Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/IBMECRJ
Relatório Final
2013/2014
Título do Projeto: Relações Comerciais Brasil x China: Um estudo comparativo das
eras FHC e Lula
Aluno: Marina Cunha Martins
Curso: Relações Internacionais
Orientador responsável (seguido da maior titulação): José Luiz Niemeyer dos
Santos Filho, Doutor em Ciência Política pela USP
Três palavras-chave: Brasil, China, Comércio
1-Introdução
Desde os meados da Guerra Fria, tornou-se possível perceber o exponencial
crescimento chinês assim como o seu reposicionamento no cenário internacional; a
China passou a ser reconhecida como uma nova potência internacional, em referência,
principalmente, ao quesito econômico.
Apesar das vastas diferenças entre a nova potência e o Brasil, como os aspectos
políticos, culturais e ideológicos, foi possível perceber um constante estreitamento nas
relações entre os países ao longo do tempo. Esse estreitamento é marcado
principalmente pela colaboração sino-brasileira nas áreas de educação, saúde, segurança
e economia.
O estreitamento das relações no setor econômico é comprovado pelos dados
divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC).
No ano de 2012, em relação à participação percentual na balança comercial do
Brasil, a China representou 17% das exportações – o segundo maior valor das
participações chinesas nas exportações em 16 anos. A participação chinesa nas
importações brasileiras no mesmo ano totalizaram 15,35%, sendo o maior nos últimos
16 anos.
O foco propendido, no entanto, não é uma analise somente dos avanços na relação
comercial sino-brasileira, mas um estudo analítico sobre como essa se estabeleceu e se
desenvolveu.
Esse estudo será fundamentado em dois pilares: o primeiro é a escrutínio da
estruturação do vínculo Brasil-China nos governos Fernando Henrique Cardoso (19952003) e Lula (2003-2011). Fernando Henrique Cardoso é conhecido por iniciar a
estruturação de uma política de aproximação entre ambos os países, visto que até então
o contato entre ambos ocorria de maneira pontual; Lula, por sua vez, tem seu destaque
na expansão dessa estrutura organizada por seu antecessor, ampliando-a.
O segundo é um estudo comparativo sobre os ganhos e a colaboração fornecida por
cada governo e como esses ganhos afetaram nas negociações internacionais entre ambos
os países.
Só é possível analisar ganhos presentes e futuros tal como possíveis políticas
econômicas, dado uma compreensão de um momento anterior, ou seja, dado o
entendimento dos alicerces que constituem e erguem a relação Brasil-China.
Para atingir tal objetivo o tema proposto será abordado em seções distintas: as
duas primeiras em referência a história econômica brasileira e a chinesa, de modo a
podermos contextualizar o momento em que ocorrem as relações analisadas; a terceira
será uma análise das relações sino-brasileiras, envolvendo seus aspectos políticos,
econômicos e estratégicos; a quarta, e última, referente à existência ou não de uma
interdependência entre ambos os países.
2-Objetivos
Esse projeto tem como objetivo central um estudo crítico e analítico da
construção e condução das relações comerciais Brasil-China, nos governos Lula e
Fernando Henrique Cardoso. Tem a intenção, no entanto, de ir além, ao realizar um
estudo comparado observando os ganhos conquistados para essa relação por cada
administração.
3-Metodologia utilizada
A metodologia a ser utilizada será essencialmente fundamentada na analise de
dados disponível no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC) e da Câmara de Comércio Exterior; objetivando a visualização da variação de
variáveis econômicas como PIB, importações, exportações, dentre outros.
Em segundo plano, vamos pesquisar dados disponíveis no site do Itamaraty,
livros e entrevistas; visando o melhor entendimento da condução das políticas
econômicas e do cenário onde foram tomadas.
4-Desenvolvimento da pesquisa
4.1 - Conjuntura Econômica.
Para compreender a construção e a constituição da relação sino-brasileira é primordial o
entendimento do cenário onde ocorreram esses processos. Ou seja, torna-se importante
conhecer a âmbito econômico brasileiro e chinês á época.
No Brasil, o ano de 1995 foi um ponto de inflexão importante na história
econômica brasileira. Ele simbolizou a consolidação do real, enquanto nova moeda
capaz de combater de maneira eficaz a elevada inflação que era identificada como um
dos principais problemas das décadas de 70 e 80 no Brasil.
