UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. Projeto: Memória e práticas culturais: registro e conservação (Condicionante do IBAMA) Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar AHE SIMPLÍCIO - QUEDA ÚNICA RELATÓRIO FINAL (SINTÉTICO) Laboratório de Arqueologia FAFICH UF Dezembro 2009 G UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. Projeto: Memória e práticas culturais: registro e conservação (Condicionante do IBAMA) AHE SIMPLÍCIO – QUEDA ÚNICA Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar RELATÓRIO FINAL (SINTÉTICO) Laboratório de Arqueologia UF Dezembro 2009 G Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar FICHA TÉCNICA Projeto: Memória e Práticas Culturais: registro e conservação Financiamento: Furnas Centrais Elétricas S.A. Execução: Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Gerenciamento: Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa – Fundep Coordenação Geral: Prof. Carlos Magno Guimarães Subprojeto 5: Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Pesquisadores: Évelin Luciana Malaquias Nascimento Patrícia de Sá Machado 2 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar SUMÁRIO Apresentação 4 Introdução 5 Metodologia 8 Impacto Ambiental no Vale do Paraíba do Sul 11 - Abordagem histórico-arqueológica da degradação no Vale do Paraíba 12 - Abordagem fisiográfica da degradação ambiental no Vale do Paraíba 17 Considerações Finais 27 Referências Bibliográficas 29 3 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Apresentação Este relatório apresenta de forma sintética os resultados do subprojeto: Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar, integrante do Projeto: Memória e práticas culturais: registro e conservação, desenvolvido paralelamente ao trabalho de Salvamento Arqueológico realizado em quatro municípios – Além Paraíba e Chiador, localizados em Minas Gerais, Sapucaia e Três Rios, localizados no Rio de Janeiro – impactados pelas obras do empreendimento AHE Simplício – Queda Única. O estudo da degradação ambiental em quaisquer níveis coloca-se hoje como prioridade básica dada a situação que a mesma atingiu no mundo inteiro. Embora a preocupação com o tema possa ser encontrada em alguns autores, a abordagem arqueológica expressa o viés inovador deste trabalho. O contexto abordado refere-se ao Vale do Rio Paraíba do Sul onde, a partir da segunda metade do século XIX, desenvolveu-se o denominado Ciclo do Café. O ciclo produtivo do café deixou, ao longo dos anos, uma imensa área onde a degradação ambiental é hoje a evidência do custo provocado pelas riquezas ali produzidas. São estas evidências, tratadas em uma perspectiva arqueológica, que este relatório apresenta. 4 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Introdução O presente relatório traz uma abordagem do impacto ambiental provocado pela expansão cafeeira dos séculos XIX e XX no Vale do Paraíba do Sul, mais especificamente nos municípios de Além Paraíba, Chiador, Sapucaia e Três Rios, atingidos pelo AHE SimplícioQueda Única. A abordagem privilegia uma interpretação sobre a perda da qualidade ambiental desses municípios, a partir da análise dos vestígios remanescentes da ação humana, em um processo histórico-econômico específico. Assim, é utilizada como categoria de análise, a paisagem, compreendida como um recorte do espaço, que guarda as marcas da lógica da produção em seus diversos momentos. Segundo Santos (1988), a paisagem é um conjunto de formas heterogêneas, que traz as representações de maneiras de produzir e de construir o espaço ao longo do tempo. No contexto temporal e espacial da presente investigação, essas marcas são os vestígios arqueológicos representativos do ciclo cafeeiro no Vale do rio Paraíba do Sul, tanto no lado mineiro quanto fluminense. Nessa abordagem, o acervo arqueológico é constituído pelos vestígios materiais remanescentes da antiga atividade cafeeira que teve como unidades de produção, as antigas fazendas. Tais vestígios incluem as sedes das fazendas e os equipamentos utilizados no plantio e no beneficiamento dos grãos do café. Além desses, tais vestígios incluem as conseqüências ambientais decorrentes da ação antrópica sobre o ambiente físico, durante o processo de implantação das áreas de monocultura do café. As marcas se estendem, portanto, por todo o território das antigas fazendas. Sendo a paisagem o recorte conceitual e espacial que traz as cicatrizes dos diferentes momentos de produção, é necessário considerar três momentos distintos da apropriação econômica desse ambiente: a) a derrubada da cobertura vegetal original; b) a introdução da monocultura cafeeira; c) a substituição da monocultura cafeeira pela pecuária a partir da crise do café e da exaustão dos solos. 5 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar O primeiro momento, fazendo uso da expressão de Dean (1996), refere-se à chegada da “segunda leva de invasores humanos”1, a partir dos anos de 1500. Desde então, toda a extensão da floresta atlântica, que cobria uma vasta parte do território brasileiro, sofreu algum grau de intervenção, transformando grande parte da Mata Atlântica em florestas secundárias. A FIG. 1 apresenta a extensão original da Mata Atlântica brasileira em 1500. Figura 1: Mata Atlântica em 1500 Fonte: Dean, 1996 Para a região em foco, que contempla uma porção mineira e uma fluminense do Vale do rio Paraíba do Sul, a maior intervenção ocorreu, sobretudo, a partir da segunda metade do século XIX, com o início do “Ciclo do Café”. Áreas dos atuais municípios de Além Paraíba, Chiador, Três Rios e Sapucaia, atingidos pelo AHE Simplício – Queda Única integravam à região de implantação dos grandes cafezais dos séculos XIX e XX (FIG. 2). 