O País
O Estado do Maranhão - São Luís, 19 de julho de 2014 - sábado
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Escritor e acadêmico João Ubaldo
Ribeiro morre aos 73 anos no Rio
Ele foi vítima de embolia pulmonar na madrugada de ontem e corpo será enterrado hoje; João Ubaldo era o 7º
ocupante da cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras, que decretou luto por três dias; ele deixa 4 filhos
R
IO DE JANEIRO -Morreu
na madrugada de ontem,
em casa, no Leblon, Zona
Sul do Rio, o escritor e acadêmico João Ubaldo Ribeiro, aos 73
anos. Ele foi vítima de uma embolia pulmonar. João Ubaldo era
casado com Berenice Batella e tinha quatro filhos. O corpo do escritor começou a ser velado no
início da tarde na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro
do Rio. O velório, realizado no Salão dos Poetas Românticos, foi
aberto ao público até as 19h. Duas
filhas do autor chegaram ao local
no início da tarde. A Academia decretou luto por três dias. O corpo
dele será enterrado hoje, às 10h,
no Mausoléu dos Imortais da
ABL, no Cemitério São João Batistas, em Botafogo.
O escritor era o 7º ocupante da
cadeira número 34 da Academia
Brasileira de Letras. Ele foi eleito em
7 de outubro de 1993, na sucessão
de Carlos Castello Branco.
O presidente da ABL Geraldo
Holanda Cavalcante contou que,
nos quatro anos de presidência,
encontrou com Ubaldo apenas
uma vez, por conta de problemas
de saúde do escritor. "Ele deixa
uma marca profunda na história
do romance, com Viva o povo
brasileiro . Só estive com ele uma
vez. Mas sei que ele era uma pessoa jovial, alegre, amiga e muito
companheira. Ele revolucionou o
romance brasileiro com Viva o povo brasileiro e Sargento Getúlio,
disse o presidente.
Internação - A secretária Valéria
dos Santos, que trabalhou durante 10 anos com o escritor, disse que
Fotos:Armando Paiva/Fotoarena/Estadão Conteúdo/Flavio Moraes/G1
em maio Ubaldo chegou a ser internado durante cinco dias por
causa de problemas respiratórios.
Segundo ela, o escritor reduziu o
cigarro, mas não chegou a parar de
fumar, como foi orientado pelos
médicos. Ela contou que há cerca
de um ano e meio Ubaldo vinha
escrevendo um novo romance,
mas que não revelou seu conteúdo. Ele acordava por volta das 5h
para se dedicar ao livro e por volta
das 10h parava para atender telefonemas e outras demandas.
"Ele acordou por volta das 3h
[de ontem] e chamou a mulher
dizendo que estava se sentindo
mal. Chamaram uma ambulância e os paramédicos tentaram
reanimá-lo, mas ele já estava
morto", contou Valéria dos Santos, acrescentando que o cardiologista particular dele também
foi chamado.
Trajetória - João Ubaldo Ribeiro
ganhou em 2008 o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa. Ele
é autor de livros como Sargento
Getúlio, O sorriso dos lagartos, A
casa dos budas ditosose Viva o povo brasileiro. Também ganhou
dois prêmios Jabuti, da Câmara
Brasileira do Livro, em 1972 e 1984,
respectivamente, para o melhor
autor e melhor romance do ano,
por Sargento Getúlio e Viva o povo brasileiro.
Nascido em Itaparica (BA), Ribeiro viveu até os 11 anos com a
família em Sergipe, onde o pai era
professor e político. Passou um
ano em Lisboa e um ano no Rio
para, em seguida, se estabelecer
em Itaparica, onde viveu aproxi-
Berenice Batella vela o corpo do marido, João Ubaldo Ribeiro (no detalhe), na Academia Brasileira de Letras
madamente sete anos.
João Ubaldo também se formou bacharel em Direito, em
1962, pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA), mas nunca chegou a advogar. Entre 1990 e 1991,
o escritor morou em Berlim, na
Alemanha, a convite do Instituto
Alemão de Intercâmbio (DAAD –
Deutscher Akademischer Austauschdienst).
Ele era pós-graduado em Administração Pública pela UFBA e
mestre em Administração Pública e Ciência Política pela Universidade do Sul da Califórnia (USC).
O escritor foi professor da Escola de Administração e da Facul-
dade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e professor
da Escola de Administração da
Universidade Católica de Salvador. Como jornalista, trabalhou
como repórter, redator, chefe de
reportagem e colunista do Jornal
da Bahia; foi também colunista,
editorialista e editor-chefe da Tribuna da Bahia.
Ribeiro trabalhou como colunista do jornal Frankfurter Rundschau, na Alemanha, e foi colaborador de diversos jornais e revistas no país e no exterior, entre os
quais, além dos citados, Diet Zeit
(Alemanha), The Times Literary
Supplement (Inglaterra), O Jornal
(Portugal), Jornal de Letras (Portugal), Folha de S. Paulo, O Globo,
O Estado de S. Paulo, A Tarde e
muitos outros.
A formação literária de João
Ubaldo Ribeiro iniciou-se ainda
nos primeiros anos de estudante.
Foi um dos jovens escritores brasileiros que participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados
Unidos.Trabalhando na imprensa,
pôde também escrever seus livros
de ficção e construir uma carreira
que o consagrou como romancista, cronista, jornalista e tradutor.
Obras - Os primeiros trabalhos
literários de João Ubaldo Ribeiro
foram publicados em diversas coletâneas, como Reunião e Panorama do Conto Baiano. Aos 21
anos de idade, escreveu o seu primeiro livro, Setembro não tem
sentido, que ele desejava batizar
como A Semana da Pátria, contra a opinião do editor. O segundo foi Sargento Getúlio, de 1971.
Em 1974, publicou Vencecavalo e
o Outro Povo, que por sua vontade se chamaria A Guerra dos Paranaguás.
Consagrado como um marco
do romance brasileiro moderno,
Sargento Getúlio filiou o seu autor, segundo a crítica, a uma vertente literária que sintetiza o melhor dos escritores Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. A história é temperada com a cultura e
os costumes do Nordeste brasileiro e, em particular, dos sergipanos. Esse regionalismo extremamente rico e fiel dificultou a
versão do romance para o inglês,
obrigando o próprio autor a fazer esse trabalho. A seu respeito
pronunciaram-se, nos Estados
Unidos e na França, as colunas
literárias de todos os grandes jornais e revistas.
Em 1999, foi um dos escritores escolhidos em todo o mundo
para dar depoimento, ao jornal
francês Libération, sobre o Terceiro Milênio. E Viva o Povo Brasileiro foi o tema do exame de
Agrégation, concurso para detentores de diploma de graduação
na universidade francesa. Este romance e Sargento Getúlio constaram da maior parte das listas
dos cem melhores romances brasileiros do século.
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