[ Reportagem ]
Brescia, 17 de Maio, 10 h 15 m, a concretização de um projecto Espiral, que meses antes me tinha sido
anunciado pelo meu amigo PT: assistir à partida da famosa Mille Miglia como convidado
da Chopard, principal sponsor do evento.
texto de Fernando Campos Ferreira - Brescia - Itália
As Mille Miglia actuais continuam
a ter a distância que o nome indica, mas já não
são disputadas em ritmo de corrida non-stop por
pilotos famosos cujos nomes ainda hoje reverberam na nossa imaginação – Varzi, Nuvolari,
Fangio, Moss, Ascari, Biondetti, Marzotto,
Castellotti, Villoresi, Taruffi – assumindo agora
o figurino revival. Outras caras, mas os mesmos
carros, sendo a Freccia Rossa dos tempos mo­
dernos disputada em três etapas (Brescia – Ferra­
ra – Roma – Brescia). Desta fazem parte 40
provas de regularidade histórica de permeio e
passagem por sítios como Verona, Siena – Piazza
del Campo – Florença, Bolonha, Modena e os
famosos Passos della Futa e della Raticosa.
Este ano comemorava-se o 50.º aniversário
das últimas Mille Miglia a sério, ganhas por
Piero Taruffi num Ferrari 315 S Pinin Farina
com cerca de 400 cavalos de potência. Este per­
correu, em 1957, os cerca de 1600 km da prova
à média horária de 152 km/h, a segunda melhor
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Espiral do Tempo 25 Verão 2007
marca de sempre depois dos estonteantes 157
km/h de média alcançados dois anos antes pelo
então jovem Stirling Moss. Moss tripulava o
impressionante Mercedes 300 SLR (ex-works),
com o n.º 722, correspondente à sua hora de
partida (7 horas e 22 minutos).
O ano de 1957 marcou também o fim da mí­
ti­ca corrida, por ordem do governo italiano, na
sequência do brutal acidente da Ferrari oficial,
pilotada por Alfonso Cabeza de Vaca, Marquês de
Portago. O piloto despistou-se em consequência
de um furo, já perto da chegada a Brescia, à
velocidade de 300 km/h, vitimando doze pessoas,
entre as quais o próprio e o seu navegador.
De regresso ao presente... as ruas do centro
histórico de Brescia, magníficas no seu inimitável
estilo arquitectónico italiano, em perfeita sim­bio­
se estética com as nada menos do que 375 belas
máquinas construídas de 1929 a 1957, selec­cio­
na­­das pela organização, dentre as cerca de 800
pré-inscrições recebidas de vários países – os
Este ano comemorava-se
o 50.º aniversário das últimas Mille Miglia
a sério, ganhas por Piero Taruffi num
Ferrari 315 S Pinin Farina com cerca
de 400 cavalos de potência.
Jacky Ickx e Karl-Friedrich Scheufele, são companheiros
de corrida habituais nas edições do Mille Miglia,
organizadas pela Chopard.
Reportagem Mille Miglia Chopard
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Os automóveis admitidos a concorrer nas
Mille Miglia ostentam o que de mais belo alguma vez foi feito no domínio dos odómetros,
dos conta-rotações e dos cronómetros. E, claro está, os seus afortunados proprietários não
poderiam, sob pena de incoerência, usar algo pouco menos do que perfeito nos seus pulsos...
Espectadores, apaixonados, convidados, imprensa... O Mille Miglia
passou de corrida a evento anual
com crescente cobertura mediática.
As ruas de Brescia assistem à partida
para mais uma edição. A história
funde-se com o vintage, um cenário
ideal.
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Espiral do Tempo 25 Verão 2007
con­­­­correntes, pilotos e co-pilotos não-italianos
ul­tra­­passavam os 400 –, para tomarem parte na
25.ª edição revival das Mille Miglia (MM), todas
confluindo, ordeira e lentamente, sob o olhar
aten­to de milhares de tiffosi, para as verificações
téc­nicas na Piazza Loggia e desta para o local
da partida, na Viale Venezia, donde o número
um, um OM 665 SS MM de 1929, partiria ao
princípio da noite.
Dezenas de Ferrari, incluindo o 315 S de
Taruffi (que nestas MM foi tripulado pela filha,
Prisca Taruffi, tendo como co-piloto um mui
afor­tunado proprietário americano), Maserati,
Cisitalia, Osca, OM, Stanguellini, Alfa Romeo,
Lancia e Fiat ‘aerodinâmicos’ justificavam o pre­
domínio das tonalidades chiaroscuro de ver­melho,
sublinhadas pelo sol e contrastando com o ocre
das fachadas dos prédios. Outras tantas dezenas
de Bugatti, Aston-Martin, Jaguar, Riley, Bentley,
Frazer Nash, BMW Veritas, Mercedes (alguns
vindos do museu Carl Benz, incluindo o 300 SLR
outrora guiado por Fangio e agora passeado pelo
ex-piloto de Fórmula 1 Jochen Mass), Porsche
550 RS etc., salpicando com cores variadas o
rosso de rigueur. Marcas à parte, tudo viaturas
com pedigree de competição – excepção feita
à tradicional participação de um BMW Isetta,
talvez o mais aplaudido à partida, bem depois da
21h, pelos milhares de espectadores apinhados
ao longo da Viale Venezia –, como o atestam os
nomes dos diferentes modelos: Coupé Allemano,
MM Vignale, Spider e Scaglietti, Monza, 750
Competizione, Tour de France, Coppa Oro, A6
GCS, Disco Volante, 8V Zagato, DBR 2, DB 3
S, Super Sports, SSK, Speed Six...