1 A primeira leva de invasores refere-se aos primeiros grupos humanos que habitaram a região. 6 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Assim, o segundo momento, datado dos séculos XIX e XX, foi o período onde ocorreram as mais acentuadas formas de interferência na floresta original, para dar lugar às extensas áreas de cafeicultura. Figura 2: Carta de L`Aire à Café Du Brés 1. D`aprés C. F. Van Delden - Laérne. 1884. Fonte: Biblioteca Nacional. O terceiro momento foi caracterizado pela diversificação das atividades econômicas, com predominância das atividades agropastoris, em função das sucessivas crises da economia cafeeira iniciadas a partir do último quarto do século XIX. Exemplos desses três momentos, presentes hoje na paisagem, se mostram com extensões diferenciadas. O primeiro deles, onde a presença da mata atlântica era generalizada, se resume a vestígios de áreas preservadas, transformadas em áreas de preservação permanente (APP), para atender a uma recente legislação ambiental. É o caso dos topos de morros e das margens dos cursos d’água. Essas matas, contudo, embora semelhantes, não trazem as características originais da cobertura primária e nem da fauna que anteriormente as habitou. Do segundo momento, caracterizado pela produção de café com intensa intervenção na paisagem, os testemunhos são as antigas unidades de produção cafeeira, constituídas pelas sedes das fazendas, em ruínas ou ainda edificadas, pelas estruturas remanescentes da atividade 7 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar e associadas às fazendas e pelas antigas áreas de cultivo das unidades produtoras. Dessas áreas estão as cicatrizes da atividade, na forma de degradação ambiental: ausência da mata atlântica original, perda de solos, intenso processo erosivo, diminuição da disponibilidade de água, e assoreamento dos cursos d’água. O terceiro momento, que ainda hoje predomina, é representado pela atividade agropastoril. A região antes coberta pela floresta virgem e posteriormente pelos cafezais, está hoje transformada em áreas de pastagens exploradas por grandes propriedades. Essas áreas herdaram imensos problemas ambientais que se iniciaram com a retirada da vegetação original para o cultivo do café, sem técnicas de manejo do solo, resultando em terrenos com enormes e intensos processos erosivos e com evidências de que sua fertilidade foi esgotada. Metodologia A investigação acerca dos impactos ambientais ocasionados pelas práticas de plantio dos cafezais dos séculos XIX e XX foi realizada a partir de trabalhos de campo, ocorridos no mês de outubro de 2008, tendo como ponto de partida as antigas sedes das fazendas cafeeiras, em ruínas ou ainda em uso, identificadas pelo projeto “Prospecção Complementar e Salvamento Arqueológico na área a ser impactada pelo AHE Simplício – Queda única”, desenvolvido pelo Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Além das fazendas, antes identificadas, relatos orais possibilitaram identificar outras unidades produtoras de café na região em análise, totalizando 25 fazendas do período pesquisado (QUADRO 1, FIG. 3). Foram percorridos os territórios dessas antigas sedes presentes nos quatro municípios atingidos pelo empreendimento (AHE) de Simplício, para observação, interpretação e registro fotográfico das evidências da degradação ambiental. 8 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Quadro 1: Antigas fazendas cafeeiras identificadas durante as pesquisas de campo Fazenda Fazenda Barra do Peixe Fazenda Santa Alda Fazenda Gironda Fazenda Abrigo Fazenda Boa Esperança Fazenda Conceição Fazenda Fortaleza Fazenda Tocaia Fazenda Boa Esperança5 Fazenda Bocaina Fazenda Cachoeira Fazenda Chiquita Marconde Fazenda Cortiço Fazenda do Fundão Fazenda Lordelo Fazenda Monte Café Fazenda Santa Eliza Fazenda Santo Antônio da Boa Esperança Fazendinha Fazenda Palmeira (ruínas) Fazenda Santa Rita (ruínas) Fazenda Bemposta Fazenda Mar de Espanha Fazenda Recreio Fazenda Santana Município Além Paraíba Além Paraíba Além Paraíba Chiador Chiador Chiador Chiador Chiador Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Sapucaia Três Rios Três Rios Três Rios Três Rios Estado MG MG MG MG MG MG MG MG RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ RJ Associado aos trabalhos de campo foi realizado o tratamento dos dados de forma espacial, incorporando-os a um sistema de informações geográficas. Foram trabalhados os planos de informações relativos à topografia, ao solo, à litologia, aos remanescentes florestais, à localização das fazendas e ao atual uso e ocupação do solo. Registros iconográficos da época também foram analisados para ampliar a análise histórica da degradação ambiental na região. 9 Figura 3 7600000 Rochedo de Minas LOCALIZAÇÃO DAS FAZENDAS CAFEEIRAS AHE Simplício - Queda Única Leopoldina Argirita Maripá de Minas Chácara Santo Antônio do Aventureiro Bicas ES MG Guarará Volta Grande Senador Cortes 7590000 Bacia do rio Paraíba do Sul RJ Juiz de Fora Pequeri Além Paraíba 7580000 Mar de Espanha ! ( ( ! (! ! ( ( ! ! ( ( (! ! ( ! ( !! ( ( ! Fazenda Conceição ( ! (! ! ( ! ( ! ( (! ! ( Fazenda Boa Esperança ( ! ! ( (! ! ( ( ! (! ! ( (! ad ( !! ( ! ( P ar a í b ( (! ! ( Rio ! ( ! ! Fazenda do( Peixe 7570000 Santana do Deserto 7560000 Chiador ( (! ! !! ( ( ( ! ( Fazenda Cortiço! ! ( ( ! ( (! ! ( ! ( ! ( Fazenda Chiquita ! ( ! Marconde (! ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ( ! ( ! ( (! ! ( ! ( ! ! ( ! (! ! ( ! ( ! ( (! ! ( ( ( ! ( ! ( ! ( ! ( Fazenda ! ( ! Santa Alda (! ! ( ( ! ! ( ! (( ! ( ! ( (! ! !Fazenda Abrigo ( (! ! ( ( !! ( ( ! Sapucaia Comendador Levy Gasparian ( ! 7550000 Areal Carmo ( ! Antigas Fazendas de Café ( ! Pontos de amostragem da degradação ambiental Municípios investigados Fazenda Bemposta ! ( ( ! (! ( ! ( (! ! ! ( ( ! Mar de Espanha ( (! ! ( Fazenda ! (! (! !! ( ( Fazenda Recreio ( ! ( ! (! ! ! ( (! ( 0 4 8 12 UTM - SAD 69 - Fuso 23 Sumidouro Fazenda Cachoeira Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar Nova Friburgo Petrópolis 710000 km MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO Teresópolis 700000 16 Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009. Bases cartográficas: IBGE, ANA. São José do Vale do Rio Preto Paraíba do Sul 690000 ( ! ( !! ( ( ! ( ! Fazenda Tocaia ( (! ! ! ! ( ( ( ! (! ( ! (( !! ( (! ! ( ! ( ! ( ! ( ( ! !! (( ! ( ! Três Rios ( ! ( Fazenda Bocaina ! ( ! ( ! 680000 ul Oceano Atlântico Fazenda Santana ( (! (! (! ! ( ! ( ( ! !! ( ! ( ( ! ( ! ( ( ! !( ! (! ! ( (! ( ! Fazenda Fortaleza ( ! ( (! ! ( ! ( ! Fazendinha Fazenda Lordelo ( ! ( ! ( ! ( (! (! ! ( ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! (! (! ( ! (! ( ! ( ! (! ! ( ! ( ! ( Ruínas da Fazenda Palmeira ! ( ! ( ! ( ! ( ! ( ! Simão Pereira oS SP 720000 730000 740000 750000 DEZEMBRO - 2009 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Impacto Ambiental no Vale do Paraíba do Sul As alterações na qualidade ambiental de um determinado espaço, dadas pelas modificações de processos naturais ou sociais geradas por ação antrópica, caracterizam uma situação de impacto ambiental (Sanchez, 1996). Essas alterações podem ser de caráter positivo ou negativo. Quando negativo, tem-se uma situação de “degradação ambiental”. Segundo Munn e Wathern apud Sanchez (1996), avaliar o impacto ambiental de um empreendimento significa realizar uma análise preditiva da qualidade ambiental do local, buscando presumir as condições ambientais no futuro em duas situações distintas: com e sem a instalação do empreendimento. Dessa forma, o impacto ambiental seria a diferença entre a qualidade ambiental dessas duas circunstâncias. No caso de retirada de uma vegetação original para instalação de um empreendimento, por exemplo, a avaliação do impacto ambiental deveria prever o futuro do local considerando tanto a situação de clímax da vegetação, quanto à situação posterior a sua supressão. Desenvolvendo uma análise que parte de perspectiva inversa para o Vale do Paraíba do Sul, uma vez que o empreendimento causador de degradação ambiental foco da investigação já foi finalizado, avaliar o seu impacto ambiental consiste em comparar a situação decorrente do impacto, ou seja, a situação atual, com uma provável situação de clímax do ambiente, caso o empreendimento não tivesse existido. No entanto, não há no Vale do Paraíba do Sul um local que possa ser considerado situação clímax, uma vez que o empreendimento, por seu caráter extensivo, devastou toda a cobertura vegetal original. Dados do “Atlas dos Remanescentes Florestais de Mata Atlântica”, produzidos pela “Fundação SOS Mata Atlântica” e pelo “Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais”, informa que a área compreendida pelos municípios aqui focalizados era originalmente coberta pela floresta atlântica. Ao longo do tempo, os municípios sofreram drástica redução da cobertura vegetal original, permanecendo hoje somente algumas áreas fragmentadas. Além disso, os valores apresentados pelo atlas dos remanescentes florestais incluem as formações secundárias em estágio médio e avançado de recuperação, ou seja, não são formações primárias pouco alteradas ou essencialmente recuperadas, fato que indica que os números da devastação são ainda maiores (GRAF. 1 e 2) 11 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Percentual de área remanescente de Mata Atlântica em municípios do Vale do Paraíba do Sul, 2009 Área original e remanescente de Mata Atlântica em municípios do Vale do Paraíba do Sul, 2009 Sapucaia Sapucaia Municípios Além Paraíba Municípios Além Paraíba Chiador Três Rios Chiador Três Rios 0 10.000 20.000 30.000 Área remanescente de mata 40.000 50.000 60.000 Hectare 0 2 4 6 8 Área original de mata Gráfico 1: Área original de Mata Atlântica Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2009 10 12 14 16 % ( do total original) Gráfico 2: Remanescente de Mata Atlântica Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2009 Ao findar o ciclo do café ainda no primeiro quarto do século XX, um novo empreendimento foi implantado: às atividades agropastoris, acentuando ainda mais o quadro de degradação regional. Abordagem histórico-arqueológica da degradação no Vale do Paraíba No Vale do Paraíba do Sul, os impactos ambientais negativos do empreendimento cafeeiro dos séculos XIX e XX, tiveram inicio com a supressão da cobertura vegetal original. Segundo Ramos (1923) os solos onde eram estabelecidos os cafezais eram solos muito profundos e intemperizados, e, necessariamente, onde havia a presença