UM
Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Pedagogia
Trabalho de Conclusão de Curso
OLHAR
A CONTRIBUIÇÃO DO PEDAGOGO NA EQUOTERAPIA
Autor: Rodrigo Cosme dos Santos
Orientador: MSc. Olimpo Ordoñez Carmona
Brasília – DF
2013
RODRIGO COSME DOS SANTOS
A CONTRIBUIÇÃO DO PEDAGOGO NA EQUOTERAPIA
Artigo apresentado ao curso de graduação em
Pedagogia da Universidade Católica de
Brasília, como requisito parcial para a
obtenção do Título de Licenciado em
Pedagogia.
Orientador: Prof. MSc. Olimpo Ordoñez
Carmona.
Brasília
2013
Brasília
2013
AGRADECIMENTOS
Posso afirmar que não fiz este trabalho sozinho. Muitas pessoas estiveram envolvidas
direta ou indiretamente na construção deste artigo. É hora de agradecer à participação de cada
uma delas. Julgo ser um momento bem difícil, pois não quero esquecer ninguém!
Agradeço, primeiramente, a Deus, que me concedeu a vida e a oportunidade de
melhorar o mundo por meio do meu trabalho e conhecimento. Obrigado, Deus, por todas as
portas abertas, pelas pessoas que o Senhor colocou no meu caminho. Foste tão generoso
comigo! Espero retribuir as graças derramadas, atuando profissionalmente com respeito às
pessoas.
Agradeço à minha família, por me fornecer o apoio. Aos meus queridos pais, Juarez e
Clemência, que muitas vezes dormiram no carro, me aguardando durante os momentos em
que eu estava em sala de aula. Aos queridos irmãos: Aline e Danilo. Aos amigos, em especial,
Ana Paula, Anderson, Flávio, Fagner, Rafael David, Léo, Pedro, William, Samuel, Seiti e
Marcos. Obrigado pelos bons momentos, risadas e por me fazerem uma pessoa melhor!
Aos amigos de sala de aula: Áurea, Maryla, Maria da Guia e Rafael, por terem sido
companheiros na realização dos meus trabalhos de grupo nos finais de semana, trocando
emails. Aos amigos e colaboradores do Serviço de Orientação Inclusiva (SOI), pois estiveram
comigo desde o primeiro dia em que coloquei meus pés na Universidade Católica de Brasília.
A todos os profissionais do Centro de Equoterapia do Regimento Montado da Polícia Militar
(RPMON) do Distrito Federal, onde me despertou a vontade de realizar a pesquisa sobre a
temática. Aos professores Letisson, Ulisses e companheiros de trabalhos da Associação
Centro de Treinamento de Educação Física Especial (CETEFE). Ao Felipe e Dhiogo do
Tribunal Regional Federal da Primeira Região Maria Landino.
Aos meus queridos professores, em especial, aos das Séries Iniciais, Ensino
Fundamental, Ensino Médio e Sala de Recursos da graduação, que souberam ser verdadeiros
educadores neste processo, não se restringindo apenas à transmissão de conhecimento técnico,
sendo profissionais comprometidos com a formação ética.
Em especial, ao meu orientador, Professor MSc Olimpo Ordoñez Carmona, obrigado
pelo respeito com que orientou meu trabalho durante todo o ano, pela paciência e dedicação!
Ao Professor MSc. Rubens e às professoras MSc. Deliene e Simone Gontijo, minha eterna
admiração e gratidão a vocês. Em cada um de vocês, encontro características que me fazem
querer ser o melhor pedagogo que eu puder. Obrigado!
Enfim, a todos que colaboraram para a realização deste estudo. Muito obrigado!
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A CONTRIBUIÇÃO DO PEDAGOGO NA EQUOTERAPIA
RODRIGO COSME DOS SANTOS
Resumo: O presente trabalho discorre sobre a contribuição do pedagogo na equoterapia,
tendo como objetivos identificar a atuação do pedagogo no processo equoterápico; verificar
quais atividades práticas da equoterapia favorecem o biopsicossocial do praticante com
deficiência física; e relatar os benefícios obtidos com a prática da equoterapia no Centro de
Equoterapia do Regimento da Polícia Militar (RPMON) do Distrito Federal. Para tal, foram
entrevistados cinco profissionais da área de educação, sendo duas pedagogas e psicólogas, um
professor de educação física e pedagogo e duas pedagogas. Como método, foi utilizada a
entrevista semiestruturada composta pela pergunta norteadora. Os resultados apontam para a
presença mediadora do pedagogo no contexto do ambiente do Centro de Equoterapia do
RPMON-DF. A pesquisa possibilitou a observação e reflexão a respeito da educação especial,
com foco na participação do pedagogo na contribuição em áreas da equoterapia no processo
de habilitação e reabilitação que, por meio da educação, contribuem para o resgate social e
físico da pessoa com deficiência. O processo de ensino e aprendizagem vai além das
abordagens realizadas nas salas de aula, a equoterapia serve como um complemento no
processo educacional realizado com profissionais do Centro de Equoterapia, em parceria com
a família e a escola, com a visão de oportunizar momentos de inclusão com qualidade de vida.
Palavras-chave: Equoterapia. Pedagogo. Praticante. Habilitação. Reabilitação.
1 INTRODUÇÃO
A equoterapia é um método terapêutico e educacional realizado dentro de um contexto
interdisciplinar, que utiliza como instrumento de reabilitação o cavalo, abordando as áreas de
saúde, educação e equitação, que buscam o desenvolvimento biopsicossocial da pessoa com
deficiência, principalmente as que precisam melhorar a postura corporal. Segundo Prado
(2001, p. 125, apud BASTANI, 2011, p.10),
a equoterapia é um tratamento que propicia o desenvolvimento dos aspectos
motores, como a coordenação motora, a postura, o ritmo, a flexibilidade, o
equilíbrio, aumentando o tônus muscular, além de desenvolver os aspectos
psicopedagógicos e emocionais de forma descontraída e lúdica, em contato com a
natureza, sendo diferente de ambientes como as clínicas e consultórios.
