UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A.
Projeto:
Memória e práticas culturais: registro e conservação
(Condicionante do IBAMA)
Café, Impacto Ambiental e Paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
AHE SIMPLÍCIO - QUEDA ÚNICA
RELATÓRIO FINAL (SINTÉTICO)
Laboratório de
Arqueologia
FAFICH
UF
Dezembro 2009
G
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A.
Projeto:
Memória e práticas culturais: registro e conservação
(Condicionante do IBAMA)
AHE SIMPLÍCIO – QUEDA ÚNICA
Café, Impacto Ambiental e paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
RELATÓRIO FINAL (SINTÉTICO)
Laboratório de
Arqueologia
UF
Dezembro 2009
G
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
FICHA TÉCNICA
Projeto:
Memória e Práticas Culturais: registro e conservação
Financiamento:
Furnas Centrais Elétricas S.A.
Execução:
Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais.
Gerenciamento:
Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa – Fundep
Coordenação Geral: Prof. Carlos Magno Guimarães
Subprojeto 5: Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Pesquisadores:
Évelin Luciana Malaquias Nascimento
Patrícia de Sá Machado
2
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
SUMÁRIO
Apresentação
4
Introdução
5
Metodologia
8
Impacto Ambiental no Vale do Paraíba do Sul
11
- Abordagem histórico-arqueológica da degradação no Vale do
Paraíba
12
- Abordagem fisiográfica da degradação ambiental no Vale do
Paraíba
17
Considerações Finais
27
Referências Bibliográficas
29
3
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Apresentação
Este relatório apresenta de forma sintética os resultados do subprojeto: Café, Impacto Ambiental
e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar, integrante do Projeto: Memória e práticas culturais: registro e
conservação, desenvolvido paralelamente ao trabalho de Salvamento Arqueológico realizado em
quatro municípios – Além Paraíba e Chiador, localizados em Minas Gerais, Sapucaia e Três
Rios, localizados no Rio de Janeiro – impactados pelas obras do empreendimento AHE
Simplício – Queda Única.
O estudo da degradação ambiental em quaisquer níveis coloca-se hoje como prioridade básica
dada a situação que a mesma atingiu no mundo inteiro. Embora a preocupação com o tema
possa ser encontrada em alguns autores, a abordagem arqueológica expressa o viés inovador
deste trabalho.
O contexto abordado refere-se ao Vale do Rio Paraíba do Sul onde, a partir da segunda
metade do século XIX, desenvolveu-se o denominado Ciclo do Café. O ciclo produtivo do
café deixou, ao longo dos anos, uma imensa área onde a degradação ambiental é hoje a
evidência do custo provocado pelas riquezas ali produzidas. São estas evidências, tratadas em
uma perspectiva arqueológica, que este relatório apresenta.
4
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Introdução
O presente relatório traz uma abordagem do impacto ambiental provocado pela expansão
cafeeira dos séculos XIX e XX no Vale do Paraíba do Sul, mais especificamente nos
municípios de Além Paraíba, Chiador, Sapucaia e Três Rios, atingidos pelo AHE SimplícioQueda Única.
A abordagem privilegia uma interpretação sobre a perda da qualidade ambiental desses
municípios, a partir da análise dos vestígios remanescentes da ação humana, em um processo
histórico-econômico específico. Assim, é utilizada como categoria de análise, a paisagem,
compreendida como um recorte do espaço, que guarda as marcas da lógica da produção em
seus diversos momentos. Segundo Santos (1988), a paisagem é um conjunto de formas
heterogêneas, que traz as representações de maneiras de produzir e de construir o espaço ao
longo do tempo. No contexto temporal e espacial da presente investigação, essas marcas são
os vestígios arqueológicos representativos do ciclo cafeeiro no Vale do rio Paraíba do Sul,
tanto no lado mineiro quanto fluminense.
Nessa abordagem, o acervo arqueológico é constituído pelos vestígios materiais remanescentes
da antiga atividade cafeeira que teve como unidades de produção, as antigas fazendas. Tais
vestígios incluem as sedes das fazendas e os equipamentos utilizados no plantio e no
beneficiamento dos grãos do café. Além desses, tais vestígios incluem as conseqüências
ambientais decorrentes da ação antrópica sobre o ambiente físico, durante o processo de
implantação das áreas de monocultura do café. As marcas se estendem, portanto, por todo o
território das antigas fazendas.
Sendo a paisagem o recorte conceitual e espacial que traz as cicatrizes dos diferentes
momentos de produção, é necessário considerar três momentos distintos da apropriação
econômica desse ambiente: a) a derrubada da cobertura vegetal original; b) a introdução da
monocultura cafeeira; c) a substituição da monocultura cafeeira pela pecuária a partir da crise
do café e da exaustão dos solos.
