XXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica – CBEB 2014
AVALIAÇÃO DA DENSIDADE ÓTICA DE BASE MAIS VÉU DE FILMES
INTRAORAIS PROCESSADOS EM CAIXAS PORTÁTEIS DE REVELAÇÃO
C. Miguel*, F. S. Barros*, R. S. Lendzion*, e A. S. P. S. Rocha*
*Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil
e-mail: [email protected]
Resumo: O método de processamento de radiografias
em caixas portáteis é amplamente usado entre os
odontólogos devido a sua praticidade e baixo custo.
Porém, as caixas de revelação devem evitar a entrada da
luz proveniente do tipo de iluminação dos consultórios
odontológicos, de forma a evitar o velamento das
radiografias, fator relevante na busca pela qualidade de
imagem. O objetivo deste estudo é avaliar a densidade
ótica (DO) de base mais véu dos filmes intraorais
revelados em caixas portáteis de revelação manual e
identificar qual o tipo de iluminação indicado para
ambientes onde esse equipamento é utilizado. O
levantamento dos dados foi realizado em laboratório
usando filmes intraorais expostos a diferentes tipos e
intensidades de iluminação. Para análise dos filmes foi
usado um luxímetro e um densitômetro. A portaria
453/98 do Ministério da Saúde, não estipula valores
para avaliação da DO de base mais véu em radiologia
intraoral, por isso o parâmetro utilizado para avaliar as
câmaras portáteis foi o estipulado pelo Protocolo
Espanhol
de
Controle
de
Qualidade
em
Radiodiagnóstico 2011. Através deste estudo, foi
possível observar que o filtro utilizado nas tampas das
câmaras tem diferente desempenho quando expostas a
lâmpadas fluorescentes em comparação com lâmpadas
incandescentes. A DO de base mais véu foi considerada
conforme quando a revelação dos filmes foi feita com
iluminação artificial, porém quando a câmara de
revelação foi exposta a luz natural ocorreu o velamento
acima dos limites de aceitação.
Palavras-chave:
Radiologia
odontológica,
processamento radiográfico, radiografia intraoral.
assessment of the most base-plus-fog in intraoral
radiology, so the parameter used to evaluate the
handheld cameras was stipulated by the Spanish
Protocol for Quality Control in Radiology 2011.
Through this study, it was observed that the filter used
in the lids of the chambers have different performance
when exposed to fluorescent light bulbs compared to
incandescent bulbs. The base-plus-fog was regarded as
when disclosure of the films was made with artificial
lighting, but when the camera revelation was exposed to
natural light was the veiling above acceptance limits.
Keywords: Dental radiology, radiographic processing,
intraoral radiography.
Introdução
A radiografia é um método diagnóstico amplamente
utilizado em odontologia e representa 20% das
exposições de seres humanos a radiação em
radiodiagnóstico no mundo. Em países desenvolvidos
em relação a cuidados de saúde, o número de exames
realizados tem se mantido constante. Porém observa-se
o aumento no número de exames realizados em países
em desenvolvimento [1]. Devido ao baixo custo,
praticidade e agilidade do processo, os odontólogos
empregam em seus consultórios a técnica de
radiografias intraorais com revelação em caixas
portáteis de revelação manual. Essa técnica tem a
finalidade de diagnosticar lesões, planejar e documentar
o tratamento [2].
No Brasil, as radiografias intraorais adquiridas em
consultórios odontológicos podem ser processadas em
câmaras portáteis de revelação manual. Entretanto, as
câmaras devem ser fabricadas de material opaco [3].
Para utilizar as câmaras portáteis devem ser
consideradas inúmeras variáveis, para obter-se uma
imagem radiográfica com a máxima qualidade
diagnóstica. As câmaras portáteis são constituídas de
polímeros acrílicos com duas aberturas com luvas de
acoplamento entre o ambiente exterior e o interior. São
utilizadas para o devido manuseio do filme radiográfico
com o objetivo de reduzir a luminosidade a níveis que
não interfiram na DO da imagem. A DO de base mais
véu é a medida da transparência da base do filme mais o
resultado da exposição do filme à luz e/ou contaminação
química [2-4]. O limite de DO de base mais véu
recomendado para revelação em caixa portátil de
revelação, para garantir a qualidade das imagens
processadas nessas condições é 0,3 DO [5].