Nesse sentido, a proposta da equoterapia relatada pelo autor demonstra ganhos
significativos no esquema corporal e emocional. O método equoterápico habilita e reabilita a
pessoa com deficiência física por meio das atividades.
O pedagogo especialista nessa área do saber adquire as bases fundamentais que
contribuem para o processo de habilitação e reabilitação por meio da equoterapia. Contudo,
durante a formação no curso de pedagogia, foi observado pelo pesquisador que, em relação à
educação especial e inclusiva, os estudantes do curso recebem os seguintes conhecimentos
básicos: os principais teóricos da área, o curso básico de Libras e a importância deste tema na
formação profissional. Porém, o mercado de trabalho é extenso e não se resume à prática
pedagógica em sala de aula.
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Um dos lugares possíveis de atuação do pedagogo são os Centros de Equoterapia.
Neste aspecto, o presente estudo tentará mostrar as contribuições que o educador considera
fundamental para a aquisição da autonomia do deficiente físico, visando contribuir para o
processo de habilitação e reabilitação, pois o profissional utilizará os conhecimentos obtidos
de forma interdisciplinar.
Na busca pelo aperfeiçoamento profissional, o pedagogo poderá promover
intervenções nos Centros de Equoterapia, com atividades lúdicas, reconhecendo a relevância
no processo de reabilitação – física, intelectual, social, psicológica – de uma pessoa após o
diagnóstico de uma doença ou lesão motora.
No Decreto nº 3.298 de 1999, da legislação brasileira, há o conceito de deficiência,
inclusive de deficiência física, conforme segue no Art. 3º: “Considera-se: I – Deficiência –
toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica
que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal
para o ser humano”. E no Art. 4º que determina Deficiência Física como “[...] alteração
completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física e neurológica” (HONORA, FRIZANCO, 2008, p. 29).
Diante do exposto, este artigo tem como objetivos: identificar a atuação do pedagogo
no processo equoterápico da pessoa com deficiência física; demonstrando sua importância no
processo de reabilitação e habilitação; verificar quais atividades práticas da equoterapia
favorecem o biopsicossocial do praticante com deficiência física; e relatar os benefícios
obtidos por meio da prática no Centro de Equoterapia do Regimento da Polícia Militar do
Distrito Federal, para tal, será descrito também como é a relação do pedagogo com os
praticantes.
2 METODOLOGIA DE PESQUISA
2.1 PESQUISA QUALITATIVA
Para atingir os objetivos propostos, foi realizada a pesquisa qualitativa, aquela que tem
caráter exploratório, isto é, estimula os questionados a pensarem sobre algum tema, conceito e
objeto, mostrando aspectos subjetivos, atingindo motivações não explícitas, ou mesmo
inconscientes, de maneira espontânea. A esse respeito, Alves-Mazzotti explica que essa
metodologia:
é utilizada quando se busca percepções e entendimento sobre a natureza geral de
uma questão, abrindo espaço para a interpretação. Uma pesquisa indutiva, isto é, o
pesquisador desenvolve conceitos e ideias e entendimentos a partir de padrões
encontrados nos dados, ao invés de coletar dados para comprovar teorias, hipóteses e
modelos pré-concebidos. (ALVES-MAZZOTTI, 2001, p. 203).
Assim, por meio das respostas dos entrevistados, foi possível verificar qual a
contribuição do pedagogo no processo de inserção social do praticante de equoterapia,
identificando a participação daquele na atuação junto à equipe multidisciplinar para
compreender e intervir nos processos de aprendizagem e interação social, tanto em relação ao
educando quanto à família, bem como na orientação da interação da equipe para o
atendimento psicossocial.
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2.2 INSTRUMENTOS DE PESQUISA
Um questionário é um instrumento de investigação que visa recolher informações
baseando-se na aquisição de um grupo representativo da população em estudo. Abrange um
tema de interesse para a investigação, não havendo interação direta com os respondentes.
Desse modo, por meio da aplicação de um questionário a um público alvo, é possível recolher
informações que permitam conhecer melhor as lacunas, bem como melhorar as metodologias
de ensino, podendo individualizar o ensino quando necessário.
Dessa forma, a pesquisa foi realizada por meio de questionário, com perguntas
semiestruturada, com pedagogos que atuam na equoterapia. O local de pesquisa foi o Centro
de Equoterapia do Regimento de Polícia Montada do Distrito Federal.
Além do questionário, foram utilizados também autores que tratam do trabalho do
pedagogo na equoterapia para dar embasamento teórico a esta pesquisa.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
A pesquisa aborda um dos meios de contribuição do pedagogo no processo de
habilitação e reabilitação da pessoa com deficiência, por meio da equoterapia. Segundo
Medeiros (2002, p. 8),
a equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de
uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando
o desenvolvimento biopsicossocial de sujeitos com deficiência ou com necessidades
especiais.
A necessidade de perspectivas que retomam as possibilidades dos sujeitos com
deficiência é visada por Medeiros no método terapêutico, que retrata uma visão ampla diante
da diversidade.
Além desse método terapêutico, a intervenção de atores sociais é de suma importância
para o desenvolvimento biopsicossocial desses sujeitos. Neste caso,
a família e a escola são as principais instituições cuja principal função é inserir o
praticante a quem lhes foi confiado. Apesar de instituições antigas, elas não se
definem as mesmas ao longo dos tempos. Com o decorrer da história houve
mudanças significativas na estrutura familiar nuclear e na forma em que a pedagogia
passou a compreender a relação professor/aluno. (SZYMASNKI, 2002, p. 225).
Dessa forma, a escola e a família também possuem funções importantes no contexto
escolar e familiar para aprimorar as relações no processo de autonomia do praticante de
equoterapia. Assim, o Centro de Equoterapia é um apoio ao processo de inserção social e à
busca do aperfeiçoamento funcional.
