Mestrado Integrado em Medicina Veterinária
Ciências Veterinárias
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
Carla Rafaela Miranda de Sousa Morgado
Orientador:
Professora Doutora Alexandra Esteves
Co-orientador:
Dr. Paulo Ribeiro
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vila Real, 2009
Aos meus pais, à Sil e ao Rick.
“God loved the birds and invented trees.
Man loved the birds and invented cages.”
~Jacques Deval
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
À Professora Alexandra Esteves, por ter aceite orientar esta Tese. Pela inteira
disponibilidade, dedicação e apoio com que me recebeu ao longo destes meses. Por me
ter incentivado e motivado a fazer um melhor trabalho sempre que precisei. Pelos
imprescindíveis e valiosos esclarecimentos, críticas e sugestões, sem os quais este
trabalho não seria possível, a minha mais sincera gratidão e profundo reconhecimento.
Ao Dr. Paulo Ribeiro, pelo privilégio concedido ao aceitar ser meu coorientador. Por me ter entusiasmado pelo tema desta Tese. Pelo profissionalismo,
competência e dedicação pela profissão demonstrados, o que contribuiu de forma
decisiva para a minha vontade de aprender e progredir nesta área, para além de me ter
transmitido inúmeros valores que me enriqueceram pessoal e profissionalmente. Pelo
espírito jovem e por todos os momentos de boa disposição, pela simpatia, amizade e
confiança que depositou em mim desde o início, o meu apreço, respeito e
agradecimento sinceros.
Ao Dr. Zé Carlos, Dr. Tiago, assim como à Eng. Benvinda e D. Maria do Céu,
pela paciência e boa vontade em esclarecer todas as minhas dúvidas durante o meu
estágio.
Ao Prof. Luís Patarata, que teve a amabilidade de me dar a conhecer o programa
estatístico XLSTAT, que muito facilitou todo o tratamento de dados. Ao Prof. Silvestre,
pelas ideias e sugestões que enriqueceram este trabalho.
A todos os autores contactados por e-mail, que, apesar de não me conhecerem
pessoalmente, se interessaram pelo meu trabalho e responderam rapidamente com
artigos relevantes e se disponibilizavam a prestar esclarecimentos e a tirar quaisquer
dúvidas que surgissem.
À Sónia Gaspar, colega de curso e melhor amiga, que eu tive a sorte de
conhecer. Por ter estado sempre presente nos bons e nos maus momentos destes longos
6 anos. Pela amizade eterna, pelas gargalhadas, pelo companheirismo e por todas as
i
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
AGRADECIMENTOS
horas de estudo e de diversão. Por não me ter deixado desistir do curso. Nunca te
poderei agradecer o suficiente. Um agradecimento especial para a Catarina, a minha
“mana adoptada”, e para a mãe da Sónia, que me fizeram sentir parte da família.
Ao Bruno Elias, melhor amigo desde os tempos do secundário, que, apesar da
distância, está presente em todos os momentos da minha vida. Por ser único. Adoro-te.
Ao meu primo João, que me ensinou a trabalhar com o Excel e que me explicou
os fundamentos do teste de Qui-quadrado.
Ao Carlos André, pela amizade incondicional, apoio e por me inspirar a ser
alguém melhor. Pelo interesse e espírito crítico com que leu este trabalho, apesar de não
ser a sua área.
À minha família. Aos meus pais, que sem eles não seria possível escrever estas
palavras. Pela confiança, por sempre terem aceite as minhas escolhas e por acreditarem
em mim. À Sílvia, que me entusiasmou a seguir este curso, e ao Ricardo, pelo apoio
moral. À minha sobrinha Inês, que passou muitas tardes na secretária a estudar comigo.
Ao meu sobrinho e afilhado José Dinis, que tem sempre um sorriso para mim quando
me vê.
A todos aqueles que, embora não referidos não foram esquecidos, tornaram a
conclusão desta etapa da minha vida numa realidade, o meu muito obrigada.
ii
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ÍNDICE
ÍNDICE
Resumo
v
Abstract
vii
Lista de Abreviaturas
viii
Índice de Quadros
x
Índice de Figuras
xii
INTRODUÇÃO
4
PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
5
1. Bem-Estar Animal
6
1.1 Definição
6
1.2 Indicadores de deficiências no bem-estar animal
8
1.3 A preocupação pelo Bem-estar animal
9
1.4 Sugestões para melhorias no Bem-estar animal
2. Factores relacionados com a Exploração
11
13
2.1 Manipulação dos animais
15
2.2 Stresse na exploração
16
3. Factores genéticos
18
4. O Transporte até ao Matadouro
19
4.1 O período pré-transporte
21
4.2 Carga dos animais
23
4.3 Cuidados a ter no Transporte
24
4.4 Factores associados a um transporte inadequado e suas consequências
26
4.4.1 Duração excessiva do transporte
26
4.4.2 Densidade excessiva
27
4.4.3 Condução inadequada do transporte
28
4.4.4 Condições climatéricas desfavoráveis
28
4.4.5 Stresse de transporte
29
4.4.6 Doenças de transporte
30
31
5. Matadouro
5.1 Recepção e permanência na abegoaria
iii
31
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
5.2 Abate dos animais
ÍNDICE
34
5.2.1 Encaminhamento dos animais para a nave de abate
34
5.2.2 Na nave de abate
35
6. Conclusão
41
PARTE II – TRABALHO EXPERIMENTAL
43
1. Introdução
44
2. Material e Métodos
45
3. Resultados e Discussão
48
3.1 Tamanho do lote de animais – Lesões observadas
48
3.1.1 Lacerações
49
3.1.2 Eritema cutâneo
50
3.1.3 Hematomas
51
3.2 Tipo de trajecto – Lesões observadas
52
3.2.1 Lacerações
52
3.2.2 Eritema cutâneo, hematomas e fracturas
53
3.3 Horas totais antes do abate – Lesões observadas
54
3.3.1 Lacerações
55
3.3.2 Eritema cutâneo
56
3.3.3 Hematomas
56
3.4 Horas de viagem – Lesões observadas
57
3.4.1 Lacerações
58
3.4.2 Eritema cutâneo
58
3.4.3 Hematomas
59
3.5 Horas na abegoaria – Lesões observadas
60
3.5.1 Lacerações
60
3.5.2 Eritema cutâneo
62
3.5.3 Hematomas
63
3.6 Lacerações tipo 1, 2 e 3 – Abate realizado
64
3.7 Eritema cutâneo localizado e generalizado – Abate realizado
65
4. Conclusões
66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
68
ANEXOS
76
iv
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
RESUMO
RESUMO
Nos últimos anos tem havido uma maior consciencialização pelo Bem-Estar
Animal, principalmente dos animais de produção, não só por questões éticas, mas
também porque tem grande influência na qualidade final da carne, com repercussões a
nível económico. O stresse, em particular, é um factor que reduz a resistência às
infecções, diminui a produtividade, crescimento e capacidade reprodutiva dos animais,
facilitando também o aparecimento de carnes com características indesejáveis. Deste
modo, é de todo o interesse adoptar medidas para prevenir ou reduzir o stresse dos
animais de produção, seja na exploração, durante o transporte e no matadouro. O uso de
“brinquedos” e de palha nos currais, de tranquilizantes naturais e criação ao ar livre são
opções viáveis e certificadas quanto à melhoria do bem-estar animal, assim como a