de mata virgem. “Na escolha de um terreno, os agricultores não dão muita importância as suas propriedades físicas e químicas; deixam-se levar pela vegetação dominante, de modo que qualquer terreno, que estiver coberto de mata virgem, no interior dos mesmos, presta-se ao cultivo do cafeeiro. O preparo do solo, com raríssimas exceções, continua a ser feito pelos mesmos processos em pratica nos tempos primitivos. Geralmente as plantações são estabelecidas em terras de mata virgem, cujo preparo resume-se no seguinte: fazem o roçado, a derrubada, a queima e o encoivaramento. Quando há possibilidade ou facilidade de transporte, aproveitam as madeiras de lei” (Ramos, 1923, pag. 230). Para seleção da área da lavoura, muitas vezes os agricultores guiavam-se pela presença de tipos vegetais, denominados de padrões, como bálsamo, páo-álho, cedro branco, palmito branco, ortinguinha, fagada brava, figueira brava, figueira branca, folha larga, cambará, embaúba-verde e criciúma (RANGEL, 1907). Para a escolha das áreas dos futuros cafezais, prevalecia tanto o mito da vestimenta do terreno, ao escolherem as matas virgens, quanto por um saber empírico, ao escolherem terrenos mais acidentados. Escolhido o terreno iniciavam a 12 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar derrubada da mata, conforme a representação de Rugendas do primeiro quarto do século XIX (FIG. 4), e a descrição de Rangel (1907): Enquanto uns, de foices, vão desbravando o terreno, roçando, cortando os pequenos arbustos, os cipós e toda a pequena vegetação, mais ou menos densa, que possa embaraçar o trabalho ulterior, seguem outros, armados de machados, atacando os troncos mais robustos, que as foices não puderam vencer, as grandes e seculares arvores que dominam a floresta. O corte se faz, em geral, a dois ou três palmos acima do solo, e é um espetáculo deveras impressionador vê tombar um desses gigantescos Jequitibás, um desses admiráveis Páos-ferro, Vinhaticos, Perobas, Óleos vermelhos e outros, com um indefinível fragor, que lembra o arruído de ossada a se chocarem, e cujos ecos, vibrando de grota em grota, de canhada em canhada, parecem levar a maldição da floresta contra o orgulho e a teimosia do homem. (Rangel, 1907, pag. 38) Figura 4: Derrubada de uma floresta. Fonte: O Brasil de Rugendas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998. Depois da derrubada das árvores, os galhos eram cortados de forma a facilitar a futura queimada que geralmente era feita no mês de agosto. Hoje, sabe-se que as técnicas utilizadas para a produção cafeeira naquele momento da história do país, foram decisivas para formação do atual quadro de degradação ambiental da região. Sem preocupação com as conseqüências de uma utilização exaustiva dos recursos naturais, as 13 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar áreas de mata virgem eram substituídas pelos cafezais. Segundo Ramos (1922) a cultura do café ocorria de forma extensiva por dois motivos: por um lado para ampliar as plantações existentes, como no caso do território paulista, e por outro, para substituir velhos cafezais improdutivos, como no território mineiro e fluminense. Referindo-se a São Paulo afirma que “Aí, porém, a marcha para o interior, a invasão da mata virgem, tem se feito muitíssimo mais com o propósito de aumentar os cafezais existentes do que, propriamente, para substituir cafezais velhos, improdutivos, conforme se pratica em território mineiro e fluminense.” (Ramos, 1922: 76) A prática extensiva da atividade decretava mais uma ação deletéria da paisagem original. A terra exaurida em pouco mais de trinta anos, demandava a abertura de novas áreas para o cultivo de novos cafezais. Assim, em pouco tempo, a imagem da devastação, foi se espalhando pelo Vale do Paraíba do Sul: Em vez de irem alargando, as áreas cultivadas iam caminhando para o interior do país, mas em larga escala desaparecendo da sua retaguarda, como as chamas de um incêndio, que avançassem crepitantes, por uma floresta, deixando atrás de si vastas extensões, só de cinzas povoadas (Ramos, 1922:60). O preparo do solo para o plantio dos cafezais compreendia operações de roçada, derrubada, queimada, traçado dos carreadores, alinhamento e covagem. A derrubada das árvores era feita de forma total, ou seja, nenhuma árvore deveria ser deixada de pé no roçado. Os terrenos de maior altitude, em função da temperatura mais amena, e os terrenos de inclinação média, que garantiam uma boa drenagem dos solos, eram os preferidos para a implantação dos cafezais. O alinhamento da plantação era realizado perpendicularmente à base da vertente, com o auxílio de cordas marcadas de acordo com o espaço que as plantas deveriam ter entre si. Quase sempre do topo à base do morro, era tirada uma primeira linha sendo as outras traçadas paralelamente, marcando-se com pequenas estacas ou sinais feitos a enxada, os pontos correspondentes a cada cova. Esta técnica foi uma das muitas responsáveis por conseqüências desastrosas para a fertilidade do solo. Se os terrenos inicialmente apresentavam alguma fertilidade, dada pela cobertura superficial humosa da floresta, as práticas agrícolas que antecediam a plantação dos cafezais, tratavam de destruí-la. Esse sistema ambiental, onde a floresta é responsável tanto pela manutenção da superfície orgânica, quanto pela proteção do solo à ação das águas pluviais, ficava altamente comprometido pelos