
• escreva para o leitor;
• escreva legivelmente;
• use a sua capacidade de observação;
10
• seja conciso e preciso — não escrever nem mais nem
menos do que o indispensável à compreensão;
• leia em voz alta; isso ajuda a pegar os erros de concordância
verbal e nominal.
A maneira como escrevemos reflete nossa leitura. Insisto,
uma vez mais, que a melhor maneira de aprender a escrever é
15 ler.
14 ESTRUTURA INTERNA DO TEXTO
ACADÊMICO
O tipo de texto utilizado como padrão pela academia é a
dissertação.8
A dissertação consiste em organizar todo o material obtido
em três partes:
Dissertar é, através da organização de palavras, frases e textos,
apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos.
Neste momento, temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender
o que pensamos através de fundamentação, justificação, explicação,
persuasão e de provas. A elaboração de textos dissertativos requer domínio
da modalidade escrita da língua, desde a questão ortográfica ao uso de
um vocabulário preciso e de construções sintáticas organizadas, além de
conhecimento sobre o assunto que se vai abordar e posição crítica (pessoal)
diante desse assunto.
8
37
Unidade II
A. Introdução
Deve apresentar de maneira clara o assunto que será tratado
e delimitar as questões referentes ao assunto a ser abordado.
Neste momento, pode-se formular uma tese, que deverá
5 ser discutida e provada no texto, propor uma pergunta, cuja
resposta deverá constar no desenvolvimento e explicitada na
conclusão.
B. Desenvolvimento
É a parte do texto em que as ideias, pontos de vista, conceitos,
10 informações de que dispõe serão desenvolvidas, desenroladas e
avaliadas progressivamente.
C. Conclusão
É o momento final do texto; este deverá apresentar um
resumo forte de tudo o que já foi dito. A conclusão deve expor
15 uma avaliação final do assunto discutido.
Essas partes são interdependentes, ou seja, relacionam-se
umas com as outras. A produção de textos dissertativos está
intrinsecamente ligada à capacidade argumentativa do aluno.
Dicas importantes para a construção do texto acadêmico
20
Organize os dados colhidos em pastas; separe por conteúdo,
anotando sempre a referência (de onde foi retirada a informação).
As fichas de leitura podem ser organizadas da mesma forma.
Escolha os argumentos que serão utilizados; enumere-os
por ordem de importância mentalmente. Encontrar argumentos
25 contrários ao que se quer afirmar no texto também é importante.
Pode-se apresentar tais argumentos e em seguida, refutá-los. O
importante é dar ênfase aos argumentos favoráveis a sua tese.
38
METODOLOGIA CIENTÍFICA
Incremente o argumento com apresentação de dados,
tabelas, gráficos, estatísticas, etc. Esses elementos devem ser
bem-utilizados; não devem ser jogados no meio do texto sem a
devida argumentação em torno da sua importância. Devem ser
5 comentados e apresentar também a devida referência.
Deve-se seguir sempre a estrutura introdução,
desenvolvimento e conclusão. Esse tipo de estrutura permite o
acompanhamento lógico do texto, evitando que o pesquisador
se perca na argumentação.
10
Use sempre o verbo na forma passiva. Em vez de utilizar a
terceira pessoa do plural, por exemplo, pensamos, queremos,
veremos, etc., utilizar pensa-se, quer-se, ver-se-á, etc. Essa forma
verbal é a mais indicada em trabalhos científicos, permite ao
estudante um distanciamento maior da pesquisa e do seu objeto.
15 Pressupõe-se que o trabalho acadêmico deve ser o mais isento
possível de preconceitos e se basear sempre em argumentação.
Ao fazer uma afirmação própria, utiliza-se a primeira pessoa,
sem o pronome; em vez de “Eu penso...”, utilizar: “Penso que tal
análise...”.
15 REDAÇÃO
20
Os dez mandamentos de uma boa redação, segundo Withaker
(1977):9
• use palavras e frases simples;
• use palavras e frases coloquiais;
• use pronomes pessoais;
• use ilustrações e exemplos gráficos;
• use preferivelmente parágrafos e sentenças curtas;
• use verbos ativos;
Whitaker Penteado, “A exposição da escrita”, 1977, p. 242.