Ao assumir a presidência, Fernando Henrique Cardoso foi confrontado com um
quadro de: (a) pressão inflacionária, (b) economia superaquecida e (c) deterioração do
balanço de pagamento – déficits na conta corrente e na conta capital e financeira. O
plano de combate a esse quadro foi baseado principalmente em duas medidas: (a)
desvalorização controlada do real e (b) elevação da taxa de juros nominal.
A primeira medida tinha como principal objetivo desestimular as importações,
uma vez que essas se encontrariam mais caras. O principal motivo para o baixo índice
de êxito dessa medida foi o fato de o câmbio continuar apreciado, devido a inicial
paridade entre real e dólar instaurada no Plano Real, mesmo com as desvalorizações
futuras.
A segunda medida pretendia incentivar a população a poupar visto que tornavase mais interessante devido ao aumento dos juros manter o dinheiro em aplicações para
consumo futuro a gastá-lo no momento presente. Isso iria desestimular o consumo,
diminuindo a demanda e provocando um alivio na pressão inflacionária, além de
auxiliar a desaquecer a economia brasileira.
Se por um lado o Plano Real obteve grande êxito no controle da pressão
inflacionária, por outro a gestão de presidente Fernando Henrique Cardoso era
confrontada com dois outros grandes problemas: um elevado desequilíbrio nas contas
externas e uma crise fiscal.
O desequilíbrio nas contas externas tinha como uma das suas principais vertentes
o déficit na conta corrente, em especial, na conta comercial, as importações
continuavam a se elevar enquanto as exportações mantinham-se as mesmas ou
apresentavam pequenas quedas. O financiamento desse déficit ocorreu por na forma de
divisas externas, o que gerou dois outros problemas: (a) um déficit na conta de capitais
e (b) um aumento da divida externa.
O déficit em conta corrente era ocasionado principalmente pela câmbio
sobrevalorizado. Mesmo com a necessidade de uma grande desvalorização essa não
viria a ocorrer até janeiro de 1999 visto que a prioridade era construir nesse primeiro
momento uma maior credibilidade no plano. Aliado a essa prioridade, existia a crença
que o setor externo continuaria a financiar esse déficit por contração de financiamentos
e empréstimos.
Combinado com a piora no balanço de pagamentos houve também a piora do
setor fiscal. A principal consequência dessa combinação foi um desgaste da ancora
cambial, ou seja, a impossibilidade de manter o câmbio fixo.
Durante o segundo governo do então Presidente Fernando Henrique Cardoso
houve a tentativa de negociar novos empréstimos com o FMI que falharam devido a
pouca credibilidade na capacidade do Brasil de manter as condições e de não recorrer a
uma grande desvalorização como feito então pelo México e pela Argentina, assim como
a recusa por parte do Congresso de algumas das medidas que o FMI exigia em troca dos
empréstimos, dentre elas: a cobrança de contribuição previdenciária dos setores
públicos inativos. Em janeiro de 1999, sem alternativas para lidar com a situação, houve
uma grande desvalorização. O governo para ajudar na contenção da situação fiscal e dos
desequilíbrios continuou com a política de aumentou da taxa de juros básicos e criou
metas de inflação.
Em suma, o dois governos de Fernando Henrique Cardoso tiveram como
principais metas a estabilização da pressão inflacionária e o sucesso do Plano Real. Em
relação ao legado desse governo:
As mudanças mais importantes, que ficaram como herança para o
futuro, dos oitos anos de gestão de FHC e sem que
necessariamente a ordem signifique um ranking de importância
relativa foram: i. Privatizações, ii. Fim dos monopólios estatais,
iii. Mudança no tratamento do capital estrangeiro, iv. Saneamento
do sistema financeiro, v. Reforma (parcial) da Previdência Social,
vi. Renegociação das dividas estaduais, vii. Aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF), viii. Ajuste Fiscal, a partir de
1999, ix Criação de uma série de agências reguladoras de serviços
de utilidade pública e x. estabelecimento do sistema de metas de
inflação como modelo de política monetária. (GIAMBIAGI,
2011).