preferência por animais dóceis e, no caso dos suínos, negativos ao gene halotano.
A carga e transporte dos animais de produção, descarga, permanência na
abegoaria e encaminhamento para a nave de abate e insensibilização dos animais são
momentos de grande stresse e potencialmente traumatizantes para estes. Um mau
maneio, más condições de transporte, duração excessiva da viagem até ao matadouro,
uma condução inadequada, mistura de animais de diferentes explorações, densidade
excessiva e o stresse de transporte, são factores que podem comprometer gravemente o
bem-estar animal e a qualidade da carne.
Neste estudo analisaram-se pormenorizadamente 5 abates de suínos de engorda,
num total de 834 animais, registando-se a ocorrência de lacerações, eritema cutâneo,
hematomas e fracturas, pretendendo-se averiguar qual o efeito do tamanho do lote, do
n.º de horas de viagem, do n.º de horas de permanência na abegoaria, do n.º de horas
pré-abate e do tipo de trajecto a que os animais foram submetidos no aparecimento
destas lesões, directamente relacionadas com deficiências no bem-estar animal.
As lacerações são as lesões mais frequentemente observadas nas carcaças.
Observou-se que o transporte e estadia na abegoaria de lotes de grande tamanho levam a
um aumento da percentagem de animais com lacerações, eritema cutâneo e hematomas.
Houve um aumento de 10% de animais que apresentaram lacerações na inspecção post
mortem quando foram submetidos a um trajecto do tipo misto, em vez de trajecto por
auto-estrada. Verificou-se que um aumento do número de horas de viagem leva a um
aumento do número de casos de eritema cutâneo nos suínos de engorda, particularmente
v
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
RESUMO
de eritema generalizado. Observou-se também que, quando mais tempo os animais
demoram desde a saída da sua exploração até serem abatidos no matadouro de destino,
maior a percentagem de animais que surge com hematomas.
vi
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ABSTRACT
ABSTRACT
In the last years there has been a growing concern for Animal Welfare,
especially when it comes to livestock, not only for ethical reasons, but also because it
influences the final quality of meat, with consequences on the economic level. Stress, in
particular, is a factor that reduces infection resistance, productivity, growth rate and
reproductive aptitude of animals, leading to unwanted meat characteristics. Therefore, it
is important to adopt measures to prevent or reduce the stress of livestock, either in the
farm, during transport and in the slaughterhouse. The use of “toys” and straws in the
pen house and the use of natural tranquilizers, the preference for calm animals and for
halothane-negative pigs, and the extensive livestock production are all viable and
certificated options that improve animal welfare.
The loading, transport, unloading, lairage time, moving the animals to the
slaughter point and insensibilization are moments of great stress and potentially
traumatizing to animals. An incorrect handling, poor transport conditions, excessive
transport time, improper driving, mixture of animals from different farms, excessive
density and transport stress are factors that severely compromise animal welfare and
meat quality.
In this study, 5 different slaughtering days were evaluated in detail, in a total of
834 swines. We registered the occurrence of skin damage, skin erythema, contusions
and fractures, to evaluate the effect of group size, number of transport hours, number of
lairage hours, number of pre-slaughter hours and road type, which are all features
related to animal welfare deficiencies.
Skin damage is the most frequent type of lesion that could be observed. The
transport and lairage of bigger groups increases the animal percentage with skin
bruising, skin erythema and contusions. There was an increase of 10% of animals with
skin bruising when subjected to a road type that included secondary roads, as opposed
to the groups that travelled through highway. The results also indicated that the
increasing of the number of transport hours increased the cases of skin erythema,
especially the generalized type. Furthermore, the longer the animals took since leaving
the farm to the slaughter moment, the bigger the percentage of animals with contusions.
vii
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
LISTA DE ABREVIATURAS
ABC – Abcesso
ABCs – Abcessos
Adul. – Adultas
AN – Anormal
Bov. – Bovinos
bpm – batimentos por minuto
C – Celsius
Cap. – Caprinos
CBG – Captive Bolt Gun
cm – centímetros
CO2 – Dióxido de carbono
Compart. – Compartimentos
DFD – Dark, Firm, Dry
DGV – Direcção-Geral de Veterinária
Diafr. – Diafragma
EET – Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis
Eng. – Engorda
etc. - et cetera
EU – União Europeia
FAO – Food and Agriculture Organization
FAWC – Farm Animal Welfare Council
Fig. – Figura
GL – Graus de Liberdade
Gr. Rum. – Grandes Ruminantes
HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points
Kg – Kilogramas
km – quilómetros
Lei. – Leitões
LFDs – Linfadenites
Liquef. – Liquefacção
m2 – metros quadrados
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
n.º – número
OMS – Organização Mundial de Saúde
Ov. – Ovinos
Peq. Rum. – Pequenos Ruminantes
PL – Pleurisia
PleuroPN – Pleuropneumonia
PN – Pneumonia
PR – Pequenos Ruminantes
PSE – Pale, Soft, Exsudative
ROG – Reacção Orgânica Geral
RP – Reprovações Parciais
ix
LISTA DE ABREVIATURAS
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ÍNDICE DE QUADROS
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1. Registos gerais relativos aos 5 abates analisados.
48
Quadro 2. Percentagem de animais com e sem lacerações, em função do tamanho do
lote.
49
Quadro 3. Percentagem de animais com e sem lacerações, agrupados consoante o
tamanho do lote a que pertenciam.
50
Quadro 4. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em função
do lote.
51
Quadro 5. Percentagem de animais com e sem eritema, agrupados consoante o tamanho
do lote a que pertenciam.
51
Quadro 6. Percentagem de animais encontrados com e sem hematomas, em função do
tamanho do lote.
52
Quadro 7. Percentagem dos animais encontrados com e sem lacerações, em função do
tipo de trajecto considerado.
53
Quadro 8. Percentagem dos animais encontrados com e sem eritema, em função do tipo
de trajecto considerado.
54
Quadro 9. Percentagem dos animais encontrados com e sem hematomas, em função do
tipo de trajecto considerado.
54
Quadro 10. Percentagem de animais encontrados com e sem lacerações, em função do
número de horas desde o início da viagem até ao abate.
55
Quadro 11. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em
função do número de horas desde o início da viagem até ao abate.
56