Abstract: The method of processing in portable
radiography cameras is widely used among dentists
because of its convenience and low cost. However,
chambers of processing must prevent the entry of light
from the lighting type of dental offices, in order to avoid
blurring of the radiographs, a relevant factor in the
quest for image quality. The aim of this study is to
evaluate the optical density (OD) base-plus-fog of
intraoral film in portable cameras manual development
and identify what type of lighting suitable for
environments where such equipment is used. Data
collection was performed in the laboratory using
intraoral films exposed to different types and intensities
of illumination. For analysis of the films was used one
light meter and a densitometer. The Order 453/98 of the
Ministry of Health does not provide values for
1
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XXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica – CBEB 2014
Como as câmaras são portáteis e estão sujeitas a
serem submetidas a diversas condições de iluminação
artificial e natural, é preciso avaliar e identificar os
parâmetros de iluminação indicados para sua utilização.
A Organização Mundial de Saúde relacionou a baixa
qualidade das imagens como responsável por erros de
interpretação de exames. Baixa qualidade no
processamento de imagens gera maior número de
repetição de exames causando maior exposição do
paciente e dos profissionais à radiação, aumentando os
custos do processo. Para garantir a qualidade e
padronizar a revelação das radiografias, deve-se evitar a
revelação visual. Recomenda-se usar cronômetro,
termômetro, tabela de tempo e temperatura e seguir as
orientações do fabricante dos produtos usados para
garantir a qualidade do processamento e a vida útil das
radiografias [3-6].
Este trabalho tem o objetivo de avaliar a densidade
ótica (DO) de base mais véu dos filmes intraorais
revelados em caixas portáteis de revelação manual e
identificar qual o tipo de iluminação é indicado para
ambientes em que esse equipamento é utilizado.
com luminosidade solar e com as lâmpadas de 25, 32,
60 e 100 W.
O tempo médio de manipulação dos filmes dentro da
câmara de revelação foi de 15 s até o filme ser imerso
no químico revelador. A temperatura do revelador no
momento do experimento foi de 20º C. O tempo de
processamento recomendado pelo fabricante de acordo
com a temperatura e utilizado no experimento foi de
cinco minutos imerso no químico revelador e quatro
minutos imerso no químico fixador. Após os filmes
estarem secos, através do densitômetro, foi medida a
DO de cada filme na região central, por ser a região de
interesse na imagem diagnóstica. Foram feitas quatro
medidas para cada filme.
Resultados
A Tabela 1 demonstra em Lux o nível de iluminação
que a caixa de revelação foi exposta no momento das
revelações dos filmes. Os valores apresentados são
referentes às medidas do nível de iluminação que chega
ao filtro e o nível de iluminação medido dentro da
câmara nas diferentes condições de iluminação. A
porcentagem de luminosidade que chegou aos filmes
quando o experimento foi exposto às lâmpadas
fluorescentes variou entre 6,25% e 17,4%. Quando o
experimento foi exposto às lâmpadas incandescentes,
passou pelo filtro mais de 40% da luminosidade. Em
relação à luz solar, chegou aos filmes cerca de 6% da
luminosidade. Os filmes de controle foram revelados
com todas as lâmpadas apagadas e todas as janelas
fechadas, resultando nas leituras em lux iguais a zero.
Materiais e métodos
O estudo foi realizado em laboratório com a
finalidade de manter as condições de iluminação
controladas. Foi utilizada na aquisição dos dados uma
caixa para revelação manual portátil marca VH branca
com tampa (filtro vermelho) medindo 1,66 mm de
espessura, 42 filmes Kodak Dental Intraoral E-speed, 7
colgaduras, revelador Kodak Dental, fixador Kodak
Dental, água, termômetro tipo espeto, cronômetro,
luxímetro marca Lux-meter 0500 com sensibilidade de
0-100.000 Lux, densitômetro marca Nuclear Associates
model 07-443 calibrado, luminária de piso, lâmpada
fluorescente compacta de 15 W, lâmpada fluorescente
compacta de 25 W, lâmpada incandescente de 60 W e
lâmpada incandescente de 100 W. Para avaliar a
revelação com luminosidade ambiente (sol), a câmara
de revelação foi posicionada próximo a janela do
laboratório aberta, com o objetivo de reproduzir as
condições
de
iluminação
dos
consultórios
odontológicos. A avaliação da luminosidade ambiente
foi realizada durante o período da tarde, com incidência
direta de luz solar na câmara de revelação no momento
das medidas.
Foram processados quimicamente sete filmes
controle com todas as luzes do ambiente apagadas e
com as janelas fechadas. Utilizando o luxímetro, foi
medido o nível de iluminação posicionando a fotocélula
sobre o filtro da câmara de revelação. A segunda medida
foi realizada dentro da câmara abaixo do filtro.