métodos de cultivo adotados. A retirada da floresta, além de deixar a 14 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar terra desprotegida da ação das chuvas, favorecendo fortemente a erosão, aniquilava a fonte de suprimento da matéria humosa, responsável pela fertilidade superficial. Posteriormente, a vegetação derrubada era queimada, destruindo os elementos orgânicos. Para completar o ciclo de destruição, o plantio se dava morro abaixo, ou seja, o alinhamento das covas era traçado de forma perpendicular às curvas de nível, o que favorecia o escoamento laminar e concentrado das águas, provocando diversas formas erosivas e acelerando o processo de assoreamento dos cursos d’água. O plantio morro-abaixo e a erosão do solo podem ser observados em registros iconográficos da época, como nos quadros do pintor italiano, Nicolau Facchinetti, que representou a paisagem da cafeicultura escravista do Vale do Paraíba do Sul nas últimas décadas do século XIX (Marquese, 2006). A FIG. 5 representa a sede da fazenda Santo Antônio2, localizada no município de Sapucaia, Rio de Janeiro, com seu entorno degradado já em fins do século XIX. plantio “morro-abaixo” sistema hidráulico formas erosivas terreiro Figura 5: Fazenda Santo Antônio. Sapucaia, RJ. Pintura de Nicolau Facchinetti, 1880 Fonte: Martins, Carlos; Piccoli, Valéria, 2004. A sede da Fazenda Santo Antônio encontra-se atualmente restaurada. Entretanto, o proprietário da fazenda não autorizou a equipe de arqueologia histórica da UFMG, a visitar a sua sede e o seu entorno imediato. 2 15 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Em outros registros da paisagem da cafeicultura do Vale do Paraíba do Sul, o artista também evidenciou a degradação ambiental pela atividade cafeeira em fins dos oitocentos, como na representação das Fazendas Montalto e Flores do Paraíso, localizadas nos municípios de Piraí (RJ) e Valença (RJ), respectivamente (FIG. 6 e 7). vegetação rasteria cafezal terreiro morro desnudo Figura 6: Fazenda Montalto. Piraí, RJ. Pintura de Nicolau Facchinetti, 1881. Fonte: Beluzzo, A. M. M, 2000. morro desnudo Vegetação rasteira terreiro Figura 7: Fazenda Flores do Paraíso, Valença, RJ. Pintura de Nicolau Facchinetti, 1880 Fonte: Martins, Carlos; Piccoli, Valéria, 2004. Em todas as pinturas constatam-se duas situações distintas nas que se relacionam. De um lado há a opulência da sociedade cafeeira representadas pela imponência construtiva do complexo das fazendas, presente tanto nos edifícios das sedes, quanto nos equipamentos de 16 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar beneficiamento do café - sistemas hidráulicos para transporte, lavagem dos grãos e acionamento de máquinas e dos terreiros para a secagem dos grãos. E de outro lado, constatam-se as evidências da decadência ambiental impressas na paisagem e produzidas durante o ciclo cafeeiro. Tais evidências são a como ausência da mata original, a presença de vegetação rasteira e as vertentes com acentuadas formas erosivas. Abordagem fisiográfica da degradação ambiental no Vale do Paraíba Pertencentes ao domínio dos Mares de Morro e da Mata Atlântica, a Zona da Mata Mineira e a porção fluminense do Vale do Paraíba do Sul, forneceram, em princípio, condições ambientais adequadas ao desenvolvimento da economia cafeeira de meados do século XIX. Na época, em função do mito de que os terrenos cobertos por mata virgem eram ideais para a agricultura, essas áreas foram inevitavelmente utilizadas para implantação dos cafezais. A antiga crença na fertilidade dos solos da região não condiz, entretanto, com as suas características químicas reais, pois são solos muito desenvolvidos e intemperizados, não sendo capazes de fornecer todos os nutrientes necessários à planta, já que a maior parte dos minerais foram lixiviados pelas águas pluviais. As características físicas, contudo, eram favoráveis ao desenvolvimento agrícola, por serem solos profundos e bem drenados. Além disso, o relevo forte-ondulado da região, também favoreceu o desenvolvimento da planta por contribuir na infiltração da água, reduzindo o excesso de umidade superficial que é prejudicial à rubiácea. Tendo por base uma escala de observação em menor escala, grande parte das terras dos municípios Três Rios, Sapucaia, Além Paraíba e Chiador, são compostas por solos pertencentes à classe dos argissolos e dos latossolos. Numa aproximação, verifica-se a presença de outros tipos de solos, como os Neossolos Flúvicos, encontrados nas margens dos rios, originados dos sedimentos aluviais. Os latossolos seguidos dos argissolos são os mais comuns no território brasileiro, sendo, portanto, os mais utilizados para a agricultura. Os primeiros, embora com características físicas favoráveis à utilização agrícola, são de baixa fertilidade, por serem muito desenvolvidos e lixiviados. Os argissolos, embora com melhores características químicas que os latossolos, são altamente suscetíveis aos processos erosivos. A grande quantidade de argila presente no horizonte B desses solos, originada por um processo de transporte do horizonte A, é acumulada na superfície dos agregados impermeabilizando o contato entre os dois horizontes. 