5
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
O primeiro momento, fazendo uso da expressão de Dean (1996), refere-se à chegada da
“segunda leva de invasores humanos”1, a partir dos anos de 1500. Desde então, toda a
extensão da floresta atlântica, que cobria uma vasta parte do território brasileiro, sofreu algum
grau de intervenção, transformando grande parte da Mata Atlântica em florestas secundárias.
A FIG. 1 apresenta a extensão original da Mata Atlântica brasileira em 1500.
Figura 1: Mata Atlântica em 1500
Fonte: Dean, 1996
Para a região em foco, que contempla uma porção mineira e uma fluminense do Vale do rio
Paraíba do Sul, a maior intervenção ocorreu, sobretudo, a partir da segunda metade do século
XIX, com o início do “Ciclo do Café”. Áreas dos atuais municípios de Além Paraíba, Chiador,
Três Rios e Sapucaia, atingidos pelo AHE Simplício – Queda Única integravam à região de
implantação dos grandes cafezais dos séculos XIX e XX (FIG. 2).
1
A primeira leva de invasores refere-se aos primeiros grupos humanos que habitaram a região.
6
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Assim, o segundo momento, datado dos séculos XIX e XX, foi o período onde ocorreram as
mais acentuadas formas de interferência na floresta original, para dar lugar às extensas áreas de
cafeicultura.
Figura 2: Carta de L`Aire à Café Du Brés 1. D`aprés C. F. Van Delden - Laérne. 1884.
Fonte: Biblioteca Nacional.
O terceiro momento foi caracterizado pela diversificação das atividades econômicas, com
predominância das atividades agropastoris, em função das sucessivas crises da economia
cafeeira iniciadas a partir do último quarto do século XIX.
Exemplos desses três momentos, presentes hoje na paisagem, se mostram com extensões
diferenciadas. O primeiro deles, onde a presença da mata atlântica era generalizada, se resume
a vestígios de áreas preservadas, transformadas em áreas de preservação permanente (APP),
para atender a uma recente legislação ambiental. É o caso dos topos de morros e das margens
dos cursos d’água. Essas matas, contudo, embora semelhantes, não trazem as características
originais da cobertura primária e nem da fauna que anteriormente as habitou.
Do segundo momento, caracterizado pela produção de café com intensa intervenção na
paisagem, os testemunhos são as antigas unidades de produção cafeeira, constituídas pelas
sedes das fazendas, em ruínas ou ainda edificadas, pelas estruturas remanescentes da atividade
7
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
e associadas às fazendas e pelas antigas áreas de cultivo das unidades produtoras. Dessas áreas
estão as cicatrizes da atividade, na forma de degradação ambiental: ausência da mata atlântica
original, perda de solos, intenso processo erosivo, diminuição da disponibilidade de água, e
assoreamento dos cursos d’água.
O terceiro momento, que ainda hoje predomina, é representado pela atividade agropastoril. A
região antes coberta pela floresta virgem e posteriormente pelos cafezais, está hoje
transformada em áreas de pastagens exploradas por grandes propriedades. Essas áreas
herdaram imensos problemas ambientais que se iniciaram com a retirada da vegetação original
para o cultivo do café, sem técnicas de manejo do solo, resultando em terrenos com enormes
e intensos processos erosivos e com evidências de que sua fertilidade foi esgotada.
Metodologia
A investigação acerca dos impactos ambientais ocasionados pelas práticas de plantio dos
cafezais dos séculos XIX e XX foi realizada a partir de trabalhos de campo, ocorridos no mês
de outubro de 2008, tendo como ponto de partida as antigas sedes das fazendas cafeeiras, em
ruínas ou ainda em uso, identificadas pelo projeto “Prospecção Complementar e Salvamento
Arqueológico na área a ser impactada pelo AHE Simplício – Queda única”, desenvolvido pelo
Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Federal de Minas Gerais. Além das fazendas, antes identificadas, relatos orais possibilitaram
identificar outras unidades produtoras de café na região em análise, totalizando 25 fazendas do
período pesquisado (QUADRO 1, FIG. 3). Foram percorridos os territórios dessas antigas
sedes presentes nos quatro municípios atingidos pelo empreendimento (AHE) de Simplício,
para observação, interpretação e registro fotográfico das evidências da degradação ambiental.