O ano de 2003 marcou um ponto de inflexão no que diz respeito à política
ideológica e as principais metas para a economia. No campo da política, houve a
ascensão da esquerda ao poder, com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No campo da economia, estabilidade e austeridade passaram a ser percebidas como uma
meta da nação, apartidária.
Esse discurso de estabilidade e austeridade, no entanto, só ganhou alguma
credibilidade após a moderação do posicionamento do Partido dos Trabalhadores (PT),
que mesmo durante o processo eleitoral defendeu medidas como a moratória da divida.
Essa alternância do discurso gerou dúvidas e receios em meio aos investidores
nacionais e internacionais sobre a credibilidade dos mesmos, o que explica a queda
inicial nos investimentos privados e nos empréstimos e financiamentos internacionais
fornecidos ao Brasil com a eleição do Presidente Lula.
A delicada situação economia brasileira era comprovada pela variação de três
indicadores chaves: o aumento do risco-brasil, o a radical elevação da expectativa de
inflação para 2003 e a contínua desvalorização do real frente ao dólar.
Para combater a deterioração desses indicadores, ao mesmo tempo em que se
tentava conquistar e assegurar a credibilidade no novo governo, foram adotadas uma
série de medidas, dentre elas: Henrique Meirelles foi nomeado para o cargo de
presidente do Banco Central; novas metas de inflação, refletindo uma queda para os
próximos anos; elevação da SELIC – taxa básica de juros; elevação da meta de
superávit primário e redução dos gastos públicos.
De modo geral, a política economia fiscal e monetária então traçadas eram de
origem ortodoxa. Somando-se a essas medidas, foram enviadas ao Congresso propostas
de reformas tributárias e da previdência social que sinalizavam uma continuidade das
reformas do governo anterior. Durante o seu segundo governo, o presidente Lula
também viria a propor uma série de reformas sociais e programas de assistencialismo,
dentre quais, o Bolsa Família.
Comparando o resultado do governo Lula com a herança deixada pelo governo
FHC:
Em contraste, nos anos Lula, além de na década ter havido uma
recuperação do crescimento e do investimento, com um impacto
muito favorável sobre o emprego, a divida liquida do setor
público diminuiu em 1/3; o país tornou-se credor liquido do
exterior, uma vez que a divida externa liquida tornou-se negativa;
e as reservas atingiram quase US$ 290 bilhões em 2010. Em
compensação, as reformas estruturais limitaram-se a uma reforma
da Previdência restrita ao âmbito do funcionalismo e de
importância modesta. (GIAMBIAGI, 2011)
Se as décadas de 90 e 2000 no Brasil foram marcadas pela estabilização e
austeridade, na China elas foram marcadas especialmente pela abertura comercial lenta
e gradual e a adaptação ao mercado internacional. Isso pode ser comprovado pelo
aumento expressivo da participação de investimentos estrangeiros no PIB, que saiu de
menos de 1% em 1991 para 5% em 1993; assim como pela adoção da política de
desvalorização cambial que forneceu aos produtos chineses elevada competitividade no
mercado internacional.
A sua adaptação no mercado internacional assim como os seus elevados
percentuais de importação, no entanto, são resultado de um processo que começou na
década de 60 com a Revolução Cultural de Mao Tse-Tung, e que incluiu o surgimento
das Zonas Econômicas Especiais (ZEE’s) e as Quatro Modernizações do governo de
Deng Xiaoping.
A Revolução Cultural foi importante no processo de industrialização devido a
sua influencia na questão de planejamento de financiamento, investimentos e produções
de cada província, o que acabou por fazer com que várias das provinciais desenvolvesse
atividades industriais e produtivas.
As Zonas Econômicas Especiais eram regiões territorialmente delimitadas que
permitiam a entrada de empresas – na sua maioria por joint venture – e de investimentos
estrangeiros. Simbolizava não só uma mudança no política economia, que começava a
se abrir ao estrangeiro; mas também o inicio de uma reforma agrícola.
Por fim, as Quatro Modernizações foi um programa que consistiu em reformas
nos setores da indústria, da agricultura, da ciência e tecnologia e por fim militar. A
partir de 1978 essas reformas passariam a ter uma forte ênfase no planejamento
industrial e tecnológico, começando pelas industrias de baixo nível tecnologia até as de
alta tecnologia. Isso permitiu que ao abrir a sua economia nas décadas de 90 e 2000, a
China conseguisse uma elevada inserção no comercio internacional.
