PONTIFÍCIA FACULDADE DE TEOLOGIA
NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
SÉRGIO AUGUSTO RODRIGUES
A RELAÇÃO LITURGIA E CATEQUESE
A PARTIR DO RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ
DE ADULTOS
SÃO PAULO
2007
2
PONTIFÍCIA FACULDADE DE TEOLOGIA
NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
SÉRGIO AUGUSTO RODRIGUES
A RELAÇÃO LITURGIA E CATEQUESE
A PARTIR DO RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ
DE ADULTOS
Dissertação apresentada como exigência parcial para
obtenção do Título de mestre em Teologia Sistemática,
na área de concentração em Liturgia, à comissão
julgadora da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção, sob a orientação do Pe. Valeriano
Santos Costa.
SÃO PAULO
2007
3
__________________________________
Orientador
_________________________________
1º examinador
__________________________________
2º. examinador
4
Aos amigos,
que me acompanharam e apoiaram,
verdadeiros presentes de Deus em minha vida.
Aqui, nasce para o céu, de uma semente pura,
um povo sagrado que o Espírito gera fecundando as águas.
Mergulha na água santa, ó pecador, e serás purificado:
a água te recebe velho e te devolve renovado.
Para os renascidos não existe discriminação alguma:
são uma só coisa graças a uma só fonte, um só Espírito, uma só fé.
A Mãe Igreja concebe por inspiração de Deus
e dá à luz pela água os que nascem de semente virginal.
Se desejas ser puro, purifica-te neste banho,
quer te aflija o pecado dos primeiros pais, quer o teu próprio pecado.
Esta é a fonte da vida, que purifica o mundo inteiro,
brotando da chaga de Cristo.
Esperai o reino dos céus, vós que renascestes nesta fonte,
a vida feliz não é para quem nasce uma só vez.
A ninguém atemorize o número ou a natureza dos seus pecados:
quem nasce desta água será santo.
(Inscrição de Sisto III na arquitetura do batistério de São João de Latrão em Roma)
5
Ao Deus da Vida e da Aliança, terno e compassivo, doador de todos os dons.
Ao Pe. Valeriano, por sua dedicação à ciência litúrgica e que conduziu a orientação
desta dissertação.
Aos amigos de curso com quem compartilhei angústias e desafios, avanços e alegrias
da caminhada da liturgia.
À direção, professores e funcionários do Centro de Liturgia da Pontifícia Faculdade de
Teologia Nossa Senhora da Assunção pelo serviço prestado nestes anos.
À Arquidiocese de São Paulo que me acolheu e a convivência na Casa São Paulo.
Às comunidades que me acolheram e alimentaram a minha vida espiritual, pela
amizade e celebrações dominicais.
Aos meus pais Sérgio (de saudosa memória) e Augusta que me iniciaram na vida de
fé.
A todos os demais familiares, meus irmãos e irmãs, pelo apoio e incentivo.
Ao Bispo e ao clero da Diocese de Toledo, irmãos no presbitério, pela liberação e
apoio recebido.
Ao povo da Diocese de Toledo, de modo particular, as lideranças que atuam na
caminhada litúrgica e doam sua vida para que as celebrações sejam expressão de sua
luta e fé.
Os amigos e amigas que, mesmo apartados pela distância e atividades, estiveram
presentes e torceram pelo sucesso desta iniciativa.
6
SIGLAS
AA
Apostolicam Actuositatem
AAS
Acta Apostolicae Sedis
AG
Ad Gentes
CaIC
Catecismo da Igreja Católica
CDC
Código de Direito Canônico
CEBs
Comunidades Eclesiais de Base
CD
Christus Dominus
CELAM
Conselho Episcopal Latino-Americano
CNBB
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CR
Catequese Renovada
CT
Catechesi Tradendae
DECAT
Departamento de Catequese
DCG
Diretório Catequético Geral
DGC
Diretório Geral para a Catequese
DH
Dignitatis Humanae
DNC
Diretório Nacional de Catequese
DP
Documento de Puebla
DV
Dei Verbum
EN
Evangelii Nuntiandi
GRECAT
Grupo Nacional de Reflexão Catequética
GS
Gaudium et Spes
7
IC
Iniciação Cristã
IGMR
Instrução Geral sobre o Missal Romano
IO
Instrução Inter Oecumenici
ISPAC
Instituto de Pastoral Catequética
LG
Lumen Gentium
NMI
Novo Millenio Ineunte
OLM
Ordo Lectionum Missae – Elenco das leituras da missa
ONU
Organização das Nações Unidas
PO
Presbiterorum Ordinis
REB
Revista Eclesiástica Brasileira
RICA
Ritual da Iniciação Cristã de Adultos
RM
Redemptoris Missio
SC
Sacrosanctum Concilium
TA
Tradição Apostólica
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................10
CAPÍTULO I
DA UNIDADE À CISÃO ........................................................................................................13
1. Iniciação aos mistérios .....................................................................................................14
2. A iniciação na comunidade primitiva...............................................................................18
2.1 - A razão de ser do antigo catecumenato....................................................................18
2.2 - A época apostólica ...................................................................................................19
2.3 - O antigo catecumenato .............................................................................................21
2.3.1 A apresentação do candidato e a sua admissão após um exame severo ..............24
2.3.2 O período do catecumenato .................................................................................24
2.3.3 - A preparação próxima para o Batismo..............................................................27
a) Os “eleitos”...........................................................................................................27
b) A inscrição do nome.............................................................................................28
2.3.4 - A iniciação sacramental ....................................................................................30
2.3.5 - A catequese mistagógica ...................................................................................32
3. A separação entre catequese e liturgia..............................................................................35
3.1 - A crise do catecumenato ..........................................................................................36
3.2 - A liturgia e a catequese na cristandade ....................................................................40
CAPÍTULO II
A RESTAURAÇÃO DO CATECUMENATO........................................................................49
1. A renovação litúrgica .......................................................................................................50
1.1 - A preocupação do Concílio .....................................................................................50
1.2 - Linhas da renovação litúrgica ..................................................................................51
2. A retomada do catecumenato ...........................................................................................57
2.1 - Experiências prévias.................................................................................................57
2.2 - Intervenções do Magistério até a publicação do RICA............................................59
3. O Ritual da iniciação cristã de adultos .............................................................................62
3.1 - Retorno a experiência catecumenal..........................................................................65
3.2 - Os “praenotanda” .....................................................................................................67
3.3 - A finalidade do RICA ..............................................................................................70
3.4 - Os destinatários do RICA.........................................................................................71
3.5 - Conteúdo e estrutura do RICA .................................................................................75
4. Relação liturgia e catequese no itinerário do RICA .........................................................80
9
4.1 - Pré-catecumenato .....................................................................................................82
a) A fé inicial ................................................................................................................83
b) Da fé inicial à conversão .........................................................................................85
c) Relação pessoal com Deus em Cristo. .....................................................................87
d) Experiência de comunidade e do espírito dos cristãos. ...........................................88
4.2 - Rito de instituição dos catecúmenos ........................................................................89
4.3 - Catecumenato ...........................................................................................................91
a) A celebração da Palavra de Deus .............................................................................96
b) Os exorcismos menores............................................................................................97
c) As bênçãos................................................................................................................98
d) Rito da unção............................................................................................................99
4.4 - Rito da eleição........................................................................................................100
4.5 - O tempo da purificação e iluminação.....................................................................101
a) Os escrutínios .........................................................................................................102
b) As entregas .............................................................................................................103
c) Ritos de preparação imediata..................................................................................105
4.6 A celebração dos sacramentos da iniciação cristã ....................................................106
4.7 - Mistagogia..............................................................................................................109
CAPÍTULO III
EM BUSCA DA UNIDADE..................................................................................................113
1. A liturgia, fonte da catequese .........................................................................................115
1.1 - A liturgia: lugar de proclamação e da escuta da Palavra........................................117
a) É Deus que nos fala................................................................................................119
b) E pede a nossa resposta .........................................................................................120
1.1.1 - Duas mesas: um só ato de culto ......................................................................121
1.1.2 - O lecionário .....................................................................................................122
1.1.3 - A homilia.........................................................................................................123
1.2 - Comemoração ritual ...............................................................................................125
1.3 - O mistério anunciado pela catequese, celebrado pela liturgia e vivido pelas
comunidades ...................................................................................................................128
2. A catequese inspirada no estilo catecumenal .................................................................131
2.1 - A função da iniciação à vida cristã.........................................................................133
2.2 - O catecumenato batismal é responsabilidade da comunidade cristã......................137
2.3 - O catecumenato batismal é impregnado pelo mistério da Páscoa de Cristo. .........141
2.4 - O catecumenato batismal é lugar privilegiado de inculturação..............................145
2.4.1 - Comunidades eclesiais de base .......................................................................151
2.4.2 - Leitura popular da Bíblia ................................................................................153
2.4.3 - Celebração da Palavra .....................................................................................153
3. Catequese litúrgica .........................................................................................................155
3.1- A liturgia como um momento celebrativo da História da Salvação........................156
3.2 - A liturgia como exercício do sacerdócio de Jesus Cristo.......................................160
3.3 - A dimensão celebrativa da liturgia.........................................................................162
3.4 - A função mistagógica dos ritos e símbolos............................................................166
CONCLUSÃO........................................................................................................................172
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA ......................................................176
10
INTRODUÇÃO
O Concílio Vaticano II recomenda que “a catequese seja feita em continuidade
com a liturgia”.1 Mesmo com a insistência dos documentos do Magistério, das reflexões de
estudiosos e da prática pastoral, percebe-se ainda hoje o distanciamento entre a prática
catequética e celebrativa das comunidades. Tal distância, às vezes, é tão acentuada, que se
tem a impressão que uma e outra se ignoram.
Sempre intrigou-me todo o processo catequético pelo qual passa o
catequizando e que, após a “Primeira Comunhão”, em geral, ocorre certo esfriamento e
distanciamento do catequizando da vida da comunidade e das celebrações litúrgicas. Tem-se a
sensação de que receber o sacramento é o fim e não um meio para o fortalecimento da pessoa
no seguimento de Jesus.
A catequese de iniciação à Eucaristia é, muitas vezes, para a “Primeira
Comunhão” e não para a vida eucarística; assim como a Confirmação passa a ser uma espécie
de “formatura”, a conclusão da catequese. A finalidade da catequese, na realidade, não é
somente a celebração do sacramento nem para se cumprir um preceito ou tradição, mas
sustentar a vida cristã.
1
SC, n. 35.
11
O período de preparação para os sacramentos, por meio da catequese, é um
momento decisivo na vida da criança, do adolescente ou, caso ainda não tenha passado pelo
processo de iniciação cristã, até mesmo do adulto.
A exortação apostólica Catechesi tradendae afirma que “a catequese é
intrinsecamente ligada com toda a ação litúrgica e sacramental”.2 Já o Diretório geral de
catequese alerta que, muitas vezes, “a praxe catequética apresenta uma ligação fraca e
fragmentária com a liturgia: atenção limitada aos símbolos e ritos litúrgicos, pouca
valorização das fontes litúrgicas, percursos catequéticos que pouco ou nada têm a ver com o
ano litúrgico, presença marginal de celebrações nos itinerários da catequese”.3
Já da parte da pastoral litúrgica, nem sempre se levaram em conta as condições
favoráveis à verdadeira e gozosa vivência e profissão da fé, em vista de sua autenticidade e
transparência na alimentação dessa mesma fé.
O catequizando há de celebrar, na liturgia, os mistérios anunciados na
catequese, e participar da vida da Igreja, unindo-se integralmente a Jesus Cristo, como
membro de seu corpo místico.
Querer fixar a fé sem a manter em relação com o culto, fonte perene da vida
cristã, é afastar o catequizando da fonte de múltipla e contínua edificação.
Acredito ser fundamental maior unidade e diálogo entre a catequese e a
liturgia, pois a vida cristã está marcada por uma experiência de fé, aprofundada na catequese e
celebrada na liturgia. Faz-se necessário experienciar e concretizar na catequese e na liturgia as
dimensões pedagógica, orante e vivencial da fé.
2
3
CT, n. 23.
DGC, n. 30.
12
Não pode haver uma catequese eficaz sem liturgia e vice-versa, ou tratá-las
separadamente, pois a catequese tem a liturgia como fonte e inicia à celebração, sobretudo dos
sacramentos que, por sua vez, não serão frutuosamente celebrados sem uma adequada
preparação pela catequese.
Esta dissertação tem razões não só de ordem intelectual, mas também pastoral,
em vista de uma atuação mais eficiente e de maior articulação entre a liturgia e a catequese.
Para tanto, considera imprescindível conhecer as origens e apresentar o fundamento teológico
desta relação, a partir do modelo paradigmático da iniciação cristã, vivido nos primórdios da
Igreja e restaurado atualmente pelo Ritual da iniciação cristã de adultos (RICA).
No primeiro capítulo, indagamos como na história da Igreja, a relação entre a
liturgia e a catequese se dava de forma mais harmoniosa para a cisão de ambas no regime de
cristandade, e as conseqüências que geraram para a evangelização.
No segundo capítulo, apresentamos a restauração do catecumenato pelo
Concílio Vaticano II, através do RICA, inserido no grande quadro da reforma litúrgica, e
analisamos como esta relação acontece no Ritual.
No terceiro capítulo, apresentamos as perspectivas de restauração da relação
entre catequese e liturgia, tomando como referência o Diretório Nacional de Catequese
(DNC), que afirma ser o RICA o melhor exemplo de unidade entre essas duas dimensões e
estabelece a liturgia como fonte da catequese. O DNC assume o estilo catecumenal e o propõe
como inspiração paradigmática para toda a catequese e que a catequese contemple a teologia
litúrgica.
13
CAPÍTULO I
DA UNIDADE À CISÃO
A relação liturgia e catequese têm uma longa e sólida tradição, uma vez que a
liturgia e, em particular a eucaristia e os outros sacramentos, sempre constituíram um ponto
de referência e um ambiente privilegiado para o exercício da catequese. Podemos afirmar que,
por longos períodos da história cristã, a principal tarefa da catequese foi a preparação para os
sacramentos. Mas, muitas mudanças aconteceram.
Este capítulo aborda a iniciação cristã no período da Igreja primitiva, que
acontecia de forma harmoniosa e complementaria por meio do catecumenato, que aqui
tratamos devido à sua importância, pois será referência para a reforma proposta pelo Concílio
Vaticano II, por meio do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos.
Esta unidade se dava no catecumenato, tido como o lugar e o período de tempo
que encaminhava o candidato ao batismo, passava-se de uma conversão inicial à entrada no
mistério de Cristo e da Igreja. Porém, devido à prática do batismo de crianças na cristandade,
14
esta instituição caiu em desuso e esta unidade foi se perdendo e, ainda hoje, sofremos as
conseqüências.
Hoje, após o catequizando passar pelo processo catequético e receber os
sacramentos de iniciação, persiste a descontinuidade e a falta de perseverança na prática da
vida cristã. Urge que catequese e liturgia deixem de andar justapostas e caminhem em busca
de uma articulação profunda.
1. Iniciação aos mistérios
A Igreja primitiva, segundo Boróbio4 parece que não chegou a elaborar uma
“teoria” sobre a iniciação, mas se aprofundou em seu sentido e institucionalizou os elementos
que a integravam, dando-lhes uma ordenação adequada, segundo as diversas circunstâncias.
Há uma discussão sobre a possível influência das religiões pagãs, sobretudo das religiões dos
mistérios, com sua concepção e seus ritos iniciatórios (preparação, purificações, jejuns,
banhos de purificações...).
Quando nos referimos à palavra iniciação, não estamos recorrendo a um termo
de origem bíblica, mas de origem pagã, que expressa um fenômeno humano geral e obedece
ao processo de adaptação de toda pessoa ao ambiente físico, social, cultural e religioso.5
Compreende um conjunto de ritos e de ensinamentos orais, cuja finalidade é produzir uma
radical modificação no estatuto religioso e social da pessoa iniciada.6
4
Cf. BOROBIO, Dionisio. La iniciación cristiana, p. 29.
Cf. Ibidem, p. 17-18.
6
Cf. Ibidem, p. 19.
5
15
Podemos distinguir três maneiras de usar a palavra iniciação:7
Inicialmente, referia-se às religiões mistéricas gregas e romanas, sendo o
processo de aprendizagem de uma experiência religiosa capaz de transformar a pessoa, dandolhe acesso à salvação. Esta iniciação fazia-se através do ensino dos mistérios secretos e da
realização de ritos, que eram a expressão desses mistérios. A iniciação era a entrada nestes
“mistérios” e, por eles, na renovação da existência. Ela era também a integração num grupo
de iniciados e, conseqüentemente, a aquisição de uma nova identidade relacional.8
Também se pode chamar iniciação ao processo pelo qual as crianças, na idade
da puberdade, são introduzidas na idade adulta e na plena participação da vida social. Esta
forma de iniciação das sociedades e religiões tradicionais tem como objetivo modificar
radicalmente a situação social e religiosa da pessoa iniciada, dando-lhe uma nova identidade.
A iniciação é assim, simultaneamente, cultural e religiosa.
O terceiro modo considera iniciação como um processo de socialização e de
participação. Significa uma progressiva introdução no conhecimento de uma doutrina ou
teoria e na prática de uma profissão ou de um ofício. Em sentido amplo, dizemos que a
iniciação é “o processo pelo qual uma pessoa aprende e se apropria existencialmente das
normas, dos valores, dos comportamentos, das atitudes e dos hábitos de um grupo social”.9
Destaca-se que a iniciação tem um caráter de socialização que confere ao indivíduo uma
identidade pela sua integração num grupo social. Para que isto se verifique, é preciso que ele
passe por uma prova para ser reconhecido pelos outros membros do grupo.
7
Cf. CLAES, J. L’initiation. In: Lumen Vitae, 1 (1994), p.12-13.
Cf. Ibidem, p.12.
9
Ibidem.
8
16
Iniciação designa uma passagem, uma mudança na maneira de ser do sujeito,
modifica a sua identidade na sua relação com os outros e na relação com a sua própria
história.
Ela não se limita a ser entendida como ‘educação’ ou ‘formação’. A
iniciação é, com efeito, mais global. Ela é um processo pelo qual o
sujeito, livre e existencialmente, afronta o mistério da sua existência
na sua totalidade, abandona uma maneira antiga de ser e de viver, para
entrar numa nova forma de vida.10
Isto supõe uma experiência nova do próprio ser, um novo conhecimento do
sagrado e do divino, uma nova referência vital.11
Ao destruir uma antiga forma de ser e de viver, vai construindo uma nova
forma de vida, que integra uma nova coerência. Isto comporta vários aspectos da vida, como é
o caso do cognitivo, corporal, temporal, simbólico e relacional,12 em que não se percebe a
iniciação como uma realização isolada, mas sim social. É a introdução progressiva na vida de
um grupo, com as suas experiências, crenças e valores, ritos e símbolos.
No âmbito da iniciação religiosa os elementos constitutivos são: a instrução, a
apropriação existencial e a ritualidade.13
A iniciação religiosa implica uma instrução, um ensino daquilo que são os
conhecimentos básicos necessários para compreender a religião, a sua cosmovisão, os seus
valores, a sua origem. Esta instrução é feita, normalmente, sobretudo em forma de
10
Ibidem, p. 13.
Cf. BOROBIO, Dionisio. La iniciación cristiana, p. 23.
12
Cf. CLAES, J. L’initiation, p. 13.
13
Cf. Ibidem, p. 13-14.
11
17
anamnese,14 onde se faz memória dos acontecimentos fundantes do passado, da tradição e do
futuro que anuncia.
Deste modo, introduz-se o iniciado nas crenças, nos comportamentos e nas
esperanças do grupo. Ele, à medida que recebe esta instrução, faz memória da sua própria
história, para que possa compreender e viver a sua existência à luz da tradição que o precede,
que lhe é ensinada e na qual começa a participar.
A iniciação implica também uma apropriação existencial e pessoal das normas,
valores, símbolos, crenças e comportamentos do grupo no qual se vai inserir. Esta apropriação
exerce a função vital de transformação da pessoa e de integração numa comunidade de fé.
Por último, toda a iniciação religiosa leva consigo a participação em
determinadas cerimônias rituais. Elas não só impõem o ritmo no processo de iniciação, como
também promovem a mudança na pessoa. Ou seja, os ritos acompanham o avanço pessoal,
indicam os momentos de passagem ou de transição e marcam o tempo, em um antes e um
depois. “Esta transformação da pessoa é a parte mais importante da iniciação, ela vem
acompanhada geralmente de conflitos emocionais interiores. Os ritos existem precisamente
para acompanhar, facilitar e canalizar esta transformação”.15
14
Anamnese: palavra grega que significa “memorial, comemoração, recordação. Corresponde a “zikkaron”
hebreu, o “memorial”, e conota não somente uma recordação subjetiva, mas uma atualização do fato que se
recorda: a vontade salvadora de Deus, os acontecimentos salvíficos do Antigo Testamento, como o êxodo, e para
os cristãos, sobretudo, o Mistério Pascal de Cristo. A anámnese aponta também ao futuro: de algum modo o
antecipa.
15
Cf. CLAES, J. L’initiation, p. 14.
18
2. A iniciação na comunidade primitiva
A iniciação cristã, na Igreja primitiva, era feita através do catecumenato, de
forma progressiva, tendo a sua base nos três ritos sacramentais (batismo – confirmação –
eucaristia), administrados numa única celebração, na Vigília pascal.
Nesta fase da história da Igreja, catequese e liturgia, como iniciação nos
costumes cristãos, tinham por objetivo criar no convertido uma atitude pascal, mediante o
conhecimento do mistério de Cristo e o apoio da celebração litúrgica da Páscoa, fonte de toda
vida cristã.
2.1 - A razão de ser do antigo catecumenato
A etimologia da palavra catecumenato nos ajuda a entender melhor o seu
significado: a palavra catecumenato procede do verbo grego katechein, que significa ressoar,
fazer ecoar junto aos ouvidos. Assim, catecúmeno é aquele que está sendo instruído,
catequizado; mais concretamente, “aquele que está sendo iniciado na escuta, não de uma
palavra qualquer, mas da Palavra de Deus”,16 de uma palavra que se cumpre na história.17 A
Palavra anunciada pela catequese e proclamada na liturgia.
16
LÓPES, Jesus. Catecumenato. In: FIORES, Stefano e GOFFI, Tullo (dir.). Dicionário de Espiritualidade, p.
99.
17
Cf. Ez 12,28.
19
As palavras catequese, catecúmeno, catecumenato, provêm do mesmo verbo
grego “katechein”.18 Mas “o uso clássico reservou a palavra catecumenato, para indicar a
catequese e iniciação litúrgica dos adultos convertidos que desejavam o batismo”.19 Entendese, portanto, por catecumenato20 em sentido mais clássico, a instituição iniciática de caráter
catequético-litúrgico-moral, criada pela Igreja dos primeiros séculos, com a finalidade de
preparar e conduzir os convertidos adultos, por meio de um processo constituído por etapas.
Este processo conduzia ao encontro pleno com o mistério de Cristo e com a vida da
comunidade eclesial, cujo momento culminante se dava pelos ritos de iniciação: batismo, ritos
pós-batismais e os outros sacramentos iniciáticos (crisma e eucaristia), normalmente
presididos pelo bispo na vigília pascal.21
O catecumenato é, portanto, uma peça fundamental do conjunto de elementos
que compõem o processo de iniciação cristã. Sem ele não se pode considerar que a iniciação
tenha chegado à sua plenitude.
2.2 - A época apostólica
Os elementos do Novo Testamento sobre a iniciação cristã são escassos.
Mesmo não encontrando um autêntico e determinado ritual de iniciação, são freqüentes os
textos que se referem a uma preparação e a um discernimento anterior à celebração do
batismo.
18
A palavra catequese (katechesis) deriva do verbo grego “Katechein” e significa literalmente ressoar um som,
especialmente o som ou eco da voz humana. O termo katechesis não aparece na Bíblia. Em compensação, o
verbo katechein é mencionado no Novo Testemento com duplo significado: narrar ou relatar sucessos (At 21,2124; Lc 1,4) e ensinar os mistérios da fé (At 18,25; Rm 2,18; Gl 6,6): Cf. CELAM. Manual de catequética, p. 62;
LIÉGE, André. O que é catequese? In: ISPAC (Instituto de pastoral catequética da CNBB), Introdução à
catequética, p. 7.
19
PAIVA, Hugo de Vasconcelos. Catecumenato e instituição catequética dos sacramentos da iniciação. In:
CNBB. Pastoral da iniciação cristã. 2º. Encontro nacional de liturgia – pastoral litúrgica n. 1, p. 131.
20
Katechein = instruir de palavra.
21
Cf. BOROBIO, Dionísio. Catecumenado. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille M. Nuevo
Diccionario de Liturgia, p. 298.
20
Prova disso é a descrição viva e impressionante do batismo do ministro da
rainha da Etiópia.22 Durante o decurso da leitura escriturística, Filipe anuncia a Boa-Nova de
Jesus. Diante do pedido do camareiro pelo batismo vem a resposta: “Sê crês de todo o
coração, é possível”. A isso responde o camareiro: “Eu creio que Jesus Cristo é o Filho de
Deus”. Então ele manda parar o carro, ambos descem à água e Filipe batiza o eunuco.
Esta descrição atesta os primeiros fundamentos para a instituição do
catecumenato: instrução, pedido, exame, profissão e preparação imediata, batismo. O que vem
depois é um desdobramento natural, “sem qualquer fixação institucional”.23
Uma das preocupações das primeiras comunidades era, portanto, a preparação
de seus candidatos ao batismo24 e, no início da Igreja, não havia algo instituído para tal
finalidade. Porém, na comunidade cristã, já estava presente o germe da instituição
catecumenal, herança da tradição judaica,25 com um conteúdo catecumenal baseado na
mensagem de Cristo e nas mesmas exigências de conversão e de fé para o seu seguimento.
O catecumenato, porém, como instituição, não foi criada por Cristo. A ordem
do Senhor foi: “Pregai o Evangelho” (Mc 16,15). “Ensinai a todas as nações” (Mt 28,19) e
batizai-as. “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,16). Portanto, desde o início há, no
ato sacramental da administração do batismo, uma união tão íntima entre a pregação da BoaNova, a instrução na fé, o ingresso nas fileiras dos discípulos e o cumprimento de tudo isso,
22
Cf. At 8, 26-39.
NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada pelo
Concílio, p. 518
24
A cerimônia do Batismo foi sempre, desde a idade apostólica, precedida de uma preparação. Cf.
MARTIMORT, Aimé Georges. A Igreja em oração - Volume 1 - princípios da liturgia; PEREGRINAÇÃO DE
ETÉRIA. Liturgia e catequese em Jerusalém no século IV, p. 117ss.
25
Cf. BOROBIO, Dionísio. Catecumenado. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille M. Nuevo
Diccionario de Liturgia, p. 300: A tradição judaica impõe algumas condições e meios para fazer parte da
comunidade, como expressa Boróbio, nestes dois exemplos mais típicos: a) O da admissão nas seitas judaicas
(sobretudo na comunidade de Qumran), que implicava uma iniciação progressiva por etapas, um tempo de
formação e purificação, de provas e discernimento por parte da comunidade para ser aceitos. b) O da admissão
dos prosélitos (segundo aparece na literatura rabínica dos finais do século I), que incluía a pregação missionária
para a conversão, a purificação dos motivos desta conversão, o exame de admissão realizado por três rabinos, a
instrução sobre os mandamentos e a lei de Deus, e, finalmente, a circuncisão e o batismo.
23
21
de modo que a instrução deve preceder ao menos como condição. Cristo uniu o batismo ao
anúncio e o conhecimento da Palavra e à iniciação na vida e nos costumes cristãos.26
Os primeiros cristãos agiram como Jesus tinha mandado. Pregaram e batizaram
a partir do Pentecostes.27 O livro dos Atos dos Apóstolos revela a ligação entre a catequese e a
liturgia: reuniam-se para ouvir a Palavra, partir o pão e tomar parte da vida comunitária e
praticar a caridade.28 O evangelista Lucas, no relato dos discípulos de Emaús, amplia o
quadro e apresenta um paradigma de integração: a realidade da vida29 a Palavra iluminadora;30
a celebração (fração do pão)31 e a missão.32
As comunidades implantadas e organizadas pelos apóstolos sabiam distinguir
entre catequese e liturgia. Pois, o Senhor havia enviado os apóstolos para ensinar e batizar e
fazer todos seus discípulos.33 Portanto, alguém se torna discípulo de Jesus na Igreja através da
ação litúrgica e da ação evangelizadora da catequese. Isto mostra que, na Igreja apostólica,
liturgia e catequese estavam intimamente ligadas entre si na iniciação cristã.
2.3 - O antigo catecumenato
O catecumenato, no século I, ainda não existe como instituição codificada; o
que existe, certamente, é o “processo catecumenal como verdade vivida”.34 O que havia era
26
Cf. PAIVA, Hugo de Vasconcelos. Catecumenato e instituição catequética dos sacramentos da iniciação. In:
CNBB. Pastoral da iniciação cristã. 2º. Encontro nacional de liturgia – pastoral litúrgica n. 1, p. 133.
27
Cf. At 2,14-41.
28
Cf. At 2,42-46; 4,32-36.
29
Cf. Lc 24,13-24.
30
Cf. Lc 24,25-27.
31
Cf. Lc 24,28-31.
32
Cf. Lc 24,32-35.
33
Cf. Mt 28,19-20.
34
BOROBIO, Dionísio. Catecumenado. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille M. Nuevo Diccionario
de Liturgia, p. 300.
22
desde os primeiros tempos da Igreja o firme propósito de discernir a autenticidade dos
candidatos ao batismo com a ajuda dos padrinhos e de uma catequese adequada.35
A Igreja vive, no início, uma situação de perseguição em um ambiente pagão e
hostil; tem dificuldade de manter a fé, sente a urgência de aprofundar a conversão e de
conservar a unidade eclesial. Consciente de que tudo isto exige preparação e discernimento
sérios, estabelece um processo catecumenal por etapas em vista de uma conversão sincera e
da transformação total de vida.36
A grande expansão do cristianismo e o grande número de candidatos
levam a pensar numa formação mais profunda e mais exigente
daqueles que chegam à fé, numa época em que, de um lado, as
perseguições e, de outro, as seitas heterodoxas já tinham levado
cristãos à apostasia.37
Na segunda metade do século II, a comunidade cristã começa a fazer maiores
exigências aos candidatos ao Batismo. Temos, portanto, um ambiente propício para o
desenvolvimento do catecumenato, como instituição seriamente organizada. “Os séculos
seguintes irão desenvolver, até a perfeição, a instituição do catecumenato, que encontramos
no fim do século II”.38
A elaboração de um ritual orgânico e completo começa, portanto, a delinear-se
nesta fase e passa a ser um fato no século III, pois a Igreja, diante das heresias,39 se obriga a
35
Cf. FLORISTÁN, Casiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 83.
Cf. BOROBIO, Dionísio. Catecumenado. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille M. Nuevo
Diccionario de Liturgia, p. 300.
37
CABIÉ, Robert. A iniciação cristã. In: MARTIMORT, Aimé Georges. A Igreja em oração. Introdução à
liturgia – vol. 3, p. 35.
38
PAIVA, Hugo de Vasconcelos. Catecumenato e instituição catequética dos sacramentos da iniciação. In:
CNBB. Pastoral da iniciação cristã. 2º. Encontro nacional de liturgia – pastoral litúrgica n. 1, p. 133 a 134.
39
As principais heresias deste período são: a) Arianismo: doutrina de Ário, famoso heresiarca de Alexandria
(280-336), segundo a qual Cristo era uma criatura de natureza intermediária entre a divindade e a humanidade;
36
23
precisar melhor sua doutrina em fórmulas definitivas e fazer maiores exigências aos
candidatos ao Batismo.
Na Didaqué, fala-se do batismo, depois de ter sido apresentada a doutrina dos
“dois caminhos”,40 há um nexo entre o ensinamento ou catequese e Batismo, que é precedido
pelo jejum.41 Segue-se, após o tema do Batismo o do Pai Nosso e da Eucaristia,42 o que
poderia ser já um indício do itinerário da iniciação cristã. O mesmo itinerário encontra-se na
Apologia I de Justino, em que a relação entre catequese e banho batismal é mais clara. Na
descrição de Justino, já se pode entrever um esboço do catecumenato.43
Consideração maior, porém, é a Tradição apostólica,44 da primeira metade do
século III, pois oferece um ritual completo da iniciação cristã. Pela importância desta obra
para a compreensão da iniciação cristã nesse período e sua referência na reforma do RICA
vamos aqui a ela nos ater mais detalhadamente, sem deixar de fazer referência a outras,
identificando a estrutura do catecumenato, composta por cinco etapas:
b) Nestorianismo: heresia de Nestório, segundo a qual há em Jesus Cristo duas pessoas distintas, uma humana e
outra divina - em oposição ao ensinamento ortodoxo de que Jesus Cristo era uma só pessoa com duas naturezas,
uma humana e outra divina. c) Donatismo (312 a ± 400): seita religiosa fundada no século IV por Donato, bispo
de Cartago. Reivindicam a sede episcopal de Cartago, afirmando que os sacramentos seriam inválidos quando
conferidos por um traidor; encorajado pelo imperador Juliano; eles têm grande estima pelo martírio, o que os
leva a provocar os pagãos e os católicos. d) Monofisismo: depois da união do Verbo divino com o homem Jesus,
somente se pode falar de uma só natureza, a natureza divina. e) Pelagianismo: doutrina de Pelágio (século V),
heresiarca inglês, a qual nega o pecado original e a corrupção da natureza humana e, conseqüentemente, a
necessidade do batismo. Minimiza o papel da graça, exaltando a primazia e a eficácia do esforço humano: a
graça só ajuda; a liberdade nada sofreu pelo pecado de Adão, que se restringe ao mau exemplo. Foi combatido
por Agostinho.
40
Cf. Didaqué 1,1-6.
41
Ibidem. 7,1-4.
42
Ibidem. 8,2 e 9,1-5.
43
Cf. JUSTINO, Apologia I, 61 e 65. In: JUSTINO DE ROMA. I e II Apologias. Diálogo com Trifão, p. 81-82
(Fontes da Catequese, 4): A Tradição Apostólica nos apresenta a descrição mais completa da vida da Igreja de
Roma no início do terceiro século (cf. Prefácio).
24
2.3.1 A apresentação do candidato e a sua admissão após um exame severo
Nem a Tradição apostólica nem Tertuliano45 falam de um rito de admissão ao
catecumenato. Aqueles que se apresentam são levados aos “doutores” e se procede a um
exame de seu estado de vida, de sua profissão, porque deverão renunciar a tudo o que for
contrário à condição de discípulos de Cristo.46
Inicialmente, procede-se a um minucioso exame do candidato, sempre
recomendado por um responsável.47 Trata-se de verificar os motivos da conversão, isto é, a
sinceridade do candidato, juntamente com os dados relativos ao seu estado familiar (solteiro
ou casado), social (livre ou escravo) e profissional (ofício ou trabalho).48 Certos estados e
profissões não são aceitos, caso não haja uma mudança.
A entrada no catecumenato supõe a evangelização e a conversão primeira, a
apresentação pelos padrinhos e o exame de admissão, com o qual, verificada a sinceridade de
atitudes, motivos e atividades, o candidato é incluído no grupo dos catecúmenos.
2.3.2 O período do catecumenato
Os candidatos admitidos denominavam-se “catecúmenos” (Katechumenoi) ou
“ouvintes” (audientes). Observa-se que, desde o começo, a formação não era puramente
45
Tertuliano nasceu por volta de 160, em Cartago. Os seus dois primeiros escritos Ad nationes e Apologeticum
datam do ano 197 e, na década seguinte, surgiram 20 escritos apologéticos contra pagãos e judeus, escritos
dogmáticos-polêmicos contra os gnósticos e outros hereges. Seus escritos são de grande importância para nossos
conhecimentos sobre a época, a sociedade, a cultura, a igreja e a teologia da África. (Cf. DROBNER, Hubertus
R. Manual de patrologia, p. 160 a 171).
46
TA, parte II: “os que se aproximam da fé”, p. 56.
47
Ibidem.
48
Cf. TA, p. 57 a 59: “os trabalhos e a artes proibidos”.
25
intelectual: depois da admissão começa um longo período de formação cristã no qual havia
ensino e exigências: arrependimento, fé na Igreja e vida transformada.49
Este período inclui a catequese, a oração e a imposição da mão pelo catequista,
que pode ser um clérigo ou um leigo.50 O próprio termo “ouvintes” mostra a importância da
catequese durante esta preparação para a iniciação.51
Logo no início, fazia-se uma catequese introdutória, da qual temos um exemplo
magnífico na obra de Santo Agostinho, De catechizandis rudibus,52 em que “pela exposição
da história salvífica até ao Juízo final deve ser conduzido ao amor, pela fé e pela esperança”.53
É uma exposição feita de tal forma que “aquele que te ouve, ouvindo, creia e, crendo, espere
e, esperando, ame”.54
Aos catecúmenos se dava uma instrução especial, separada da comunidade,
cujo tempo de instrução e de exercícios, segundo a Tradição apostólica, estendia-se
oficialmente por três anos.55 O que conta, porém, não é o tempo, mas a sua conduta para a
avaliação feita pela comunidade.56 Caso mostre muito zelo, no entanto, não se levará em conta
o tempo, mas o julgamento será feito a partir de sua conduta.
Os audientes participam das assembléias dominicais separados dos fiéis, e
somente permanecem para a primeira parte da missa, pois ainda não se associam à oração dos
49
Cf. FLORISTÁN, Casiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 84.
TA, parte II: “a imposição da mão sobre os catecúmenos”, p. 60.
51
Cf. CABIÉ, Robert. A iniciação cristã. In: MARTIMORT, Aimé Georges. A Igreja em oração - Introdução à
liturgia – volume 3 – os sacramentos, p. 37.
52
Cf. SANTO AGOSTINHO, BISPO DE HIPONA. A instrução aos catecúmenos. Teoria e prática da catequese.
Santo Agostinho dirige a um diácono de Cartago, a seu pedido, uma pequena obra visando ajudar a este no
ensino dos principiantes, De Catechizandis rudibus: trata-se de uma exposição da história da salvação
começando com o primeiro versículo do Gênesis até o atual período da história da Igreja.
53
NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada pelo
Concílio, p. 522.
54
SANTO AGOSTINHO. A instrução dos catecúmenos. Teoria e prática da catequese, IV, 8.
55
TA, parte II: “os catecúmenos”, p. 59.
56
Ibidem.
50
26
batizados.57 Estes não cessam de recomendá-los ao Senhor em sua prece. Tal situação
perdurará mesmo quando já tiverem entrado na etapa seguinte de sua preparação até o dia da
sua iniciação. Na assembléia dominical, portanto, os catecúmenos estavam presentes só na
primeira parte da missa, em cujo final eram despedidos.58
O tempo do catecumenato ou catequese desenvolve a dimensão doutrinal
(formação-ilustração), a moral (mudança de costumes-conversão) e a ritual (introdução à
oração e os símbolos), e vem a ser como o grande caminho pelo deserto até chegar à terra
prometida pelo batismo cristão.
A literatura patrística desta época enfatiza a qualidade moral dos candidatos.
Os “responsáveis” faziam um acompanhamento do ensinamento dos catequistas e, ao final do
catecumenato, testemunhavam diante da Igreja sobre a dignidade dos candidatos.
Os catequistas avaliavam o papel dos padrinhos, que guiavam os catecúmenos
pelo caminho da conduta cristã. Os catequistas, ainda, ensinavam os catecúmenos a orar, liam
e explicavam as Escrituras e os benziam ao final de cada sessão. Baseando-nos nisto, não
deveríamos hesitar em considerar as sessões catequéticas durante a época patrística como ritos
litúrgicos. Na realidade, se baseavam no formato da liturgia da Palavra, composta pela leitura
das Escrituras, ensinamento, oração e bênção.59
57
Ibidem.
“Dimissio catechumenorum”: a despedida dos catecúmenos depois da última leitura da palavra de Deus. Daí, a
expressão “missa”.
59
Cf. CHUPUNGCO, Anscar. Inculturación litúrgica. Sacramentales, religiosidad y catequesis, p. 167.
58
27
2.3.3 - A preparação próxima para o Batismo
a) Os “eleitos”
A outra forma de catequese estava reservada aos eleitos, que estavam próximos
de receber os sacramentos de iniciação. Esta etapa do catecumenato se iniciava com uma
compreensão mais sistemática das verdades reveladas. A Igreja, durante a época patrística,
lhes proporcionava ritos litúrgicos, especialmente à medida que se aproximava o batismo.
O momento da admissão ao batismo foi importante desde os começos
da iniciação. Exigia-se o arrependimento dos pecados, a aceitação da
fé da Igreja e a decisão de transformar a própria vida. Era um novo
exame sobre a conduta dos catecúmenos durante o tempo de instrução,
no qual intervinham de novo os padrinhos.60
A preparação próxima tinha início no começo da Quaresma. Durante a
quaresma, que era o grande retiro dos catecúmenos, acompanhados pelos jejuns e orações dos
fiéis, realizava-se a preparação próxima para o batismo, na noite da Ressurreição,61 em que
“toda a comunidade acompanhava os futuros iniciados, renovando seu próprio caminho na
direção da regeneração até o momento da eucaristia solene da noite da Ressurreição”.62
Hipólito fala de uma preparação mais intensa nas proximidades desta solenidade.63
Quem assume esse compromisso ganha outro nome: no Oriente, chamam-se
photizómenoi (os “iluminados), isto é, aqueles que serão iluminados pela profunda instrução
60
FLORISTÁN, Casiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 85.
Cf. PAIVA, Hugo de Vasconcelos. Catecumenato e instituição catequética dos sacramentos da iniciação. In:
CNBB. Pastoral da iniciação cristã. 2º. Encontro nacional de liturgia – pastoral litúrgica n. 1, p. 136.
62
CABIÉ, Robert. A iniciação cristã. In: MARTIMORT, Aimé Georges. A Igreja em oração - Introdução à
liturgia – volume 3 – os sacramentos, p. 38.
63
TA, parte II: “os que receberão o batismo”, p. 60.
61
28
nos mistérios da fé. No Ocidente chamam-se competentes, isto é, aqueles que se empenham
pela recepção imediata do Batismo. E, em Roma, chama-se electi, os “eleitos”, isto é, aqueles
que foram selecionados e aceitos através do exame do bispo.64
b) A inscrição do nome
O catecúmeno, segundo a Tradição apostólica,65 é apresentado ao bispo por
seu padrinho que dá um depoimento a respeito de suas disposições. Da parte do catecúmeno,
trata-se de um ato de candidatura e de eleição pela Igreja que o escolhe em nome do Senhor.
Este procedimento adquire mais importância, a partir do momento que aumenta
o número dos “ouvintes” que não se apressam na direção da fonte da graça. Tal etapa
constitui então, mais do que a entrada no catecumenato, o momento quando são determinados
os verdadeiros discípulos de Cristo.66
Os exercícios, portanto, concentravam-se agora de tal modo que as últimas
semanas de preparação coincidiam com o precioso e oportuno tempo dos cristãos, isto é, o
tempo da santa “Quarentena” ou Quaresma. A liturgia quaresmal, ainda hoje, deixa transpirar
belas alusões a esse costume.
Mesmo que a duração da quaresma variasse conforme as épocas e as Igrejas,
via de regra, é no começo do jejum que se dá o acesso a esta intensa preparação.67
64
Cf. NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada
pelo Concílio, p. 521.
65
TA, parte II: “Os que se aproximam da fé”, p. 56.
66
Cf. CABIÉ, Robert. A iniciação cristã. In: MARTIMORT, Aimé Georges. A Igreja em oração - Introdução à
liturgia – volume 3 – os sacramentos, p. 38 a 39.
67
Cf. Ibidem, p. 39.
29
O tempo da quaresma, desde o seu aparecimento, sempre foi considerado um
momento em que se dispensam, de forma mais abundantes, os tesouros da Palavra de Deus.
As comunidades são convidadas a reuniões freqüentes, durante as quais os bispos (a não ser
que se confiem esta tarefa a sacerdotes escolhidos devida à sua competência) comentam a
Sagrada Escritura. Os “eleitos” tomam parte, juntamente com os fiéis, nestas assembléias,
que, em determinadas Igrejas, são iniciadas ou concluídas por ritos catecumenais.68
Os “eleitos” são também convocados para catequeses que lhe são próprias, nas
quais são expostos os diversos artigos do “Credo”. Terminado este ensinamento e, em dias
que variam segundo os costumes locais, dá-se a traditio symboli: o símbolo da fé lhes é
“entregue”.