Quadro 12. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das
horas totais desde início da viagem até ao matadouro.
57
Quadro 13. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das
horas de viagem até ao matadouro.
58
Quadro 14. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função
das horas de viagem até ao matadouro.
59
Quadro 15. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das
horas de viagem até ao matadouro.
59
Quadro 16. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das
horas passadas na abegoaria.
61
x
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 17. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das
horas passadas na abegoaria.
61
Quadro 18. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função
das horas passadas na abegoaria.
62
Quadro 19. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo, agrupados
consoante as horas passadas na abegoaria.
62
Quadro 20. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das
horas passadas na abegoaria.
63
Quadro 21. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas, agrupados
consoante as horas passadas na abegoaria.
63
Quadro 22. Números e percentagens dos diferentes tipos de lacerações considerados e
ausência destas nos diferentes abates analisados.
64
Quadro 23. Números e percentagens relativos à presença de eritema localizado e
generalizado ou à sua ausência nos diferentes abates analisados.
xi
65
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1. Carcaça de suíno sem lacerações relevantes.
46
Figura 2. Carcaça de suíno com lacerações tipo 1.
46
Figura 3. Carcaça de suíno apresentando lacerações tipo 2.
46
Figura 4. Carcaça de suíno com lacerações tipo 3.
46
Figura 5. Membro posterior de suíno apresentando eritema localizado.
46
Figura 6. Carcaça de suíno com eritema generalizado.
46
Figura 7. Membro posterior de suíno com hematoma.
47
Figura 8. Membro posterior de suíno apresentando fractura.
47
xii
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Durante o período de 4 meses de estágio curricular em Inspecção Sanitária, entre
15 de Setembro de 2008 a 15 de Janeiro de 2009, acompanharam-se as actividades de
Inspecção Sanitária ante mortem e post mortem dos animais apresentados para abate em
5 matadouros da Região Norte do país: Matadouro Fumados Douro (Travanca,
Armamar), Matadouro Beira-Lamego-Agroalimentar S.A. (Lamego), Matadouro Santos
e Jesus, Lda. (Lamego), Matadouro Aleu (Vila Real) e Matadouro PEC-NordesteCarnagri (Penafiel). Para além de todo o estudo e investigação feitos para a elaboração
da Tese, foi possível aprofundar os conhecimentos teóricos e, principalmente, práticos
da Inspecção Sanitária obtidos durante o Mestrado Integrado em Medicina Veterinária.
A oportunidade de abordar o conceito de Bem-Estar Animal de uma forma mais
aprofundada e de discutir o impacto que algumas falhas no bem-estar animal têm sobre
os animais de produção, em particular da espécie suína, surgiu naturalmente, visto ser
um tema actual e que vai ganhando cada vez mais importância graças à
consciencialização e educação da sociedade para uma melhoria da saúde, qualidade e
respeito pela vida dos nossos animais.
Desta forma, foram acompanhados 5 abates de animais da espécie suína no
Matadouro Aleu (Vila Real) de uma forma mais pormenorizada e atenta, tendo-se
particular atenção a todos os aspectos relativos ao bem-estar animal destes animais
abatidos, com recolha de dados para posterior análise e interpretação.
Foram também recolhidos os dados referentes às rejeições parciais e totais de
várias espécies animais submetidas a abate durante esse período de tempo, tendo-se
prestado especial atenção às principais causas de rejeição (Anexo A). Apesar destes
dados recolhidos não terem sido usados na elaboração da presente Tese, reconheceu-se
que é uma informação adicional a considerar, visto terem feito parte do aprofundar de
conhecimentos na área da Inspecção Sanitária.
-4-
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
-5-
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1. Bem-estar Animal
1.1 Definição
Bem-estar animal, segundo BROOM (1991, 2004) pode ser definido como
sendo o estado do animal na sua tentativa de adaptação com o meio ambiente
envolvente. HUGHES (1976) citado por LEMAN e colaboradores (1992), afirma que
bem-estar animal é “um estado de completa saúde mental e física do animal em
harmonia com o meio ambiente”. Sendo um conceito bastante complexo, bem-estar
animal pode ser definido seguindo várias abordagens, complementares entre si.
Podemos ter em conta a condição psicológica do animal – animais com medo, stresse ou
frustração indicam falhas no seu bem-estar, o ambiente natural – um bem-estar animal
adequado implica que um animal viva num habitat natural, onde seja livre de expressar
os seus comportamentos naturais e satisfazer as suas necessidades, ou, a actividade
biológica do animal – o ideal seria um animal manter um funcionamento orgânico em
bom estado, podendo crescer, reproduzir-se, alimentar-se e permanecer saudável
(COSTA, 2006).
As falhas relativas ao bem-estar animal surgem nas situações em que animal não
é bem sucedido nas suas tentativas de adaptação ao ambiente, o que na maioria das
vezes leva a estados de sofrimento. É de referir, no entanto, que sofrimento animal e
deficiente bem-estar animal são conceitos distintos. O facto de um animal não ter
condições de bem-estar não significa obrigatoriamente que seja um animal em
sofrimento. Apesar de ser um dos aspectos mais importantes na nossa avaliação do
bem-estar do animal, sofrimento é um termo menos abrangente e bastante subjectivo,
referindo-se apenas aos sentimentos do animal em causa (BROOM, 1991). Também não
se deve confundir ausência de bem-estar animal e sofrimento com crueldade animal.
Crueldade animal é uma prática condenável, premeditada e escusada, que tem apenas
como propósito aplicar dor e sofrimento aos animais (MACHADO F.º e HÖTZEL,
2000).
-6-
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Existem algumas medidas a serem cumpridas para se poder considerar que um
animal está sujeito a boas condições de bem-estar animal. Estas medidas consistem
numa correcta alimentação e abeberamento, na existência de condições e de conforto no
seu local de abrigo que tenham também em vista a prevenção de situações de dor, de
ferimentos ou de doença. Tem de ser dada a possibilidade ao animal de exibir o seu
comportamento natural, sendo também importante evitar situações que lhe causem
qualquer medo ou stresse (ANÓNIMO, 1993 citado por BEAUMOND, 2006).
Uma outra forma de definir bem-estar animal refere-se às chamadas “Cinco
Liberdades” dos animais, propostas pela primeira vez em 1979, pelo FAWC (Farm
Animal Welfare Council), Reino Unido:

