A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
* Rita de Cássia Lindner Kaefer
**Ana Eleonora Sebrão Assis
RESUMO
O objetivo do presente artigo é apresentar uma reflexão a respeito da importância da prática
da Educação Física na Educação Infantil, abordando os aspectos da atuação do professor e da
inclusão das crianças através da prática do brincar.
Palavras-chave: Educação Física - Educação Infantil – Brincar - Inclusão
INTRODUÇÃO
Neste trabalho apresento a reflexão sobre a prática de ensino em Educação Física na
Educação Infantil, na Associação de Amparo Materno Infantil (AAMI), situada em
Guaíba/RS.
Realizei esse estágio com as turmas de Jardim I e II, envolvendo crianças de 4 a 6 anos
de idade. O período de estágio teve duração de março a maio de 2008.
Através da prática pude refletir sobre a atuação do profissional de Educação Física,
que com suas atividades pode promover um ambiente favorável ao desenvolvimento infantil,
utilizando como recurso de ensino uma postura de parceiro de brincadeiras e favorecendo a
participação de todas as crianças, sem excluir as com dificuldades motoras.
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*Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Luterana do Brasil - Campus
Guaíba.
**Professora da disciplina de Estágio Supervisionado em Educação Física I da Universidade Luterana do Brasil
– Campus Guaíba e orientadora deste trabalho.
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REFERENCIAL TEÓRICO
A Educação Física assume um papel extremamente significativo na Educação Infantil,
pois é através do brincar que a criança explora seu corpo, interage com outros corpos e
desenvolve seu crescimento cognitivo e motor.
Segundo Gallahue (2005, p. 208) “deve ser empregada uma abordagem em que
inúmeras experiências sejam incorporadas, a partir das várias modalidades sensoriais”.
Quando tolhemos uma criança em alguma brincadeira, tolhemos sua liberdade e sua
aprendizagem. Porque, segundo Freire (1997, p. 161) “brincando a gente tem espaço para
aprender”.
Vemos nas escolas, os “corpos” dos alunos serem motivo de incômodo para alguns
professores, pois estes mesmos corpos necessitam estar em silêncio para aprender. É através
do corpo que a criança expressa seus sentimentos, sua emoções. Para Piaget (1983) apud
Catunda (2005, p.46) “toda a bagagem cognitiva é estruturada através da ação sobre o objeto
de conhecimento”. Através da vivência corporal a criança desenvolve suas capacidades
cognitivas e vive de forma mais prazerosa.
O brincar é capaz de apresentar, de maneira resumida como ferramenta
competente, vias para o desenvolvimento dos aspectos da formação do humano,
como a cognição, afetividade, amadurecimento psicológico e motricidade
(CATUNDA, 2005, p. 18).
O modelo apresentado pelas escolas é o repressor, pois a todo o momento as crianças
são tolhidas e adestradas a adotarem modelos estabelecidos pelas mesmas. A escola não educa
somente mentes, mas corpos também. Não há como dissociar uma coisa da outra, pois o
indivíduo é corpo-mente. Portanto a escola tem como papel promover inúmeras vivências
corpóreo-intelectuais para que o indivíduo possa desenvolver-se integralmente e não
parcialmente.
O corpo que deveria ser motivo de alegria, que deveria vivenciar o lúdico e
promover a festa, é transformado em incômodo para a escola. A sala de aula
poderia ser menos “séria” e mais alegre, logo, ser mais viva. Se assim ocorresse, se
estaria partindo para uma aprendizagem significativa que privilegiasse o homem
como um ser em sua integralidade, que é um corpo, que sente o corpo, que vive
esse corpo e que expressa suas emoções por intermédio desse corpo (CATUNDA,
2005, p. 30).
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Muitas vezes o profissional de Educação Física em sua formação não vivenciou com
seu corpo inúmeras situações de aprendizagem, e com isso não consegue propor aos seus
alunos esse tipo de trabalho. Faz necessário adotar uma postura frente a isso, e a melhor forma
é se dispor corporalmente. Brincando com os alunos, o professor ensina ao mesmo tempo em
que aprende.
O professor de Educação Física deve estimular as crianças a brincar, e a melhor forma
é brincar junto com elas. Segundo Kamii (1991, p. 291 e 292) “a melhor maneira de o
professor ensinar jogos é ele próprio ser um jogador, que se submete às mesmas regras como
qualquer outro jogador”.
“Não obrigue uma criança a jogar. O valor do jogo se perde quando ele é imposto à
criança” (KAMII, 1991, p. 298). Quando obrigamos uma criança a brincar estamos ferindo
sua liberdade de expressão. Muitas vezes as crianças não querem brincar, pois se sentem
inseguras ou com medo, por isso o professor deve estar atento às respostas dos alunos nesse
tipo de situação e tentar ajudá-los.
O indivíduo é um ser de carências e está em constante aprendizado. E tratando-se do
aprendizado da corporeidade, ele só ocorre em condições ambientais favoráveis ao seu
desenvolvimento. O papel da escola e do professor é criar um ambiente acolhedor e propor
situações aos seus alunos, para que possam também explorar e desenvolver sua corporeidade.
