Capítulo 2
A Teoria Sintética
Introdução
Você já deve ter notado que para
Darwin estar correto é preciso uma condição
básica: tem de haver diferenças entre os
organismos de uma determinada espécie, de tal
forma, que o ambiente possa selecionar as
variações mais bem adaptadas.
Essa condição gerava um grande
embaraço para Darwin, porque ele não tinha
nenhum dado concreto a respeito do que
gerava essa variedade de indivíduos. Havia, na
época, um total desconhecimento sobre a
hereditariedade ( Mendel só publicaria seu
trabalho em 1865 que, mesmo assim, ficou
esquecido até 1900, porque, aparentemente,
ninguém entendeu o que ele quis dizer).
Foi apenas no século XX que a
genética surgiu como ciência e alguns
pesquisadores uniram os conhecimentos dela
com a teoria da evolução. A união desses dois
ramos da ciência gerou o que chamamos de
Teoria
Sintética
da
E v o l u ç ã o ou
Neodarwinismo.
Um grande feito da teoria sintética foi
explicar de onde vêm essas variações entre os
indivíduos de uma mesma espécie.
As Fontes de Variabilidade
Como dito, apenas em 1900 os
trabalhos de Mendel foram definitivamente
compreendidos. A descoberta de que as características hereditárias estavam “escritas” nos
fatores (atuais genes) representaram um grande
salto.
Logo depois dessa descoberta, vários
cientistas verificaram que os genes podem
sofrer alterações ao acaso (m u t a ç õ e s
gênicas).
Por incrível que pareça, a descoberta
das mutações fez com que vários cientistas
acreditassem que Darwin estava errado.
Segundo eles, a seleção natural não seria
necessária, visto que novas espécies poderiam
surgir a partir de uma simples mutação. Hoje,
sabemos que não é assim. Espécies novas não
surgem de forma abrupta por causa de uma
única mutação. Esse é um processo lento, em
que muitas alterações no DNA precisam ocorrer
e a seleção natural atuar.
Geralmente as alterações nos genes
são desvantajosas. Imagine, por exemplo, que
cada palavra desse livro seja um gene de um
determinado organismo. Agora substitua uma
palavra por outra, ao acaso. É claro que é muito
difícil que essa substituição faça com que o
texto se torne melhor. De qualquer modo, temos
vários exemplos de mutações que conferiram
vantagens a seus possuidores (leia o quadro
abaixo).
Contextualizando…
Como a maioria das mutações são prejudiciais, praticamente todos os seres vivos possuem um
sistema de reparo que as corrige. Além disso, os sistemas enzimáticos responsáveis pela duplicação do
DNA são “muito cuidadosos” no seu trabalho, de forma que a quantidade de mutações é pequena.
Mas pesquisadores do Laboratório de Mutagênese do Instituto Jacques Monod, da Universidade
de Paris, fizeram uma interessante descoberta sobre o tema. Segundo eles, quando bactérias são
submetidas a “situações de stresse intenso (como falta de alimento), O SOS (sistema de reparo do DNA)
funciona de modo inverso, estimulando a mutação. O SOS aumenta também a variabilidade
genética, provocando rearranjos cromossômicos (…). Finalmente, o SOS aumenta a taxa de
recombinação, inclusive entre sequências de DNA que não são rigorosamente idênticas. Ao fazer isso,
ele facilita a integração eventual de fragmentos de DNA provenientes de uma outra espécie.”
Numa situação como a descrita acima, de falta de alimento, alterações no material genético
podem ser muito boas, porque, a partir delas, pode surgir, por exemplo, uma nova enzima que permita
às bactérias fazer uso de uma nova fonte de alimento que até então elas não conseguiam digerir.
Nesse tempo falava-se de uma taxa de mutação mínima, visto que muitas causam problemas,
mas esses pesquisadores propõem o termo taxa de mutação ótima, visto que, sem elas, a evolução
não ocorre.
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Além das mutações gênicas existem
também as a b e r r a ç õ e s ou m u t a ç õ e s
cromossômicas. Elas podem ser classificadas
em numéricas e estruturais.
As numéricas envolvem a alteração na
quantidade de cromossomos e as estruturais
envolvem a perda ou incorporação de pedaços
de cromossomos.
As alterações cromossômicas são
menos frequentes do que as gênicas, mas,
ainda assim, desempenham um importante
papel na produção de variabilidade genética.
um com uma combinação única de alelos.