Como tem sido costume desde há vários anos,
o patrão da Chopard, Karl-Friederich Scheufele,
fazia equipa com o Senhor ‘Le Mans’, Jacky Ickx,
este ano trocando o habitual Porsche Spider por
um menos rápido, mas inegavelmente apropriado
Auto-Union Wanderer 1938.
Onde há automóveis de competição, há ine­
vi­tavelmente equipamentos de medição de dis­
tâncias, de velo­cidade e, naturalmente, de tempo,
uns e outros ex­poen­tes complementares de uma
engenharia não só de vanguarda mecânica, mas
Onde há automóveis de competição,
há inevitavelmente equipamentos de medição de distâncias,
de velocidade e, naturalmente, de tempo...
Mille Miglia GT XL 2007
Edição limitada em aço a 2007 exemplares
Movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática.
Funções: Horas, minutos, pequenos segundos, data e cronógrafo.
Caixa: Aço, vidro em cristal de safira e estanque a 100 metros.
Bracelete: Borracha natural 1960’s Dunlop Racing tyre-tread
com duplo fecho de segurança em aço.
Ref: 168489-3001 • Preço: Sob consulta
Reportagem Mille Miglia Chopard
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Com um estilo e bonomia muito
próprias cada concorrente usufrui
o melhor que pode perante a
‘dureza’ e ‘adversidades’
do percurso.
Durante duas horas e meia, sob o entusiasmo
esfusiante da multidão de espectadores, lá partiram para as Mille Miglia 2007 as centenas
de concorrentes, motores a roncar, num misto de excitação e de ansiedade
estampada nos rostos...
A dupla vencedora: Viaro e Bergamaschi num Alfa Romeo 1500 S
e a cerimónia solene de encerramento do Mille Miglia.
A Chopard oferece a cada um dos
concorrentes um exemplar Mille Miglia gravado com o respectivo
número de inscrição, este ano concebido com base no modelo
Gran Turismo XL.
Gran Turismo XL
Movimento: Mecânico de corda automática.
Funções: Horas, minutos, segundos e data.
Caixa: Aço, vidro em safira, estanque a 100 metros.
Bracelete: Borracha natural 1960’s Dunlop Racing
tyre-tread com duplo fecho de segurança em aço.
Ref: 168997-3001 • Preço: € 3.280
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Espiral do Tempo 25 Verão 2007
também es­té­tica, e, por falar nela... também
há mulheres de uma beleza e elegância próximas do trabalho photoshop de que fala o meu
amigo APA.
Os automóveis admitidos a concorrer nas
MM ostentam o que de mais belo alguma vez
foi feito no domínio dos odómetros, dos conta-rotações e dos cronómetros. E, claro está, os seus
afortunados proprietários não poderiam, sob pena
de incoerência, usar algo pouco menos do que
perfeito nos seus pulsos, quando não mes­mo em
ambos os pulsos, já que a Chopard oferece a cada
um dos concorrentes um exemplar Mille Miglia
gravado com o respectivo número de inscrição,
este ano concebido com base no mo­delo Gran
Turismo XL.
Submerso em tais e tamanhas distracções, e
após dois cocktails estra­te­gicamente realizados às
12 h e às 18 h 30 m, num ambiente interdisciplinar
que o Cosmo Kramer da sitcom Seinfeld poderia
apelidar de «...fine watches, fast cars, fast drinks
and not so fast women...», só dei pelo passar do
dia quando me vi sentado, às 20 h, na tribuna
colocada mes­mo em frente da rampa da partida.
Durante duas horas e meia, sob o entusiasmo es­
fusiante da multidão de espectadores, lá par­tiram
para as MM 2007 as centenas de concorrentes,
motores a roncar, num misto de excitação e de
ansiedade estam­pada nos rostos... que três noi­
tes muito mal dormidas depois, com mais de
1600 km no corpo, mostrariam à chegada (os que
chegaram...) rostos cansados, sujos, mas felizes
pelo simples feito de terem participado e con­
seguido chegar sem percalços de maior.
Com que ar terá chegado a top-model italiana,
cujo nome não fixei, após aquela odisseia? Foi
melhor não ter ficado lá para ver, preservando,
assim, na minha memória a imagem do imaculado
penteado à la Gina Lollobrigida, a envolver a
cara sorridente e bem maquilhada, num fato de
competição cintado, branco angélico, com o zipe
generosamente em baixo... por causa do calor.
Cheguei a Lisboa, de Malpensa, no final da
manhã do dia seguinte, assado por dentro e por
fora na sauna – para quando se poderá esperar
que as nossas desatentas autoridades determinem
a obrigatoriedade do ar condicionado nos trans­
portes públicos? Do táxi (tão distante do A8
W12 em que fui passeado durante o evento, com
o extra de ter uma jovem chauffeuse teutónica),
fiquei na dúvida se não teria, afinal, sonhado ter
passado um dia nas corridas. ET
Reportagem Mille Miglia Chopard
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Este ano comemorava-se