4.2 – Relações Sino-Brasileiras.
As relações entre Brasil e China tem seu ponto inicial em 1974, quando foi
estabelecido relações diplomáticas entre os países. No entanto, as décadas de 70 e 80
seriam marcadas por um baixo nível de interação e cooperação em assuntos pontuais.
Por exemplo, em 1979, houve uma missão brasileira enviada a China para
discussão de questões sobre imigração de mão de obra e apesar do pouco sucesso,
representa o primeiro esforço no sentido de missões; em 1981, foi assinado por o
Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, e em 1983 instalou-se o primeiro
consulado brasileiro em Shangai.
O baixo nível de interação é em parte resultado da crise interna que o Brasil
atravessou durante a década de 80 e que a caracterizou como “década perdida”. O
principal objetivo tornou-se conter a inflação e o desemprego em detrimento da
expansão das relações bilaterais brasileiras.
Um ponto chave de aproximação entre os dois países só viria a acontecer no
governo do presidente José Sarney, no ano de 1988, no campo estratégico, com o
CBERS. O CBERS é um programa entre a China e o Brasil no campo da tecnologia
dedicado a pesquisa e desenvolvimento de satélites para observação da terra.
Outro ponto ocorreria seis anos depois, em 1993, no governo Itamar Franco,
com a definição da região asiática como uma prioridade da diplomacia devido ao seu
grande potencial econômico – mercado de importação e exportação -, político e
tecnológico – esse último potencial sendo simbolizado pelo CBERS. A Ásia
representava do ponto de vista econômico uma chance de diversificação de parceria e
novo mercado consumidor de grande capacidade; do ponto de vista político uma
tentativa de aproximação com países com agenda, necessidades e problemas mais
semelhantes a sua.
Esse último ponto teve uma importância secundária também. Ele simbolizou
uma mudança na configuração do relacionamento sino-brasileiro, que deixou de ficar
restrito ao campo político-diplomático e expandiu-se para o campo econômico e
comercial a partir da década de 90, com o advento da abertura econômica brasileira e da
gradual, mas progressiva inserção chinesa no mercado internacional.
Em 1995, teremos a primeira visita do Presidente Fernando Henrique Cardoso a
China e a declaração de apoio brasileira a entrada da República Popular da China (RPC)
na OMC. Em 1999, teremos o lançamento do Cbers I, o primeiro satélite do projeto
CBERS, assinado por Sarney, mas incentivado por FHC; no mesmo ano houve também
a realização do Seminário Brasil-China, no Rio de Janeiro, onde encontraram-se
intelectuais e cientistas chineses e brasileiros com o objetivo de ampliar e desenvolver
as bases de cooperação tecnológica.
Em 2000, temos a visita do ministro das relações exteriores chinesas, Tang
Jiaxuan ao Brasil; a elevação da RPC ao status de maior parceiro comercial brasileiro na
Ásia e a abertura de um escritório da Embraer em Pequim. Em 2002, devido a diversos
acordos bilaterais sobre temas comerciais e bilaterais, podemos presenciar um grande
esforço por parte de empresas brasileiras como a Vale, Petrobrás e Embraer de entrar no
gigantesco mercado chinês por meio do modelo de internacionalização de Joint
Ventures. Em 2003, presenciamos o lançamento do CBERS II.
Com base nessa construção histórica das relações sino-brasileiras realizadas até
agora, partiremos para a análise da evolução comercial dessa relação no período dos
dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Segundo os dados dispostos no site do IPEA Data, desde que assumiu a
presidência em 1995, FHC conseguiu elevar as importações de R$ 1.041.728.048 para
1.553.993.640, tendo, portanto uma variação positiva de 0,4917; as exportações foram
elevadas de R$ 1.203.750.528 para R$2.520.978.671, sendo a variação 1,0943. Nesse
período ocorreu uma redução do superávit da balança comercial brasileira em relação a
China de R$ 804.962.551, no entanto a corrente comercial aumentou em R$
1.829.493.735.