9
39
Unidade II
• economize adjetivos e floreados;
• evite rodeios;
• faça com que cada palavra tenha a sua função no
texto;
• atenha-se ao essencial.
Quando escrevemos um texto, precisamos pensar no nosso
leitor, ou seja, no nosso público-alvo; devemos escrever um
texto dirigido a especialistas, mas que também o público leigo
possa entender.
5
Para tanto, é necessário escrever de maneira clara e
compreensiva, valorizando a precisão. Há de se desenvolver a
coesão e coerência.
Coesão: auxilia na clareza do texto. Vários manuais de
redação trazem exercícios para auxiliar na coesão textual. O
10 estudante-pesquisador deve conhecer e aperfeiçoar a coesão
textual. O autor Antonio Suárez Abreu (2005) apresenta algumas
observações a respeito da coesão:
“Exemplo: Pegue três maçãs, coloque-as sobre a mesa. O as
se refere às maças. Ou seja, não é preciso repetir na mesma frase
15 o sujeito”.
Coerência: Abreu (2005) apresenta quatro princípios
fundamentais ou metarregras de coerência textual. Elas auxiliam
na composição e evitam erros absurdos.
20
a. Meta-regra da repetição: um texto coerente deve ter
elementos repetidos (coesão textual).
b. Meta-regra de progressão: um texto coerente deve
apresentar renovação do suporte semântico. (informações
novas à medida que vai avançando).
40
METODOLOGIA CIENTÍFICA
c. Meta-regra da não-contradição: em um texto coerente,
o que se diz depois não pode contradizer o que se disse
antes ou o que ficou pressuposto (fazer sentido).
5
d. Meta-regra da relação: em um texto coerente, seu
conteúdo deve estar adequado a um estado de coisas no
mundo real ou em mundos possíveis.
Mais algumas dicas importantes destacadas pelo autor
Umberto Eco10:
A. Não escreva períodos (frases) longas:
10
Evite repetir o sujeito e elimine os excessos de pronomes
e adjetivos e frases subordinadas.
B. Abra parágrafos com frequência.
15
Quando mudar o tema tratado, quando incluir uma
análise ou explicação para um conceito. Ao exemplificar
de maneira mais detalhada.
Nunca faça de uma frase um parágrafo.
C. Como exercício, escreva tudo que lhe vier à cabeça.
20
Depois vá limpando os excessos; se houver informações
a mais que não tem o tema de seu estudo como foco,
deixa-as na nota de rodapé ou escreva um textinho extra
para ir ao apêndice.
D. Mostre o texto com antecedência para o(a) professor(a).
Peça que o auxilie na correção e comentários sobre as ideias.
25
E. Defina sempre um termo ao introduzi-lo no texto pela
primeira vez.
Eco, 2005, p. 117-123.
10
41
Unidade II
Não o use se não souber do que se está falando.
Em cada área há termos técnicos que são imprescindíveis,
procure conhecê-los e dominar seus significados.
5
Uma pessoa da área de tecnologia, por exemplo, não
poderia escrever um texto sem saber corretamente a
definição para software, internet, etc.
F. Não use artigo diante de nome próprio. Nunca escreva “o
Marx”, “o Weber”, etc.
10
G. Não aportuguesar demais os nomes dos autores
consagrados.
Não transforme Jean-Paul Sartre em João Paulo Sartre,
Karl Marx em Carlos Marx, etc.
Ressaltamos a importância da estrutura interna de um texto
científico: ele deve ser bem argumentado, ter começo, meio e
15 fim. Deve, ainda, adotar uma linguagem com a qual o leitor
consiga entender as ideias do autor de forma ampla e rápida.
Escrever é um trabalho difícil, que exige muita prática. Não
desanime e deixe sempre o texto “decantar”, isto é, escreva
bastante e descanse um pouco antes de reler o texto. Muitas
20 vezes, é necessário nos distanciarmos um pouco da produção
para podermos retomá-la com mais eficiência. Não deixe tudo
para a última hora; quando fazemos isso, percebemos, depois do
trabalho corrigido, que poderíamos ter feito muito melhor.
42
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