Segundo o documento de fundamentos e bases da equoterapia (ANDE-BRASIL, 2008,
p.85), em 9 de abril de 1997, ocorreu o reconhecimento da equoterapia, pelo Conselho
Federal de Medicina (Parecer nº 06/97), como método terapêutico de reabilitação motora. E
em 1999, foi realizado o Primeiro Congresso Brasileiro de Equoterapia. Atualmente, a prática
é feita em mais de trinta países. Neste contexto, o Brasil conta com a Associação Nacional de
Equoterapia (ANDE), uma instituição beneficente, fundada em 1989, localizada na Granja do
Torto, Brasília-DF.
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A Constituição Federal de 1988 e a Declaração de Salamanca de 1994 prevêm uma
educação reabilitadora para as crianças com necessidades educacionais especiais e inclusivas,
uma pedagogia diferenciada que contribua no resgate das potencialidades do educando. É uma
tarefa a ser dividida entre pais e profissionais, uma atitude positiva da parte dos pais que
favorece a integração escolar e social e a educação de qualidade, contribuindo no avanço das
condições de melhoras na saúde para obter o bem-estar social.
A equoterapia pode contribuir nesse avanço, pois, segundo documento da ANDEBRASIL (2008, p. 85), esse método terapêutico é constituído por quatro programas básicos:
hipoterapia; educação e reeducação equestre; pré-esportiva; e esportiva, visando assim
diminuir as necessidades e aumentar as potencialidades do praticante, de acordo com a
finalidade do programa em que ele está inserido.
Praticante de equoterapia é o termo utilizado para denominar o sujeito com deficiência
ou com necessidades especiais que participa da atividade equoterápica. O sujeito do processo
também participa de sua reabilitação, na medida em que interage com o cavalo.
O auxílio dos princípios da equitação básica na pedagogia favorece a motivação do
praticante que, para montar, necessita da conservação do equilíbrio estático e dinâmico por
meio de movimentos combinados, sem interferência da força física, para se manter montado
no cavalo de modo confortável.
Ao surgir uma relação de confiança entre o animal e o praticante, os estímulos
positivos são fortalecidos. Por esse motivo, pode-se trabalhar o equilíbrio, o tronco, a postura,
a distinção de lateralidade. Os movimentos realizados pelo cavalo transmitem ao praticante a
superação de barreiras, como medo e insegurança, incrementando a autoconfiança e
autoestima do praticante.
Na educação especial e inclusiva, a equoterapia pode se apoiar no processo
educacional dos educandos com deficiência física. Para criança com disfunções da memória, a
ato de cavalgar ajuda muito, pois exige o planejamento e a criação de estratégias que são
memorizadas progressivamente, auxiliando na aquisição e no desenvolvimento das funções
psicomotoras, proporcionando a aprendizagem e o desenvolvimento de cognições de ordem
superior.
Enquanto anda a cavalo, o praticante desenvolve habilidades e atitudes conceituais
diversas, permitindo a manutenção de um comportamento social adequado, durante a
atividade em grupo na equitação. Essas aquisições são conhecidas como cognição social, do
processo de ensino e aprendizagem,sendo contribuição do pedagogo a relalização de
atividades que favoreçam a interação social .
Os atendimentos podem ser realizados em áreas cobertas nos picadeiros ou ao ar livre
em contato com a natureza, realizando atividades simples com o praticante. Por exemplo,
deixando-o em pé sobre o animal, com ajuda do guia e do professor na lateral, assim o
praticante pode tentar pegar na folha de uma árvore, possibilitando desenvolver habilidades
do equilíbrio, da locomoção, da postura. Uma vez que ter contato com o meio ambiente
quando se encontra no nível educação e reeducação contribui para o desenvolvimento das
seguintes habilidades no processo de ensino e aprendizagem: em níveis cognitivos, o saber,
em relação à psicomotrocidade, o saber fazer; e à afetividade, saber ser.
3.1 FASES DA EQUOTERAPIA
Para entender melhor o processo da equoterapia, a seguir serão descritas as fases que
envolvem este processo, como mostra Medeiros (2002, p.39 ).
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1.
Hipoterapia: programa que se caracteriza pela incapacidade física ou/
mental do praticante em se manter sozinho sobre o cavalo. É necessário um
terapeuta montado junto com o praticante dando-lhe segurança, como em alguns
casos, acompanhando-o a pé ao seu lado, dando-lhe apoio no montar.
2.
Educação e Reeducação: programa da área de reabilitação em que o
praticante já apresenta condições de ficar sozinho no cavalo, conseguindo interagir
com o animal. Portanto, depende menos do terapeuta que não mais monta junto,
somente o acompanha lateralmente. O cavalo continua propiciando benefícios pelo
seu movimento tridimensional e multidirecional e o praticante passa a interagir com
mais intensidade. Os exercícios realizados neste momento são tanto na área
reabilitativa como da área educativa.
3.
Pré-Esportiva: o praticante tem boas condições para atuar e conduzir o
cavalo sozinho, podendo participar de exercícios específicos de hipismo. Ele passa a
exercer maior influência sobre o animal, que é utilizado como instrumento de
inserção social, podendo ser aplicado nas áreas reabilitativa e educativa. Devido às
patologias, esta fase não é alcançada por todos os participantes.
4.
Esportiva: quando o praticante apresenta condições avançadas para deixar de
ser praticante e tornar-se atleta de alto rendimento, sendo inserido na escola de
equitação, e apresenta possibilidade de chegar ao hipismo paraolímpico se torna um
atleta de alto rendimento potencial.
A atuação do pedagogo nos Centros de Equoterapia é importante, pode-se observar a
realização de um trabalho interdisciplinar tendo a participação de profissionais, como
educador físico, psicólogo, guia, assistente social, zelador, fisioterapeuta e veterinário, que
visam desenvolver habilidades da psicomotrocidade, do raciocínio-lógico, de perspectivas
motoras e sensórias do praticante.
Aqui é importante ressaltar a figura do pedagogo, que segundo Libâneo (1998, p. 109),
“[...] é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou
indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação ativa de
saberes e modos de ação, tendo em vista objetivos de formação histórica”.
