AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE ARTES Danieli E. F. Wroblesvski [email protected] Eixo Temático: Cultura, Currículo e Saberes Resumo: O presente artigo é parte integrante de uma pesquisa intitulada como “Um olhar sobre o Ensino de Artes nas Escolas Municipais de Inácio Martins: Continuidades ou Rupturas?” tendo como objetivo geral compreender como vem sendo trabalhadas artes nas séries iniciais. O trabalho veicula-se a linha de pesquisa do materialismo histórico o qual possibilita uma visão da totalidade bem como das contradições existentes neste ensino. Para tanto, o presente artigo tem como referencial teórico os seguintes autores: Althusser (1985), Barbosa (2001), Cury (1989), Fusari & Ferraz (1999) e (2001), Martins (1998) e Saviani (2006). Compreendendo que a arte não é totalmente pronta e acabada e que existiu todo um processo histórico, o qual determinou sua implantação no currículo escolar, é essencial abordar neste primeiro momento as teorias educacionais que deram suporte ao ensino de artes, para mais adiante analisar e abranger o estudo com as metodologias no ensino de artes. Concluímos através da pesquisa, que o ensino de artes permanece enraizado às técnicas de ensino das décadas de 30 a 70, permeando nas salas de aula as atividades tradicionais e tecnicistas totalmente descontextualizadas de um verdadeiro saber artístico. Palavras - Chave: Artes, tendências, ensino, metodologias. Introdução O ensino de artes nas séries iniciais deve ser tratado como uma disciplina tão importante quanto às outras, pois, através desta, possibilita-se a interpretação das diversas linguagens ao nosso redor e a manifestação dos sentimentos por meio de representações como: símbolos, gestos, desenhos, pinturas, dança, música, teatro. Segundo Martins (1998, p.21) “a arte desempenha um papel extremamente vital na educação das crianças. Quando a criança desenha, faz uma escultura ou dramatiza uma situação, transmite com isso uma parte de si mesma: nos mostra como sente, como pensa e como vê.” 11014 Parece muito simples, mas quando nos confrontamos com a realidade, é que percebemos que o ensino de artes ainda é encarado como uma disciplina sem importância. Como afirma Martins (1998, p. 29) “infelizmente a maioria de nossas escolas mantém ainda um ensino tradicional responsável pela limitação da criatividade do aluno”. Um dos grandes problemas da educação é a falta de articulação do que se quer com a prática pedagógica. Diante disso, é possível estabelecer algumas reflexões: O que se está ensinando, vale a pena ser ensinado? Até que ponto se está ensinando de forma adequada? Sendo assim, como é trabalhada a disciplina de Artes nas séries iniciais? O ENSINO DE ARTE E AS DIFERENTES TEORIAS EDUCACIONAIS Compreender a situação atual do ensino da arte no contexto escolar faz-se necessário o conhecimento das concepções pedagógicas que ao longo do século norteiam a prática educacional. Sendo assim, Saviani (2006) as classifica em dois grandes grupos: teorias nãocríticas e teorias críticas. As teorias não-criticas são divididas em três tendências: a Tradicional, a Escola-Nova e a Tecnicista. E as críticas em: Libertadora, Libertária e Histórico -Crítica. Historicamente, a teoria tradicional surgiu no período conhecido como educação jesuítica, na tentativa de catequizar os índios, estendendo-se até inicio do século XX. Segundo Saviani (2006), tal tendência enfatiza a teoria sobre a prática, sendo, pois a prática resultado da teoria a qual, por sua vez, vincula-se essencialmente a relação “como ensinar” mediante a formulação de métodos de ensino. Visando a formação intelectual, o professor é visto como o centro do sistema educacional, um transmissor de conhecimentos, sendo estes apresentados como verdades absolutas e inquestionáveis pelos alunos, considerados seres passivos e submissos ao regime escolar. Com a virada do século XIX para o XX, o ensino de artes está estritamente ligado à tendência tradicional, a qual visa à reprodução dos modelos prontos por meio das cópias miméticas como meio de aperfeiçoar a técnica, sobretudo com a priorização da estética, ou seja, do padrão de beleza apreciado nas produções artísticas. 