17 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Em períodos de chuva, essa impermeabilização gera escoamento superficial no horizonte A e também no contato entre o A e o B, o que favorece sobremaneira os processos erosivos. Nesses solos é muito comum a erosão em sulco e a laminar e as acentuadas formas como as voçorocas, são menos presentes, pois a grande quantidade de argila no horizonte B, impede o aprofundamento da erosão. Pelas FIG. 8, 9 e 10, pode ser observado que a maior parte da porção fluminense do Vale do Paraíba do Sul e da Zona da Mata Mineira está em terrenos de argissolos e em terrenos declivosos, ambas as características geradoras do aumento do escoamento superficial e conseqüentemente, de aceleração dos processos erosivos. Apesar das características pedológicas contribuírem para a acentuação dos processos erosivos, o substrato geológico da região (FIG. 11) originado, sobretudo de rochas areníticas, não constitui um facilitador à erosão. Assim, conforme ressaltado por Guerra e Botelho (1998), para o entendimento do atual quadro de degradação das terras do Vale do Paraíba, a história da ocupação e do uso do solo da região possui um peso preponderante. Na FIG. 12, são verificadas as áreas que restaram da vegetação que cobria originalmente a região, a floresta atlântica, hoje limitada à fragmentos de florestas. A supressão da vegetação descobrindo os solos, além de ter acelerado a erosão, propiciou o aparecimento de plantas heliófilas como a Taboa (Typha domingensis), que necessitam de ambientes ensolarados e são pioneiras em áreas degradadas. Essas plantas são muito comuns em terrenos inundáveis em toda a região pesquisada (FIG. 13 e 14). As extensas áreas degradadas pelo plantio inadequado do café, com os seus solos exauridos e inaptos à produção de novos cafezais foram substituídas por vastas áreas de pastagem, sem que o ambiente tivesse tempo para se recuperar das conseqüências ambientais desastrosas da produção cafeeira. “Esse contraste ainda hoje se mantém ou até melhor se patenteia, pois uma grande faixa do planalto fluminense e mineiro, onde primeiro se fizeram plantações de café, só vestígios apresenta dessas culturas, estando transformadas geralmente em pastagens para a criação de gado.” (RAMOS, 1922:60) Os resultados da intervenção antrópica para o cultivo do café e, posteriormente, para as atividades agropastoris, se fazem notar de forma contundente no Vale do Paraíba do Sul. Hoje, a paisagem da região é constituída por uma cobertura vegetal rasteira e pouco 18 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar diversificada, pela presença de processos erosivos: erosão laminar, concentrada, voçorocamento, entre outras, além do assoreamento dos cursos d’água e a redução da disponibilidade de água, conforme pode ser observado pelas FIG. 15 a 20. 19 Figura 8 7600000 Rochedo de Minas HIPSOMETRIA AHE Simplício - Queda Única Leopoldina Argirita Maripá de Minas Chácara R i o An g Santo Antônio do Aventureiro Bicas u ES MG Guarará Volta Grande Senador Cortes 7590000 Bacia do rio Paraíba do Sul RJ Juiz de Fora Pequeri Além Paraíba Rio Fazenda Santa Alda Fazenda Abrigo B an qu da Có io P es a Pi lõ rr eg rr e M u nd Ca lç a do Rio o ç ad Cal Rio nd Fu go ta B om Ja r C a fé ( ! nc ta Ri R is 501 - 800 301 - 350 ( ! io 451 - 500 251 - 300 S > 801 351 - 400 ( ! Fazenda Recreio ! ( 0 d 4 8 12 UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S Sumidouro MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar São José do Vale do Rio Preto Teresópolis o Nova Friburgo Petrópolis 700000 710000 16 km Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009. Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, SRTM (Embrapa). Có rr e g o do S e ov 690000 an n te 401 - 450 < 250 o Areal 680000 o oM ( ! N Paraíba do Sul o ( ! Rio do Fazenda Cachoeira Três Rios Fazenda Bocaina ( ! b go P ia re R io 7550000 ór ( ! o a lç Altitudes (m) r tã o h an Có C s do Ri ( ! Ca Carmo e rr ( ! im do na a íba ib u P ar ara R io l Su Có Ri Comendador Levy Gasparian R Su l Sapucaia eta go 7560000 ( ! Cursos d'água Fazendinha Fazenda Lordelo ( ! ! ( ( ! ( ! ( ! Ruínas da Fazenda Palmeira ( ! co Fazenda Chiquita Marconde ( ! Chiador ( ! Antigas Fazendas de Café ( ! a ( ! io a do Fazenda do Fundão Ri o S Rio C ág a ( ! ( ! Fazenda Cortiço aí b P ar Fazenda Conceição ão do Simão Pereira R 7570000 Santana do Deserto ( ! Oceano Atlântico ul do S a íba P ar ão ( ! Fazenda Boa Esperança Fr 7580000 Mar de Espanha SP 720000 730000 740000 750000 DEZEMBRO - 2009 Figura 9 7600000 Rochedo de Minas DECLIVIDADES DO RELEVO AHE Simplício - Queda Única Leopoldina Argirita Maripá de Minas Chácara R i o An g Santo Antônio do Aventureiro Bicas u ES MG Guarará Volta Grande Senador Cortes 7590000 Bacia do rio Paraíba do Sul RJ Juiz de Fora Pequeri Além Paraíba Rio Fazenda Chiquita Marconde ( ! Chiador Fazenda Abrigo a io P es a Pi lõ h an ( ! o a lç Rio do Fazenda Cachoeira Ca lç a do Rio o ç ad Cal rr eg M u nd Fazenda Bocaina nd go ( ! nc Montanhoso (> 45%) is ( ! ta Ri R io S ( ! Fazenda Recreio ! ( 0 d 4 8 12 UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S Sumidouro Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009. Bases cartográficas: IBGE, ANA, SRTM (Embrapa). MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO Teresópolis o Nova Friburgo Petrópolis 700000 710000 16 km Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar ov 690000 B om Ja r a fé o Areal 680000 ta te C Forte ondulado (20% a 45%) São José do Vale do Rio Preto N Paraíba do Sul o ( ! Rio Ondulado (8% a 20%) Có rr e g o do S e b ( ! P ia R io 7550000 rr e Suave ondulado (< 8%) r tã o go Ri ( ! Ca an on im re s do Có ór do na Três Rios C a íba ib u P ar ara R io l Su oM ( ! go Có R e rr Fazendinha Fazenda Lordelo ( ! ! ( ( ! Ruínas da Fazenda Palmeira ( ! co a da B Comendador Levy Gasparian Có ( ! Ri Sapucaia uet nq ul do S ( ! ( ! Fazenda Santa Alda Classes de declividade Carmo a ( ! ( ! 