Mas ainda há uma outra maneira de
produzir novas combinações alélicas.
Crossing-over ou permutação
O crossing-over é uma troca de
pedaços entre cromátides de cromossomos
homólogos.
Com essa troca é possível formar
cromossomos, carregando novas combinações
de alelos (veja a figura abaixo).
Recombinação Gênica
Um ser vivo não é formado por
poucos genes. Nós, por exemplo,
possuímos milhares deles (estima-se que
cerca de 40.000). Ora, os genes não
trabalham isolados uns dos outros. É a
interação de todos eles que fazem um Sem o crossing-over só poderia ser formado dois tipos de gametas: AB e
organismo. Portanto, além da criação de ab. Com o crossing-over (representado pelas setas no desenho do meio)
um novo gene por mutação, um indivíduo surgem mais duas possibilidades: Ab e aB.
Portanto, podemos concluir que as
será diferente do outro por causa da
mutações produzem novos genes que se
combinação de genes que possui.
recombinam por meio da segregação
A reprodução sexuada por meiose (que
independente e do crossing-over gerando
produz os gametas) desenvolveu duas
uma grande variedade de organismos dentro
maneiras de recombinar os genes, formando
de uma determinada espécie. Essa variedade
sempre organismos diferentes (salvo os
é a matéria-prima que o ambiente utiliza para
gêmeos univitelinos).
selecionar os variantes mais bem adaptados.
Segregação
independente
A maneira como ocorre a segregação dos cromossomos homólogos
na anáfase I da
meiose é aleatória
(veja a figura ao lado).
Perceba en- Na situação I o fuso mitótico puxa os cromossomos com os alelos ABC para a esquerda e os
alelos abc para a direita formando dois gametas diferentes: ABC e abc. Na situação II os
tão que apenas a
cromossomos estão dispostos de outra maneira. Assim, pode se formar outros dois gametas:
segregação indepen- AbC e aBc. Na situação III os gametas seriam: abC e Abc.
dente já produz uma Fazendo alguns cálculos, podemos concluir que o número de combinações possíveis entre os
infinidade de indi- cromossomos é de 2 n, onde n é o número de pares de cromossomos. Portanto, um ser
víduos diferentes, cada humano pode formar 223 gametas diferentes.
Atualize-se
Desde a clonagem da ovelha Dolly muitos alunos me perguntam se essa técnica não poderia
salvar espécies ameaçadas de extinção. Afinal, à primeira vista, bastaria clonar os últimos
sobreviventes. O problema é que a clonagem produz indivíduos geneticamente idênticos e, como você
já viu, para que uma espécie evolua é preciso que haja diversidade, variabilidade genética. Sem ela não
ocorre a seleção natural, pelo simples fato de que não há o que selecionar.
Portanto, mesmo que conseguíssemos fazer 1.000 ou 100.000 clones de um indivíduo
representante de uma espécie ameaçada de extinção, essa espécie já teria chegado a seu fim evolutivo.
O Teorema de Hardy-Weimberg
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conhecido como terorema de Hardy-Weinberg
ou princípio de Hardy-Weinberg.
Esse teorema demonstra matematicamente que a proposta do aluno não está
correta, desde que se estabeleça algumas
condições.
Na verdade, o princípio de HardyWeinberg demonstra justamente o contrário. Ele
prevê que, se nenhum fator evolutivo estiver
atuando na população, a freqüência de
alelos permanecerá constante com o passar
das gerações (Veja o quadro abaixo).
Todas as vezes em que estou
explicando a primeira lei de Mendel, algum
aluno sempre me faz a mesma pergunta:
Se na F2 a proporção de indivíduos com
fenótipo dominante é de 75% e a de recessivos
é 25%, com o passar das gerações não vai
aumentar a frequência do alelo dominante até
sumir o recessivo?
Foi tentando responder a essa mesma
pergunta que o matemático inglês Godfrey H.
Hardy (1877-1947) e o médico alemão Wiilhem
Weinberg lançaram um teorema que ficaria
Fatores Evolutivos
Como já dito, o teorema de Hardy-Weinberg diz que, na ausência de fatores evolutivos, a
frequência dos alelos em uma determinada população permancerá constante com o passar das
gerações.
Sem Fatores Evolutivos
Freqüências
1
0.8
Freqüência do
alelo A
Freqüência do
alelo a
0.6
0.4
0.2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Gerações
Veja abaixo quais são os fatores evolutivos que alteraram o equilíbrio de Hardy-Weinberg
modificando as freqüências gênicas.