11015 Dessa forma, a metodologia usada é basicamente por meio de fixação e memorização. A mostra típica disso faz-se notar essencialmente nas aulas de desenho, onde a atividade artística restringe-se às cópias repetitivas e infundáveis dos modelos prontos propostos pelo professor, cabendo lembrar neste sentido, as barras decorativas, tudo enfim, com a finalidade de aprimoramento e destreza motora, como complementa Fusari & Ferraz (1999, p.30): [...] Na prática, o ensino de desenho nas escolas primárias e secundárias fazia analogias com o trabalho, valorizando o traço, o contorno e a repetição de modelos que vinham geralmente de fora do país; o desenho de ornatos, a cópia e o desenho geométrico visavam à preparação do estudante para a vida profissional e para as atividades que se desenvolvam tanto em fábricas quanto em serviços artesanais. A partir do exposto, podemos notar que o ensino de desenho concebido padronizadamente, tem como finalidade a preparação em grande massa para o mercado de trabalho em expansão sendo, pois, nesse sentido, operários dóceis com habilidades técnicas, ou seja, alvo fácil de manipulação, pois os mesmos não questionam o sistema capitalista com suas disparidades sociais. Pois segundo CURY (1989, pg.65) “A educação adequa-se como instrumento de acumulação capitalista ao preparar mão-de-obra, especialistas, técnicos, voltados para a reprodução ampliada do capital”. Além disso, desde o século XIX o ensino tradicional abriu espaço para o fortalecimento da escola dualista na formação da elite, ou seja, a diferenciação na educação da classe dominante e da classe trabalhadora na formação humana. Sendo uma educação adestradora e disciplinadora para os filhos dos operários enquanto que para os filhos da burguesia a educação estava voltada para a formação intelectual. Tudo enfim, com o propósito de formar a classe trabalhadora conforme as necessidades de produção voltadas para o mercado de trabalho e a elite sendo preparada para administrar, governar. De forma cada vez mais idealizadora, os sistemas de ensino foram se organizando a partir dessa concepção dualista de ensino sendo, pois, ainda muito presente nos dias atuais, porém camufladas pelo próprio sistema. O descaso da teoria tradicional foi tornando-se evidente no início do século XX, consequentemente alvo de muitas críticas. A partir desse momento, os ideais da teoria tradicional vão paulatinamente desprendendo-se dos interesses, pois a qualidade de ensino 11016 começa a ser vislumbrada na busca de soluções efetivas para este quadro catastrófico de ensino com o desenvolvimento da teoria da Escola - Nova também conhecida como escolanovismo. Originou-se na Europa e Estados Unidos no final do século XIX, tendo influências no Brasil por volta de 1930. A Escola – Nova, ao contrário da teoria tradicional enfatiza o como aprender, como explica Fusari & Ferraz (1999, p.31) “[...] A preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e o processo do trabalho caracterizam uma pedagogia essencialmente experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia.” Portanto, a preocupação essencialmente do como aprender fundamentou-se nas teorias da aprendizagem, as quais determinam o primado da prática sobre a teoria, cabendo a escola transformar-se num espaço aberto de interação entre professor e aluno, como complementa Saviani (2006, p.02): [...] Pautando-se na centralidade do educando, concebem a escola como um espaço aberto à iniciativa dos alunos que, interagindo entre si e com o professor, realizam a própria aprendizagem, construindo seus conhecimentos. Ao professor cabe o papel de acompanhar os alunos auxiliando-os em seu próprio processo de aprendizagem. O eixo do trabalho pedagógico desloca-se, portanto, da compreensão intelectual para a atividade prática, do aspecto lógico para o psicológico, dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos de aprendizagem, do professor para o aluno, do esforço para o interesse, da disciplina para a espontaneidade, da quantidade para a qualidade. Ao que tudo indica a teoria da Escola – Nova, diferentemente da tradicional, em vários aspectos como foi citado acima no que diz respeito à visão de ensino, promoveu muitos desafios aos educadores, com o desenvolvimento de posturas e instrumentos metodológicos adequados à aprendizagem, podendo ser notado no ensino de artes, o qual rompe com as cópias de modelos propostas pelo professor. Proporcionando um ensino de artes capaz de explorar a criatividade e a livre expressão do aluno com o aprender fazendo. Segundo Fusari & Ferraz (1999) Esse “aprender fazendo” o capacitaria a atuar cooperativamente na sociedade. Todavia, esta teoria da Escola – Nova também é submetida a