Eles deverão aprendê-lo de cor e serem capazes, no fim da Quaresma, de dizêlo publicamente, exprimindo desta forma sua adesão pessoal à fé que lhes foi transmitida:
“devolvem” o Credo. É a redditio symboli. Diz Santo Agostinho:
Dentro de oito dias restituireis o que recebestes hoje. Os vossos pais,
que vos acolhem hão de ensinar-vos também, para que estejais
preparados, e o modo como haveis de permanecer em vigília até o
canto do galo, para as orações que aqui celebrais. Começamos a
apresentar-vos aqui o Símbolo, para que o aprendais com cuidado;
mas ninguém tenha medo; o medo não deve impedir ninguém de o
recitar. Tende confiança: nós somos vossos pais, não temos a
palmatória nem as varas do mestre da escola. Se alguém se enganar
numa palavra, não erre na fé.69
68
Cf. Ibidem, p. 40.
SANTO AGOSTINHO, Sermão 23 (=Guelf. 1,11). In: SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA
(Org.). Antologia litúrgica. Textos litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio, n. 3813, p. 902.
69
30
As catequeses não são mero ensino intelectual e, menos ainda, exercício
escolar.
Integram-se na celebração. Geralmente, o comentário do Credo é seguido da
explicação do Pater, que será também objeto de uma traditio e de uma redditio.70
A catequese era acompanhada por uma série de exorcismos, com imposição
das mãos. Essas cerimônias eram designadas pelo nome de escrutínios, para mostrar que os
candidatos recebiam a ação transformadora de Deus em sua luta contra o mal.
Em certo sentido, tudo isto fazia parte do processo chamado catequese, “que
não se dava como um simples ensinamento em forma de aula, mas que se fazia conjuntamente
com os ritos litúrgicos”.71
2.3.4 - A iniciação sacramental
O ponto culminante do período de instrução catequética e formação espiritual
se dava na celebração pascal do batismo, da confirmação e da sagrada Eucaristia. O Cristo
Ressuscitado é o centro da vida de fé, do ensinamento, da liturgia e da vida comunitária, que
faz a Igreja ser uma comunidade de fé, de culto e de caridade.
As festas pascais são consideradas o tempo mais oportuno para a celebração da
iniciação. Tertuliano afirma expressamente: “o dia mais solene para o batismo é por
excelência o dia da Páscoa, em que é consumada a paixão do Senhor, na qual somos
70
Traditio e redditio: são palavras latinas que, durante o catecumenato, traduziam o gesto da entrega (traditio)
do Credo e do Pai-Nosso por parte da Igreja aos catecúmenos e estes, por sua vez, “devolviam” em forma de
vivência cristã, práticas evangélicas assimiladas em sua própria maneira de ser (redditio).
71
Cf. CHUPUNGCO, Anscar. Inculturación litúrgica. Sacramentales, religiosidad y catequesis, p. 166.
31
batizados”,72 de modo que liturgia e catequese se coordenavam, e o batismo se apresentava
como participação na Ressurreição de Cristo.
Esta iniciação sacramental consta de diversos momentos:73 a) três dias antes do
batismo, na quinta-feira anterior à Páscoa, os eleitos tomam um banho; b) na sexta-feira
começam o jejum; c) no sábado se reúnem com o Bispo, que lhes impõe as mãos
exorcizando-os, sopra-lhes no rosto e marca-os na fronte, nos ouvidos e nas narinas e,
d) durante a noite inteira faz-se vigília, rezando e ouvindo a Palavra de Deus.
No decorrer da vigília pascal celebra-se o rito sacramental propriamente dito:74
a) Enquanto os batizandos se preparam para o rito, despojando-se dos seus trajes, o bispo
consagra os óleos (o do exorcismo e o da ação de graças, que correspondem aos nossos óleos
dos catecúmenos e o santo crisma). b) Cada candidato pronuncia a renúncia a Satanás e, em
seguida, o presbítero o unge com óleo do exorcismo. c) Segue-se o Batismo, com três
imersões, correspondentes à profissão de fé dialogada nas três pessoas da Trindade.
d) Depois do batismo o neófito é ungido com o óleo de ação de graças. e) Em seguida, os
recém-batizados, tendo vestido as suas vestes brancas, se apresentam à comunidade reunida.
Neste ponto o bispo cumpre alguns ritos que correspondem ao sacramento da confirmação:
imposição das mãos, unção com o óleo de ação de graças, sinal da cruz na fronte, e o beijo de
paz ao neófito. f) Após, os neófitos rezam com todo o povo e participam da Eucaristia.
72
TERTULIANO. O Sacramento do Batismo; capítulo 19: o dia do batismo. (O Batismo tem grande importância
para a história da liturgia da iniciação cristã. É o primeiro e único tratado sobre um sacramento antes do Concílio
de Nicéia. Deve ter sido escrito por volta de 198).
73
TA, parte II: “os que receberão o batismo”, p. 61.
74
Ibidem. “a tradição do santo batismo”, p. 62.
32
Esta primeira participação eucarística é marcada por um rito especial: além do
pão e do vinho, os neófitos recebem uma mistura de leite e mel. Como recém-nascidos,
abandonaram o Egito da escravidão para habitar “numa terra onde corre leite e mel”.75
A iniciação cristã, na teologia dos Padres, visa a inserção do candidato adulto
na comunidade eclesial. O candidato é acolhido como novo membro com a recepção dos três
sacramentos da iniciação cristã: batismo, confirmação e eucaristia. Todo aquele que tenha
recebido a fé e a tenha confirmado pode aproximar-se do banquete eucarístico. Os processos
posteriores de preparação para a confirmação e a recepção da eucaristia, como fazemos hoje,
não são concebíveis pela teologia dos Padres.
2.3.5 - A catequese mistagógica
Durante a semana da páscoa, os neófitos, cheios de alegria e ansiedade, iam
diariamente à Igreja para receber as catequeses mistagógicas76 ou sacramentais, para que os
recém-iniciados aprofundassem a consciência dos símbolos experimentados. Em algumas
igrejas eram instruídos sobre certas exigências morais. Durante esta semana, os neófitos
usavam veste branca.77
Os Padres, quando organizavam suas catequeses mistagógicas, levavam em
conta não só a instrução, mas o rito, pois sua vivência e compreensão eram ministradas depois
da recepção dos sacramentos.
75
Ibidem. “a primeira eucaristia”, p. 65, citando Êx 3,8.17.
A catequese mistagógica desenvolve-se depois do Batismo para dar sentido aos sacramentos da iniciação, na
etapa pascal do neofitato. Durante este período havia o aprofundamento no mistério mediante a meditação do
evangelho, a participação na eucaristia e no exercício da caridade.
77
Cf. FLORISTÁN, Casiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 87.
76
33
Mesmo que os candidatos ignorassem ainda o total significado e
detalhes dos ritos litúrgicos, se consideravam preparados espiritual e
moralmente. Durante os oito dias seguintes à celebração, se reuniam
ao redor do bispo para revisar a experiência da noite de Páscoa e
discernir sobre novos pensamentos doutrinais e espirituais.78
Era preciso ser batizado para ter acesso ao mistério do batismo e dos demais
sacramentos, pois o mistério tem que ser experimentado antes de poder ser interpretado. E
isso não tanto por respeito à lei do arcano, que proibia comunicar os divinos mistérios aos
pagãos, mas, sobretudo por causa da convicção de que os sacramentos eram acontecimentos,
não noções.
Tinha-se por princípio que “a explicação prévia iria tirar do batizando a
receptividade para o evento e, conseqüentemente, a experiência do mistério”.79 Era preciso
vivê-los primeiro; a explicação vinha depois 80. É o que nos confirma São Cirilo de Jerusalém:
Desde há muito tempo desejava falar-vos, filhos legítimos e muitos
amados da Igreja, sobre estes espirituais e celestes mistérios. Mas
como sei bem que a vista é mais fiel que o ouvido, esperei a ocasião
presente, para encontrar-vos, depois desta grande noite, mais
preparados para compreender o que se vos fala e levar-vos pelas mãos
ao prado luminoso e fragrante deste paraíso.81
É preciso levar em conta que, para os Padres, os sacramentos não se explicam
antes de serem recebidos. Os mistérios primeiro se vivem e somente depois se entendem. Tal
78
CHUPUNGCO, Anscar. Inculturación litúrgica. Sacramentales, religiosidad y catequesis, p. 164.
NOCKE, Franz-Josef. Doutrina específica dos sacramentos. In: SCHNEIDER, Theodor. Manual de
dogmática, vol. 2, p. 219.
80
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade - Introdução teológica à liturgia, volume 1, p. 285.
81
CIRILO DE JERUSALÉM. Catequese Mistagógica 1, 1.
79
34
concepção é de grande importância para a atividade pastoral, pois permite dar continuidade ao
primeiro anúncio e ao catecumenato.82
Certamente vislumbra-se aqui um pensamento comum aos Padres da Igreja,
segundo o qual o rito tem um valor propedêutico, isto é, prepara o fiel para um ensinamento
mais completo. Não se trata, pois, exclusivamente, de ensinar e de “saber” coisas sobre a fé,
mas transmitir o conteúdo da fé da Igreja e, desta maneira, ajudar a mudar de vida, de acordo
com a fé, e de conduzir as pessoas às portas do encontro com Jesus Cristo, que vem ao
encontro delas pelos sacramentos.
À explicação dos mistérios dá-se o nome de catequese mistagógica, pois
mistagogia quer dizer, exatamente, “iniciação aos mistérios” ou sacramentos recémcelebrados.
A catequese mistagógica83 da semana pascal introduz os neófitos na seqüência
do rito ao mistério, à compreensão do que experimentaram na Vigília Pascal. Hipólito observa
que, se algo deve ser lembrado aos que tiverem recebido o batismo, o bispo, o fará em
segredo, para que os não-fiéis não sejam informados, a não ser depois que o houverem
também recebido.84
Dentre as catequeses mistagógicas deste período, tomamos como referência as
de Cirilo de Jerusalém.85 Nas suas cinco últimas catequeses, oferece uma explicação dos ritos
82
Cf. MIRANDA, Leonel Miranda. La iniciación cristiana en la época de los Padres de la Iglesia. Anotaciones
generales. In: Medellín. 128 (2006), p. 568.
83
TA, parte II: “a primeira eucaristia”, p. 67; PEREGRINAÇÃO DE ETÉRIA, “os mistérios”, p. 120.
84
Ibidem, p. 67 a 68; cf. também PEREGRINAÇÃO DE ETÉRIA, “os mistérios”, p. 120.
85
As Catequeses mistagógicas, atribuídas a São Cirilo de Jerusalém, bispo do final do século IV, são um
magnífico documento da teologia e da práxis sacramental da época no Oriente e, por meio dessas catequeses,
temos acesso ao anúncio da fé da Igreja Primitiva e às manifestações cultuais desta fé.
35
do batismo, da confirmação e da eucaristia. Portanto, nesta época, adquirem grande
importância as catequeses patrísticas86 sobre a iniciação cristã.
Os neófitos mantinham-se de veste branca e completavam a sua instrução
sacramental pelas catequeses mistagógicas até o segundo domingo da Páscoa “in albis
deponendis” (quando as vestes brancas são depostas). Era assim que terminava a catequese de
iniciação na comunidade cristã.
Enquanto não acontece todo este processo, não se pode dizer que um cristão
tenha completado a iniciação cristã.
3. A separação entre catequese e liturgia
Com o Edito de Milão, de Constantino, o Grande, em 313, acontece a união
política de dois poderes: o “espiritual” (papa) e o “temporal” (imperador). Este decreto
concedeu paz à Igreja e, ao mesmo tempo, “abriu a mesma Igreja ao mundo e à sua cultura”,87
o que favoreceu “o inevitável contato com certos elementos culturais que até aquele momento
estavam fora do âmbito cristão”.88
86
No Oriente: Cirilo de Jerusalém (+ 387), com as “Catequeses mistagógicas” e, no Ocidente: Ambrósio de
Milão (+397), “Explanatio symboli”, “De sacramentis”, “De mysteriis”, Cf. AMBRÓSIO DE MILÃO.
Explicação do símbolo. Sobre os sacramentos. Sobre os mistérios. Sobre a penitência; temos ainda: “Catequese
batismal” de João Crisóstomo e “Homilias catequéticas” de Teodoro de Mopsuéstia..
87
FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica, p. 42.
88
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade – vol. 1 – introdução teológica à liturgia, p. 312.
36
Aos poucos, se firma o que os historiadores denominam de Idade Média, o
longo período de consolidação do regime de cristandade, que se define pela “presença e
incidência da mensagem cristã nas estruturas públicas da sociedade”.89
A cidade cresce ao redor de um mosteiro, catedral ou paróquia; as
artes plásticas, literárias e principalmente musicais servem ao culto; a
legislação inspira-se na moral cristã; os trabalhadores pertencem a
grêmios dotados de santos patronos; nos hospitais e escolas para os
pobres (...) atende-se por caridade.90
As grandes transformações ocorridas na sociedade e na Igreja, do século IV ao
VI, e que se desdobram por toda a Idade Média, vão influir decisivamente na orientação e
prática da iniciação cristã.
3.1 - A crise do catecumenato
É no regime da cristandade, fase complicada da história, que o período de ouro
do catecumenato e da catequese (séculos III e IV) entra em crise. Os benefícios do império
romano ao cristianismo enfraquecem as motivações para a fé e o processo catecumenal.
Em pouco tempo, a Igreja perde uma importante e vital organização
que lhe garante fiéis bem preparados, integrados na liturgia,
familiarizados com a Sagrada Escritura, centrados em Jesus Cristo,
capazes de dar razões de sua esperança e mesmo de dar a vida pela
fé.91
89
BASURKO, Xabier. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BOROBIO,
Dionísio (Org.). A celebração na Igreja – vol. 1 – liturgia e sacramentologia fundamental, p. 92.
90
CELAM. Manual de catequética, p. 62.
91
NERY, Irmão. Catequese com adultos e catecumenato. História e proposta, p. 62.
37
Com a decadência do cristianismo primitivo, atraído pelo estado político e
pelos bens terrenos, e com o surgimento e consolidação da cristandade, em que o cristianismo
ganha status oficial, o catecumenato e a catequese vão ruindo.
A evangelização é facilmente favorecida e a conversão deixa de ser exigente. O
longo e rigoroso processo catecumenal é enfraquecido e, aos poucos, vai desaparecendo como
processo educativo, gradativo, experiencial, comunitário e dialogal de conversão e ação, pois
com o reconhecimento público do cristianismo, “uma ingente multidão de pessoas solicita sua
entrada na comunidade cristã. Mas os motivos dessa decisão com freqüência são interesseiros
e alheios a um desejo de conversão à fé cristã”.92
A Igreja, em meio a essa massa ingente de catecúmenos apenas nominais,
reestrutura o catecumenato, distinguindo claramente os verdadeiros aspirantes ao sacramento
da conversão cristã.93
O rito de passagem essencial para essa nova categoria no interior do
catecumenato (“tempo dos “eleitos”, dos “competentes”), é a inscrição do nome, que tende a
coincidir com o próprio tempo da quaresma.94 Os adultos que, nesta época, pedem o batismo
recebem uma iniciação, um catecumenato abreviado, intensivo, reduzido. A partir de então, os
pastores vão concentrar a atenção e o cuidado na preparação moral, doutrinal e ritual desses
aspirantes, o que é efetuado no período dos quarenta dias de preparação para a Páscoa.
Entre essas modificações, cabe ressaltar: o acento que agora se dá na
preparação próxima; o esvaziamento do termo catechumeni em prol da importância dada aos
92
Cf. BASURKO, Xabier. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BOROBIO,
Dionísio (Org.). A celebração na Igreja – vol. 1 – liturgia e sacramentologia fundamental, p. 73. Por exemplo: a
pessoa para aspirar a algum cargo público tinha que ser, pelo menos, catecúmeno. Além do mais, ser ou não ser
cristão condicionava a tranqüilidade e a boa reputação dos indivíduos na sociedade.
93
Cf. Ibidem, p. 74.
94
Cf. BASURKO, Xabier. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BOROBIO,
Dionísio (Org.). A celebração na Igreja – vol. 1 – liturgia e sacramentologia fundamental, p. 74.
38
competentes; a redução prática do processo catecumenal de três anos ao tempo intensivo da
quaresma; a concentração de conteúdos e ritos em um tempo relativamente insuficiente e
curto;95 enfim, a insuficiência da preparação real e a conversão com que muitos vieram a ser
competentes.96
Em certos círculos tíbios ou também escrupulosos, infelizmente, tornou-se
costume prorrogar o catecumenato e adiar a recepção do batismo até a idade avançada ou até
a hora da morte, a fim de que pudessem usufruir a vida ao seu modo e, no fim, pudessem
alcançar a vida eterna.97 Havia, portanto, vantagens em não receberem o batismo. Com isso,
os catecúmenos não se comprometiam com as obrigações impostas aos batizados: o
sacramento sempre ficava no horizonte, havendo a possibilidade de conseguir o perdão dos
pecados sem ter de recorrer à penitência eclesiástica, com suas terríveis conseqüências.98
Estes eram chamados de “procrastinantes”. Isto aconteceu com muita freqüência e “o
exemplo mais conhecido, já no século IV, é o próprio imperador Constantino Magno”.99
Desse modo, essa massa amorfa de catecúmenos não mostra nenhum empenho em reduzir o
período de formação catecumenal, pelo contrário, retarda a recepção do batismo até sofrer
alguma enfermidade grave ou o momento da morte.
95
Dar o nome, escrutínios, exorcismos, eleições, entregas,...
Cf. BOROBIO, Dionisio. Catecumenado. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille, M. Nuevo
diccionario de liturgia, p. 301 a 302.
97
Cf. PAIVA, Hugo de Vasconcelos. Catecumenato e instituição catequética dos sacramentos da iniciação. In:
CNBB. Pastoral da iniciação cristã. 2º. Encontro nacional de liturgia – pastoral litúrgica n. 1, p. 134.
98
Na Igreja primitiva, sabia-se que o batismo traz em si o perdão de Deus a todos os pecados. Portanto, um
adulto que se prepara para o batismo não precisa se confessar antes. Os que já tinham sido batizados só podiam
recorrer à Penitência uma única vez na vida. Por isso, muitos preferiam aproximar-se do batismo ou daquela
única oportunidade de penitência na hora da morte. Os pecados considerados graves ou “mortais”, como se
costumavam dizer, eram apenas três: idolatria ou apostasia (ruptura com Deus), homicídio (ruptura com o
próximo) e adultério (ruptura com a comunidade). A confissão ou declaração dos pecados era feita publicamente
à comunidade – através da qual Deus concede o perdão – e a penitência ou reparação também era pública. Podiase confessar também diretamente ao bispo ou ao seu representante. No caso de reincidência, o fiel ficava
desligado (= excomungado, fora da comunhão) da comunidade. Cf. BETTO, Frei. Catecismo popular, p. 124 a
125; BORÓBIO, Dionisio. El sacramento de la reconciliación penitencial; FLÓREZ, Gonzalo. Penitência e
unção dos enfermos.
99
NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada pelo
concílio, p. 522.
96
39
Os Padres apresentam numerosas exortações no sentido de que os catecúmenos
não difiram a iniciação e lamentam que muitos celebrem a Quaresma todos os anos sem
nunca chegarem a celebrar a Páscoa. Santo Agostinho, no início da Quaresma, insiste que o os
audientes100 se candidatem: “Chega a Páscoa, dá o teu nome para o Batismo”.101
Além do batismo em massa dos adultos em vista de conseguir privilégios e
favores dos imperadores, tem início o aumento do batismo de crianças que, a partir do século
VI, tornou-se uma prática generalizada. A pastoral da Igreja e o direito civil se unem para
consolidar essa prática e dotá-la de um caráter de obrigação cada vez mais estrita.
Logicamente, desapareceram pouco a pouco, com essa mudança, os catecúmenos adultos,
transformando-se a instituição catecumenal em “uma amálgama de ritos fossilizados”.102
A iniciação cristã, que, em épocas anteriores fora objeto de celebração solene e
comprometida de toda a comunidade, em datas relevantes do ano litúrgico,103 passará
paulatinamente a ser um assunto individual e familiar. A fragilidade dos recém-nascidos, a
mortandade infantil, leva a equipará-los aos enfermos e a conceder-lhes o sacramento em
qualquer dia do ano e “quam primum” (o quanto antes).104
Com isso, a ordenação do catecumenato teve de acomodar-se a estas condições
e, a conseqüência de tudo isso foi uma “progressiva desvalorização da instituição
100
Assim chamados “audientes” ou ouvintes, que primeiramente devem informar-se, orientar-se e ouvir as lições
preliminares da Sagrada Escritura, sem, no entanto, receberem oficialmente um cuidado da parte da Igreja. Cf.
NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada pelo
concílio, p. 521.
101
SANTO AGOSTINHO, Sermões, 132,1. In: SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA (Org.).
Antologia litúrgica. Textos litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio, n. 3687, p. 876.
102
BASURKO, Xabier. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BOROBIO,
Dionísio. A celebração na Igreja – volume 1 – liturgia e sacramentologia fundamental, p. 91.
103
Em Roma, sobretudo, na Páscoa e em Pentecostes.
104
Cf. BASURKO, Xabier. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BOROBIO,
Dionísio. A celebração na Igreja – volume 1 – liturgia e sacramentologia fundamental, p. 92.
40
catecumenal, apesar dos protestos dos responsáveis e a introdução de algumas modificações
significativas para adaptar-se a nova situação dos candidatos”.105
As mudanças sucessivas ocorridas no catecumenato conduzirão ao seu
progressivo desaparecimento. Isto afetará profundamente a relação entre liturgia e catequese,
cuja unidade vai sendo rompida lenta e progressivamente.
3.2 - A liturgia e a catequese na cristandade
Com o fim do catecumenato, desaparece a forma original de educar a fé
chamada catequese. A organização catecumenal não é substituída por uma instituição nova e
específica, mais adaptada aos novos tempos. A instrução e a iniciação cristã recaem – durante
toda a Idade Média – sobre outras instituições já existentes: a família cristã e o padrinho por
uma parte, e a pregação dominical e ocasional, por outra.106
Acredita-se que o contexto familiar, social, cultural, todo impregnado pelo
cristianismo, fará a pessoa ser cristã de modo automático. Inicia-se na história da Igreja o que
poderíamos denominar de catequese por imersão,107 isto é, alguém nascendo na cristandade
só podia ser cristão, por escolha ou não.
O ambiente geral da Idade Média constitui um verdadeiro catecumenato social,
sem a necessidade de uma instituição especializada de preparação adequada aos que pediam
os sacramentos, pois o ambiente cumpria essa função. Porém, esquece-se da necessária
aceitação vivencial de Jesus Cristo com seu Evangelho.
105
BOROBIO, Dionisio. Catecumenado. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille, M. Nuevo diccionario
de liturgia, p. 301 a 302.
106
HOLGADO, Manuel Matos e ARÉS, Vicente Maria Pedrosa. Catecismos e catecismo. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 116.
107
Cf. CR, n. 8-9.
41
No culto cristão, acontece uma ruptura progressiva entre liturgia e povo, entre
os ministros e a assembléia. O surgimento do presbitério nas igrejas, ao qual se chega por
meio de uma escadaria, afastando o altar da nave, obrigará os fiéis a assistirem as celebrações
de longe como se tratasse de um espetáculo teatral.
De tal Liturgia o povo não era mais do que um sujeito passivo. (...)
esta era uma lei que devia ser observada, porém precisamente como
qualquer outra ‘lei’ isto é, externamente. Assim, por exemplo, a missa
como ação ‘litúrgica’ exige do fiel ‘que veja a cerimônia’ com a
intenção geral de prestar honra a Deus e com atenção externa.108
O cerimonial, cada vez mais complicado, envolve os clérigos e os sacerdotes
numa atmosfera de sacralidade e de distância.
Pouco a pouco, vai predominando uma maneira de entender a missão dos
ministros do culto e da própria liturgia, em que se toma por base o ordenamento jurídicoeclesiástico e o mandato hierárquico.
Valoriza-se o culto pela precisão material das fórmulas e pela exatidão na
execução dos ritos, em detrimento das atitudes internas. A situação agrava-se quando o povo
deixa de entender o latim, mantido como a única língua litúrgica.109
Assim, era inevitável que a liturgia se tornasse cada vez mais incompreensível.
Por isso, viu-se a necessidade urgente de explicar os ritos litúrgicos, o que, infelizmente,
começou a ser feito durante a execução do próprio rito.
108
MARSILI, S. A liturgia, momento histórico da salvação. In: VVAA. A liturgia, momento histórico da
salvação, p. 71. (Anámnesis 1)
109
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade – vol. 1 – introdução teológica à liturgia, p. 314.
42
Para isto, recorria-se, muitas vezes, à alegoria,110 ou seja, à metáfora elevada à
categoria de interpretação, mas baseada não na realidade dos significados, e sim numa visão
puramente subjetiva e, em muitos casos, totalmente arbitrária. O resultado era o acréscimo de
novos sentidos aos sinais, o deslocamento de significados, a ruptura da relação do símbolo
com a realidade invisível.
De uma compreensão genuinamente teológica da relação fé-cultura, vida-culto,
característica da idade patrística, passar-se-á à compreensão cada vez menos teológica e mais
alegorizante, ascética e moralista. Diante disto, o mistério já não será a categoria
dominante.111
Enquanto o alegorismo litúrgico tinha como objetivo conservar o contato entre
a liturgia e o povo, o devocionismo da segunda e da baixa Idade Média constitui de fato um
“substituto” da liturgia.112
A liturgia, como fonte de espiritualidade cristã, cede lugar às devoções. O
centro de espiritualidade não é mais o mistério pascal celebrado na liturgia, mas os santos e o
Santíssimo Sacramento, venerados pelas práticas devocionais, tais como novenas, promessas,
procissões e adorações.113
A participação plena na missa pela sagrada comunhão cede lugar à prática
devocional de “ver” e “adorar” a hóstia consagrada. Cresce no povo cristão, o desejo e a
ânsia incontida de ver, de contemplar e de adorar o Santíssimo Sacramento. A missa
110
Do grego = transposição; figura retórica, pela qual se comunica uma realidade, através da qual seu receptor
pode entender outra. Notável é a interpretação alegórica tanto da Bíblia como da missa. Entre as várias
definições de alegorias dadas pelos Padres, pode-se lembrar a de Ambrósio: “allegoria est, cum aliud geritur et
a aliud figuratur”: “alegoria é tratar com uma realidade e figurar outra”.
111
FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica, p. 43.
112
Cf. MARSILI, S. A liturgia, momento histórico da salvação. In: VVAA. A liturgia, momento histórico da
salvação, p. 77 (Anámnesis 1).
113
Cf. SILVA, José Ariovaldo da. Sacrosanctum Concilium e reforma litúrgica pós-conciliar. Um olhar
panorâmico no contexto histórico geral da liturgia: dificuldades, realizações, desafios. In: CNBB. A sagrada
liturgia 40 anos depois, p. 37. (Estudos da CNBB, 87)
43
alimentada pelas explicações alegóricas adquire agora um surpreendente relevo, quando, no
começo do século XIII, se introduz o rito da elevação das espécies sagradas na
consagração.114
No final da Idade Média (século XIV) surgiu um movimento de interiorização
religiosa que se conhece pelo nome de devotio moderna. Foi, antes de tudo, um esforço para
criar uma espiritualidade nova, orientada à imitação de Cristo por meio da meditação e da
oração pessoal.
Frente à liturgia, que não alimentava mais a vida espiritual, e às devoções, que
haviam caído num materialismo exteriorista, esse movimento significava uma revisão de toda
situação religiosa e uma busca de novos caminhos de espiritualidade. A meditação afetiva era
o meio por excelência para se conseguir a revitalização da vida cristã.
Essa nova orientação entendia a salvação mais como resultado de um
esforço psicológico e pessoal do que como fruto dos sacramentos da
Igreja. O individualismo religioso, que exerceu um papel tão decisivo
nos séculos seguintes, tem aqui seu ponto de partida.115
A liturgia aparece como um elemento exterior à vida religiosa, a qual vai se
orientando para novas formas de piedade. Os fiéis continuarão assistindo com grande devoção
à missa, mas raras vezes acontecerá a ocasião para uma verdadeira comunhão sacramental.
Por conseguinte, o verdadeiro sentido da celebração permanecerá quase ausente.116
114
Cf. BASURKO, Xabier. História de la liturgia, p. 259.
MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade – vol. 1 – introdução teológica à liturgia, p. 315.
116
Cf. FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 55.
115
44
Certamente, o elemento mais negativo é, sobretudo, a carência do sentido
sacramental na vida dos cristãos, que criará também uma situação muito longínqua daquela
em que foram escritas as catequeses mistagógicas dos primeiros séculos.117
É o verdadeiro momento do nascimento do individualismo religioso, em que a
salvação não é tanto obra de Cristo, pela Igreja, mas resultado de um esforço psicológico.
A liturgia da Idade Média, com bastante freqüência não era, infelizmente, um
momento de contato interior com Deus e com o mistério pascal.118 Nesta linha se move com
surpreendente tranqüilidade toda a Idade Média, em que assistimos às mais estranhas
elucubrações e fantasias, muitas das quais chegaram até nossos dias.
Quanto ao processo catequético, na época Moderna (séculos XVI a XVIII),
ficou reduzido praticamente aos ritos, e o ensinamento foi igualmente reduzido a um pequeno
livro de perguntas e respostas, chamado catecismo.119 Identificaram-se o processo e o
instrumento de catequese, e ambos eram dirigidos tanto a crianças como a adultos.
O termo catecismo, além de substituir o termo catequese, serve para designar
não somente um livro, mas o processo catequético, orientado principalmente a preparar as
crianças para os sacramentos da iniciação cristã.120
117
Cf. Ibidem.
Cf. MARSILI, S. A liturgia, momento histórico da salvação. In: VVAA. A liturgia, momento histórico da
salvação, p.79 a 80.
119
Foram vários os catecismos elaborados. Para aprofundar o tema cf. HOLGADO, Manuel Matos e ARÉS,
Vicente Maria Pedrosa. Catecismos e catecismo. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e
SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 114 a 124; RODRIGO, Angel Matesanz. História da catequese. In:
PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 564 a 573;
CELAM. Manual de catequética, p. 57 a 98; BOLLIN, Antonio e GASPARINI, Francesco. A catequese na vida
da Igreja. Notas de história, p. 97 a 200.
120
Cf. CELAM. Manual de catequética, p. 44.
118
45
Os primeiros catecismos, no sentido atual do termo, tiveram como autores
Lutero (1483-1546) e Calvino. Eles foram imitados por grandes teólogos católicos: Pedro
Canísio (na Alemanha), Roberto Belarmino (na Itália) e Edmond Auger (na França).121
Por impulso do Concílio de Trento (1545-1563), é publicado por Pio V, em
1566, o catecismo destinado aos párocos, chamado também de Catecismo romano,122 “para
que instruíssem os fiéis adequadamente”.123
No Catecismo romano, há uma expressão completa da fé e da vida dos cristãos
e trata, entre outros temas, da fé e do Símbolo, dos sacramentos, do Decálogo e do Pai-nosso
e se constitui, “o principal canal através do qual o concílio de Trento chegou à massa dos
católicos”.124
A intenção original do Concílio de Trento de elaborar um catecismo orientado
ao estudo da Bíblia acaba desvirtuada, pois o catecismo é reduzido a um pequeno livro de
perguntas e respostas.125
O Catecismo romano, no entanto, desperta o desejo de conhecer e seguir Jesus
Cristo, deixando-se arrebatar pelo amor de Deus, meta dos mandamentos e felicidade única
do ser humano126 e acaba por ocupar lugar de relevo na história da catequese pelos conteúdos,
pela estrutura e pelas orientações metodológicas.127
121
Cf. SANTOS, Luiz Pereira dos. Catequese ontem e hoje. Dos primórdios a Medellín, p. 28.
CATECISMO ROMANO. Catecismo dos párocos, redigido por decreto do Concílio Tridentino, publicado
por ordem do Papa Pio V. Versão fiel e edição autêntica de 1566, com notícia histórica e análise crítica por
Padre Valdomiro Pires Martins; 2ª. ed. refundida.
123
VENARD, Marc. O concílio lateranense V e o tridentino. In: ALBERIGO, Giuseppe (Org.). História dos
concílios ecumênicos, p. 349.
124
Ibidem. p. 350.
125
Cf. CELAM. Manual de catequética, p. 69.
126
Cf. Ibidem.
127
Cf. STENICO, Tommaso. Os catecismos na caminhada da Igreja. In: CATÃO, Francisco (Org.). Catecismo e
catequese. Uma nova proposta: o catecismo da Igreja católica, p. 33.
122
46
No Concílio de Trento, a catequese é considerada como tarefa dos pastores,
inserida na estrutura diocesana e paroquial e vinculada aos momentos sacramentais. Isso
promove certa clericalização da catequese, inibindo a iniciativa dos leigos.128
Assiste-se, após o Concílio, a uma sistemática revalorização do clero paroquial,
para assegurar a cura das almas. Alguns livros - os mais divulgados dos quais são o
Catecismo do Concílio de Trento e o Ritual de Paulo V (1615) – os orientam na administração
dos sacramentos e no ensinamento aos fiéis mediante o catecismo e a homilia. Junto a esse
aumento de poder por parte do clero, o laicato católico parece condenado a um papel
passivo.129
A Igreja hierárquica, preocupada em oferecer um sólido conhecimento da
própria fé e dos próprios deveres, recorre ao catecismo:
Difundido metodicamente pelo clero pós-tridentino, baseado em
manuais cada vez mais especializados, o catecismo foi a grande obra
de aculturação cristã dos tempos modernos. A partir do século XVII,
ele começa a se concentrar num rito novo: a primeira comunhão das
crianças, destinada a se tornar ‘o dia mais feliz da vida’ do cristão.130
A opção mais original e mais decisiva acontece, porém, no século XVII,
quando foi organizada a instrução religiosa de acordo com as diretrizes do Concílio de Trento:
a instituição da catequese dirigida às crianças.
128
CELAM. Manual de catequética, p. 69.
VENARD, Marc. O concílio lateranense V e o tridentino. In: ALBERIGO, Giuseppe (Org.). História dos
concílios ecumênicos, p. 358 a 359.
130
Ibidem, p. 361.
129
47
A formação religiosa das crianças, deixada durante quinze séculos à total
responsabilidade dos pais, é agora oficialmente apoiada por uma instituição religiosa
promovida pelas paróquias.131 Trata-se do ato de nascimento de catequese para as crianças.
Aos sete anos começava a preparação para a confirmação e prosseguia a
educação religiosa até a primeira comunhão, aos onze ou doze anos. E, no século XVIII, a
tendência era celebrar a confirmação depois da primeira comunhão, para assegurar a presença
do bispo. Mas, em 1910, com o decreto Quam singulari,132 de Pio X, adiantou-se a primeira
comunhão para os sete anos. Conseqüência disso foi a inevitável prorrogação da
confirmação.133
Na Época Contemporânea (séculos XIX a XX), o conteúdo da catequese
continuou sendo dirigido ao povo de Deus por meio do catecismo, seguindo as pegadas da
Idade Média e na Época Moderna.134
O que define a ação catequética é, agora, o ensino da doutrina cristã,
concentrada no catecismo, o livro que compila, de um modo simples, essencial e completo,
tudo o que o fiel deve conhecer.135 O catecismo, porém, com o passar do tempo, “foi ficando
estreito e se desconectando das interrogações do homem moderno”.136
A iniciação cristã de adultos, agora inexistente, fez com que o regime
catequético se concentrasse na idade infantil como educação da fé pós-batismal e préeucarística. Os rituais sacramentais da iniciação, destituídos de catequese, seguiam uma
131
BOLLIN, Antonio e GASPARINI, Francesco. A catequese na vida da Igreja. Notas de história, p. 119.
SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS SACRAMENTOS. Decreto “Quam singulari”, aprovado por PIO X, n.
4. (Documentos pontifícios, 103)
133
Cf. FLORISTÁN, Casiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 96.
134
CELAM. Manual de catequética, p. 45.
135
Cf. BOLLIN, Antonio e GASPARINI, Francesco. A catequese na vida da Igreja. Notas de história, p. 105.
136
HOLGADO, Manoel Matos e ARÉS, Vicente Ma. Pedrosa. Catecismos e catecismo. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 119.
132
48
direção, enquanto a catequese, voltada mais para as crianças, com catecismos doutrinais e sem
liturgias adequadas. Catequese e liturgia eram blocos justapostos, apenas correlacionados.137
Assim continuará, de modo geral, a iniciação sacramental das crianças até o
Concílio Vaticano II, o qual restaurou o catecumenato.
137
Cf. FLORISTÁN, Casiano. Pastoral litúrgica. In: BOROBIO, Dionísio. A celebração na Igreja - Volume 1 Liturgia e sacramentologia fundamental, p. 458.
49
CAPÍTULO II
A RESTAURAÇÃO DO CATECUMENATO
Na cristandade, com a ritualização da liturgia138 e o desvirtuamento da
catequese, agora concebida essencialmente como aprendizado doutrinal, a prática da iniciação
cristã, passa por longos períodos de obscuridade e desorientação.
A iniciação cristã, com a cisão entre catequese e liturgia, perde seu valor e seu
sentido original, o que terá que esperar um dos maiores Concílios da história para ser
restabelecida na Igreja.139
A restauração do catecumenato, como fruto do interesse de revisão e
aprofundamento da iniciação cristã, foi amadurecendo lentamente na Igreja, tanto em terras de
138
“As formas litúrgicas tinham chegado muitas vezes a um estado caótico no fim da Idade Média”:
JUNGMANN, Josef Andréas. Uma dádiva inapreciável de Deus à sua Igreja. In: BARAÚNA, Guilherme. A
sagrada liturgia renovada pelo Concílio, p. 121.
139
CAMPO GUILARTE, Manuel Del. A iniciação cristã. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R.
e SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 603.
50
missão como em países de antiga tradição cristã e assumida, mais tarde, pelo Concílio
Vaticano II, através do RICA.
Este ritual prevê, para tanto, a interação entre a catequese e a liturgia em vista
de uma iniciação cristã mais de acordo com as realidades que questionavam a atuação da
Igreja e exigiam novas posturas.
1. A renovação litúrgica
O RICA encontra-se inserido no contexto da reforma litúrgica, promovida pelo
Concílio Vaticano II. As decisões e reflexões deste Concílio serviram de orientação e suporte
na elaboração deste ritual.
1.1 - A preocupação do Concílio
A grande síntese medieval, herdeira de todo o passado pré-moderno, foi se
desfazendo com a entrada de um novo tempo histórico. A irrupção da Modernidade pusera o
cristianismo diante da alternativa: ou mudança radical ou paralisação num passado morto. “A
tarefa resultava tão ingente que só com fortes resistências e sempre com atraso foi sendo
abordada pelas Igrejas”.140
140
TORRES QUEIRUGA, Andrés. O Vaticano II e a teologia. In: VV.AA. Vaticano II: um futuro esquecido?
Concilium 312 (2005), p. 20.
51
O grande mérito do Concílio Vaticano II é que, pela primeira vez e de maneira
oficial, se reconhece esta situação, proclamando a necessidade de um aggiornamento,141 e
diálogo.142 Para isso, legitimou os esforços para alcançá-lo. O Concílio, “mais do que uma
resposta acabada, foi a ruptura do dique que retinha as águas impetuosas de uma renovação
sempre suspensa.143
É neste contexto que acontece o Concílio Vaticano II, marcado pelo
“abandono de uma teologia abstrata essencialista, fixista, imutável, que sustentara por
séculos tanto os ensinamentos oficiais como a cultura da cristandade”,144 em que “o encontro
com a modernidade se fez por meio da ciência, da emergência da subjetividade, da entrada da
história, da relevância crescente da práxis”.145
1.2 - Linhas da renovação litúrgica
Os documentos do Concílio Vaticano II – particularmente a constituição
dogmática Sacrosanctum concilium – e a reforma pós-conciliar que se seguiu, constituem um
momento eclesial de notável importância doutrinal.
A Sacrosanctum concilium se posiciona decididamente num plano teológico. O
interesse do documento se concentra não nos ritos em si, mas no conteúdo da fé que eles
141
Aggiornamento: atualização, renovação, rejuvenescimento da Igreja.
Seguindo o princípio da comunhão, co-responsabilidade, participação.
143
TORRES QUEIRUGA, Andrés. O Vaticano II e a teologia. In: VV.AA. Vaticano II: um futuro esquecido?
Concilium, n. 312 (2005), p. 22.
144
LIBÂNIO, João Batista. Concílio Vaticano II. Em busca de uma primeira compreensão, p.52. (negrito do
autor)
145
Ibidem.
142
52
devem exprimir. Pela primeira vez um Concílio enquadrou a liturgia numa perspectiva
estritamente teológica e a resgatou de um simples e limitado ritualismo.146
A reforma litúrgica esforçou-se por redescobrir e restabelecer as linhas
fundamentais de todos os ritos, libertando-os de elementos heterogêneos, inadequados ou que
se tornaram anacrônicos, e por inserir novas formas em harmonia com as preexistentes.
O Concílio afirma a necessidade de uma reforma dos ritos sacramentais,
porque reconhece que, no decurso do tempo, se introduziram elementos que, de certa maneira,
obscureceram sua natureza e finalidade.147 E, para isso, determina uma série de modificações
a serem feitas no rito de todos os sacramentos.
Não se limitou, porém, a mero trabalho de restauração. Como fundamento,
promoveu uma visão renovada da liturgia e das suas relações com o mistério da salvação, com
a Igreja e com o mundo.148 O critério da reforma é ressaltar a norma fundamental da
participação consciente, ativa e fácil de todos os fiéis,149 exigida pela própria natureza da
liturgia, e que é um direito e obrigação do povo cristão por virtude do seu batismo.150
Recomenda para favorecer tal participação, que “as cerimônias resplandeçam
de nobre simplicidade, sejam claras na brevidade e evitem repetições inúteis; devem adaptarse à capacidade de compreensão dos fiéis e não precisar, em geral, de muitas explicações”151
e, ainda, o uso da língua vernácula.152
146
Cf. AUGÉ, Matias. Liturgia. História – celebração – teologia – espiritualidade, p. 59.
Cf. SC, n. 62.
148
Cf. PASQUALETTI, G. Reforma litúrgica. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 994.
149
Cf. SC, n. 79.
150
Cf. SC, n. 14.
151
SC, n. 34; cf. SC, n. 50 e n. 21.
152
SC, n. 36.
147
53
O uso da língua vulgar não foi, porém, a única grande mudança. Fala-se nas
normas para adaptar a liturgia à mentalidade e tradição dos diversos povos153 e que, ao fazer a
revisão dos livros litúrgicos, serão admitidas legítimas adaptações.154
Diretamente relacionado com a restauração do catecumenato, o Concílio
consagra o princípio das experiências prévias.155 Ousadia salutar da reforma, que ajudou a
romper o fixismo das rubricas.156
A liturgia renovada abriu, ainda, os tesouros da Sagrada Escritura de modo
mais amplo, variado e adequado.157 A Palavra de Deus conquistou na liturgia um lugar de
“máxima importância”,158 pois sua proclamação tem, em toda celebração, largo espaço.
Importância igualmente ressaltada é a do ano litúrgico,159 que confere
dimensão de pascalidade à trajetória dos fiéis ao longo do ano. O domingo é o fundamento e o
núcleo de todo o ano litúrgico, é a festa primordial, que os fiéis devem considerar como dia de
alegria e de libertação do trabalho.160 A mais antiga celebração na Igreja é a do domingo, “Dia
do Senhor”, por causa da ressurreição de Cristo.
O Concílio Vaticano II fala da liturgia, contemplando-a na perspectiva da
história da salvação, superando a mentalidade de validade e de rubricismo que a considera um
rito a ser executado segundo as normas da lei e do cerimonial.
153
Cf. SC, n. 37.
Cf. SC, n. 38, 39 e 40.
155
Cf. SC, n. 40. Alguns ritos antes da sua publicação oficial usufruíram de certo período de experiência
segundo normas precisas em diversos ambientes bem determinados. Isso foi possível em larga escala, além do
catecumenato dos adultos, para a concelebração, a unção dos enfermos, as exéquias e a liturgia das horas. E são
os ritos mais bem sucedidos (Cf. PASQUALETTI, G. Reforma litúrgica. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA
Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia, p. 991).
156
ISNARD, Clemente. A constituição conciliar Sacrosanctum Concilium. In: Revista de liturgia, 171 (2002), p.
7.
157
Cf. SC, n. 33; n. 35.
158
SC, n. 24.
159
Todo o quinto capítulo da Constituição trata deste tema: Cf. SC, nn. 102 a 111.
160
SC, n. 106.