1. Mutações As mutações podem alterar a frequência dos alelos. Se a taxa de mutação do alelo
A, por exemplo, for diferente do seu alelo a, com o passar das gerações as freqüências se
modificarão e o alelo A se tornará cada vez menos frequente.
2. Seleção natural Imagine que um determinado alelo dificulte a sobrevivência de seu
possuidor, reduzindo suas chances de chegar a idade adulta e ter filhos. A tendência é que, com
o tempo, esse alelo se torne cada vez mais raro, estando a população fora do equilíbrio.
Seleção Natural Favorecendo o Alelo
a
Freqüências
1
0.8
Freqüência do
alelo A
Freqüência do
alelo a
0.6
0.4
0.2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Gerações
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3. Migração Não pode haver nem imigração nem emigração de indivíduos da população. Isso
gera um fluxo gênico que pode ou retirar ou introduzir alelos, alterando suas freqüências.
4. Cruzamentos preferenciais Não pode haver preferência por um determinado fenótipo para
cruzamento. Todos os cruzamentos devem ser casuais. Chamamos de Panmixia a qualidade
de uma população em que todos os cruzamentos são casuais.
5. Populações pequenas As populações devem ser muito grandes para que não ocorra a
chamada deriva genética. A deriva genética dá-se quando, pelo acaso, a freqüência de um
alelo aumenta ou diminui drasticamente, podendo até desaparecer. Em uma população pequena
isso pode acontecer com muita facilidade. Por exemplo, não é tão difícil você jogar uma moeda
para cima e o resultado ser cara cinco vezes seguidas. Agora jogar a moeda 100 vezes e as 100
resultarem em cara é muito mais difícil. Da mesma forma, uma população pequena pode, por
coincidência, na passagem de uma geração para outra, formar vários indivíduos homozigotos para o
mesmo alelo, por exemplo, AA. Nesse caso, a freqüência do alelo A sobe rapidamente e a do a cai.
Numa população grande (assim como no caso das moedas) dificilmente aconteceria isso.
Deriva Genética
Freqüências
1
0.8
Freqüência do
alelo A
Freqüência do
alelo a
0.6
0.4
0.2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
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Gerações
6. Efeito do fundador Imagine que uma ilha foi colonizada por poucos representantes de uma
determinada espécie de pássaros. Por serem poucos, eles possuem pouca variabilidade
genética. Nessa população a deriva genética seria levada ao extremo.
Como vimos, vários fatores podem alterar as freqüências gênicas de uma geração para outra.
Se você parar para pensar, vai perceber que, na realidade, é muito difícil encontrar uma população em
equilíbrio de Hardy-Weinberg, porque sempre, pelo menos, alguns dos fatores descritos acima estarão
atuando. Sua importância é chamar a atenção para o fato de que, se as freqüências gênicas não estão
constantes, é sinal de que está presente algum fator evolutivo.
Portanto, as populações em que esses
fatores evolutivos estão ausentes estão em
equilíbrio de Hardy-Weinberg.
Para que você entenda a equação do
equilíbrio de Hardy-Weinberg, imagine uma
população em que a frequência do alelo A seja
60% (0,6) e a do seu alelo a, 40% (0,4).
As porcentagens significam o seguinte:
cada organismo carrega dois alelos. Portanto,
em uma população de 50 pessoas, haverá 100
alelos, sendo 60 A e 40 a.
Para que nasça uma pessoa com o
genótipo AA é necessário que os dois gametas
que a formaram transportem o alelo A.
Prof. Dorival Filho
Como mostrado acima, cada gameta
carrega apenas um alelo, visto que é haplóide.
Portanto, para sabermos qual é a possibilidade
de nascer uma pessoa AA nessa população
basta multiplicarmos a frequência dos alelos A.
Observe abaixo:
Probabilidade de se formar um
0,6
espermatozóide A
Probabilidade de se formar um
0,6
óvulo A
Probabilidade de nascer um 0,6 x 0,6 = 0,36
indivíduo AA
ou 36%
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0,4
excludentes, como no caso acima, em que, por
exemplo, o espermatozóide ou é A ou a, não
podendo se dar os dois ao mesmo tempo, devese somar as probalidades. Veja abaixo:
0,4
0,24 + 0,24 = 0,48 ou 48%
0,4 x 0,4 = 0,16
ou 16%
Portanto a chance de se formar um
heterozigoto nessa população é de 48%.
Observe que, ao invés de somar 0,24 +
0,24 você pode simplesmente fazer 2 x 0,24,
que o resultado será o mesmo.
Agora você já está em condições de
entender a expressão do teorema de HardyWeinberg.
Considere que:
p = freqüência do alelo dominante f(A).
q = freqüência do alelo recessivo f(a).
Conclusão:
Veja agora como calcular
probabilidade de nascer um indivíduo aa.
Probabilidade de se formar
um espermatozóide a
Probabilidade de se formar
um óvulo a
Probabilidade de nascer
um indivíduo aa
a
Agora, muita atenção para a formação
do heterozigoto Aa. Ele pode se formar de duas
maneiras.
Condição 1:
Probabilidade de se formar
0,6
um espermatozóide A
Probabilidade de se formar
0,4
um óvulo a
Probabilidade de nascer
0,6 x 0,4 = 0,24
um indivíduo Aa
ou 24%
OU
Condição 2
Probabilidade de se formar
um espermatozóide a
Probabilidade de se formar
um óvulo A
Probabilidade de nascer
um indivíduo Aa
0,4
0,6
0,4 x 0,6 = 0,24
ou 24%
Freqüência de AA = p x p = p2
Freqüência de Aa = p x q + p x q = 2pq
Freqüência de aa = q x q = q2
Como, evidentemente, em uma
população qualquer, a freqüência de todos os
genótipos possíveis (AA + Aa + aa) é 100% ou
1 a expressão do teorema de Hardy-Weinberg
fica:
Nesse caso, caímos na regra do “ou”
do estudo de probabilidade de genética. Essa
regra diz que, quando os eventos são
p2 + 2pq + q2 = 1
Exercícios Resolvidos sobre o teorema de Hardy-Weinberg.
(PUC-SP) Uma população que está em equilíbrio de Hardy-Weinberg é constituída por 2 mil indivíduos.
Sabe-se que 320 deles têm uma certa anomalia, determinada por um gene autossômico recessivo.
Entre os indivíduos normais dessa população, qual o número esperado de portadores desse alelo
recessivo?
Resposta:
Se a doença é autossômica recessiva, significa que os 320 indivíduos que a possuem são aa. Numa
população de 2 mil indivíduos 320 representam 16% (0,16).
Ora, a freqüência do genótipo aa é representada na equação de Hardy-Weinberg por q2. Logo para
descobrirmos qual a freqüência do alelo a basta fazermos:
q2(faa) = 0.16
q(fa) = 0,4
Portanto, a freqüência do alelo a é de 0,4 ou 40%. Como a soma do a com o A tem que dar 100%, fica
fácil descobrirmos a freqüência do alelo A. Basta subtrairmos 1 – 0,4 que acharemos 0,6 (ou 60%).
A questão quer saber dentre os indivíduos normais quem é portador do alelo a. Para ser normal e
portador do gene recessivo, é preciso ser heterozigoto (Aa). Os heterozigotos são representados por
2pq. Logo basta substituirmos o p e o q na fórmula:
2 . 0,6 . 0,4 = 0,48 (ou 48%).
Ou seja, 48% dos dois mil indivíduos da população são heterozigotos. 48% de 2 mil representam 960
indivíduos. Portanto essa é a resposta do problema. 960 indivíduos são normais, mas apresentam o
alelo recessivo que determina a anomalia.
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15
Acaso x seleção natural
Para Darwin a seleção natural é criativa.
É seu contínuo trabalho de selecionar os
variantes mais bem adaptados que vai criando
espécies novas.
Contudo, muitos cientistas não
acreditam que a seleção natural tenha tanto
poder assim. Para eles o acaso, por exemplo,
pode ser muito mais importante.
Para chegar a essa conclusão, eles
observaram a imensa variedade genética entre
os indivíduos de uma mesma espécie. Ora, se a
seleção natural fosse tão presente, não poderia
haver tantas formas alélicas para uma mesma
característica, afinal, o ambiente selecionaria
apenas as melhores.
Tentando resolver essa questão um
pesquisador japonês chamado Kimura lançou o
que ficou conhecido como teoria neutralista.
Segundo ela, se encontrarmos dois, três, quatro
ou mais alelos ao mesmo tempo numa
população, com freqüências constantes, é
porque todos eles são equivalentes. N ã o
haverá um melhor do que o outro, a ponto de
o ambiente poder selecioná-los. Logo, para a
seleção natural, eles serão neutros.
Durante um bom tempo, houve uma
discussão sobre quem estaria com a razão: os
que defendiam a seleção natural, ou os
defensores do neutralismo. Aparentemente,
hoje, há um consenso de que o que vale é o
meio termo. Realmente muitas mutações são
neutras, não conferem vantagem nem
desvantagem. Mas, mutações que provoquem
alteração em proteínas essenciais para o bom
funcionamento do organismo sofrem a
influência da seleção natural.
Proteínas, como as histonas, que se
ligam ao DNA, são extremamente estáveis do
ponto de vista evolutivo. Se compararmos a
seqüência de aminoácidos que formam as
histonas em peixes, com a de humanos
notaremos pouquíssima diferença, apesar de
peixes e humanos estarem afastados
evolutivamente entre si, por milhares de anos.
Já a comparação envolvendo proteínas
que não comprometem tão diretamente a saúde
mostra que as diferenças são muitas. Portanto,
para essas proteínas, várias modificações
podem ocorrer ao acaso, porque elas são
neutras, não causam nem bem nem mal. Já as
histonas, que são importantíssimas, não têm
essa mesma “liberdade” para mudar, porque
pequenas alterações podem ser eliminadas pela
seleção natural.
Contextualizando…
Você já leu anteriormente uma matéria sobre animais que vivem em cavernas em que lhe foi
mostrado como Lamarck e Darwin explicariam a evolução deles. Observe na matéria abaixo explicações
sobre a evolução desses organismos troglóbios (que vivem em cavernas) baseadas no neutralismo.
Adaptação da matéria “Guano de Morcegos, fonte de vida nas cavernas” publicada pela revista “Ciência
Hoje”, no 146.
(…)
Saber como certas características dos troglóbios evoluíram torna o estudo da vida em cavernas
mais interessante. Em geral, esses animais apresentam várias especializações relacionadas ao
ambiente cavernícola.
(…)
Para descrever a primeira hipótese (de como essa evolução ocorre) é fundamental esclarecer
antes o que significa o termo “mutação neutra”. (…) Uma mutação neutra é aquela que não influencia
nenhum aspecto importante da sobrevivência e/ou da reprodução de um organismo – a “neutralidade”,
porém depende do ambiente em que esse organismo vive.
Essa hipótese assume que a regressão de certas estruturas, observada em alguns organismos
que vivem em cavernas é resultado do acúmulo de mutações neutras (que aparecem casualmente em
indivíduos de uma população) durante várias gerações. Sem função nesses ambientes, tais estruturas
(olhos, por exemplo) seriam gradativamente reduzidas com o passar das gerações, pois mutações
casuais nesse sentido não afetariam a sobrevivência ou reprodução do indivíduo.
(…) A hipótese de acúmulo de mutações neutras, portanto, propõe que a regressão de
estruturas em muitos troglóbios pode ter ocorrido por causa da ausência de pressões seletivas (como a
luz) que eliminariam indivíduos mutantes no meio externo (…).
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O Que a Evolução NÃO é
Como todos os conceitos importantes, a evolução gera controvérsia; ela tem sido usada como
fundamento intelectual para pontos de vista fiiosóficos, éticos ou sociais e religiosos. Em seu sentido
mais amplo, a evolução é meramente mudança e, desse modo, é uma idéia de ampla penetração; notese que galáxias, linguagens e sistemas políticos também evoluem. Evolução biológica é a mudança que
ocorre nos organismos em um período de vida maior que o de um único indivíduo. As mudanças que
ocorrem no indivíduo durante sua vida não são consideradas evolutivas; Organismos individuais não
evoluem. As mudanças que são consideradas evolutivas são aquelas herdáveis via material
genético, de uma geração para a outra.
Os diversos mecanismos de evolução incluem a seleção natural, que é responsável pelas
adaptações dos organismos a diferentes ambientes. Nem a seleção natural, nem qualquer dos outros
mecanismos são medidas prévias para alcançar algum fim; a seleção natural, por exemplo, é somente a
sobrevivência ou reprodução superior de algumas variantes genéticas, em comparação com outras, sob
quaisquer condições ambientais que estejam prevalecendo NO MOMENTO. Desse modo, a seleção
natural não pode equipar uma espécie para encarar novas situações futuras nem tem propósito
ou direção - nem mesmo o da sobrevivência da espécie. A seleção natural é tão mecânica quanto
a gravidade, ela não é moral nem imoral.