8
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Quadro 1: Antigas fazendas cafeeiras identificadas durante as pesquisas de campo
Fazenda
Fazenda Barra do Peixe
Fazenda Santa Alda
Fazenda Gironda
Fazenda Abrigo
Fazenda Boa Esperança
Fazenda Conceição
Fazenda Fortaleza
Fazenda Tocaia
Fazenda Boa Esperança5
Fazenda Bocaina
Fazenda Cachoeira
Fazenda Chiquita Marconde
Fazenda Cortiço
Fazenda do Fundão
Fazenda Lordelo
Fazenda Monte Café
Fazenda Santa Eliza
Fazenda Santo Antônio da Boa Esperança
Fazendinha
Fazenda Palmeira (ruínas)
Fazenda Santa Rita (ruínas)
Fazenda Bemposta
Fazenda Mar de Espanha
Fazenda Recreio
Fazenda Santana
Município
Além Paraíba
Além Paraíba
Além Paraíba
Chiador
Chiador
Chiador
Chiador
Chiador
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Sapucaia
Três Rios
Três Rios
Três Rios
Três Rios
Estado
MG
MG
MG
MG
MG
MG
MG
MG
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
RJ
Associado aos trabalhos de campo foi realizado o tratamento dos dados de forma espacial,
incorporando-os a um sistema de informações geográficas. Foram trabalhados os planos de
informações relativos à topografia, ao solo, à litologia, aos remanescentes florestais, à
localização das fazendas e ao atual uso e ocupação do solo.
Registros iconográficos da época também foram analisados para ampliar a análise histórica da
degradação ambiental na região.
9
Figura 3
7600000
Rochedo de Minas
LOCALIZAÇÃO DAS FAZENDAS CAFEEIRAS
AHE Simplício - Queda Única
Leopoldina
Argirita
Maripá de Minas
Chácara
Santo Antônio do Aventureiro
Bicas
ES
MG
Guarará
Volta Grande
Senador Cortes
7590000
Bacia do rio
Paraíba do Sul
RJ
Juiz de Fora
Pequeri
Além Paraíba
7580000
Mar de Espanha
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Fazenda
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7570000
Santana do Deserto
7560000
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Marconde
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!Fazenda Abrigo
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Sapucaia
Comendador Levy Gasparian
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7550000
Areal
Carmo
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Antigas Fazendas de Café
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Pontos de amostragem da degradação ambiental
Municípios investigados
Fazenda Bemposta
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Mar de Espanha
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Fazenda Recreio
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0
4
8
12
UTM - SAD 69 - Fuso 23
Sumidouro
Fazenda Cachoeira
Café, Impacto Ambiental e paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
Nova Friburgo
Petrópolis
710000
km
MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO
Teresópolis
700000
16
Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009.
Bases cartográficas: IBGE, ANA.
São José do Vale do Rio Preto
Paraíba do Sul
690000
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Fazenda Tocaia
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Três Rios
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Oceano Atlântico
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( Ruínas da Fazenda Palmeira
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Simão Pereira
oS
SP
720000
730000
740000
750000
DEZEMBRO - 2009
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Impacto Ambiental no Vale do Paraíba do Sul
As alterações na qualidade ambiental de um determinado espaço, dadas pelas modificações de
processos naturais ou sociais geradas por ação antrópica, caracterizam uma situação de
impacto ambiental (Sanchez, 1996). Essas alterações podem ser de caráter positivo ou
negativo. Quando negativo, tem-se uma situação de “degradação ambiental”. Segundo Munn e
Wathern apud Sanchez (1996), avaliar o impacto ambiental de um empreendimento significa
realizar uma análise preditiva da qualidade ambiental do local, buscando presumir as condições
ambientais no futuro em duas situações distintas: com e sem a instalação do empreendimento.
Dessa forma, o impacto ambiental seria a diferença entre a qualidade ambiental dessas duas
circunstâncias. No caso de retirada de uma vegetação original para instalação de um
empreendimento, por exemplo, a avaliação do impacto ambiental deveria prever o futuro do
local considerando tanto a situação de clímax da vegetação, quanto à situação posterior a sua
supressão.
Desenvolvendo uma análise que parte de perspectiva inversa para o Vale do Paraíba do Sul,
uma vez que o empreendimento causador de degradação ambiental foco da investigação já foi
finalizado, avaliar o seu impacto ambiental consiste em comparar a situação decorrente do
impacto, ou seja, a situação atual, com uma provável situação de clímax do ambiente, caso o
empreendimento não tivesse existido. No entanto, não há no Vale do Paraíba do Sul um local
que possa ser considerado situação clímax, uma vez que o empreendimento, por seu caráter
extensivo, devastou toda a cobertura vegetal original.