críticas, devido à liberdade excessiva proporcionada aos alunos em sala de aula, levando inúmeros professores 11017 ao extremo, já que não podiam interferir no trabalho criativo. A partir de então, questionam-se novas posturas com relação ao ensino e as funções da escola. Mais adiante, surge no Brasil entre 1960 e 1970 a teoria Tecnicista. Constatando-se como cita Fusari & Ferraz (2001, p.41), que “[...] a tendência tecnicista aparece no exato momento em que a educação é considerada insuficiente no preparo de profissionais, tanto de nível médio quanto de superior, para atender o mundo tecnológico em expansão”. Do ponto de vista educacional, ocorre nesse momento um retrocesso, pois o desenvolvimento da educação baseia-se no modelo de produção capitalista, onde a qualificação humana tem ênfase na preparação de indivíduos competentes e produtivos sendo capazes de ingressar no mercado de trabalho, abrangendo a competitividade. Sendo, pois, desviado o verdadeiro foco da educação na formação de cidadãos conscientes preparados para a vida, podendo consequentemente serem inseridos na sociedade como participantes críticos. Por esta razão, podemos perceber que a educação atendeu (e ainda atende) aos interesses políticos, econômicos, sociais e ideológicos da sociedade, sendo considerada por Althusser (1985) como aparelho ideológico do Estado. Com a perspectiva de educação voltada exclusivamente a técnica, o ensino de artes resume-se em atividades mecânicas que desenvolvam a habilidade manual com a valorização da estética. No início dos anos 70, com o registro da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 5692/71 é implantada no currículo escolar a disciplina de educação artística, como cita Fusari & Ferraz (2001, p.41 – 42): [...] desde a sua implantação, observa-se que a Educação Artística é tratada de modo indefinido, o que fica patente na redação de um dos documentos explicativos da lei, ou seja, o Parecer nº. 540/77: “não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses”. Ainda no mesmo parecer fala-se na importância do “processo” de trabalho e estimulação da livre expressão. Contudo, as aulas de artes permanecem ausentes de fundamentação teórica, com uma prática fragmentada em meras atividades artísticas marcadas pelos desenhos mimeografados, as quais priorizam sempre a estética, deixando de lado a criatividade nos trabalhos artísticos. Verificamos a fragilidade metodológica com que é tratado o ensino de artes, pois os conteúdos e métodos da teoria tradicional e da escola – nova são misturados. Ora se aprende 11018 com ênfase no ensino tradicional, ora da escola – nova, revelando desta forma o despreparo dos profissionais em relação ao ensino. É importante salientar que essas tendências não se deram de forma linear e estanque, pois se compararmos o ensino de artes atual com essas tendências mencionadas até aqui, vamos constatar grandes semelhanças com o ensino tradicional, da escola – nova e da tecnicista muito presente ainda hoje em muitas salas de aula, pois, na prática muito pouco se tem feito pelo ensino de artes na escola, permanecendo a cópia, a técnica e a livre expressão totalmente desvinculadas de um contexto. Concomitante a estas circunstâncias, a qual se encaminhou o papel da educação muitos educadores insatisfeitos com os rumos da educação e visando a melhoria da escola pública, abrem espaço para o encaminhamento de novas teorias educacionais a fim de burlar a visão alienadora da educação, sendo estas de caráter crítico: a teoria Libertadora, a Libertária e a Histórico – Crítica. A teoria libertadora sob influências das idéias de Paulo Freire surge no sentido de promover a consciência crítica dos alunos, especialmente das classes populares, dando ênfase na alfabetização de adultos. Nesta teoria, o foco principal está relacionado na valorização de situações – problemas existentes no cotidiano do aluno, sendo estes, desafiados a enfrentá-los e solucioná-los. No que se refere a esta teoria Saviani (2006, p.36) discute: [...] mas, diferentemente do movimento escolanovista, a pedagogia libertadora põe no centro do trabalho educativo temas e problemas políticos e sociais, entendendo que o papel da educação é, fundamentalmente, abrir caminho para a libertação dos oprimidos. No entanto, a teoria libertária citada por Fusari & Ferraz (2001, p. 45) “resume-se na importância dada a experiências de auto-gestão, não-diretividade e autonomia vivenciadas por grupos de alunos e seus professores [...]”