Portanto, para as pessoas que acreditam que tudo existe para um determinado propósito, a
evolução torna-se de difícil compreensão. Além disso, essas pessoas têm dado significados à evolução
que nem Darwin nem os biólogos modernos aceitam. Alguns igualaram a evolução a "progresso" das
formas de vida "inferiores", em direção às "superiores". A própria palavra progresso implica direção e,
como já vimos, a evolução não tem proposito ou direção.
Há ainda a suposição de que o que é “natural" é "bom". Dessa forma a lei da seleção natural e
o "progresso", este erroneamente atribuído à evolução, foram pregados pelos Darwinistas sociais como
um princípio ético que Darwin negava. Esses darwinistas sociais pretenderam, com isso, justificar a
competição econômica desenfreada, o capitalismo e o imperialismo, fundados na suposição de que o
que é natural é bom.
Texto adaptado do /ivro “Biologia Evolutiva" do autor Douglas Futuyma
Seleção Natural em Crise?
Nesse capítulo você estudou que existem outros fatores que participam do processo evolutivo
além da seleção natural proposta por Darwin. Atualmente, existem cientistas que defendem que a
seleção natural desempenha um papel fundamental na evolução, tendo definido inclusive o
comportamento humano. Na ala oposta, estão
aqueles que acreditam que os fatores
evolutivos até agora descrito são insuficientes
para explicar alguns aspectos morfológicos e
fisiológicos.
Existem alguns processos fisiológicos
nos seres vivos que precisam de um grande
número de componentes para que funcione.
Detalhe, se for retirado um deles, nada mais
funciona. Existem sistemas que só funcionam
se todas as peças estiverem presentes no
Fonte: A Caixa Preta de Darwin.
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lugar e no momento certo, eles são chamados de sistemas de complexidade irredutível.
O pesquisador Michael Behe, defensor dessa idéia, dá alguns interessantes exemplos de
sistemas de complexidade irredutível. Um deles é a ratoeira (veja o desenho na página anterior).
Observe que basta uma das peças que compõem a ratoeira estar ausente para que ela não funcione
mais.
Mas, o que isso tem a ver com a evolução? Nos seres vivos existem muitos sistemas de
complexidade irredutível e os evolucionistas não têm conseguido explicar satisfatoriamente como eles
evoluíram.
O problema é que Darwin defendeu que um sistema simples pode evoluir para um mais
complexo por meio de uma série de etapas intermediárias, mas, desde que cada etapa seja útil ao seu
possuidor. Acontece que em sistemas de complexidade irredutível, as etapas intermediárias não
trazem nenhuma vantagem seletiva, porque,
lembre-se, ou todas as peças estão juntas ao
mesmo tempo ou nada funciona.
Um bom exemplo biológico disso é o
flagelo bacteriano. Observe no desenho quantas
proteínas são necessárias para seu
funcionamento. Se uma célula tivesse apenas
uma delas, ou mesmo algumas, aparentemente,
isso não traria nenhuma vantagem para a célula.
Se não traz vantagem como é que a seleção
natural favoreceu seu desenvolvimento de
forma a posteriormente ter surgido o flagelo Fonte: Biochesmistry
inteiro? Essa é uma das questões mais sérias
que os evolucionistas enfrentam hoje.
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Supra-Sumo
A única fonte de novos genes é a mutação. A segregação independente e o crossing-over
“apenas” criam novas combinações de genes.
As mutações são aleatórias. Portanto, não surgem mutações para atender a uma
determinada necessidade.
As mutações, a segregação independente e o crossing-over, criam uma grande quantidade de
organismos geneticamente diferentes dentro de uma espécie. O ambiente, então, tem a matériaprima necessária para fazer a seleção natural.
Caso nenhum fator evolutivo (mutações, seleção natural, migração…) esteja atuando, as
freqüências de genótipos e alelos permanecerão constantes, com o passar das gerações
(Teorema de Hardy-Weinberg).
O teorema de Hardy-Weinberg pode ser expressado por: p2 + 2pq +q2.
Algumas mutações são neutras, ou seja, não produzem um efeito suficientemente grande para
serem “percebidas” pelo ambiente e sofrerem o efeito da seleção natural.
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Evolucao-capitulo 2