A principal mudança nesse período no que diz respeito as relações comerciais
entre esses dois países, no entanto, foi a alteração da configuração das exportações. As
exportações brasileiras a China que em 1995 eram compostas de 15,898% de produtos
básicos e 84,087% de produtos industrializados, passaram para de 62,609% básicos e
37,340% de industrializados em 1999 e para 61,509% básicos e 38,181%
industrializados em 2002. Tal como pode ser observado no gráfico abaixo:
Composição das Exportações Brasil - China
(1995/2002)
1
0,8
0,6
Básicos/Total
0,4
Industrializados/Total
0,2
0
1
2
3
4
5
Fonte: dados retirados do IPEA data
6
7
8
Dois anos depois do termino do governo FHC, em 2004, comemorou-se os 30
anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre os países, o ministro Celso
Amorim visitou a China em Fevereiro do mesmo ano, sendo seguido em Maio pelo
então presidente Lula. Nessa visita, Lula concede a China o reconhecimento de status de
economia de mercado.
Esse reconhecimento foi considerado por muitos uma concessão feita pelo
presidente em troca de um futuro apoio a busca do Brasil por um acento no Conselho de
Segurança da ONU, apoio esse que nunca veio a se concretizar. Uma das consequências
desse ato foi um aumento de tensões entre o empresariado brasileiro, o governo
brasileiro e o empresariado chinês: os empresários brasileiros temiam perder grande
parte do seu Market-share e porcentagem de lucro para os produtos chineses, que eram e
continuam sendo, em grande parte, mais baratos.
Ainda em 2004, tivemos outro evento importante para as relações brasileiras e
chinesas, que foi a criação da COSBAN, a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de
Concertação e Cooperação, que possuía a responsabilidade de coordenar as diversas
vertentes do relacionamento bilateral. A primeira reunião da COSBAN ocorreu em 2006
e foi presidida pelo Vice-Presidente Brasileiro José Alencar. Em 2006 ocorreu a visita
do presidente do congresso Chinês ao Brasil, no qual foi vendido 100 aviões brasileiros
a RPC.
Em 2007, tivemos três eventos de relevante importância: (i) reunião da
Subcomissão Política da COSBAN, (ii) o lançamento do CBERS 2B e (iii) a primeira
reunião do Diálogo Estratégico Brasil-China, que visava refletir e avaliar o
desenvolvimento de ambos os países emergentes assim como ressaltar a importância de
uma cooperação estratégica entre ambos para alcançar os seus objetivos políticoeconômicos.
O ano de 2008 assistiu a visita ao Brasil de quatro figuras importantes chinesas:
o Ministro do Comércio, em maio; de He Guoqiang, membro do Comitê de Permanente
do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China, em julho; d Li
Zhaoxing, presidente da Comissão de Relações Exteriores da RPC, em outubro e do
General Xu Caihou, Vice-Presidente da Comissão Militar Central da RPC. Em 2009,
assim como em 2010, continuou-se o intenso fluxo de visitas de representantes entre os
países. É importante ressaltar que em 2009, a China tornou-se o principal parceiro
comercial do Brasil no mundo.
No período de 2003 a 2011, que compreende os dois governos do presidente
Lula, as relações comerciais sofreram as seguintes alterações: as exportações subiram
R$ 4.533.363.162 de para R$ 30.785.906.442, tendo uma variação de 5,7910; e as
importações subira de R$ 2.147.801.000 para R$ 30.301.473.597, obtendo uma variação
de 13,1081.
Isso fez com que ocorresse uma redução da balança comercial de R$ 1.901.129.317, e que a corrente de comercio aumentasse em R$ 54.406.215.877. O
perfil das exportações alterou-se de 49,992% dos produtos básicos e de 49,728% dos
industrializados em 2003, para 73,750% básicos e 26,087% industrializados em 2007,
para 83,366% e 16,295% respectivamente em 2011. A tendência da composição das
exportações seguiu o padrão do governo FHC, compondo-se majoritariamente por
produtos básicos.