Liberdade da fome, da sede e da subnutrição, que inclui o direito ao acesso a
água e a comida em quantidades suficientes;

Liberdade do desconforto, que inclui o direito a um abrigo adequado para se
protegerem e abrigarem;

Liberdade da dor, de doenças e de lesões, que inclui o direito à prevenção e ao
tratamento destas;

Liberdade do medo e do stresse, que inclui o direito à ausência de sofrimento;

Liberdade para expressarem os seus comportamentos naturais, através de um
ambiente envolvente adequado.
DANTZER (2002) faz referência à capacidade cognitiva e emocional dos
animais, muitas vezes subvalorizada por quem lida com eles. O autor refere que
reacções como agitação ou um aumento da actividade do sistema pituitário-adrenal
(devido a estímulos exteriores de stresse) são reacções emotivas primitivas. Quando
deparados com situações pouco familiares ou mudanças súbitas, associadas a uma fraca
capacidade de ajustamento, é de esperar que os animais apresentem uma reacção
emocional compatível com frustração. DUNCAN e PETHERICK (1991) sublinham que
o estado mental do animal é sempre afastado para segundo plano, num sistema que
apenas prevê a satisfação das necessidades físicas do animal. Estes autores criticam esta
-7-
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
posição e formam uma nova e interessante linha de pensamento, defendendo que o bemestar animal refere-se essencialmente ao estado mental, psicológico e cognitivo do
animal, e que sempre que as necessidades mentais do animal estão satisfeitas (e que
obrigatoriamente cobrem as necessidades físicas do animal), então o pleno bem-estar
animal é atingido. No entanto, esta possibilidade implica que os animais tenham
capacidade para compreender o que os rodeia, ao invés de apenas reagirem instintiva e
automaticamente às situações apresentadas. Mais estudos acerca deste assunto têm que
ser desenvolvidos.
1.2 Indicadores de deficiências no bem-estar animal
Segundo BROOM (1991, 2004) o bem-estar animal é uma característica do
animal, que pode ser melhorada através das acções do Homem. É um estado passível de
ser medido de forma objectiva, variando consoante a capacidade do animal de se ajustar
às condições. Também segundo BROOM (1991, 2004) há vários indicadores que
apontam para deficiências no bem-estar animal, tais como:

Reduzida esperança média de vida (mau maneio, doenças…);

Lesões corporais (lacerações, fracturas…);

Reprodução ou crescimento de alguma forma corrompidos ou mal sucedidos;

Comportamentos anormais ou profundamente modificados (revelando uma
incapacidade de adaptação ao ambiente por parte do animal);

Nível de doenças (maior susceptibilidade a agentes patogénicos…);