. Dessa forma, ambas as teorias não tinham a finalidade de oferecer propostas metodológicas de ensino e de aprendizagem ao sistema de ensino, ao contrário, propor discussões e reflexões quanto à função da educação escolar na formação humana. Ainda em relação às teorias críticas, pode-se integrar a elas a Histórico - Crítica na década de 1980, que de maneira geral objetivou uma prática e teoria de ensino mais realista, 11019 porém muito questionada nos dias atuais quanto as suas especificidades no que diz respeito à educação. Pois, como notamos no meio escolar a prática educativa ainda permeia o caráter tradicional, problema este não muito fácil de abolir. Assim sendo, a escola é vista como parte integrante do processo educativo, cabendo a ela desenvolver a visão crítica na formação humana do aluno quanto à alienação e subordinação ao capital, para que inserindo na sociedade possa ser um agente de transformação. Podemos perceber que na teoria Histórico – Crítica, a ênfase está na prática inicial, a qual prioriza a pratica do dia-a-dia do aluno, ou seja, aquilo que ele já domina como sendo conhecimento. A partir de então, o professor atua como mediador do conhecimento entre aquele que o aluno já possui, instigando a reconstruí-lo inserindo novas descobertas. A teoria histórico – crítica voltada para o ensino de artes, desempenha papel relevante quanto a prática de ensino em sala de aula, pois a mesma defende a contextualização histórica como meio de proporcionar o conhecimento. Sendo assim, a proposta triangular de Ana Mae Barbosa, que integra as três facetas do conhecimento artístico: o fazer artístico, a análise das obras e a história da arte contribuem para um ensino de artes mais realista e crítico, com o desenvolvimento de aulas significativas para os alunos. Todavia, essa teoria é de pouca relevância no âmbito escolar, mantendo-se até hoje às teorias não – críticas como suporte pedagógico no ensino de artes. Contudo, a proposta triangular será novamente exposta mais adiante no que diz respeito às metodologias de ensino. A METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE É imprescindível que o ensino de artes seja realmente discutido e trabalhado em sala de aula, como parte integrante do currículo escolar. E para isso, é de fundamental importância que o professor defina claramente os instrumentos metodológicos adequados no processo de ensino como ressalta Fusari & Ferraz (1999, p.15): 11020 Assim, se pretendemos contribuir para a formação de cidadãos conhecedores da arte e para a melhoria da qualidade da educação escolar artística e estética, é preciso que organizemos nossas propostas de tal modo que a arte esteja presente nas aulas de arte e se mostre significativa na vida das crianças e jovens. O comentário acima transcrito remete-nos a pensar, que ensino de artes esta sendo ministrado em nossas escolas? Diante de tal indagação, a preocupação recai sobre as metodologias de ensino utilizadas inadequadamente pelos professores, que permanecem vinculadas à preponderância das técnicas e práticas de ensino fragmentadas. Sendo assim, o meio escolar não deve ser o espaço de ampliação dos conhecimentos? E no caso da arte, a escola não deve favorecer a abrangência cultural nas diversas linguagens artísticas? Durante muito tempo em nossas escolas perdurou a livre expressão no ensino da arte, que pouco contribuiu para a aprendizagem significativa dos alunos, pois até então a arte não era uma disciplina obrigatória no currículo escolar. Com a concretização da disciplina de Educação Artística no currículo das escolas primárias e secundárias em nosso país em 1971 através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº. 5692/71, o ensino passou a ser obrigatório no currículo, entretanto, não havia demanda de profissionais qualificados para ministrar esta disciplina, pois o curso universitário de licenciatura era exigido para se trabalhar com a disciplina a partir da 5º série. Nesse sentido, o governo federal possibilita a criação do curso universitário de licenciatura para que esses profissionais tivessem a qualificação exigida pela lei para assim ministrar a disciplina de educação artística concebida no currículo, como cita Barbosa (2001, p.10): O currículo de licenciatura em educação artística na universidade pretende preparar um professor de arte em apenas dois anos, que seja capaz de lecionar música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico, tudo