XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
SENSIBILIDADE DE LASIODIPLODIA THEOBROMAE DE
POMARES BRASILEIROS DE MAMÃO A DIFENOCONAZOLE
Moara Alexandri no Bandeira 1, Susan SatieTsuji 2, Matheus Silva e Silva 2, Claudeana Souza da Conceição 2, Sami
Jorge Michereff 3, Marcos Paz Saraiva Câmara 3
Introdução
O Brasil possui papel expressivo na produção mundial de mamão, com uma produção de 1.854.343t em 2011, o
que o torna o segundo maior produtor e exportador do mundo (FAO, 2013). No entanto, as perdas dessa fruta
ocasionadas por doenças pós-colheita é um dos principais problemas no canal de comercialização, principalmente
para as frutas destinadas à exportação (Liberato & Zambolim, 2002). Uma das principais doenças pós-colheita em
mamão é a podridão peduncular, causada por um complexo de fungos, com destaque para Lasiodiplodia theobromae.
Essa doença ocorre em quase todos os pomares produtores de mamão e pode provocar grandes prejuízos na póscolheita de frutos (Silva et al., 2007).
Atualmente, os patógenos em pós-colheita são controlados, principalmente, pela aplicação massiva de fungicidas
(Senhor et al., 2009), sendo uma das principais medidas do manejo químico, muito fungicidas têm sido utilizados em
pomares durante muito tempo, exercendo alta pressão de seleção sobre os fitopatógenos, o que acarreta no
aparecimentos de isolados resistentes.
Devido a casos crescentes de resistência de fitopatógenos por conta de uso contínuo de fungicidas, o presente
trabalho teve como objetivo verificar a sensibilidade de populações do fungo Lasiodiplodia theobromae, provenientes
de pomares de mamão do Nordeste brasileiro, ao ingrediente ativo difenoconazole, pertencente ao grupo químico dos
triazóis.
Material e métodos
Foram utilizados 107 isolados de Lasiodiplodia theobromae para o teste de sensibilidade ao fungicida. Esses
isolados foram obtidos de vários pólos de produção de mamão do Nordeste brasileiro (Tabela 1). O fungicida
difenoconazole (Score, 250 g/L i.a. EC, Syngenta) foi dissolvido em etanol 100%, ajustado para a concentração de 10
mg i.a/mL, e adicionado à BDA fundente (45 oC) para produzir as concentrações finais de 0, 0.01, 0.05, 0.1, 0.3, 0.5,
1.0 e 3.0 μg i.a./mL.
Um disco de micélio (4 mm de diâmetro) de cada isolado foi retirado da margem de colônia com quatro dias
de crescimento em BDA e transferido para o centro de uma placa de Petri (9 cm de diâmetro) contendo BDA
suplementado com uma das concentrações acima do fungicida. Uma placa contendo BDA sem o fungicida foi
utilizada como testemunha. Cinco placas por concentração e testemunha foram utilizadas para cada isolado. As
culturas foram incubadas a 25ºC no escuro. O crescimento radial da colônia foi mensurado com 42 horas de
incubação, em duas direções perpendiculares. Os dados, subtraídos do tamanho do disco original, foram utilizados
para calcular o diâmetro da colônia.
Os isolados que não demonstraram redução significativa do crescimento nas concentrações acima do fungicida
foram testados no meio de cultura com as concentrações de 5.0, 10.0 e 30 μg i.a./mL do fungicida.
A porcentagem inibição do crescimento micelial (ICM) foi calculada para todas as concentrações do fungicida
para cada isolado, com a fórmula: ICM = [(C – N)/C]x100, onde C é o diâmetro da colônia da testemunha e N é o
diâmetro da colônia para o tratamento com fungicida. A concentração de fungicida efetiva (µg/mL) para inibir 50%
do crescimento micelial (CE 50) foi calculada para cada isolado por regressão linear dos valores de ICM versus a
transformação log10 para todas as concentrações de cada fungicida. Os isolados foram agrupados conforme o grau de
sensibilidade ao fungicida. Os 10 isolados com menores e maiores valores de CE 50 para cada fungicida foram
agrupados e denominados como sensíveis (S) e não-sensíveis (NS), respectivamente. A diferença entre isolados S e
NS em relação à variável CE 50 foi determinada pelo teste t-Student, ao nível de 5% de probabilidade. Após este teste
os isolados foram agrupados de acordo com grau de sensibilidade ao fungicida.
Resultados e Discussão
A resposta de sensibilidade ao fungicida difenoconazole variou entre os isolados. A maioria dos isolados teve seu
crescimento micelial inibido nas menores concentrações do fungicida, com valores de CE 50 entre 0.01 e 0.050 µg ml 1
, sendo considerados como sensíveis ao fungicida. Por outro lado, valores de CE 50 superiores a 10 µg ml -1 foi
apresentado por 2,8% dos isolados, ou seja, o fungicida apresentou baixa eficiência na inibição do crescimento
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois
Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected]
2
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n,
Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900.
3
Professor Associado do Departamento de Agronomia, Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900.