Imunossupressão (por excesso de actividade do córtex adrenal…).
Um dos métodos a que se recorre mais frequentemente para a avaliação do bemestar é o comportamento animal (RADOSTITS, 1994). Existem mecanismos de defesa
intrínsecos aos animais no caso de a adaptação a um dado ambiente não for bem
sucedida. O animal desiste de tentar adaptar-se e surgem comportamentos anómalos,
tais como mordeduras repetidas nas barras dos compartimentos, balanço repetido da
cabeça, prática de canibalismo ou ausência de reacção a estímulos externos (LEMAN et
-8-
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
al., 1992; MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). Estes sinais de apatia, de auto-mutilação
e de agressividade são normalmente indícios de um bem-estar animal deficiente
(LEMAN et al., 1992; BROOM, 2004) e, por essa razão, apesar de não serem
necessariamente comportamentos que impliquem graves perdas produtivas, são
considerados indesejáveis (LEMAN et al., 1992).
A prática de caudofagia e de dentadas nas orelhas são indícios importantes a ter
em conta. A caudofagia, em particular, pode levar a infecções sistémicas no animal
afectado, assim como o desenvolvimento de abcessos, pondo em causa a qualidade e
segurança da carne (RADOSTITS e BLOOD, 1985; BROOM e FRASER, 2007).
Também a presença de medo é um sinal de risco, pois implica que o animal
esteja a antever algum perigo iminente, prejudicando o seu bem-estar (BROOM, 1991).
Sinais de dor aguda podem incluir vocalização anormal, taquipneia, inaptência,
diminuição da mobilidade e perda de interesse por diversas actividades (GEORGE,
2003). Um animal incapaz de se deitar normalmente no seu curral ou que exiba
comportamentos estereotipados é um sinal claro de falta de bem-estar animal. Situações
de isolamento excessivo ou de demasiada exigência em relação ao animal são também
situações a ter em conta (BROOM, 1991, 2004).
Apesar da morbilidade dos animais poder ser um bom indicativo para a
avaliação do bem-estar animal, é preciso ter em atenção que esta pode ser facilmente
mascarada com o uso sistemático de medicamentos como os antibióticos. A sua acção
permite uma maior eficiência na conversão alimentar, levando a um crescimento e
aumento de peso mais acelerado, ao mesmo tempo que previne doenças indesejáveis
(RADOSTITS e BLOOD, 1985; RADOSTITS et al., 2007). No entanto, há situações
que podem levar a uma apreciação errada. Animais considerados mais magros não
implica que sejam animais com reduzido bem-estar animal, podendo simplesmente ter
um maneio diferente, com uma dieta de baixo valor calórico (LEMAN et al., 1992).
1.3 A preocupação pelo Bem-estar animal
Nas últimas décadas observou-se uma explosão na produtividade animal.
Segundo a Ordem dos Médicos Veterinários (2008), cerca de 360 milhões de suínos e
-9-
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
pequenos e grandes ruminantes são abatidos todos os anos nos países que constituem a
União Europeia. Industrializou-se a agricultura e os animais de produção tornaram-se
meros instrumentos económicos e quantitativos, com evidentes repercussões em termos
de bem-estar animal. Regimes extensivos foram substituídos pelos intensivos, alguns
quase levados ao extremo, nos quais os animais se encontram completamente
confinados, de forma a poupar tempo e trabalho, reduzir espaço e diminuir as perdas
energéticas (MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). São estas condições de confinamento e
de sobrepopulação, que impedem os animais de se moverem ou de terem quaisquer
possibilidades de socialização, consideradas desumanas por alguns grupos de defesa dos
animais, que têm merecido mais atenção (RADOSTITS, 1994).
No entanto, nos últimos anos tem havido uma maior consciencialização pelo
bem-estar animal, principalmente no que respeita a animais de consumo (ROLLIN,
1990). Segundo ROÇA (2001), começou-se a dar mais valor ao maneio destes animais
em vida assim que se constatou que este influencia a qualidade da carne.
Também se assiste a um crescente grau de exigência por parte dos consumidores
de carne em relação à sua qualidade e origem. O consumidor preocupa-se
principalmente pelo aumento da produção intensiva, pela grande restrição dos
movimentos dos animais e pelos meios usados para atingir essa medida (LEMAN et al.,
1992). Com uma melhoria do poder económico, com a influência dos media
(frequentemente criando suspeitas e abrindo valas de desconfiança entre produtores e
consumidores, empolando as más condições a que animais de produção são sujeitos),
com a maior interferência e críticas no campo político-social por parte da comunidade
vegetariana, e com o aparecimento duma maior preocupação com o impacto ambiental
das suas escolhas, os consumidores passaram a valorizar outros factores para além da
simples qualidade nutricional e organoléptica dos alimentos. O actual consumidor
dispõe-se agora a pagar pela segurança alimentar e pelo bom maneio, pressionando os
criadores a uma melhoria das condições de bem-estar em todas as fases da vida do
animal (LEMAN et al., 1992; BEAUMOND et al., 2006). COSTA (2006) chega a
declarar que a carne tem também um “valor moral”, valor esse definido pelos padrões
de bem-estar animal utilizados para a produção dessa carne, tanto na criação como no
abate, e ao qual os consumidores não são indiferentes. Apesar de tudo, o objectivo
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Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
principal de um produtor é a máxima produtividade ao menor custo, e nem sempre é
fácil chegar-se a um equilíbrio satisfatório para ambas as partes (BEAUMOND et al.,
2006).
É inegável o crescente interesse pelos consumidores no que respeita ao bemestar animal. Num estudo de 2001, financiado pela Comissão Europeia, que tinha como
objectivo conhecer a opinião dos europeus relativamente ao bem-estar animal e o
impacto que este tinha nas escolhas alimentares, observou-se que existe efectivamente
um aumento na preocupação sobre este assunto, mas que nem sempre corresponde a
uma maior preferência em alimentos produzidos respeitando o bem-estar dos animais.
Isto deve-se, por exemplo, à falta de informação sobre a origem e produção dos
produtos, à dificuldade em os encontrar e também ao seu custo (HARPER e HENSON,
2001). Um outro estudo publicado pela Comissão Europeia em 2007 revela que 52%
dos europeus raramente ou nunca tem em consideração o bem-estar animal quando
compra carne. Esta percentagem é particularmente elevada nos novos países-membros
da Europa, podendo estar relacionado com a cultura e nível de vida existente nos
diferentes países.
1.4 Sugestões para melhorias no Bem-estar animal
Pode-se agir a vários níveis de forma a melhorar o bem-estar animal. Uma das
opções é enriquecer o ambiente envolvente do animal. Verificou-se que a colocação de
“brinquedos” nos currais dos animais (para se distraírem) e de palha no chão (em vez do
uso de chão ripado) diminuiu o canibalismo e as agressões entre os animais. A palha é
um factor muitas vezes subvalorizado, mas associado a benefícios evidentes ao bemestar dos suínos (MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000).
É evidente o aumento do aparecimento de doenças metabólicas, como a acidose,
em sistemas de criação intensivos, prejudicando o bem-estar animal e eventualmente a
qualidade da carne (NIELSEN, THAMSBORG, 2005). Uma das opções a considerar é a
criação intensiva ao ar livre, no caso dos suínos, que consiste na criação de animais a
céu aberto, com o recurso a cabanas como abrigo. MACHADO F.º e HÖTZEL
verificaram efectivamente que animais criados neste sistema exibiam menos
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
comportamentos anómalos, menos canibalismo e menos agressões comparativamente ao
sistema com animais confinados, com melhorias na saúde dos animais e em termos
ambientais. São também animais que têm uma melhor conversão alimentar, ganhando
peso mais rapidamente (GENTRY et al., 2002, 2004; LEBRET et al., 2006). Além
destes
factores,
sublinha-se
que
podem
ser
considerados
animais
criados
biologicamente, tendo por isso um maior valor comercial. Também verificaram que os
animais com ambiente enriquecido com palha e mais espaço tiveram melhorias na
qualidade da carne, sendo esta mais macia e sofrendo menos perdas na cozedura
(MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000).
As afinidades e relações de dominância e submissão que se estabelecem num
grupo de animais na exploração são uma boa ajuda para o produtor preservar o bemestar animal, evitando situações de stresse no caso de mistura de animais que ele sabe
serem incompatíveis (BOUISSOU e BOISSY, 2005).
É também importante referir os efeitos da prática da castração nos animais de
produção, acto considerado necessário em termos da promoção da qualidade da carne,
ao evitar o aparecimento do “cheiro sexual” na carne de porco (característica
indesejável para o consumidor), mas que está associado ao desencadear de deficiências
em termos de bem-estar animal. FISHER e colaboradores (1996) referem que os níveis
de cortisol plasmáticos atingem níveis elevados nos animais que são castrados, mesmo
recorrendo-se ao uso de analgesia para o efeito. No entanto, KING e colaboradores
(1991) citados por NIELSEN e THAMSBORG (2005), revelam que a idade da
castração tem um papel preponderante no bem-estar animal, visto que animais mais
novos (com 2 meses e meio) tinham níveis de cortisol mais baixos que animais mais
velhos (com 5 meses de vida). Em termos de bem-estar animal e eficiência produtiva, a
melhor altura para a castração de suínos é logo a seguir ao nascimento ou por volta dos
6 meses de idade, de preferência utilizando o método de Burdizzo (método de castração
menos invasiva, que implica apenas a destruição do cordão espermático, sem remoção
dos testículos nem epidídimo) (NIELSEN e THAMSBORG, 2005).
Recentemente foi descoberta uma vacina (Improvac®) que evita a manifestação
do já referido “cheiro sexual” na carne de suíno, permitindo assim que a carne do
animal mantenha todas as características dum animal inteiro (HENNESSY et al., 2008).
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Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este tipo de vacinação, chamado de imunocastração, foi objecto de estudo de JEONG e
colaboradores em 2008, na Coreia, onde o consumo de barriga de porco é extremamente
popular. Os resultados demonstraram que, efectivamente, o uso desta vacina não tem
quaisquer efeitos negativos na qualidade da carcaça, sendo que os animais vacinados
obtiveram melhores resultados em termos de cor e relação entre carne e gordura do que
animais castrados.
Outra substância com grande interesse para a prevenção de stresse em suínos
refere-se a um extracto de planta contendo Valeriana officinalis L. e Passiflora
incarnata L. (OmnycalmTM), que se tem tornado mais popular nos últimos anos, devido
ao seu efeito sedativo e ansiolítico, podendo ser usada de forma rotineira e sem deixar
resíduos na carne. Um estudo realizado na Dinamarca em 2006 comprovou o efeito
deste extracto em suínos, que se apresentaram mais relaxados e com níveis de stresse
inferiores ao ser simulado o acto de carga, transporte e descarga desses animais
(BOUSQUET et al., 2006).
2. Factores relacionados com a Exploração
Na exploração deve-se ter em conta vários aspectos, como a sanidade e higiene
animal, o grau de conforto animal, a qualidade do ar e a eficiência da ventilação, a
existência de sobrepopulação, o tipo de chão e a existência de animais com problemas
podais ou de postura, a temperatura do ambiente e o sistema de eliminação de fezes e
urina. Ambientes extremamente confinantes para os animais levam a um aumento da
incidência de problemas respiratórios, de crescimento, de performance e a um aumento
da incidência de doenças, a maioria das quais de origem multifactorial. A má ventilação,
em particular, é um factor associado a problemas de saúde nos animais, tais como
pneumonia enzoótica e rinite atrófica, mas também a problemas comportamentais como
a caudofagia. Está provado que a produtividade e a performance dos animais diminui e
a incidência de doenças aumenta com o aumento da densidade populacional da
exploração, o que está na génese da recomendação de manter os animais em grupos
pequenos (RADOSTITS e BLOOD, 1985).
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Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O Decreto-Lei n.º 48/2001 de 10 de Fevereiro estabelece os princípios básicos
de alojamento, alimentação e outros cuidados fundamentais adequados às necessidades
de animais nos locais de criação. Assim, é o proprietário dos animais quem deve
salvaguardar o seu bem-estar, garantindo ao mesmo tempo que os animais não são
expostos a situações que lhes possam causar dor, lesões ou sofrimento desnecessário,
devendo ser tratados por um número adequado de pessoas experientes. Segundo o ponto
9, do anexo II, do Decreto-Lei acima referido, os animais não podem ter os seus
movimentos restringidos de forma a causar lesões ou sofrimento escusado, e, em
particular, devem ter a possibilidade de se levantarem, deitarem e voltearem sem
qualquer problema.
As instalações e alojamentos devem ser construídos com materiais inócuos para
os animais, fáceis de limpar e de desinfectar, sem arestas cortantes ou protuberâncias
passíveis de causar lesões nos animais, e a ventilação e temperatura ambiente devem ser
adequadas à espécie animal. É proibido manter os animais em condições de luz ou
escuridão extremas, devendo sempre ser respeitado o período de luz ou escuridão
mínima adequada ao bem-estar do animal. No caso de a luz natural ser insuficiente para
o efeito, deve ser providenciada luz artificial. A alimentação e o consumo de água
devem ser adequados à idade e espécie animal, de forma a satisfazer todas as suas
necessidades fisiológicas e nutricionais. O equipamento usado para o efeito deve ser
construído para que todos os animais tenham a oportunidade de comerem e beberem,
com o mínimo de contaminação do alimento e da água e o mínimo de competição entre
animais (Decreto-Lei n.º 48/2001 de 10 de Fevereiro). Segundo as pesquisas de
investigadores da Welfare Quality®, vitelos que tinham que competir fortemente por
comida durante as suas primeiras 4 semanas de vida levavam mais 10 dias que o
habitual para apresentarem o peso adequado para abate e apresentavam o dobro de
fígados afectados por abcessos. Estes factos podem representar perdas para a exploração
de 3 a 5%, para além da redução do nível de bem-estar animal (MANTECA, 2008).
LEMAN e seus colaboradores (1992) fazem também referência ao facto de esta
competição social por alimento entre animais beneficiar os de hierarquia mais elevada,
podendo surgir alguma disparidade no crescimento dentro do grupo, para além da
existência de possíveis agressões a animais mais fracos. MCGLONE e colaboradores
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
(1993) referem que os porcos de mais baixa hierarquia apresentam mais sinais de stresse
que os outros e têm maior probabilidade de serem afectados por infecções virais. Uma
das soluções para este problema em suínos corresponde à adopção de um sistema de
produção mais intensivo, no qual os animais se encontram confinados em
compartimentos individuais,
impedidos de se movimentarem livremente, de
socializarem e expressarem apropriadamente os seus comportamentos naturais. Mas por
estas razões, é também um sistema de produção muito criticado e questionável
(LEMAN et al., 1992).
As boas práticas de maneio dos suínos estão expostas no Decreto-Lei n.º
135/2003 de 28 de Junho, relativo às normas mínimas de protecção de suínos em
sistemas de criação e engorda intensivos, com referência à necessidade de tomar
medidas no caso de os animais exibirem comportamentos violentos ou no caso de serem
observados ocorrências de caudofagia. Está referido o uso de materiais como palha,
feno ou serradura para os animais manipularem, satisfazendo assim as suas necessidades
de manipulação e investigação. É também feita referência aos ruídos altos, constantes
ou incomodativos, que devem ser reduzidos o mais possível.
O Decreto-Lei n.º 135/2003 de 28 de Junho prevê as áreas mínimas de
pavimento livre destinada aos suínos, consoante o seu peso. Segundo a FAO (2007), os
suínos devem ter currais com paredes sólidas com uma altura de cerca de 0,9 metros. Os
pisos devem permitir uma fácil e boa limpeza e drenagem, devendo também ser
antiderrapantes, para impedir que os animais sofram quedas e se magoem.
2.1 Manipulação dos animais
Há vários comportamentos humanos pelos quais os animais sentem antipatia e
que são passíveis de causar uma aversão natural e medo, prejudicando o seu bem-estar.
Destaca-se, por exemplo, o levantar da voz, maus-tratos físicos, uso do aguilhão
eléctrico, o acto da vacinação, colocação dos brincos ou tatuagem e a castração. Este
tipo de tratamento irá provavelmente dificultar tarefas como a simples condução ou
manipulação dos animais em situações de rotina (ordenha, alimentação, visitas do
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