154
54
A liturgia, ou melhor, as formas litúrgicas são vivas, e não se pode deixar de
reprovar o “imobilismo” litúrgico que prevaleceu depois do Concílio de Trento.161 O
resultado é um conceito dinâmico de liturgia, cujo ponto nuclear é a presença de Cristo na
ação litúrgica. Revalorizava-se, assim, a liturgia como obra de Cristo através do tempo, isto é,
como mistério de salvação atuante na história por meio da eucaristia, dos sacramentos e das
demais celebrações litúrgicas.162
Os sacramentos passam a ser considerados de forma mais visível como
celebração do mistério pascal, pelo qual o mistério de Deus comunica a seu povo a salvação, e
o povo, por sua vez, comunica-se com o mistério acolhendo a salvação e comprometendo-se
com o projeto do Deus da vida.163
Além de louvar a Deus e santificar os fiéis, os sacramentos também têm um
fim pedagógico. Não apenas supõem a fé, mas também a alimentam e a expressam por meio
de palavras e atos, e por isso se chamam sacramentos da fé,164 “como um encontro pessoal
com o Kyrios (ressuscitado), momento constitutivo e simbólico da sacramentalidade da
Igreja”.165
O Concílio Vaticano II, de um lado, sublinha a estrutura pessoal do sacramento
da fé166 e, de outro, define a Igreja como sacramento de salvação.167 É precisamente o
161
Por muito tempo, principalmente do Concílio de Trento em diante, perdurou uma visão da liturgia estáticojurídica, o valor da mesma se concentrou totalmente no fato de ser um rito externamente completo conforme
determinadas rubricas (Cf. Matias Auge, Liturgia. História – celebração – teologia – espiritualidade, p. 60 a 61;
cf. MARSILI, S. A liturgia, momento histórico da salvação. In: VV.AA. A liturgia: momento histórico da
salvação, p. 103 a 107).
162
Cf. MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade - volume 1 - Introdução teológica à liturgia, p. 324 a
325.
163
A teologia clássica escolástica considerava os sacramentos como coisas ou meios de salvação que chegavam
de fora, de modo passivo. Hoje, os teólogos preferem falar dos sacramentos como acontecimentos que se
inserem no plano de salvação projetado por Deus. Portanto, temos uma visão dos sacramentos como ações de
Deus para todos os seres humanos. Cf. FLORES, Juan Javier. Introdução à teologia litúrgica, p. 340.
164
Cf. SC, n. 59.
165
CODINA, Victor. Pressupostos teológicos para uma pastoral sacramental hoje. In: VV.AA. Os sacramentos
hoje: teologia e pastoral, p. 15.
166
SC, n. 59.
55
momento em que a Igreja deixa de se definir em forma de autoridade para se definir como
comunidade, mistério e povo de Deus. Já não se identifica com a salvação, mas se considera
apenas seu sacramento, o lugar onde a salvação se torna visível e simbólica.
Esta nova definição de sacramento, que se harmoniza mais com a visão
patrística dos primeiros séculos do que com a imagem medieval de instrumento, contribui
para superar uma visão mecanicista e mágica do sacramento. É uma perspectiva que valoriza
a fé da pessoa e insere os sacramentos na dimensão litúrgica da Igreja e os situa entre a
Palavra e a epiclese. O horizonte do sacramento agora é a Igreja:
O batismo introduz na comunidade eclesial, a confirmação reforça
pneumaticamente a adesão a uma Igreja pentecostal e missionária, a
eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a eucaristia, a penitência reconcilia
com a Igreja (...), o ministério ordena para uma tarefa ao serviço
estrutural da comunidade eclesial, o matrimônio constitui a célula
básica da Igreja (...), e a unção é uma presença salvífica da Igreja junto
a um membro sofredor da comunidade dos batizados.168
O próprio ministro ordinário dos sacramentos é visto não mais como um
mediador entre Deus e os homens, mas como membro qualificado da Igreja, que, embora
agindo “in persona Christi”, faz isto como membro qualificado da comunidade e em seu
nome.169
167
LG, n. 1, 9 e 48.
CODINA, Victor. Pressupostos teológicos para uma pastoral sacramental hoje. In: VV.AA. Os sacramentos
hoje: teologia e pastoral, p. 16.
169
Cf. LG, n. 10 e PO, n. 5.
168
56
Vemos, assim, que “a renovação pastoral, fruto do Concílio Vaticano II, é um
grande todo em que vários setores se interligam: renovação da pastoral dos sacramentos e das
estruturas de Igreja”.170
Resgata-se, assim, a dimensão eclesial-comunitária da liturgia, a importância
da assembléia litúrgica (povo sacerdotal, corpo de Cristo), toda ministerial e sujeito da
celebração: é todo o povo que, presidido por seus pastores, celebra em Cristo a sagrada
liturgia.
O RICA foi elaborado neste contexto da reforma litúrgica do Concílio
Vaticano II, que se volta também para tradições antigas, dentro das quais “o culto divino
ainda constituía algo de vivo para toda a comunidade cristã”.171
O objetivo da renovação litúrgica, enfim, mais do que revisar ou implementar
ritos, visava aprofundar a relação liturgia e catequese. Oferecer a possibilidade de que o fiel
cristão participe viva e ativamente na liturgia e prolongue em sua vida o que celebra. A
reforma não pretendia manter um estado igual ao precedente. Queria dar às celebrações outro
estilo e outra dinâmica para transformar a assembléia litúrgica e as atitudes dos cristãos.
Ninguém poderá negar a riqueza de perspectivas que encerra este modelo
sacramental e o notável progresso com relação ao modelo medieval anterior.
170
Cf. ISNARD, José Carlos Clemente. In: CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Ritual
da iniciação cristã de adultos. Ritual renovado por decreto do Concílio Vaticano II, promulgado por autoridade
do papa Paulo VI. (Apresentação)
171
JUNGMANN, Josef Andréas. Uma dádiva inapreciável de Deus à sua Igreja. In: BARAÚNA, Guilherme. A
sagrada liturgia renovada pelo Concílio, p. 124.
57
2. A retomada do catecumenato
Algumas experiências serviram como reforço e base para a restauração do
catecumenato que, longe de ser uma iniciativa isolada, insere-se num contexto de
evangelização, em vista dos desafios que a Modernidade vinha impondo à Igreja.
2.1 - Experiências prévias
Na Idade Moderna, algumas tentativas de retomada do catecumenato foram
realizadas nas chamadas “terras de missão” e nos países de antiga tradição cristã.172 Desta
forma foi, aos poucos, delineando-se um lento processo de redescobrimento e de valorização
do catecumenato.
Nos países de missão, há uma discrepância singular entre a preparação
catequética e a ação litúrgica: a preparação não passava de uma doutrina moral e teórica e, à
liturgia do batismo, faltava a viva força de convicção e o enraizamento na vida prática.
Essa situação foi percebida não só nos países de missão, mas igualmente
importante é a transformação completa e radical que vai acontecendo, paulatinamente, nos
países tradicionalmente cristãos que se encontram envolvidos com o processo de
172
A instituição catecumenal, na Idade Moderna, primeiro pelo impulso das missões e depois nos países de
antiga tradição cristã, foi se esboçando um lento processo de redescobrimento e de valorização. Para aprofundar
a renovação do catecumenato em países de missão e de antiga tradição cristã, conferir: FLORISTÁN, Cassiano.
Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 108 a 127; ALBERICH, Emílio e BINZ, Ambroise. Formas e
modelos de catequese com adultos. Panorama internacional, p. 27 a 28; LÓPES, Jesús. Catecumenato. In: DE
FIORES, Stefano e GOFFI, Tullo. (Org.). Dicionário de espiritualidade, p.107 a 108.
58
secularização, laicização e descristianização sempre mais crescente, e voltaram a ser em larga
escala “países de missão”.173
Nos anos que precederam imediatamente o Concílio, a Santa Sé concedera às
Igrejas locais o indulto de restabelecer o catecumenato. O Consilium174 ficou encarregado da
tarefa de elaborar um rito revisado e de determinar adaptações convenientes,175 dando a
devida atenção às necessidades das igrejas nas missões. Pretendia-se entrelaçar os três
sacramentos da iniciação e vinculá-los com o mistério pascal. De antemão, aceitaram etapas
de um itinerário, com participação de toda a comunidade cristã.176
Depois de examinadas as experiências feitas, chegou-se à conclusão de que o
ritual deveria ser antes uma iniciação à vida cristã do que uma preparação ao rito; descoberta
de uma comunidade de crentes, ao invés de entrada numa Igreja abstrata; e catequese
progressiva da experiência cristã, com perspectivas sociais, em vez de reduzir-se a uma
doutrinação moral e dogmática.177
A experiência demonstrou ser satisfatória e os bispos estavam empenhados em
ter o catecumenato restabelecido como norma prática, mas adaptado às condições dos tempos
modernos.
173
Cf. NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada
pelo Concílio, p.531 a 532.
174
Uma vez aprovada a Constituição litúrgica (4 de dezembro de 1963), com o motu próprio Sacram liturgiam
(25 de janeiro de 1964) foi logo preparado um programa para pôr em prática as orientações nela contidas. A
tarefa de pôr em prática e realizar o que a constituição dispunha foi confiado pelo motu próprio já citado ao
“Consilium ad exsequendam constituitionem de sacra liturgia”, mais comumente chamado de “Consilium”, que
era constituído por membros consultores e conselheiros e, desde 1965, teve uma revista sua: “Notitiae”. O
Consilium para a reforma litúrgica confiou o trabalho a uma comissão de doze membros. Para fazer a
estruturação da iniciação cristã, mantiveram-se contatos com experiências catecumenais na França, África e
Japão. Cf. PASQUALETTI, G. Reforma litúrgica. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia, p. 987 a 988; FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p.
162.
175
Em 1965, foi aprovado um Ritual ad experimentum que, em 1966, depois de uma nova elaboração e da
aprovação por Paulo VI, foi posto em prática em 50 diferentes centros catecumenais do mundo inteiro durante
três anos.
176
Cf. FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 162.
177
Cf. Ibidem.
59
As antigas e novas Igrejas podem aprender algo uma da outra, a respeito da
estruturação concreta desse catecumenato batismal, permutar as suas experiências e, conforme
as diretrizes da Constituição Sacrosanctum concilium, empenhar-se para uma moderna e
eficaz reestruturação do catecumenato.178
2.2 - Intervenções do Magistério até a publicação do RICA
O Concílio Vaticano II representou uma mudança importante no processo de
restauração e de desenvolvimento do catecumenato. Em vários de seus documentos faz
referência à recuperação do catecumenato na vida da Igreja:179
ƒ
A constituição conciliar Sacrosanctum concilium180 pede a restauração do
catecumenato, organizado em etapas, recomendando que seja tempo de formação e
celebrações litúrgicas e não só de instrução:
Restaure-se o catecumenato dos adultos, com vários graus,
(...), de modo que o tempo do catecumenato, dedicado à
conveniente instrução, possa ser santificado por meio de ritos
sagrados que se hão de celebrar em ocasiões sucessivas.181
ƒ
A constituição sobre a Igreja fala da pertença dos catecúmenos à Igreja e da ação
missionária que se deve realizar com eles.182
178
NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada pelo
Concílio, p.532 a 533.
179
SC, n. 64 a 68; LG, n. 14; CD, n. 14,3; PO, n. 5; 6,4; AG, n. 13 e 14.
180
SC, n. 64, 66 e 71; também CD, n. 14.
181
SC, n. 64.
182
LG, n. 14 e 17.
60
ƒ
O decreto sobre o Ministério dos bispos183 pede atenção especial à instituição
catecumenal.
ƒ
O decreto sobre o Ministério dos presbíteros184 apresenta a evangelização, o
catecumenato e o batismo como grandes momentos da iniciação cristã.
ƒ
O decreto sobre a Evangelização dos povos185 chama o catecumenato de noviciado da
vida cristã:
O catecumenato não é mera exposição de dogmas e preceitos,
mas uma formação de toda a vida cristã e uma aprendizagem
efetuada de modo conveniente, por cujo meio os discípulos se
unem a Cristo seu mestre.
Essas são, portanto, as declarações apresentadas pelo Concílio Vaticano II, que
continuaram sendo referência nos documentos posteriores. Dentre estes, destacamos:
ƒ
A instrução Inter oecumenici186 (26 de setembro de 1964), que retoma e explica
algumas orientações do Concílio,187 evidencia a relação entre a transmissão da
mensagem cristã e a realização do mistério de Cristo na liturgia:
183
CD, n. 14.
PO, n. 5.
185
AG, n. 14.
186
A Instrução Inter Oecumenici aponta as primeiras inovações a serem introduzidas na liturgia.
187
Cf. SC, n. 33-36.
184
61
(...), embora a Liturgia não absorva toda a atividade da Igreja (cf. SC,
n. 9), deve, todavia, procurar-se cuidadosamente que todas as obras
pastorais se conjuguem de modo devido com a Sagrada Liturgia, e, ao
mesmo tempo, que a pastoral litúrgica não se exerça separada e
independentemente, mas em íntima união com as outras atividades
pastorais. É, sobretudo necessário que vigore uma estreita união entre
liturgia e a catequese, a instrução religiosa e a pregação.188
ƒ
A Segunda Conferência do Episcopado Latino-Americano (Medellín, 1968), que,
diante da diversidade de situações em que se desenvolve a catequese, opta por uma
catequese “eminentemente evangelizadora”, abrangendo a “evangelização dos
batizados” ou “reevangelização dos adultos” e que inclua “novas formas de um
catecumenato na catequese de adultos”.189
ƒ
O Diretório catequético geral, publicado em 1971, afirma que “a catequese de
adultos, por ser dirigida a homens capazes de uma adesão plenamente responsável,
deve ser considerada a principal forma de catequese”,190 em que muito mais do que
conservar costumes religiosos transmitidos, trata-se, sobretudo, de “fomentar uma
adequada reevangelização dos homens, de infundir-lhes uma mais profunda e madura
educação da fé”.191 Por esta razão, o DCG assinala a importância da iniciação cristã.192
188
Instrução Inter Oecumenici, n. 7.
Medellín, 8,9.
190
DCG, n. 20.
191
DCG, n. 6.
192
DCG, n. 130, afirma que o catecumenato de adultos, que é ao mesmo tempo catequese, participação litúrgica
e vida comunitária, é o exemplo típico de uma instituição nascida da colaboração de várias tarefas pastorais. Sua
finalidade é, pois, dirigir o itinerário espiritual dos candidatos que se preparam para receber o batismo e orientar
a mudança de sua mentalidade e costumes. É escola preparatória para a vida cristã, introdução à vida religiosa,
litúrgica, caritativa e apostólica do povo de Deus. Para fundamentar tal afirmação, o DCG, cita os seguintes
textos do Vaticano II: AG, n. 13-14; SC, n. 65; CD, n. 14.
189
62
3. O Ritual da iniciação cristã de adultos
Depois do Concílio de Trento, o Ritual romano, promulgado por Paulo V, em
1614, propõe um Ordo baptismi parvulorum193 seguido por um Ordo baptismi adultorum, os
quais apresentam uma única celebração, sem nenhuma perspectiva catecumenal.
O Ritual romano apenas fixou oficialmente o que já era tradição há muito
tempo. Agiu bem quando tratou do batismo das crianças, mas foi menos conveniente quando
inseriu numa unidade contínua o rito para o batismo dos adultos. No entanto, também aqui se
fixou somente aquilo que há muito tempo se havia tornado um fato: o catecumenato como tal
tinha desaparecido. Confiava-se que, após, o ingresso na Igreja através do batismo, a
convivência dos neófitos com uma comunidade inteiramente cristã oferecesse a necessária
instrução e iniciação.194
Em 6 de janeiro de 1972, a Congregação para o Culto Divino, em cumprimento
a constituição sobre a sagrada liturgia Sacrosanctum concilium, que estabeleceu a restauração
do catecumenato de adultos, publicou o Ritual da iniciação cristã de adultos.195
O RICA veio substituir o Ordo baptismi adultorum do Ritual romano, pois
“durante séculos, o batismo de um adulto era considerado um ato quase vergonhoso e
193
Até o século V vigorou, praticamente, o batismo de adultos na Igreja. Depois, predominou o batismo de
crianças, mas foi conservado o ritual do batismo de adultos adaptado às crianças Este não se constitui um
autêntico rito para crianças, mas uma simplificação do rito dos adultos. O rito tridentino, usado para o batismo de
crianças, até o Concílio Vaticano II, tinha fórmulas e cerimônias que originalmente haviam sido feitas para
candidatos adultos. Era, na realidade, uma forma abreviada do batismo de adultos. Praticamente, havia
desaparecido do Rituale romanum o antigo ritual do catecumenato. (Cf. RUSSO, Roberto. A iniciação cristã. In:
CELAM. Manual de Liturgia. Volume 3, p. 36 a 38; FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral
da iniciação, p. 148ss.)
194
Cf. NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada
pelo Concílio, p.530 a 531.
195
Ordo Initiationis Chritianae Adultorum, Editio Typica, Cidade do Vaticano, 1972. Traduzido pela:
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Ritual da iniciação cristã de adultos. Ritual
renovado por decreto do Concílio Vaticano II, promulgado por autoridade do papa Paulo VI. 3ª ed. São Paulo,
1980.
63
clandestino, sem dimensão eclesial, com uma incrível atrofia sacramental e uma perspectiva
catequética rudimentar.196
Este ritual é objeto do nosso estudo e modelar na relação liturgia e catequese,
pois “dada a profunda relação entre catequese e liturgia, é colaboração decisiva para o
restabelecimento atual do catecumenato”.197
O RICA ou Ritual do catecumenato segundo os vários graus e etapas, foi
promulgado, depois de longa elaboração e experimentação.198 Faz a Igreja voltar ao
catecumenato de adultos, sobretudo na liturgia,199 a partir de um itinerário progressivo de
evangelização, catequese e mistagogia. Apresenta, ainda, princípios e orientações de grande
importância para a iniciação cristã.
O RICA, no quadro geral da reforma litúrgica pós-conciliar, reintroduz um
itinerário de amadurecimento na fé e na pertença eclesial que evoca, em seus grandes
aspectos, o catecumenato dos primeiros séculos da Igreja. Esse documento constitui uma
autêntica virada na práxis catequética e sacramental, ponto de referência e instrumento
privilegiado das experiências catecumenais nos diversos países do mundo.200
As decisões do Concílio não só influenciaram no campo da liturgia, mas
também da catequese, visto que o RICA tem uma incidência em ambas as dimensões da ação
196
Cf. FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 161.
LÓPES, Jesús. Catecumenato. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de
Liturgia, p. 110.
198
Cf. nota 155.
199
Cf. NERY, Irmão. Catequese com adultos e catecumenato. História e proposta, p. 85.
200
ALBERICH, Emílio e BINZ, Ambroise. Formas e modelos de catequese com adultos: elementos de
metodologia, p. 28. (O RICA “foi fruto não só das decisões expressas na Constituição Sacrosanctum Concilium
sobre a sagrada liturgia, no decreto Ad gentes sobre a atividade missionária da Igreja e em outros documentos
conciliares [cf. SC, n. 64-70; AG, n. 123, 14 e 16; LG, n. 14, 15, 17 e 26; CD, n. 14 e PO, n. 6], mas tentou
recolher duas experiências catecumenais: uma primitiva, isto é, a iniciação cristã da Igreja patrística; e outra
anterior ao Concílio, a saber, o esforço catecumenal que surgiu sobretudo na França e em alguns países
missionários, depois da Segunda Guerra Mundial. Passaram-se outros dois anos até sua aprovação final, por
causa da revisão de algumas comissões de reforma litúrgica. O texto final foi aprovado a 6 de janeiro de 1972”.
In: FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 162 a 163).
197
64
evangelizadora da Igreja, em vista de “adaptar melhor às exigências do nosso tempo às
instituições sujeitas a mudança”.201
É intenção do Concílio que a catequese do candidato seja unida aos ritos
sagrados num progresso paulatino. O candidato deve saber que, ao iniciar a catequese, trava
pela primeira vez um contato real com a vida da Igreja e, por isso, com o poder salvífico e
cooperante de Deus.202
O grande mérito do RICA é ter cuidado da parte mais litúrgica e ritual do
processo iniciático, que é parte integrante do processo catequético.203 É, portanto, um livro
litúrgico publicado a pedido do Concílio Vaticano II para restabelecer o catecumenato
batismal. Descreve justamente os ritos do catecumenato, mas não os conteúdos catequéticos
propriamente ditos. O importante é perceber como no catecumenato a formação acontece
inseparavelmente unida à prática da vida cristã.204
Este ritual apresenta o itinerário de preparação catecumenal, a ordem teológica
dos três sacramentos – batismo, confirmação e eucaristia, celebrados na Vigília pascal – e o
tempo da mistagogia, na interação do anúncio com a celebração e a vivência da fé.
201
SC, n. 1.
NEUNHEUSER, Burkhard. O catecumenato. In: BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada pelo
Concílio, p.538 a 539.
203
LIMA, Luiz Alves de. Catequese com adultos e iniciação cristã. In: CNBB, Segunda Semana Brasileira de
Catequese. Com adultos, catequese adulta, p. 348. (Estudos da CNBB, 84)
204
Cf. RICA, n.19.
202
65
3.1 - Retorno a experiência catecumenal
No RICA, a tarefa do catecumenato consiste em “reavivar nos catecúmenos
uma fé ativa,205 através de uma adequada “preparação” ou “formação cristã”.206 O
catecumenato, portanto, não é uma escola restrita ao ensino de doutrina, mas um lugar de
encontro e descoberta, pois a fé é fundamentalmente experiência pessoal que se testemunha
na vida e se confessa em comunidade.207 Daí, a afirmação de que o coração do RICA é o
catecumenato.208
Restaurar o catecumenato não é simplesmente retomar algo do passado, mas
retomar a pedagogia da fé como nos primeiros séculos da Igreja, em que não se
administravam os sacramentos como ritos mágicos, mas abriam-se, lentamente, por meio de
graus sucessivos, a fonte de formação e de vida que é a celebração dos sacramentos.
A importância de conhecer a experiência da iniciação cristã nos primeiros
séculos da Igreja não tem como objetivo cair no saudosismo ou imaginar que aquele era um
tempo melhor e que deveríamos reproduzi-lo como tal. Tem-se buscado espontaneamente na
experiência dos Padres a inspiração e a orientação para as tarefas de hoje.209
205
RICA, n. 3.
Ibidem, n. 7.
207
Cf. FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 164.
208
Encontramos no RICA quase tudo que diz respeito ao catecumenato, a saber: a teologia da iniciação cristã; o
processo do catecumenato composto por diferentes tempos de informação e amadurecimento, de preferência
culminando no ciclo pascal do ano; o sentido de cada tempo com seus objetivos, meios, duração, ritos e
símbolos; as celebrações que marcam a passagem de um tempo para outro (chamadas “etapas”) e sua exigências;
o roteiro e os conteúdos dos ritos principais; e, finalmente, a proposta de celebração unitária dos sacramentos de
iniciação, preferencialmente na noite pascal. (Cf. ORMONDE, Domingos. Vale a pena os catequistas
conhecerem o catecumenato. In: CNBB, Segunda Semana Brasileira de Catequese. Com adultos, catequese
adulta, p. 250. (Estudos da CNBB, 84)
209
Cf. OÑATIBIA, Ignácio. Actualidad del catecumenado antiguo. In: Phase 131 (2003) p. 23.
206
66
É preciso escutar o que o Espírito diz, hoje, às Igrejas, pois a experiência das
comunidades antigas nos ajuda a revalorizar o batismo de adultos e descobrir formas novas
para responder aos desafios atuais das comunidades.210
Como redescoberta, o catecumenato e a nova concepção de catequese é uma
volta à pedagogia das origens, quando a Igreja era essencialmente missionária. Não significa,
portanto, que devemos “voltar a rubricas antigas e ao gosto pelo arcaísmo”.211 A Igreja,
mesmo quando conserva formas do passado, deve encontrar um estilo novo que convenha
melhor às exigências do mundo contemporâneo.
A restauração do catecumenato que, em nossos dias, coincide com o aumento
de interesse pela história, e as características do catecumenato dos primeiros séculos não têm
unicamente científico, mas também pastoral: uma experiência mais plena dos sacramentos
recebidos, que encontra seu lugar na participação da vida da comunidade eclesial, por meio da
catequese, da celebração litúrgica e do testemunho de uma vida nova.
A redescoberta do catecumenato e seu subseqüente restabelecimento, além de
corresponder a exigências pastorais de várias regiões e setores missionários, levará a uma
renovação da teologia e da pastoral dos sacramentos. Fará repensar e reformular melhor certos
problemas da ação missionária. Realizará melhor a síntese da catequese, da ação apostólica e
da liturgia, na educação cristã e na iniciação de crianças, jovens e adultos no mistério de
Cristo.212
210
Cf. BARROS, Marcelo. Mistérios da vida nova. O batismo de adultos nas Igrejas dos primeiros séculos. In:
Revista de liturgia, n. 147 (1998), p.5.
211
PAIVA, Hugo de Vasconcelos. Catecumenato e instituição catequética dos sacramentos da iniciação. In:
CNBB. Pastoral da iniciação cristã. 2º. Encontro nacional de liturgia, p. 132.
212
Cf. ibidem.
67
3.2 - Os “praenotanda”
Os novos rituais modificaram totalmente a apresentação do seu conteúdo. Em
vez de capítulos com rubricas e preceitos, temos agora os Praenotanda,213 que com
freqüência são muito ricos de doutrina e de espiritualidade, e que por si sós, podem constituir
catequese.
Os novos livros litúrgicos propõem uma nova fisionomia da celebração:
começam sempre pelas Institutiones ou Praenotanda muito diferentes das rubricas de tempos
passados. Elas integram orientações doutrinárias e espirituais, o aspecto pastoral e as
possibilidades de adaptações dos ritos.
O RICA insere-se no contexto da reforma proposta pelo Concílio Vaticano II,
que adaptou os livros litúrgicos de acordo com a nova mentalidade proposta por este mesmo
Concílio. Apresenta sessenta e sete números de Praenotanda:
ƒ
A estrutura da iniciação cristã dos adultos214 descreve a caminhada do catecúmeno,
desde o seu primeiro contato com a Igreja até sua plena introdução na mesma. A
introdução não se limita a indicar as celebrações litúrgicas das várias etapas de
preparação, mas traz também a fundamentação teológica e a dimensão catequética
desse processo de crescimento de um adulto que quer ser cristão católico.215
ƒ
213
Os ministérios e as funções.216
Os livros litúrgicos da reforma dão grande relevo às instruções iniciais de caráter doutrinal, pastoral,
catequético e rubrical (os chamados “praenotanda” ou “premissas”), que indicam a estrutura e as várias formas
de celebração, o significado de cada uma das partes, as tarefas dos ministros, as adaptações possíveis.
214
RICA, n. 4 a 40.
215
Cf. LUTZ, Gregório. O rito da iniciação cristã de adultos. In: Revista de liturgia 147 (1998), p. 9 e 10.
216
RICA, n. 41 a 48: tratam dos ministérios e das funções do bispo, do sacerdote, do diácono e dos catequistas.
Introdutor (n. 42): pode ser homem ou mulher, que conhece, ajuda e é testemunha dos costumes, fé e desejo do
candidato. Padrinho (n. 43): é escolhido pelo catecúmeno e delegado pela comunidade cristã local, com
aprovação do sacerdote, acompanha o candidato no dia da sua eleição, na celebração dos sacramentos e no
tempo da mistagogia. É seu dever ensinar familiarmente ao catecúmeno como praticar o Evangelho em sua vida
particular e social, auxiliá-lo nas suas dúvidas e inquietações, dar-lhe testemunho cristão e velar pelo progresso
68
ƒ
Do tempo e do lugar da iniciação.217
ƒ
Das adaptações que podem se feitas pelas conferências dos bispos no uso do Ritual.218
ƒ
O que se refere ao bispo.219
ƒ
Adaptações que competem ao ministro.220
A nova edição221 apresenta, ainda, as Observações Preliminares Gerais, sobre
a Iniciação Cristã,222 que antes se encontravam apenas no Ritual do Batismo de Crianças.
Os rituais, seguindo os princípios do Concílio Vaticano II, para melhor se
adaptarem à situação dos participantes e às circunstâncias, apresentam uma multiplicidade de
textos eucológicos e bíblicos e, também, de formas celebrativas.
O livro litúrgico, porém, nem sempre é valorizado suficientemente como
instrumento pastoral. Durante muito tempo, predominou uma noção de liturgia de cunho
jurisdicista e o valor do livro litúrgico parecia depender unicamente de seu caráter oficial e
obrigatório.
de sua vida batismal. Bispo (n. 44): é o responsável pela admissão ao catecumenato e à iniciação. Seria desejável
que ele pudesse presidir as diversas celebrações. Presbíteros (n. 45-46): cabe a ele a tarefa de controlar a
realização das celebrações e sua legítima adaptação. Diáconos (n. 47): terão papel importante a exercer,
conforme as necessidades concretas dos lugares e das circunstâncias. Catequistas (n. 48): função importante e o
RICA não lhes atribui apenas a função de ensinar, mas que a sua catequese poderá ser acompanhada de orações e
de imposição das mãos. Eles deverão participar de modo mais ativo nas diversas celebrações.
217
RICA, n. 49 a 63: Tempo: normalmente, o RICA se celebra durante a Quaresma. Inscrição do nome: no 1º.
domingo da Quaresma; os escrutínios: no 3º, 4º e 5º. domingos da Quaresma; as entregas: também durante a
Quaresma; “Redditio Symboli”, “Effetha”, escolha do nome cristão: no sábado santo. É prevista também, e isto é
uma inovação, uma unção com o óleo dos catecúmenos. Os três sacramentos da iniciação serão celebrados
normalmente um depois do outro. Não se determina o lugar das celebrações; depende das circunstâncias e das
possibilidades.
218
RICA, n. 64 a 65.
219
RICA, n. 66: do bispo depende a instituição do catecumenato segundo as normas que considera melhores. Só
ele pode permitir que os escrutínios sejam celebrados fora da Quaresma e dispensar de um ou dois escrutínios. É
ele que autoriza o uso do ritual mais simples como está previsto no Ordo. É ele também que designa os
catequistas que poderão utilizar “exorcismos menores” ou “bênçãos durante o catecumenato, como está indicado
no Ordo. O bispo presidirá, se possível, ao rito da eleição
220
RICA, n. 67: salienta a liberdade bastante grande deixada pelo Ordo a quem o utiliza: muitos formulários à
escolha, liberdade nas diversas exortações, nas intenções de oração etc.
221
A nova versão do RICA não alterou sua estrutura celebrativa. A novidade se deve em sua disposição gráfica.
Foram introduzidas também as mudanças exigidas pelo Código de Direito Canônico e os textos bíblicos
aprovados pela Sé Apostólica para uso litúrgico. Apresenta, ainda, as Observações Preliminares Gerais, sobre A
INICIAÇÃO CRISTÃ que antes se encontravam apenas no Ritual do Batismo de Crianças. (Cf. “Apresentação”
do RICA)
222
RICA. A iniciação cristã – observações preliminares gerais, n. 1 a 35.
69
Os livros litúrgicos publicados depois do Concílio Vaticano II, mesmo que
limitados como toda obra humana, são um poderoso meio a serviço da missão pastoral da
Igreja, contanto que sejam suficientemente conhecidos e usados de acordo com os critérios de
sua reforma. Os novos livros litúrgicos não são a meta da reforma litúrgica, mas tão somente
um instrumento dela.223
O ritual serve para celebrar bem. Celebrar não é somente executar com
dignidade, simplicidade e calor humano gestos ou movimentos, ou recitar bem alguns textos.
É assumir o próprio papel de presidente, leitor, animador e ouvinte, em plena integração com
toda a comunidade. Na medida em que as atitudes internas correspondam aos gestos
corporais, e a assembléia litúrgica, impulsionada pela fé, dê testemunho de autenticidade, a
celebração contribui decisivamente para a evangelização de fato.224
Registra-se “a passagem da simples execução do que está prescrito para um
estilo celebrativo em que entram em ação a própria personalidade e responsabilidade para dar
alma ao rito”.225 O próprio desenrolar-se da ação litúrgica não pode esgotar-se, por parte do
povo, na mera assistência, mas comportar uma atitude celebrativa de diálogo entre Deus que
fala e salva e o povo que responde ao seu Senhor.
Os rituais são decisivos, porque oferecem a lex orandi, expressão e
fundamento, simultaneamente, da lex credendi.226 Por isso, o culto é o lugar mais qualificado
223
Cf. LOPEZ, Julian. Evangelizacion y sacramento, ¿cuestion resuelta? In: Phase 38, s/d, p. 59.
Cf. Ibidem, p. 61; cf. ainda: MARTÍN, Julián López. No espírito e na verdade. Volume 2: Introdução
antropológica à liturgia, p. 290 a 298.
225
PASQUALETTI, G. Reforma litúrgica. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário
de Liturgia, p. 995.
226
Lex credendi – lex orandi:A síntese do conhecido axioma atribuído a Próspero de Aquitânia (+463) que, na
íntegra é: “...ut legem credendi statuat lex suplicandi” (=isto é, a lei da prece estabelece a lei da fé).
224
70
da fé. A celebração é profissão de fé no momento da máxima proximidade entre o Deus da
aliança e sua Igreja.227
3.3 - A finalidade do RICA
A finalidade do RICA não é apenas apresentar uma cerimônia diferente de
batismo de adultos, em substituição à antiga, mas uma disciplina diversa, inculcada por
ocasião da reforma ritual que, com a largueza habitual dos livros litúrgicos reformados,
apresenta uma faixa bem ampla de possibilidades para atender às diversidades pessoais e
locais.228
O RICA introduz, fora dos casos extraordinários, a obrigatoriedade do
catecumenato prévio ao batismo, como forma de preparação ao sacramento, e como estágio
para introdução na comunidade.229
É próprio, portanto, deste Ritual encarar o Batismo como ingresso na Igreja,
inserção na comunidade e, como prova disso, determina que a Igreja local deva considerar do
seu interesse o batismo de adultos.230 E, para que tudo isso tenha ressonância de verdade, é
indispensável que exista a comunidade em que o neófito vai se inserir, não apenas como ente
jurídico, mas, sobretudo, como realidade viva.
227
ZUBILLAGA, José Antonio Goenaga. Rituais da iniciação cristã. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.;
LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p. 970.
228
Cf. ISNARD, José Carlos Clemente. In: CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Ritual
da iniciação cristã de adultos. Ritual renovado por decreto do Concílio Vaticano II, promulgado por autoridade
do papa Paulo VI, 3ª ed. São Paulo, 1980. (Apresentação)
229
Cf. Ibidem.
230
Cf. RICA, n. 41.
71
Visa, essencialmente, “apresentar a maneira como a Igreja acolhe e inicia
aqueles que pedem para ser cristãos”.231 É sinal de uma Igreja que quer acolher os que querem
encontrar a Deus. Para isso, as perspectivas do catecumenato são colocadas como uma
exigência de autenticidade e de santidade para a comunidade cristã.
É também o sinal de uma Igreja que sabe que toda ela vem de Deus, e que põe
no centro da iniciação cristã os ritos sacramentais pelos quais Deus concede a sua graça
àqueles que quer tornar seus filhos. Não é, portanto, uma escola onde se aprende, mas um
lugar de iniciação no qual se testemunha na vida e se confessa em comunidade.
O RICA foi restaurado com o objetivo de manifestar o íntimo laço entre a ação
de Deus, significada pelos ritos, e o progresso do catecúmeno rumo aos sacramentos de
iniciação. Desenvolve uma pedagogia espiritual, marcada, primeiramente, pelo processo
gradativo com que o indivíduo é levado a conhecer o mistério, converter-se de seus costumes
e pensamentos, até ser incorporado em Cristo e na Igreja.232
3.4 - Os destinatários do RICA
O RICA destina-se “aos adultos que, iluminados pelo Espírito Santo, ouviram
o anúncio do mistério de Cristo e, conscientes e livres, procuram o Deus vivo e encetam o
caminho de fé e da conversão”.233 Por meio deste rito de iniciação, os adultos “serão
231
Cf. BOROBIO, Dionísio. La iniciación cristiana, p. 221.
BRUSTOLIN, Leomar Antônio e LELO, Antonio Francisco. Caminho de fé – Itinerário de preparação para o
batismo de adultos e para a confirmação e eucaristia de adultos batizados. Livro do catequista, p. 16.
233
RICA, n.1.
232
72
fortalecidos espiritualmente e preparados para uma frutuosa recepção dos sacramentos no
tempo oportuno”.234
O RICA configura-se como um específico e completo itinerário de iniciação e
se refere aos adultos, no sentido mais amplo da palavra, pois é preciso tratar como adultos, no
que se refere ao batismo, “todos aqueles que passaram da infância e têm o uso da razão”235 e
são chamados à conversão, com todos os seus desdobramentos, como primeiro objetivo
prático do catecumenato e o fundamento da educação da fé.
Os destinatários do RICA são assim elencados:
ƒ
Adultos que, pela primeira vez, se dirigem à Igreja:236 é a estrutura normal para o caso
da iniciação cristã de adultos. A descrição completa do itinerário do adulto encontra-se
no primeiro capítulo:237 “Ritual do catecumenato em torno de suas etapas”.
Apresenta, ainda, dois destinatários pastoralmente importantes:
ƒ
Adultos que, batizados na infância, não receberam a devida catequese:238 o ritual
apresenta, para este grupo, a “preparação para a confirmação e a eucaristia”.
É uma estrutura voltada para o caso de adultos batizados na primeira infância,
mas não receberam a confirmação e a primeira eucaristia nem instrução catequética. Este
grupo é o grande desafio da ação evangelizadora da Igreja no Brasil. Trata-se de uma forma
de iniciação mais generalizada, sobre a qual afirma o Catecismo da Igreja Católica:
234
Ibidem.
CDC, Cân. 852,1.
236
O ritual prevê que se deve aplicar o segundo capítulo (n. 240-277): “Rito simplificado para iniciação de
adultos”, em circunstâncias extraordinárias, “quando o candidato não puder percorrer todas as etapas da
iniciação” (RICA, n. 240) e; o terceiro capítulo (RICA, n. 278-294): “Ritual breve da iniciação de um adulto em
perigo próximo ou eminente de morte”.
237
RICA, n. 68-239.
238
RICA, n. 295-305.
235
73
Por sua própria natureza, o batismo de crianças exige um
catecumenato pós-batismal. Não se trata somente da necessidade de
uma instrução posterior ao Batismo, mas do desabrochar necessário da
graça batismal no crescimento da pessoa: é o momento próprio da
catequese.239
Embora esses adultos não tenham ainda ouvido o anúncio do mistério de
Cristo, sua situação não é igual à dos catecúmenos, porque já foram introduzidos na Igreja e
se tornaram filhos de Deus pelo batismo.
É preciso fazer aqui, portanto, uma diferenciação entre catequizandos e
catecúmenos, e entre uma catequese pós-batismal e catequese pré-batismal, pois existe entre
estes conceitos uma diferença fundamental: os primeiros já foram introduzidos na Igreja,
mergulhados em Cristo pelo batismo. Sua conversão se fundamenta, portanto, nesse batismo
já recebido, cuja graça devem desenvolver.240 Como para os catecúmenos, a preparação
desses adultos requer um tempo prolongado e um currículo da catequese ordinariamente
correspondente ao dos catecúmenos.241
Hoje em dia, merece especial importância esta categoria de cristãos batizados,
porém não evangelizados, que nem sequer completaram o caminho da iniciação. Tal situação
é comum nos países chamados de missão como naqueles em regime de cristandade. Vem
diretamente ao encontro do maior desafio missionário da Igreja no Brasil: a evangelização dos
239
CaIC, n. 1231.
DNC, n. 48; Cf. também DGC, n. 90; RICA, n. 295: este ritual, no capítulo IV, contempla o caso dos adultos
batizados, necessitados de uma catequese de iniciação; CT, n. 44 precisa as diversas circunstâncias em que esta
catequese de iniciação se torna necessária.
241
Cf. RICA, n. 296 e 297.
240
74
católicos não-praticantes.242 Segue, portanto, a solicitação de promover um caminho
semelhante ao antigo catecumenato para a educação da fé.243
ƒ
Crianças em idade de catequese:244 o quinto capítulo do Ritual é uma adaptação
especialmente pedagógica do rito completo descrito no primeiro capítulo.
Este caso não está previsto no Rito de batismo de crianças, visto que tais
crianças já alcançaram o uso da razão e “já são capazes de conceber e nutrir sua fé, e de
aceitar algo como dever de consciência”,245 mas também não podem ser tratadas como
adultas, porque “tendo apenas conhecimentos próprios de sua idade, dependem dos pais ou
responsáveis e sofrem profunda influência dos companheiros e da sociedade”.246
Como o progresso das crianças depende tanto dos pais como do auxílio e
exemplo dos companheiros,247 elas vão ser inseridas num grupo de companheiros já iniciados
que se preparam para a os sacramentos da confirmação e da eucaristia, de modo que a
iniciação se faz progressivamente e baseada no próprio grupo catequético.248
Vale lembrar que, tanto as crianças não-batizadas chegadas ao uso da razão
como os adolescentes não-batizados, são equiparados no Código de Direito Canônico aos
adultos para efeitos da pastoral da iniciação cristã.249
242
CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil – 1999-2002, n. 233. (Documentos da
CNBB, 61)
243
Ibidem.
244
RICA, n. 306-369.
245
Cf. Ibidem, n. 306.
246
Cf. Ibidem, n. 306.
247
Cf. Ibidem, n. 308.
248
Cf. Ibidem, n. 308, letra a.
249
O cânon 97, parágrafo 2, diz que, cumpridos os sete anos se presume que a criança tenha o uso da razão e o
cânon 852, parágrafo 1, que as disposições sobre o batismo de adultos se aplicam a todos aqueles que saíram da
infância e tem o uso da razão.
75
3.5 - Conteúdo e estrutura do RICA
O RICA prevê várias estruturas para a realização do processo de iniciação
cristã. O fundamental, porém, não é a estrutura, mas a configuração do processo que
possibilite a experiência da fé e a conversão, levando em conta as circunstâncias e situações
dos envolvidos neste processo.250 A publicação do RICA representa, portanto, um momento
fundamental na renovação da iniciação cristã
A iniciação, proposta pelo RICA, é uma tarefa dinâmica e progressiva quanto
ao tempo e ao processo de maturação da fé e da opção cristã; que se faz “gradualmente”,251
“se acomoda ao caminho espiritual dos adultos, que é muito variado”252 e que consta de
“graus ou etapas”253 a serem ultrapassados. Sobre a duração do catecumenato, “nada se pode
determinar a priori”.254
A iniciação dos catecúmenos se realiza de forma gradual no seio da
comunidade dos fiéis e adapta-se com flexibilidade ao itinerário espiritual dos candidatos.
Este itinerário compõe-se de longos períodos de formação, chamados “tempos”, e de intensos
momentos de celebração, chamada “graus”.
A forma solene da iniciação de adultos deverá, pois, incluir os
diferentes estágios do catecumenato com ritos celebrados em
intervalos sucessivos de tempo. A intenção é levar os candidatos à
água do batismo por meio do processo gradual de conversão. A
duração do tempo necessário para isto dependerá de diversos fatores,
embora a gradualidade seja uma consideração relativa a tal
propósito.255
250
Cf. GARCÍA, Jesús Sastre. A comunidade educativa no processo de pastoral sacramental. In: VV.AA. Os
sacramentos hoje: teologia e pastoral, p. 125.
251
RICA, n.4.
252
Ibidem, n.5.
253
Ibidem, n. 6-7.
254
Ibidem, n. 20. (itálico meu)
255
Cf. CHUPUNGCO, Anscar J. Liturgias do futuro. Processos e métodos de inculturação, p. 114 a 115.
76
O critério da progressividade orienta e organiza as orações e os ritos
preparatórios e fundamenta a qualidade do processo educativo. Durante esse tempo, a
iniciativa humana será transformada pela graça de Deus e, pouco a pouco, o candidato é
introduzido na Igreja, corpo de Cristo. Segue a direção que vai do menor compromisso até o
maior empenho, da escuta da Palavra até a mudança de costumes e prática de boas obras.256
No itinerário proposto pelo RICA, além do tempo de informação e
amadurecimento,257 há “etapas” ou passos, pelos quais o catecúmeno, ao caminhar, como que
atravessa uma porta ou sobe um degrau:258 Essas etapas, são antes de tudo, momentos rituais.
•
1ª. etapa: aproximando-se de uma conversão inicial, quem quer tornar-se cristão é
recebido como catecúmeno pela Igreja, através do Rito da instituição dos
catecúmenos.