Dados do “Atlas dos Remanescentes Florestais de Mata Atlântica”, produzidos pela
“Fundação SOS Mata Atlântica” e pelo “Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais”, informa
que a área compreendida pelos municípios aqui focalizados era originalmente coberta pela
floresta atlântica. Ao longo do tempo, os municípios sofreram drástica redução da cobertura
vegetal original, permanecendo hoje somente algumas áreas fragmentadas. Além disso, os
valores apresentados pelo atlas dos remanescentes florestais incluem as formações secundárias
em estágio médio e avançado de recuperação, ou seja, não são formações primárias pouco
alteradas ou essencialmente recuperadas, fato que indica que os números da devastação são
ainda maiores (GRAF. 1 e 2)
11
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Percentual de área remanescente de Mata Atlântica em
municípios do Vale do Paraíba do Sul, 2009
Área original e remanescente de Mata Atlântica
em municípios do Vale do Paraíba do Sul, 2009
Sapucaia
Sapucaia
Municípios
Além Paraíba
Municípios
Além Paraíba
Chiador
Três Rios
Chiador
Três Rios
0
10.000
20.000
30.000
Área remanescente de mata
40.000
50.000
60.000
Hectare
0
2
4
6
8
Área original de mata
Gráfico 1: Área original de Mata Atlântica
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2009
10
12
14
16
% ( do total original)
Gráfico 2: Remanescente de Mata Atlântica
Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2009
Ao findar o ciclo do café ainda no primeiro quarto do século XX, um novo empreendimento
foi implantado: às atividades agropastoris, acentuando ainda mais o quadro de degradação
regional.
Abordagem histórico-arqueológica da degradação no Vale do Paraíba
No Vale do Paraíba do Sul, os impactos ambientais negativos do empreendimento cafeeiro
dos séculos XIX e XX, tiveram inicio com a supressão da cobertura vegetal original. Segundo
Ramos (1923) os solos onde eram estabelecidos os cafezais eram solos muito profundos e
intemperizados, e, necessariamente, onde havia a presença de mata virgem.
“Na escolha de um terreno, os agricultores não dão muita importância as
suas propriedades físicas e químicas; deixam-se levar pela vegetação
dominante, de modo que qualquer terreno, que estiver coberto de mata
virgem, no interior dos mesmos, presta-se ao cultivo do cafeeiro. O preparo
do solo, com raríssimas exceções, continua a ser feito pelos mesmos
processos em pratica nos tempos primitivos. Geralmente as plantações são
estabelecidas em terras de mata virgem, cujo preparo resume-se no seguinte:
fazem o roçado, a derrubada, a queima e o encoivaramento. Quando há
possibilidade ou facilidade de transporte, aproveitam as madeiras de lei”
(Ramos, 1923, pag. 230).
Para seleção da área da lavoura, muitas vezes os agricultores guiavam-se pela presença de tipos
vegetais, denominados de padrões, como bálsamo, páo-álho, cedro branco, palmito branco,
ortinguinha, fagada brava, figueira brava, figueira branca, folha larga, cambará, embaúba-verde
e criciúma (RANGEL, 1907). Para a escolha das áreas dos futuros cafezais, prevalecia tanto o
mito da vestimenta do terreno, ao escolherem as matas virgens, quanto por um saber
empírico, ao escolherem terrenos mais acidentados. Escolhido o terreno iniciavam a
12
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
derrubada da mata, conforme a representação de Rugendas do primeiro quarto do século XIX
(FIG. 4), e a descrição de Rangel (1907):
Enquanto uns, de foices, vão desbravando o terreno, roçando, cortando os
pequenos arbustos, os cipós e toda a pequena vegetação, mais ou menos
densa, que possa embaraçar o trabalho ulterior, seguem outros, armados de
machados, atacando os troncos mais robustos, que as foices não puderam
vencer, as grandes e seculares arvores que dominam a floresta. O corte se
faz, em geral, a dois ou três palmos acima do solo, e é um espetáculo
deveras impressionador vê tombar um desses gigantescos Jequitibás, um
desses admiráveis Páos-ferro, Vinhaticos, Perobas, Óleos vermelhos e
outros, com um indefinível fragor, que lembra o arruído de ossada a se
chocarem, e cujos ecos, vibrando de grota em grota, de canhada em
canhada, parecem levar a maldição da floresta contra o orgulho e a teimosia
do homem. (Rangel, 1907, pag. 38)
Figura 4: Derrubada de uma floresta.
Fonte: O Brasil de Rugendas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998.
Depois da derrubada das árvores, os galhos eram cortados de forma a facilitar a futura
queimada que geralmente era feita no mês de agosto.