Composição das Exportações (2003/2011)
1
0,8
0,6
Básicos/Totais
0,4
Industrializados/Totais
0,2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Fonte: dados retirados do IPEA data
4.3 – Interdependência Complexa
Uma vez analisada a evolução histórica das relações bilaterais político, comercial e
estratégica entre China e Brasil é importante observar que tanto o presidente FHC
quanto o Lula deram grande importância as relações bilaterais com a China, tal como
pode ser percebido no trecho abaixo:
Nesse sentido, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, no
pronunciamento em sua posse em 1º de Janeiro de 1995 definiu a
Ásia como uma das prioridades de sua política externa, tendo
visitado a China, a Malásia e Japão em seu primeiro mandato. E,
no seu segundo mandato, já no início do século XXI, realizou as
visitas históricas a Seul, Dili e Jacarta, sendo as primeiras
realizadas por um presidente brasileiro a essas capitais. E, da
mesma forma, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu
discurso de posse, em 1º de janeiro de 2003, cita nominalmente a
necessidade de estreitamento de laços com o Japão, China e Índia.
Sua visita à China, no final de maio de 2004, recebeu um apoio
inédito por parte do empresariado brasileiro.. (OLIVEIRA, 2004,
p.15)
No entanto, seria a relação existente entre ambos os países seria uma de
igualdade ou desigual, em outras palavras, o grau de dependência de um país no outro é
equivalente? O comércio com o Brasil é tão importante para a China quanto o da China
para o Brasil?
Para tentar responder a essa questão, é necessário identificar á priori quais os
interesses do Brasil na China e vice-versa. Os principais interesses brasileiros na China
se relacionam a questão de diversificação de parcerias, tal como o aumento do espaço
de manobra política e comercial frente aos demais parceiros brasileiros, o aumento da
atração de investimentos, o acesso a novos mercados consumidores de grande potencial
e a aproximação de um país com demandas similares a sua no cenário internacional de
modo a poderem fazer frente aos interesses de potências, ao mesmo tempo que impõe
suas demandas.
Os interesses chineses no Brasil focam-se no potencial brasileiro de servir tanto
como mercado fornecedor de matéria-prima, como mercado vulnerável a expansão dos
negócios chineses.
Dos interesses brasileiros, pode-se dizer que Lula e FHC obtiveram grande
sucesso no viés econômico, ao conseguir a diversificação de parceiros econômicos, o
que pode ser comprovado pela ascensão da China a principal parceiro econômico
brasileiro em 2009; assim como o acesso de produtos brasileiros no mercado chinês,
principalmente a partir de 2002, pelo acordo de joint ventures. O objetivo de viés
político, no entanto, não logrou o mesmo nível de sucesso.
Os chineses, por outro lado, obtiveram grande sucesso em todos os seus
objetivos, pois conseguiram um mercado fornecedor de matéria-prima, que demonstrou
e continua demonstrando grande capacidade de absorção dos produtos chineses e que
representa uma entrada comercial no bloco sul-americano e americano.
Com base nisso, pode-se dizer ambas as partes possuem um real ganho absoluto
no que faz referência as relações bilaterais aos países, mas que a China possui um ganho
relativo sobre o Brasil.
Tal afirmativa é apenas acentuada quando levamos em conta que, embora as
relações econômicas sejam vantajosas para ambos os lados, elas as são principalmente
para a China desde o inicio do governo FHC. Durante os governos FHC e Lula, a pauta
de exportação brasileira para a China sofreu uma transformação em sua configuração,
de modo que, os bens que constituem primariamente a exportação, em alguns casos
mais de 60%, são os bens básicos, em outras palavras, agronegócios; enquanto isso, a
constituição de importação concentrou-se cada vez mais nos bens industrializados. O
problema nessas alterações é quando levamos em conta que os bens industrializados
tendem sempre a acrescer seu valor agregado aumentando o seu custo, enquanto os bens
básicos tendem a ser muito suscetíveis as forças de mercado e tendem a ter seu custo
reduzido – ideia de deterioração dos termos de troca.
Isso faz com que a balança comercial Brasil-China tenda a se tornar deficitária.
Além disso, enquanto a China é o maior parceiro comercial do Brasil, o Brasil encontrase no 10º lugar, segundo pesquisa revelada pelo Conselho Empresarial Brasil-China.