7560000 ( ! Fazenda Cortiço aí ba Ri o S Rio C ág a ( ! ar io P Fazenda do Fundão Antigas Fazendas de Café ( ! ão do Simão Pereira R 7570000 Santana do Deserto Fazenda Conceição Fu ( ! ( ! Oceano Atlântico ul do S a íba P ar ão ( ! Fazenda Boa Esperança Fr 7580000 Mar de Espanha SP 720000 730000 740000 750000 DEZEMBRO - 2009 Figura 10 7600000 Rochedo de Minas CLASSES DE SOLOS AHE Simplício - Queda Única Leopoldina Argirita Maripá de Minas Chácara R i o An g Santo Antônio do Aventureiro Bicas u ES MG Guarará Volta Grande Senador Cortes 7590000 Bacia do rio Paraíba do Sul RJ Juiz de Fora Pequeri Além Paraíba Rio Chiador an et qu Sapucaia a da B Comendador Levy Gasparian Có R io P es a Pi lõ rr eg rr e M u nd Ca lç a do Rio o ç ad Cal Rio nd Fu go B om Ja r Latossolo s Neossolo ( ! S ta Ri R io ( ! Fazenda Recreio ! ( 0 d 4 8 12 UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S Sumidouro MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar São José do Vale do Rio Preto Teresópolis o Nova Friburgo Petrópolis 700000 710000 16 km Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009. Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, Embrapa Solos. Có rr e g o do S e ov 690000 a nt ( ! i nc o Areal 680000 a on ( ! N Paraíba do Sul o ( ! Rio do Fazenda Cachoeira Três Rios Fazenda Bocaina ( ! b go P ia re R io 7550000 ór ( ! o a lç Cambissolo r tã o h an Có C s do Ri ( ! Ca oM a fé te C im do na a íba ib u P ar ara R io l Su Argissolo ( ! Ri go 7560000 ( ! Fazenda Santa Alda Fazenda Abrigo Classes Carmo e rr Có Fazendinha Fazenda Lordelo ( ! ! ( ( ! ( ! ( ! Ruínas da Fazenda Palmeira ( ! co Fazenda Chiquita Marconde ( ! Fazenda do Fundão Antigas Fazendas de Café ( ! a ( ! io ( ! ul oS Ri o S Rio C ág a ( ! ( ! Fazenda Cortiço d aí ba P ar Fazenda Conceição ão do Simão Pereira R 7570000 Santana do Deserto ( ! Oceano Atlântico ul do S a íba P ar ão ( ! Fazenda Boa Esperança Fr 7580000 Mar de Espanha SP 720000 730000 740000 750000 DEZEMBRO - 2009 Figura 11 7600000 Rochedo de Minas LITOLOGIA AHE Simplício - Queda Única Leopoldina Argirita Maripá de Minas Chácara R i o An g Santo Antônio do Aventureiro Bicas u ES MG Guarará Volta Grande Senador Cortes 7590000 Bacia do rio Paraíba do Sul RJ Juiz de Fora Pequeri Além Paraíba Rio Fazenda Chiquita Marconde ( ! Chiador Fazenda Abrigo qu da B an es a Pi lõ rr eg M u nd Rio o ç ad Cal Rio nd go B om Ja r ( ! nc Granito, Granodiorito, Quartzo-Diorito is Granito, Monzogranito, Sienogranito, Anfibolito ( ! ta Ri R io S Granitóide ( ! Metagranito Fazenda Recreio ! ( 0 d 4 8 12 UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S Sumidouro MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar Teresópolis o Nova Friburgo Petrópolis 700000 710000 16 km Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009. Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, CPRM. São José do Vale do Rio Preto ov 690000 ta C a fé Charnockito, Paragranulito, Metanorito o Areal 680000 Charnockito, Gnaisse Có rr e g o do S e N Paraíba do Sul o ( ! Três Rios Fazenda Bocaina ( ! b go P ia re R io 7550000 ór ( ! o Fazenda Cachoeira Ca lç a do Anfibolito, Ortognaisse r tã o h an Có C s do Ri ( ! C an n te im do na a íba ib u P ar ara R io l Su Rio o o oM ( ! re ór e rr Fazendinha Fazenda Lordelo ( ! ! ( ( ! Ruínas da Fazenda Palmeira ( ! co Sapucaia eta go io P C d ça al Có ( ! Ri Comendador Levy Gasparian R ul do S ( ! ( ! Fazenda Santa Alda Litologia Carmo a ( ! ( ! 7560000 ( ! Fazenda Cortiço aí ba Ri o S Rio C ág a ( ! ar io P Fazenda do Fundão Antigas Fazendas de Café ( ! ão do Simão Pereira R 7570000 Santana do Deserto Fazenda Conceição Fu ( ! ( ! Oceano Atlântico ul do S a íba P ar ão ( ! Fazenda Boa Esperança Fr 7580000 Mar de Espanha SP 720000 730000 740000 750000 DEZEMBRO - 2009 Figura 12 7600000 Rochedo de Minas REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA AHE Simplício - Queda Única Leopoldina Argirita Maripá de Minas Chácara R i o An g Santo Antônio do Aventureiro Bicas u ES MG Guarará Volta Grande Senador Cortes 7590000 Bacia do rio Paraíba do Sul RJ Juiz de Fora Pequeri Além Paraíba Rio ( ! Chiador Fazenda Abrigo Sapucaia a Có R io P es a Pi lõ Rio do Fazenda Cachoeira Ca lç a do Rio o ç ad Cal rr eg M u nd Fazenda Bocaina nd Fu go ( ! nc is ( ! ta Ri R io S ( ! Fazenda Recreio ! ( 0 d 4 8 12 UTM - SAD 69 - Fuso 23 - S Sumidouro MEMÓRIA E PRÁTICAS CULTURAIS: REGISTRO E CONSERVAÇÃO o Nova Friburgo Petrópolis 710000 km Fontes: Levantamento de campo outubro, 2009. Bases cartográficas: IBGE, ANA, ZEE-RJ, SOS Mata Atlântica Teresópolis 700000 16 Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar ov 690000 B om Ja r a fé o Areal 680000 ta te C São José do Vale do Rio Preto N Paraíba do Sul o ( ! Rio Remanescente de Mata Atlântica Có rr e g o do S e b P ia R io 7550000 a lç Área urbana r tã o go ( ! ( ! o Ca an on im na re Ri ( ! h an Có ór s do ib u Três Rios C a do ara R io a íb P ar l Su oM ( ! rr e Carmo e rr Fazendinha Fazenda Lordelo ( ! ! ( ( ! Ruínas da Fazenda Palmeira ( ! co a da B Comendador Levy Gasparian uet nq Có Ri go 