Como ser de carências, e como ser no mundo, não estou “pronto”, sou um ser
em constante construção, sou projeto, necessito do outro e de um ambiente
favorável para que desenvolver minha corporeidade. Todas essas descobertas,
sendo vivenciadas em sua plenitude, sem amarras e com uma permissão consciente,
criam a possibilidade de produção de um corpo livre, que não se deixa influenciar,
que protesta e grita a qualquer tentativa de violação de seu sonho, de sua utopia, de
seu projeto (CATUNDA, 2005, p. 34).
As idéias de Catunda na citação acima, baseam-se em Freire (1996, p. 52) “saber que
ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção
ou a sua construção”. É possibilitar ao aluno uma autoconstrução como indivíduo que vive e
explora seu corpo livremente.
Segundo Rodrigues (2006, p. 73) “em se tratando da exploração do corpo do aluno
em condição de deficiência, ela se dá de uma outra forma, pois o mesmo possui uma outra
compreensão de corpo”. É através do corpo que ele se expressa, se percebe e é percebido.
Baseado em Rodrigues (2006, p. 74) “a pessoa com deficiência se auto-reorganiza, ela
realiza esse processo devido às vivências de mundo que possui”, ela se readapta aos diversos
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estímulos a qual é submetida. O papel do professor e da escola é adaptar-se para receber esse
aluno, oferecendo condições para seu crescimento como indivíduo e efetivamente contribuir
no processo de inclusão.
Quando se fala em inclusão da pessoa em condição de deficiência na rede
regular de ensino precisa-se ter a sensibilidade para perceber que as questões de
acesso desse portador não passam somente pelo viés do acesso físico, que é apenas
parte do processo. Uma escola inclusiva é aquela que, além de implementar
adaptações no ambiente físico, acredita no valor da diversidade humana, contempla
as diferenças individuais, efetua mudanças fundamentais nas práticas
administrativas, adapta procedimentos e instrumentos de trabalho e treina todos os
recursos humanos na questão da inclusão (RODRIGUES, 2006, p. 77).
A universidade como formadora de opiniões e profissionais, tem fundamental
importância para a inclusão nas escolas. A inclusão não deve deter-se somente no campo
teórico, mas também na prática. A universidade deve abordar em seus cursos de licenciatura,
disciplinas que ensinam metodologias aplicáveis a crianças em condição de deficiência.
Temos de assegurar que, no processo de formação de recursos humanos cujo
principal veículo é a universidade, as questões relacionadas à deficiência e à
inclusão social e educacional da pessoa em condição de deficiência sejam cada vez
mais abordadas e aprimoradas no processo de ensino-aprendizagem (SANTOS
(2002) apud RODRIGUES, 2006, p. 77).
O professor deve respeitar o ritmo de aprendizagem de seu aluno, incentivá-lo a cada
conquista. Propor formas de incluí-lo constantemente, valendo-se de sua criatividade e de um
prévio planejamento. Esse é o caminho para a verdadeira inclusão.
As qualidades indispensáveis aos profissionais que trabalham ou venham a
trabalhar com essa clientela são: maturidade emocional; paciência e senso de
humor; criatividade; ser um bom planejador e possuir entusiasmo para ministrar
Educação Física (FAIT (1982) apud RODRIGUES, 2006, p. 78).
CONCLUSÃO
Contribuir para o processo de inclusão e lutar contra qualquer forma de discriminação
é a responsabilidade da comunidade escolar e do professor. Ensinar que somos diferentes e
que com essas diferenças trocamos uns com outros é o papel de toda a comunidade escolar.
Mas cabe ao professor de Educação Física incluir todos os alunos nas ações pedagógicas de
forma lúdica e recreativa, possibilitando que cada um descubra suas potencialidades e
habilidades.
A Educação Física na Educação Infantil é uma ferramenta de descoberta dos próprios
limites, sucessos e desafios, tendo, através do brincar, um caminho para a realização das
atividades motoras importantes para o seu desenvolvimento.
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É fundamental para o crescimento do aluno, experimentar as mais variadas sensações
com seu corpo. Brincar com seu corpo e com os corpos dos colegas, trocando assim, diversas
experiências e aprendizagens.
Infelizmente o modelo adotado em muitos estabelecimentos de ensino é o oposto, em
que os corpos dos alunos, são controlados e por vezes adestrados a seguirem padrões de
comportamento.
Como aprender através de nosso corpo, se devemos falar baixo, não corrermos, não
subirmos em árvores e muros, não gritarmos, enfim não e não. Estamos na era póscontemporânea, com um avanço fantástico da tecnologia, meios de comunicação, enfim
diversos setores modernizados. Porquê isso não ocorre nas escolas? Porquê esse avanço ainda
não chegou no âmbito escolar? Que tipo de cidadão queremos auxiliar em seu processo de
formação? Somos professores disponíveis a ajudar nossos educandos, propondo diversas
formas de aprendizagem que fogem às tradicionais, ou somos um modelo ultrapassado, que vê
no aluno, um ser que obedece regras que não possuiu desejos, e portanto não deve manifestarse corporalmente?
BIBLIOGRAFIA
GALLAHUE, David L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças,
adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São
Paulo: Scipione, 1997.
CATUNDA, Ricardo. Brincar, criar, vivenciar na escola. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.
KAMII, Constance. Jogos em grupo na Educação Infantil: implicações da teoria de Piaget.
São Paulo: Trajetória Cultural, 1991.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
RODRIGUES, David. Atividade motora adaptada: a alegria do corpo. São Paulo: Artes
Médicas, 2006.
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