A luminária foi colocada a 1,5 m acima da câmara
de revelação, com uma lâmpada fluorescente compacta
de 15 W. Foi realizada a medida do nível de iluminação
que chega até o filtro e o nível de luminosidade que
passa pelo filtro para dentro da câmara. Foram
processados quimicamente sete filmes intraorais com
essas condições de iluminação. O processo foi repetido
Tabela 1: Nível de iluminação proporcionado por cada
fonte de luz que chega ao filtro. A primeira coluna
mostra as fontes de luz, a segunda coluna mostra o nível
de iluminação que chega até a superfície da caixa de
revelação em lux, a terceira coluna apresenta o valor
medido em lux dentro da câmara com a porcentagem da
luminosidade que passa pelo filtro para cada tipo de
iluminação.
Fonte de Luz
Sem iluminação
(controle)
Lâmpada fluorescente
compacta 15 W
Lâmpada fluorescente
compacta 25 W
Lâmpada fluorescente
tubular 32 W
Lâmpada
incandescente 60 W
Lâmpada
incandescente 100 W
Luminosidade
ambiente (sol)
2
382
Chega no
Filtro (Lux)
Passa pelo
Filtro (Lux)
0
0
16
1 (6,25%)
20
3 (15%)
135
23 (17,4%)
32
15 (46,87%)
72
30 (41,67)
33300
2300 (6,1%)
XXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica – CBEB 2014
A tabela 2 contém os valores da avaliação da DO de
base mais véu média dos filmes intraorais processados
em câmaras portáteis de revelação manual. Os valores
apresentados na tabela 2 são as médias e o desvio
padrão calculados das quatro medidas de DO realizadas
em cada filme processado durante o experimento.
Radiodiagnóstico 2011. O referido protocolo recomenda
que o valor de DO de base mais véu em revelação de
filmes intraorais deve ser menor ou igual a 0,3 DO.
É importante ressaltar que as avaliações foram
realizadas com apenas uma lâmpada de cada vez, não
foram realizados experimentos utilizando luminárias
com número maior de lâmpadas.
Por meio dos resultados apresentados, pode-se
observar que o filtro da câmara de revelação mostrou-se
mais eficiente quando exposto a lâmpadas fluorescentes
em comparação com as lâmpadas incandescentes. A
lâmpada fluorescente tubular expôs a caixa de revelação
a 135 lux e a lâmpada incandescente de 100 w
proporcionou 72 lux. Entretanto, após o processamento
químico dos filmes, o resultado das leituras de DO de
base mais véu foi considerado conforme para os dois
tipos de lâmpadas. Mesmo a lâmpada fluorescente
proporcionando nível de iluminação maior, a DO dos
filmes processados nessas condições apresentaram
resultado similar. A redução pelo filtro do nível de
iluminação natural e da lâmpada fluorescente compacta
de 15 w foi similar, passou pelo filtro aproximadamente
6%. Entretanto a intensidade da luminosidade solar foi
muito superior à luminosidade artificial. Esses
resultados são coerentes usando como parâmetro o
estudo de Tamburús [4] ao avaliar o polímero acrílico
que serve como filtro em caixas portáteis. Ele concluiu
que o polímero filtra os componentes do espectro da luz
para os quais o filme radiográfico é sensível. Porém foi
possível observar que a qualidade da filtração depende
da intensidade da luminosidade do ambiente. Os filmes
revelados com a câmara de revelação próxima a janela,
exposta à luminosidade natural com 33.300 lux foram
considerados não conforme. Devido a DO de base mais
véu ultrapassar em aproximadamente dez vezes o valor
estabelecido como limite pelo protocolo de referência.
Embora a maioria dos valores da DO de base mais
véu sejam considerados conforme, a caixa de revelação
utilizada no experimento não está de acordo com as
normas vigentes. A tampa da câmara de revelação
funciona como filtro da luminosidade, no entanto, de
acordo com a portatia 453/98 a câmara deve ser
totalmente opaca. Câmaras com tampa transparente
possibilitam ao operador fazer o processamento químico
pelo método visual, verificando o filme durante o
processamento da imagem. Ao retirar o filme do
químico revelador para visualizar o grau da revelação, o
mesmo é exposto à luminosidade que passa pelo filtro
da tampa da câmara de revelação. Portanto, o filme
pode sofrer velamento durante esse processo. A Portaria
453/98 MS define que a revelação deve ser realizada
através do método de tempo e temperatura. Esse método
permite a padronização, evita o aumento da DO de base
mais véu e propicia maior qualidade das imagens.
Tabela 2: Desvio padrão e valores médios calculados da
DO de base mais véu dos filmes avaliados. Médias de
DO de base mais véu superiores a 0,3 DO foram
consideradas não conforme [5].
Fonte de Luz
Sem iluminação
(controle)
Lâmpada fluorescente
15 W
Lâmpada fluorescente
25 W
Lâmpada fluorescente
tubular 32 W
Lâmpada
incandescente 60 W
Lâmpada
incandescente 100 W
Luminosidade
ambiente (sol)
Média
(DO)
Desvio
padrão
Avaliação
0,177
0,005
Conforme
0,181
0,005
Conforme
0,180
0,005
Conforme
0,184
0,005
Conforme
0,183
0,005
Conforme
0,187
0,005
Conforme
2,845
0,540
Não
Conforme
Discussão
Almeida realizou uma pesquisa que contemplou o
velamento dentro de caixas de revelação portáteis em
consultórios odontológicos do Rio de Janeiro.
Participaram do estudo 1543 odontólogos, cuja pesquisa
apontou que caixas portáteis são utilizadas em 95,6%
dos consultórios. Porém, em apenas 43% dos ambientes
as câmaras impedem totalmente a entrada de luz. De
acordo com Almeida o velamento causado pela entrada
de luz nas caixas de revelação causa a repetição de
exames aumentando a dose nos pacientes e possibilita o
erro de diagnóstico [7]. As caixas de revelação em
odontologia são similares na forma e na fabricação.
Esses fatores reforçam a hipótese que o índice de
reprovação dos equipamentos seja causado pelas
diferentes condições de iluminação dos consultórios
odontológicos. De acordo com Guimarães as imagens
radiográficas obtidas em consultórios odontológicos não
apresentam qualidade para proporcionar um bom
diagnóstico. Um dos fatores apontados pelo autor é o
fato da entrada de luz nas caixas de revelação [6].
A portaria 453/98 que regulamenta o uso de
equipamentos radiológicos no Brasil não especifica
parâmetros de avaliação de controle de qualidade das
caixas portáteis de revelação. Por não haver norma
nacional que regulamente o controle de qualidade em
câmaras portáteis, foi utilizado o parâmetro estipulado
pelo Protocolo Espanhol de Controle de Qualidade em
Conclusão
A DO de base mais véu dos filmes intraorais
processados em caixas portáteis de revelação foi
considerada conforme quando exposta a luminosidade
3
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XXIV Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica – CBEB 2014
artificial. Porém, quando exposta a forte intensidade da
luz solar, a resposta do polímero acrílico que serve
como filtro da luminosidade não foi satisfatória e a
densidade ótica dos filmes revelados nestas condições
foi considerada como não conforme. As caixas portáteis
de revelação devem ser instaladas longe de janelas e
aberturas, ou seja, em ambiente protegido da luz natural.
Recomenda-se a utilização de lâmpadas fluorescentes
compactas em ambientes utilizados para revelação de
filmes intraorais através de câmara portátil de revelação.
Devem ser observadas as condições físicas das câmaras
de revelação que permitam entrada de luz nas mesmas,
como por exemplo, rachaduras, defeito de fechamento
ou mangas rasgadas. A tampa transparente deve ser
coberta durante o processamento dos filmes e deve ser
utilizada a técnica de revelação através de tempo e
temperatura.
Referências
[1] Unscrear, Report to the General Assembly with
Scientific Annexes, volume I, UNSCREAR 2008,
United Nations, New York 2010.
[2] Yacovenco AA. Análise dos Problemas mais
Frequentes
da
Radiolografia
na
Prática
Odontológica, Revista da ABRO. 2001; 2 (1) :29-39.
[3] Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância
Sanitária. Diretrizes de proteção radiológica em
radiodiagnóstico médico e odontológico. Portaria nº
453. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2/6/1998.
[4] Tamburús JR, Lavrador MAS, Oliveira AC.
Processamento radiográfico - câmara escura portátil:
relação entre filtro de luz e densidade de base + véu.
Rev Odonto Univ São Paulo. 1999; 13 (1) :93-100.
[5] Espanha. Sociedad Española de Física Médica,
Sociedad Española de Protección Radiológica e
sociedad Española de Radiologia Médica. Protocolo
Español de Control de Calidad en Radiodiagnóstico,
revisión 2, Madrid 2011.
[6] Guimarães SC, Pontual AA, Khoury HJ, Rodrigues
CD, Estrela C, Silveira MMF. Qualidade de Imagens
Radiográficas
Processadas
em
Consultórios
Odontológicos e em Laboratório. Rev Odontol Bras
Central. 2011; 20 (52) :79-82.
[7] Almeida CD. Levantamento estatístico de 10
critérios estabelecidos pela portaria 453 MS para os
odontólogos que utilizam raios X. International Joint
Conference Radio. Rio de Janeiro, 2005.
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