Das margens da Lagoa dos Patos - 12-02-2014
Diarios de Mochila - http://diariosdemochila.com
Das margens da Lagoa dos Patos
terça-feira, dezembro 02, 2014
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por Jose Mochila
Li textos eletrizantes de Clarice Lispector até me transformar numa nuvem. Naturalmente, não gostei
muito da experiência, embora tenha descoberto alguma técnica farmacêutica. De como cheguei a São José
do Norte? De uma passagem temporal pelo interior de São Paulo, suspendendo-a bruscamente.
O resumo comprimido e digerido de minha experiência clariceana cessou assim que eu desembarquei de
um sono mal dormido de dois mil quilômetros rodados. Baixei na cadavérica rodoviária de Rio Grande, a
cidade-sede do chamado Polo Naval do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Vinha puxando um
carrinho de feira com três bolsas num asfalto quente de final de tarde de domingo, tal um maltrapilho sem
banho das memórias do jornalista aposentado Mario Rodrigues. A propósito, meu espírito era mesmo de
descamisado quando pisei novamente no Rio Grande do Sul. Salve Renato de Souza, riograndino
honorário, que me chamou de volta pra vida sugerindo uma capa de livro. Da vida então...
(Muitas saudades do Uruguai. Mariscala, minha querida cidade natal! Aqui pertinho... Meus antepassados
são de Buenos Aires. Os antepassados de meus antepassados são do sul da Itália. Dos ancestrais, eu não
tenho nem quero notícia. Maldita a hora em que eu me desacostumei do espanhol e aprendi o português, o
idioma da nostalgia. Agora me bate uma saudade periódica quando me lembro de meu tempo de
felicidade sem dor... A infância nunca morre. Deus do céu, quantos pensamentos atravessados!)
Como eu dizia, vinha puxando um carrinho de feira sem feira, suado e com a testa oleosa. Me recusei a
pagar o táxi da rodoviária até o local de embarque da lancha que me levaria pro outro lado da Lagoa dos
Patos. Com orçamento baixo, eu não quis arriscar as minhas próximas refeições e gastar a grana semanal
da mega-sena. Digo, tudo parece caído, esgotado e truncado neste momento de iminente renascimento
pessoal. Da autoestima às roupas surradas. Eh vero, meus caros e baratos amigos. Só não ando com mais
tensão, porque me convocaram pra viajar. Viajar é preciso! Sempre digo para meus ditos seguidores fiéis
da página do Facebook, meu mantra é aludir Fernando Pessoa.
Não, não apodreçam dentro si, viajem! Não levem a sério demais a vida e a necessidade de um prato de
certezas! Pra falar a verdade, eu não tenho hábito de falar muito. Nem professar mandamentos.
Normalmente eu só escrevo. E claro, sonho além da conta. Quando não escrevo, penso. Gosto de pensar.
Deixa eu pensar um poquito... E se os diálogos me faltam neste momento de atmosfera nova, saio à
captura de um. Assim me deparei com um guichê:
- Aqui é que se compra bilhete para São José do Nortchê?
Do outro lado, a moça riu de meu trocadilho. “Saiu inspirador, guria?”
Eu fiz questão de repetir o rogado:
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- É aqui...?
Em poucos segundos, eu já estava com as malas a caminho de uma destinada vida.
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