AS LINGUAGENS DO CORPO E DAS ARTES SOB UM NOVO
OLHAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Edilane Oliveira da SILVA
[email protected]
GRUPO DE PESQUISA FRESTAS E PROFESSORA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA
CRECHE MUNICIPAL ELZA MACHADO DOS SANTOS
Graciele Andrade RANGEL
[email protected]
GRUPO FRESTAS E PROFESSORA ASSISTENTE DO COLÉGIO SAINT JOHN
RESUMO EXPANDIDO
Começamos este artigo relatando o quanto o curso de Extensão em Educação Infantil
da Unirio, fez com que pudéssemos nos reencontrar com um corpo que fala, sente, grita se
descobre. Mas principalmente nos fez reencontrar com uma criança que estava adormecida se
distanciar de um adulto engessado que separava corpo e mente que esquecia que esse não é
apenas um instrumento que nos leva de um lugar para o outro. Este precisa ser conhecido,
tocado, explorado através das diversas possibilidades que o curso proporcionou. Às vezes ficou
difícil desnudar-se dos nossos pré-conceitos, deixar nos levar apenas pelos nossos
movimentos, permitir que outro pudesse nos tocar, enfrentar nossa timidez e nos permitir
criar, perceber que estávamos aprendendo ou reaprendendo a dialogar com corpo e mente
,teoria e prática de uma maneira inovadora, onde todas as linguagens se faziam presente,
desde que estivéssemos “abertos” para aprender através de uma metodologia que nos fazia
sair da nossa zona de conforto e fôssemos sujeitos ativos no nosso processo de construção do
conhecimento.
À medida que os módulos eram apresentados com diferentes linguagens das artes, a
cada proposta um novo desafio de criar com diferentes materiais, nas artes visuais ter um
olhar mais aguçado, nos desenhos diferentes forma de se expressar, na dança, no teatro tendo
o corpo como instrumento de criação. E o mais importante é que descobrimos que somos
capazes, não de nos tornamos artistas, mas de nos conhecermos, reencontrando com aquela
criança que habita em nós que cria, com pedrinhas, folhas secas etc. Ou seja, que esta
formação nos sensibilizou a mudar nossa prática cotidiana, perceber a criança com um sujeito
repleto de potencialidades, as quais podemos ajudar a desenvolvê-las, através do mesmo
processo os quais estávamos aprendendo coletivamente. Sendo estas aprendizagens
significativas.
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Com o fim do Curso de extensão ficamos com a sensação de que tudo aquilo que
vivemos não podia ficar apenas dentro do espaço da Unirio. Lógico que compartilhávamos com
nossos colegas de Trabalho. Mas ainda queríamos expandir esta experiência. Daí que surge o
nosso grupo de pesquisa, através de nossas inquietações e pela confiança da nossa professora
Adrianne ôgeda. O nosso grupo Frestas (formação e ressignificação do educador: saberes,
troca, arte e sentidos) está nos possibilitando a sermos professores pesquisadores
investigando e vivenciando de forma ativa, como defende Freire (2011,p.31) “pesquiso para
constatar constatando, intervenho, intervindo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer o
que ainda não conheço, e comunicar ou anunciar a novidade). Portanto, é fundamental
termos contato com diferentes linguagens da arte em suas dimensões, mas principalmente,
nos tornando mais sensível a cada ação do nosso aluno, observando as frestas de
possibilidades para que as aprendizagens tenham significado em suas vidas, buscando
contextualizar com suas experiências cotidianas.
De que forma podemos tornar possível essa proposta nos espaços educativos.
Partindo do que estamos criando e vivenciando no nosso grupo de pesquisa estamos
buscando refletir neste artigo como podemos modificar nossas práticas dentro da nossa sala,
da nossa escola, das pessoas que irão ler e compartilhar nossas reflexões, já que nosso
objetivo é divulgar como as Artes podem e devem ser instrumento de aprendizagem nos
espaços de educação da primeira infância. Para isso, é necessário contextualizarmos de que
Educação Infantil estamos falando e quais sujeitos.
Diante disso, sabemos que com a promulgação da constituição Federal de 1988, a
Educação Infantil é vista como direito da criança. Com o advento da Lei de Diretrizes e Base da
Educação Nacional, esta se consolida como primeira etapa da educação básica, ou seja, agora
esta começa a se delinear uma identidade própria, mas isso não ocorre de forma rápida, até
por conta de toda sua história de assistência voltada para as necessidades básicas Como:
alimentação, higiene e sono, sem intencionalidade pedagógica, a qual não iremos nos
aprofundarmos já que este não é o foco do nosso trabalho, mas é preciso situar para darmos
continuidade aos nossos pensamentos. Portanto, a Educação Infantil por muitos anos foi vista
como uma preparação para escola, sem haver uma preocupação com o hoje, quem é este
sujeito? Do que ele precisa hoje para se desenvolver de forma integral? E qual o papel do
professor na aprendizagem das crianças?
É sabido que os primeiros anos de vida da criança são decisivos para sua formação,
pois se trata de um período de construção de identidade e grande parte da sua estrutura física,
socioafetiva e intelectual. Portanto, nesta fase, devemos adotar estratégias, atividades lúdicas
que sejam capazes de intervir positivamente em seu desenvolvimento. Mas, para que isso
aconteça, as instituições infantis precisam ser acolhedoras, estimuladoras e acessíveis às
crianças.