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micelial, sendo estes isolados caracterizados como não sensíveis (Figura 1). Em estudo realizado com o fungicida
tebuconazole, também um triazol, foi constatada ocorrência de resistência em isolados de L. theobromae obtidos de
pomares de mamoeiro do Nordeste brasileiro. Os autores verificaram que a maioria dos isolados considerados
sensíveis tiveram valores de CE50 bem menores (entre 0.31-0.60 µg ml -1) dos que os isolados considerados não
sensíveis (CE50 maiores que 1.50 µg ml -1). (Pereira et al., 2012). Em outro estudo, Ma et al. (2002) compararam a
sensibilidade, isolados de Botryosphaeria dothidea provenientes cultivos de pistache nunca pulverizadas com
tebuconazole e isolados provenientes de cultivos pulverizados a quatro anos com o fungicida, sendo verificada
diferença significativa entre os valores de CE 50, tendo CE50 médio de 0.080 µg ml-1 para isolados da população
considerada sensível e CE50 médio de 0.098 µg ml-1 para populações tratadas com fungicida.
Os resultados do presente estudo indicam que existem populações de L. theobromae oriundas dos pomares de
mamoeiro do Nordeste brasileiro com diferentes níveis de sensibilidade ao fungicida difenoconazole. Nesse contexto,
isolados classificados como não sensíveis são provenientes de pomares de mamoeiro onde se pulverizam o fungicida
difenoconazole, ou outros fungicidas, há bastante tempo (Tabela 1). Esse aspecto é relevante, pois no Brasil este
fungicida não está registrado para o controle de L. theobromae no mamoeiro, o que levanta a hipótese de que esteja
ocorrendo uma pressão de seleção sobre a população do patógeno por um fungicida utilizado para controle de outros
patógenos.
A realização de estudos sobre resistência de fungos a fungicidas, assim como dos mecanismos que levam à
resistência são de vital importância para incorporação de estratégias anti-resistência no manejo de doenças, visando
evitar conseqüências indesejáveis pelo uso incorreto destes agroquímicos.
Referências
FAO - Food and Agriculture Organization. Faostat: agricultural data. http://faostat.fao.org. 07 Set. 2013.
Liberato, J.R.; Zambolim, L. Controle das doenças causadas por fungos, bactérias e nematóides em mamoeiro. In:
Zambolin, L.; Vale, F.X.R.; Monteiro, A.J.A.; Costa, H. (Eds.). Controle de doenças de plantas: fruteiras. Viçosa:
UFV, 2002. p. 1023-1170.
Ma, Z.;Morgan, D.P.; Felts, D.;Michailides, T.J. Sensitivity of Botryosphaeria dothidea from California pistachio
to tebuconazole. Crop Protection, v.21, p.829-835, 2002.
Pereira, A.V.S.; Martins,R.B.; Michereff,S.J.; Silva, M.B.;Câmara, M.P.S. Sensitivity of Lasiodiplodia theobromae
from brazilian papaya orchards to MBC and DMI fungicides. European Journal of Plant Pathology, Dordrecht, v. 132,
p.489-498, 2012.
Senhor, R.F.; Souza, P.A.; Neto, R.C.A.; Maracajá, P.B.; Nascimento, F.J. Manejo de doenças pós-colheita. Revista
Verde, v. 4, n. 1, p. 10-13, 2009.
Silva, F.A.N.; Machado, J.C.; Resende, M.L.V.; Lima, L.C.O. Metodologia de inoculação de fungos causadores da
podridão peduncular em mamão. Ciência & Agrotecnologia, Lavras, v. 31, p. 1374-1379, 2007.
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Tabela 1. Populações de isolados de Lasiodiplodia thebromae coletados em pomares de mamoeiro no Nordeste
brasileiro, localizados nos estados da Bahia (BA), Pernambuco (PE), Paraíba (PB) e Rio Grande do Norte
(RN), com indicação dos fungicidas utilizados para o controle das doenças.
a
População a
Município
No. de isolados
Ingrediente ativo utilizado b
A
Juazeiro (BA)
26
tebuconazole 2, tiofanato
metílico 1, mancozeb 4,
oxicloreto de cobre 4
B
Amaraji (PE)
8
mancozeb 4, tebuconazole 2,
tiofanato metílico 1
C
Goiana (PE)
10
difenoconazole 2, tiofanato
metílico 1, oxicloreto de
cobre4
D
Conde (PB), Santa Rita (PB)
32
azoxystrobin3,
difenoconazole 2, tiofanato
metílico 1, oxicloreto de
cobre4
E
Parnamirin (RN), São José do Mipibu (RN)
31
azoxystrobin3,
difenoconazole 2,
mancozeb 4, pyraclostrobin 3,
tebuconazole 2, tiofanato
metílico 1
Cada população foi definida com base na distância geográfica entre os pomares de origem dos isolados.
b Grupos: metil benzimidazole carbamatos – MBC (1), inibidores da demetilação – DMI (2), inibidores da quinona –
QoI (3) e protetores (4).
Frequência de isolados (%)
50
40
30
20
10
0
.50
-0
01
.
0
50
.00
1.
-1
151
0
.
.
0
1
00
2.
15
.
1
00
.50
5.
-2
101
5
.
.
2
2
-1
0
50
7.
0.0
1-1
0
1
.
5
7.5
0
0.0
>1
CE50 μg ml
Figura 1. Distribuições de freqüências de concentrações efetivas de difenoconazole para inibirem 50% do
crescimento micelial (CE 50) de 107 isolados de Lasiodiplodia thebromae coletados em pomares de
mamoeiro no Nordeste brasileiro.
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