SUSTENTABILIDADE
Ideia acesa
Não são poucos os vilões do
consumo de energia elétrica.
Mas os hospitais já se movem para
combatê-los de frente
Por Ronaldo Albanese
A
inda que a discussão sobre gerenciamento do consumo de energia
elétrica venha ganhando destaque
diante da necessidade de gestão de custos,
as empresas ainda estão longe de encontrar
um modelo 100% eficiente. Alguns hospitais identificam seus impactos, mas poucos
apresentam soluções efetivas. As ações de
melhorias requerem a mesma expertise exigida em outras atividades e investimentos
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em equipamentos alternativos, ainda sem
preços competitivos ou sem subsídios do
governo. “O que move os países a buscar
tecnologias e racionalizações é a maturidade
e a consciência de cidadãos e governantes,
além da escassez de fontes energéticas de
baixo custo ou ambientalmente de menor
impacto”, diz Marcos Tucherman, gerente
de meio ambiente do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Estima-se que os hospitais brasileiros
consumam, aproximadamente, 10% de
toda energia comercial produzida no país.
“Diante desse cenário, e dos custos crescentes das tarifas, não há outra saída a não
ser providenciar métricas para medir o impacto das operações hospitalares no meio
ambiente e, assim, saber de que forma isso
se reflete na interação com a sociedade. Ao
mesmo tempo, é necessário criar planos e
modelos de atualização tecnológica, sem
deixar de promover conscientização dos
usuários visando a sua sustentabilidade”,
afirma Tucherman.
Ele conta que já faz parte do plano diretor de engenharia do hospital a implantação
de medidores de energia elétrica individualizados. “Mesmo assim, é possível identificar os gastos em percentagem utilizando
referências americanas – com resultados
bem próximos do real. Ventilação, ar-condicionado e refrigeração são responsáveis
por 60% da conta de energia. A iluminação se encarrega de 20%, os equipamentos
médicos consomem 10%, e os elevadores,
5%. Há mais outros 5% de consumo geral.
No ano de 2013, para garantir a realização
de atividades do Einstein, foram necessários mais de 50 mil MWh de energia. “O
suficiente para iluminar quase 22 mil residências em um ano.”
Estratégia amadurecida
Atento à questão, o hospital vem discutindo o tema desde 1999. No início com a
acreditação da Joint Commission International e depois, em 2003, com a certificação
ISO 14001. “Ao longo dos anos, temos feito
investimentos significativos que refletem no
menor consumo de energia elétrica e, consequentemente, menor conta de luz”, afirma
o gerente de meio ambiente. De 2006 para
cá, todos os prédios do hospital seguem os
padrões estabelecidos pela Green Building
Council, responsável pela certificação Leed
sobre edifícios sustentáveis. Em 2009, foi
inaugurado o primeiro deles com as soluções mais atuais disponíveis.
O Einstein tem um Plano Diretor de
Sustentabilidade (PDS) com 30 temas e
104 diretrizes que contemplam todas as
questões nacionais e internacionais relacionadas a meio ambiente em Serviços de
Saúde. “Eficiência energética é um dos pilares do PDS”, resume. O hospital investe na
atualização tecnológica de equipamentos,
substituição de lâmpadas fluorescentes convencionais por lâmpadas de led, sistemas de
automação que permitam maior controle e
monitoramento do consumo de energia elétrica. “Em 2011, por exemplo, foi implantada uma subestação de 34,5 KV na Unidade
Morumbi”, conta Tucherman. A energia elétrica vem direto da subestação de Traição,
da AES Eletropaulo e cobre toda a demanda
da unidade. Essa iniciativa proporcionou
uma oferta de energia elétrica mais estável e diminuiu a necessidade do gerador.
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Ventilação, ar-condicionado e
refrigeração são responsáveis
por 60% da conta de energia. A
iluminação se encarrega de 20%
O hospital não comenta se a substituição
do tipo de energia o impactou financeiramente. “O principal foco é a segurança
do paciente, uma vez que diversos equipamentos de alta criticidade dependem
de energia elétrica, mas os ganhos desse
projeto podem ser analisados sob diversas
perspectivas. Houve redução do custo do
quilowatt por meio de uma negociação com
a concessionária para o fornecimento direto. Do ponto de vista ambiental, os ganhos
são a redução do consumo de óleo diesel
no gerador (com menor emissão de CO2) e
no aumento de vida útil dos equipamentos
eletromédicos, proporcionado menos queda
na rede.” Outra vantagem, esta sentida pela
vizinhança, foi a exclusão do hospital do
sistema de distribuição de energia elétrica
da região, antes compartilhada por todos.
De fato, o uso de geradores a diesel nos
horários de ponta não pode ser considerado
boa prática, ainda que costumeiramente
encontrado nos hospitais brasileiros. Nesses
casos, a empresa faz a opção por ser faturada por tarifas diferenciadas em relação
às horas do dia (ponta e fora de ponta) e
aos períodos do ano. Nos intervalos não
contratados, utiliza o gerador. Para Carlos
Henrique Santiago, gerente de comunicação
empresarial da Companhia Energética de
Minas Gerais (Cemig), o assunto é polêmico.
“Não é como comparar gasolina com álcool.
No nosso entendimento, o mercado deveria
levar em consideração outros fatores. No
caso do diesel, vão existir custos da mão de
obra para controlar a compra e estoque, da
manutenção do gerador – maior, já que ele
está em funcionamento diário –, da redução
da vida útil do gerador, do espaço físico
para armazenamento do estoque, da mão
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de obra para abastecimento do gerador que
será mais frequente etc. Além desses valores que nem sempre são levados em conta,
há fatores intangíveis e que consideramos
mais preocupantes, como a poluição sonora e ambiental que o uso do gerador provoca. Em um ambiente de recuperação de
doentes, onde o silêncio se faz necessário,
a economia de recurso, caso exista, cai por
terra se levarmos em consideração todas
essas questões”.
Soluções viáveis
“Fazendo uma analogia com a Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa),
que é obrigação legal, a questão da conservação de energia no trabalho não é compulsória e grande parte das empresas ainda
não pratica como deveria o uso de energia
de forma mais estruturada”, constata Leonardo Resende Rivetti Rocha, engenheiro
de soluções energéticas e coordenador do
Energia Inteligente, programa de eficiência
energética do Grupo Cemig.
A empresa já ajudou grande parte dos
hospitais mineiros na implantação do Programa de Gestão de Energia. Entre eles, o
Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte,
que trocou toda a iluminação ineficiente
por lâmpadas econômicas. Calcula-se uma
redução de 420 MWh a cada ano, equivalente ao consumo de 300 residências no
mesmo período de tempo. O investimento
de aproximadamente R$ 360 mil será pago
com o que se gastaria a mais – caso o projeto
não fosse implantado –, a partir de janeiro
de 2014, em 36 meses.
Atualmente, há três projetos disponíveis
para o segmento hospitalar público dentro
do programa. Um deles é a substituição de
chuveiros, equipamentos de alta potência
e, portanto, de alto gasto, por sistemas de
aquecimento solar de água, uma ótima maneira de reduzir o consumo. “A economia
gerada com banhos em hospitais é superior
a 70%”, garante o engenheiro. Também há
projetos da troca das autoclaves antigas com
um ciclo de esterilização de equipamentos
cirúrgicos de até quatro horas pelas modernas, que levam apenas 30 minutos para o
mesmo trabalho. “Além de reduzir gastos,
os novos equipamentos contribuem muito para a diminuição de casos de infecção
hospitalar.” Outro item é a atualização das
lâmpadas ultrapassadas de 40 e 20 W, com
reator eletromagnético, por luminárias espelhadas e lâmpadas de 32 e 16 W (20% de
redução no consumo) e reatores eletrônicos
(90% de redução).
O engenheiro da Cemig sugere rigor das
instituições de saúde ao verificarem as condições dos equipamentos de lavanderia, do
ar-condicionado e do seu uso. “Jamais permitir janelas abertas quando estiver ligados,
o que pode ser resolvido com um sistema
de automação simples e com a vedação do
ambiente.” Outra indicação é fazer a manutenção correta dos refrigeradores e frigobares
e redobrar a atenção nas suas condições de
uso, seja em quartos seja em cozinhas.
Conjunto de medidas
Antônio Carlos Cascão, superintendente
de engenharia e obras do Hospital SírioLibanês, em São Paulo, conta que a redução
de 25% no consumo de energia nas duas
novas torres em construção ocorrerá por
meio de sistemas de automação predial,
iluminação e ar-condicionado de alta eficiência, fachadas insuladas com vidros com
retenção de calor e insolação, distribuição
de energia com coeficiente de queda de
tensão mínimo (sem perda de energia na
distribuição) e uso de energia solar.
O Sírio tem a assessoria de empresa especializada em produtos e serviços para
distribuição elétrica, controle e automação
industrial. “Somos os responsáveis, entre
outras coisas, por todo o barramento blindado do hospital, que possibilita a transferência da energia que vem da rua para dentro
do estabelecimento. Esse barramento faz
com que as perdas de energia sejam reduzidas em até 50%, gerando uma economia
de custos”, explica Paulo Henrique Silva
de Souza, gerente de marketing e de ecobusiness da empresa que atende ao hospital.
Pesquisa realizada no exterior em hospitais com mais de 100 leitos mostrou que o
impacto financeiro de uma queda de energia
pode chegar a US$ 900 mil por ocorrência.
Soluções específicas como sistemas de automação de iluminação e ar-condicionado
promovem 10% de redução de gastos; o
sistema IT Médico garante segurança e disponibilidade de energia em salas cirúrgicas
e UTIs; a linha de filtros ativos conserva a
qualidade da energia, reduz desperdícios e
ainda aumenta a vida útil dos equipamentos
de um hospital, normalmente sensíveis a problemas na rede elétrica. E ainda no-breaks.
Na configuração de soluções de energia
segura, é preciso considerar cinco áreaschave: gestão da infraestrutura de energia,
automação, gestão da infraestrutura de TI,
gestão de edifícios e segurança física. Segundo Rivetti Rocha, da Energia Inteligente,
embora de maneira tímida, cresce no Brasil
o interesse pelo assunto: “A pesquisa anual
do mercado de eficiência energética do país
aponta, por exemplo, um aumento médio,
nos próximos dez anos, de mais de 25% no
volume de negócios gerados para a eficiência energética.” É bom se ligar nessa ideia.
INVESTIMENTO COM RETORNO
A Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) vai investir R$ 9,4 milhões em dois anos para modernizar
instalações e equipamentos elétricos de 56 hospitais
filantrópicos em 51 municípios de Santa Catarina. Os
hospitais estão passando por uma análise de suas instalações e equipamentos de ar-condicionados, esterilizadores de material cirúrgico e motores de elevadores.
Os que estiverem defasados em termos de economia
de energia serão substituídos. O programa pretende
gerar uma redução de até 15% para cada hospital e
economizar 5 mil quilowatts/ano de energia – equivalente ao abastecimento de uma cidade do tamanho
de Balneário Barra do Sul, com área de 110,62 km² e
aproximadamente 10 mil habitantes.
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