Hoje, sabe-se que as técnicas utilizadas para a produção cafeeira naquele momento da história
do país, foram decisivas para formação do atual quadro de degradação ambiental da região.
Sem preocupação com as conseqüências de uma utilização exaustiva dos recursos naturais, as
13
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
áreas de mata virgem eram substituídas pelos cafezais. Segundo Ramos (1922) a cultura do
café ocorria de forma extensiva por dois motivos: por um lado para ampliar as plantações
existentes, como no caso do território paulista, e por outro, para substituir velhos cafezais
improdutivos, como no território mineiro e fluminense. Referindo-se a São Paulo afirma que
“Aí, porém, a marcha para o interior, a invasão da mata virgem, tem se feito
muitíssimo mais com o propósito de aumentar os cafezais existentes do
que, propriamente, para substituir cafezais velhos, improdutivos, conforme
se pratica em território mineiro e fluminense.” (Ramos, 1922: 76)
A prática extensiva da atividade decretava mais uma ação deletéria da paisagem original. A
terra exaurida em pouco mais de trinta anos, demandava a abertura de novas áreas para o
cultivo de novos cafezais. Assim, em pouco tempo, a imagem da devastação, foi se espalhando
pelo Vale do Paraíba do Sul:
Em vez de irem alargando, as áreas cultivadas iam caminhando para o
interior do país, mas em larga escala desaparecendo da sua retaguarda, como
as chamas de um incêndio, que avançassem crepitantes, por uma floresta,
deixando atrás de si vastas extensões, só de cinzas povoadas (Ramos,
1922:60).
O preparo do solo para o plantio dos cafezais compreendia operações de roçada, derrubada,
queimada, traçado dos carreadores, alinhamento e covagem. A derrubada das árvores era feita
de forma total, ou seja, nenhuma árvore deveria ser deixada de pé no roçado. Os terrenos de
maior altitude, em função da temperatura mais amena, e os terrenos de inclinação média, que
garantiam uma boa drenagem dos solos, eram os preferidos para a implantação dos cafezais.
O alinhamento da plantação era realizado perpendicularmente à base da vertente, com o
auxílio de cordas marcadas de acordo com o espaço que as plantas deveriam ter entre si.
Quase sempre do topo à base do morro, era tirada uma primeira linha sendo as outras traçadas
paralelamente, marcando-se com pequenas estacas ou sinais feitos a enxada, os pontos
correspondentes a cada cova. Esta técnica foi uma das muitas responsáveis por conseqüências
desastrosas para a fertilidade do solo.
Se os terrenos inicialmente apresentavam alguma fertilidade, dada pela cobertura superficial
humosa da floresta, as práticas agrícolas que antecediam a plantação dos cafezais, tratavam de
destruí-la. Esse sistema ambiental, onde a floresta é responsável tanto pela manutenção da
superfície orgânica, quanto pela proteção do solo à ação das águas pluviais, ficava altamente
comprometido pelos métodos de cultivo adotados. A retirada da floresta, além de deixar a
14
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
terra desprotegida da ação das chuvas, favorecendo fortemente a erosão, aniquilava a fonte de
suprimento da matéria humosa, responsável pela fertilidade superficial.
Posteriormente, a vegetação derrubada era queimada, destruindo os elementos orgânicos. Para
completar o ciclo de destruição, o plantio se dava morro abaixo, ou seja, o alinhamento das
covas era traçado de forma perpendicular às curvas de nível, o que favorecia o escoamento
laminar e concentrado das águas, provocando diversas formas erosivas e acelerando o
processo de assoreamento dos cursos d’água. O plantio morro-abaixo e a erosão do solo
podem ser observados em registros iconográficos da época, como nos quadros do pintor
italiano, Nicolau Facchinetti, que representou a paisagem da cafeicultura escravista do Vale do
Paraíba do Sul nas últimas décadas do século XIX (Marquese, 2006).
A FIG. 5 representa a sede da fazenda Santo Antônio2, localizada no município de Sapucaia,
Rio de Janeiro, com seu entorno degradado já em fins do século XIX.
plantio “morro-abaixo”
sistema
hidráulico
formas erosivas
terreiro
Figura 5: Fazenda Santo Antônio. Sapucaia, RJ. Pintura de Nicolau Facchinetti, 1880
Fonte: Martins, Carlos; Piccoli, Valéria, 2004.
A sede da Fazenda Santo Antônio encontra-se atualmente restaurada. Entretanto, o proprietário da fazenda não
autorizou a equipe de arqueologia histórica da UFMG, a visitar a sua sede e o seu entorno imediato.