•
2ª. etapa: já introduzido na fé e estando a terminar o catecumenato, é admitido,
durante uma celebração litúrgica, a uma preparação mais intensa para os sacramentos:
Eleição.
•
3ª. etapa: concluída a preparação espiritual, recebe os sacramentos de iniciação cristã:
Celebração dos sacramentos.
Há, portanto, três etapas, passos ou portas que devem ser considerados
momentos fortes ou mais densos da iniciação. Essas etapas são constituídas por três ritos
litúrgicos: a primeira, pelo rito de instituição dos catecúmenos; a segunda, pela eleição; e a
terceira, pela celebração dos sacramentos.
As etapas conduzem aos “tempos” de informação e amadurecimento ou são
por eles preparadas:259
256
BRUSTOLIN, Leomar Antônio e LELO, Antonio Francisco. Caminho de fé – Itinerário de preparação para o
batismo de adultos e para a confirmação e eucaristia de adultos batizados. Livro do catequista, p. 16.
257
Cf. RICA, n. 7.
258
Cf. Ibidem, n. 6.
77
•
O primeiro tempo: requer a informação do candidato e da parte da Igreja. É
consagrado à evangelização e ao “pré-catecumenato”, encerra-se com o ingresso na
ordem dos catecúmenos.
•
O segundo tempo: inicia-se por esse ingresso e pode durar vários anos. É dedicado à
catequese e aos ritos anexos, terminando no dia da eleição.
•
O terceiro tempo: é um tempo muito breve, que normalmente coincide com a
preparação quaresmal para as solenidades pascais e os sacramentos, é assinalado pela
purificação e pela iluminação.
•
O quarto e último tempo: dura todo o período pascal. É consagrado a “mistagogia”,
isto é, à aquisição de experiências e de resultados positivos, assim como ao
aprofundamento das relações com a comunidade dos fiéis.
São, portanto, quatro os tempos sucessivos:
ƒ
O “pré-catecumenato”, caracterizado pela primeira evangelização.
ƒ
O “catecumenato”, destinado à catequese completa.
ƒ
O da “purificação e iluminação”, destinado a mais intensa preparação
espiritual.
ƒ
O da “mistagogia”, assinalado pela nova experiência dos sacramentos e da
comunidade.
O gráfico que segue nos ajuda a melhor compreender o itinerário proposto pelo
RICA:
259
Cf. Ibidem, n. 7.
78
ESQUEMA DO ITINERÁRIO CATECUMENAL260
TEMPOS
DURAÇÃO
Pré-Catecumenato
Ilimitada
CONTEÚDOS FINALIDADES CELEBRAÇÕES
Anúncio
ETAPAS OU PASSOS
Evangélico
Despertar a fé e
a conversão
Encontros
FUNÇÕES
Acolhida
CATEGORIAS
PréCatecúmenos ou
simpatizantes ou
interessados
Entrada, recepção ou admissão no catecumenato
Catecumenato
Um ou mais
anos
Catequese
integrada e
graduada
Aprofundar a fé
Celebrações da
Palavra,
Exorcismos
menores, Bençãos
Conversão
Catecúmenos ou
ouvintes
Iluminação
Eleitos ou
competentes ou
iluminados
Contemplação
Neófitos
Eleição, inscrição do nome
Preparação
Quaresmal
Quaresma
Preparação
Imediata
Maturação das
decisões
3 escrutínios,
Entrega do
Símbolo e do Pai
Nosso
Celebração dos sacramentos: vigília pascal
Mistagogia
260
Tempo Pascal
Catequese
sacramental e
litúrgica
Integrar-se na
comunidade
Eucaristias
comunitárias,
aniversário do
Batismo
Cf. FLORISTAN, Casiano. La iniciacion cristiana. In: Phase 171, (1989), p. 221; FLORISTAN, Casiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 165; LELO,
Antonio Francisco. A iniciação cristã. Catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho, p. 38; NERY, Israel. Catequese com adultos e catecumenato. História e proposta,
p. 131.
79
Esta estrutura, sem dúvida, não é nova, pois recupera numerosos elementos que
já constavam na Tradição apostólica de Hipólito de Roma e nos antigos livros litúrgicos que
já mencionamos. Isto não se constitui uma tendência arqueologizante, visto tratar-se da
convicção de que “os passos previstos por esta antiga disciplina não estão ligados a uma
época, embora a sua realização suponha uma adaptação real dos ritos e das fórmulas”.261
Com o objetivo de conduzir à participação plena e ativa nas ações litúrgicas,
propõe-se um programa que vai além do momento celebrativo e a imediata preparação para
ele. Tal programa nos compromete a formar os fiéis para a oração e para o crescimento da fé,
a criar comunidades que sejam verdadeiramente um só coração e uma só alma, a fim de que
possam vibrar em uníssono no louvor, e nas quais floresçam os ministérios.262
Uma observação mais atenta nos faz perceber que, para a plena eficácia da
liturgia, é preciso desempenhar paralelamente uma ação que vise formar cristãos e
comunidades que sejam verdadeiramente cristãs.
No RICA, catequese e liturgia, em profunda relação com a vida, são
inseparáveis, pois a catequese deve “esclarecer a fé, dirigir o coração para Deus, incentivar a
participação nos mistérios litúrgicos, animar para o apostolado e orientar toda a vida segundo
o espírito de Cristo”.263
261
NOCENT, Adrien. Os três sacramentos da iniciação cristã. In: VV.AA. Os sacramentos – Teologia e história
da celebração, p. 75. (Anámnesis 4)
262
Cf. PASQUALETTI, G. Reforma litúrgica. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia, p. 995.
263
RICA, n. 99.
80
4. Relação liturgia e catequese no itinerário do RICA
A iniciação cristã de adultos tem como objetivo: ajudar a pessoa a tornar-se
cristã, participante consciente do mistério pascal e da comunidade eclesial; viver a dinâmica
da união com Cristo, buscando assemelhar-se a Ele, e levar a uma experiência de fé ligada
com a vida, num processo contínuo de conversão.
O catecumenato destaca, portanto, a adequada articulação entre a proclamação
da Palavra (doutrina), a celebração litúrgica (ritos) e o compromisso de vida (caridade).
Assim, o Concílio Vaticano II resgata o catecumenato através do RICA e assume o itinerário
catecumenal, como referência pra uma profunda iniciação.
Este itinerário envolve tanto a liturgia quanto a catequese, pois o fato litúrgico
e o fato catequético, ambos ligados ao processo de transmissão e de crescimento da fé, estão
tão próximos um do outro, que de modo algum podem ser considerados como realidades
encerradas em si mesmas.264
É próprio do RICA superar uma perspectiva de catequese ocasional e isolada
que se centra somente no sacramento que se quer receber. O trabalho catequético, que precede
e segue o sacramento, deverá entender-se como um itinerário catecumenal que vai guiando
cada cristão, sempre educadora e mistagógica, sempre em conexão com a celebração
litúrgica.265
A articulação entre a liturgia e catequese manifesta-se de forma privilegiada no
ritmo ou dinamismo que adquire todo o processo que, mesmo tendo seu momento decisivo na
264
Cf. MARTÍN, Julián López. Liturgia e catequese. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e
SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 692.
265
Cf. ALDAZÁBAL, José. Perguntas a la catequesis desde la liturgia. In: Phase 38, s/d, p. 72 a 73.
81
celebração dos ritos batismais ou de iniciação, prolonga-se no espaço e no tempo, em um
“antes” (catecumenato), um “durante” (sacramento) e um “depois” (mistagogia).266
A catequese e a liturgia, previstas pelo RICA, superam a visão tradicional dos
sacramentos, em que ambas ficam circunscritas ao momento de instrução e celebração, pois
considera o ser humano em busca não de uma preparação imediata aos sacramentos, mas à
vida cristã, na qual os sacramentos encontram o seu espaço fundamental.
O RICA, para favorecer a interação entre a liturgia e catequese, segue o critério
da progressividade, a fim de iniciar um adulto na fé. Prevê, para isso, três ritos de passagem: o
rito de entrada, rito da eleição e a celebração dos sacramentos. Com quatro tempos de
formação: pré-catecumenato, catecumenato, preparação quaresmal e mistagogia.
Os tempos a serem ultrapassados são considerados tempos de informação e
amadurecimento, mais diretamente relacionados à catequese; que são preparados pelos ritos
de passagem,267 voltados mais para a dimensão litúrgica. Não acontecem como momentos
isolados, mas atuam em profunda conexão.
Cada rito de passagem assinala um tempo de chegada e um ponto de partida.
As três etapas que o candidato ultrapassa representam um novo avanço,268 marcam existencial
e liturgicamente o itinerário catecumenal. Essa passagem depende da maturidade do
candidato, de sua adesão de fé às propostas oferecidas a partir do seu contato com a Palavra, a
liturgia e a catequese.
266
Cf. BOROBIO, Dionísio. La iniciación cristiana, p. 226.
Cf. RICA, n. 7.
268
Cf. Ibidem, n. 6.
267
82
Vejamos como no RICA acontece esta relação entre a liturgia e a catequese,
uma catequese que contemple a liturgia e uma liturgia que necessita da catequese para que
ambas atinjam seus objetivos, ou seja, iniciar um adulto na fé.
4.1 - Pré-catecumenato
O rito de iniciação, embora comece pela admissão ao catecumenato, o tempo
anterior, o “pré-catecumenato”, tem grande importância e, habitualmente, não deve ser
omitido.269
A importância deste tempo deve-se a tomada de consciência de quem deseja
iniciar sua preparação aos sacramentos e à vida de comunidade. Portanto, um adulto não
inicia o itinerário catecumenal por motivos alheios à sua vontade. A Igreja proíbe
severamente toda coação ou insistência demasiada que obrigue, leve ou atraia as pessoas para
a fé, com a mesma energia com que condena corajosamente todas as ameaças que tendam a
afastar as pessoas da fé.270
Esta fase do pré-catecumenato distingue-se, essencialmente, pela característica
de acolhida dos que desejam ser cristãos e ingressar na comunidade dos fiéis, que é uma
experiência viva da presença do Espírito e de comunhão no amor de Deus Pai, Filho e Espírito
Santo.
Para que o “simpatizante” inicie o tempo do catecumenato, exige-se
discernimento tanto da sua parte como da Igreja, disposta e preparada para acolher e
evangelizar os que desejam receber os sacramentos da iniciação.
269
270
Cf. Ibidem, n. 9.
Cf. AG, n. 13; Cf. DH, n. 2, 4, 10; GS, n.21.
83
O RICA prescreve que os candidatos, quando iniciam o tempo do
catecumenato, já possuam os rudimentos da vida espiritual e os fundamentos da doutrina
cristã,271 a saber: a fé inicial adquirida no tempo do “pré-catecumenato”, o princípio de
conversão e o desejo de mudar de vida e entrar em relação pessoal com Deus em Cristo; já
tenham, portanto, certa idéia da conversão, o costume de rezar e invocar a Deus, e alguma
experiência da comunidade e do espírito dos cristãos.272
Vejamos, portanto, como estes pressupostos unem com bastante clareza a
dimensão catequética e litúrgica já neste momento de aproximação do candidato ao
catecumenato.
a) A fé inicial
O RICA prescreve que no tempo do pré-catecumenato, o “simpatizante”
adquira uma fé inicial,273 pois quem se abre à fé inicial deseja começar pela primeira vez, ou
recuperar, sua relação com Deus. Intui que o Deus anunciado por Jesus Cristo é alguém
significativo e vital para sua realização pessoal.
Por isso, antes da admissão ao catecumenato, existe um tempo de
evangelização ou pré-catecumenato que tem como objetivo apresentar com firmeza o
querigma,274 ou seja, propiciar a conversão inicial a Jesus Cristo, a quem os simpatizantes
devem dar um primeiro assentimento e desejar seguir.
271
Cf. AG, n. 14.
Cf. RICA, n. 15.
273
Cf. Ibidem.
274
“Kerigma” vem da palavra Keryx: é o mensageiro, o arauto, o apregoador, o portador de uma mensagem de
salvação, o anunciador de uma boa notícia de origem divina. O cristianismo não inventou esta função. Ela é
anterior a ele. As pesquisas mostram que na filosofia estóica – anterior ao cristianismo – o keryx era um filósofo
272
84
Literalmente, “kerigma” significa proclamação. É a mensagem ou anúncio de
uma mensagem. O querigma cristão é o que a Igreja crê, confessa e proclama sobre Jesus
Cristo (sua pessoa, sua mensagem e sua práxis). É também o primeiro anúncio do Evangelho
aos não convertidos para suscitar a fé.
É o tempo da evangelização em que, com firmeza e confiança, se
anuncia o Deus vivo e Jesus Cristo, enviado por ele para a salvação de
todos, a fim de que os não-cristãos, cujo coração é aberto pelo Espírito
Santo, creiam e se convertam livremente ao Senhor, aderindo
lealmente àquele que, sendo o caminho, a verdade e a vida, satisfaz e
até supera infinitamente a todas as suas expectativas espirituais.275
O querigma ou mensagem cristã consiste na proclamação de Jesus como o
Messias morto e ressuscitado para a salvação de todos, promessa anunciada pelo Pai mediante
os profetas do Antigo Testamento e cumprida em Jesus de Nazaré.276 A finalidade da
proclamação do querigma é suscitar a fé em Jesus de Nazaré enquanto Messias e Filho de
Deus, de forma que tal aceitação se atualize em salvação para o crente, isto é, em vida
eterna.277
O conteúdo fundamental do querigma é a morte e a ressurreição de Jesus
Cristo como acontecimento salvífico atual. Se Cristo não morreu nem ressuscitou, nenhuma
mensagem cristã nem nenhuma adesão de fé têm razão de ser, e o arauto não é mais do que
asceta que levava uma vida austera e apregoava pelas vilas e cidades o ideal ascético como forma de agradar a
Deus e como meio de salvação. Também no Império Romano existia a função do keryx. Tratava-se de um
mensageiro que anunciava o regresso das tropas do imperador, cuja função era anunciar ao povo uma boa
notícia: a vitória do exército imperial em alguma batalha. Como o imperador também se fazia considerar um
deus, logicamente se tratava de uma mensagem de salvação do rei-deus. O cristianismo acabou adotando o
sentido e a função do keryx. Contudo, a mensagem e seu conteúdo central não é mais a vitória do imperador, ou
o anúncio de uma vida ascética. A mensagem central é Jesus Cristo. Para o cristão, Jesus Cristo é a Boa-Nova e
também a Salvação. (Cf. MORÁS, Francisco. As correntes contemporâneas de catequese, p. 24 a 25).
275
RICA,n. 9; citando AG, n. 13.
276
Cf. Rm 16,25-27; cf. Mt 12,41 e Lc 11,32.
277
Cf. Jo 20,31.
85
uma voz vazia de conteúdo, uma falsa testemunha.278 O arauto recebe a autoridade da parte de
Deus para manifestar sua palavra279 e, deste modo, levar os eleitos de Deus à fé e ao
conhecimento da verdade.280
Quem chega à fé inicial começa a descobrir, por meio da Palavra e do Espírito,
que a relação com o Deus vivo passa por Jesus Cristo, de modo que “não há salvação fora
dele”.281 Faz a primeira adesão livre a Jesus Cristo, como Salvador, ainda que não tenha
conhecimento completo de sua Pessoa.
O simpatizante, ao deixar-se guiar pelo Espírito na oração e no testemunho,
deixa-se penetrar por este mistério de amor, encharcando a sua vida com a graça de Deus que
transforma e redime. Crer é, pois, uma resposta de obediência a Deus. É o sim daquele que crê
e acolhe a revelação amorosa de Deus.
Neste tempo, é necessário estar atento à ação do Espírito, que se revela no mais
profundo da pessoa.
b) Da fé inicial à conversão
À esta primeira adesão a Jesus Cristo acompanha o desejo de segui-lo, de viver
como ele viveu, o que significa um profundo voto de conversão. A pessoa, situada no início
da fé, sente-se misteriosamente chamada por Deus, a quem urge dar uma resposta. Quando a
resposta é afirmativa, Deus ocupa o centro da sua vida.
278
Cf. 1Cor 15,14-15.
Cf. Tt 1,3.
280
Cf. RETAMALES, Santiago Silva. A proclamação do Kerygma segundo o novo testamento. In: CELAM.
Kerygma: discipulado e missão. Perspectivas atuais, p. 12. (Coleção Quinta Conferência - Bíblia)
281
Cf. At 4,12.
279
86
É nesse diálogo, que o ser humano decide livremente que Deus ocupe o centro
de sua vida, e os desejos de Deus sejam os desejos de sua vontade humana, e que o amor de
Deus seja o fundamento de seu amor humano; inicia-se o seguimento de Jesus. Há que se
considerar, portanto, para este tempo, uma conversão inicial, mas suficiente para que a pessoa
se dê conta de que foi libertada do pecado e introduzida no mistério do amor de Deus, que a
chama para um convívio pessoal em Cristo.
Com a graça de Deus, o neoconvertido inicia uma caminhada espiritual na fé.
Participa desde o início do mistério da morte e ressurreição de Cristo, que transforma o velho
ser humano que ele era em um novo, à imagem do realizado em Cristo.282
Esta passagem, que traz consigo uma renovação progressiva de mentalidade e
de costumes, deve manifestar-se e desenvolver-se progressivamente, com as suas
conseqüências sociais, durante o tempo do catecumenato.283
A entrada na fé, que é sempre resposta ao chamado de Deus, determina, na
pessoa, um comportamento novo: pelo reconhecimento de Cristo e a obediência a sua palavra
(fé); pela certeza de que Deus realiza sua promessa (esperança) e; pelo dom de si mesmo a
Deus e aos demais (caridade).
Trata-se de oferecer aos “simpatizantes” um quadro de valores e princípios de
conduta que os possibilite discernir em cada situação a resposta própria de cristão.
282
283
Cf. AG, n. 13; citando Cl 3,5-10; Ef 4,20-24.
Cf. AG, n. 13.
87
c) Relação pessoal com Deus em Cristo.
O primeiro modelo de catequese cristã, que foi a ação de Jesus com seus
discípulos, teve como um dos elementos primordiais a iniciação à oração: “Senhor, ensina-nos
a orar”. “Quando orardes, dizei: Pai....”.284
Somente em Cristo podemos atrever-nos a dizer: “Pai nosso”. É Cristo que nos
mostra o valor de orar com confiança; com ele aprendemos a “adorar a Deus em espírito e
verdade”,285 adoração que só terá valor enquanto se une à sua e é oferecida em seu nome.286
A oração pessoal faz parte da vida diária do cristão, a exemplo de Jesus, que
viveu momentos fortes de oração a cada dia de sua vida: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo
15,5). Deus garante, na intimidade com ele, a força da nossa ação, a coragem de prosseguir no
caminho e a alegria de promover a vida. Ele não vem tomar posse da pessoa, mas projetá-la
para a compreensão de si mesma, o que lhe confere a dignidade máxima e o sentido mais
pleno. Escutar a Deus é a experiência mais expressiva e plena de sentido para a vida do ser
humano.
Quem deseja, porém, experimentar a união com o Deus Trino, já nesta vida,
deve abraçar a prática pessoal da oração. A relação com o Pai supõe momentos de exclusiva
entrega à presença libertadora de seu Espírito em nós.
Quando oramos, a nossa vida toda, por meio de Jesus Cristo, é colocada em
sintonia com o coração de Deus. Do coração de Deus vem a graça, que gera e mantém a vida
interior e faz o cristão ser fiel à verdade, à vida, à paz e ao amor. Por isso, é preciso que “a
284
Cf. Lc 11,1-4.
Cf. Jo 4,23.
286
Cf. HÄRING, B. Oração. In: DE FIORES, Stefano e GOFFI, Tullo. (Org.). Dicionário de espiritualidade, p.
842.
285
88
catequese recupere em toda a sua riqueza a originalidade da oração cristã, inspirando-se na
oração de Jesus”.287
Agindo assim, evitamos a tentação de pensar que as conquistas e os resultados
só dependem do esforço pessoal e da própria capacidade de programar e de agir. Deus, com
sua graça, tudo pode realizar e dar o cumprimento a tudo o que depende de cada um.
O grupo dos “simpatizantes” deverá ser, portanto, uma escola prática de
oração, que capacite para pôr em exercício as atitudes e as expressões que a instrução
proporcionar. Aí se revela tanto a função da liturgia quanto da catequese.
d) Experiência de comunidade e do espírito dos cristãos.
Quem se abre à fé inicial, está disposto em se incorporar ao grupo, à
comunidade dos seguidores de Jesus, de quem normalmente terá recebido ajuda para
descobrir a Deus e ao seu enviado Jesus Cristo. Intui, portanto, que esse é o lugar em que
pode tornar mais explícita sua fé, amadurecê-la, celebrá-la e vivê-la.
A mentalidade presente no RICA parte de uma profunda experiência eclesial:
uma Igreja que trata de recuperar o espírito de suas origens e o que é essencial a seu ser, ou
seja, o anúncio de Jesus Cristo.
Além de apresentar o anúncio de Jesus Cristo aos futuros catecúmenos, este
tempo do pré-catecumenato é profundamente marcado pelo relacionamento entre os
candidatos, famílias e grupos cristãos.288 É, portanto, um tempo que se distingue por relações
287
TERNERO, Antonio Maria Alcedo. Tarefas da catequese. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO,
R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 1050.
288
Cf. RICA, n. 11 e 68.
89
humanas calorosas, encontro real de amizade e tudo aquilo que seja expressão da acolhida da
Igreja que valoriza os que vêm ao seu encontro.
É tarefa da catequese e da liturgia, portanto, exercitar os candidatos ao
catecumenato nas atitudes que possibilitam a relação comunitária: abertura, acolhida, escuta,
confiança, colaboração, desinteresse e agradecimento. Facilitando, assim, uma convivência
que seja expressão dos frutos do Espírito, que vai construindo a comunidade dos discípulos do
Senhor.
De um estilo quase informal das várias reuniões de caráter familiar do grupo
de simpatizantes, dos gestos familiares e de acolhida chega-se à celebração do rito de
instituição dos catecúmenos.
4.2 - Rito de instituição dos catecúmenos
O candidato, após passar pelo pré-catecumenato ou evangelização,289 é
acolhido, oficialmente, pela comunidade cristã.
O tempo do catecumenato tem início com o “rito de instituição dos
catecúmenos”, que é de suma importância, pois os candidatos, reunindo-se publicamente pela
primeira vez, manifestam suas intenções à Igreja enquanto que esta, no exercício de seu
múnus apostólico, acolhe os que pretendem se tornar seus membros.290
289
A admissão ao catecumenato pressupõe, portanto, a evangelização ou anúncio do Deus vivo: cf. SC, n. 9; AG,
n. 13.
290
Cf. RICA, n. 14.
90
A admissão ao catecumenato é o primeiro encontro oficial da Igreja e do
candidato, que os cerca de amor e proteção.291 Trata-se da primeira etapa litúrgico-celebrativa
da iniciação cristã.
O acolhimento do catecúmeno pela comunidade é necessário para ajudar o
convertido nas etapas de seu itinerário cristão. Ao acolher o convertido, a comunidade se
compromete em dar-lhe apoio em sua vida de fé mediante o padrinhado, a iluminá-lo em seu
itinerário espiritual com a catequese, a inseri-lo no seio de uma assembléia viva por meio da
liturgia e a estimulá-lo ao compromisso em seu próprio ambiente. Estes serviços constituem a
base do ministério catecumenal.292
No rito de admissão entre os catecúmenos, o novo catecúmeno faz a sua
primeira adesão, recebe o sinal de sua nova condição, o sinal da cruz, o sinal do cristão, e é
recebido como membro da Igreja. Os novos catecúmenos são introduzidos na Igreja, com
estas palavras: “Entrem na igreja, para participar conosco na mesa da Palavra de Deus”.293
Começa a fase propriamente catecumenal, a fase da escuta da Palavra de Deus.
Ainda no rito da entrada no catecumenato, após a proclamação da Palavra de
Deus e homilia, quem preside entrega uma bíblia a cada um dos catecúmenos, com estas
palavras: “Recebe o livro da Palavra de Deus. Que ela seja luz para a tua vida”.294
Durante o tempo do catecumenato, os catecúmenos recebidos no seio da
comunidade eclesial, vão sendo gerados para a vida da fé, isto é, pela graça do Espírito, vão
291
Cf. RICA, n. 18.
Cf. FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 184.
293
RICA, n. 90.
294
Ibidem, n. 93.
292
91
reconhecendo que Jesus Cristo está neles295 e vão convertendo seu coração ao Pai e a Jesus
Cristo, o Senhor.296
4.3 - Catecumenato
O catecumenato é um tempo dedicado à catequese integral, em que os
catecúmenos são alimentados pela Igreja com a Palavra de Deus e incentivados por atos
litúrgicos:
A catequese (...) distribuída por etapas e integralmente transmitida,
relacionada com o ano litúrgico e apoiada nas celebrações da Palavra,
leva os catecúmenos não só ao conhecimento dos dogmas e preceitos,
como à íntima percepção do mistério da salvação de que desejam
participar.297
Os atos litúrgicos são um incentivo dado pela Igreja à caminhada dos
catecúmenos298 e, mais do que isso, eles são também eficazes na caminhada dos catecúmenos
que “já são por eles gradativamente purificados e protegidos pela bênção divina”.299
A catequese, segundo o RICA, deve estar “em harmonia com os ritos e o
calendário litúrgico”,300 permeada de ritos e incluir celebrações da Palavra.
Afirmar que a catequese deve ser relacionada com o ano litúrgico, nos leva a
compreender que seus conteúdos sejam distribuídos ao longo do ano de acordo com os
295
Cf. 2Cor 13,5; cf. 1Cor 12,3; At 2,36.
Cf. At 2,37s; Lc 10,27.
297
RICA, n. 19.1.
298
Cf. Ibidem, n. 18.
299
Ibidem, n. 19. 3.
300
Ibidem, n. 48.
296
92
tempos litúrgicos. Mais ainda: que cada tempo litúrgico, com seu conteúdo e sua
espiritualidade, seja focalizado e vivido pela catequese, pois o ano litúrgico torna presente o
mistério de Cristo e fortalece, desta forma, a união entre liturgia e catequese.301
O RICA302 recomenda a santificação do domingo, a cujo respeito deve ser
dadas noções desde o catecumenato:
ƒ
Que a celebração da Palavra seja feita freqüentemente neste dia, para que
assim, os catecúmenos se acostumem a uma participação ativa e bem
preparada.
ƒ
Que lhes seja facultada a participação gradativa na primeira parte da missa
dominical; se for possível far-se-á a despedida dos catecúmenos depois da
liturgia da Palavra e se acrescentará uma prece em seu favor na oração dos
fiéis.
Não é exigido dos catecúmenos, portanto, que participem da missa inteira aos
domingos. Começam a participar gradativamente apenas da primeira parte da celebração, ou
de toda ela se for melhor pastoralmente. Pelo batismo, é que “serão agregados ao povo
sacerdotal e delegados para o novo culto de Cristo”.303
É o tempo voltado para o crescimento da fé, o amadurecimento da conversão;
período de contato com a comunidade cristã, de familiarização com seus símbolos e com sua
301
O ritmo catequético em sintonia com o ritmo do ano litúrgico: oferece maior possibilidade de viver o processo
catequético na comunidade de fé; oferece um itinerário formativo espiritual mais regular e intenso; ajuda a
recuperar o sentido profundo dos sacramentos, enquanto lugar, sentido e ordem dos mesmos; favorece
experiências intensas para viver a catolicidade da Igreja; os tempos fortes do ano litúrgico são momentos em que
se cria facilmente a unidade entre catequese, liturgia e caridade. Nestes momentos é mais fácil unir a totalidade
das dimensões da vida cristã; o itinerário catequético deve conduzir à celebração do Domingo; as grandes festas:
o Advento e Natal, Quaresma e Páscoa, festa do padroeiro, santos, festas populares, trazem sempre uma grande
riqueza; a liturgia das horas apresenta um caminho possível de oração e espiritualidade. (Cf. LIMA, Luiz Alves
de. A unidade da catequese e liturgia na iniciação cristã. In: Revista de catequese, n. 114 (2006), p. 37).
302
Cf. RICA, n. 107.
303
Ibidem, n. 19.
93
gente, por meio da progressiva experiência da fé, da liturgia e da caridade própria do Povo de
Deus.304
A comunidade vai introduzindo o catecúmeno gradualmente nas celebrações,
símbolos, gestos e tempos da atividade litúrgica. Igualmente vai suscitando sua atividade
evangelizadora, que consiste em anunciar aquilo que se crê e que se vive.305 Compromete-se a
dar-lhe apoio em sua vida de fé, a iluminá-lo em seu itinerário espiritual com a catequese, a
inseri-lo no seio de uma assembléia viva por meio da liturgia e a estimulá-lo ao compromisso
em seu próprio ambiente. Estes serviços constituem a base do ministério catecumenal.306
Essas e outras orientações presentes no RICA mostram que, no catecumenato,
a catequese deve estar bem articulada com a liturgia. O catecumenato é um tempo dedicado à
catequese e aos ritos anexos.307 Seus conteúdos devem estar voltados para a liturgia. Deve
introduzir na vida litúrgica308 ou, dito de outra forma, deve incentivar a participação nos
mistérios litúrgicos.309
A formação integral deste tempo exerce, portanto, a função de iniciação
gradativa. Os catecúmenos alcançam a maturidade cristã, chegam à íntima percepção do
mistério da salvação por meio de uma metodologia que combina três componentes
fundamentais que lhes proporcionam serem iniciados:310
ƒ
Por uma catequese apropriada, disposta em etapas, relacionada como o ano litúrgico e
apoiada nas celebrações da Palavra, os catecúmenos chegam à íntima percepção do
mistério da salvação. A formação propriamente catecumenal, conforme a mais antiga
304
Cf. Ibidem, n. 98.
Cf. At 4,31.
306
Cf. FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 184.
307
Cf. RICA, n. 7.
308
Cf. Ibidem, n. 98.
309
Cf. Ibidem, n. 99.
310
Cf. principalmente RICA, n. 19 e 98; em conformidade com AG, n. 14.
305
94
tradição se realiza através da narração das experiências de Deus, particularmente da
História da Salvação mediante a catequese bíblica.311
ƒ
A partir das disposições interiores manifestadas durante o catecumenato, os
candidatos adquirem a maturidade espiritual; graças aos ritos litúrgicos, purificam-se
pouco a pouco e conservam-se pelas bênçãos divinas.
Este itinerário supõe um processo pedagógico de conversão que deve aumentar
sua vivência de fé, esperança e caridade, como resultado da ação do Espírito dispensado
pelos ritos sagrados.312
ƒ
A relação anúncio do mistério, ação celebrativa e vida ressalta a unidade que se dá
entre celebração da fé e vivência cristã. A mesma graça dada na celebração prossegue
na vida.313
A estrutura catecumenal coloca-se em perfeita sintonia com a experiência
teológica da progressividade da manifestação de Deus e de sua iniciativa de salvação; e tem a
finalidade de construir com o cristão uma visão nova e unitária dos mistérios da fé, da história
e da vida.
É um período de catequese, transmitida integralmente e por etapas, que leva os
catecúmenos ao conhecimento dos dogmas314 e preceitos.315 Este é, portanto, um tempo
prolongado, onde os candidatos recebem a formação cristã e se submetem a uma adequada
311
Cf DGC, n. 89; CR, n. 222.
Cf. RICA, n. 19,3: “Ajudados em sua caminhada pela Mãe Igreja, através dos ritos litúrgicos apropriados, já
são por eles gradativamente purificados e protegidos pela bênção divina. Promovem-se para eles celebrações da
Palavra (...) junto com os fiéis, a fim de se prepararem melhor para a futura participação na Eucaristia (...)”.
313
Cf. Ibidem, n.. 19, 98.
314
O “dogma” designa, no uso teológico atual, uma verdade que a Igreja põe como algo que se deve crer. (Para
aprofundar Cf. WELTER, Peter. Dogma. In: LACOSTE, Jean-Yves (Org.) Dicionário crítico de teologia, p. 568
a 574; STUDER, B. Verbete: Dogma (história do). In: VV.AA. Dicionário patrístico e de antigüidades cristãs,
p. 421 a 423; CaIC, n. 88 a 90).
315
O preceito é uma obrigação explícita (freqüentemente um interdito) que prescreve o que é necessário à
salvação. (Cf. BURTCHAELL, James Tunstead. Preceitos/Conselhos. In: LACOSTE, Jean-Yves (Org.)
Dicionário crítico de teologia, p. 1419 a 1421).
312
95
disciplina. Aqui tem papel importante o Catecismo da Igreja Católica, que há de ser ponto de
referência obrigatório para essa formação cristã.316
Não pode faltar, entre os temas próprios desse tempo, uma catequese profunda
sobre o Símbolo da Fé, a oração, a moral cristã e os sacramentos da Igreja.
A fase catecumenal se prolonga durante o período necessário para o
amadurecimento da fé e da conversão, até por vários anos e, em casos peculiares, pode ser
abreviada.317
Os ritos próprios deste tempo expressam o encorajamento da Igreja, na luta que
os catecúmenos empreendem para superar as próprias limitações e as armadilhas do mal, já
que não possuem, ainda, a graça dos sacramentos.
O tempo do catecumenato é marcado pela catequese e por uma dimensão
celebrativa mais intensa nos encontros, que incluem celebração da Palavra, exorcismos
menores, bênçãos e, caso seja realizado neste tempo, o rito da unção. Desta forma, a liturgia e
a catequese são duas formas privilegiadas de edificação da comunidade cristã.
316
Para a formação neste tempo do catecumenato podem servir como referência: CATECISMO DA IGREJA
CATÓLICA; Compêndio do Catecismo da Igreja Católica; CNBB. Sou católico: vivo a minha fé, 1ª. ed.
Brasília: Edições CNBB, 2007; LIBÂNIO, João Batista. Eu creio, nós cremos. Tratado da fé. São Paulo: Loyola,
2000 (Coleção Theológica); LIBÂNIO, João Batista. Creio em Deus Pai. São Paulo: Paulus, 2007. (coleção por
que creio); LIBÂNIO, João Batista. Creio em Jesus Cristo. São Paulo: Paulus, 2007. (coleção por que creio);
LIBÂNIO, João Batista. Creio no Espírito Santo. São Paulo: Paulus, 2007. (coleção por que creio); FREI
BETTO. Catecismo popular. São Paulo: Ática, 1992 (Este Catecismo Popular, em sua primeira versão – lançada
pela editora Ática em 1989 e 1990 – forma a coleção Fé e Libertação, dividida em quatro volumes,
respectivamente intitulados: A proposta de Jesus; A comunidade de fé; Militantes do Reino e Viver em comunhão
de amor); BRUSTOLIN, Leomar Antônio e LELO, Antônio Francisco. Caminho de fé – Itinerário de preparação
para o batismo de adultos e para a confirmação e eucaristia de adultos batizados. Livro do catequista. São Paulo:
Paulinas, 2006; BRUSTOLIN, Leomar Antônio e LELO, Antônio Francisco Caminho de fé – Itinerário de
preparação para o batismo de adultos e para a confirmação e eucaristia de adultos batizados. Livro do
catequizando. São Paulo: Paulinas, 2006; DIOCESE DE CHAPECÓ. Catecumenato Crismal. Tempo de
aprofundamento (Catecumenato), 2ª. ed revisada. Xanxerê: Editora Gráfica, 2006; CODINA, Victor. Nosso
credo - Deus a caminha com seu povo. São Paulo: Paulinas, 1992.
317
Cf. RICA, n. 98.
96
a) A celebração da Palavra de Deus
Segundo prescreve o RICA,318 a finalidade da celebração da Palavra de Deus
consiste em gravar nos corações dos catecúmenos o ensinamento recebido quanto aos
mistérios de Cristo e a maneira de viver que daí decorre,319 levando-os a saborear as formas e
as vias da oração e introduzindo-os pouco a pouco na liturgia de toda a comunidade. Portanto,
a catequese deve apoiar-se tanto em encontros catequéticos quanto em celebrações da Palavra.
As celebrações da Palavra de Deus, segundo o Ritual, podem ser feitas depois
da catequese, incluindo exorcismos menores ou bênçãos,320 e que sejam apropriadas ao tempo
litúrgico e sirvam à instrução dos catecúmenos.321 Contudo, não são atividades
complementares e sim constitutivas da catequese.
Para as celebrações da Palavra de Deus em benefício dos catecúmenos, o RICA
apresenta uma sugestão de roteiro.322
Não é obrigatório que sigam o elenco das leituras da missa, mas sim o tempo
litúrgico.323 Servem para a instrução, mas são distintas dos encontros catequéticos.
Devem ser celebrações da Palavra e não lições de catecismo, pois, trata-se de
celebrar e não de explicar; de experimentar e não de conhecer. O que se pretende é conseguir
318
Cf. RICA, n.106.
Como por exemplo: ensinamento proposto pelo Novo Testamento, o perdão das injustiças e das injúrias, o
sentido do pecado e a conversão, os deveres que os cristãos precisarão exercer no mundo, etc.
320
Cf. Ibidem, n. 108.
321
Cf. Ibidem, n. 100.
322
Canto: no início da celebração entoar um canto apropriado. Leituras e salmos responsoriais: uma ou mais
leituras da Sagrada Escritura, escolhidas por sua relevância na formação dos catecúmenos, são proclamadas por
um membro batizado da comunidade. Via de regra, deveria seguir a cada leitura um salmo responsorial.
Homilia: convém que haja uma homilia breve, que explica e aplica as leituras. Ritos conclusivos: a celebração da
Palavra pode ser concluída com um exorcismo menor (n. 109) ou com uma bênção dos catecúmenos (n.119).
Quando houver um exorcismo menor, ele pode ser seguido de uma bênção (n. 109) ou, se for oportuno, pelo rito
da unção (n. 127). Cf. RICA, p. 45.
323
Cf. RICA, n. 19, 106, 100.
319
97
a participação dos catecúmenos na liturgia.324 É uma catequese que encontra na liturgia sua
mais plena expressão, seu incessante manancial e um centro constante de referência.325
A Igreja vive, no hoje de sua liturgia, os grandes acontecimentos da história da
salvação; a Palavra rememora a economia salvífica sempre presente pela invocação do
Espírito com a força de produzir nos fiéis e catecúmenos o acontecimento da graça. Isto exige
que “a catequese ajude os fiéis a se abrirem a esta compreensão ‘espiritual’ da economia da
salvação, tal como a liturgia da Igreja a manifesta e no-la faz viver”.326
É indispensável apresentar ao candidato a história da salvação porque a história
religiosa pessoal e a da salvação da humanidade estão em estreita relação. Da apresentação
dos textos bíblicos, ele compreende que a sua história não é mais que um reflexo daquilo que
acontece na história da humanidade, que é história da salvação.
b) Os exorcismos menores
O nascimento para a fé e a necessária conversão supõem acontecimento tão
transcendental na vida de uma pessoa e uma mudança tão profunda, que não pode ser aceita
sem experimentar dificuldades, lutas e resistências. Estar em situação de êxodo não é possível
sem atravessar, ao mesmo tempo, o deserto e experimentar a tentação.
324
Cf. FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 189.
Cf. CaIC, n. 1088, 1099, 1100.
326
Ibidem, n. 1095.
325
98
O catecúmeno, membro em parte da humanidade redimida, deve ser arrancado
do poder de Satanás, príncipe deste mundo.327 O catecúmeno deve ser libertado de todo
gênero de mal: influência dos pecados de outros, as más inclinações do próprio coração.
A luta e a conversão do catecúmeno adquirem dimensão e profundidade
bíblicas: os momentos de tentação, de indecisão, de trevas e de desespero que um dia se
apresentaram, voltam a aparecer.328 Mesmo assim, experimentam a paz, a bondade, a alegria,
a ação de Deus, através dos exorcismos. Os exorcismos (primeiros ou menores na fase
propriamente catecumenal) podem repetir-se em diversas circunstâncias. Podem ser feitos
normalmente durante a celebração da Palavra; no início ou no fim da reunião catequética.329 O
que deixa claro o entrelaçamento do rito litúrgico com seu significado histórico-salvífico
aprofundado no contexto celebrativo ou catequético. Na oração de exorcismo, a Igreja pede
que se retire o mal que ameaça o homem, mal que está acima do homem, mas abaixo de
Deus.330
Mostram aos olhos do catecúmeno a verdadeira condição da vida cristã, a luta
entre a carne e o espírito, entre a luz e as trevas, a importância da renúncia para conseguir as
bem-aventuranças do Reino de Deus e a necessidade constante de sua graça.
c) As bênçãos
As bênçãos normalmente são dadas ao término da celebração da Palavra de
Deus ou em outras circunstâncias. Manifestam o amor de Deus e a solicitude da Igreja.
Assim, através delas, os catecúmenos recebem ânimo, júbilo e paz na continuidade de seu
327
Cf. Jo 12,31; 16,11.
Cf. Mt 12,43-45.
329
Cf. RICA, n. 101.
330
Cf. Ibidem, n. 101, 109, 118.
328
99
esforço e de seu caminho. As súplicas colocam-se na linha de prepará-los e predispô-los para
esta santa iniciação, que acontece tanto pela liturgia quanto pela catequese:
Senhor Deus todo-poderoso, olhai os vossos servos e servas que são
formados segundo o Evangelho de Cristo: fazei que vos conheçam e
amem e, generosos e prontos, cumpram a vossa vontade. Dignai-vos
prepará-los por esta santa iniciação e incorporai-os à vossa Igreja para
que participem dos vossos mistérios neste mundo e na eternidade.331
d) Rito da unção
A unção dos catecúmenos, situada entre a renúncia e a profissão de fé, pode ser
antecipada durante o catecumenato e prevê-se a repetição do rito, se for oportuno.332 Daí
podemos concluir que a unção é um símbolo polivalente, tem caráter preparatório para o
batismo, como também para toda a vida cristã batismal.
Este rito expressa “a necessidade da força divina para que o batizado,
libertando-se dos laços da vida passada e vencendo a oposição diabólica, professe
convictamente e a mantenha firmemente toda a sua vida”.333
A fórmula utilizada para a consagração do óleo confirma tal desejo: “Ó Deus,
força e proteção de vosso povo, que fizestes do óleo um sinal de fortaleza (...) concedei o dom
331
RICA, n. 123.
Cf. Ibidem, n. 128: A unção no fim da celebração da Palavra de Deus é dada a todos os catecúmenos. Por
motivos especiais pode ser conferida a cada um em particular. Se for oportuno, podem-se ungir várias vezes os
catecúmenos.
333
Ibidem, n. 212.
332
100
da força aos catecúmenos que com ele forem ungidos”.334 Assim também aparece na fórmula
da unção: “o Cristo Salvador vos dê a sua força simbolizada por este óleo da salvação”.335
O rito da unção é um sinal da ação com que Deus conduz à fé o batizando; um
sinal de estreito relacionamento com a escuta da Palavra e a conversão interior. A vontade de
crer significa a vontade de inserir-se em uma condição de contínua luta contra uma
mentalidade oposta àquela de Cristo. Ele deve ser ajudado pela benevolência de Deus e pela
força de seu Espírito, a tornar-se uma realidade única com o mistério de Cristo no ato da
regeneração nas águas batismais.
A celebração da iluminação ou eleição assinala o fim do catecumenato
propriamente dito e abre o tempo da purificação ou iluminação, de preparação imediata aos
sacramentos de iniciação (batismo, confirmação, eucaristia) que, tradicionalmente, coincide
com a Quaresma.336
4.4 - Rito da eleição
No início da Quaresma, no primeiro domingo, realiza-se a admissão dos
catecúmenos que, por sua disposição pessoal, são considerados maduros para aproximar-se
dos sacramentos da iniciação, na próxima Páscoa. A eleição é como que o centro da atenta
solicitude da Igreja para com os catecúmenos, como que o eixo de todo o catecumenato.
Chama-se “eleição” porque a admissão, feita pela Igreja, se baseia na eleição
de Deus, em cujo nome ela se realiza; chama-se também “inscrição dos nomes”, porque os
334
Ibidem, n. 131.
Ibidem, n. 132.
336
Cf. Ibidem, n. 99 e 106.
335
101
nomes dos futuros batizados são inscritos no livro dos eleitos. Para ser eleitos, requer-se deles
a fé esclarecida e a vontade deliberada de receber os sacramentos da Igreja.337
Ser inscrito no livro dos eleitos, no livro da Igreja, é ficar incluído entre os
cidadãos da Jerusalém celeste. Diz Jesus a seus discípulos quando voltam alegres,
maravilhados, por haverem anunciado com poder o Reino de Deus: “Não vos alegreis porque
os espíritos se vos submetem; alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão inscritos nos
céus”.338
Na eleição, centro e eixo de todo o catecumenato, a iniciação cabe, acima de
tudo, a Deus: “Ele nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados
em sua presença, no amor”.339 Tal escolha (ou eleição), como todo o plano de Deus, se realiza
em Cristo: “Eu conheço os que escolhi” (Jo 13,18.). E também: “Não fostes vós que me
escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”.340
O catecúmeno, após o tempo do catecumenato, período dedicado intensamente
às celebrações, à devida formação e à prática da vida cristã, chega a uma fase mais intensa,
que é o tempo da preparação imediata aos sacramentos.
