EDITORIAL
LIGA DE DOR & DE CUIDADOS PALIATIVOS DE SÃO CARLOS
Em fevereiro de 2002, numa iniciativa multidisciplinar
e interprofissional dos centros acadêmicos de Educação
Física, Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia e Terapia
Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), fui convidado a proferir uma palestra intitulada
"Proposta de ensino e intervenção em problemas de dor e
cuidados paliativos em saúde para os cursos de graduação
da área de saúde da UFSCar".
Os objetivos dessa comunicação foram três: 1. propor
conteúdos mínimos sobre dor e cuidados paliativos a serem
implementados na UFSCar, na forma de uma disciplina
optativa para os cursos de graduação da área de saúde, nos
moldes propostos por Pimenta et al. (2001); 1 2. viabilizar
a implantação de uma Liga de Dor na UFSCar; e 3. discutir
a possibilidade de instalar na UFSCar uma Unidade
Multidisciplinar de Tratamento da Dor & de Cuidados Paliativos em Saúde.
A idéia de organizar conteúdos mínimos sobre os
problemas de dor e de cuidados paliativos em saúde é preocupação de diversas entidades nacionais e internacionais
interessadas na melhoria do ensino relativo a esses temas
já na graduação. Apóiam esse tipo de iniciativa a Organização
Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde, o Ministério da
Educação (Comissão de Especialistas em Ensino), as Universidades e a Sociedade Internacional para o Estudo da Dor International Society for the Study of Pain (IASP) -, entre outras. A IASP, por exemplo, publicou um Core
Curriculum for Professional Education in Pain, 2 que trata das diretrizes para o ensino na área de dor para os profissionais de saúde, visando a ser referência para a elaboração
de programas de treinamento e para a previsão de recursos
humanos e materiais necessários à organização de clínicas
de dor. Essa sociedade também propôs currículos específicos para as diversas profissões da área da saúde, como Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional,
Medicina, Odontologia e Psicologia (disponíveis em URL:
http://www.iasp-pain.org/). No Brasil, a Associação Médica
Brasileira instituiu um Programa Nacional de Educação Continuada em Dor e Cuidados Paliativos para Profissionais de
Saúde, tendo por meta organizar uma proposta de conteúdo
mínimo sobre dor e cuidados paliativos que possa servir de
ponto inicial para que os educadores das diferentes profissões
incluam esses temas nos currículos de seus cursos de graduação.
Quanto à Liga de Dor, trata-se de entidade gerenciada
por estudantes de graduação, com finalidades de ensino, pesquisa e extensão (assistência) nas áreas de dor e cuidados
paliativos.
As propostas foram bem recebidas pelos alunos e,
assim, começamos pela organização da Liga de Dor. Em
março de 2002, numa primeira tentativa de reunião, compareceram dois alunos (um da Fisioterapia e outro da Terapia Ocupacional) e dois professores (um da Fisioterapia
e outro da Enfermagem). Na semana seguinte, à segunda
reunião comparecem sessenta pessoas, que tomaram conhecimento da iniciativa de fundar a Liga. Na terceira reunião,
em 26 de março de 2002, compareceu um número ainda maior
de pessoas: nela foram distribuídas cópias do estatuto da
Liga para conhecimento e discussão, o qual foi lido e aprovado em 2 de abril de 2002 e encaminhado à assessoria jurídica da UFSCar para emissão de parecer técnico. As
reuniões continuaram durante todo o ano de 2002, sendo
que diversos profissionais e professores proferiram palestras
sobre temas ligados à dor e aos cuidados paliativos.
No início de 2003, come1;aram os preparativos para a
fundação da Liga de Dor & de Cuidados Paliativos de São
Carlos, que aconteceu em 24 de maio de 2003, durante um
evento organizado pelos alunos, o de 1• Sábado da Dor de
São Carlos. A este evento compareceram 258 pessoas, entre
alunos, docentes e profissionais das áreas de Fisioterapia
(124), Enfermagem (43), Terapia Ocupacional (23), Psicologia (10), Educação Física (5), Medicina (3) e Farmácia
(1), além de mais 49 pessoas de outras áreas do conhecimento. Os participantes aprovaram os estatutos da Liga e
elegeram, por aclamação, sua primeira diretoria. A fundação
da Liga de Dor de São Carlos foi prestigiada com a presença
da Diretora do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
da UFSCar, da Secretária Municipal de Saúde de São Carlos
e de representantes da Sociedade Brasileira para o Estudo
da Dor e do Ministério da Saúde.
Agora, o primeiro passo da Liga de Dor será oferecer
a seus sócios fundadores, no segundo semestre de 2003, um
1. PIMENTA, C. A. M., FIGUEIRÓ, J. A. B., TEIXEIRA, M. J., SIQUEIRA, J. T. T., PERISSINOTTI, D. M. N., CASTRO, C. E. S. et
al., 2001, Proposta de conteúdo mínimo sobre ~ore cuidados paliativos nos cursos de graduação da área de saúde. Revista Simbidor, v.
2, n. 1, p. 25-35.
2. FIELDS, H. L., (ed.), 1991, Core curriculum for professional education in pain. Seattle: IASP Publicat:ions.
Curso de Formação Básica em Dor e Cuidados Paliativos em
Saúde. Trata-se de um curso de formação geral, ministrado
numa única turma para facilitar as trocas de conhecimento
e experiência entre os diversos cursos e profissões envolvidos.
Está previsto também o oferecimento de um segundo curso, mais específico, abordando temas próprios de cada uma
das áreas de atuação profissional. Um exemplo para o curso
de Fisioterapia pode ser visto em Castro et al. (2003). 3
Entretanto, essas iniciativas - uma delas associativa
e a outra de formação acadêmica e profissional - só farão
sentido realmente com a implantação, na UFSCar, de uma
Unidade Multidisciplinar de Tratamento da Dor & de Cuidados Paliativos em Saúde, que, se possível, cumpra as exigências de um Centro Multidisciplinar de Dor, conforme
definido pela IASJ>4 e pela Sociedade Brasileira para o Estudo
da Dor. 5 Trata-se de local especializado no tratamento da
dor, cujo principal objetivo é garantir tratamento efetivo
e humano para aqueles que sofrem de dores crônicas. O
serviço, que, por sua complexidade, deveria fazer parte de
uma universidade ou de um hospital universitário deve
congregar vários profissionais da saúde, professores e
pesquisadores, que se ocupem dos problemas relativos às
dores agudas e crônicas. Para o funcionamento de um Centro
como esse é necessário o concurso de grande número de
especialistas, sendo que o conjunto de especialidades varia
em função do tipo de pacientes acompanhados e dos recursos
em saúde disponíveis na comunidade. Os serviços de saúde
oferecidos nos Centros Multidisciplinares de Dor devem
ser integrados ~ fundamentados em avaliações e traJ;amentos
· multidisciplinares dos pacientes, incluir programas para
pacientes internos e ambulatoriais e manter, necessariamente,
entre suas atividades, programas regulares de ensino e pesquisa. Uma proposta como esta pode ficar facilitada no
âmbito da UFSCar por duas razões, que quase conspiram
. para que isso ocorra: 1. a implantação, nessa Universidade, de uma Unidade Saúde Escola (USE), de natureza
multidisciplinar e interprofissional, prevista para entrar em
funcionamento em 2004; e 2. a instituição, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS), do Programa Nacional de
Assistência à Dor e Cuidados Paliativos (Portaria GMIMS
nº 19, de 3 de janeiro de 2002- Ministério de Estado da
Saúde).
Resta agora à Liga de Dor & de Cuidados Paliativos
de São Carlos e aos demais interessados num projeto como
este trabalharem para que essa idéia se concretize. No meu
caso particular, mais do que de uma idéia, trata-se de um
sonho. Aproveito a oportunidade para convidá-los a sonharem
juntos, pois sonho que se sonha junto acaba por virar realidade.
Proj. Carlos Eduardo dos Santos Castro
Departamento de Fisioterapia,
Universidade Federal de São Carlos
Co-editor da Revista Brasileira de Fisioterapia
3. CASTRO, C. E. S., PARIZOTTO, N: A., BARBOSA, H. F. G., 2003, Programa mínimo sobre mecanismos de dor e analgesia para cursos
de graduação em fisioterapia. Rev. Bras. Fisioter., v. 7, n. l, p. 85-92.
4. LOESER, J. D. (Presidente) et al., 1990, Guidelines for desirable characteristics for pain treatment facilities. (Task Force, International
Association for the Study of Pain). Disponível em: URL: http://www.iasp-pain.org/desirabl.html.
5. SBED. Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, 2002, Critérios para credenciamento de serviços de dor e requisitos para formação
de centros de ensino. Jornal DOR, Fev., p. 3-4.
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