2
15
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Em outros registros da paisagem da cafeicultura do Vale do Paraíba do Sul, o artista também
evidenciou a degradação ambiental pela atividade cafeeira em fins dos oitocentos, como na
representação das Fazendas Montalto e Flores do Paraíso, localizadas nos municípios de Piraí
(RJ) e Valença (RJ), respectivamente (FIG. 6 e 7).
vegetação rasteria
cafezal
terreiro
morro desnudo
Figura 6: Fazenda Montalto. Piraí, RJ. Pintura de Nicolau Facchinetti, 1881.
Fonte: Beluzzo, A. M. M, 2000.
morro desnudo
Vegetação rasteira
terreiro
Figura 7: Fazenda Flores do Paraíso, Valença, RJ. Pintura de Nicolau Facchinetti, 1880
Fonte: Martins, Carlos; Piccoli, Valéria, 2004.
Em todas as pinturas constatam-se duas situações distintas nas que se relacionam. De um lado
há a opulência da sociedade cafeeira representadas pela imponência construtiva do complexo
das fazendas, presente tanto nos edifícios das sedes, quanto nos equipamentos de
16
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
beneficiamento do café - sistemas hidráulicos para transporte, lavagem dos grãos e
acionamento de máquinas e dos terreiros para a secagem dos grãos. E de outro lado,
constatam-se as evidências da decadência ambiental impressas na paisagem e produzidas
durante o ciclo cafeeiro. Tais evidências são a como ausência da mata original, a presença de
vegetação rasteira e as vertentes com acentuadas formas erosivas.
Abordagem fisiográfica da degradação ambiental no Vale do Paraíba
Pertencentes ao domínio dos Mares de Morro e da Mata Atlântica, a Zona da Mata Mineira e a
porção fluminense do Vale do Paraíba do Sul, forneceram, em princípio, condições ambientais
adequadas ao desenvolvimento da economia cafeeira de meados do século XIX. Na época, em
função do mito de que os terrenos cobertos por mata virgem eram ideais para a agricultura,
essas áreas foram inevitavelmente utilizadas para implantação dos cafezais.
A antiga crença na fertilidade dos solos da região não condiz, entretanto, com as suas
características químicas reais, pois são solos muito desenvolvidos e intemperizados, não sendo
capazes de fornecer todos os nutrientes necessários à planta, já que a maior parte dos minerais
foram lixiviados pelas águas pluviais. As características físicas, contudo, eram favoráveis ao
desenvolvimento agrícola, por serem solos profundos e bem drenados. Além disso, o relevo
forte-ondulado da região, também favoreceu o desenvolvimento da planta por contribuir na
infiltração da água, reduzindo o excesso de umidade superficial que é prejudicial à rubiácea.
Tendo por base uma escala de observação em menor escala, grande parte das terras dos
municípios Três Rios, Sapucaia, Além Paraíba e Chiador, são compostas por solos
pertencentes à classe dos argissolos e dos latossolos. Numa aproximação, verifica-se a
presença de outros tipos de solos, como os Neossolos Flúvicos, encontrados nas margens dos
rios, originados dos sedimentos aluviais.
Os latossolos seguidos dos argissolos são os mais comuns no território brasileiro, sendo,
portanto, os mais utilizados para a agricultura. Os primeiros, embora com características
físicas favoráveis à utilização agrícola, são de baixa fertilidade, por serem muito desenvolvidos
e lixiviados. Os argissolos, embora com melhores características químicas que os latossolos,
são altamente suscetíveis aos processos erosivos. A grande quantidade de argila presente no
horizonte B desses solos, originada por um processo de transporte do horizonte A, é
acumulada na superfície dos agregados impermeabilizando o contato entre os dois horizontes.
17
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Em períodos de chuva, essa impermeabilização gera escoamento superficial no horizonte A e
também no contato entre o A e o B, o que favorece sobremaneira os processos erosivos.
Nesses solos é muito comum a erosão em sulco e a laminar e as acentuadas formas como as
voçorocas, são menos presentes, pois a grande quantidade de argila no horizonte B, impede o
aprofundamento da erosão.
Pelas FIG. 8, 9 e 10, pode ser observado que a maior parte da porção fluminense do Vale do
Paraíba do Sul e da Zona da Mata Mineira está em terrenos de argissolos e em terrenos
declivosos, ambas as características geradoras do aumento do escoamento superficial e
conseqüentemente, de aceleração dos processos erosivos.