4.5 - O tempo da purificação e iluminação
Após a celebração da iluminação ou eleição, inicia-se o tempo da purificação e
iluminação, de preparação imediata aos sacramentos de iniciação.341
337
Cf. Ibidem, n. 21-24 e 133-142.
Cf. Lc 10,20; cf. Ap 20,13; 3,1.5.
339
Cf. Ef 1,4; cf. Cl 3,12; Rm 8,33; 11,5; Tg 2,5; 1Pd 2,9.
340
Cf. Jo 15,16; cf. Jo 6,70.
341
Cf. RICA, n. 99 e 106.
338
102
É um tempo de intensa preparação espiritual, mais relacionada à vida interior
que à catequese, que procura purificar os corações e espíritos pelo exame de consciência e
pela penitência e iluminá-los por um conhecimento mais profundo de Cristo, nosso
Salvador.342
Os eleitos (escolhidos ou iluminados) são convidados a permanecer vigilantes,
a orar, a purificar e renovar seus corações pela conversão e a assistir assiduamente as
catequeses, caminho que leva à plenitude da Páscoa. Este caminho vai sendo demarcado
durante a quaresma por meio de reuniões quase diárias.
É uma fase breve, mas muito intensa, que se inicia com o rito da eleição e
serve-se para isso, de vários ritos, sobretudo dos escrutínios e das entregas.343
a) Os escrutínios
Os “escrutínios” (são três) celebram-se tradicionalmente aos domingos – no
terceiro, no quarto e no quinto – da quaresma e têm por finalidade descobrir nos corações dos
eleitos o que é frágil, mórbido ou perverso, para curá-lo; e o que é forte, sadio e bom, para
reforçá-lo e confirmá-lo.
O escrutínio não é um exame sobre o conhecimento da verdade da fé da parte
do bispo, mas é, antes de tudo, um discernimento, na oração, da situação de conversão do
candidato ao batismo.
342
343
Cf. Ibidem, n. 25.
Cf. Ibidem.
103
Os escrutínios levam ao reconhecimento de si mesmo e da própria situação.
São como que um diagnóstico. Correspondem, portanto, à função pastoral do discernimento.
Nos escrutínios, os catecúmenos vão conhecendo gradualmente o mistério do
pecado, do qual todo o universo e cada homem em particular anseiam redimir-se e ver-se livre
de suas conseqüências atuais e futuras; além disto, seus corações se vão impregnando
progressivamente do mistério de Cristo e se convertendo da sede para a água viva, como a
samaritana;344 da cegueira para a luz, como o cego de nascença;345 da morte para a vida,
como Lázaro.346
Os escrutínios, menos que exames sobre a idoneidade intelectual ou moral dos
eleitos, são exorcismos que os preparam progressivamente para serem assumidos pelo
Espírito que lhes outorgará a adoção filial.
b) As entregas
Desde a antiguidade as entregas do Símbolo (Credo) e da Oração dominical
(Pai-nosso) pertencem à fase da purificação; tradicionalmente, o Símbolo é entregue dentro
da semana do primeiro escrutínio; a Oração dominical, depois do terceiro.347
Com as entregas,348 “uma vez completada a preparação doutrinal dos
catecúmenos, ou, pelo menos, começada no tempo oportuno, a Igreja lhes repassa com amor
os documentos que desde a antigüidade constituem o compêndio de sua fé e de sua oração”.349
344
Cf. Jo 4,5-42.
Cf. Jo 9,1-41.
346
Cf. Jo 11,1-45.
347
Cf. RICA, n. 53.
345
104
A entrega do Símbolo é um ato fundamental que contém todo o significado da
catequese. Ao entregar o Símbolo, a Igreja transmite aos que vão ser batizados a fé. Celebrase a transmissão da fé.350
A catequese se manifesta, então, em toda a sua dimensão, como realização
atual e viva da tradição oral da Igreja. A missão do Símbolo é a de expressar resumidamente o
conteúdo da tradição, sua origem é essencialmente catequética. Sua formulação pode variar,
mas o Símbolo constitui sempre um conjunto elementar e completo da mensagem cristã de
salvação.
Transmitir a fé também é iniciar na oração, ensinar a orar. Quem vai ser
batizado pede à Igreja o que os discípulos pediram a Jesus: “Mestre, ensina-nos a rezar”.351
Ao entregar a Oração do Senhor (Pai-nosso), a Igreja celebra a iniciação à oração dos novos
crentes. O Pai-nosso é a oração específica dos crentes, isto é, dos que põem sua confiança no
Pai, porque são filhos.352
Durante os quinze dias que se seguem à entrega do Pai-nosso, faz-se uma
catequese intensiva sobre a oração cristã.
348
Rito designado, desde a antiguidade, por Traditio e redditio: palavas latinas que, durante o catecumenato,
traduziam o gesto da entrega (traditio) da Bíblia, do Credo e do Pai-Nosso por parte da Igreja aos catecúmenos e
estes, por sua vez, “devolviam”, à comunidade, essa mensagem recebida em forma de vivência cristã, práticas
evangélicas assimiladas em sua própria maneira de ser (redditio). Cf. DNC, glossário, termo: traditio e redditio.
349
RICA, n. 181.
350
Cf. 1Cor 15,3; Dt 6,1-7; Sl 18; Rm 10,8-13; 1Cor 15,1-8; Jo 3,16; Mt 16,13-18; Jo 12,44-50.
351
Cf. Lc 11,1; cf. 11,1-13.
352
Cf. 1Jo 3,1; cf. Os 11,1-9; Sl 22; Rm 8,14-17; Gl 4,4-7.
105
c) Ritos de preparação imediata
Caso os eleitos possam ser reunidos no Sábado Santo353 para preparar os
sacramentos mediante o recolhimento e a oração, propõem-se os seguintes ritos que podem
ser usados, na íntegra ou em parte: recitação do Símbolo, rito do “Éfeta”, eleição do nome
cristão e unção com o óleo dos catecúmenos.
ƒ
Num primeiro momento propõe-se a recitação do símbolo.
ƒ
Em seguida, vem o rito do ”Éfeta” que, “por seu próprio simbolismo, sugere a
necessidade da graça para ouvir e professar a Palavra de Deus, a fim de se alcançar a
salvação”.354
ƒ
Na continuidade, celebra-se a escolha do nome cristão cuja finalidade é dar um nome
novo ou tornar significativo o que já se tem, recebido anteriormente dos pais.
ƒ
Finalmente, propõe-se a unção com o óleo dos catecúmenos no peito ou em ambas as
mãos ou ainda em outras partes do corpo, se parecer oportuno.355
A preparação imediata ao Batismo, como vimos, é feita por meio da catequese
doutrinal, que explica o Símbolo Apostólico e o Pai Nosso, com suas implicações morais.
Este processo é acompanhado de ritos e escrutínios.356
353
Cf. RICA, n. 26: “Exortem-se os eleitos a deixar no Sábado Santo, o quanto possível, seus trabalhos
habituais, reservar tempo para a oração e o recolhimento e jejuar na medida de suas forças”.
354
Cf. Ibidem, n. 200. A leitura mais apropriada para este rito é Mc 7,31-37.
355
Cf. RICA, n. 206.
356
Cf DGC 89 e CR 222.
106
4.6 A celebração dos sacramentos da iniciação cristã
A terceira e última etapa da iniciação cristã consiste na celebração dos três
sacramentos: batismo, confirmação e eucaristia, numa única celebração. Comumente, a
iniciação cristã de adultos é celebrada na noite santa da Vigília Pascal.357
Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia
constituem a última etapa. Os eleitos, tendo recebido o perdão dos
pecados, são incorporados ao povo de Deus, tornam-se seus filhos
adotivos, são introduzidos pelo Espírito Santo na plenitude dos tempos
e ainda, pelo sacrifício e refeição eucarística, antegozam do Reino de
Deus.358
O Concílio Vaticano II, ao restaurar o RICA, considera-o a forma típica de
toda a iniciação, pois celebra unitariamente os três sacramentos na Vigília pascal. Por isso, a
celebração unitária dos três sacramentos coroa a vigília pascal.
A razão dessa unidade é que os três concorrem juntos para assegurar a
progressiva configuração do crente a Cristo e sua plena agregação à Igreja, levando os fiéis ao
seu pleno desenvolvimento.359
- Pelo batismo, os catecúmenos, que renunciam a Satanás e pronunciam a profissão de fé,
recebem o Espírito de adoção, renascem como filhos de Deus e são incorporados à Igreja.360
357
Cf. RICA, n. 208.
Ibidem, n. 27.
359
Cf. Ibidem, A iniciação cristã. Observações preliminares gerais, n.2.
358
107
O batismo, porta da vida espiritual, propicia a primeira participação na morte e
ressurreição de Cristo, marca o começo do caminho, constitui o momento inicial de
identificação com Cristo no seu mistério pascal, no qual o batizado é transformado
radicalmente. O sacramento produz naquele que o recebe a configuração em Cristo, “nos
tornamos uma coisa só com ele por uma morte semelhante à sua” (Rm 6,5).
- Pela confirmação, os neófitos são selados pelo dom do Espírito Santo e configurados
sacramentalmente à imagem de Cristo, o Ungido.
A confirmação, que é aperfeiçoamento e prolongamento do batismo, faz
avançar os batizados pelo caminho da iniciação cristã, pelo dom do Espírito que capacita o
indivíduo a viver as exigências do caminho pascal, rememorado no sacrifício da eucaristia. A
confirmação está orientada à participação plena na eucaristia.
- Ao participar com todo o povo de Deus na eucaristia, celebram o memorial da morte e
ressurreição de Cristo e recebem a comunhão do corpo e sangue do Senhor que consuma a
união com ele.
A eucaristia é a consumação da iniciação cristã, pois o batizado, incorporado à
comunidade eclesial, reproduz o único sacrifício, que é o seu. Por isso, o batizado participa da
liturgia eucarística e oferece a sua vida ao Pai, associada ao sacrifício de Cristo. É o Cristo
inteiro, cabeça e membros, que se oferece pela salvação da humanidade.
A iniciação cristã concebe, assim, os três sacramentos em unidade e
mutuamente referenciados, a partir do efeito específico de cada um. A unidade sacramental
360
Cf. CaIC, n. 1213.
108
gerada pela Páscoa de Cristo estabelece a co-relação dinâmica entre os três sinais e encontra
coerente atuação na proposta deste ritual. A mística transformação do eleito cumpre-se pela
ação própria de cada sacramento em mútua referência unitária.
A redescoberta de que os três sacramentos (batismo, confirmação e eucaristia)
fazem parte do processo da iniciação cristã, ou seja, de que são os sacramentos da iniciação
cristã, representou um passo importante no caminho da renovação teológica desses
sacramentos. Tirados do isolamento em que se encontravam e perfeitamente situados no
contexto orgânico que lhes é próprio, revelam melhor sua natureza e toda a sua verdade.
Não se trata só de ritualmente resgatar uma prática do passado, mas quer se
refazer, com isso, a unidade da iniciação cristã, imprimindo uma identificação com Cristo e
com a sua missão. Repropõe, deste modo, o lugar e o sentido tradicional dos sacramentos de
iniciação.
Cada um deles deve ser tratado dentro da unidade orgânica que forma com os
outros dois, em conexão interna com os mesmos, sendo colocados precisamente no lugar que
lhes corresponde na linha progressiva do processo da iniciação cristã.
A finalidade da iniciação é alcançar a maturidade em Cristo,361 isto é, formar a
comunidade cristã. Somente depois de uma catequese adequada e da celebração, poderemos
dizer que a iniciação cristã está completa.
A configuração em Cristo, tida como transformação interior e para sempre,
ocorrida na iniciação deve ir consolidando-se, aprofundando-se progressivamente pela
participação na vida sacramental da Igreja.
361
Cf. Ef 4,13.
109
4.7 - Mistagogia
Recebidos os três sacramentos, começa uma nova e definitiva etapa da
iniciação cristã: o tempo da mistagogia. A etapa que vem depois dos sacramentos de
iniciação, mediante a catequese mistagógica, ajuda os neobatizados a impregnarem-se dos
sacramentos e a incorporarem-se na comunidade.362
A mistagogia é, portanto, um tempo especial que a Igreja dedica para o
aprofundamento, a inteligência do mistério experienciado na Vigília pascal, que se prolonga
até Pentecostes, e é considerado o “último tempo da iniciação, isto é, o tempo da “mistagogia”
dos neófitos.363
O que caracteriza o tempo da mistagogia é, portanto, o aprofundamento da
experiência: “o momento mistagógico fundamental é a própria celebração, o contato vivo com
o mistério, a experiência pessoal e comunitária do dom divino”.364
A prática sacramental da mistagogia é marcada pela freqüência dos neófitos às
missas próprias nos domingos do tempo pascal, quando terão lugar destacado entre os fiéis e
estarão acompanhados de seus padrinhos, serão lembrados na homilia e, se oportuno, na
oração dos fiéis.
Nesse período, os neófitos irão acorrer junto à comunidade para reforçar seus
laços e se sentirem membros participantes entre aqueles que vivem a fé como a razão de ser
de suas vidas.
362
Cf DGC, n. 89 e CR, n. 222.
Cf. RICA, n. 37 (Cf. também: RICA n. 7d, 38-40, 41.5, 43, 57, 235-239, 277, 305, 369).
364
AUGÉ, Matias. Espiritualidade litúrgica. Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus,
p. 78.
363
110
(...) o tempo da mistagogia é de grande importância para que os
recém-batizados, com o auxílio dos padrinhos, entrem em relações
mais estreitas com os fiéis e adquiram, assim, novo impulso e nova
visão das coisas.365
Como se pode notar, a catequese mistagógica não é primariamente explicação
da liturgia celebrada; esta deve falar por si mesma. Mas é na liturgia que a catequese tem seu
ponto de partida. A liturgia é, pois, fundamento da catequese sacramental, sendo catequese em
ato.366
Iniciar é algo mais que ensinar. É experiência, simpatia, aproximação. É fazer
conhecer e fazer amar, tornar possível a experiência, pois o que está em jogo na mistagogia é
a nossa relação com o mistério de Deus, que é o mistério de nossa própria vida e da história.
Afirmar que a catequese deve conduzir à liturgia não significa somente que
deve explicar os seus conteúdos, ou que deva esforçar-se por preparar a celebração de um
determinado sacramento. Tudo isso se deve fazer e é muito necessário. Porém, a tarefa da
catequese é mais ampla: a da “mistagogia” ou iniciação na celebração mesma.367
A catequese, em todo o seu caminho, deve cumprir a tarefa de iniciar a
natureza sacramental da comunidade cristã, convidar à celebração, apresentar o mistério de
Cristo também em sua dimensão de sacramento celebrado. Por ser a catequese “educação na
fé e apresentação do projeto de Deus sobre nossas vidas, não pode faltar esta dimensão
365
RICA, n. 39.
Cf. NOCENT, Adrien. Os três sacramentos da iniciação cristã. In: VV.AA. Os sacramentos – Teologia e
história da celebração, p. 70 a 71. (Anámnesis 4)
367
Cf. ALDAZÁBAL, José. Perguntas a la catequesis desde la liturgia. In: Phase 38, s/d, p. 71 a 72.
366
111
iniciadora no que é um dos momentos mais importantes desse projeto e dessa fé: a celebração
sacramental e litúrgica”.368
Durante este tempo, os neófitos, ajudados pela comunidade dos fiéis, e através
da meditação do evangelho, da catequese, da experiência sacramental freqüente e do exercício
da caridade, aprofundam os mistérios celebrados, consolidam a prática da fé cristã e se
exercitam nas práticas de sua incorporação à comunidade.369
A própria palavra “mistagogia”370 define a sua função: refere-se a tudo o que
ajuda a conduzir ao mistério. Em nosso caso, ao mistério de Cristo celebrado na liturgia e
vivido na existência cristã,371 pois, a experiência sacramental celebrada na noite de Páscoa, é
de tal riqueza que toda nossa vida se revela necessária para aprofundar seus conteúdos.
Só no transcorrer do tempo, de fato, o cristão poderá experimentar o
quanto é maravilhosa a nova condição decorrente do encontro pascal
com o Cristo. O dom recebido na celebração dos sacramentos de
iniciação prolonga-se naturalmente por toda nossa existência, inaugura
um tempo de graça e a oportunidade única para o cristão configurarse, a cada dia, em Cristo.372
O catecumenato adquire feições próprias de um discipulado, do seguimento de
Cristo, e consegue, assim, superar a histórica barreira da catequese concebida unicamente
como doutrina, e da liturgia, vista como ato devocional ou cumprimento do dever de religião.
O objetivo é um só: ser configurado no mistério da Páscoa de Cristo. Eis o convite:
368
Ibidem, p. 73.
Cf. RICA, n. 37-40; RICA, A Iniciação Cristã, Observações preliminares gerais, n. 29-30.
370
Do grego: a raiz “myst”, que indica mistério, o oculto, e “agagein”, guiar, conduzir,
371
Cf. ALDAZÁBAL, José. Vocabulario básico de liturgia, p. 241; FEDERICI, Tommaso. La santa mistagogia
permanente de la iglesia. In: Phase 193 (1993), p. 9 a 34.
372
LELO, Antonio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho, p. 119.
369
112
Voltemos a ter um coração de neófitos; não uma semana, mas anos ou
dezenas de anos depois de nosso batismo, voltemos aos pés da mãe
Igreja, para contemplar com nossos olhos o esplendor dos mistérios de
nossa fé.373
Como crianças recém-nascidas, procuremos ansiosamente também nós, o puro
leite espiritual, para crescer rumo à salvação.374
Analisamos no início do estudo, a cisão entre catequese e liturgia e, no segundo
capítulo, a iniciativa de reparar esta ruptura através do catecumenato, restaurado pelo RICA,
que se configura como um livro litúrgico. Na seqüência, tomaremos como principal referência
o Diretório nacional de catequese, documento publicado pela dimensão catequética, para
perceber como também da parte da catequese, a unidade é requerida.
373
374
CANTALAMESSA, Raniero. O mistério da Páscoa. Na história, na liturgia, na vida, p. 93.
Cf. 1Pd 2,2.
113
CAPÍTULO III
EM BUSCA DA UNIDADE
Da unidade apresentada no primeiro capítulo, chega-se à cisão entre a liturgia e
a catequese, com uma liturgia esvaziada de seu sentido teológico e a catequese restrita como
doutrinação, num contexto de cristandade. Com o Concílio Ecumênico Vaticano II, se retoma
o conceito teológico da liturgia,375 que, por sua vez, norteia o RICA e imprime um novo
paradigma na iniciação cristã pelo estilo catecumenal como inspiração para a catequese.
No Brasil, foi publicado recentemente o Diretório Nacional de Catequese
(DNC).376Este Diretório é um esforço de adaptação à realidade do Brasil do Diretório geral
para a catequese (DGC), de 1997.377 Neste, portanto, inspira-se o DNC, fazendo as
375
O grande mérito do Concílio foi de ter colocado a liturgia numa perspective eminentemente teológica e
pastoral. Superou-se uma visão exclusivamente estética e ritualista da liturgia em favor de uma compreensão
teológica da mesma. (Cf. BUYST, Ione e SILVA, José Ariovaldo da. O mistério celebrado: memória e
compromisso I. p. 65).
376
CNBB. Diretório Nacional de Catequese. Texto aprovado pela 43ª. Assembléia Geral (9 a 17 de agosto de
2005). São Paulo: Paulinas, 2006.
377
Cf. DGC, n. 9, 11, 139, 166 e 171.
114
adaptações necessárias que reflitam a caminhada da Igreja e o movimento catequético
brasileiro destes últimos cinqüenta anos.378
Ao longo de todo o DNC, é proposta a unidade da liturgia com a catequese,379
e o RICA é apontado como o melhor exemplo desta unidade.380
Este ritual é uma tentativa concreta de restauração do catecumenato, e pela
própria metodologia do catecumenato (que envolve o anúncio, celebração e vivência do
mistério da fé; o ano litúrgico; a unidade sacramental; a centralidade pascal; o protagonismo
da comunidade) é a melhor forma de propiciar a participação litúrgica requerida pelo Concílio
Vaticano II, o que implica a teologia litúrgica renovada. Sua finalidade, portanto, não é
simplesmente restaurar ritos antigos, mas retornar à união íntima que no cristianismo
primitivo havia entre liturgia e catequese.
É de consenso a impossibilidade de reproduzir literalmente o catecumenato
antigo e que tal tentativa não é a solução para os desafios que hoje se apresentam para a ação
evangelizadora da Igreja. Mas o espírito deste ritual e suas intuições, tendo como referência
aquele momento da história da Igreja, é inspiração para o trabalho da Igreja nos tempos atuais.
Diante de tal desafio, o último capítulo do nosso estudo se atém na abordagem
da liturgia como fonte de catequese, o estilo catecumenal e os elementos para uma catequese
litúrgica.381 Ao tratar dos pontos elencados, vislumbram-se possibilidades de se recompor a
unidade entre liturgia e catequese.
378
Cf. DNC, n. 1, 9.
Cf. a apresentação do DNC, onde relata o processo de elaboração e alguns destaques deste Diretório.
380
DNC, n. 118.
381
Conforme prescreve DNC, n. 120 a 122.
379
115
Como muito bem nos alerta D. Eugênio Rixen, catequese e liturgia “em íntima
relação e interação na comunidade, devem orientar a vida dos cristãos, de modo que estes
sejam comprometidos com a causa do Reino.382
1. A liturgia, fonte da catequese
O quarto capítulo do DNC383 trata especificamente da mensagem cristã e, por
ser o capítulo que trata mais diretamente da relação liturgia e catequese, ocupará o centro
desta parte do nosso estudo. Ao tratar da Palavra de Deus “fonte viva”384 da catequese,
contida na Tradição385 e na Sagrada Escritura.386 considera também a liturgia como fonte da
catequese.387
382
RIXEN, Eugênio Lambert A. Lançamento do Diretório Nacional de Catequese. Pronunciamentos oficiais
feitos na ocasião. In: Revista de catequese 116 (2006), p. 78.
383
DNC, n. 97 a 137.
384
A catequese tem como fonte viva a Palavra de Deus: CT, n. 27; cf. também CT, n. 22, 52; DGC, n. 94;
CELAM. Manual de catequética., p. 31 a 34; CELAM – Departamento de catequese (DECAT). A catequese na
América Latina. Linhas gerais de orientação, n. 35. SÍNODO EXTRADORDINÁRIO DOS BISPOS.
Assembléia extraordinária do Sínodo dos Bispos (1985), II, B, a: trata das fontes vitais da Igreja: a Palavra de
Deus que a Igreja tem a missão de proclamá-la com confiança (DV, n. 1) e a sagrada liturgia. Ressalta a
importância da Constituição dogmática Dei verbum, que foi muito negligenciada. E, no entanto, Paulo VI a
repropôs de modo mais profundo e atual na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi. Alerta ainda que a
exegese do sentido original da Sagrada Escritura não pode ser separada da Tradição viva da Igreja (cf. DV, n.
10) e que os Bispos, como verdadeiros pastores, devem mostrar o reto caminho ao rebanho. Refere-se, portanto,
a Palavra de Deus presente na Escritura, na Tradição e no Magistério.
385
Tradição entendida não como estado estático, materialmente fixado, de uma religião que herdaríamos de
modo puramente sociológico. Nem como controvérsia entre católicos e protestantes que tornaram a tradição
fonte de afirmações dogmáticas. Pela fidelidade do Espírito de Pentecostes, a Tradição viva é, na Igreja, a
presença do Senhor Jesus, da graça inamissível e dos sinais fecundos, sobre a base do fato único de Páscoa; e, ao
mesmo tempo, a memória ardente do conteúdo da catequese reveladora e a continuidade da vontade fundadora
de Jesus, a quem foi dado todo o poder sobre o Povo nascido da Palavra. Em poucas palavras, é inteiramente
Páscoa e Pentecostes continuados, é a história da salvação prolongada até a volta do Senhor. (Cf. LIÉGÉ,
André. A catequese na tradição da Igreja. In: ISPAC – Instituto Superior de Pastoral Catequética da CNBB
(Org.). Introdução à catequética, p. 27 a 28; CELAM – Departamento de catequese (DECAT). A catequese na
América Latina. Linhas gerais de orientação, n. 33 a 34).
386
Para aprofundar a Sagrada Escritura como fonte da catequese cf. CELAM – Departamento de catequese
(DECAT). A catequese na América Latina. Linhas gerais de orientação, n. 35 a 37; CELAM. Manual de
catequética, p. 36 a 37; DGC, n. 94; DNC, n. 107 a 114.
387
O DGC emprega ambas as expressões: fala da fonte e das fontes da catequese. A fonte é a Palavra de Deus.
No entanto, ordinariamente se fala também de fontes, para indicar os lugares concretos de onde a catequese
extrai sua mensagem: “A Palavra de Deus contida na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura: é meditada e
compreendida (...) por meio do senso de fé de todo o Povo de Deus; é celebrada na liturgia onde,
116
O DNC afirma tão fortemente a ligação entre catequese e liturgia, que
reconhece a liturgia como fonte da catequese: “A Palavra de Deus contida na Sagrada
Tradição e na Sagrada Escritura é celebrada na liturgia onde, constantemente, é proclamada,
ouvida, interiorizada e comentada”.388
André Philippe,389 coloca a liturgia como centro da catequese e, até mesmo,
ousa dizer que a Bíblia em tempo algum é mais Palavra de Deus do que quando proclamada
pela Igreja na assembléia litúrgica e realizada no mistério litúrgico. A liturgia, neste sentido é,
ela própria, uma eminente catequese.
Na liturgia, portanto, entramos em contato com o mistério da salvação, que
Deus realizou em Jesus Cristo, e a liturgia é também fonte da catequese enquanto “celebra e
expressa o mistério de Cristo como mistério de salvação que se realiza hoje na Igreja, numa
ação sacramental expressiva e eficaz”.390
Além de ser proclamado pelas leituras, o mistério de Cristo se torna presente
pela celebração ritual e sacramental. Neste duplo sentido, “como lugar de proclamação da
Palavra e como lugar de comemoração ritual, a liturgia é fonte de catequese”.391
constantemente, é proclamada, ouvida, interiorizada e comentada; brilha na vida da Igreja, no testemunho e na
caridade dos cristãos, particularmente dos santos; é aprofundada na pesquisa teológica (...); manifesta-se nos
genuínos valores religiosos e morais que, como sementes da Palavra, estão disseminados na sociedade humana e
nas culturas”: DGC, n.95, cf. também a nota 7.
388
DNC, n. 106; cf. também DGC, n. 95 com sua nota 7.
389
PHILIPPE, André. A liturgia no centro da catequese. In: ISPAC – Instituto Superior de Pastoral Catequética
da CNBB (Org.). Introdução à catequética, p. 49.
390
CELAM – Departamento de catequese (DECAT). A catequese na América Latina. Linhas gerais de
orientação, n. 40.
391
LUTZ, Gregório. Liturgia, ontem e hoje, p. 82.
117
1.1 - A liturgia: lugar de proclamação e da escuta da Palavra
A liturgia é lugar privilegiado de educação da fé. É onde a “proclamação da
Palavra torna-se para os fiéis a primeira e fundamental escola da fé”.392 Um dos lugares,
portanto, onde se manifesta de modo sublime a Palavra de Deus é a sagrada liturgia, fonte
privilegiada de catequese.393
A liturgia cristã é o lugar em que o livro se transforma em Palavra, e a teologia
cristã faz desta Palavra a manifestação de uma presença. Isto determina um comportamento
novo diante da Bíblia que, na liturgia da Palavra, não se apresenta somente como um livro
escrito para o povo de Israel e que nós recordamos. É a Palavra de Deus dirigida hoje ao seu
povo. É aqui e agora, na celebração, que Deus se dirige a nós.
A Sagrada Escritura, a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II, encontra o
seu devido lugar nas celebrações litúrgicas. A liturgia da Palavra não é mais vista como uma
“preparação” catequética, mas tem característica sacramental: Cristo está presente pela sua
Palavra, pois, na liturgia Deus fala a seu povo, Cristo ainda anuncia o Evangelho.394 Na
liturgia, sempre “lemos Cristo”, esse livro vivo que é Cristo Jesus, a Palavra pessoal que Deus
nos dirige.
A Palavra de Deus se fez carne em Jesus de Nazaré;395 se expressa
normativamente na Sagrada Escritura; é vivenciada e transmitida na Tradição; se faz presente,
se partilha e se celebra na comunidade dos discípulos. Por isso, a Palavra de Deus não é
objeto meramente de estudo, mas de salvação. Deus pronunciou palavras, realizou maravilhas,
enviou mensageiros a seu povo, até que Ele mesmo se fez Palavra e acontecimento salvífico
392
DNC, n. 118.
Cf. Ibidem, n. 115.
394
Cf. SC, n. 7: Na liturgia Cristo “está presente na sua palavra, pois é ele quem fala quando se lêem as Sagradas
Escrituras”.
395
Cf. Jo 1,14.
393
118
para seu povo em Cristo. Na liturgia, com efeito, a Palavra de Deus, não é apresentada como
uma lição a aprender, mas como revelação a se acolher..
A Palavra, portanto, adquire seu sentido pleno quando ressoa na Igreja como
mensagem de salvação de Deus a seu Povo. Pressupõe uma comunidade que na fé acolhe,
interpreta, responde e vive; e também requer a presença do Espírito da verdade para
compreendê-la em sua plenitude.396
A catequese cristã, por sua vez, não se reduz à transmissão de doutrinas, mas
da memória atual de uma revelação histórica, cujo conteúdo não pode ser dissociado de uma
vinda e de um feito de Deus: “de Deus que fala agindo, e que age falando”.397
A relação entre a liturgia e a catequese tem, portanto, um fundamento bíblico:
Deus age na história, toma posse, pessoalmente, da história humana, para nela fazer habitar
seu desígnio. E mais: “que tomou uma história pessoal em Jesus Cristo, para nela e por ela
realizar seu desígnio de glória em benefício de toda a humanidade, pela Páscoa do Senhor
Jesus”.398
Em suma, é preciso que sua Palavra, proclamada na celebração, comente e
esclareça, sem cessar, os sinais da liturgia, que se faça “catequese”. Podemos desejar relação
mais orgânica entre catequese e liturgia, pois no próprio centro da ação litúrgica, há lugar para
uma catequese bíblica.
396
Cf. CASTELLANO, Jesús. Liturgia y vida espiritual. Teologia, celebración, experiencia, p. 228. (Biblioteca
Litúrgica, 27)
397
LIÉGE, André. A catequese na tradição da Igreja. In: ISPAC – Instituto Superior de Pastoral Catequética da
CNBB (Org.). Introdução à catequética, p. 27.
398
Ibidem, p. 25. (itálico do autor)
119
a) É Deus que nos fala
Na liturgia da Palavra, lemos um texto, escutamos alguém que nos fala. Não
ouvimos a leitura pública de um texto venerável por sua antiguidade, escutamos a Deus que
nos fala.399
Na proclamação da Palavra, Deus nos fala, comunica-se livremente a nós e, ao
comunicar-se, transforma-nos em seus interlocutores. A revelação bíblica concretiza-se em
aliança entre Deus e um povo. O Deus que fala e faz aliança é o Deus da história, aberto
sempre ao futuro.
A liturgia da Palavra é diálogo no qual o ser humano descobre que é importante
para Deus, já que é a ele a quem Deus fala: é membro do povo escolhido. Descobre a intenção
do Senhor de selar uma aliança. Vê-se provocado por esta Palavra a dar uma resposta.
A assembléia é chamada a deixar de prestar atenção em si mesma para atender
a seu Senhor que lhe fala. Colocando-se, desde o princípio, na escuta de Deus, reconhece que
é Deus quem tem a iniciativa de sua reunião. Confessa que a experiência que faz de Deus em
Jesus Cristo nasce desta Palavra que tem a Deus como autor. A fé é sempre resposta a uma
iniciativa de Deus.
Na liturgia, é sempre a Boa Nova da Salvação que é anunciada à assembléia
para que se situe na esperança e dê graças a seu Senhor pelas maravilhas que realiza. É
sempre uma palavra de vida que é proclamada para que a assembléia viva a vida de seu
Senhor.
399
Cf. SC, n. 56: um só ato de culto; SC, n. 51; SC, n. 7: “Ele (Cristo) está presente na palavra, pois é ele quem
fala quando se lêem na Igreja as Sagradas Escrituras”; SC, n. 33: “Na liturgia Deus fala a seu povo; Cristo
anuncia o Evangelho”.
120
Não basta, com efeito, ler a Palavra de Deus, inclusive elaborar os melhores
comentários, é necessário escutar a Palavra de Deus que a Bíblia nos transmite. É Deus que
nos fala e nós respondemos.
b) E pede a nossa resposta
Deus, que toma iniciativa de fazer aliança conosco, pede à comunidade uma
resposta de fé, que consiste em escutar e adorar, em adesão ao plano salvador que Deus
realiza em cada celebração.400
A liturgia possui, portanto, a capacidade de ritmar a existência do cristão. Ela,
para ser fiel intérprete de tudo o que é proclamado na Palavra de Deus, multiplica as formas
de inserção da presença de Cristo na temporalidade humana.
Neste sentido, a liturgia é “palavra viva” que faz irromper, com o passar do
tempo, a resposta individual, ou seja, de cada pessoa individualmente na Igreja, e eclesial, da
Igreja em cada pessoa separadamente, à intervenção de Deus contida na sua Palavra.401
A Palavra, proclamada dentro da celebração sacramental, vai constituindo a
própria comunidade e, ao mesmo tempo, a estimula a ser testemunho vivo no mundo: a Igreja,
evangelizada e evangelizadora, recebe da palavra viva de Deus seu impulso e sua razão de
ser.402
A resposta que damos a Deus que nos fala não é somente de aclamação, é uma
oração pessoal que se prolonga no silêncio, na conversão do coração e no testemunho.
400
Cf. OLM, n. 6.
Cf. TRIACCA, A. M. Bíblia e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário
de Liturgia, p. 147.
402
Cf. OLM, n. 7.
401
121
1.1.1 - Duas mesas: um só ato de culto
O Concílio Vaticano II recolocou a Sagrada Escritura no seu devido lugar nas
celebrações litúrgicas: lembra sua presença e máxima importância nas leituras, na homilia,
nos salmos, nas preces, orações e hinos, nos gestos e ações simbólicas; recomenda, ainda o
uso abundantes da Sagrada Escritura403 lidas principalmente nas liturgias dominicais; restaura
o salmo responsorial, a homilia e a oração dos fiéis.
A liturgia da Palavra está de tal forma unida à liturgia eucarística que
constituem um só ato de culto.404 É a noção tradicional das “duas Mesas”:405 a da Palavra e a
do Pão da vida, liturgia evangélica e liturgia do sacrifício. Em plena liturgia do sacrifício, a
Palavra de Deus jamais perde seus direitos e nos introduz no mistério.406 Isto significa que a
Palavra de Deus celebrada é ação de culto, isto é, atinge a finalidade para a qual é
proclamada, revelada, celebrada.407
Devemos entender tal afirmação na perspectiva da celebração da aliança: a
liturgia da Palavra é o momento do diálogo, do contrato da aliança, que será selado na liturgia
eucarística.
A liturgia da palavra cria o ambiente de fé para a eucaristia, que é “sacramento
de fé”. A assembléia acolhe primeiro Cristo como Palavra, comunga com ele, para celebrar
depois a memória sacramental de sua morte salvadora.408
403
Cf. SC, n. 35.
Ibidem, n. 56.
405
Sobre a “mesa” da Palavra de Deus, cf. SC, n. 51, cf. ainda SC, n. 24 e 35.
406
Cf. ANDRÉ, Philippe. A liturgia no centro da catequese. In: ISPAC – Instituto Superior de Pastoral
Catequética da CNBB (Org.). Introdução à catequética. Petrópolis: Vozes, 1965, p. 47 a 66.
407
Cf. TRIACCA, A. M. Bíblia e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário
de Liturgia, p. 138.
408
Cf. ALDAZÁBAL, José. A eucaristia, p. 408.
404
122
Por isso, “a Igreja sempre venerou as Sagradas Escrituras de igual modo como
venerou o Corpo do Senhor, não deixando de tomar da mesa e de distribuir aos fiéis o pão da
vida, tanto da palavra de Deus como o corpo de Cristo, sobretudo na liturgia”.409
1.1.2 - O lecionário
O lecionário encontra-se inserido no contexto de evangelização e sua forma de
apresentar a Palavra de Deus é uma via privilegiada de inculturação da catequese, por isso
devem ser valorizados os conteúdos dos Lecionários, a estrutura do Ano Litúrgico, a homilia
dominical e outras ocasiões de catequese particularmente significativas.410
O Elenco das Leituras da Missa, da forma como se encontra organizado, é um
instrumento eficaz para a evangelização, pois:
(...) oferece os fatos e as palavras principais da salvação, tomando-os
da Sagrada Escritura, de tal modo que esta história da salvação, que a
liturgia da palavra vai recordando passo a passo, em seus diversos
momentos e eventos, aparece diante dos fiéis como algo que tem uma
continuidade atual, ao se fazer presente de novo o mistério pascal de
Cristo, celebrado pela eucaristia.411
O Elenco das Leituras da Missa apresenta ainda uma observação importante
para a relação liturgia e catequese:
Ainda que a ação litúrgica por si mesma não seja uma forma de
catequese, inclui, não obstante, um caráter didático que se exprime
também no Lecionário do Missal Romano, de maneira que com razão
409
DV, n. 21; cf. PO, n. 18.
Cf. DGC, n. 207. Define ainda outras ocasiões: matrimônios, funerais, visitas aos enfermos, festas dos santos
padroeiros; é destaca como central a atenção dispensada à família, agente primário da iniciação a uma
transmissão encarnada da fé.
411
Cf. Ibidem.
410
123
pode ser considerada como um instrumento pedagógico para estímulo
da catequese.412
O Lecionário da Palavra de Deus não é somente livro-sinal da presença do
Senhor em sua Palavra, que recebe toda classe de honras litúrgicas, mas também o modo
normal, habitual e próprio, segundo o qual a Igreja lê nas Escrituras a palavra viva de Deus,
seguindo os “fatos” e “palavras” de salvação realizados por Cristo, e ordenando em torno
deles os demais conteúdos da Bíblia no ano litúrgico.
O Lecionário, que distribui a Palavra de Deus ao longo ao ano, proclamado,
domingo após domingo, dia após dia, à comunidade cristã, é o melhor catecismo aberto, que
continuamente alimenta e ajuda a aprofundar a fé do Povo de Deus.
1.1.3 - A homilia
O ministério da homilia413 foi revalorizado pelo Concílio Vaticano II,414 pelo
Missal415 e, sobretudo, ficou descrito e estimulado no novo lecionário,416 que sublinha a
importância da homilia como parte da celebração.
A homilia é um gênero de pregação que não pode ser considerado
independente: está a serviço da Palavra que se acaba de proclamar. É feita a partir do “texto
sagrado”, “da Palavra de Deus anunciada”. É a “proclamação das maravilhas, realizadas por
412
Cf. OLM, n. 61.
Para aprofundar o tema da homilia cf. ALDAZÁBAL, José. El ministerio de la homilía. Barcelona: Centre de
pastoral litúrgica, 2006. (Biblioteca litúrgica, 26)
414
Cf. SC, n. 52.
415
Cf. IGMR, n. 41-42.
416
Cf. OLM, n. 24-27.
413
124
Deus na história da salvação ou mistério de Cristo”, “o mistério pascal de Cristo anunciado
nas leituras”.417
A homilia pode também ser a aplicação “de um texto do ordinário ou do
próprio do dia”418 e, igualmente, de qualquer outro aspecto da celebração; normalmente,
porém, partirá das leituras, sem se descuidar como pontos de reflexão ou como quadro de
referência dos inúmeros recursos da celebração cristã.419
A homilia precisa assumir uma dimensão evangelizadora e catequética, porque
os cristãos reunidos nunca acabam de estar suficientemente evangelizados e catequizados.420
A homilia deve, além disso, levar à celebração sacramental que segue, com
uma função, portanto, mistagógica, que conduz ao mistério e aplicar à vida a mensagem da
palavra, desta vez em função profética, “a fim de que vivam sempre de acordo com a fé que
professaram”.421
Podemos, portanto, assim definir a função catequética da homilia:
“compreensão saborosa da Sagrada Escritura”, preparação “para uma comunhão fecunda” e
convite “a praticar as exigências da vida cristã”.422
417
OLM, n. 24-25.
IGMR, n. 41.
419
Cf. SARTORE, D. Catequese e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia, p. 181.
420
Cf. ALDAZÁBAL, José. A eucaristia, p. 417.
421
OLM, n. 24.
422
Cf. Ibidem, n. 41.
418
125
1.2 - Comemoração ritual
Na vida experimentamos sentimentos fortes e, por vezes, não encontramos
palavras adequadas para nos expressar. Só há um meio: o gesto. Pois há gestos que falam
mais do que as palavras. O gesto, quando repetido no grupo ou na comunidade, guarda uma
força expressiva original, vira rito. O rito é, portanto, uma “ação simbólica repetida
regularmente para aprofundar o sentido da vida dentro de determinada cultura, ou diferentes
circunstâncias da realidade de um grupo”.423
O ser humano é, por natureza, ritual e simbólico424 e, pelo rito, expressa o
sentido da vida. A liturgia é, por sua vez, uma ação ritual e simbólica, enquanto expressão do
mistério da fé cristã, que se faz com palavras, gestos e sinais,425 realizados na inteireza do
nosso ser, ligando-nos a Cristo e fazendo-nos passar com Ele da morte para a vida.
A celebração eucarística e qualquer celebração cristã é ação ritual, repetição de
uma ação simbólica deixada por Jesus ou trazida até nós pelas primeiras comunidades.
Assim ocorre, por exemplo, quando nos reunimos para celebrar a eucaristia.
Jesus nos oferece sua vida através do gesto da partilha do pão, o seu corpo doado e do vinho,
seu sangue derramado. E nos dá o seguinte mandamento: “Fazei isto em memória de mim”
(1Cor 11,23-26).
423
ZAVAREZ, Maria de Lourdes. A celebração da eucaristia é ação ritual. In: CNBB. Liturgia em mutirão.
Subsídios para a formação, p. 68.
424
O DNC, n. 116, apresenta algumas situações humanas que ritualizamos: refeições em família, nascimentos e
mortes, festas populares, comícios, perdas e vitórias humanas são cheias de ritos.
425
Cf. SC, n. 7.
126
Esta memória se faz “na assembléia litúrgica pela leitura e interpretação das
Sagradas Escrituras e pela celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos, sacramentais,
ofício divino, ano litúrgico”.426
Cristo continua a agir e a santificar. Seu ato redentor, seus gestos salvadores
tornados atuais, permanentes, universais, dotados da mesma eficácia, sob a forma do símbolo
e do rito: eis em que consiste a liturgia. Este rito nada tem de mágico. É um sinal rico e
abundante de sentido. Cristo salva hoje, pelo rito celebrado como foi por Ele instituído.
Cristo, para realizar a sua obra salvífica, está presente em sua Igreja, sobretudo
nas ações litúrgicas427 e, aderir ao rito significa abrir-se ao sentido proposto por aquele grupo
e, portanto, assumir sua identidade, fazer parte dele, pois “aquilo que não é celebrado não
pode ser apreendido em sua profundidade e em seu significado para a vida”.428
Comumente, queixam-se, principalmente os jovens, de que “a missa é sempre a
mesma coisa”. O perigo surge quando o rito já não traduz a força original do gesto e vira uma
coisa mecânica, que denominamos ritualismo,429 quando nem sequer entendemos mais o que
significa.
Uma catequese que não se impregne de oração nem desemboque na celebração
da comunidade, afasta-se de sua autêntica fonte e cume eclesial e corre o risco de reduzir-se a
uma mera transmissão acadêmica e, por sua vez, a liturgia que não é catequizadora, cai num
ritualismo.430 Daí, a importância da catequese que, levando em conta a expressão de fé pelo
rito, desenvolve uma verdadeira educação para a ritualidade e o simbolismo.431
426
DNC, n. 117.
SC, n. 7.
428
DNC, n. 116.
429
Ritualismo é o apego excessivo a cerimônias ou formalidade, sem suficiente atenção ao significado que
veiculam. (Dicionário Aurélio)
430
Cf. CT, n. 23.
431
Cf. DNC, n. 116.
427
127
A liturgia pode transformar-se, mediante a catequese, em fonte inesgotável de
elementos simbólicos que introduzem cada um dos aspectos do mistério de Cristo e da Igreja:
celebrações sacramentais, sinais principais ou secundários, gestos, palavras, coisas, atitudes,
lugares e determinações temporais, orações, atitudes, aclamações e outros.432
A catequese deve tender para liturgias vivas em que a fé se nutra da
palavra de Deus convenientemente proclamada e comentada; da prece
da Igreja; de cantos apropriados; num conjunto de ritos e gestos
433
desempenhados com veracidade e beleza.
Sob muitos pontos de vista, até mesmo aparentemente marginais, a liturgia
pode ser fonte múltipla de catequese, capaz de nutrir a fé e chamar à conversão, de construir,
dia após dia, a comunidade, de propor continuamente eficazes recursos à esperança cristã e a
generoso compromisso eclesial.
Longe de se ignorar estes dois setores indispensáveis da atividade pastoral,
devem-se buscar os lugares, os momentos e os meios mais apropriados para que ambos se
enriqueçam e se sustentem mutuamente.434
A liturgia é tanto fonte onde a catequese pode obter seu material, como ponto
de referência para relacionar a vida e atividades humanas com o mistério de Cristo e da Igreja.
Sartore435 sugere que não existe nenhum símbolo, palavra ou ação na liturgia
dos quais a catequese não possa beneficiar-se para alimentar a fé de seus ouvintes, para
convidá-los à conversão e construir diariamente a comunidade cristã.
432
Cf. SARTORE, D. Catequese e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia, p. 181.
433
CNBB. Liturgia. 20 anos depois de caminhada pós-conciliar, p. 170.
434
Cf. Ibidem, p. 169.
435
Cf. SARTORE, D. Catequese e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia, p. 181.
128
Os textos litúrgicos, os ritos, os gestos, os símbolos e os demais sinais da
liturgia contêm sempre certa exposição ou expressão de fé e constituem, portanto, testemunho
do que se está celebrando. Por isso, têm grande valor para a catequese.
A liturgia pode considerar-se, ainda, fonte de catequese por seu método e
linguagem: com sua pedagogia constante no desenvolvimento do Ano Litúrgico, que em suas
festas oferece e celebra toda a História da Salvação.
A liturgia é o livro que a Igreja abre continuamente para todos os cristãos, é a
escola em que se aprende e se entra em comunhão com os protagonistas da nossa salvação.
Na catequese, não se deve ignorar o valor dos sinais religiosos, os símbolos e
os gestos. O conteúdo da catequese é o mistério divino, ao qual respondemos não somente
com palavras, mas também com sinais, gestos e símbolos, ritos que criam a atmosfera
religiosa. É tarefa da catequese, introduzir no significado e participação ativa, interna e
externa, consciente, plena e frutuosa dos mistérios (sacramentos).
1.3 - O mistério anunciado pela catequese, celebrado pela liturgia e vivido
pelas comunidades
A liturgia é fonte inesgotável da catequese, não só pela riqueza de seu
conteúdo, mas pela sua natureza de síntese e cume da vida cristã:436 enquanto celebração ela
é, ao mesmo tempo, anúncio e vivência dos mistérios salvíficos; contém, em forma expressiva
436
Cf. SC, n. 10; CR, n. 89.
129
e unitária, a globalidade da mensagem cristã.437 Portanto, o que a catequese anuncia e ensina,
a liturgia celebra.438
A liturgia não é somente ocasião para evangelizar ou meio pedagógico de
realizar e continuar a catequese. A celebração é atuação sacramental do Mistério da salvação
no ambiente de experiência comunitária e de comunhão. A liturgia não se restringe a uma
aula de teologia, mas é celebração e atualização, presença salvadora de Cristo e seu Espírito.
O mesmo mistério,439 ensinado pela catequese e celebrado pela liturgia, torna
presente o mistério de salvação “narrado” pela Bíblia e ensinado pela catequese. O mistério
tanto é o plano divino da salvação em Cristo, como a presença atual e eficaz de salvação,
graças ao culto.
A liturgia nos faz reviver toda a história da salvação como uma “economia”,
um encadeamento de fatos conduzidos por Deus e unificados finalmente por Ele no mistério
pascal de seu Filho. A liturgia não só comemora, mas torna atual essa salvação, de tal modo
que a Igreja não receia em afirmar que, pela celebração eucarística, realiza-se “a obra de nossa
redenção”.440
A História da Salvação que a catequese anuncia se faz história operante: na
liturgia, se realiza de modo privilegiado a iniciativa salvadora de Deus.441 Mistério é a
realização do desígnio de amor de Deus de nos salvar em Jesus Cristo. Em uma palavra, é a
salvação, a reconciliação e a participação de todos os homens e mulheres na obra redentora de
Cristo, isto é, em sua morte e ressurreição.
437
Cf. DNC, n. 118.
Cf. ALDAZABAL, José. Preguntas a la catequesis desde la liturgia. In: Phase 38, p. 73.
439
No sentido rico e paulino do termo: Rm 11,32; 15,16; 16,25-27;Ef 1,1-14; Cl 1,25-28.
440
SC, n. 2; Cf. também SC, n. 102.
441
Cf. ALDAZABAL, José. Preguntas a la catequesis desde la liturgia. In: Phase 38, p. 73.
438
130
Este desígnio, concebido desde toda a eternidade, por muito tempo oculto,
cumprido quando chegou o tempo e desdobrado agora na Igreja: salvar a todos, configurandonos ao seu Filho bem-amado na unidade do seu Corpo místico. E deste desígnio esperamos
ainda a última manifestação: a volta do Senhor. Até esse dia, Cristo habita em nossos
corações pela fé.
A Palavra revelada e anunciada se torna viva e eficaz justamente porque é
celebrada. Não se trata aqui de considerar a Escritura como um dos elementos que
ordinariamente caracterizam a celebração, mas como o próprio objeto da celebração.
A fé cristã tem apenas um objeto, que é o mistério de Cristo morto e
ressuscitado, que subsiste sob diferentes modos: está prefigurado no Antigo Testamento; está
realizado historicamente na vida terrestre de Cristo; está contido em mistério nos
sacramentos; é vivido misticamente nas almas; cumpre-se socialmente na Igreja; consuma-se
escatologicamente no reino celestial.442
O objeto único que une, portanto, catequese e liturgia é o mistério cristão, é
Jesus Cristo, ou mais exatamente, todo o desígnio da salvação que Deus realizou para nós por
Jesus Cristo.
Bíblia, liturgia e catequese têm, pois, o mesmo objeto. A diferença está na
maneira de apresentá-lo ou de apreendê-lo. São perceptíveis, porém, as vantagens que terá a
catequese unindo-se ao universo litúrgico. Não mais correrá o risco de se reduzir a um
catálogo de verdades sobre Deus, acompanhado de um código de obrigações nem a uma bela
história acontecida antigamente. É uma realidade viva: acontecimentos de salvação e não
idéias abstratas; mas também, pela força dos sinais instituídos por Cristo, sobretudo de seu
442
Cf. ANDRÉ, Philippe. A liturgia no centro da catequese. In: ISPAC – Instituto Superior de Pastoral
Catequética da CNBB (Org.). Introdução à catequética, p. 53 a 54.
131
memorial, é a própria salvação de Cristo implantada entre nós que nos atinge, hoje, para nos
dar a vida e nos engajar em sua realização definitiva no mundo.
É o mesmo mistério anunciado e celebrado443 para ser vivido, pois “pelos
sacramentos, a liturgia leva a fé e a celebração da fé a se inserirem nas situações da vida”.444
A liturgia realiza no “hoje” sacramental, tanto o “ontem” dos fatos salvíficos como a espera
do “amanhã” escatológico.
Pela celebração dos sagrados mistérios, a salvação torna-se hoje presente. Por
isso, a liturgia é ação sagrada por excelência, cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao
mesmo tempo, fonte da qual deriva sua força, e requer uma participação plena, consciente e
ativa.445 “A catequese bebe desta fonte e a ela conduz”.446
2. A catequese inspirada no estilo catecumenal
O catecumenato, itinerário de iniciação cristã mais antigo da Igreja, que
remonta os primeiros séculos do cristianismo,447 apresenta-se como um ensino organizado e
sistemático e traz a assinatura dos maiores nomes entre os Padres da Igreja.448
Esse caminho de amadurecimento da fé é uma referência para a catequese de
todos os tempos, pois constituía um processo único e dispunha de uma metodologia com
progressiva interação entre catequese, celebração e vivência da fé.
443
O mesmo princípio é afirmado em dois momentos no DNC n.154 e 119 (são exatamente iguais).
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil, n. 92 (Documentos da CNBB, 43); cf. Puebla, n. 922.
445
Cf. SC, n. 7, 10, 14.
446
DNC, n. 117.
447
Séculos II a V.
448
Cirilo de Jerusalém, João Crisóstomo, Agostinho de Hipona, Irineu de Lião, Ambrósio de Milão, Gregório de
Nissa.
444
132
O Concílio Vaticano II, após experiências realizadas e, tomando-as como
referência, propôs que o catecumenato fosse restaurado.449 Seguindo tal recomendação, os
documentos do magistério da Igreja vão além e recomendam que toda a catequese se inspire
nesta prática da Igreja das origens.450
O importante é conhecer e aplicar sua pedagogia própria em itinerários de
educação da fé, conservando os elementos característicos dessa metodologia. Por isso, fala-se
da catequese em estilo catecumenal.
É um acontecimento que proporciona à catequese iniciatória uma base firme
para fazer novos cristãos e constituir comunidades cristãs vivas. Por isso, a catequese da idade
de ouro do catecumenato se apresenta como o paradigma de toda a catequese.451
A inspiração catecumenal supõe, portanto, fazer da catequese um processo de
iniciação cristã integral, isto é, uma iniciação nas dimensões fundamentais da vida cristã: no
conhecimento do mistério de Cristo, na vida evangélica, na oração e na celebração da fé, no
compromisso missionário, pois uma iniciação cristã integral é, “iniciação não só na doutrina,
mas também na vida e no culto da Igreja, bem como na sua missão no mundo”.452
A Igreja, que hoje vive num contexto religioso de referências cristãs percebidas
apenas exteriormente453 e que necessita de uma nova evangelização,454 quer recuperar os
dinamismos evangelizadores sobre os quais se articulam a catequese, a liturgia e os
sacramentos da iniciação no catecumenato.
449
Cf. SC, n. 64; CD, n. 14; AG, n. 14.
Cf. SÍNODO DOS BISPOS. A catequese no nosso tempo especialmente para as crianças e os jovens.
Mensagem ao povo de Deus, n. 8; DGC, n. 33, 59, 88-91; DNC, n. 45 a 50; Cf. também a 3ª SEMANA
LATINO-AMERICANA DE CATEQUESE. Discípulos e missionários de Jesus Cristo. In: Revista de catequese
114 (2006), p. 49; DGC, n. 90 a 91; DNC, n. 45 a 50; DA, n. 288.
451
Cf. SÍNODO DOS BISPOS. A catequese no nosso tempo especialmente para as crianças e os jovens.
Mensagem ao povo de Deus, n. 8.
452
DGC, n. 63.
453
Ibidem, n. 58c.
454
Ibidem, n. 26, 58-59.
450
133
A catequese, mais do que a tradicional dimensão racional ou doutrinal da fé,
torna-se experiencial, celebrativa e orante. Dá importância aos símbolos e aos progressivos e
graduais passos na fé, assumindo, assim, as características de um processo iniciático, ou seja,
de iniciação aos mistérios da fé, cuja metodologia não deverá ser apenas a instrução doutrinal,
mas, sobretudo, o processo catecumenal.
O DNC prevê uma catequese inspirada no estilo catecumenal.455 Por isso,
usaremos como referência este Diretório456 que apresenta os seguintes elementos do
catecumenato que devem inspirar a catequese atual.
2.1 - A função da iniciação à vida cristã.
O catecumenato batismal recorda constantemente à Igreja a importância
fundamental da função da iniciação à vida cristã, que envolve: o anúncio da Palavra, o
acolhimento do Evangelho, acarretando a conversão, a profissão de fé, o batismo, a efusão do
Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística. A pastoral de iniciação cristã457 é vital para
a Igreja particular.458
A pastoral de iniciação cristã desperta hoje na Igreja grande interesse e
preocupação. Tanto nos âmbitos da reflexão teológica como nos da prática pastoral, nota-se a
455
O DNC, n. 49, seguindo o que é indicado no DGC, n. 91, assume a retomada do catecumenato batismal dos
inícios do cristianismo como modelo de toda e qualquer catequese.
456
Para sublinhar estes elementos usaremos o DNC, n. 49 que retoma o DGC, n. 91.
457
Para aprofundar cf.: CODINA, Victor. Pressupostos para uma pastoral sacramental, hoje. In: VV.AA. Os
sacramentos hoje: teologia e pastoral, p. 11 a 24; CNBB. Pastoral da iniciação cristã, p. 209. (Segundo
encontro nacional de liturgia - Secretariado Nacional de Liturgia); CNBB. Pastoral dos saramentos da iniciação
cristã. (Documentos da CNBB, 2a)
458
DNC, n. 49 letra a.
134
necessidade de recuperar hoje o sentido da iniciação cristã e conceder-lhe o lugar que lhe
corresponde na vida da Igreja.459
Vemos hoje um bom número de pessoas batizadas que não perseveram na fé e
na vida cristã, porque nunca tiveram oportunidade de uma catequese autêntica e de um
acompanhamento espiritual por parte de uma comunidade eclesial. Todas essas realidades vão
suscitando na Igreja a necessidade de revisar em profundidade a pastoral da iniciação e
restabelecer em toda sua originalidade, a iniciação cristã.
O alcance desse objetivo permanecerá cada vez mais distante se, na pastoral
paroquial, cada sacramento for considerado isoladamente. Somente depois de uma catequese
adequada e da celebração dos três sacramentos, poderemos dizer que iniciação cristã está
completa.460
É uma novidade organizar a pastoral de iniciação a partir da unidade de todo o
processo, visto que a celebração separada dos sacramentos fez com que se perdesse a relação
de um com o outro e, conseqüentemente, o mesmo sentido do ser cristão. Há que se
reestruturar essa pastoral em vista de um adequado processo de amadurecimento da fé.
Sem dúvida, devemos encontrar um modelo de catequese que seja fruto da
unidade intrínseca da Igreja, reflexo da comunhão da Santíssima Trindade revelada no
mistério pascal, e não de uma pastoral compartimentada e fragmentada da Igreja, que tem
reflexos na sua concepção e prática eclesial.
Os bispos reunidos em Aparecida, na Quinta Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano e do Caribe, alertam para o grande número de cristãos que não
459
Cf. CAMPO GUILARTE, Manuel del. A iniciação cristã. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO,
R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética, p. 602.
460
Cf. LELO, Antonio Francisco. O estilo catecumenal na catequese por etapas. In: Revista de catequese 116
(2006), p. 37.
135
participam da eucaristia dominical nem recebem com regularidade os sacramentos nem se
inserem ativamente na comunidade eclesial. Esta realidade se constitui um grande desafio que
questiona a fundo a maneira como estamos educando a fé e como estamos alimentando a
experiência cristã.
Desafio que devemos encarar com decisão, coragem e criatividade,
visto que em muitas partes a iniciação cristã tem sido pobre ou
fragmentada. Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em
contato com Jesus Cristo e convidando-as para segui-lo, ou não
461
cumprimos nossa missão evangelizadora.
Os bispos apresentam, nesta mesma Assembléia, como alternativa para tal
desafio, que se fortaleça a unidade dos três sacramentos da iniciação e se aprofunde o rico
sentido deles, bem como o catecumenato batismal para os não batizados, seja na forma do
catecumenato pós-batismal para os batizados não suficientemente catequizados. E, para tanto,
confirmam o estudo e a assimilação do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos como referência
necessária e apoio seguro.462
Nossas comunidades têm dificuldade em lidar com situações que desafiam um
modelo já estruturado de atuação pastoral e, na maioria das vezes, não sabem como proceder
ou improvisam alternativas para dar uma solução paliativa e imediata.
A práxis pastoral das comunidades cristãs não acompanhou o ritmo
dos tempos, permanecendo efetiva e afetivamente ligada à situação já
secular da cristandade. É uma práxis pastoral paralisada de certo modo
pela inércia operativa, que se encontra deslocada diante dos desafios
461
462
DA, n. 287.
Cf. Ibidem, n. 293.
136
do mundo atual. Parece necessário difundir uma nova mentalidade e
463
conceber um renovado projeto pastoral.
A comunidade, para alcançar tal objetivo, precisa de uma transformação que se
traduza em passar de uma pastoral de manutenção ou conservação para uma pastoral de
processos de iniciação, conforme as várias realidades: batizados não evangelizados, crianças
batizadas e os que não conhecem Jesus Cristo.
(...) terá como tarefas irrenunciáveis iniciar na vida cristã os adultos
batizados e não suficientemente evangelizados; educar na fé as
crianças batizadas em um processo que as leve a completar sua
iniciação cristã; iniciar os não batizados que, havendo escutado o
464
querigma, querem abraçar a fé.
A paróquia, para tanto, precisa ser “o lugar onde se assegure a iniciação
cristã”.465 A comunidade deve criar em torno de quem se sente atraído pela fé cristã um
ambiente de acolhida fraterna e de vida cristã, por meio de uma catequese que seja
evangelizadora e que esteja a serviço da iniciação cristã.466 Por isso, o processo catecumenal é
chamado a inspirar todo o processo de educação à fé.
Considerada como parte da iniciação cristã (Cf. AG 14; RICA 19) a
catequese não é uma supérflua introdução na fé, um verniz ou um
cursinho de admissão à Igreja. É um processo exigente, um itinerário
prolongado de preparação e compreensão vital, de acolhimento dos
grandes segredos da fé (mistérios), da vida nova revelada em Cristo
Jesus e celebrada na liturgia.467
463
ALBERICH, Emilio. Catequese evangelizadora. Manual de catequética fundamental, p. 51.
DA, n. 293.
465
Cf. Ibidem, n. 293.
466
Cf. DNC, n. 35 a 38.
467
Ibidem, n. 37.
464
137
A Igreja, em sua atuação pastoral, necessita assumir “a dinâmica catequética da
iniciação cristã”.468 Daí a importância de uma comunidade que assuma a iniciação cristã e,
assim, renove sua vida comunitária e desperte seu caráter missionário. Isso requer novas
atitudes pastorais por parte dos bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas e agentes
de pastoral.469 Exige-se uma verdadeira conversão pastoral para que seja missionária,
iniciática, comunitária e libertadora. Daí o desafio urgente e fundamental de assumir uma
pastoral profundamente querigmática e estruturalmente catecumenal.470
2.2 - O catecumenato batismal é responsabilidade da comunidade cristã.
O catecumenato batismal, segundo o DNC, é responsabilidade da comunidade
cristã. De fato, a iniciação cristã não deve ser apenas obra dos catequistas e dos presbíteros,
mas da comunidade de fiéis e, sobretudo, dos padrinhos.471
A instituição catecumenal incrementa na Igreja, a consciência da maternidade
espiritual que ela exerce em toda forma de educação na fé.472
A constante referência à comunidade cristã, cuja característica é própria deste
processo de iniciação, acontece porque a comunidade participa ativamente de todo o processo
de iniciação cristã e, ao mesmo tempo, renova a graça batismal.473
468
DA, n. 291.
Cf. Ibidem, n. 291.
470
Cf. LIMA, Luiz Alves de. Contribuições da secção de catequese do CELAM à V Conferência. Proposições da
III Semana Latino Americana de catequese. In: Revista de catequese 116 (2006), p. 80.
471
DNC, n. 49, item b; DNC, n. 237; DGC, n. 91; AG, n. 14, item d.
472
Cf. DGC, n. 91.
473
Cf. LELO, Antônio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho, p. 192 a
193.
469
138
Na iniciação é decisiva a participação ativa da comunidade dos já
iniciados: é ela que acolhe e acompanha os iniciados, influencia-os e
com eles se compromete; é ela que providencia a institucionalização
do caminho iniciático para poder verificar a autenticidade da
iniciação. O êxito da iniciação depende em grande parte da vitalidade
474
de comunidade.
A comunidade se define, então, como um grupo de fiéis iniciados e adultos na
fé, com um compromisso evangelizador e transformador, uma liturgia viva, cujo sujeito é a
assembléia, e um ministério co-responsável compartilhado.
A Igreja reconhece que seu empenho missionário é de suma importância e seu
exercício, acompanhado de testemunhos explícitos da vida cristã, é prova de qualidade para a
comunidade cristã.
Para que isto seja possível, é preciso que toda a comunidade se sinta
comprometida e responsável pela iniciação daqueles que dela se aproximam e, uma das
dificuldades que a evangelização experimenta hoje, surge da falta de consciência de que toda
comunidade eclesial é o sujeito principal da catequese.
Sem negar o ministério específico dos catequistas, isso significa que
toda a vida da comunidade – sua estruturação comunitária, suas
celebrações litúrgicas, sua ação missionária, seus serviços sociais e
atitudes políticas – deve ser catequese viva, contribuindo para o
475
crescimento da fé de cada membro da comunidade.
Para ser cristão não é suficiente somente o empenho e esforço pessoal, mas é
imprescindível a ajuda da comunidade cristã.
474
475
OÑATIBIA, Ignácio. Batismo e confirmação: sacramentos de iniciação, p. 20.
GOPEGUI, Juan A. Ruiz. Catequese e comunidade cristã. In: Perspectiva Teológica 103 (2005), p.315.
139
A Igreja, por essa colaboração, recebe o título de “mãe”,476 um título merecido
pela sua cooperação no nascimento batismal, e no que ainda haverá de ser no crescimento do
novo filho. Ela não é somente uma informação doutrinal, moral ou sacramental, mas “uma
experiência da comunidade e do espírito dos cristãos”.477
O anúncio do Evangelho e a ação pastoral da Igreja devem questionar a
concepção atual de individualidade, em que se desvaloriza o outro como possibilidade
positiva para a existência e a preocupação com o bem comum, é deixada de lado “para dar
lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos”.478
A fé cristã, essencialmente eclesial é, no entanto, contrária a esta mentalidade.
Os crentes experimentam entre si laços de comunhão que brotam do evangelho, base da vida
cristã e, sem comunidade, não pode haver iniciação: “só a Igreja que inicia é capaz de receber
novos fiéis iniciados”.479
Os que ingressam nesta experiência do Evangelho, tão própria do estilo
catecumenal, são interpelados em sua relação com a comunidade e, em sentido mais amplo,
com a sociedade.
O catecumenato, longe de ser um fim em si mesmo, introduz o convertido na
comunidade cristã que se fundamenta na Palavra de Deus, vive um processo de conversão,
celebra a salvação de Deus, está encarnada na realidade do mundo, testemunha sua própria fé
e se reconhece como autêntica comunhão.
476
Cf. RICA, n. 19, item 3.
Ibidem, n. 15.
478
DA, n. 44. Dados da ONU demonstram que 6,5 bilhões de pessoas, que é a população mundial hoje, dois
terços são excluídos, ou seja, quatro bilhões vivem abaixo da linha da pobreza: Cf. BETTO Frei e CORTELLA,
Mario Sergio. Sobre a esperança. Diálogo, p. 96.
479
FLORISTÁN, Cassiano. Catecumenato. História e pastoral da iniciação, p. 31.
477
140
A comunidade tem um papel preponderante no processo de iniciação que é do
seu interesse e diz respeito a todos os batizados. Não se pode pensar um processo consistente
de iniciação e catequese sem o envolvimento da comunidade.
A iniciação cristã não deve ser obra somente dos catequistas ou dos
presbíteros, mas da comunidade de fiéis. Sem o compromisso da
comunidade, como sujeito responsável pela catequese, os catequistas
480
pouco ou nada podem realizar.
Iniciar à vida na comunidade cristã é iniciar a uma vida de relação íntima com
o Mistério do próprio Deus, revelado em Jesus Cristo, que abre novas formas de
relacionamento com o irmão e com o mundo. Essa é, portanto, “a força e o atrativo da Palavra
que deve ressoar na catequese e nas celebrações litúrgicas”.481
Nossas comunidades, para tanto, não podem se limitar em serem apenas entes
jurídicos, mas “comunidade de comunidades evangelizadas e missionárias”.482 Que sejam
realidades vividas em amor, justiça e paz, em comunhão profunda com os membros de todo o
corpo de Cristo, animados pelo Espírito Santo, para a glória de Deus Pai.
480
DNC, n. 237; Cf. também DGC, n. 220.
GOPEGUI, Juan A. Ruiz. Catequese e comunidade cristã. In: Perspectiva Teológica 103 (2005), p. 318.
482
DA, n. 98, letra e. Para aprofundar o tema do mistério pascal cf. MÜLLER, Oscar. O mistério da Páscoa. In:
BARAÚNA, Guilherme. A sagrada liturgia renovada pelo Concílio. Petrópolis: Vozes, 1964, p. 355 a 378.
481
141
2.3 - O catecumenato batismal é impregnado pelo mistério da Páscoa de
Cristo.
O catecumenato batismal, conforme prescreve o DNC, é impregnado pelo
mistério da Páscoa de Cristo.483 Encontra-se, assim, em consonância com o RICA, que afirma
ser “a iniciação cristã a primeira participação sacramental na morte e ressurreição de
Cristo”,484 e que “toda iniciação deve ter caráter pascal”.485
A morte e ressurreição de Cristo é chamada de mistério pascal ou mistério de
salvação. Pelos três sacramentos de iniciação, celebrados na Vigília Pascal, o discípulo de
Jesus participa do mistério de sua Páscoa. Daí, a afirmação de que “a Vigília pascal, centro da
liturgia cristã, e a espiritualidade batismal são inspiração para qualquer processo
catequético”.486
Os sacramentos de iniciação, denominados “sacramentos pascais”, e a
iniciação, de “caráter pascal”,487 configuram os catecúmenos na Páscoa de Cristo.
A unidade dos três sacramentos não é, pois, apenas uma questão
litúrgica: batismo, crisma e eucaristia se fundamentam sobre a unidade
do mistério pascal. Constituem ritos significativos e operativos do
mesmo mistério salvífico, destinados a realizar, de modo progressivo,
488
a plena configuração com Cristo, na Igreja.
483
DNC, n. 49, letra c.
RICA, n. 8.
485
Ibidem, n. 8.
486
DNC, n. 49, letra c.
487
Cf. RICA, n. 8.
488
GOEDERT, Valter Maurício. Batismo e missão. In: SILVA, José Ariovaldo da e SIVINSKI, Marcelino
(Org.). Liturgia. Um direito do povo, p. 103.
484
142
Vale a pena insistir que o tempo próprio para a iniciação cristã, especialmente a
dos adultos, é a Vigília Pascal, quando mais plenamente se celebra a Páscoa de Cristo, bem
como o tempo pascal, por ser considerado extensão do domingo de Páscoa.489 O processo
catecumenal, em sintonia com o ano litúrgico, centrado na Vigília Pascal, valoriza a liturgia
dominical, os tempos da quaresma e o da páscoa para que haja maior vivência eclesial. Por
isso, é de grande valor a participação continuada na eucaristia dominical, como meio habitual
de assumir a páscoa de Cristo na entrega da própria vida.490
Pelos sacramentos da iniciação cristã participamos, portanto, no mistério
pascal, fonte da vida cristã, que crescerá pela obediência à Palavra e ao Espírito, e a freqüente
participação na liturgia, especialmente na eucaristia dominical.
Os neófitos, ao participar dos sacramentos da iniciação cristã, concebem a
ressurreição não como um fato do passado, mas como um acontecimento sempre presente na
história de cada pessoa e em cada tempo, pois “a eternidade mesclou-se com o tempo e o
tempo adquiriu dimensões de eternidade”.491
Jesús Castellano,492 refere-se à dimensão mística dos sacramentos da iniciação
cristã como complexo de ritos iniciáticos, de dons misteriosos da graça, da perfeita comunhão
com o mistério de Cristo, da plena participação nos mistérios, que conduzem a uma
verdadeira experiência de fé.
489
LELO, Antonio Francisco. O estilo catecumenal na catequese por etapas. In: Revista de catequese 116 (2006),
p. 34.
490
Cf. Ibidem, p. 39.
491
GARCÍA, José Antonio González, LANDRIZ, Eladio Vega e BARREIROS, José Pérez. Catequese sobre o
mistério pascal. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética,
p. 773.
492
Cf. CASTELLANO, Jesús. La mística de los sacramentos de la iniciación cristiana. In: Phase 162 (2006).
143
Esta realidade poderá perceber-se conscientemente pelo dom da graça
ao longo do itinerário da vida cristã, como uma fonte de água viva que
se descobre, como uma luz misteriosa que vem iluminar, como uma
efusão do Espírito que nos foi dado inicialmente, como comunhão
493
com Cristo que tem uma raiz sacramental.
A mística cristã encontrará sua raiz nesses dons recebidos de Deus no começo
da história pessoal de salvação, vinculada aos sacramentos da iniciação.
O exercício de uma ação evangelizadora que respeite a unidade dos
sacramentos ajudará os fiéis a criar sua identidade. A comunidade eclesial, por sua vez, irá
descobrir-se como comunidade de discípulos e missionários.
A visão inadequada dos sacramentos motiva uma prática que não
corresponde à identidade dos mesmos. Os sacramentos não nascem
apenas de algum mandamento prescrito exteriormente: tem sua fonte
na caridade de Cristo para a humanidade, Cristo que doa inteiramente
sua vida, que, com o coração de Bom Pastor, veio para salvar a
494
todos.
A dimensão transformadora da fé aparece como uma constante a ser ressaltada
no culto litúrgico e na forma de pensar o simbolismo sacramental, “passa a ver os
sacramentos como celebração da presença de Jesus no meio da comunidade e como
compromisso com o Reino”.495
Os efeitos da graça simbolizados pelo sacramento colocam-se em continuidade
aos gestos libertadores de Cristo impulsionado pelo Espírito e destinados a gerar mais vida.
493
Ibidem, p. 7.
LELO, Antonio Francisco. Iniciação: um processo humano, itinerário de fé, caminho litúrgico. In: Medellín
128 (2006), p. 589.
495
CR, n. 305.
494
144
Jesus Cristo é o sacramento de Deus Pai na história humana: “Quem me vê, vê
o Pai” (Jo 14,9). Ele é o sinal vivo do amor que o Pai nos tem. É o rosto no qual lemos o
projeto de Deus para a nossa felicidade. Com a sua morte, ressurreição e ascensão ao Pai, essa
sacramentalidade estendeu-se à Igreja que é, portanto, sacramento de Cristo, sinal de sua
Palavra e de sua presença entre nós.
A graça recebida nos sacramentos gera os frutos de justiça e de serviço aos
pobres, que o Espírito inspira como seguimento do caminho aos discípulos. A prática de Jesus
é continuada no mundo pela Igreja.
Deus continua sua obra criadora e salvadora: por isso, a partir de uma visão
sacramental, a Igreja aprende a descobrir e a reconhecer os sinais da presença de Cristo e da
ação do Espírito na história como lugar atual da revelação do Senhor.496
Esse princípio leva a Igreja ao encontro do ser humano na situação em que este
se encontra, procurando encarnar o Evangelho. Esse dinamismo da encarnação faz a Igreja ser
evangelizadora no seu ser e agir, no que ela diz e faz, continuando a missão de Jesus até o fim
dos tempos”.497
A Igreja, na sua ação evangelizadora, corre o risco de separar a formação ao
mistério da salvação, que acontece de modo privilegiado pela catequese, da sua dimensão
celebrativa e do testemunho da vida cristã. Existe no decurso do catecumenato uma interação
constante entre esses três elementos da vida cristã e, muitas vezes, um condiciona o outro.
496
Cf. CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil (1992-2002), n. 78 (Documentos da
CNBB, 61), citando RM, n. 56.
497
Ibidem, n. 79.
145
A visão sacramental, assim concebida, elimina a cisão entre catequese e
sacramentos, os quais recobram sua unidade e continuidade com o processo evangelizador e
constituem o ápice da proclamação da fé na vida.
Podemos concluir que o catecumenato adquire feições próprias do seguimento
de Cristo, e consegue, assim, superar a histórica barreira da catequese concebida unicamente
como doutrina e da liturgia como ato devocional ou cumprimento do dever de religião. O
objetivo é único é a configuração do ser humano ao mistério da páscoa de Cristo.
2.4 - O catecumenato batismal é lugar privilegiado de inculturação.
O catecumenato batismal, de acordo com o DNC, é lugar privilegiado de
inculturação.498
A Igreja, seguindo o exemplo da Encarnação do Filho de Deus, que assumiu
nossa realidade, acolhe os catecúmenos integralmente, com os seus vínculos culturais. A ação
catequizadora participa da função de incorporar na catolicidade da Igreja as autênticas
“sementes da Palavra”, disseminadas nos indivíduos e nos povos.499
Daí que a Igreja não pode escolher entre se encarnar ou não, entre se inculturar
ou não se inculturar, mas é impelida por sua própria Cabeça, Jesus Cristo, a se aproximar de
cada povo e apresentar a cada um a mensagem de salvação e de vida que Deus tem para o
mundo na linguagem concreta daquele povo.500
498
Cf. DNC, n. 49, item d; DGC, n. 91; cf. também CT, n. 53; EN, n. 20; RM, n. 52.
Cf. Ibidem, n. 49, item d; cf. também DGC, n. 91; CT, n. 53.
500
MELO, José Raimundo de. Inculturação da liturgia. Constituição Sacrosanctum Concilium. In: Revista de
liturgia 175 (2003), p. 6.
499
146
Por inculturação entende-se o processo que, inspirado na encarnação do Verbo,
se realiza continuamente na história da comunidade cristã, tanto na evangelização e na
teologia como na celebração litúrgica.501
O fundamento da inculturação da Igreja reside, portanto, na própria encarnação
do Verbo de Deus, Jesus Cristo.502 Este mistério da encarnação não acabou no momento
histórico da encarnação de Jesus Cristo. Ele continua vivo na Igreja, pois ela também é
chamada, hoje e sempre, a se encarnar, a se aproximar, a entrar e a fazer parte de cada povo,
assumindo a sua história e a sua cultura, para manifestar a salvação na forma de ser e de
pensar deste mesmo povo.
A inculturação é, enfim, um contínuo diálogo entre o Verbo de Deus e os
muitos outros modos com que homens e mulheres se exprimem. Por isso, a inculturação nos
torna aptos a entender e falar com (e não somente a) os homens e as mulheres do nosso tempo
e, juntamente, interpretar e assumir melhor seus problemas e preocupações, seus anseios e
valores.503
Nos últimos tempos, cresceu a consciência de que o encontro do evangelho
com as pessoas, sem perder seu caráter individual e único, acontece no contexto da cultura. A
tarefa da evangelização foi assim descrita por Paulo VI:
501
Para aprofundar cf. CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. A liturgia romana e a inculturação.
Quarta instrução para uma correta aplicação da constituição conciliar sobre a liturgia. São Paulo: Paulinas, 1994;
ALBERICH, Emílio. Catequese evangelizadora. Manual de catequética fundamental, p. 125 a 133;
CHUPUNGCO, Anscar. Adaptação. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de
Liturgia, p. 1 a 12; CHUPUNGCO, Anscar. Inculturación litúrgica. Sacramentales, religiosidad y catequesis, p.
13 a 60; RUSSO, Roberto. A inculturação na liturgia. In: CELAM. Manual de liturgia – volume 4 – A
celebração do misterio pascal. Outras expressões celebrativas do Mistério Pascal e a liturgia na vida da Igreja, p.
274 a 300; SOUZA, Marcelo de Barros. Celebrar o Deus da vida. Tradição litúrgica e inculturação.
502
Cf. AG, n. 10.
503
Cf. ARRUPE, Pedro. Catequese e “inculturação”. In: ANTONIAZZI, Alberto e OLIVEIRA, Ralfy Mendes
de. A catequese à luz do Sínodo – 1997. São Paulo: Dom Bosco, 1978, p.132.
147
Para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços
geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores, mas de
chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os
critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as
linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da
humanidade que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e
504
com o desígnio da salvação.
O RICA ressalta que, após a evangelização, a pessoa sente-se chamada do
pecado para o mistério do amor de Deus para que se amadureça a vontade sincera de seguir a
Cristo e pedir o Batismo.505
O catecumenato batismal visa, portanto, não uma mera recepção dos
sacramentos, mas que o adulto amadureça a sua fé e que esta mesma fé tenha relação com a
vida. Não é uma fé desencarnada, mas profundamente enraizada na vida do povo. É o que
denominamos como princípio de interação entre fé e vida.
Com a inculturação da fé, a Igreja se enriquece com novas expressões
e valores, manifestando e celebrando cada vez melhor o mistério de
Cristo, conseguindo unir mais a fé com a vida e assim contribuindo
para uma maior catolicidade mais plena, não só geográfica, mas
506
também cultural.
504
EN, n. 19.
Cf. RICA, n. 10.
506
DA, n. 479.
505
148
Tratar do catecumenato batismal como lugar privilegiado de inculturação é
referir-se a esta relação entre a fé e a vida, pois “pelos sacramentos, a liturgia leva a fé e a
celebração da fé a se inserirem nas situações da vida”.507
Tal posição vem ao encontro da tão desejada evangelização:
Importa evangelizar, não de maneira decorativa, como que aplicando
um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto
até às suas raízes, a civilização e as culturas do homem, (...), a partir
sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo para as relações das
508
pessoas entre si e com Deus.
A inculturação é a penetração da fé até os mais íntimos fundamentos da vida
humana, de modo que a fé possa exercer seu influxo próprio.509 É necessária na catequese,
pela possibilidade de correlacionar mais incisivamente fé e vida.
É correta aquela catequese que não apenas provoca uma assimilação
intelectual do conteúdo da fé, mas também toca o coração e
transforma a conduta. Deste modo, a catequese gera uma vida
dinâmica e unificada da fé, preenche o abismo entre aquilo que se crê
e aquilo que se vive, entre a mensagem cristã e o conteúdo cultural,
510
estimula frutos de santidade.
507
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil, n. 92, citando DP, n. 922; Cf. ainda: COMBLIN, José. A
presença do Espírito Santo nas liturgias da América Latina. In: Revista de Liturgia 93 (1989) 68-77; PALUDO,
Faustino. Ler o documento a partir da fé vivida e celebrada. In: Revista de Liturgia 95 (1989), p. 138-150.
508
EN, n. 20; citando GS, n. 53.
509
Cf. ARRUPE, Pedro. Catequese e “inculturação”. In: ANTONIAZZI, Alberto e OLIVEIRA, Ralfy Mendes
de. A catequese à luz do Sínodo – 1997, p.132.
510
DGC, n. 205.
149
O princípio de interação fé e vida511 é um dos conceitos mais fecundos da
renovação da catequese contemporânea. Trata-se de buscar na ação catequética a mútua
influência entre o anúncio da Boa-Nova e a vida dos catequizandos. A interação fé e vida,
além da dimensão catequética, envolve também a dimensão celebrativa.
A celebração da eucaristia, como toda celebração, é sempre tempo especial, em
que os batizados fazem memorial da ação de Deus em favor de seu povo: o que Deus fez
ontem, faz hoje e fará sempre.512
Não há liturgia cristã sem engajamento e compromisso com a
continuação da missão libertadora de Cristo, com a realização do
Reino no aqui e agora da história. E não há engajamento cristão a não
ser aquele que brota da participação no mistério pascal de Jesus Cristo
513
na liturgia.
Desta forma, celebração e vida constituem uma unidade. Trata-se de uma
mesma vida expressa em dois momentos: na celebração e nos afazeres cotidianos. São
momentos que se completam, se harmonizam e se fecundam mutuamente para o pleno
desenvolvimento do fiel cristão.514
A catequese e a liturgia não podem ser desencarnadas da história. Sua missão é
contribuir para a formação de cristãos como cidadãos, justos, solidários e fraternos, co511
Cf. No documento Catequese Renovada, o conceito de interação fé e vida é a linha fundamental: na primeira
parte: desde o início a catequese foi uma “iniciação à fé e vida da comunidade”; na segunda parte: este princípio
é exposto e aprofundado; na terceira parte: apresenta os temas fundamentais para uma catequese renovada numa
“ligação entre fé e vida, formulações da fé e caminhada da comunidade” e, na quarta parte: mostra o crescimento
da fé de uma comunidade à medida que ela caminha interagindo fé e vida. (Cf. também: LIMA, Luis Alves de.
Interação fé e vida. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de
Catequética, p. 620 a 628; DNC, n. 13, letra i).
512
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil, n. 203.
513
BUYST, Ione. Como estudar liturgia. Princípios de ciência litúrgica, p. 29.
514
Cf. CANALS, Joan M. Liturgia y vida. In: ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE PROFESORES DE LITURGIA.
La reforma litúrgica. Una mirada hacia el futuro, p. 240.
150
responsáveis pela pátria comum e pelo planeta terra. Por isso, o sentido e a dinâmica de
inculturação da catequese e da liturgia.515
Na celebração da eucaristia, a ação litúrgica não se restringe em realizar um
culto para glorificar a Deus, mas para que o Mistério de Cristo, de maneira progressiva e
dinâmica, penetre em nossa vida e a transforme,
516
pois a celebração não tem um fim em si
mesmo, mas a vida.517
No Brasil, com freqüência, sente-se o anseio de que a relação entre liturgia e
vida apareça melhor na celebração: celebrar o mistério de Cristo em nossa vida e a nossa vida
em Cristo.518
A vida antecede e sucede à celebração, porque celebrar é um momento
de nossa vida, mas diferente da labuta cotidiana. Existência cristã e
celebração estão intimamente relacionadas, pois a vida precisa de
519
momentos de celebração para ser vivida em Cristo.
Por esse método, a vida cristã é discernida à luz da fé e desenvolve-se uma conaturalidade entre culto e vida: “Acolhemos com alegria o atual anseio de, nas celebrações
litúrgicas, celebrar os acontecimentos da vida inseridos no mistério Pascal de Cristo”.520
As comunidades saberão em sua caminhada, segundo o episcopado brasileiro,
integrar liturgia e vida.521 Para tanto, a Igreja no Brasil apresenta um jeito peculiar de educar e
515
Cf. DNC, n. 64.
Cf. SERRA, Rafael. Mysterium – Actio – Vita. Ensayo de interpretación teológica de la celebración
sacramental. In: Liturgia y espiritualidad 12 (2003), p. 656.
517
Cf. Ibidem, p. 654.
518
Cf. CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil, n. 204 a 205.
519
Ibidem, n. 203.
520
Ibidem, n. 50; cf. Puebla 922.
516
151
celebrar a sua fé, marcadas por um estilo catecumenal próprio, que nos anima a descobrir os
caminhos da encarnação e amadurecimento da fé com um modo específico de ser Igreja, de
ler e celebrar a Palavra.
2.4.1 - Comunidades eclesiais de base
A comunidade cristã é o lugar por excelência da catequese.522 As Comunidades
Eclesiais de Base523 (CEBs) e pequenas comunidades nascem da necessidade de viver
intensamente a vida da Igreja, do desejo e da busca de uma dimensão mais humana do que as
comunidades eclesiais mais amplas.524
O modo de ser Igreja no Brasil foi inovado pelas CEBs e está marcado pelo
protagonismo e pela consciência evangélica dos fiéis no compromisso histórico de gerar mais
vida, de serem mais comprometidos com a justiça numa sociedade desfavorável aos direitos
de seus cidadãos.
O documento Catequese renovada,525 descreve um processo de crescimento na
fé intimamente ligado à caminhada da comunidade cristã, que muito se parece com aquilo que
a tradição chama de catecumenato.
521
Cf. CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. (Elementos de pastoral litúrgica). São Paulo: Paulinas,
1989, n. 206.
522
Cf. DNC, n. 301.
523
Para aprofundar sobre as CEBs cf.: MUÑOZ, Ronaldo. A Igreja no povo. Para uma eclesiologia latinoamericana; MUÑOZ, Ronaldo. Nova consciência da Igreja na América Latina; BOFF, Leonardo. América
Latina: da conquista à nova evangelização, p. 130 a 135; BOFF, Leonardo. E a Igreja se fez povo.
Eclesiogênese: a Igreja que nasceu da fé do povo; GUTIÉRREZ, Gustavo. A força histórica dos pobres;
CASALDÁLIGA, Pedro. Na procura do reino. Antologia de textos (1968/1988); VV.AA. Curso de verão – ano
XII – Banquete da vida. Cultura e inculturação.
524
Cf. EN, n. 58.