Nessa concepção, o papel do pedagogo é uma prática que caminha em parceria com os
profissionais inerentes às necessidades do praticante de forma interativa. De acordo com a
ANDE-BRASIL (2008), o pedagogo nos Centros de Equoterapia pode fazer parte da equipe
multidisciplinar, que tem como objetivo propiciar situações que encaminhem à utilização dos
recursos disponíveis durante as sessões de equoterapia para as atividades escolares, utilizando
o lúdico na seleção dos materiais pedagógicos, para auxiliar no processo de ensino e
aprendizagem, permitindo direcionar as atividades de acordo com as necessidades de cada
praticante.
Assim, a equoterapia busca valorizar o jogo, oferecendo aos praticantes variações e
adaptações durante as sessões, objetivando momentos de descontração, lazer e aprendizagem,
possibilitando que eles se expressem através de suas emoções.
Além disso, Cudo (1996) acrescenta que cavalgar atua como mediação, por meio da
aceitação e comunicação não verbal, sinalizando para o praticante com necessidades especiais
que é possível, apesar de limitações, descobrir que ele possui possibilidades que servem para
alcançar e iniciar novas metas, podendo desempenhar seu papel no meio social.
A socialização permite ao praticante vencer a cada dia suas limitações de forma
significativa, valorizando as conquistas cotidianas. Para contextualizar as demandas que são
essenciais à realidade vivenciada de cada sujeito, Fonseca relata:
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[...] que todos os sujeitos são capazes de aprender a aprender, é possível também nos
deficientes, por mais condições adversas que se levante, o organismo humano é um
sistema aberto e sistêmico e, como tal, a inteligência só pode ser concebida como
um processo interacional (Fonseca 1995, apud Maria Teresa p.25).
A interação no processo de ensino e aprendizagem nos procedimentos de equoterapia
oportuniza aos deficientes potencializarem a capacidade de aprender na prática. Desse modo,
a equoterapia desenvolve práticas pedagógicas para o praticante na interação social, com base
na família, com a aplicação de técnicas pedagógicas aliadas aos métodos terapêuticos, para
fins socioeducacionais, visando neste aspecto apresentar a relevância da presença do
pedagogo nos Centros de Equoterapia; pois, este lida com as organizações de fatos, contextos
e situações referentes à prática educativa em suas modalidades e manifestações.
Agora, referente à reabilitação, de acordo com o Decreto nº 3.298/99, Art. 31,
“entende-se por reabilitada a pessoa que passou por processo orientado a possibilitar que
adquira, a partir da identificação de suas potencialidades laborativas, o nível suficiente de
desenvolvimento e participação na vida social adequada e compatível com a sua limitação”.
Os processos de habilitação e reabilitação para a pessoa com deficiência, conduzindo a
capacidade de saber e fazer, são ações que possibilitam a vida autônoma social do sujeito
deficiente. A reabilitação é um processo global e dinâmico orientado para a recuperação física
e psicológica e tem um conceito amplo. A reintegração social da pessoa com deficiência não
se resume apenas ao tratamento nas clínicas de fisioterapia, pois apresenta uma abrangência
envolvendo saúde e educação.
Dessa forma, é importante ainda a reintegração do sujeito por meio da equoterapia,
uma vez que esta traz benefícios. Também, a criação de uma relação de amizade e confiança
com os profissionais envolvidos e a relação afetuosa e de respeito com o cavalo transmitem ao
praticante diversos estímulos. Por esse motivo, pode-se trabalhar o equilíbrio, o tronco, a
postura, a distinção de lateralidade.
Os movimentos realizados pelo cavalo transmitem ao praticante a superação de
barreiras como medo e insegurança, incrementando sua autoconfiança e autoestima. Enquanto
o sujeito anda a cavalo, desenvolve habilidades e atitudes conceituais diversas, melhorando a
manutenção de suas aquisições e comportamentos.
Os procedimentos equoterápicos só poderão ser executados após indicação médica e
realização de avaliações do fisioterapeuta e do psicólogo para que, juntamente com o
pedagogo e os educadores físicos, se organizem para o atendimento equoterápico
individualizado.
O trabalho da equipe interdisciplinar pressupõe interligar os conhecimentos
específicos de cada área, levando em consideração as particularidades de seus praticantes na
escolha do animal para a realização de um trabalho eficaz.
Os cavalos do Centro de Equoterapia do RPMON do Distrito Federal são comprados
ou nasceram na instituição, passam por avaliação de profissionais e veterinários da Polícia
Militar do DF para conferir se apresentam todas as habilidades necessárias para equoterapia.
Segundo o Decreto nº 4.284, v de 4 de agosto de 1978, que regulamenta a Lei de Organização
Básica da PMDF no artigo 4º, “a escolinha de equoterapia será destinada a esta atividade, os
animais que apresentem aptidões físicas e temperamento dócil, que depois de selecionados e
devidamente adestrados serão empregados nessas atividades” (2007).
Na equoterapia, para traçar um caminho de um atendimento de qualidade aos
praticantes, leva-se em consideração alguns pré-requisitos básicos, para aquisição dos animais
que farão parte do Centro de Equoterapia. O adestrador observa as características necessárias
no intuito de buscar a construção de um vínculo entre o animal e o praticante.
Nesse sentido, para Amorim (2010, p.93), o cavalo adequado para a realização da
prática de equoterapia deve ter os seguintes requisitos gerais:
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
Demonstrar obediência voluntária quando a pessoa se aproxima dele; neste
caso, manter a cabeça baixa, aceitando carinho; aceitar interações diversas, respondendo e
mantendo boa atenção; responder a sinais diversos, engajando-se física e psiquicamente
durante o trabalho.

Controlar as reações instintos: segurança e sanidade; aceitar vozes de
comandos pela voz, uso de palavras-chave; aceitar e responder ao uso de instrumentos
sonoros, sinais, sons diversos, adestrando bilateralmente; ser aprovado no exame físico
(lateral, anterior, posterior, dorso e pelagem) e no exame do passo, trote, galope e estático.

Responder bem às regularidades, simetrias, ritmos, defeitos dos movimentos:
execução em linha reta, série de linhas que formam entre elas ângulos alternativamente
salientes e reentrantes em círculos, para a direita e para a esquerda.

Ser aprovado no exame de flexibilidades do pescoço, da coluna vertebral da
cauda, das articulações dos quatro membros; responder bem aos exames de todas as
características com o cavaleiro montado.