7560000 ( ! Fazenda Santa Alda Fazenda do Fundão ( ! ( ! ( ! Antigas Fazendas de Café ( ! a ( ! Fazenda Chiquita Marconde ( ! ul oS Ri o S Rio C ág a ( ! io d aí ba P ar Fazenda Conceição ão do Simão Pereira ! ( Fazenda Cortiço R 7570000 Santana do Deserto ( ! Oceano Atlântico ul do S a íba P ar ão ( ! Fazenda Boa Esperança Fr 7580000 Mar de Espanha SP 720000 730000 740000 750000 DEZEMBRO - 2009 Figura 14: Plantas heliófilas (Chiador, MG) Figura 15: Erosão laminar e em sulco (Além Paraíba, MG) Figura 16: Erosão laminar e em sulco (Sapucaia, RJ) Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar Figura 13: Plantas heliófilas (Chiador, MG) Figura 18: Erosão Laminar em área de pastagem (Sapucaia, RJ) Figura 19: Voçoroca (Sapucaia, RJ) Figura 20: Voçoroca (Chiador, MG) Café, Impacto Ambiental e paisagem: uma abordagem interdisciplinar Figura 17: Erosão Laminar e drenagem assoreada (Chiador, MG) Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Considerações Finais A maior parte dos processos erosivos hoje encontrados nas terras das antigas fazendas cafeeiras é resultante do uso impróprio dos solos para fins agrícolas. A retirada da mata original eliminou a proteção da terra, que passou a ser intensamente utilizada para agricultura, desagregando os solos e intensificando a erosão. As antigas formas de exploração da terra para o plantio dos cafezais reuniram um conjunto de fatores que culminaram nos prejuízos ambientais hoje identificados. A ausência da proteção natural dos solos, pela retirada da cobertura vegetal, o plantio morro abaixo e o caráter extensivo da atividade cafeeira, foram condições altamente nocivas ao ambiente. As águas pluviais ao encontrarem terras sem proteção, com declividade média e com plantações perpendiculares à base do morro, acharam as condições propícias ao livre escoamento, acelerando os processos erosivos e favorecendo a lixiviação dos nutrientes do solo. Além disso, a utilização de áreas de recarga hídrica no plantio, como nos topos de morro, favoreceu a redução da disponibilidade de água em função da compactação dos solos e da destruição de nascentes. Através da observação em campo e da interpretação de imagem de satélite, é possível perceber a homogeneidade da cobertura superficial da região. O que se constata é o predomínio de uma vegetação rasteira e uma reduzida presença de vegetação mais desenvolvida; condições muito diferentes das originais em uma região de domínio da Mata Atlântica Brasileira. A FIG. 21 representa a degradação ambiental na região ao longo do tempo. Considerando um indicador ambiental, o ecossistema da Mata Atlântica encontrava-se em uma situação de certo equilíbrio natural até a implantação do ciclo cafeeiro. Após a sua instalação, em meados do século XIX, esse equilíbrio foi rompido, deflagrando uma situação de perda da qualidade ambiental. Ao fim do ciclo do café, a introdução das atividades agropastoris, acelerou e acentuou o distanciamento entre a situação de equilíbrio ambiental e a situação de degradação pós-instalação dos empreendimentos. O quadro ambiental que já se encontrava em uma situação de declínio da qualidade foi agravado com implantação das grandes áreas de pastagem. 27 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO VALE DO PARAÍBA DO SUL Introdução do ciclo do café Degradação ambiental Indicador ambiental Introdução das atividades agropastoris 1800 1850 Reduzida interferência antró pica 1900 Intro dução do ciclo do café 1950 2000 (A no s) Intro dução das atividades agro pasto ris Figura 21: Representação da degradação ambiental no Vale do Paraíba do Sul. Adaptado de Sanchez, 2006 Por fim, é importante ressaltar que outras atividades antrópicas introduzidos na região durante esse mesmo período de análise, como as atividades de mineração e industriais, embora não tenham sido incluídas nessa representação por não fazerem parte do objeto investigado, contribuíram e ainda contribuem em grande medida para as atuais condições ambientais da região. Assim, é fato que o espaço compreendido entre a curva da situação clímax do bioma da Mata Atlântica e a atual, é ainda maior. 28 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Referências Bibliográficas BELLUZO, A. M.M O Brasil dos Viajantes. São Paulo: Objetiva, 2000. DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Fundação SOS Mata Atlântica & INPE. Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica - Período 2005- 2008. São Paulo, 2009. GUERRA, A. J. T.; BOTELHO, R. G. M. Erosão dos solos. In: CUNHA, S. B E GUERRA, A. T. Geomorfologia do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. MARQUESE, Rafael de Bivar A paisagem da cafeicultura na crise da escravidão: as pinturas de Nicolau Facchinetti e Georde Grum. In: I Seminário de História do Café: História e Cultura Material: Museu Paulista/USP, 2006. O Brasil de Rugendas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1998. Coleção Imagens do Brasil. RAMOS, Augusto. O Café no Brasil e no Estrangeiro. Rio de Janeiro: Papelaria Santa Helena, 1923. RANGEL, Sylvio Ferreira O Café. In: Séries estatísticas retrospectiva: o Brasil, suas riquezas naturais: indústria agrícola, IBGE, 1986. SÁNCHEZ, Luis Enrique Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1994. 29 Café, Impacto Ambiental e Paisagem: uma abordagem interdisciplinar Impressão: Laboratório de Arqueologia da Fafich/UFMG. Belo Horizonte, dezembro de 2009. 30