Esse quadro então iria caracterizar uma caso de interdependência assimétrica, ou
seja, enquanto a China ganha mais que o Brasil com a manutenção das relações
bilaterais nos moldes atuais, a quebra das mesmas geraria uma maior perda ao Brasil do
que a China.
5- Resultados alcançados
Com base no que foi pesquisado e exposto é possível perceber que desde o
estabelecimento de relações diplomáticas em 1974, as relações sino-brasileiras
apresentaram grande crescimento. Essa expansão é parcialmente iniciada pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso, ao iniciar um processo de estreitamento
estratégico, por meio das continuas negociações e investimentos no projeto CBERS, e
ao expandir a corrente comercial entre ambos os países.
O sucessor de FHC, o presidente Lula, deu continuidade a esse estreitamento das
relações, principalmente em seu caráter comercial: em menos de três anos assinou mais
acordos com os chineses que FHC durante seus dois mandatos, desde que assumiu em
2003 até o fim de seu mandato em 2011, elevou em 814,322% a corrente de comércio
em oposição aos 81,475% do FHC.
Valor m R$
Corrente Comércio (EXP+IMP)
70.000.000.000
60.000.000.000
50.000.000.000
40.000.000.000
30.000.000.000
20.000.000.000
10.000.000.000
0
Corrente Comércio
(EXP+IMP)
1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009
Anos
Fonte: dados do IPEA data.
É, portanto, possível afirmar que em relação a ampliação da base comercial, os
efeitos do governo Lula foram de maior proporção que os de FHC, porém, em outros
aspectos comerciais, ambos os governantes acabaram por conservar tendências e
resultados bem semelhantes, como mostra o gráfico abaixo.
0,9
Composição das Exportações Brasil-China
(1995-2010)
0,8
Título do Eixo
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Título do Eixo
Básicos/Totais
Industrializados/Totais
Fonte: Dados do IPEA data
De modo geral, ambos os presidentes lograram grande sucesso no viés comercial
e tecnológico, o que já não pode-se dizer o mesmo para o viés político, onde o
estreitamento de relações foi tímido, exemplo disso, foi a falta de apoio chinesa ao
pleito brasileiro por um assento permanente no Conselho de Segurança.
As relações bilaterais entre Brasil e China representam para os sucessores das
eras FHC e Lula tanto um futuro promissor quanto sombrio, por um lado, as vantagens
comerciais e os ganhos empresarias com a entrada de empresas brasileiras no mercado
chinês através de joint ventures, por outro, o desafio de aumentar a aproximação
política, de conter as contenciosas comerciais, ou seja, as utilizações de medidas de
salva guarda, os embargos a soja, e criar atrativos mais fortes para captar um maior
nível de investimentos chineses, além de tentar tornar a interdependência entre os países
menos assimétrica.
6- Conclusão
Ao comparar as relações comerciais sino-brasileiras ao longo dos governos
Fernando Henrique Cardoso e Lula é possível concluir que enquanto o primeiro foi
responsável por consolidar as relações comerciais entre os países como uma relação
constante e não pontual; o segundo governo utilizou-se dessa base e a expandiu, o que é
consolidado pela expansão na corrente de comercial ao longo dos dois governos citados.
É importante citar que no que se refere na condução e no comportamento da
relação comercial, pode-se destacar tanto semelhanças como diferenças. Se por um lado,
o governo Lula teve grande ampliação na corrente comercial diferenciando-se do
governo FHC, por outro em ambos os casos conservou-se a tendência de importar cada
vez mais produtos de alta tecnologia para a China e exportar principalmente produtos de
agrícolas, como é o caso da soja; e a de uma aproximação política reduzida.
No entanto, essa tendência não é tanto uma escolha consciente dos governantes
sobre a constituição de produtos na pauta de importação e exportação, como é um
processo histórico, pois se o Brasil passou grande parte das décadas de 80 e 90
delineando planos para conter a inflação e o desemprego; a China delineou planos para
ampliar sua base industrial desde produtos de base até de alta tecnologia.
7-Bibliografia
CASTRO, Lavínia Barros. Esperança, Frustração e Aprendizado: a História da Nova
República (1985-1989). In: GIAMBIAGI, Fabio (Org.) et al. Economia Brasileira
Contemporânea. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, p.97-130.
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Composição das Exportações Brasil - China