Logo após a escolha do animal, pode-se estabelecer um plano de tratamento na visão
pedagógica: planos de aulas, possibilitando que os objetivos sejam alcançados, utilizando a
interação com o meio, para despertar as inteligências múltiplas.
3.2 O DESENVOLVIMENTO DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS POR MEIO DA
EQUOTERAPIA
De acordo com Howard Gardner (1995,p.298), “cada ser humano pode ter e
desenvolver diversas inteligências”. As inteligências múltiplas permitem identificar o
potencial de uma pessoa nas mais diversas áreas, como a corporal, musical, espacial,
interpessoal, intrapessoal, naturalista e existencialista. Na prática da equoterapia, os
praticantes colocam e desenvolvem alguns tipos de inteligência como, por exemplo:
Inteligência linguística: permite que os praticantes desenvolvam habilidades
diferenciadas de leitura de mundo, na medida em que transmitem as mensagens, de acordo
com as situações do seu cotidiano de convivência, de maneira que faça sentido para ele
mediante a fala, a escrita, o diálogo, a leitura, a linguagem de sinais e a expressão corporal.
Inteligência musical: possibilita que os praticantes criem situações de comunicação e
compreendam os significados contidos em sons e ruídos, durante a equoterapia. Elem ouvem
os sons do meio, como o canto dos pássaros, os sons dos cavalos e das atividades que utilizam
com instrumentos musicais.
Inteligência espacial: permite que praticantes recebam informações visuais e
espaciais, recriando e produzindo imagens visuais na memória. As pessoas com deficiência
visuais desenvolvem esta habilidade em alto nível.
Inteligência cinestésica-corporal: possibilita que os praticantes utilizem todo o
corpo, ou parte dele, para ser desenvolvido durante as atividades e solucionar problemas. Os
executores de atividades físicas, os profissionais do esporte e os atletas desenvolvem esta
inteligência de forma habilidosa.
Inteligência interpessoal: permite que o praticante analise, reconheça e faça
distinções do seu comportamento, antes, durante e após a equoterapia, em relação aos
sentimentos, às emoções, aos afetos e às disposições.
Inteligência intrapessoal: possibilita que os praticantes observem seus sentimentos
próprios e aprimorem os modelos mentais, avaliando suas reações em suas decisões pessoais.
Inteligência naturalista: permite que praticantes comparem, classifiquem e utilizem
as características do ambiente. O convívio com o meio ambiente onde eles fazem a prática
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terapêutica vai potencializar a capacidade de reconhecer os elementos que intervêm nos
locais, como por exemplo: ferramentas, tipo de solo, grama e alimentação dos animais.
Diante do exposto, a organização do ambiente, onde ocorre a equoterapia, é
fundamental para o bom êxito do aprendizado e segurança do praticante. Nessa concepção, o
desenvolvimento do sujeito integra a necessidade de superação por meio de atividades que
vão evoluindo progressivamente.
Segundo Vygotsky (1991), os vários tipos de instrumentos facilitam o
desenvolvimento de estímulos para a produção do conhecimento que agem como agentes
motivadores. Na equoterapia a comparação construída, na fala de Vygotsky, é que os
movimentos realizados pelo cavalo transmitem ao praticante diversos estímulos, podendo
trabalhar o equilíbrio, a postura, a distinção de lateralidade, o esquema corporal,
psicomotricidade e outras aquisições.
Além disso, de acordo com Severo (2010, p.30)
[...] o processo de ensino aprendizagem é realizando com atividades diferenciadas
para desenvolver a inteligência linguística: trabalha-se com a percepção visual, o
vocabulário, atenção seletiva com leituras das palavras pregadas em mural do
picadeiro, utilizados diariamente no método da equoterapia e imagens, perguntando
o significado do objeto como: rédea, estribo e alfafa que é utilizada na alimentação
do cavalo.
A ampliação do vocabulário no contexto familiar é algo que ocorre com a participação
do praticante na equoterapia, pois a socialização permite a interação nas relações interpessoal
e intrapessoal.
Os recursos inovadores para cada praticante e as metodologias diferenciadas de
acordo com a realidade de cada praticante possibilitam o desenvolvimento de novas
habilidades que na educação convencional são colocadas como impossíveis, como o
reconhecimento de sons, noções espaciais, coordenação motora (SEVERO, 2010,
p.314).
A respeito da maneira como desenvolver essas inteligência, Severo (2010) ensina
que para desenvolver a inteligência musical, com o objetivo de estimular a percepção auditiva
e a atenção, pode-se propor atividades como, por exemplo, construir um circuito de tambores,
no qual cada praticante identifique os ritmos, timbres, tons, ruídos, emitidos por diversos
instrumentos: agudos e graves. Primeiramente, a atividade pode ser realizada com o praticante
montado no animal; logo após, realiza-se a mesma atividade com o mesmo trajeto, a pé na
ordem direta e na ordem inversa.
Para estimular a orientação espacial, formas geométricas, noção de limites, tempo e
espaço, música e ritmo, ao ar livre, pode-se desenhar formas geométricas (triângulo, círculo,
quadrado), sinalizando o local para os praticantes colocarem o animal dentro da forma
geométrica indicada e o lado em que se encontram a formas geométricas do lado direito ou
esquerdo. Explorando, assim, a inteligência cinestésica-corporal, com o desenvolvimento da
coordenação motora, orientação espacial e temporal, como contar e cantar. Também a cavalo,
o praticante realiza arremessos com a mão direita e com a mão esquerda. Pega a bola com a
mão direita, passa por trás do corpo e a arremessa com a esquerda e vice-versa (SEVERO,
2010).
Para incentivar a aprendizagem da inteligência interpessoal, que contribui para o
desenvolvimento social, pode-se realizar uma gincana a cavalo. Desse modo, em cada
estação, o praticante demonstra e observa os contornos dos rostos masculinos e femininos, em
folhas de cartolina, e o instrutor dá nomes aos personagens e conta uma história sobre eles.
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Ainda pode pedir ao praticante que desenhe as expressões de acordo com a situação vivida: de
alegria, tristeza, choro, dor ou indiferença (SEVERO, 2010).
Para promover o desenvolvimento intrapessoal, o praticante responde perguntas
simples sobre seu estado de ânimo em uma situação criada pelo instrutor durante um passeio
ao ar livre, pode-se perguntar àquele o que ele mais gosta; o que acha interessante; o que é
capaz de fazer sozinho; dessa maneira, é possível avaliar o controle de emoções do praticante
para dialogar, em atividade em grupo (SEVERO, 2010).
Para estimular o desenvolvimento da inteligência naturalista, ao realizar um passeio ao
ar livre a cavalo, o praticante pode colecionar folhas, flores, frutos, ficando em pé para pegar
e ter contato, demonstrando a importância da vivência (SEVERO, 2010).
O significado de cada momento na equoterapia necessita de uma retomada no processo
de avaliação que ocorre de forma progressiva, valorizando cada avanço de forma dialógica e
emancipatória.
Para Libâneo (1994), frente à definição de avaliação processual, uma vez que ela se
constitui em uma expressão do cotidiano da vida do praticante, inserida de forma global,
permitindo identificar os fracassos e êxitos dos praticantes, bem como a atuação do professor
para iniciar as modificações necessárias para a melhoria contínua do processo de ensino e
aprendizagem.
Nesse contexto, a primeira avaliação a ser realizada na equoterapia é a diagnóstica
para identificar as condições do praticante, o espaço, os recursos a serem utilizados no
decorrer dos procedimentos da equoterapia, por meio do processo de ensino e aprendizagem
que facilitará o desenvolvimento do método terapêutico.
Na visão de Severo (2010, p. 307), a “avaliação centrada na aprendizagem avalia e
mede o desenvolvimento das funções da aprendizagem como reflexão para o uso das
ferramentas”. Essa avaliação envolve tanto praticante como os profissionais da equipe
multidisciplinar da equoterapia.
Para esta pesquisa, durante a realização dos métodos terapêuticos, foi apresentada
como proposta a avaliação qualitativa, juntamente com os profissionais da equipe
multidisciplinar, lembrando a importância do papel de cada um na realização do trabalho
interdisciplinar com qualidade.
O processo de avaliação na educação tem a intenção de oferecer contribuições ao
processo de decisão e planejamento de serviços educacionais. “Avaliar pode ser definido
como determinada prestação de serviço com objetivo de tomar decisões” (BUTTELLI, 2011,
p.135)
Durante a equoterapia, é possível avaliar e colher os resultados no processo de ensino
e aprendizagem, e a evolução física e psicológica pode testar os conhecimentos do praticante
para saber se ele adquiriu as habilidades necessárias.
A equoterapia emprega atividades, como jogos, que contribuem para o
desenvolvimento das habilidades neuro-motoras e neuropsicológicas, como ação terapêutica
com o cavalo. Candiota (2010, p.299) cita que:
O praticante alcança uma ação natural de relaxar e agir ocorrendo o alinhamento
postural, por meio de determinadas ordens repetidas ou não, podendo trabalhar na
redução do tempo de latência neurológica, que significa trabalhar a velocidade de
reação do movimento de resposta depois de um estímulo recebido pelo praticante.
A posição do praticante sobre o cavalo permite solucionar diversas dificuldades de
equilíbrios motores. Dessa forma, a equitação se torna benefício para os praticantes que têm
dificuldades de equilíbrio de origem neurológica ou com o quadro de insuficiência muscular.
13
De acordo com Marcondes (1994), o desenvolvimento do praticante consiste na
aquisição progressiva de habilidades motoras e psicocognitivas, para desenvolver e adquirir
maturação funcional, capacidade em executar diferentes funções com complexidade maior.
Segundo Pessoa (2003), o desenvolvimento motor se organiza no sistema nervoso
central (SNC), determinando os movimentos da coordenação motora, fina e grossa, na
linguagem de forma ordenada, influenciando nas relações pessoais e sociais.
Entretanto, as exposições feitas pelos autores relatam a importância do atendimento do
praticante de acordo com fases de desenvolvimento das possibilidades a serem atingidas,
sendo o cavalo o elo nessa concepção.
As dificuldades na coordenação motora que os praticantes apresentam influenciam no
seu convívio diário como:

para escrever, segurar a caneta, lápis, apontador, necessitam de adaptações;

segurar talhares para se alimentar, em alguns casos, o praticante depende de
auxílio do cuidador;

correr, pular, subir e descer;
Logo após um trabalho de fortalecimento muscular fisioterápico desenvolvido nas
atividades de equoterapia, o praticante encontra-se preparado de forma adaptativa para a
realização de atividades diárias.
Desse modo, reforça-se a afirmação de que a equoterapia na realização das atividades
contribui para o desenvolvimento das habilidades neuro-motoras e neuropsicológicas, com
ação terapêutica, utilizando o cavalo.
A necessidade do autoconhecimento do praticante fará a diferença em relação à
consciência corporal e à interligação de processos naturais complexos, possibilitando uma
nova concepção de movimento. Neste contexto a avaliação funcional torna-se primordial.
3.3 AVALIAÇÃO
É de fundamental importância a avaliação global do paciente, para que se possam
traçar objetivos de tratamento e condutas específicas adequadas para cada tipo de patologia.
Na avaliação serão colhidos os seguintes dados: identificação do paciente, nome, data de
nascimento, data da avaliação, sexo, endereço, telefone, filiação e diagnóstico fisioterápico.
Na anamnese, será colhida a história atual e, quando criança, a história gestacional, do
parto e do desenvolvimento neuropsicomotor nos primeiros anos de vida. Deve-se investigar a
presença de distúrbios associados, como alterações da fala, visão e audição, se há presença de
estereotipias, retardo mental e epilepsia.
O tópico a seguir traz a análise desta pesquisa, desenvolvida por meio das respostas do
questionário aplicado aos professores do Centro de Equoterapia do DF.
4 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORS
Para desenvolver esta pesquisa, foram entregues questionários para cinco professores
de um Centro de Equoterapia do Distrito Federal .
No primeiro item, a pergunta foi: qual é a sua formação profissional e quais os cursos
que você realizou para atuar na equoterapia?
14
Os respondentes afirmaram ter formação na área de atuação, destacando-se os cursos
de Pedagogia, Educação física, Psicologia e os cursos básicos e avançados em equoterapia
reconhecidos pela ANDE-BRASIL.
Para essa Associação (2013), os cursos básicos de equoterapia e os avançados têm
como finalidade capacitar profissionais com nível superior completo, com prioridade para as
áreas de saúde e educação, visando integrar a equipe interdisciplinar em um centro de
equoterapia, sendo abordadas as seguintes temáticas:

difundir as técnicas específicas das áreas de saúde, educação e equitação
utilizadas na equoterapia;

compreender o desempenho das atividades de equoterapia, utilizando o cavalo
como instrumento cinesioterapêutico;

fornecer subsídios essenciais à criação e ao funcionamento de um Centro de
Equoterapia;

destacar a importância do profissional de equitação como membro da equipe
interdisciplinar do Centro de Equoterapia;

reconhecer os riscos da improvisação nas técnicas equoterápicas, para as
diversas patologias;

estabelecer a importância da ANDE-BRASlL como órgão normativo e técnico
da equoterapia no Brasil;

desenvolver técnicas específicas nas áreas de saúde, educação e nos programas
de Hipoterapia, Educação/Reeducação, Pré-esportivo e Para-equestre;

ampliar conhecimento e troca de experiências, com intuito de promover a
formação continuada, contribuindo para o aperfeiçoamento dos profissionais de saúde e
educação sobre a atuação em equoterapia na ANDE-BRASIL.
No segundo item, perguntou-se: há quanto tempo você atua na área de equoterapia?
Nas respostas, verifica-se que os professores têm experiência entre 7 e 11 anos, o que
demonstra profissionalismo e dedicação na área especifica de equoterapia .
É importante ressaltar que a educação continuada permite a troca de experiências entre
os profissionais atuantes e os experientes na área; com isso, incentivam a produção técnicocientífica e participam do processo de consolidação, reconhecimento e divulgação dos
resultados que o método de equoterapia vem apresentando no decorrer dos anos.
Na terceira questão, perguntou-se: durante a sua graduação você cursou alguma
disciplina ou realizou projetos que possibilitaram alguma reflexão, com relação à educação
especial inclusiva, tendo a equoterapia como eixo?
Na análise das respostas, percebe-se que somente dois professores tiveram a
oportunidade de trabalhar sobre o tema. Desse modo, um afirmou que decorrer da graduação
realizou pesquisas com TDAH1 e com praticantes que apresentavam quadro de paralisia
cerebral, participando de atividades relacionadas aos Centros de Equoterapia. Outro professor
disse que “tendo a equoterapia como eixo, as disciplinas de Educação Especial e Inclusiva
favoreceram uma reflexão sobre a temática”.
No entanto, os outros três professores responderam que durante o processo de
formação na graduação não tiveram essa oportunidade, mesmo assim, afirmaram que
trabalharam sobre os eixos da educação especial.
Uma das respostas foi: “formei em 1993, e apenas falava sobre o ensino especial, não
nos possibilitava uma reflexão em equoterapia”. Isto denota que a equoterapia não é um tema
muito abordado na graduação. As concepções das atividades desenvolvidas na equoterapia
dependem de maneira interdisciplinar da busca da aquisição do conhecimento.
1
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.
15
Segundo Prado (2001, p. 125, apud BASTANI, 2011, p. 10), “a equoterapia é um
tratamento que propicia o desenvolvimento dos aspectos motores, emocionais e
psicopedagógicos”. Assim, a quarta questão foi: levando em consideração esta afirmação e o
fato de o tratamento por meio da equoterapia ser em um ambiente diferenciado das clínicas e
consultórios, em seu ponto de vista, qual a contribuição do pedagogo no processo de
reabilitação da pessoa com deficiência física por meio da equoterapia?
Analisando as respostas dos professores, todos afirmaram que a equoterapia é um
tratamento significativo para a evolução dos praticantes com deficiência física, como pode ser
observado nas seguintes respostas:
“Por a equoterapia ser muito cinestésica onde o próprio movimento do cavalo já
estimula o praticante, principalmente quanto ao equilíbrio e coordenação motora, ajuste
tônico, o pedagogo pode atuar realizando atividades pedagógicas enquanto há ao estímulo
emocional.”
“Propicia motivação e reintegração, reforço pedagógico, variando conforme a
particularidade de cada aprendente que recebe o tratamento. Entre outros ganhos, além de
orientar a equipe nas intervenções pedagógicas.”
Nesse sentido, a atuação do pedagogo no processo de reabilitação na visão do Centro
de Educação e Reabilitação possibilita refletir que: “O Professor é o agente mediador que
intervém no desenvolvimento neuropsicomotor, minimizando e prevenindo as consequências
de uma deficiência”.
Desse modo, os respondentes afirmaram que, ao realizarem as atividades de forma
lúdica, estimulam os praticantes, pois transmitem o conteúdo de sala de aula como reforço de
forma diferenciada, por meio do desenvolvimento motor e emocional. Os educadores da
equoterapia fazem parte do processo educacional e terapêutico, atuando de forma
interdisciplinar: pedagogos, educadores físicos, fisioterapeutas, psicólogo e fonoaudiólogos.
No quinto item, perguntou-se: na sua concepção profissional, o pedagogo tem o
conhecimento apropriado, que pode contribuir para o processo de habilitação e reabilitação da
pessoa com deficiência física por meio da equoterapia?
Em geral, os professores se posicionaram afirmando que o trabalho interdisciplinar
propicia no contexto pedagógico o desenvolvimento reabilitacional da pessoa com deficiência
física. Isso pode ser confirmado nas seguintes respostas.
“Sim, pois a interdisciplinaridade permite ao pedagogo perceber o praticante como
sujeito da relação onde o emocional pode fazer a diferença.”
“Sim, pois há uma equipe interdisciplinar, onde cada um atua melhor na sua própria
área. A área pedagógica é muito importante dentro da equoterapia, ampliando nas questões
pedagógicas.”
“Sim, desde que sejam atendidos por profissionais formados em uma das áreas de
saúde, educação ou equitação, agrupando ao reforço pedagógico para os praticantes.”
Dessa forma, segundo os respondentes, é necessário favorecer as atividades
pedagógicas orientadas pela equipe interdisciplinar para desenvolver o potencial dos
praticantes para responder adequadamente aos estímulos, desenvolvendo plenamente a
aquisição do conhecimento.
Na sexta questão foi perguntado: a equoterapia ocorre dentro de um contexto
interdisciplinar e multidisciplinar, abordando as áreas de saúde, educação e equitação, que
buscam o desenvolvimento biopsicossocial da pessoa com deficiência. Nesta perspectiva,
quais as atribuições do pedagogo?
Para a questão, os respondentes afirmaram a importância da participação do pedagogo
no cotidiano da equoterapia. Como processo de ensino e aprendizagem diferenciando, para o
desenvolvimento do educando com deficiência. Na visão interdisciplinar e multidisciplinar,
contribui no desenvolvimento das seguintes habilidades: atenção e concentração.
16
Estes trechos de algumas respostas dos professores confirmam essa resposta:
“Auxilia e desperta a atenção e concentração no enfoque de aprendizagem e contribui
na melhoria de aspectos de noções das diversas partes do pedagógico: canções, letras,
numerais, formas, tamanho e lateralidade.”
“Participar do planejamento e estudo de caso de cada praticante, atender diariamente
os praticantes, realizando a estimulação pedagógica, e orientar a equipe quanto à elaboração
de planos de aulas.”
“Observar e investigar as possibilidades dos praticantes e encaminhar para outros
profissionais, realizando parceria para que o praticante possa desenvolver as suas
potencialidades.”
Assim, percebe-se que o pedagogo faz parte da equipe interdisciplinar como agente
mediador e interventor no desenvolvimento das atividades do praticante que possibilitam a
valorização dos vínculos e estímulos positivos para execução de um trabalho que favoreça as
competições da equoterapia.
A partir das respostas dos professores, pode-se observar que a pedagogia é a ciência da
educação que promove a construção e socialização do conhecimento, nas relações
compartilhadas do ensinar e aprender.
No sétimo item, perguntou-se: quais as atividades que o Centro de Equoterapia do
RPMON do Distrito Federal realiza para o apoio ao processo de inserção social e à busca do
aperfeiçoamento funcional dos praticantes?
Os entrevistados relacionaram o roteiro de atividades que os Centros de Equoterapia
de Brasília realiza durante o ano letivo, juntamente com os praticantes e familiares.
“Além dos próprios atendimentos que são bem apropriados a eles, participam de
torneios internos e externos de equitação especial.”
“A participação em eventos propiciados dentro do Regimento de Polícia Montada,
onde os praticantes de equoterapia durante as datas comemorativas realizam torneios como:
no aniversário do Regimento de Polícia Montada (RPMON), dia das mães, festa da páscoa e o
dia feliz da PMDF.”
“As participações em torneios internos e externos com equitação especial, como os
Campeonatos Brasileiros de Enduro Para-equestre a nível regional e nacional, os encontros
com as famílias.”
Conforme as respostas concedidas, ressalte-se que a parceria entre a família, a escola e
o Centro de Equoterapia possibilita o desenvolvimento da interação social do praticante. Que
é essencial na busca de um resultado de qualidade de vida dos praticantes com os momentos
das provas comemorativas que não são vistos somente como competições, e sim como
confraternizações e um dos requisitos de avaliação formativa da prática de equoterapia.
17
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo principal verificar a contribuição do pedagogo na
equoterapia. Como objetivos específicos identificar quais atividades práticas da equoterapia
favorecem o biopsicossocial do praticante com deficiência física; e relatar os benefícios
obtidos com a prática da equoterapia no Centro de Equoterapia do Regimento da Polícia
Militar do Distrito Federal.
Entretanto, houve dificuldade com relação à escassez de referência bibliográfica para
fundamentar o tema. Porém, ficou claro que a utilização do cavalo proporciona movimentos
que fazem com que o praticante melhore a autoconfiança, coordenação motora, ajudando na
interação social.
Desse modo, conforme as respostas concedidas por meio dos questionários com
questões semiestruturadas compostas pela pergunta norteadora, pode-se verificar que os
resultados apontam para a presença mediadora do pedagogo no contexto do ambiente do
Centro de Equoterapia do RPMON-DF.
Ressalte-se que o processo de ensino e aprendizagem vai além das abordagens
realizadas nas salas de aula, a equoterapia serve como um complemento no processo
educacional. E diante da hipótese com relação à contribuição do pedagogo, foi identificado
que ele atua como mediador do processo de atendimento e possibilita benefícios nos
procedimentos pedagógicos, como a construção de materiais, planejamentos, projetos e
interação social.
Os resultados favorecem as ações interventivas no contexto do Centro de Equoterapia
com o foco no desenvolvimento biopsicossocial, tendo a participação do pedagogo no
processo de habilitação e reabilitação do praticante. Os relatos obtidos demonstram também a
importância das atividades com relação à parceria da família, sendo esta fundamental no
processo de mediação.
Essa concepção da mediação do pedagogo faz com que a rotina diária do praticante
seja repensada, dando autonomia de acordo com as suas possibilidades. A partir do início da
prática das atividades, acontece a resposta positiva, por meio dos estímulos oferecidos pelos
profissionais de forma significativa, fazendo a diferença na parceria que envolve: pedagogos,
psicólogos e professores de educação física. Além disso, as dificuldades encontradas na busca
pelo bem-estar do praticante perpassa por duas instituições, família e escola.
Portanto, percebe-se que a interação por meio dos atendimentos, dos torneios que
fazem parte do processo de desenvolvimento do praticante, é a diferença em sua vida,
aumentando sua autoestima e convivência social. Sendo o pedagogo o mediador dessa
convivência.
18
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Rodrigo Cosme dos Santos - Universidade Católica de Brasília