Tentando buscar caminhos possíveis para uma prática docente, onde as crianças estejam
imersas desde pequena no processo educativo se desenvolva de maneira integral, como
defendida pela Lei de Diretrizes da Educação Nacional. Pensamos que uma das ferramentas
defendidas neste trabalho para aprendizagem significativa destas crianças seja através de uma
Educação Estética, onde todas as Artes sejam comtempladas nas suas diferentes linguagens.
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As Diretrizes Curriculares para Educação Infantil (2010) define alguns princípios
pedagógicos, dentre eles está os Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da
liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. Dessa forma
buscamos a unidade de corpo e mente, já que as crianças aprendem de forma integral, ou seja,
corpo e mente se complementam através da linguagem artística. Ao estudarmos os princípios
em que as artes foram introduzidas no âmbito escolar, pudemos compreender que esta ação
tinha intenções arraigadas de adequar hábitos e costumes necessários à disciplina e controle
na educação e desta forma devendo começar com as crianças.
Com o decorrer do tempo, foi percebido que a arte é uma forma de emancipação
social, que se expressa além das esculturas, da música, da pintura, tendo como princípio
fundamental o corpo, uma vez que corpo é movimento e movimento é vida e que a partir
desta base é que surgem os processos de significações.
Ao reconhecer tal fato nos questionamos como este corpo que já há algum tempo tem
sido reconhecido como detentor de direitos: conhecimento, liberdade, dentre outros. Alguns
questionamentos aparecem em torno da temática central: Como este vem sendo tratado nos
espaços educacionais? Ele tem tido espaço para expressar as suas imaginações, criatividade,
dúvidas e escolhas, dentro do possível? Ou temos disciplinados estes corpos até mesmo nos
momentos “livres”? Qual tem sido o valor dado a este corpo que expressa à vida?
Percebemos que há necessidade de um ambiente que garanta o direito das
crianças, que aguce a curiosidade, que busque formas de ajudar a materializar a criatividade,
que propicie experienciar diversas possibilidades, que sejam ouvidas e que, principalmente,
seja um espaço de brincadeira repleto de sentimentos positivos que assegure as
transições/ligações entre corpo e mente, propiciando aprendizagens repletas de significados
para a criança imersa na Educação Infantil.
Dentro desse espaço a criança aprende de tudo, mas principalmente descobre o seu
corpo, através da arte do tocar, sentir, experimentar, ouvir, se vê, reconhecer... Educar na
Educação Infantil é fazer artes, descobrir coisas simples do cotidiano, pois na infância tem um
corpo que “fala” através de suas cem linguagens como afirma Loris Mallaguzzi. Então, ao
pensarmos nestas ferramentas é preciso que o Educador se conecte com este universo, que
experiencie estas linguagens, que se encontre seu “EU”, para que assim possa contribuir na
formação de um sujeito integral em suas potencialidades.
O que buscamos é fugir dessa lógica racional onde tudo deve ser decodificado,
nomeado dentro dos espaços educativos, é necessário permitir que os sujeitos possam criar,
recriar, perceber a realidade de forma sensível e cada um de sua forma, já que são seres
heterogêneos, acreditamos que é isso que a Educação estética pode propiciar como nos
mostra o autor Sanchez Vasquez (1978,pg.86).
Criando novos objetos, descobrindo novas propriedades e qualidades deles,
bem como novas relações entre as coisas, o homem ampliou
consideravelmente, graças à sua atividade prática, material, o horizonte dos
sentidos e enriqueceu e elevou a consciência sensível até o ponto de
converter-se em expressão das forças essenciais do ser humano. A
sensibilidade estética é, por um lado, uma forma específica da sensibilidade
humana, e, por outro lado, é uma forma superior dela, enquanto expressa –
em toda a sua riqueza e plenitude – a verdadeira relação humana com o
objeto como configuração das forças essenciais humanas nele objetivadas.
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Portanto, é preciso que esses sujeitos possam investigar descobrir coisas, reinventar,
que esse possa se expressar nas diferentes linguagens que a arte proporciona na Educação
Infantil. Arte é um importante instrumento na prática escolar permitindo que as tendências
individuais expressem sua autonomia estética e contemplativa, pois esta não se ocupa apenas
em formar o artista, mas sim em estimular a inteligência contribuindo para a formação da
personalidade do indivíduo.
Portanto, para se trabalhar a arte, no âmbito educacional, é necessário aguçar e
estimular aos desafios, dúvidas, aprendizado de variadas técnicas, a experimentação, a
produções individuais e coletivas, incitar ao diálogo, ouvir e compartilhar impressões,
abarcando nesse processo, se possível, todas as formas de linguagem artística.
PALAVRAS-CHAVE: Corpo - Artes - Infâncias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 43º ed. São
Paulo: Paz e terra, 2011.
MALAGUZZI, Loris. História, ideias e filosofia básica. In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella;
FORMAN, George. As Cem Linguagens da Criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação
da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999.
SANCHES Vasquez, A. As idéias estéticas de Marx. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
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As linguagens do corpo e das artes sob um novo - CAp