PENSAMENTO DE
CHRISTOPHE DEJOURS SOBRE
O HOMEM NO AMBIENTE DE
TRABALHO
DA PSICOPATOLOGIA À PSICODINÂMICA DO
TRABALHO
2ª PARTE: 28/10/2010
. Christophe Dejours, como médico psicanalista e
psicossomático, desenvolveu pesquisa buscando
encontrar, no ambiente de trabalho, a existência de
psicopatologias.
. Fundamentado em 3 décadas de pesquisas e trabalho de
campo, possui uma visão fértil e dinâmica acerca das
relações entre saúde e trabalho, para além do
reducionismo médico-biológico.
. Procura tratar do trabalho não só em seu negativo, mas
nos instrumenta para perceber novas possibilidades do
trabalho como estruturante psíquico – do sofrimento para
o prazer e a saúde.
. Visa sempre a restauração da integridade e dignidade do
homem no papel de “produtor”.
. Voltado para a “Clínica do Trabalho”, fala que “o
conflito entre a organização do trabalho e o
funcionamento psíquico, vai além do modelo causalista”.
Vê o trabalho não como fundamentalmente
enlouquecedor, mas como algo que pode levar o homem
ao sofrimento psíquico, dependendo do ambiente de
trabalho em que ele se encontra.
. Em suas pesquisas os trabalhadores não se mostraram
passivos , mas capazes de se protegerem dos efeitos
nefastos do ambiente de trabalho e sua saúde mental...
... Eles sofriam, mas sua liberdade era exercida, mesmo de
forma limitada, na construção de sistemas defensivos,
fundamentalmente coletivos.
. Isso fez com que o foco fosse modificado: saiu da
preocupação de buscar doenças mentais geradas pelo
trabalho para o sofrimento e as defesas contra esse
sofrimento. Daí, o enigma é a normalidade, mesmo com
sua instabilidade, a busca constante de equilíbrio,
precariedade, entre sofrimento e defesas.
. Das doenças mentais, passa, então a considerar o
sofrimento e o prazer como existentes no trabalho.
. Novo nome de sua linha de pesquisa se estabiliza: de
Psicopatologia para Psicodinâmica do Trabalho.
. Baseado no estudo do modelo japonês organizado por
Hirata em 1990, Dejours apresentou as características e
condições de mobilização no trabalho com um tipo de
Inteligência Criativa, Astuciosa e Corporal, passando
depois à Inteligência Prática e à Sabedoria Prática,
chegando ao conceito de FATOR HUMANO já visto por
nós na primeira aula.
. Utiliza a sua intervenção no debate acerca da perda de
centralidade e significado do trabalho.
. Vê o trabalho em seu caráter sempre enigmático,
ressaltando três dimensões essenciais: a engenhosidade,
a cooperação e a mobilização subjetiva.
. Segundo Dejours, cabe ao trabalho a tarefa de mediação
na relação entre psicanálise (sua teoria de suporte) e a
política, tendo como horizonte a conservação e a
realização de si no mundo social.
Funciona como “mediador privilegiado” entre
inconsciente e ordem coletiva.
. O trabalho é visto como “operador fundamental da
própria construção do sujeito, colocado no centro da
Psicologia, no mesmo nível da sexualidade”.
. Na realidade, Dejours deseja deixar claro que o objeto da
psicodinâmica do trabalho é o “sentido do trabalho”, ou
seja, o seu significado para o sujeito, possibilitando seu
crescimento pessoal e o reencontro com sua subjetividade
(e criatividade), tão esquecida atualmente no modelo de
organização da qual muitos de nós ainda fazemos parte.
. Vamos parar um pouquinho agora e vamos pensar no
significado do trabalho para todos nós...
CRÍTICA DE CHRISTOPHE DEJOURS
AO TAYLORISMO
. No seu livro “A loucura do trabalho: estudo da
psicopatologia do trabalho”, no início de suas pesquisas,
Dejours faz fortes críticas ao taylorismo, através de sua
teoria “Organização Científica do Trabalho”.
. Segundo Dejours, o taylorismo é responsável por uma
tripla divisão: divisão do modo operatório, divisão do
organismo entre órgãos de concepção intelectual, enfim,
divisão dos homens, compartimentados pela nova
hierarquia (contra-mestres, chefes de equipe...).
. Afirma ainda que o homem “artesão”, do trabalho,
desapareceu para dar a luz a um aborto, isto é, um corpo
instrumentalizado-operário de massa, despossuído de seu
equipamento intelectual e de seu trabalho mental.
. O taylorismo não é apenas uma realidade do século XX,
mas ainda se encontra presente em muitas empresas.
Mesmo pregando uma administração participativa e
realização pessoal há o abuso constantemente com o que
chamamos hoje de sobrecarga de trabalho ou situações de
“mobbing” ou “bullying” sobre seus funcionários,
principalmente entre aqueles que trabalham no chamado
“chão de fábrica”.
. Não se pode, entretanto, apontar para o capitalismo e
dizer que ele é o responsável pelo sofrimento psíquico no
ambiente de trabalho, ou dar ênfase aos
socialismo/populismo, que também não se apresentam como
modelos exemplares.
. Por isso Dejours faz essas críticas, pesquisando
diretamente no meio das empresas, através de
entrevistas individuais, procurando encontrar não em si
mesma as psicopatologias, mas sim, entender como os
trabalhadores conseguem manter um equilíbrio psíquico
e manter-se na normalidade, isto é, saudáveis...
. Para Dejours o sofrimento varia de acordo com a política
administrativa de cada empresa e vai começar quando
ocorrer o “choque entre a história individual (do
trabalhador), portadora de projetos, de esperanças e de
desejos, e uma organização do trabalho que os ignora”.
. Quando o trabalhador é privado da possibilidade de
adaptar o seu trabalho às suas necessidades físicas e
psicológicas, abre-se a guarda para que o sofrimento se
instaure.
. Baseando-nos no conceito de saúde da Organização
Mundial de Saúde (O.M.S.), “o completo bem-estar físico,
mental e social”, vamos pensar aqui sobre esse sofrimento
psíquico, mas tirando de nós a experiência...
. O conceito de normalidade, para ele é dividido em 3
partes:
=> Equilíbrio precário (psíquico);
constrangimentos do trabalho desestabilizantes; e
 defesas psíquicas.
. O sofrimento é então definido como o espaço de luta que
cobre o campo situado entre, de um lado, o “bem-estar” , e
, de outro, a doença mental.
. Foi somente na década de 80 que se entende que os
transtornos psíquicos e a saúde mental são
desencadeados pela organização do trabalho (condições
físicas, biológicas, químicas, e divisão de tarefa*),
levando em consideração as relações humanas nela
existentes.
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CONTINUAÇÃO DO PENSAMENTO DE CHRISTOPHE DEJOURS