525
CR, n. 281 a 316: a comunidade catequizadora.
152
É uma educação da fé profundamente experiencial, tanto em nível pessoal
como no âmbito social. Portanto, aquela inculturação do catecumenato em nossa realidade, e
não sua simples reprodução, já foi e está sendo vivida, de certa maneira, em nossas
comunidades eclesiais.526
Na prática religiosa das CEBs, as celebrações constituem momentos
privilegiados de encontro, comunhão, animação evangélica e afirmação de esperança.
A celebração é um elemento essencial na vida das CEBs, presentes no
dia-a-dia da vivência comunitária como um fator de união, de festa,
solidariedade e reflexão. Celebrando, as CEBs confirmam sua certeza
de que Cristo Ressuscitado as acompanha na caminhada e reafirmam
527
seu desejo permanente de que venha o Reino de Deus.
A articulação entre a fé e a vida é um dos traços que caracterizam a experiência
das CEBs e que dinamizam a sua prática pastoral, na medida em que vai crescendo a
comunhão e participação, desvelando, assim “o significado verdadeiro dos sacramentos,
enquanto sinais de santificação dos homens e de edificação da Igreja”.528
As pequenas comunidades empenham-se em viver o sentido dos sacramentos
não como ritos mágicos, mas como fermentos de uma vida cristã que implica necessariamente
o compromisso com os homens e mulheres, bem como com toda a história.529
526
Cf. LIMA, Luis Alves de. Com adultos, catequese adulta. Uma proposta brasileira. In: Revista de catequese
96 (2001), p. 21.
527
Equipe de liturgia da arquidiocese de Vitória – Espírito Santo. Cebs e liturgia. In: Revista de liturgia 59
(1983) p. 22.
528
TEIXEIRA, Faustino Luiz Couto. Comunidades eclesiais de base. Bases teológicas, p. 129.
529
Cf. SEGUNDO, Juan Luis. Teologia aberta para o mundo adulto 4. Os sacramentos hoje, p. 58 a 61.
153
2.4.2 - Leitura popular da Bíblia
Falar de inculturação é mencionar a importância da leitura popular da Bíblia no
Brasil, preocupada com uma nova forma de ser Igreja entre os pobres.
A Igreja, animada pelas diretrizes da Conferência de Medellín, impulsiona as
comunidades eclesiais de base, que começam a fazer uma leitura popular da Bíblia, que se
constituirá na forma mais característica de ler e celebrar a Palavra na América Latina.530
O método da leitura popular procura descobrir a analogia entre as situações do
passado e as situações do presente, olhando a Bíblia como uma chave hermenêutica para
entender a história e descobrir os múltiplos sentidos. Nesse sentido, a Bíblia é redescoberta
como memória de uma luta popular, fazendo renascer as esperanças do povo cristão.
Redescobre-se a fé viva do povo cristão, revitalizando-se o texto como Palavra
de Deus: “a preocupação principal do povo cristão não é interpretar a Bíblia, mas é interpretar
a vida com a ajuda da Bíblia”.531
2.4.3 - Celebração da Palavra
Outra forma de inculturação com forte presença na realidade da Igreja no
Brasil, em relação à leitura popular da Bíblia, é o lugar privilegiado dessa leitura que acontece
durante sua celebração.
530
Cf. MESTERS, Carlos. Flor sem defesa. Uma explicação da Bíblia a partir do povo; MESTERS, Carlos. Por
trás das palavras. Um estudo sobre a porta de entrada no mundo da Bíblia; MESTERS, Carlos. A Igreja que
surge da base. p. 297-311; COMBLIN, J. Critérios para um comentário da Bíblia. In: REB 42 (1982), p. 307330; SILVA, Airton José da. Notas sobre alguns aspectos da leitura da Bíblia no Brasil hoje. In: REB 197 (1990),
p. 117-137.
531
MESTERS, Carlos. Flor sem defesa. Uma explicação da Bíblia a partir do povo, p. 37.
154
Além dos círculos bíblicos, os documentos da CNBB532 orientam sua
celebração, antes de tudo porque vêem nela uma fonte natural de solidariedade, pois o Povo
de Deus, “uma vez convocado e nutrido pela Palavra de Deus, facilmente se integra em
formas comunitárias, em verdadeira comunhão de vida, de lutas e de compromissos”.533
Nem sempre se pode contar com a presença semanal de um padre nas
assembléias dominicais. Há uma desproporção muito grande entre o número de comunidades
e a presença de sacerdotes para o seu atendimento regular.534
O documento Animação da vida litúrgica no Brasil constata a amplitude desta
afirmação através de um dado relativamente novo: cerca de 70% das celebrações dominicais
são realizadas por comunidades que vivem e celebram sua fé sem a presidência de um
ministro ordenado.535
Formadas por gente simples, em luta pela sobrevivência e mais abertas
à solidariedade, essas comunidades, espontaneamente, unem a
Escritura à vida e, criativamente, integram preciosos elementos de
536
religiosidade popular e de sua cultura.
532
Cf. CNBB. Diretório para missas com grupos populares. Paulinas: 1977 (Documentos da CNBB, 11);
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1989. (Documentos da CNBB, 43); CNBB.
Orientações para a celebração da Palavra de Deus. (Documentos da CNBB, 52).
533
CNBB. Diretório para missas com grupos populares, n. 2.1.3 (Documentos da CNBB, 11); CNBB.
Orientações para a celebração da Palavra de Deus, n. 25 (Documentos da CNBB, 52): Apoiando-se na Palavra
de Deus, as pessoas se tornam mais solidárias e fazem dos momentos celebrativos um encontro festivo e
comprometido com o próprio Deus da vida, que é a Palavra que ama, salva, transforma e liberta.
534
Cf. Equipe de liturgia da arquidiocese de Vitória – Espírito Santo. Cebs e liturgia. In: Revista de liturgia 59
(1983), p. 22.
535
Cf. CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil, n. 25. Para aprofundar sobre a realidade das comunidades
que se reúnem para celebrar a Palavra, cf.: SARTORE, Domenico Assembléias sem presbítero. In: SARTORE,
Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia. p. 104 a 108; BUYST, Ione. Celebração do
domingo ao redor da Palavra de Deus; CNBB. Orientações para a celebração da Palavra de Deus, n. 5
(Documentos da CNBB, 52), que também aponta no n. 2: “Em terras latino-americanas, a realidade da ‘falta de
ministros, a dispersão populacional e a situação geográfica do continente fizeram crescer a consciência da
importância das celebrações da Palavra de Deus”.
536
Ibidem, n. 97.
155
A celebração da Palavra sem a presença do ministro ordenado constitui a forma
da maioria das comunidades celebrarem, aos domingos, o mistério de Cristo em sua vida.
A celebração da Palavra de Deus, presidida por um diácono ou por leigos,
homens e mulheres, é um ato oficial da liturgia da Igreja, como estabelece a Sacrosanctum
concilium.537 É autêntica celebração litúrgica, pois, no caso de impossibilidade da celebração
eucarística, “a Igreja como comunidade pascal se realiza na celebração da Palavra”.538
3. Catequese litúrgica
O DNC define catequese litúrgica como “um processo que visa enraizar uma
união madura, consciente e responsável com Cristo, sobretudo através das celebrações, e leva
ao compromisso com o serviço da evangelização nas diversas realidades da vida”.539
A evangelização considera a catequese litúrgica “uma via privilegiada de
inculturação da fé pela riqueza de sinais com que é expressa a mensagem e pela possibilidade
de acesso que oferece a grande parte do Povo de Deus.540
A catequese litúrgica prepara não só para os sacramentos, mas ajuda a
vivenciá-los, levando a uma maior experiência do mistério cristão.
537
SC, n. 35, item 4.
LUTZ, Gregório. Teologia da liturgia dominical de comunidades sem padre. In: Revista de liturgia 52 (1982),
p.3 a 4.
539
DNC, n. 121.
540
DGC, n. 207.
538
156
Ela explica o conteúdo das orações, o sentido dos gestos e dos sinais,
educa à participação ativa, à contemplação e ao silêncio. As fórmulas
litúrgicas (particularmente as orações eucarísticas) são ricas de
conteúdo doutrinal que expressam o mistério celebrado: a catequese
que leva os catequizandos à sua maior compreensão deve ser
541
considerada como ‘uma eminente forma de catequese’.
O Concílio Vaticano II recupera a visão teológica da liturgia, da qual o RICA é
portador e o DNC542 assume, na prática catequética, os elementos que reforçam ainda mais a
unidade com a liturgia.
3.1- A liturgia como um momento celebrativo da História da Salvação.
Ao Concílio Vaticano II se atribui o grande mérito de ter colocado a liturgia
numa perspectiva eminentemente teológica e pastoral.543 Supera-se, assim, uma visão
exclusivamente estética e ritualista da liturgia ao situá-la na linha histórica da salvação,544
cujo centro e fundamento é o mistério de Cristo.
A liturgia celebra fundamentalmente uma série de acontecimentos salvadores,
isto é, as intervenções de Deus no tempo, que foram revelando sua presença libertadora em
favor da humanidade. O conjunto dessas intervenções é chamado história da salvação.545 São
541
DNC, n. 121; citando DGC, n. 71; CT, n. 23; SC, n. 35, 3; CDC 777, § 1 e 2.
Cf. DNC, n. 122: apresenta os elementos da formação litúrgica. Aqui vamos nos ater aos que são essenciais.
543
Tema já abordado no segundo capítulo. Para aprofundar a dimensão pastoral da “Sacrosanctum Concilium”
cf.: TENA, Pere. Celebrar el mistério, p 221 a 234. (Biblioteca litúrgica, 23); LUTZ, Gregório. Celebrar em
espírito e verdade, p. 23 a 29.
544
Cf. SC, n. 5 e 6: é o núcleo do documento. Para aprofundar cf. PISTOIA, A. História da salvação. In:
SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia. p. 544 a 555; LUTZ, Gregório. A
liturgia, momento histórico da história da salvação. In: Revista de liturgia 173 (2002), p. 4 a 6; BOROBIO,
Dionísio. Da celebração à teologia: o que é um sacramento? In: BOROBIO, Dionísio. A celebração na Igreja.
Vol. 1. Liturgia e sacramentologia fundamental, p. 295 a 297.
545
Cf. CaIC, n. 1079. Cf ainda CaIC, n. 1080: “Desde o início até a consumação dos tempos, toda a obra de
Deus é bênção. Desde o poema da criação litúrgico da primeira criação até os cânticos da Jerusalém celeste, os
autores inspirados anunciam o projeto de salvação como uma imensa bênção divina. Desde o começo Deus
abençoa os seres vivos, especialmente o homem e a mulher. A aliança com Noé e com todos os seres animados
542
157
Paulo designa-o por mistério546 e se referem ao plano divino que culmina na morte e
ressurreição de Cristo.
Esse plano, revelado já em muitos acontecimentos do Antigo Testamento e que
permanecia oculto em sua verdade definitiva, revelou-se com toda a sua força no
acontecimento Cristo.
Esse acontecimento resume num único fato salvífico - o principal da história da
salvação – todas as intervenções divinas anteriores e posteriores, transformando-as assim no
centro da história para os fiéis, no núcleo de sua fé cristã e, por isso mesmo, no único motivo
de sua celebração litúrgica. O mistério escondido durante séculos revela-se plenamente no
mistério pascal de Cristo.
É um evento real, acontecido na nossa história, mas é único: todos os
outros eventos da história acontecem uma vez e depois passam,
engolidos pelo passado. O Mistério pascal de Cristo, ao contrário, não
pode ficar somente no passado, já que pela sua morte destruiu a morte,
e tudo o que Cristo é, fez e sofreu por todos os homens, participa da
eternidade divina, e por isso abraça todos os tempos e nele se mantém
permanentemente presente. O evento da cruz e da ressurreição
547
permanece e atrai tudo para a vida.
A “economia da salvação” tem, portanto, um caráter histórico, uma vez que se
realiza no tempo: “... iniciou no passado, desenvolveu-se e alcançou o seu ponto mais elevado
em Cristo, estende o seu poder no presente e espera por sua consumação no futuro”.548
renova esta bênção de fecundidade, apesar do pecado do homem. Mas é a partir de Abraão que a bênção divina
penetra a história dos homens, que caminhava para a morte, para fazê-la retornar à vida, à sua fonte: pela fé do
“pai dos crentes” que acolhe a bênção, inaugura-se a história da salvação”.
546
Cf. Ef 1,7-10; 3,1-12; Cl 1,25-27; 2,2; 1Cor 2,7; Rm 11,25;16,25.
547
CaIC, n. 1085.
548
DGC, n. 107, citando DCG (1971), n. 44.
158
A liturgia é antegozo da realidade que aguardamos, vivendo a
esperança: na dimensão escatológica de nossa Liturgia, celebramos, de
fato, a ação salvadora e perene de Deus, que começa na criação,
549
manifesta-se na História e se coroa na Pátria definitiva.
A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram,
como também os atualiza, torna-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é
repetido: o que se repete são as celebrações; em cada uma delas sobrevém a efusão do
Espírito Santo que atualiza o único mistério.550
Nosso tempo litúrgico não é a evocação de um tempo mítico, mas a
atualização de um tempo histórico em que Deus, mediante o mistério
pascal de Jesus, visitou e salvou o seu povo. Nessa perspectiva, a
história se torna história de salvação, fundada na pascalidade do rito
celebrado em conexão com os eventos de libertação que caracterizam
551
as maravilhas de Deus no mundo.
A liturgia recapitula em si toda a história da salvação: o projeto de comunhão
de Deus conosco, que chamamos de obra da salvação, foi prenunciado pelo próprio Antigo
Testamento e realizado em Cristo.552 Hoje a liturgia o celebra, isto é, o rememora e o torna
presente na Igreja.553
549
CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil, n. 74, citando SC, n. 8.
Cf. CaIC, n. 1104.
551
COSTA, Valeriano Santos. Viver a ritualidade litúrgica como momento histórico da salvação. Participação
litúrgica segundo a Sacrosanctum Concilium, p. 41.
552
É em torno da harmonia entre os dois Testamentos (Cf. DV, n. 14 a 16) que se articula a catequese pascal do
Senhor (Cf. Lc 24,13-49) e, posteriormente, a dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda o
que permanecia escondido sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de Cristo. Ela é denominada
“tipológica” porque revela a novidade de Cristo a partir das “figuras” (tipos) que anunciavam nos fatos, nas
palavras e nos símbolos da primeira aliança. Por essa releitura no Espírito de verdade a partir de Cristo, as
550
159
A categoria de memorial é fundamental para entender a relação entre o mistério
de Cristo e a liturgia que o celebra como único motivo.
O próprio Senhor enviou seus discípulos para celebrarem a eucaristia como
memorial do acontecimento culminante da história da salvação: “façam isto em memória de
mim” (1Cor 11,24-25). Memorial significa, portanto, a presença e a eficácia atuais de Cristo
Ressuscitado, de maneira que acontecimentos que historicamente pertencem ao passado se
tornam de fato presentes na vida de hoje do povo de Deus que celebra sua fé.
Foi a categoria de memorial554 que permitiu considerar a liturgia como
“momento da história da salvação”.555 Na própria progressão temporal da história da salvação,
a liturgia constitui o momento culminante, do último período da revelação antes da parusia.
A liturgia é uma ação ritual temporal na qual se atualiza um evento salvífico do
passado histórico por meio de sinais e símbolos, apresentando-se com toda a sua força
libertadora no hoje da assembléia celebrante.
figuras são desveladas (Cf. 2Cor 3,14-16, Cf. CaIC, n. 1094): assim, o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a
salvação através do Batismo (cf. 1Pd 3,21), o mesmo acontecendo com a nuvem e a travessia do Mar Vermelho,
e a água do rochedo era a figura dos dons espirituais de Cristo (Cf. 1Pd 3,21); o maná do deserto prefigurava a
Eucaristia, “o verdadeiro Pão do céu” (Jo 6,32). É por isso que a Igreja, particularmente no advento, na quaresma
e, sobretudo, na noite da Páscoa, relê e revive os grandes acontecimentos da história da salvação no “hoje” da
sua liturgia. Isto exige também que a catequese ajude os fiéis a se abrirem a esta compreensão “espiritual” da
economia da salvação, tal como a liturgia da Igreja a manifesta e no-la faz viver (Cf. CaIC, n. 1095).
553
Cf. CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil, n. 44.
554
Ibidem, n. 65: “A ação litúrgica é memorial: atualiza os fatos passados que, em Cristo e por Cristo, são
sacramentos de salvação. Além disso, tem a força de tornar presente as realidades futuras, levando os que a
celebram a se inserirem no projeto de Deus”.
555
Conceito elaborado pelo liturgista italiano Salvatore Marsili: O primeiro momento é aquele “profético”, isto é,
momento de “anúncio” do plano de salvação no qual se revela progressivamente o eterno amor com que o Pai
“querendo salvar todos os homens” (1Tm 2,4), os vê e os elege como filhos no seu Filho (Ef 1,4; 2 Tm 1,9): é a
revelação do “mistério escondido desde os séculos em Deus” (Cl 1,26). O anúncio de que se trata aqui é aquele
feito aos “pais”, ou seja, aos depositários do Antigo Testamento. O segundo momento é aquele da “plenitude dos
tempos”, isto é, aquele em que os tempos de preparação cessam e “a palavra se faz carne” trazendo em si o
“evangelho”; a salvação a partir de anúncio para os homens (“Palavra”) torna-se realidade nos homens (“carne”).
O terceiro momento é, ao mesmo tempo, o resultado e a continuação do segundo momento, em outras palavras: o
segundo momento da história da salvação, que é o tempo de Cristo, dá origem e se continua depois para sempre
no terceiro momento da história, isto é, o tempo da Igreja. O tempo da Igreja é continuação do tempo de Cristo
não em razão da mera sucessão temporal, quer dizer, porque vem “depois de” Cristo. A linha de continuação que
ligará o tempo da Igreja ao tempo de Cristo é constituída pela Liturgia. Cf. MARSILI, Salvatore. A liturgia,
momento histórico da salvação. In: VV.AA. A liturgia, momento histórico da salvação. São Paulo: Paulinas,
1987, p. 108 a 110. (Anámnensis 1)
160
A dimensão histórica da mensagem cristã556 exige que a catequese situe os
sacramentos dentro da história da salvação por meio de uma catequese mistagógica, que
“relê” e revive os acontecimentos da história da salvação no hoje da liturgia.557 Essa
referência ao hoje histórico-salvífico é essencial nesta catequese. O RICA prevê uma
catequese estreitamente unida à história da salvação, restaura-se a antiga tradição de ensinar, a
partir do próprio mistério, e dar ao sacramento uma visão mais ampla, onde os sacramentos
continuam no tempo a história da salvação.558
A história da salvação, apresentada ao candidato, faz perceber que a sua
história religiosa pessoal e a da salvação da humanidade estão em estreita relação.
3.2 - A liturgia como exercício do sacerdócio de Jesus Cristo.
Graças ao Concílio Ecumênico Vaticano II, resgatou-se o sentido genuíno da
liturgia, como ação559 do povo batizado e, por isso todo ele sacerdotal, chamado ao louvor de
Deus, à transformação e à santificação da vida e da história; uma ação conjunta em parceria
com o próprio Deus, numa dinâmica de aliança e participação cada vez mais ativa, consciente,
plena e frutuosa.
556
Para aprofundar o tema da mensagem cristã, cf.: SOTOMAYOR, Emílio Alberich. Mensagaem cristã. In:
PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus,
2004, pp. 727 a 734.
557
Cf. DGC, n. 108, citando CaIC, n. 1095; cf. ainda: CaIC, n. 1075; CaIC, n. 1116; CaIC, n. 129-130 e CaIC,
n. 1093 a 1094.
558
Cf. LELO, Antônio Francisco. A iniciação cristã: catecumenato, dinâmica sacramental e testemunho, p. 90.
559
A palavra “liturgia” vem do grego “laos” (povo) e “ergon” (ação, trabalho, serviço, ofício). Unindo os dois
termos encontramos a raiz mais profunda do significado de liturgia, ou seja, ação, trabalho, serviço do povo e
realizado em benefício do povo.
161
Contemplando com o olhar da fé nossa história, constatamos que Deus se
manifesta sempre agindo amorosamente e, sua ação é um permanente serviço à vida, um bem
que atinge toda a humanidade e todo o universo.
É sempre uma ação criadora, libertadora, transformadora e santificadora que,
não só nos atinge, mas nos envolve e nos torna agentes, participantes desta sua ação, numa
aliança de amor e compromisso.
A maneira mais concreta, perfeita e plena de Deus agir a nosso favor foi por
meio de Jesus, o Verbo encarnado, o Filho amado que se fez irmão e servidor (liturgo) com
sua encarnação, vida, paixão e principalmente pela sua morte e ressurreição.
E, ainda mais, entregou-nos sua força, seu Espírito, pelo qual nos faz capazes
de agir como filhos amados de Deus Pai, realizando e continuando com Ele essa ação
libertadora e redentora a serviço de vida abundante para todos, até que seu Reino se
estabeleça definitivamente.
Cristo age sempre e intimamente unido à Igreja, sua esposa amada, e esta
glorifica perfeitamente a Deus e santifica os homens. É, por conseguinte, com acerto que a
Constituição Sacrosanctum concilium considera a liturgia como exercício do sacerdócio de
Cristo.560 E, mais adiante confirma que “toda celebração litúrgica, por ser obra de Cristo
sacerdote e de seu Corpo, que é a Igreja, é ação sagrada por excelência”.561
A liturgia é, com razão, o “exercício do sacerdócio de Jesus Cristo e ação nossa
em conjunto com Ele presente na celebração, pela força do Espírito Santo”.562A liturgia está
ligada à missão santificadora e ao sacerdócio de Cristo e da Igreja porque, na liturgia e por
560
SC, n. 7.
Ibidem,
562
DNC, n. 122, letra c.
561
162
ela, a atuação do sacerdócio existencial eterno de Cristo a favor da humanidade torna-se
visível como sacramento, ou seja, nos símbolos da celebração.
A liturgia é considerada como exercício do múnus sacerdotal de Jesus
Cristo, no qual, por meio dos sinais sensíveis, traduz-se e realiza-se,
de modo peculiar em cada sinal, a santificação do homem e pratica-se
o culto público integral por parte do corpo místico de Cristo, cabeça e
563
membros.
A celebração é, portanto, o lugar em que a mediação sacerdotal de Cristo, que
alcança os homens e mulheres em todos os momentos da vida, manifesta-se na visibilidade
dos símbolos, em seu exercício, a favor da Igreja de maneira privilegiada. Em virtude da sua
participação no ofício sacerdotal de Cristo, recebida no batismo, os cristãos são chamados “a
formar um templo espiritual e um sacerdócio santo”,564 ou seja, um “corpo” ou “comunidade
sacerdotal”, como é exatamente a Igreja, Povo de Deus.565
3.3 - A dimensão celebrativa da liturgia.
A celebração se define como uma ação ritual e simbólica, em que a assembléia
é o sujeito, e o Ressuscitado preside a oração da comunidade, atualiza a salvação na vida e na
história de seus participantes.566
A liturgia é toda ela simbólica. Desde o primeiro momento da celebração, nos
ritos iniciais, aparece visivelmente a Igreja nas suas características essenciais:
563
SC, n. 7.
LG, n. 10; AA, n. 3; PO, n. 2.
565
Cf. LG, n. 11.
566
Cf. DNC, n. 122, letra d.
564
163
O povo convocado por Deus no Espírito Santo, sob a presidência do
ministro ordenado, reunido em torno das duas mesas que Cristo pôs
para sua Igreja: a mesa da Palavra, em que se proclama a ação
salvífica de Deus, e a mesa do altar, em que se realiza o memorial do
mistério pascal de Cristo; ele está visível no ministro ordenado,
sacramento do Cristo-cabeça, e na assembléia, seu corpo eclesial. A
comunidade toda – povo e ministro ordenado – celebra a eucaristia,
cada um na sua função específica que lhe foi conferida num
567
sacramento: o batismo-crisma e a ordem.
A comunidade, povo de Deus reunido em assembléia, é que celebra a
eucaristia.568 A celebração da eucaristia é, portanto, “o ato fundamental da comunidade
cristã”.569 É a assembléia que concelebra com Cristo, o celebrante principal, o único pontífice
máximo e o único mediador em cuja pessoa atuam os ministros ordenados.
Na assembléia litúrgica, todos são protagonistas: oram, cantam, escutam,
intercedem, dão graças, apresentam os dons. Todos são convidados à participação plena,
consciente e ativa nas celebrações litúrgicas. Por isso, ninguém pode assistir à liturgia como
estranhos e mudos espectadores,570 pois “as ações litúrgicas não são ações privadas, mas
celebrações da Igreja”.571
Tudo na liturgia refere-se a uma só e grande realidade: Jesus Cristo e o seu
Reino. Todas as pessoas, as coisas, os gestos e as ações, o tempo e o espaço vêm carregados
com o Espírito do Ressuscitado.
567
CNBB. A eucaristia na vida da Igreja. Subsídios para o ano da eucaristia. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 111 a
112. (Estudos da CNBB, 89)
568
Cf. SC, n. 26.
569
MALDONADO, Luís. Em torno da eucaristia. In: GELINEAU, Joseph. Em vossas assembléias. Sentido e
prática da celebração litúrgica 2 – Pastoral dos sacramentos. Paulinas, 1974, p.125
570
Cf. SC, n.48.
571
Ibidem, n. 26. Cf. também CaIC, n. 1140.
164
Os fiéis acorrem a um mesmo lugar para a assembléia eucarística, reunidos por
Deus no amor de Cristo, que é o protagonista principal da Eucaristia. Ele é o sumo sacerdote
da Nova Aliança. É ele mesmo quem preside invisivelmente toda celebração eucarística.
É representando-o que o Bispo ou o presbítero (agindo ‘em
representação de Cristo-cabeça’) preside a assembléia, toma a palavra
depois das leituras, recebe as oferendas e profere a oração eucarística.
Todos têm sua parte ativa na celebração, cada qual a seu modo: os
leitores, os que trazem as oferendas, os que dão a comunhão e todo o
572
povo, cujo Amém manifesta a participação.
O povo sacerdotal, comunidade de batizados, reúne-se, convocado por Deus,
para celebrar o mistério da nova aliança, sempre com a convicção da presença, invisível, mas
real, de seu Senhor. Cristo Jesus, que prometeu: “onde dois ou três estiverem reunidos em
meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20). A assembléia é o lugar preferencial da
presença do Senhor.573
Isso vale em primeiro lugar para a celebração eucarística, mas vale igualmente
para a celebração do mistério de Cristo nos diversos tempos e festas. Isto acontece quando
participamos ativamente da ação ritual.
Reunindo-nos em assembléia, cantando juntos, ouvindo e
interpretando atentamente as leituras bíblicas, realizando as ações
rituais (principalmente a ação eucarística), entramos em sintonia com
574
Cristo presente e atuante por meio de seu Espírito transformador.
572
CaIC, n. 1348.
Cf. SPERA, Juan Carlos e RUSSO, Roberto. Quem de nós celebra? In: CELAM. Manual de liturgia –
volume 1 – A celebração do mistério pascal. Introdução à celebração litúrgica, p. 136.
574
BUYST, Ione e FRANSCISO, Manoel João. O mistério celebrado: memória e compromisso II, p. 110.
573
165
A assembléia, comunidade reunida para celebrar e primeira realidade visível da
liturgia cristã, é um sinal sagrado, uma verdadeira epifania da Igreja, sacramento de salvação
que exerce, assim, uma função sacerdotal em meio ao mundo e em favor de todos os
homens.575
A assembléia é necessária à Igreja como momento de reconhecimento e
edificação, porque nela a Igreja responde ao chamado do Senhor, escuta sua palavra e
participa de atividades simbólicas que manifestam sua presença e sua ação.
A assembléia é também uma realidade da ordem da salvação. A assembléia
litúrgica deve ser considerada como a imagem antecipada da Igreja do céu, percebida na
obscuridade da fé.
Ela, na verdade, além de ser sinal demonstrativo da Igreja na sua
situação atual, também é sinal profético da grande assembléia dos
santos, reunida em número completo, depois do juízo universal diante
do trono de Deus para celebrar a eterna liturgia do céu, que constituirá
576
a plena glorificação de Deus e a indizível felicidade do homem.
A assembléia é transitória. Reúne-se e dissolve-se. O tempo passado em
assembléia é pequeníssima parte da vida do cristão. A liturgia continua sendo uma “ironia”,
uma interrogação periódica. A tentação de aí armar uma tenda e permanecer é afastada pela
despedida que dissolve cada assembléia.
O sinal da assembléia deve desaparecer, com os sacramentos e os ritos, os
ministros, e os carismas, para deixar aparecer a Jerusalém nova, onde Deus estará com o seu
575
Cf. LG, n. 1 e 8; SC, n 2, 5, 26; GS, n. 40.
CUVA, A. Assembléia. In; SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia, p.
97.
576
166
povo e onde o Cordeiro será o templo.577 Entretanto, neste mundo, onde está a assembléia está
a Igreja.
3.4 - A função mistagógica dos ritos e símbolos.
O DNC chama atenção para que a compreensão dos ritos e símbolos não seja
somente intelectual, mas reveladores da ação pascal de Cristo e experiências de encontro com
o Ressuscitado.578
A liturgia por ser simbólica necessita que se conheça seu “mecanismo” para
interpretar o símbolo. Alcançamos a compreensão intelectual dos ritos através da catequese
litúrgica, visto que uma de suas funções é a preparação para os sacramentos, o que favorece a
compreensão e vivências mais profundas da liturgia.
O rito torna-se vazio quando não é um sinal e se, ao mesmo tempo, não orienta
para a realidade religiosa da salvação em Jesus Cristo. Cabe à nossa catequese ter esta
preocupação primeira de explicar a linguagem simbólica dos sinais de Deus que são nossos
sacramentos.
Daí a grande importância da catequese de crianças, jovens e adultos
que deve nos introduzir no mundo simbólico da liturgia. Não se trata
de explicar, mas de colocar o objeto ou a ação simbólica num
determinado contexto humano, bíblico e celebrativo, de modo que
579
aprendamos (com intuição) o seu significado.
577
Cf. Ap 21,22.
Cf. DNC, n. 122, letra e.
579
BUYST, Ione. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002, p. 122.
578
167
Para que “os fiéis participem da liturgia de maneira ativa e frutuosa, sabendo o
que estão fazendo”,580 devemos dar novamente através da catequese o sentido da verdade e da
plenitude dos ritos, de seu valor de sinais sagrados e de símbolos, pois o rito é um meio, uma
via de acesso ao mistério. O catequista deve estudar e explicar atentamente o sentido, por
vezes oculto, mas inesgotável e vivo, dos sinais e dos ritos litúrgicos.
A catequese litúrgica se transforma em iniciação aos “sinais” litúrgicos
(sobretudo aos sacramentos), constituídos por coisas, gestos e palavras, através dos quais
somos introduzidos a participar do “mistério” salvífico de Cristo, na consciência de que eles
estão em continuidade com uma pedagogia de Deus que se exprime em toda a Bíblia.
A tarefa da catequese em relação à liturgia começa, portanto, mostrando o
significado das ações litúrgicas na história da salvação e na vida da Igreja, e esclarecendo os
fundamentos antropológicos e sociológicos dos ritos cristãos, o seu enraizamento profundo na
natureza do homem e na vida da comunidade.581
580
SC, n. 11.
Para aprofundar esta dimensão do símbolo na vida cotidiana, na bíblia, na liturgia e na oração cf.:
SCOUARNEC, Michel. Símbolos cristãos. Os sacramentos como gestos humanos. Cf. ainda: FISCHER,
Balthasar. Sinais, palavras e gestos na liturgia. Da aparência ao coração; BUYST, Ione. Símbolos na liturgia;
BUYST, Ione. Celebrar com símbolos; ALDAZÁBAL, José. Gestos e símbolos; MARDONES, José María. A
vida do símbolo. A dimensão simbólica da religião; TERRIN, Aldo Natale. O rito. Antropologia e
fenomenologia da ritualidade; ainda vários artigos publicados na coluna “Celebrar com símbolos”: BUYST,
Ione. Simbolização. Aprendendo com os gestos cotidianos. In: Revista de liturgia 157 (2000), p. 4 a 5; BUYST,
Ione. Como uma grande vela se torna um círio pascal. In: Revista de liturgia 158 (2000), p. 4 a 5; BUYST, Ione.
Os sacramentos são símbolos? In: Revista de liturgia 159 (2000), pp. 9 a 10; BUYST, Ione. A liturgia como
realidade simbólico-sacramental. In: Revista de liturgia 160 (2000), p. 29 a 31; BUYST, Ione. Gesto e palavra.
In: Revista de liturgia 161 (2000), p. 29 a 30; BUYST, Ione. Vinde Senhor Jesus! O sinal sensível não “é” a
realidade significada. In: Revista de liturgia 162 (2000), p. 27 a 29; BUYST, Ione. Alguém me tocou!
Sacramentalidade da liturgia na Sacrosanctum Concilium (SC), Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia.
In: Revista de liturgia 176 (2003), p. 4 a 9; BOROBIO, Dionísio. El modelo simbólico de la sacramentologia. In:
Phase 189 (1992), p. 229 a 246; BOROBIO, Dionísio. Delimitação e extensão do conceito de ‘sacramento’. In:
BOROBIO, Dionísio (org.). A celebração na Igreja – volume 1 – Liturgia e sacramentologia fundamental, p.
293 a 294; CASTILLO, J.M. Símbolos de liberdad: teologia de los sacramentos; MALDONADO, L. e
FERNANDEZ, P. Sinais, gestos, ritos; simbologia e ritualidade litúrgicas. In: BOROBIO, Dionísio (org.). A
celebração na Igreja – volume 1 – Liturgia e sacramentologia fundamental, p. 217 a 235; SANTE, Carmine.
Cultura e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia, p. 280 a
282, principalmente o item III: abordagens diversas do fenômeno cultual – teoria da autonomia, teoria
instrumental, teoria simbólica; FERNÁNDEZ, Conrado. A sacramentalidade da liturgia. In: CELAM. Manual de
liturgia – volume 2, p. 85 a 110.
581
168
Uma catequese que sabe partir das realidades naturais e das experiências
humanas para chegar a uma inteligência bíblica mais profunda, à luz da “palavra”
interpretativa que acompanha o gesto.
Para nós, cristãos, é indispensável a referência à Bíblia. Quem nunca ouviu
falar da passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho, dificilmente chegará a viver em
profundidade a celebração do batismo cristão.
O esforço da catequese não tem finalidade intelectualista e, muito
menos, se esgota em um interesse histórico-arqueológico: Com efeito,
a liturgia quer uma participação o mais possível consciente, ativa,
comunitária, plena, proveitosa e profícua, porque Deus quer que os
homens sejam seus colaboradores na obra que ele realiza para a
582
salvação deles.
Há que se tomar cuidado para não reduzirmos nossos sacramentos a entidades
abstratas devidamente rotuladas e definidas. É absolutamente necessário entrar e fazer entrar
num mundo coerente de sinais pessoais e vivos. É preciso redescobrir o universo simbólico
em que se move a liturgia.583
A liturgia é uma ação, um conjunto de sinais “performativos” que nos
introduzem em comunhão com o mistério, que nos fazem
experimentá-lo, mais do que o entender. É uma celebração e não uma
doutrina ou uma catequese. É a linguagem simbólica que nos permite
entrar em contato com o inacessível: o mistério da ação de Deus e da
584
presença de Cristo.
582
Cf. SARTORE, Domenico. Catequese e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia, p. 181.
583
Cf. ANDRÉ, Philippe. A liturgia no centro da catequese. In: ISPAC – Instituto superior de pastoral
catequética da CNBB, Introdução à catequética, p. 63.
584
ALDAZÁBAL, José. Gestos e símbolos, p. 14.
169
Nas ações litúrgicas, verdadeiras experiências religiosas e místicas, a catequese
se inspira para um desenvolvimento vivencial e sistemático da fé. De fato, durante muitos
séculos, a catequese litúrgica, chamada catequese mistagógica, teve grande importância na
educação da fé cristã. A Igreja é desafiada a recuperar, hoje, a dimensão mistagógica tanto da
catequese quanto da liturgia.
Essa catequese, porém, não deve ser confundida com as breves didascalias585
ou monições586 que o sacerdote ou outro ministro profere nos momentos mais oportunos para
facilitar a participação mais consciente,587 mas consiste no aprofundamento prévio dos ritos e
dos textos de uma celebração, sem se esquecer que a liturgia é evangelização em ato, uma
catequese viva.
A mistagogia, para os Padres da Igreja,588 é um ensinamento ordenado para
compreender o que os sacramentos significam para a vida, mas que supõe a iluminação da fé
que brota dos próprios sacramentos. O que se aprende na celebração ritual dos sacramentos e
o que se aprende vivendo de acordo com o que os sacramentos significam para a vida.
A mistagogia, forma típica de preparar os iniciados, integrava todos os
elementos que conduziam alguém para ser verdadeiro cristão, iniciando-lhe ao mistério de
585
Didascália é uma palavra grega que, no Novo Testamento, significa doutrina, ensino ou instrução.
“Monição” vem do latim “monere”, exortar, advertir. Fora do uso litúrgico a palavra tem certo tom
pejorativo: “admoestar” é dar um aviso a modo de repreensão. Na liturgia se chama “monição” as palavras que
se dirigem, não a Deus (isso são “orações”), mas a comunidade, a modo de explicações ou convites. No Concílio
(SC, n. 29) se fala de “comentadores”, também presente na introdução do Missal (IGMR, n. 68). Há monições de
tipo indicativo, que seriam as posturas ou dão normas para organizar uma procissão. Há outras explicativas,
como quando antes da leitura se a situa em seu contexto para que se entenda melhor. Outras são exortativas,
convidando a fazer algo (um canto, uma oração, a comunhão) a partir de uma atitude espiritual determinada. (Cf.
ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de liturgia, p. 247).
587
Cf. SC, n. 35, item 3.
588
Assim são denominados os escritores católicos, bispos, clérigos e leigos que viveram entre os séculos I a VII
d.C. e se distinguiram como mestres da fé e promotores da unidade da Igreja.
586
170
Cristo e da Igreja: doutrina, ritos e símbolos, celebração e experiência do mistério, conduta
moral e vida nova.
A catequese, como já ocorria nos primórdios da Igreja, deve tornar-se hoje um
caminho que introduza na vida litúrgica, ou melhor, uma catequese mistagógica,589 introdução
no mistério de Cristo, “procedendo do visível ao invisível, do sinal ao significado, dos
sacramentos aos mistérios”.590 Evitando, assim, o risco de permanecerem exteriores e com
uma interpretação mágica
Há que se considerar o método empregado pelo Centro de Liturgia da
Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo, que surgiu a partir da
insatisfação com a prática ritual e com a maneira de como se ensinava liturgia. Nas
celebrações, incomodava o verbalismo, o racionalismo, o formalismo e a falta de mística.
Percebeu-se, no transcorrer das aulas dadas, que não levavam a uma mudança na maneira dos
alunos celebrarem.
Diante de tal insatisfação, a formação litúrgica seguida pelo Centro de liturgia
adotou a seguinte metodologia: a produção do conhecimento em mutirão; método “ver-julgaragir” na ciência litúrgica; técnica da observação participante; laboratório litúrgico e vivências;
a vertente mistagógica no estudo da liturgia; do rito à teologia; leitura orante como método
litúrgico; processo de preparação, realização (participação) e avaliação das celebrações
litúrgicas.591
589
Cf. SÍNODO DOS BISPOS. Assembléia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos (1985). São Paulo:
Paulinas, 1986, II, B, b, 2.
590
CaIC, n. 1075; IC, n. 48-49.
591
Para aprofundar cada uma dessas iniciativas cf.: BUYST, Ione. Formação litúrgica. Memória pessoal: Centro
de liturgia (1985-2006). Conferir ainda a dissertação de mestrado: ADÃO, Alex José. A importância do centro
de liturgia da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, para a renovação e a
inculturação litúrgicas no Brasil; cf ainda: CENTRO DE LITURGIA – Faculdade de teologia Nossa Senhora da
Assunção. Curso de especialização em liturgia. Uma experiência universitária significativa; BARONTO, Luiz
Eduardo Pinheiro. Laboratório litúrgico. Pela inteireza do ser na vivência ritual.
171
Assim, chegamos ao final da apresentação de alguns elementos do
catecumenato - contemplados pelo RICA e destacados pelo DNC – como referência para a
catequese litúrgica. Para tanto, liturgia e catequese atuam conjuntamente como mecanismos
de ajuda na vivência do mistério que nos conduz e nos encaminha para Deus e, mais, que
nossa história é uma história de salvação.
A pastoral catequética precisa, para maior eficiência, incorporar a catequese
litúrgica, pois a vida litúrgica sacramental, animada pela fé, vai configurando pouco a pouco a
pessoa a Cristo. Os sacramentos têm essa finalidade e não podem ser vistos e administrados
como recompensa pelo final de uma etapa.
A catequese não pode ficar restrita a mera transmissão de conhecimentos, mas
deve buscar uma formação integral na fé, profundamente envolvida com sua dimensão
celebrativa e inserida num contexto de comunidade, com suas conseqüências práticas na vida
cristã, pois a catequese leva à liturgia e a liturgia requer catequese, em vista da participação
ativa e plena, tão querida e desejada pelo Concílio Vaticano II, que, ainda hoje, persiste como
objetivo a ser alcançado.
A catequese faz parte de um processo que culmina e se ambienta na liturgia.
Ambas as dimensões - liturgia e catequese - se complementam e se enriquecem, pois a
liturgia, além de ter em si mesma uma dimensão catequética, é cumprimento e presença do
mistério de salvação anunciado na catequese.
A catequese e a liturgia, ampliando os horizontes de sua missão, assumem,
conjuntamente, o desafio constante à iniciação na oração e na vida litúrgica e sacramental. A
iniciação deverá ser mistagógica.
Catequese e liturgia, cada uma com sua missão específica, mas convergentes
na evangelização, contribuem para desenvolver a vida de fé.
172
CONCLUSÃO
Estudamos a relação liturgia e catequese, a partir do Ritual da iniciação cristã
de adultos, o que considero uma decisão acertada, visto que o Diretório nacional de
catequese apresenta o RICA como o melhor exemplo de unidade entre liturgia e catequese.592
O catecumenato foi restaurado pelo Concílio Vaticano II, através do RICA, no
grande quadro da reforma litúrgica que coloca a liturgia numa perspectiva estritamente
teológica e a resgata de um simples e limitado ritualismo. O DNC, por sua vez, assume o
catecumenato como modelo de toda a catequese, através do princípio metodológico de
interação entre catequese, liturgia e vida. O RICA configura-se, assim, como uma bem
sucedida iniciativa ao conceber a liturgia numa perspectiva teológica em que o mistério
anunciado na catequese é o mesmo celebrado na liturgia e se prolonga na vida dos fiéis. Por
isso, leva a sério a iniciação cristã, em seu itinerário catecumenal.
A iniciação cristã está presente também entre as preocupações dos bispos,
reunidos em Aparecida,593 quando alertam que há, em nossos dias, uma alta porcentagem de
cristãos com a identidade cristã fraca e vulnerável e chamam a atenção para que a iniciação
592
593
Cf. DNC, n. 118.
Cf. DA, nn. 286 a 294.
173
seja encarada com mais seriedade, pois forja a identidade cristã com as convicções
fundamentais e acompanha a busca do sentido da vida.
Apesar de ter sido publicado há vários anos, o RICA é ainda desconhecido para
uma grande parte dos bispos, presbíteros e lideranças. A restauração do catecumenato e a
metodologia catecumenal exigem uma mudança de paradigmas. Acima de tudo, pelo
processo de formação e de evangelização no Brasil, onde não estamos acostumados com o
adulto que precisa de iniciação, entendida no sentido amplo e não apenas da falta de
sacramentos.
A metodologia catecumenal, assumida em nossos projetos pastorais, exigirá a
concepção de uma pastoral que não se restrinja a um programa do mínimo esforço em suas
atividades e que se contente com a conservação do já existente. Urge uma mudança de
mentalidade que se abra a tarefa de construir, progressivamente, um novo modelo de
iniciação.
O RICA tem aplicação abrangente, pois sua dimensão catecumenal e iniciática
não é apenas para catecúmenos, ou seja, para adultos, jovens ou crianças que se preparam
para o batismo, mas também para catequizandos, ou seja, batizados adultos, jovens e crianças
que necessitam completar sua iniciação. Por isso, vale a pena considerar a abrangência do
projeto catequético que deverá contemplar os adultos batizados e não-evangelizados como
também as famílias das crianças e jovens que buscam os sacramentos.