ao mesmo tempo, da primeira à oitava série, e em alguns casos, até o 2º grau. A citação acima pressupõe equivocadamente o descompasso na formação profissional. Ou seja, num descaso total, o governo pretende formar um profissional “competente” que dominasse essas múltiplas linguagens da arte em sala de aula, com a mão-de-obra barata, já que estaria dominando todas as funções, além disso, atingindo os objetivos propostos no currículo previsto por lei. Consequentemente o que ocasionou foi à baixa qualidade do ensino 11021 já que a presente lei visava uma interação direta com o mercado de trabalho, onde o ensino adquiriu funções técnicas que se associavam a ele. No entanto, a formulação de uma proposta norteadora para o ensino, começou a ser encaminhada com a nova Lei Federal de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº.9394/96 que extinguiu a nomenclatura Educação Artística do currículo, incorporando Artes no sistema educacional do país. As novas diretrizes de ensino se desenvolveram de acordo com os PCN’S de artes, que tinham a intenção de conferir em todo o país a sistematização do ensino, desconsiderando a realidade sócio-cultural, econômica e política de cada região. Então, vejamos que há aspectos negativos quanto à implantação dos PCN’S, pois os mesmos não oferecem suporte teórico - metodológicos para o educador no desenvolvimento do ensino. Evidentemente que o ensino de educação artística se difere do ensino de artes, pois a educação artística propunha um ensino voltado ao tecnicismo com a extrema valorização da estética mimética como forma de aperfeiçoar as habilidades técnicas e preparar para o mercado de trabalho, enquanto que a disciplina de artes favorece a apreensão de um saber artístico associado com sua história, além de garantir o preparo de indivíduos conhecedores do mundo em que vivem juntamente com as demais disciplinas que fazem parte do currículo. Esta nova proposta para o currículo de Artes com a lei 9394/96 tem o objetivo de aplicar melhorias na qualidade da prática pedagógica de ensino, possibilitando a interação entre o aluno e a arte para estimular sua percepção e imaginação e assim desenvolver sua criatividade na produção artística, bem como, atribuir significados coerentes com sua visão de mundo. Todavia, o que observamos em nossa realidade escolar é a falta de preparo dos profissionais na área artística, existindo um enorme abismo entre teoria e prática, ou seja, do ensino e aprendizagem, quando deparamos na sala de aula com as práticas tradicionais e tecnicistas, que não possibilitam qualquer construção de conhecimento, como cita Fusari & Ferraz (2001, p.21): Apesar de todos os esforços para o desenvolvimento de um saber artístico na escola, verifica-se que a arte historicamente produzida e em produção pela humanidade ainda não tem sido suficientemente ensinada e apreendida pela maioria das crianças e adolescentes brasileiros. 11022 Como resolver tal problema? Em meio a esta problemática, seria necessário rever o currículo de Artes que segundo Barbosa (2001) reformulasse os objetivos, os conteúdos e a metodologia do ensino, priorizando um ensino embasado na história da arte com a apreciação de obras como suporte para o fazer artístico, sendo assim, Barbosa (2001, p.35) complementa: Um currículo que interligasse o fazer artístico, a história da arte e a análise da obra de arte estaria se organizando de maneira que a criança, suas necessidades, seus interesses e seu desenvolvimento estariam sendo respeitados e, ao mesmo tempo, estaria sendo respeitada a matéria a ser aprendida, seus valores, sua estrutura e sua contribuição específica para a cultura. Diante disso, pode-se despertar o interesse dos indivíduos em atribuir significados concretos as obras de arte, conhecendo o contexto histórico com suas características marcantes bem como a biografia do artista, para assim, compreender o período que a mesma está situada e perceber que a arte está em constante evolução, pois o homem sendo um ser histórico transforma o meio em que vive. Para tanto, os professores de arte devem oferecer meios para que a disciplina cumpra com o papel de formar e informar os indivíduos sendo estes, capazes de apreciar e usufruir das produções artísticas, decodificando suas múltiplas significações. A escola precisa encarar a arte como a disciplina tão importante quanto às demais, e a humanidade tratarem a arte como conhecimento histórico, ou seja, compreender que este conhecimento foi construído pelo homem através do tempo, e que está a todo instante se modificando, pois a história é linear e está em constante movimento, sendo a arte um patrimônio cultural da humanidade, onde todos devem ter acesso a este saber. E é através da educação, delimitando neste sentido, a escola, que este acesso torna-se possível, quando tais conhecimentos sobre a história da arte são proporcionados aos indivíduos nas mais diversas situações de aprendizagem, com a preocupação de desenvolver o senso crítico perante as obras de arte. Contudo, na prática ocorre bem ao contrário como cita Barbosa (2001, p.12)" Apreciação artística e história da arte não tem lugar na escola. As únicas imagens na sala de aula são as imagens ruins dos livros didáticos, as imagens das folhas de colorir, e no melhor dos casos, as imagens produzidas pelas próprias crianças”. 11023 De fato, as escolas podem promover este acesso ao saber, abrangendo conteúdos significativos que condiz com o contexto social dos indivíduos, com a perspectiva de ensinar Artes para além das datas comemorativas, desenhos mimiografados e técnicas de pinturas, todas estas fragmentadas de uma contextualização, como afirma Martins (1998, p.12): [...] ainda é comum as aulas de arte serem confundidas com lazer, terapia, descanso das aulas “sérias”, o momento para fazer a decoração da escola, as festas, comemorar determinada data cívica, preencher desenhos mimiografados, fazer o presente do Dia dos Pais, pintar o coelho da Páscoa e a árvore de Natal. Memorizam-se algumas “musiquinhas” para fixar conteúdos de ciências, faz-se “teatrinho” para entender os conteúdos de história e “desenhinhos” para aprender a contar. A permanência da educação artística é ainda extremamente visível em muitas salas de aula onde, por sua vez, as aulas de artes não oferecem oportunidades de desenvolver a partir das experiências do cotidiano a criatividade e imaginação artística na capacidade de transformar a cultura do país, limitando-se em atividades que integram mecanicamente, o contornar e o pintar com “atividades artísticas esparsas e não originárias de conceitos, de idéias artísticas e estéticas, podem concorrer para o desaparecimento do estudo da arte propriamente dita” (FUSARI & FERRAZ, 1999, p.22) A disciplina de Arte compreendida no currículo escolar vem sendo trabalhada erroneamente em sala de aula, ainda é vista por muitos educadores como a disciplina sem importância, sendo seus conteúdos de ensino abordados isoladamente sem vínculos com a realidade, ou seja, “nada mais desmotivante do que repetir as mesmas aulas em todas as séries escolares, sem um progressivo desafio de aprofundamento dos conhecimentos em arte” (FUSARI & FERRAZ, 1999, p. 50). A disciplina requer conhecimentos e preparo para que se possa inovar e ousar. Quando mencionamos a palavra ousar, significa que é possível através da arte que a criança manifeste seus sentimentos e idéias, aguçando sua imaginação e criatividade nos trabalhos artísticos utilizando-se dos materiais acessíveis a sua realidade e assim ampliando sua capacidade criadora. Para isso, é fundamental que o educador atue em sala de aula como o mediador dos conhecimentos dando o suporte necessário na aprendizagem, como afirma Martins (p.141) “o 11024 educador é um mediador entre a arte e o aprendiz, promovendo entre eles um encontro rico, instigante e sensível”. Para que tenhamos um ensino de Artes significativo e promissor, é necessário que o sistema educacional exija ações mais efetivas com relação à educação intelectual de seus profissionais, sendo estes capazes de inovar em suas estratégias e metodologias de ensino, possibilitando que a arte represente a disciplina de destaque em nossas escolas, proporcionando aos indivíduos o conhecimento e enriquecimento histórico. Em decorrência disso, torna-se pertinente elencar algumas metodologias atualmente em discussão que apontam para uma prática significativa no ensino de artes. Para o ensino de artes visuais é fundamental o conhecimento das metodologias de ensino, sendo elas destacadas: Método Comparativo, Método Multipropósito e a Proposta Triangular. Tendo como base os estudos de Barbosa, o método comparativo foi criado por Feldman e tem como objetivo a crítica na obra de arte. Desenvolve-se através do ato de ver, ou seja, através das imagens de obras de arte. Define-se em 4 princípios associados a comparação de duas ou mais obras de arte, sendo pois: a descrição, que significa prestar atenção ao que vê, a análise, refere-se em observar o comportamento do que se vê, a interpretação que indica o significado para a obra de arte e por fim, o julgamento de valor frente a obra de arte. O método multipropósito foi criado por Robert Sauders, que explica: Entender uma obra de arte vem com repetidos encontros à medida que a pessoa amadurece e é capaz de observá-lo de diferentes pontos de vista. Esta maturidade perceptiva usualmente começa através de alguma forma de contato com reproduções mas recebe qualidade e verificação através do contato com originais(SAUDERS apud BARBOSA, 2001, p.51). Neste sentido, nas aulas de artes devem ser proporcionadas aos alunos o contato com as mesmas obras de arte nas diferentes séries, pois a medida que os alunos vão amadurecendo e construindo seu próprio conhecimento, sua percepção visual e posteriormente sua interpretação também vai assumindo caráter mais relevante e com distintos significados. Segundo Barbosa, o método multipropósito divide-se em 4 categorias, sendo elas: exercícios do ver( descrever e interpretar detalhes visuais), exercício de aprendizagem( 11025 compreender as pinturas, exercitar habilidades de fantasias e imaginação e expressar julgamento de valor), extensões da aula( relacionar arte com o meio ambiente), produzir artisticamente( desenvolver a auto-imagem através do desenho, investigar formas, texturas, cores e linhas). Porém, “mesmo nas escolas particulares mais caras a imagem não é usada nas aulas de arte. Eles lecionam sem oferecer a possibilidade de ver. É como ensinar a ler sem livros na sala de aula [...] (BARBOSA, 2001, p.12). Reconhecemos desta forma, que o ensino de arte é ministrado precariamente em nossas escolas, pois não expor imagens para a apreciação artística, reduz as possibilidades de interpretação e representação do imaginário em criações artísticas na realidade. Diferentemente dos métodos comparativo e multipropósito, porém fundamentado nas mesmas, a proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, gira em torno do conhecer, do apreciar e do fazer arte. Esta proposta privilegia o fazer artístico, a história da arte em si e a análise da obra de arte, fazendo com que as atividades no ensino de artes tenham mais significados para o educando, deixando de ser o famoso “passa-tempo”. Não tendo uma ordem pré-estabelecida para o seu segmento, baseia-se no conhecer arte, o qual delimita o tempo, espaço e contexto em que a obra de arte esta situada, o apreciar arte, que permite a análise, interpretação e julgamento nas imagens observadas, e por fim, o fazer arte, que possibilita a construção significativa dos resultados englobando as diversas linguagens artísticas. Tais implicações desafiam os educadores a encontrar possibilidades de abolir o ensino de caráter indefinido que se mantém até hoje em destaque no processo de ensinar e aprender como foi mencionado acima com as três propostas metodológicas para o ensino de artes. Considerações finais E para finalizar, sendo a escola um espaço de interação das experiências e o professor um facilitador do conhecimento, compenetrado com o verdadeiro propósito de educar com significado, é imprescindível que cada educador tenha claro a metodologia que pretende seguir, bem como os objetivos da disciplina, para que estas não continuem estagnadas à meras atividades ilustrativas, com apropriação de técnicas que não fazem sentido dentro de uma 11026 proposta de ensino de qualidade em que todos têm direito. É necessário uma mudança brusca no ensino de artes, o qual priorize cada etapa na construção do conhecimento cultural. Referências: ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado: nota sobre os aparelhos ideológicos de Estado (AIE). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985 BARBOSA, Ana Mãe. A imagem no ensino da Arte – anos oitenta e novos tempos. São Paulo: Editora Perspectiva. 4. ed., 2001. CURY, C.R.J. Educação e contradição. 4. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1989 FUSARI, M.F.R.; FERRAZ, M. H. C. T. Arte na educação escolar. São Paulo: Editora Cortez, 2001. _______________________________ Metodologia do ensino da arte. São Paulo: Editora Cortez, 2. ed., 1999. MARTINS, M.C.; PICOSQUE, G. GUERRA, M.T.T. Didática do ensino da Arte. São Paulo: Editora FTD, 1998. SAVIANI, D. As concepções pedagógicas na história da educação brasileira. Campinas: Histedbr, 2006.