Apesar das características pedológicas contribuírem para a acentuação dos processos erosivos,
o substrato geológico da região (FIG. 11) originado, sobretudo de rochas areníticas, não
constitui um facilitador à erosão. Assim, conforme ressaltado por Guerra e Botelho (1998),
para o entendimento do atual quadro de degradação das terras do Vale do Paraíba, a história
da ocupação e do uso do solo da região possui um peso preponderante. Na FIG. 12, são
verificadas as áreas que restaram da vegetação que cobria originalmente a região, a floresta
atlântica, hoje limitada à fragmentos de florestas.
A supressão da vegetação descobrindo os solos, além de ter acelerado a erosão, propiciou o
aparecimento de plantas heliófilas como a Taboa (Typha domingensis), que necessitam de
ambientes ensolarados e são pioneiras em áreas degradadas. Essas plantas são muito comuns
em terrenos inundáveis em toda a região pesquisada (FIG. 13 e 14).
As extensas áreas degradadas pelo plantio inadequado do café, com os seus solos exauridos e
inaptos à produção de novos cafezais foram substituídas por vastas áreas de pastagem, sem
que o ambiente tivesse tempo para se recuperar das conseqüências ambientais desastrosas da
produção cafeeira.
“Esse contraste ainda hoje se mantém ou até melhor se patenteia, pois uma
grande faixa do planalto fluminense e mineiro, onde primeiro se fizeram
plantações de café, só vestígios apresenta dessas culturas, estando
transformadas geralmente em pastagens para a criação de gado.” (RAMOS,
1922:60)
Os resultados da intervenção antrópica para o cultivo do café e, posteriormente, para as
atividades agropastoris, se fazem notar de forma contundente no Vale do Paraíba do Sul.
Hoje, a paisagem da região é constituída por uma cobertura vegetal rasteira e pouco
18
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
diversificada, pela presença de processos erosivos: erosão laminar, concentrada,
voçorocamento, entre outras, além do assoreamento dos cursos d’água e a redução da
disponibilidade de água, conforme pode ser observado pelas FIG. 15 a 20.
19
Figura 8
7600000
Rochedo de Minas
HIPSOMETRIA
AHE Simplício - Queda Única
Leopoldina
Argirita
Maripá de Minas
Chácara
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Santo Antônio do Aventureiro
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UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S
Sumidouro
MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO
Café, Impacto Ambiental e paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
São José do Vale do Rio Preto
Teresópolis
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Nova Friburgo
Petrópolis
700000
710000
16
km
Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009.
Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, SRTM (Embrapa).
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730000
740000
750000
DEZEMBRO - 2009
Figura 9
7600000
Rochedo de Minas
DECLIVIDADES DO RELEVO
AHE Simplício - Queda Única
Leopoldina
Argirita
Maripá de Minas
Chácara
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Santo Antônio do Aventureiro
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7590000
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UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S
Sumidouro
Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009.
Bases cartográficas: IBGE, ANA, SRTM (Embrapa).
MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO
Teresópolis
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Nova Friburgo
Petrópolis
700000
710000
16
km
Café, Impacto Ambiental e paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
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720000
730000
740000
750000
DEZEMBRO - 2009
Figura 10
7600000
Rochedo de Minas
CLASSES DE SOLOS
AHE Simplício - Queda Única
Leopoldina
Argirita
Maripá de Minas
Chácara
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Santo Antônio do Aventureiro
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UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S
Sumidouro
MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO
Café, Impacto Ambiental e paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
São José do Vale do Rio Preto
Teresópolis
o
Nova Friburgo
Petrópolis
700000
710000
16
km
Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009.
Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, Embrapa Solos.
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DEZEMBRO - 2009
Figura 11
7600000
Rochedo de Minas
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AHE Simplício - Queda Única
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UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S
Sumidouro
MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO
Café, Impacto Ambiental e paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
Teresópolis
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Nova Friburgo
Petrópolis
700000
710000
16
km
Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009.
Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, CPRM.
São José do Vale do Rio Preto
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7580000
Mar de Espanha
SP
720000
730000
740000
750000
DEZEMBRO - 2009
Figura 12
7600000
Rochedo de Minas
REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA
AHE Simplício - Queda Única
Leopoldina
Argirita
Maripá de Minas
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Santo Antônio do Aventureiro
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UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S
Sumidouro
MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO
o
Nova Friburgo
Petrópolis
710000
km
Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009.
Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, SOS Mata Atlântica
Teresópolis
700000
16
Café, Impacto Ambiental e paisagem:
uma abordagem interdisciplinar
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690000
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Remanescente de Mata Atlântica
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Santana do Deserto
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Fazenda Boa Esperança
Fr
7580000
Mar de Espanha
SP
720000
730000
740000
750000
DEZEMBRO - 2009
Figura 14: Plantas heliófilas (Chiador, MG)
Figura 15: Erosão laminar e em sulco (Além Paraíba, MG)
Figura 16: Erosão laminar e em sulco (Sapucaia, RJ)
Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Figura 13: Plantas heliófilas (Chiador, MG)
Figura 18: Erosão Laminar em área de pastagem (Sapucaia, RJ)
Figura 19: Voçoroca (Sapucaia, RJ)
Figura 20: Voçoroca (Chiador, MG)
Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Figura 17: Erosão Laminar e drenagem assoreada (Chiador, MG)
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Considerações Finais
A maior parte dos processos erosivos hoje encontrados nas terras das antigas fazendas
cafeeiras é resultante do uso impróprio dos solos para fins agrícolas. A retirada da mata
original eliminou a proteção da terra, que passou a ser intensamente utilizada para agricultura,
desagregando os solos e intensificando a erosão.
As antigas formas de exploração da terra para o plantio dos cafezais reuniram um conjunto de
fatores que culminaram nos prejuízos ambientais hoje identificados. A ausência da proteção
natural dos solos, pela retirada da cobertura vegetal, o plantio morro abaixo e o caráter
extensivo da atividade cafeeira, foram condições altamente nocivas ao ambiente. As águas
pluviais ao encontrarem terras sem proteção, com declividade média e com plantações
perpendiculares à base do morro, acharam as condições propícias ao livre escoamento,
acelerando os processos erosivos e favorecendo a lixiviação dos nutrientes do solo. Além
disso, a utilização de áreas de recarga hídrica no plantio, como nos topos de morro, favoreceu
a redução da disponibilidade de água em função da compactação dos solos e da destruição de
nascentes.
Através da observação em campo e da interpretação de imagem de satélite, é possível perceber
a homogeneidade da cobertura superficial da região. O que se constata é o predomínio de uma
vegetação rasteira e uma reduzida presença de vegetação mais desenvolvida; condições muito
diferentes das originais em uma região de domínio da Mata Atlântica Brasileira.
A FIG. 21 representa a degradação ambiental na região ao longo do tempo. Considerando um
indicador ambiental, o ecossistema da Mata Atlântica encontrava-se em uma situação de certo
equilíbrio natural até a implantação do ciclo cafeeiro. Após a sua instalação, em meados do
século XIX, esse equilíbrio foi rompido, deflagrando uma situação de perda da qualidade
ambiental. Ao fim do ciclo do café, a introdução das atividades agropastoris, acelerou e
acentuou o distanciamento entre a situação de equilíbrio ambiental e a situação de degradação
pós-instalação dos empreendimentos. O quadro ambiental que já se encontrava em uma
situação de declínio da qualidade foi agravado com implantação das grandes áreas de
pastagem.
27
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO VALE DO PARAÍBA DO SUL
Introdução do
ciclo do café
Degradação
ambiental
Indicador ambiental
Introdução das atividades agropastoris
1800
1850
Reduzida interferência antró pica
1900
Intro dução do ciclo do café
1950
2000
(A no s)
Intro dução das atividades agro pasto ris
Figura 21: Representação da degradação ambiental no Vale do Paraíba do Sul.
Adaptado de Sanchez, 2006
Por fim, é importante ressaltar que outras atividades antrópicas introduzidos na região durante
esse mesmo período de análise, como as atividades de mineração e industriais, embora não
tenham sido incluídas nessa representação por não fazerem parte do objeto investigado,
contribuíram e ainda contribuem em grande medida para as atuais condições ambientais da
região. Assim, é fato que o espaço compreendido entre a curva da situação clímax do bioma
da Mata Atlântica e a atual, é ainda maior.
28
Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Referências Bibliográficas
BELLUZO, A. M.M O Brasil dos Viajantes. São Paulo: Objetiva, 2000.
DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Fundação SOS Mata Atlântica & INPE. Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata
Atlântica - Período 2005- 2008. São Paulo, 2009.
GUERRA, A. J. T.; BOTELHO, R. G. M. Erosão dos solos. In: CUNHA, S. B E GUERRA,
A. T. Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
MARQUESE, Rafael de Bivar A paisagem da cafeicultura na crise da escravidão: as
pinturas de Nicolau Facchinetti e Georde Grum. In: I Seminário de História do Café:
História e Cultura Material: Museu Paulista/USP, 2006.
O Brasil de Rugendas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998. Coleção Imagens do Brasil.
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Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar
Impressão: Laboratório de Arqueologia da Fafich/UFMG.
Belo Horizonte, dezembro de 2009.
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Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar