REPRESENTAÇÃO IMAGINÁRIA DO SER PROFESSOR
Mariza de Andrade Brum
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RESUMO
O presente texto representa uma busca da compreensão do imaginário do ser
professor no século XXI. Essa proposta se justifica, na medida em que, hoje
esse profissional ao educar, depara-se com uma sociedade complexa
decorrente de profundas mudanças, isto é a crise global. Concluo que o
significado do termo imaginário faz parte da linguagem cotidiana, mas a idéia,
ou seja, o significado no campo das ciências humanas ainda é um tema novo
para o campo da formação contínua do professor.
Palavras chave: imaginário, formação contínua, tecnologias.
Representação imaginária do ser professor
Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo,
de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar. (Freire, 2003, p.144)
A idéia da escrita nasceu diante da disposição de aventurar-me na
escrita sobre o imaginário, então a questão é começar (Marques, 2003).
A construção deste texto tem o propósito de refletir sobre o imaginário e
assim compreender o que pensam, o que fazem e o que almejam os
professores trabalhadores da educação. Diante dessa perspectiva, buscar
elementos para desvendar o imaginário deste grupo social, o professor em
formação continuada. Estes são sujeitos em constante formação durante sua
trajetória profissional, “mulheres e homens, somos os únicos seres que social e
historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os únicos
em quem aprender é uma aventura criadora”. (Freire, 2003). Aprender é
também evocar o imaginário.
O significado conceitual de imaginário é um conjunto de símbolos e
atributos de um povo ou de determinado grupo social (Aurélio, 2004). O
professor. Silva (2006) em um estudo original “As tecnologias do Imaginário”
escreve que “o imaginário é um sonho que realiza a realidade, uma força que
impulsiona indivíduos ou grupos” (p.12). E é na realidade onde ocorre as
transformações materiais.
Hoje, esse professor defronta-se com uma sociedade complexa
decorrente de mudanças paradigmáticas, sendo uma das conseqüências
provocadas pelo fenômeno da globalização. Fenômeno este que atinge todos
os setores da sociedade, repercutindo nas interações do conhecimento do
indivíduo em nossas instituições de aprendizagem.
Santos, (2008) disserta que
Vivemos num tempo atónico que ao debruçar-se sobre si próprio
descobre que seus pés são cruzamento de sombras, sombras que vêm
do passado que ora pensamos já não sermos, ora pensamos não
termos ainda deixado de ser, sombras que vêm do futuro que ora
pesamos já sermos, ora pensamos nunca vir a ser. [...] (p.13)
Para
Maffesoli
(2005,
p.9)
“as
grandes
certezas
desmoronam
regularmente. Os acontecimentos, as mutações e as inovações fazem apelo as
novas maneiras de pensar a sociedade”. No Brasil nas últimas décadas
estamos a viver as maiores e mais radicais mudanças nas interações e na
construção dos conhecimentos em todas as áreas. Essas alterações são
provocadas pelo avanço das tecnologias, a qual nos liga com o mundo em
tempo real, através da popularização da internet. Veiga-Neto (2008, p. 2) relata
que “tal mudança conecta-se intimamente com as relações entre a liquidez do
pós-moderno e a flexibilidade” com que hoje é tratada na tecnologia. O
sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em entrevista exclusiva fala sobre um
grande desafio entender as mudanças que afetam a sociedade com a chegada
da modernidade líquida. (CPFL Energia e o Fronteiras do Pensamento).
Maffesoli (2008), autor contemporâneo, que não trabalha com definições em
seu formato de escrita, se diz pensador que reflete a sociedade, que há muito
tornou-se global.
Diante das mudanças profundas que está a afetar todos os envolvidos na
sociedade, consequentemente na educação, o que passa pelo imaginário do
professor diante de todas essas transformações? Que ferramentas poderá ele
utilizar para sentir-se protagonista na construção do conhecimento?
Com a introdução das tecnologias nos espaços, por exemplo, de
formação contínua, institui-se nas relações de interação professor x aluno, outro
jeito de construir conhecimento e da realização da aprendizagem. Com isso, o
ser professor sente-se provocado a transformar o seu pensar, seu fazer e a
almejar diferentes percursos para a construção da sua historia de vida.
Os seres humanos, diferentemente dos outros animais nascem
inconclusos e inacabados (Freire, 2003), e por isso, constrói uma história de
vida com seus pares na sociedade percorrem um determinado curso de vida
tanto pessoal como profissional (Brum, 2007). Essa inconclusão humana,
remete para uma formação/autoformação, de acordo com o pensamento de
Larrosa
passa a ser olhada como um percurso, uma viagem aberta, uma
viagem que não pode ser antecipada [...] que através da relação com
as formas mais nobres, fecundas e belas da tradição cultural alguém é
levado até si mesmo, pela paixão que se rompe a cada movimento da
vida, pela descoberta, pelo encontro consigo mesmo e com os outros.(
apud Brum 2007, p.34)
Para o pedagogo e filósofo Paulo Freire (2003)
[...] a construção da minha presença no mundo, que não se faz no
isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se
compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que
herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver comigo [...]
(p.53).
Perante estes pensamentos considera-se a ideia de que existem formas
diferentes de viver a presença no mundo, pois fazer a vida uma obra de arte,
parece que tornou-se uma imposição (Maffesoli, 2005). Muitas literaturas de
formação do professor ditam verdadeiras receitas de como ser um bom
profissional na educação. Adverte-nos, Maffesoli (2005) “que é toda a vida
cotidiana que pode ser considerada uma obra de arte”. Por isso, urge pensar o
cotidiano do professor qualquer que seja o nível de atuação em seu trabalho.
Entretanto, o professor que se constitui no modelo da racionalidade
técnica ao realizar a compreensão da realidade pensa que é possível superar
aquele trabalho rotineiro, inútil, sem esperança e irá modificar a vida profissional
ao seguir as regras impostas pela tradição cartesiana. É esta visão reducionista
que envolve a racionalidade científica que não permite que a produção do
conhecimento considere a complexidade que constitui o indivíduo e a sociedade
(Morin, 2001)
Com o propósito de entender o imaginário do professor e assim
compreender o que fazem, busco auxílio da criação mitológica. Com isso, criar
um conjunto de características do imaginário deste grupo social. Em seu
cotidiano muitas vezes não seria o professor como o Sísifo, um homem letrado
o qual faz de sua profissão uma enorme pedra que levada ao topo de uma
montanha para que role morro abaixo e volte a ser erguida no dia seguinte na
rotina de seu trabalho que se repete sem criatividade? Por durante longos anos
em sua profissão, cada vez mais distanciando-se da criatividade, da realização
dos sonhos que impulsionaram o início da profissão? Estaria ele empenhado
num grande esforço, num grande sacrifício como profissional que poderia não
estar levando a nada como sísifo da mitologia? Estaria ele fadado a essa
missão em sua trajetória profissional.
Uma trajetória profissional docente onde a realização da formação se dá
de maneira contínua poderá gerar nesses profissionais um processo de
autoformação, assim como uma atitude reflexiva no seu pensar, no seu fazer e
no que almejam. De acordo com Santos (2008) “todo conhecimento científico é
autoconhecimento”.
CONCLUSÃO
Hoje as necessidades das pessoas para conviver e trabalhar em uma
sociedade globalizada é diferente do que há vinte anos atrás. A própria
evolução do saber humano encontra-se diferenciada e complexa. Por isso, o
professor é chamado para levar em conta o imaginário em sua formação
profissional de forma contínua. Pois é através do imaginário que o professor
experimenta outra maneira de pensar, de fazer e desejar construir a vida
pessoal e profissional como uma obra de arte em seu cotidiano. A educação
continuada ao longo de toda vida, pode incitar a utilização da criatividade e a
capacidade de reflexão.
Referências Bibliográficas
BRUM, Mariza de Andrade. O Docente no Ensino Superior, sua História, seu
Presente e seu Futuro. Monografia de Especialização (Especialização em
educação) - Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria. Santa
Maria, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 27ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
LARROSA, J. Pedagogia Profana. Belo Horizonte:Autêntica, 2000.
MAFFESOLI, Michel No Fundo das Aparências. Tradução, Gurovitz. 3ª Ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2005
SANTOS, Boaventura de Souza Santos. Um discurso sobre as Ciências, 5ª
Ed. São Paulo: Cortez, 2008 (1987)
SILVA, Juremir Machado. As tecnologias do imaginário. 2ª Ed. Porto
Alegre:Sulina, 2006.
VEIGA-NETO, Alfredo. Crise da modernidade e inovações curriculares —
da disciplina para o controle. Programas de Pós-Graduação em Educação
Linhas de Pesquisa: Currículo, Profissionalização e Trabalho Docente (UFPEL)
Currículo, Cultura e Sociedade (UNISINOS). II SEMINÁRIO DE PESQUISA:
POLÍTICAS DA SUBJETIVIDADE E PRÁTICAS DE DIFERENÇA EM
EDUCAÇÃO. Pelotas, 2008
http://www.cpflcultura.com.br/site/2011/08/16/dialogos-com-zygmunt-bauman/
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