Uma Igreja que leva a sério a evangelização deve levar em conta a situação que
se apresenta a sua atuação: crises de fé, abandono da Igreja e indiferença religiosa e requer
uma nova postura: o anúncio primeiro do Evangelho, o querigma, chamado à conversão a
174
Jesus Cristo, o despertar da fé que nos leva a revisar os conteúdos de nossa pastoral: todas as
atividades adquirirão tom evangelizador e centrar-se-ão no fundamento do anúncio de fé.
A iniciação cristã, que inclui o querigma, é um desafio a ser assumido com
decisão, coragem e criatividade, visto que em muitos lugares tem sido pobre e fragmentada.
Por isso, o desafio é fortalecer a unidade dos sacramentos da iniciação e aprofundar o rico
sentido deles, seja para os não batizados como para os batizados não suficientemente
catequizados. Isto requer novas atitudes pastorais por parte dos bispos, presbíteros, diáconos,
pessoas consagradas e agentes de pastoral.
Restaurar o catecumenato é voltar à pedagogia da fé, como nos primeiros
séculos, em que não se administravam os sacramentos como ritos mágicos, mas abriam, lenta
e progressivamente, através de suas fases ou graus, a fonte de vida pela celebração dos três
sacramentos da iniciação cristã na Vigília pascal.
É um acontecimento que proporciona à catequese iniciatória uma base firme
para fazer cristãos e comunidades cristãs vivas. Por isso, a catequese da idade de ouro do
catecumenato é o paradigma de toda a catequese.
O RICA, restaurando o catecumenato, apresenta-se como inspiração para todas
as atividades de preparação para os sacramentos. Oxalá, nossa catequese e nossos “cursos” se
tornem um verdadeiro catecumenato, isto é, um processo de iniciação à vida cristã em suas
dimensões de instrução, celebração e vivência. Assumir, portanto, uma catequese de estilo
catecumenal, é rever, profundamente, todo o processo de catequese em nossa Igreja, para que
se pautem pelo modelo do catecumenato.
A concepção que temos hoje de iniciação é um grande desafio: não se trata de
um curso, de simples transmissão de conhecimentos e dados, mas de uma verdadeira imersão
175
nos mistérios de Cristo, da Igreja, dos sacramentos, enfim, da vida cristã, através de um
processo lento, contínuo e acompanhado pelo catequista e pela comunidade.
Catequese e liturgia, portanto, são duas formas de vida da Igreja que não
podem ser separadas e que, sobretudo hoje, como na antiguidade, estão ligadas entre si e
interpenetram constantemente em vista de uma configuração a Cristo, adesão à Igreja e a
vivência da fé não somente através de conteúdos, mas também por sinais e ritos progressivos,
que levam ao conhecimento e a celebração do amor sempre mais profundo a Jesus Cristo e ao
seguimento dele.
A unidade dos sacramentos da iniciação cristã é um princípio teológico de
suma importância e mantido firmemente pela reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Os
sacramentos da iniciação cristã imprimem o conjunto da identidade do discípulo de Cristo,
celebram a realidade nova que a catequese anuncia e chamam à conversão, para que a graça
do Espírito possa encontrar correspondência e significado na vida dos fiéis. A configuração
em Cristo, tida como transformação interior e para sempre, ocorrida na iniciação deve ir
consolidando-se, aprofundando-se progressivamente pela participação na vida sacramental da
Igreja.
A unidade dos sacramentos da iniciação cristã, perdida de vista no passado,
levou a teologia desses sacramentos a um empobrecimento. A redescoberta e o
restabelecimento do catecumenato, além de ir ao encontro das exigências pastorais levam
também a uma renovação da teologia e da pastoral dos sacramentos. Deste desafio, participam
tanto a liturgia quanto a catequese, pois ambas participam da mesma missão evangelizadora
da Igreja.
176
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E BIBLIOGRÁFICA
1. Fontes
1.1 Sagrada Escritura
- BÍBLIA: Bíblia de Jerusalém. ed. rev. ampl. São Paulo: Paulus, 2002.
1.2 Livros Litúrgicos
-
MISSAL ROMANO. Lecionário dominical A-B-C. Tradução portuguesa da 2ª. edição
típica para o Brasil e publicada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e
aprovada pela Sé Apostólica. São Paulo: Paulinas/Paulus, 1994.
-
RITUALE ROMANUM. Pauli V Pont. Max. Iussu editum aliorumque pont. Cura
recognitum atque ad norman codicis iuris canonici accommodatum. Taurini: Marietti,
1952.
-
ORDO INITIATIONIS CHRISTIANAE ADULTORUM, Editio Typica, Cidade do
Vaticano, 1972. Traduzido pela: CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO
BRASIL. Ritual da iniciação cristã de adultos. Ritual renovado por decreto do Concílio
Vaticano II, promulgado por autoridade do papa Paulo VI. 3ª ed. São Paulo, 1980.
-
RITUAL DA INICIAÇÃO CRISTÃ DE ADULTOS. Tradução portuguesa para o Brasil
da edição típica (ritual romano renovado por decreto do Concílio Vaticano II, promulgado
por autoridade do papa Paulo VI). São Paulo: Paulus, 2001.
177
1.3 Textos Patrísticos
-
AMBRÓSIO DE MILÃO. Explicação do símbolo. Sobre os sacramentos. Sobre os
mistérios. Sobre a penitência. São Paulo: Paulus, 1996. (Patrística)
-
___. Os sacramentos e os mistérios. Iniciação cristã nos primórdios. 2ª. ed. Introdução e
tradução de D. Paulo Evaristo Arns, comentários de D. Geraldo Majella Agnelo.
Petrópolis: Vozes, 1981. (Fontes da catequese, 5)
-
CARTAS DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA. Comunidades Eclesiais em Formação.
Petrópolis: Vozes, 1970. (Fontes da Catequese, 2)
-
DIDAQUÉ ou Doutrina dos Apóstolos. 5ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. (Fontes da
Catequese, 1)
-
JUSTINO DE ROMA. I e II Apologias. Diálogo com Trifão. São Paulo: Paulus, 1995.
-
PEREGRINAÇÃO DE ETÉRIA. Liturgia e catequese em Jerusalém no século IV. 2ª. ed.
Tradução do original latino, introdução e notas por Maria da Glória Novak e Comentário
de Frei Alberto Beckhäuser. Petrópolis: Vozes, 2004.
-
SANTO AGOSTINHO, BISPO DE HIPONA. A Instrução dos Catecúmenos. Teoria e
prática da catequese. 2ª. ed. Tradução do original latino e notas por Maria da Glória
Novak. Introdução Pe. Hugo de V. Paiva. Petrópolis: Vozes, 2005.
-
SANTO TOMÁS DE AQUINO. O credo. Tradução, prefácio, introdução e notas de
Armindo Trevisan. Petrópolis: Vozes, 2006.
-
SÃO CIRILO DE JERUSALÉM. Catequeses Mistagógicas, 2ª. ed. Tradução de Frei
Frederico Vier. Introdução e notas de Frei Fernando Figueiredo, Petrópolis: Vozes, 2004.
-
___. Catequeses pré-batismais. Tradução de Frei Frederico Vier e Frei Fernando A.
Figueiredo. Petrópolis: Vozes, 1978. (Fontes da catequese, 14)
-
TERTULIANO. O Sacramento do Batismo. Teologia pastoral do batismo segundo
Tertuliano. Introdução, tradução e notas de Urbano Zilles. Petrópolis: Vozes, 1981.
(Coleção os Padres da Igreja/3)
-
TRADIÇÃO APOSTÓLICA DE HIPÓLITO DE ROMA. Liturgia e Catequese em Roma
no século III, 2ª. ed. Tradução de Maria da Glória Novak e introdução de Maucyr Gibin.
Petrópolis: Vozes, 2004. (Fontes da Catequese, 4)
178
1.4 Documentos do Magistério
-
BENTO XVI. Sacramentum caritatis. Exortação apostólica sobre a eucaristia, fonte e
ápice da vida e da missão da Igreja, de 22 de fevereiro de 2007. São Paulo: Paulinas,
2007; AAS 99 (2007) 105-180.
-
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Vozes/Loyola, 1993.
-
CATECISMO ROMANO. Catecismo dos párocos, redigido por decreto do Concílio
Tridentino, publicado por ordem do Papa Pio V. Versão fiel e edição autêntica de 1566,
com notícia histórica e análise crítica por Padre Valdomiro Pires Martins; 2ª. ed.
refundida. Petrópolis: Vozes, 1962.
-
CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO (Codex Iuris Canonici), promulgado por João Paulo
II. São Paulo: Loyola, 1994.
-
COMISIÓN EPISCOPAL DE ENSEÑANZA Y CATEQUESIS. La catequesis de la
comunidad. Madrid: Edice, 1983.
-
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a sagrada
liturgia. In: Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). 2ª ed. São
Paulo: Paulus, 1997, p. 33 a 86; AAS 56 (1964) 97-138.
-
___. Constituição dogmática Lumen gentium sobre a Igreja. In: Documentos do Concílio
Vaticano II. (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 101 a 197; AAS 57 (1965) 5112.
-
___. Decreto Christus dominus, sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja. In:
Documentos do Concílio Vaticano II. (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 241
a 276; AAS 58 (1966) 673-701.
-
___. Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a revelação divina. In: Documentos do
Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p.347 a
367; AAS 58 (1966) 817-836.
-
___. Decreto Apostolicam actuositatem sobre o apostolado dos leigos. In: Documentos do
Concílio Vaticano II. (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 369 a 409; AAS 58
(1966) 837-864.
-
___. Declaração Dignitatis humanae sobre a liberdade religiosa. In: Documentos do
Concílio Vaticano II. (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p.411 a 429; AAS 58
(1966) 929-946.
-
___. Decreto Ad gentes sobre a atividade missionária da Igreja. In: Documentos do
Concílio Vaticano II. (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 431 a 489; AAS 58
(1966) 947-990.
179
-
CONCÍLIO VATICANO II. Decreto Presbyterorum ordinis sobre o ministério e a vida
dos presbíteros. In: Documentos do Concílio Vaticano II. (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo:
Paulus, 1997, p. 491 a 538; AAS 58 (1966) 991-1024.
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____. Constituição pastoral Gaudium et spes sobre a igreja no mundo de hoje. In:
Documentos do Concílio Vaticano II. (1962-1965), 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 539
a 661; AAS 58 (1966) 1025-1120.
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CONFERÊNCIA DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Conclusões de Medellín
(1968), 6ª. ed. São Paulo: Paulinas, 1987.
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____. Puebla – Evangelização no presente e no futuro da América Latina, (1979), 8ª. ed.
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CONFERÊNCIA DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Santo Domingo – Nova
evangelização, promoção humana, cultura cristã (1992). São Paulo: Paulinas, 1992.
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___. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da quinta conferência do episcopado
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CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório Geral para a Catequese, de 15 de agosto
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CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. Catequese na América Latina.
Linhas gerais de Orientação. São Paulo: Paulinas, 1986. (DECAT - Departamento de
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I Semana Latino-Americana de catequese (Quito, 3 a 10 de outubro de 1982). São Paulo:
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Documento de trabalho. Caracas (Venezuela), 18 a 24 de setembro de 1994.
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___. Kerygma: discipulado e missão. Perspectivas atuais. São Paulo: Paulinas/Paulus,
2007. (Coleção Quinta Conferência - Bíblia)
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___. Manual de catequética. São Paulo: Paulus, 2007.
180
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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Pastoral da iniciação cristã.
Secretariado Nacional de Liturgia - 2º encontro nacional de liturgia, em 1965. Petrópolis:
Vozes, 1966. (Pastoral litúrgica, n. 1)
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___. Diretório para missas com grupos populares (aprovado pela XV assembléia da
CNBB – 8 a 17 de fevereiro de 1977). São Paulo: Paulinas: 1977 (Documentos da CNBB,
11).
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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Regional Sul 3 - Catequese e
liturgia na história e na reflexão teológico-pastoral. Um subsídio para estudo. Porto
Alegre, dezembro de 1985. (texto mimeografado)
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___. Pastoral dos sacramentos da iniciação cristã, (aprovado pela 14ª. Assembléia geral
da CNBB, 19 a 27/11/1974), 10ª. ed. São Paulo: Paulinas, 1985. (Documentos da CNBB,
2a)
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___. Liturgia: 20 anos de caminhada pós-conciliar (1986). São Paulo: Paulinas, 1986.
(Estudos da CNBB, 42)
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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Textos e manuais de
catequese: elaboração, análise, avaliação (1987). São Paulo: Paulus, 1987. (Estudos da
CNBB, 53)
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___. Por um novo impulso à vida litúrgica. Instrumento de trabalho. São Paulo: Paulinas,
1988. (Linha 4 – Dimensão litúrgica da CNBB)
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___. Formação dos catequistas. Critérios pastorais (1990). São Paulo: Paulinas, 1990.
(Estudos da CNBB, 59)
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___. Orientações para a catequese da crisma (1991). São Paulo: Paulinas, 1991. (Estudos
da CNBB, 61)
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___. Orientações para a celebração da Palavra de Deus (aprovado na 32ª. Assembléia
Geral da CNBB, em 13 a 22 de abril de 1994). São Paulo: Paulinas, 1994. (Documentos
da CNBB, 52).
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___. Animação da vida litúrgica no Brasil (Elementos de pastoral litúrgica). Aprovado na
27ª Assembléia Geral da CNBB – 05 a 14 de abril de 1989. São Paulo: Paulinas, 1989.
(Documentos da CNBB, 43)
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___. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil – 1999-2002. 2ª ed.
São Paulo: Paulinas, 1999. (Documentos da CNBB, 61)
-
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-
___. O Itinerário da fé na “Iniciação Cristã de Adultos” (2000). São Paulo: Paulus, 2001.
(Estudos da CNBB, 82)
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de catequese. Catequese com Adultos, de 8 a 12 de outubro de 2001. São Paulo: Paulus,
2002. (Estudos da CNBB, 84)
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___. Catequese renovada - orientações e conteúdo. Texto aprovado pelos bispos do Brasil
na 21ª. Assembléia Geral, em 15 de abril de 1983. 33ª ed. São Paulo: Paulinas, 2003.
(Documentos da CNBB, 26)
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____. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil - 2003 – 2006. São
Paulo: Paulinas, 2003. (Documentos da CNBB, 71)
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___. A sagrada liturgia 40 anos depois (2003). São Paulo: Paulus, 2003. (Estudos da
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___. A eucaristia na vida da Igreja. Subsídio para o ano da Eucaristia (2005). São Paulo:
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___. Diretório nacional de catequese. Texto aprovado pela 43ª. Assembléia Geral, em
Itaici – Indaiatuba (SP), 9 a 17 de agosto de 2005, 2ª. ed. São Paulo: Paulinas, 2006.
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tempo (16 de outubro de 1979). São Paulo: Paulinas, 1985; AAS 71 (1979) 1277-1340.
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___. Redemptoris missio. Carta encíclica sobre a validade permanente do mandato
missionário (07 de dezembro de 1990). São Paulo: Paulinas, 1991; AAS 83 (1991) 249340.
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____. Evangelium vitae. Carta encíclica sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana
(25 de março de 1995). São Paulo: Paulus, 1995. (Magistério da Igreja – 3); AAS 87
(1995) 401-522.
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___. Dies domini. Carta apostólica sobre a santificação do domingo (31 de maio de 1998).
São Paulo: Paulinas, 1998; AAS 90 (1998) 713-766.
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JOÃO Paulo II. Fides et ratio. Carta encíclica do sumo pontífice aos bispos da Igreja
católica sobre as relações entre a fé e a razão (14 de setembro de 1998). São Paulo:
Paulinas, 1998; AAS 91 (1999) 5-88.
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___. Novo millenio ineunte. Carta apostólica no início do novo milênio (06 de janeiro de
2001), 4ª.ed. São Paulo: Paulinas, 2001; AAS 93 (2001) 266-309.
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contemporâneo (08 de dezembro de 1975). In: Documentos de Paulo VI. São Paulo:
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SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS SACRAMENTOS. Decreto “Quam singulari”,
aprovado pelo Papa Pio X. Petrópolis: Vozes, 1953, n. 4. (Documentos pontifícios, 103);
AAS 2 (1910) 577-583.
-
SAGRADA CONGREGAÇÃO DOS RITOS. Instrução Inter Oecumenici. Normas para
executar a constituição da sagrada liturgia. 2ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1965. (Documentos
pontifícios, 148); AAS 56 (1964) 877-900.
-
SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório Catequético Geral (1971),
2ª. ed. São Paulo: Paulinas, 1979; AAS 64 (1972) 97-176.
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SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA (Org.). Antologia litúrgica. Textos
litúrgicos, patrísticos e canônicos do primeiro milênio. Fátima: Gráfica de Coimbra, 2003.
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SÍNODO DOS BISPOS. A catequese no nosso tempo especialmente para as crianças e os
jovens. Mensagem ao povo de Deus. São Paulo, Paulinas, 1978.
-
____. Assembléia geral extraordinária do sínodo dos bispos (1985). 2ª. ed. São Paulo:
Paulinas, 1986.
2. Dicionários
-
BROUARD, Maurice (Org.). Eucharistia - Enciclopédia da Eucaristia. São Paulo: Paulus,
2006.
-
DI BERNARDINO, Francesco. Dicionário patrístico e de antigüidades cristãs.
Petrópolis/São Paulo: Vozes/Paulus, 2002.
-
DE FIORES, Stefano e GOFFI, Tullo. (Org.). Dicionário de espiritualidade. 2ª. ed. São
Paulo: Paulus, 1993.
-
LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas/Loyola, 2004.
183
-
PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de
Catequética. São Paulo: Paulus, 2004.
-
SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia. São
Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992.
-
SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.). Nuevo Diccionario de Liturgia.
Madri: Paulinas, 1987.
3. Estudos
3.1 Livros
-
ALBERICH, Emílio. Catequese evangelizadora. Manual de catequética fundamental. São
Paulo: Salesiana, 2004.
-
ALBERICH, Emílio e BINZ, Ambroise. Formas e modelos de catequese com adultos:
elementos de metodologia. 2ª ed. São Paulo: Salesiana, 2001.
-
___. Formas e modelos de catequese com adultos: panorama internacional. São Paulo:
Salesiana, 2001.
-
ALDAZÁBAL, José. Domingo, dia do Senhor. In: BOROBIO, Dionisio (Org.). A
celebração na Igreja. Vol. 3. Ritmos e tempos da celebração. São Paulo: Loyola, 2000, p.
67 a 91.
-
___. Gestos e símbolos. São Paulo: Loyola, 2005.
-
ALDAZÁBAL, José. A eucaristia. Petrópolis: Vozes, 2002.
-
___. El ministerio de la homilía. Barcelona: Centre de pastoral litúrgica, 2006. (Biblioteca
litúrgica, 26)
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___. Vocabulario básico de liturgia. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2002.
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SUPERIOR DE PASTORAL CATEQUÉTICA DA CNBB, Introdução à catequética, p.
63. Petrópolis: Vozes, 1965, p. 47 a 66.
-
ANTONIAZZI, Alberto e OLIVEIRA, Ralfy Mendes de. A catequese à luz do Sínodo –
1997. São Paulo: Dom Bosco, 1978.
-
ARNAU-GARCIA, Ramon. Tratado general de los sacramentos. Madrid: Biblioteca de
Autores Cristianos, 2003.
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-
ARRUPE, Pedro. Catequese e “inculturação”. In: ANTONIAZZI, Alberto e OLIVEIRA,
Ralfy Mendes de. A catequese à luz do Sínodo – 1997. São Paulo: Dom Bosco, 1978.
-
ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE PROFESORES DE LITURGIA. La reforma litúrgica.
Una mirada hacia el futuro. Bilbao: Grafite, 2001.
-
AUGÉ, Matias. Espiritualidade litúrgica. Oferecei vossos corpos em sacrifício vivo,
santo, agradável a Deus. São Paulo: Ave-Maria, 2002.
-
___. Liturgia. História – celebração – teologia – espiritualidade. 2ª ed. São Paulo: Avemaria, 2004.
-
___. Domingo. Festa primordial dos cristãos. São Paulo: Ave-Maria, 2002.
-
BARBÉ, Domingos. Fé e ação. Catecismo para os cristãos das comunidades de base. 3ª.
ed. São Paulo: Loyola, 1980.
-
BARONTO, Luiz Eduardo Pinheiro. Laboratório litúrgico. Pela inteireza do ser na
vivência ritual. São Paulo: Salesiana, 2000.
-
BASURKO, Xabier. Historia de la liturgia. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica,
2006. (Biblioteca Litúrgica 28)
-
BECKHÄUSER, Alberto. Os fundamentos da sagrada liturgia. Petrópolis: Vozes, 2004.
-
BERGAMINI, Augusto. Cristo, festa da Igreja. História, teologia, espiritualidade e
pastoral do ano litúrgico. 2ª. ed. São Paulo: Paulinas, 2000. (Coleção liturgia e
participação)
-
BETTO Frei e CORTELLA, Mario Sergio. Sobre a esperança. Diálogo. Campinas:
Papirus, 2007. (Papirus Debates)
-
BOFF, Leonardo. E a Igreja se fez povo. Eclesiogênese: a Igreja que nasceu da fé do
povo. 3ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
-
BOLLIN, Antonio e GASPARINI, Francesco. A catequese na vida da Igreja. Notas de
História. São Paulo: Paulinas, 1998.
-
BOROBIO, Dionísio. Pastoral dos sacramentos. Petrópolis: Vozes, 2000.
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___. La iniciación cristiana. Salamanca: Sígueme, 2001.
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___. Da celebração à teologia: o que é um sacramento? In: BOROBIO, Dionísio. A
celebração na Igreja. Vol. 1. Liturgia e sacramentologia fundamental. São Paulo: Loyola,
2002, p. 283 a 424.
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___. Eucaristia. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 2005.
-
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BRUSTOLIN, Leomar Antônio e LELO, Antônio Francisco. Caminho de fé – Itinerário
de preparação para o batismo de adultos e para a confirmação e eucaristia de adultos
batizados. Livro do catequista. São Paulo: Paulinas, 2006.
-
BRUSTOLIN, Leomar Antônio e LELO, Antônio Francisco. Caminho de fé – Itinerário
de preparação para o batismo de adultos e para a confirmação e eucaristia de adultos
batizados. Livro do catequizando. São Paulo: Paulinas, 2006.
-
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compromisso I. Valência /Espanha, Siquem Ediciones Catequéticas y Litúrgicas – São
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BUYST, Ione e FRANSCISO, Manoel João. O mistério celebrado: memória e
compromisso II. Valência /Espanha, Siquem Ediciones Catequéticas y Litúrgicas – São
Paulo/Brasil, Paulinas. 2004. (Teologia Litúrgica, 10)
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BUYST, Ione. Como estudar liturgia. Princípios de ciência litúrgica. 3ª ed. São Paulo:
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___. Símbolos na liturgia. São Paulo: Paulinas, 2000.
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___. Celebrar com símbolos. São Paulo: Paulinas, 2001.
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___. Celebração do domingo ao redor da Palavra de Deus. São Paulo: Paulinas, 2002.
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3. A celebração do mistério pascal. Os sacramentos: sinais do mistério pascal. São Paulo:
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CANTALAMESSA, Raniero. O mistério da Páscoa. Na história, na liturgia, na vida. 6ª.
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CASTELLANO, Jesús. Liturgia y vida espiritual. Teologia, celebración, experiencia.
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especialização em liturgia. Uma experiência universitária significativa. São Paulo: Paulus,
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sua primeira versão – lançada pela editora Ática em 1989 e 1990 – forma a coleção Fé e
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Jesus; A comunidade de fé; Militantes do Reino e Viver em comunhão de amor).
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Paulo: Paulinas, 2001.
-
SEGUNDO, Juan Luis. Teologia aberta para o mundo adulto 4. Os sacramentos hoje. 2ª
ed. São Paulo: Loyola, 1987.
-
SILVA, José Ariovaldo da. Sacrosanctum Concilium e reforma litúrgica pós-conciliar.
Um olhar panorâmico no contexto geral da liturgia: dificuldades, realizações, desafios. In:
CNBB. A sagrada liturgia 40 anos depois. São Paulo: Paulus, 2003, p. 33 a 51. (Estudos
da CNBB, 87)
-
SOUZA, Marcelo de Barros. Celebrar o Deus da vida. Tradição litúrgica e inculturação.
São Paulo: Loyola, 1992.
-
SPERA, Juan Carlos e RUSSO, Roberto. Quem de nós celebra? In: CELAM. Manual de
liturgia – volume 1 – A celebração do mistério pascal. Introdução à celebração litúrgica.
São Paulo: Paulus, 2004.
-
STENICO, Tommaso. Os catecismos na caminhada da Igreja. In: CATÃO, Francisco
(Org.). Catecismo e catequese. Uma nova proposta: o catecismo da Igreja Católica, p. 27 a
46.
191
-
TABORDA, Francisco. Sacramentos, práxis e festa. Para uma teologia latino-americana
dos sacramentos. Petrópolis: Vozes, 1987.
-
___. Nas fontes da vida cristã: uma teologia do batismo-crisma. São Paulo: Loyola, 2001.
(Coleção: Theologica, 4)
-
TEIXEIRA, Faustino Luiz Couto. Comunidades eclesiais de base. Bases teológicas.
Petrópolis: Vozes, 1988.
-
TENA, Pere. Celebrar el mistério. Barcelona: Centre de Pastoral Litúrgica, 2004, p 221 a
234. (Biblioteca litúrgica, 23).
-
TERRIN, Aldo Natale. O rito. Antropologia e fenomenologia da ritualidade. São Paulo:
Paulus, 2004.
-
VENARD, Marc. O concílio lateranense V e o tridentino. In: ALBERIGO, Giuseppe
(Org.). História dos concílios ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1995, p. 317 a 363.
-
VILLEPELET, Denis. O futuro da catequese. São Paulo: Paulinas, 2007. (Coleção
pedagogia da fé)
-
ZAVAREZ, Maria de Lourdes. A celebração da eucaristia é ação ritual. In: CNBB.
Liturgia em mutirão. Subsídios para a formação. 1ª. ed. Brasília: Edições CNBB, 2007, p.
68 a 70.
3.2 Artigos de Dicionários
-
ÁLVAREZ, José Luis Pérez. Compromisso. Orientações pedagógicas. In: PEDROSA,
V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São
Paulo: Paulus, 2004, p. 204 a 213.
-
ARÉS, Vicente Maria Pedrosa. Vaticano II e catequese. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 1122 a 1131
-
ARÉS, Vicente Maria Pedrosa e RECALDE, Ricardo Lázaro. Catequese. In: PEDROSA,
V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São
Paulo: Paulus, 2004, p. 113 a 145.
-
BOROBIO, Dionísio. Sacramentos da iniciação cristã. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO,
M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p.
989 a 1000.
-
____. Catecumenado. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA, Achille M. Nuevo
Diccionario de Liturgia. Madri: Paulinas, 1987, p. 298 a 318.
-
BRANDOLINI, L. Domingo. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, pp. 305 a 318.
192
-
BURTCHAELL, James Tunstead. Preceitos/Conselhos. In: LACOSTE, Jean-Yves (Org.)
Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Loyola/Paulinas, 2004, p. 1419 a 1421.
-
CAMPO GUILARTE, Manuel Del. A iniciação cristã. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 602 a 614.
-
CHUPUNGCO, Anscar. Adaptação. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M.
(Org.). Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 1 a 12.
-
COCCHINI, Francesca. Catequese. In: DI BERNARDINO, Francesco. Dicionário
patrístico e de antiguidades cristãs. Petrópolis/São Paulo: Vozes/Paulus, 2002, p. 273 a
275.
-
CUVA, Armando. Assembléia. In; SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M. (Org.).
Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 94 a 104.
-
DE CLERK, Paul. Iniciação. In: LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia.
São Paulo: Paulinas/Loyola, 2004, p. 907 a 908.
-
FOSSION, André. Catequese da eucaristia para adultos. In: BROUARD, Maurice (Org.).
Eucharistia - Enciclopédia da Eucaristia. São Paulo: Paulus, 2006, p. 819 a 826.
-
GARCÍA, José Antonio González, LANDRIZ, ELADIO Veja e BARREIROS, José
Pérez. Catequese sobre o mistério pascal. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.;
LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p. 764 a
775.
-
GONZÁLEZ, Maria Navarro. Catequese com crianças. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 287 a 297.
-
GONZÁLEZ, Maria Navarro. Formação de catequistas. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 533 a 538.
-
HÄRING, B. Oração. In: DE FIORES, Stefano e GOFFI, Tullo. (Org.). Dicionário de
espiritualidade. 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1993, p. 841 a 848.
-
HERBRETEAU, Hubert. Uma catequese da eucaristia proposta aos jovens. In:
BROUARD, Maurice (Org.). Eucharistia - Enciclopédia da Eucaristia. São Paulo: Paulus,
2006, p. 811 a 818.
-
HERNÁNDEZ, Alfonso Francia. Catequese com adolescentes. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 19 a 27.
193
-
HOLGADO, Manoel Matos e ARÉS, Vicente Maria Pedrosa. Catecismos e catecismo. In:
PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de
Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p. 114 a 124.
-
LIMA, Luis Alves de. Interação fé e vida. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.;
LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p. 620 a
628.
-
LÓPES, Jesús. Catecumenato. In: FIORES, Stefano e GOFFI, Tullo (Dir.). Dicionário de
Espiritualidade, 2ª ed. São Paulo: Paulus, 1993, p.99 a 114.
-
MACY, Gary. A eucaristia no ocidente de 1000 a 1300. In: BROUARD, Maurice (Org.).
Eucharistia - Enciclopédia da Eucaristia. São Paulo: Paulus, 2006, p. 225 a 248.
-
MARSILI, S. Liturgia. In: SARTORI, D. e TRIACCA, (Org.). Dicionário de Liturgia.
São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 638 a 651.
-
___. Sacramentos. In: SARTORI, D. e TRIACCA, (Org.). Dicionário de Liturgia. São
Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 1058 a 1069.
-
MARTÍN, Julián López. “Liturgia e catequese”. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.;
LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p. 690 a
701.
-
MAZZARELLO, Maria Luiza. Catequese da eucaristia para as crianças. In: BROUARD,
Maurice (Org.). Eucharistia - Enciclopédia da Eucaristia. São Paulo: Paulus, 2006, p. 801
a 809.
-
NERY, José Israel. Encontros nacionais de catequese. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO,
M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p.
403 a 411.
-
___. História da catequese no Brasil. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO,
R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p. 573 a 585.
-
NERY, José Israel. Semanas brasileiras de catequese. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO,
M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p.
1023 a 1030.
-
___. Eucaristia e catequese. In: 15º. Congresso Eucarístico Nacional. Subsídio Teológico
3. São Paulo: Paulinas, 2005.
-
NEUNHEUSER, B. História da liturgia. In: SARTORI, D. e TRIACCA, (Org.).
Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 522 a 544.
-
NOCENT, Adrien. Iniciação cristã. In: SARTORI, D. e TRIACCA, (Org.). Dicionário de
Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 593 a 606.
194
-
PASQUALETTI, G. Reforma litúrgica. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille
M. (Org.). Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 986 a
1001.
-
PETRAZZINI, M. L. Formação litúrgica. In: SARTORI, D. e TRIACCA, (Org.).
Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 480 a 495.
-
PERRIN, Michel-Yves. Práticas e discursos eucarísticos nos primeiros séculos (das
origens até o fim do século IV). In: BROUARD, Maurice (Org.). Eucharistia Enciclopédia da Eucaristia. São Paulo: Paulus, 2006, p. 127 a 150.
-
PISTOIA, A. História da salvação. In: SARTORI, Domenico e TRIACCA Achille M.
(Org.). Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 544 a 555.
-
POSE, Eugenio Romero. Catequese na época patrística. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 168 a 175.
-
RAPP, Francis. A eucaristia no ocidente de 1300 a 1550: reformas e reformação. In:
BROUARD, Maurice (Org.). Eucharistia - Enciclopédia da Eucaristia. São Paulo: Paulus,
2006, p. 249 a 270.
-
RODRIGO, Angel Matesanz. História da catequese. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO,
M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p.
564 a 573.
-
SÁES, Jesús López. Catecumenato e inspiração catecumenal. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 124 a 133.
-
SARTORE, Domenico Assembléias sem presbítero. In: SARTORE, Domenico e
TRIACCA Achille M. (Org.). Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa:
Paulinas/Paulistas, 1992, p. 104 a 108.
-
___. “Catequese e liturgia”. In: SARTORE, D. e TRIACCA, (Org.). Dicionário de
Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 175 a 183.
-
SORIA, José Maria Ochoa Martinez. Fonte e “fontes” da catequese. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 523 a 533.
-
STUDER, B. Dogma (história do). In: VV.AA. Dicionário patrístico e de antigüidades
cristãs. Petrópolis: Vozes/Paulus, 2002, p. 421 a 423.
-
TERNERO, Antonio Maria Alcedo. Catequese com adultos. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 19 a 27.
-
___. Tarefas da catequese. In: PEDROSA, V.M.; NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e
SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo: Paulus, 2004, p. 1047 a 1051.
195
-
TRIACCA, A. M. Bíblia e liturgia. In: SARTORE, Domenico e TRIACCA Achille M.
(Org.). Dicionário de Liturgia. São Paulo/Lisboa: Paulinas/Paulistas, 1992, p. 135 a 151.
-
ZUBILLAGA, José Antonio Goenaga. Rituais da iniciação cristã. In: PEDROSA, V.M.;
NAVARRO, M.; LÁZARO, R. e SASTRE, J. Dicionário de Catequética. São Paulo:
Paulus, 2004, p. 967 a 971.
-
WELTER, Peter. Dogma. In: LACOSTE, Jean-Yves (Org.) Dicionário crítico de teologia.
São Paulo: Loyola/Paulinas, 2004, p. 568 a 574.
3.3 Artigos de Periódicos
-
AHUMADA, Enrique Garcia. El ministério de la catequesis en el nuevo directorio. In:
Medellín, 96 (1998), p. 551 a 563.
-
___. Catequesis de iniciación y permanente en adultos. In: Medellín 104 (2000), p. 457 a
480.
-
ALDAZÁBAL, José. Preguntas a la catequesis desde la liturgia. In: Phase 118 (1980), p.
255 a 266; o mesmo artigo em: Phase 38, s/d, p. 67 a 78.
-
ALESSIO, LUIS. Evangelización, catequesis, liturgia y mision. In: Liturgia y
Espiritualidad 6. (2003), p. 271-283.
-
BOROBIO, Dionísio. Función litúrgico-sacramental del ministério del catequista. In:
Phase 118 (1980), p. 305 a 321; cf. também: Phase 38, s/d, p. 29 a 45.
-
___. El modelo simbólico de la sacramentologia. In: Phase 189 (1992), p. 229 a 246.
-
BUYST, Ione. Simbolização. Aprendendo com os gestos cotidianos. In: Revista de
liturgia 157 (2000), p. 4 a 5;
-
___. Como uma grande vela se torna um círio pascal. In: Revista de liturgia 158 (2000), p.
4 a 5;
-
___. Os sacramentos são símbolos? In: Revista de liturgia 159 (2000), p. 9 a 10.
-
___. A liturgia como realidade simbólico-sacramental. In: Revista de liturgia 160 (2000),
p. 29 a 31.
-
___. Gesto e palavra. In: Revista de liturgia 161 (2000), p. 29 a 30.
-
___. Vinde Senhor Jesus! O sinal sensível não “é” a realidade significada. In: Revista de
liturgia 162 (2000), p. 27 a 29.
196
-
BUYST, Ione. Alguém me tocou! Sacramentalidade da liturgia na Sacrosanctum
Concilium (SC), Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia. In: Revista de liturgia
176 (2003), p. 4 a 9.
-
CAMPO GUILARTE, M. Transmisión de la fe e iniciación cristiana hoy. In: Teología y
Catequesis 77 (2001), p.71-73.
-
CASTELLANO, Jesús. La mística de los sacramentos de la iniciación cristiana. In: Phase
162 (2006), p. 3 a 61.
-
CLAES, J. L’initiation. In: Lumen Vitae 1 (1994), p. 12-13.
-
CLAVIER, Michèle. La liturgie au serive du catéchuménat. In: Dossier 161 (2000) p. 71 a
78.
-
COFFY, Robert. La célébration, lieu de l’éducation de la foi. In: La Maison-Dieu. 140
(1979), p. 25 a 40; cf. também: La celebracion, lugar de la educacion de la fé. In: Phase
38, s/d, p. 5 a 27.
-
CONTRERAS, Enrique. Catequesis y liturgia en los padres de la Iglesia. In: Phase 252
(2002), p. 457 a 481.
-
DALMAIS, Jean. La liturgie, lieu priviligié de la catechésè dans les traditions de l’ Orient.
In: La Maison-Dieu 140 (1979), p. 55 a 69.
-
Equipe de liturgia da arquidiocese de Vitória – Espírito Santo. Cebs e liturgia. In: Revista
de liturgia 59 (1983) p. 21 a 27.
-
FEDERICI, Tommaso. La santa mistagogia permanente de la Iglesia. In: Phase 193
(1993), p. 9 a 34.
-
FLORISTÁN, Casiano. A liturgia lugar de educação da fé. In: Concilium 194 (1984), p.
73 a 83 [501 a 511].
-
___. La iniciacion cristiana. In: Phase 171, (1989), p. 215 a 224.
-
GOPEGUI, Juan A. Ruiz. Catequese e comunidade cristã. In: Perspectiva Teológica 103
(2005), p. 315 a 336.
-
JIMÉNEZ, Manuel Jose e ACUÑA. Ubicación del processo de iniciacion cristiana al
interior del processo de evangelización. In: Medellín 128 (2006), p. 599 a 619.
-
JUNGMANN, Josef Andreas. La liturgia, escuela de la fé. In: Phase 138. (2003), p. 8.
-
LELO, Antônio Francisco. Dinamismo sacramental y aplicación del Ordo Initiationis
Christianae Adultorum en Brasil. In: Phase 255 (2003), p. 197 a 220.
-
___. A iniciação cristã no Brasil. In: Revista de Catequese 107 (2004), p. 5 a 18.
197
-
LELO, Antônio Francisco. Aplicação no Brasil do ritual de iniciação cristã de adultos. In:
Revista de Catequese 108 (2004), p. 5 a 20.
-
___. O estilo catecumenal na catequese por etapas. In: Revista de catequese 116 (2006), p.
33 a 43.
-
____. Iniciação: um processo humano, itinerário de fé, caminho litúrgico. In: Medellín
128 (2006), p. 589.
-
LIMA, Luis Alves de. Catequese com adultos e iniciação cristã. In: Medellín 114 (2003),
p. 307 a 334.
-
___. A unidade da catequese e liturgia na iniciação cristã. In: Revista de catequese, n. 114
(2006), p. 37 a 38.
-
___. A liturgia como lugar de catequese. In: Revista de Catequese 22 (1983) p.7 a 16.
-
LÓPEZ, Julián. El “Diretorio General para la Catequesis” y la liturgia. In: Phase 225
(1998), p. 191 a 202.
-
___. Evangelizacion y sacramento, ¿cuestion resuelta? In: Phase 38, s/d, p. 47 a 65.
-
LUTZ, Gregório. Catequese: iniciação à liturgia? In: Revista de Liturgia, n. 82,
julho/agosto, 1987, p 7 a 12.
-
___. Catequese e liturgia na história da Igreja. In: Revista de liturgia 32 (1979), p. 19 a 29.
-
___. O rito da iniciação cristã de adultos. In: Revista de liturgia, n. 147 (1998), p. 9 a 10.
-
___. Catequese como iniciação à Eucaristia. In: Revista de liturgia 194 (2006), p. 4 a 8.
-
___. A liturgia, momento histórico da história da salvação. In: Revista de liturgia 173
(2002), p. 4 a 6.
-
____. Teologia da liturgia dominical de comunidades sem padre. In: Revista de liturgia 52
(1982), p.3 a 4.
-
MALDONADO, Luis. Celebrar. Reflexiones para un dialogo entre catequistas y
liturgistas. In: Teologia y catequesis 26/27 (1988), p. 463 a 475.
-
MASUERO, Lívio. Discipulado católico adulto. Uma experiência em moldes
catecumenais. In: Revista de catequese 116 (2006), p. 44 a 60.
-
MIRANDA, Leonel Miranda. La fuente patrística en la catequesis. Análises del CGC 129130. In: Medellín 96 (1998), p. 593 a 617.
-
____. La iniciación cristiana en la época de los Padres de la Iglesia. Anotaciones
generales. In: Medellín 128 (1998), p. 543 a 582.
198
-
OÑATIBIA, Ignácio. La catequesis litúrgica de los Padres. In: Phase 118 (1980), p. 281 a
294.
-
____. Actualidad del catecumenado antiguo. In: Phase 131 (2003), p. 23 a 32.
-
PAIVA, Vanildo de. Catequese e liturgia: as duas faces do mesmo mistério. Observações
sobre a 18ª. Semana Nacional de Liturgia: “A catequese na iniciação à Eucaristia”. In:
Revista de Catequese 109 (2005), p. 38 a 43.
-
ROUET, Albert. La célébration, lieu de l´éducation de la foi. In: La Maison-Dieu 140
(1979), p. 25 a 40.
-
___. Catéchèse et liturgie: radiographie d’um débat insuffisant. In: La Maison-Dieu 140
(1979), p. 7 a 23.
-
SALAS, Alfredo Madrigal. El ritual para la iniciación cristiana de los adultos. In:
Medellín 114 (2003), p. 261 a 278.
-
SALVATIERRA, Angel. La historia como lugar teológico inspirador de la catequesis. In:
Medellín 68 (1991), p. 455 a 489.
-
SCOUARNEC, Michel. Une éduction à la foi par la célébration. In: Dossier 161 (2000),
p. 33 a 41.
-
SERRA, Rafael. Mysterium – Actio – Vita. Ensayo de interpretación teológica de la
celebración sacramental (1ª. Parte). In: Liturgia y espiritualidad 12 (2003), p. 549 a 563.
-
___. Mysterium – Actio – Vita. Ensayo de interpretación teológica de la celebración
sacramental (2ª. Parte). In: Liturgia y espiritualidad 11 (2003), p. 590 a 606.
-
___. Mysterium – Actio – Vita. Ensayo de interpretación teológica de la celebración
sacramental (3ª. Parte). In: Liturgia y espiritualidad 12 (2003), p. 646 a 664.
-
SILVA, Airton José da. Notas sobre alguns aspectos da leitura da Bíblia no Brasil hoje.
In: REB 197 (1990), p. 117-137.
-
SOBRERO, José. Catequesis mistagógica: um modelo del siglo V para hoy. In: Phase 195
(1993), p. 181 a 194.
-
TABORDA, Francisco. Da liturgia à catequese. Por uma catequese mistagógica dos
sacramentos. In: Revista de Liturgia 192 (2005), p. 4 a 7.
-
TORRES QUEIRUGA, Andrés. O Vaticano II e a teologia. In: VV.AA. Vaticano II: um
futuro esquecido? Concilium 312 (2005), p. 20 a 33.
-
VILLEPELET, Denis. Catequese como iniciação. Conseqüências para a ação catequética.
In: Revista de Catequese 110 (2005), p. 39 a 44.
199
3.4 Textos não publicados
-
ADÃO, Alex José. A importância do centro de liturgia da Pontifícia Faculdade de
Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, para a renovação e a inculturação
litúrgicas no Brasil. São Paulo: 2004. (dissertação de mestrado)
-
BUYST, Ione. Formação litúrgica. Memória pessoal: Centro de liturgia (1985-2006). São
Paulo/Ribeirão Preto: 2006/2007.
-
CENTRO DE LITURGIA. Pesquisa sobre a catequese na iniciação à Eucaristia, em
preparação a 18ª. Semana de Liturgia, em São Paulo, de 18 a 22 de outubro de 2004.
(texto mimeografado)
-
PAIVA, Vanildo. Principais causas da não interação entre catequese-liturgia.
Acréscimos a partir do plenário. Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da
Assunção. Décima Oitava Semana de Liturgia: A catequese na iniciação à eucaristia. São
Paulo: 2004. (mimeografado)
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LIMA, Luiz Alves de. Liturgia e catequese. São Paulo: 28 de abril de 1996. (texto
mimeografado)
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RIXEN, Eugênio. Catequese e Eucaristia. Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção. Décima Oitava Semana de Liturgia: A catequese na iniciação à
eucaristia. São Paulo: 2004. (mimeografado)
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RIXEN, Eugênio. A catequese na iniciação à eucaristia. Pontifícia Faculdade de Teologia
Nossa Senhora da Assunção. Décima Oitava Semana de Liturgia: A catequese na
iniciação à eucaristia. São Paulo: 2004. (mimeografado)
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Dissertação completa - Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa