Educação e gestão ambiental, de Genebaldo Freire Dias
Ricardo Ferreira Ribeiro
A imagem que nos vem à cabeça quando alguém se refere à gestão ambiental é a de
uma prefeitura administrando um município, ou de um grande empreendimento (uma
fábrica, mineração, projeto agropecuário, shopping, etc) enfrentando os impactos que
provoca sobre o mundo natural e as comunidades próximas. Apesar de estarmos na
universidade, não identificamos que as nossas ações no cotidiano (o ensino, a pesquisa e
a extensão), também geram problemas ambientais e que necessitam de medidas para
minimizar os seus efeitos negativos.
O novo livro de Genebaldo Freire Dias, Educação e gestão ambiental, constitui-se não
só em mais uma contribuição desse mestre e doutor em Ecologia pela UnB para o seu
rico rol de reflexões sobre educação ambiental, mas se configura em um alerta à nossa
miopia ambiental e ao nosso comodismo acadêmico. Conseguimos enxergar a urgência
da gestão ambiental em vários lugares fora da universidade, mas não nos debruçamos
sobre o seu desenvolvimento intra-muros.
Genebaldo Dias fala com a autoridade de quem colocou suas preocupações e idéias em
prática e enfrentou esse desafio na Universidade Católica de Brasília - UCB, onde
realiza “sonhos desde 1985”, como ele bem define sua relação com essa instituição. E
trata-se de um enorme desafio: criada em 1974, como Faculdade Católica de Ciências
Humanas, transformou-se em universidade 21 anos depois, possuindo, hoje, um campus
de 600 mil m2, que abriga 87 cursos, 890 professores, 18 mil alunos, 104 laboratórios,
uma biblioteca com 190 mil títulos, 72 projetos de pesquisa com recursos próprios e
beneficia cerca de 35 mil pessoas com seus projetos sociais. Como consultor, ele foi
responsável pela implantação, em 1999, do Projeto de Educação Ambiental no campus
da UCB, que surgiu dos questionamentos de estudantes de diversos cursos com os
problemas identificados no modo de operação da universidade.
A publicação em questão surge, inicialmente, como um “livreto”, como define o próprio
autor, intitulado Ecos de um Projeto de Educação Ambiental, voltada para divulgação
interna na UCB, dos resultados por ele obtidos, mas despertou tanto interesse também
junto ao público externo, que motivou um trabalho de circulação mais ampla. Nele,
após uma introdução em torno dos problemas ambientais do modelo de
“desenvolvimento” adotado e sobre o nosso “analfabetismo ambiental”, Genebaldo Dias
apresenta o que é o Projeto de Educação Ambiental da UCB, quais os seus objetivos,
qual o seu marco referencial. Retoma a sua discussão sobre educação ambiental,
presente também em outros trabalhos, mostrando os limites de ações ecológicas como
reciclar latinhas ou preservar florestas, frente aos desafios de ordem estrutural,
identificados em um modelo de “desenvolvimento” gerador de degradação e exclusão
social. Destaca a importância da revisão dos nossos padrões de consumo, reconstrução
de relações e valores e necessidade de novos conhecimentos e saberes, incluindo o seu
trabalho como uma “pequena demonstração” de como desenvolver a responsabilidade
socioambiental.
A metodologia para o desenvolvimento de projetos de gestão ambiental, sugerida no
livro, se baseia nas experiências bem-sucedidas de educação ambiental no Brasil e
Sinapse Ambiental, V.1 N.4 Junho de 2007.
inicia-se com a caracterização do perfil ambiental da instituição, que envolve a
discussão de sua cultura, seus valores, seu metabolismo energético e material, sua
estrutura, função e dinâmica. O passo seguinte é a elaboração do diagnóstico
socioambiental, onde são identificados os principais problemas ambientais da
instituição (passivo ambiental) no que se refere a desperdícios, descumprimento das leis
ambientais, poluição e outros. Na UCB, o diagnóstico revelou que esta Universidade
possuía práticas contraditórias aos seus princípios, apresentando um passivo ambiental
na casa dos 3 milhões de dólares (1US$ = R$ 3,00, 1999). Foram identificadas várias
“não-conformidades ambientais”, algumas realcionadas à inadequação de
procedimentos, como manejo incorreto da área verde, com uso excessivo de venenos,
eliminação da flora nativa, mutilações das árvores, plantio de espécies inadequadas e
maus-tratos à fauna silvestre, através da destruição de ninhos e de habitat. Outras se
referiam à poluição sonora (uso de sirenes e outras fontes estressantes) e atmosférica
(incinerações irregulares) ou à disposição inadequada de resíduos sólidos (lixões).
Outras mais estavam associadas ao desperdício de combustíveis, água e energia elétrica,
que ao ser eliminado, junto com a redução de outros gastos com equipamentos e
compras permitiram uma economia de 240 mil dólares/ano à UCB. Esses dados
comprovam que embora não seja esse o seu principal objetivo, a gestão ambiental dá
lucro e ainda permite a ampliação da divulgação da instituição junto à mídia e a
melhoria da sua imagem na comunidade.
Genebaldo Dias revela que o grande segredo para a obtenção de tais resultados é a
educação ambiental não-formal, realizada em seminários de sensibilização, que
envolveram, durante dois anos, 75% dos funcionários daquela Universidade. Como há
uma renovação significativa do quadro funcional, ela tem que ser constantemente
repetida, bem como, estar presente em toda acolhida de calouros e na sensibilização de
veternanos, com o livreto 55 Ações Individuais para a Sustentabilidade, também de sua
autoria.
Mais do que em outras áreas da administração, a gestão ambiental não pode ser um ato
de vontade da autoridade responsável: ela deve ser fruto de uma sensibilização e
mobilização de toda a comunidade envolvida. Caso contrário, uns terão que recolher o
lixo jogado no chão por outros; ou será necessário atribuir a um grupo o papel de
minimizar os impactos provocados pelos que não se preocupam com a questão. Aqueles
que se sentem já sensibilizados e percebem a necessidade de agir, devem dar um
primeiro passo nessa longa e prazeirosa caminhada da gestão ambiental, convidando e
convencendo aos demais a marchar juntos. Nesse sentido, o livro Educação e gestão
ambiental, de Genebaldo Freire Dias, se constitui não em um mapa, mas numa bússula,
pois todos nós sabemos que “caminheiro não há caminho, o caminho se faz ao
caminhar”.
Sinapse Ambiental, V.1 N.4 Junho de 2007.
Download

Sinapse Ambiental, V.1 N.4 Junho de 2007. Ricardo