veterinário, etc.), para além de causarem grande ansiedade e stresse nos animais
(COSTA, 2006).
Num estudo de NAPOLITANO e seus colaboradores em 2006, em que se
pretendia observar os possíveis efeitos na qualidade da carne do grau de contacto
humano nestes animais, concluiu-se que os animais sujeitos a uma interacção gentil e
agradável com os tratadores ganhavam mais peso, eram mais activos e curiosos. O
maneio e a condução dos animais também ficaram facilitados. Além disso, 24 horas
post mortem, estes animais indicavam valores de pH da carne mais baixos. Uma das
explicações para este facto pode estar relacionada com a redução de stresse nestes
animais na altura da contenção e manipulação pré-abate. Ao estarem habituados à
presença e manipulação de humanos, o stresse sofrido é menor (BROOM, 1993;
LENSINK et al., 2000) e têm um mais rápido decréscimo do pH da carne
(NAPOLITANO et al., 2006).
2.2 Stresse na exploração
O stresse é uma das consequências aos estímulos negativos do ambiente
envolvente. Pode ser uma resposta rápida (no caso de uma ameaça inesperada, em que o
organismo se prepara para a “fuga ou luta”, libertando repentinamente catecolaminas,
adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea, através do sistema simpático-adrenal)
(LEMAN et al., 1992; MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). Neste caso, o stresse é útil
para a sobrevivência do animal. Pode também ser uma reacção prolongada e crónica
como forma de adaptação a um determinado ambiente (podendo ter consequências
prejudiciais para o organismo do animal), ao que SEYLE em 1950 chamou de Síndrome
Geral de Adaptação, envolvendo hormonas do sistema hipófise-adrenal. Este stresse
continuado pode levar a quebras na resposta imunitária do animal, assim como
diminuição da produtividade (RADOSTITS e BLOOD, 1985; MACHADO F.º e
HÖTZEL, 2000).
Os níveis anormalmente elevados de hormonas corticosteróides devido ao
stresse crónico levam a uma diminuição na capacidade de resistência a infecções
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
(RADOSTITS et al., 2007). É por isso de esperar que sistemas muito intensivos,
geradores de stresse crónico nos animais, provoquem um impacto negativo na saúde dos
animais, atingindo-os do ponto de vista produtivo tanto a nível de conversão alimentar
(levando a um reduzido crescimento), como ao nível da mortalidade (aumentando a taxa
de mortalidade), e como a nível reprodutivo (diminuindo a capacidade reprodutiva)
(LEMAN et al., 1992). KLONT e colaboradores (2001) referem que uma melhoria das
condições de bem-estar origina animais mais capazes de se ajustarem à mudança de
ambiente (exploração-matadouro) e que reagem menos negativamente ao stresse da
manipulação e do transporte.
Recentes estudos revelam que o stresse pré-abate pode começar, não na carga
dos animais para o transporte, mas ainda antes, por restrição da alimentação, por prévia
separação dos animais por pesos ou categorias, ou ainda pela manipulação feita para
conferir os números do passaporte na exploração. DEVINE e colaboradores (2006)
citados por GREGORY (2008) referem que a carne das ovelhas demora mais de 3 dias
até recuperar o seu pH normal quando tal acontece.
Segundo COSTA et al. (1998) citado por ele próprio em 2006, há um risco
acrescido de lesões e lacerações nas carcaças (que poderão levar a perdas económicas)
em animais de explorações onde são submetidos a situações de stresse e de mau maneio.
No estudo procedeu-se ao levantamento das situações de riscos que podem provocar
hematomas ou lesões na carcaça e, consequentemente, prejudicar a qualidade e
rentabilidade da carne: agressões, densidade animal excessiva, condições das
instalações ou de transporte inadequadas e animais mantidos em estado de ansiedade ou
sob stresse. Também segundo este autor, situações a que os animais não estejam
habituados são causadoras de stresse (por exemplo, a carga, o transporte, e a descarga),
stresse esse que poderá diminuir a qualidade da carne dos animais. Um estudo de
NANNI-COSTA e colaboradores (2007) apontou que suínos criados em chão ripado
tinham mais relutância à movimentação para o interior do veículo de transporte do que
suínos criados e habituados a pisos sólidos, provavelmente devido à novidade do novo
piso.
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3. Factores genéticos
O ambiente circundante dos animais não é o único responsável pelo seu stresse.
Os factores genéticos têm também grande influência na reacção dos animais face a
situações da maior perturbação, podendo determinar a resposta ao stresse durante a
manipulação ou o transporte de uma determinada espécie.
O gene halotano, também denominado o “gene do stresse” ou “o gene da
Síndrome do Stresse Porcino”, é um gene ligado à produção de carne de suíno com
menor percentagem em gordura, mas está também relacionado com uma maior
predisposição para o aparecimento de carnes PSE (Pale, Soft and Exsudative – carnes
pálidas, moles e exsudativas), visto produzir animais mais susceptíveis a situações de
stresse (BOWKER et al., 2000; COSTA et al., 2005).
Num estudo de FÀBREGA e seus colaboradores (2004) com porcos portadores
do gene halotano, verificou-se que, efectivamente, estes animais respondiam de maneira
diferente em situações de stresse ou de mudança de ambiente. Animais com este gene
sofrem mais frequentemente de stresse por calor, habitual causa de morte em suínos
transportados nas estações mais quentes do ano (COSTA et al., 2005). Segundo
O’BRIAN e colaboradores (1990) animais portadores do gene possuem uma mutação
que leva a uma regulação anormal dos níveis do ião cálcio, levando a contracções
musculares e a um aumento do metabolismo. Assim, quando sob stresse por calor,
sofrem mais violentamente de acidose metabólica muscular, provocando sinais graves
de hipertermia e níveis de potássio sanguíneos fatais para o animal.
O medo sentido pelos animais, tal como o stresse, tem também uma componente
genética, e pode levar a uma diminuição da produtividade se em excesso. Para além dos
genes, depende também de experiências anteriores e de influências ambientais. Apesar
de ser uma característica difícil de medir, é possível fazer uma selecção genética de
forma a beneficiar os animais mais calmos e menos assustadiços (HEMSWORTH e
GONYOU, 1997; BOISSY et al., 2005), assim como reduzir comportamentos que
prejudiquem o bem-estar animal (JENSEN et al., 2008). Esta selecção é facilmente
praticável em bovinos, cujas diferentes raças apresentam distintas características
comportamentais, desde os mais dóceis aos mais excitáveis (GRANDIN, 1993c).
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Refira-se que bovinos com um temperamento calmo têm um ganho diário de peso mais
elevado que os bovinos mais facilmente excitáveis (VOISINET et al., 1997). Há à
disposição uma grande gama de testes, que, implementados num programa de selecção,
permitem detectar possíveis casos de PSE e de Síndrome de Stresse Porcino, tais como
o teste do halotano, análises enzimáticas, biopsias musculares, marcadores genéticos ou
o teste da fragilidade eritrocitária (RADOSTITS e BLOOD, 1985). De referir, no
entanto, que uma selecção a favor de determinadas características demora várias
gerações e também pode levar a uma degradação ou desaparecimento de outras
características economicamente desejáveis, de forma que é preferível actuar também
sobre outros métodos de melhoramento do bem-estar animal (MILLS et al., 1997).
No respeitante às aves, a melhoria do bem-estar através de selecção genética está
também em uso. Desenvolveu-se uma estirpe de galinhas poedeiras que não tem grande
inclinação para o canibalismo ou para bicar nos outros animais, não exigindo corte do
bico para prevenir este comportamento indesejável (MUIR e CRAIG, 1998). Também é
conhecida uma estirpe de galinhas que, acidentalmente e sem manipulação
biotecnológica, é cega. Ao contrário do que se possa pensar, estas galinhas de
capacidade sensorial deficiente sofrem menos de stresse e não apresentam certos
comportamentos indesejáveis da espécie, factores que prejudicam o seu bem-estar.
Apesar de constituir potencialmente uma solução para uma melhoria no bem-estar
destes animais, desenvolver galinhas cegas não será facilmente aceite, quer pelo
público, quer pelos grupos de defesa animal (THOMPSON, 2007).
4. O Transporte até ao Matadouro
Segundo a FAO/OMS (2004) citado pela FAO (2007), o transporte de animais
para abate exige uma série de condições que devem ser obedecidas de forma a poder ser
assegurado um mínimo de bem-estar ao animais a transportar. São elas:

O risco de contaminação cruzada fecal e de contacto dos animais com a sujidade
deve ser reduzida ao mínimo;
- 19 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo

PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Durante o transporte não devem ser introduzidos quaisquer novos factores de
risco;

A correcta identificação do local de origem dos animais deve ser garantida;

Todo o stresse desnecessário deve ser evitado.
Para além destas precauções, e, segundo a mesma fonte, os veículos de
transporte devem ter determinadas características para serem considerados aptos no que
toca às boas condições de bem-estar animal:

Assegurar que o risco de lesões nos animais provocadas na carga, descarga ou
no transporte seja mínimo;

Assegurar que animais ou espécies considerados incompatíveis viajem com
separação física entre eles;

Evitar situações de contaminações cruzadas com matéria fecal (em transportes
de mais que um piso, verificar a sua construção apropriada);

Permitir uma fácil limpeza e desinfecção do espaço;

Permitir uma adequada ventilação no transporte.
O Decreto-Lei n.º 265/2007 de 24 de Julho estabelece que os transportadores
devem utilizar veículos que sigam determinadas normas, de forma a terem todas as
condições para um correcto e seguro transporte animal. Os veículos devem ser
construídos de maneira a que nem os dejectos, nem a cama ou alimentação dos animais
saiam para fora do mesmo. Devem ser limpos e desinfectados com desinfectantes
autorizados logo a seguir à descarga numa instalação de limpeza e desinfecção
credenciada pela DGV.
As más condições de transporte podem resultar em graves repercussões para os
animais, e, consequentemente, em perdas económicas para os proprietários. A má
ventilação afecta sobretudo suínos e aves, mais sensíveis ao calor excessivo. Os suínos,
conhecidos pela sua fraca capacidade de lidar com stresse, facilmente sofrem falhas
cardíacas, podendo levar à sua morte no transporte. Os suínos de pele branca tendem a
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
sofrer queimaduras solares em tempo propício. A desidratação ou a falta de alimento
durante o transporte, o cansaço da viagem (obrigando os animais a equilibrarem-se em
pé no interior do veículo por períodos de tempo excessivos) são factores que afectam
estes animais. Também a existência de arestas afiadas no transporte susceptíveis de
causarem feridas, assim como a presença de animais com cornos podem provocar lesões
no couro, pele ou carne dos animais atingidos. Todas estas causas, acrescidas do stresse
sofrido no transporte, levam a uma diminuição da qualidade da carne, podendo resultar
no aparecimento de carnes PSE (carne pálida, mole e exsudativa – pale, soft, exsudative
– de aparência e características não desejáveis para o consumidor) ou carnes DFD
(carne escura, dura e seca – dark, firm, dry – também de características desagradáveis,
para além de representarem um risco acrescido de multiplicação bacteriana) (FAO,
2007).
4.1 O período pré-transporte
No período que antecede o transporte, os animais devem ter acesso a água limpa
e a um abrigo apropriado, capaz de os proteger de condições climatéricas mais
desvantajosas, assim como adequado para evitar lesões nos animais (FAO, 2007).
É necessário que os animais sejam inspeccionados antes da carga, de forma a
avaliar se estão aptos para o transporte. De acordo com o Regulamento (CE) n.º 1/2005
do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004, relativo à protecção dos animais durante o
transporte e operações afins, é proibido o transporte de animais muito jovens (suínos
com menos de 3 semanas, cordeiros com menos de 1 semana e vitelos com menos de 10
dias), assim como de fêmeas prenhes no fim da gestação e de fêmeas que tenham feito
um parto na semana anterior, pois são considerados animais não aptos para viajar.
Relativamente ao transporte de equinos, é obrigatório o uso de baias individuais nas
viagens de longo curso.
Apesar de muitas vezes não ser uma prática corrente no nosso país, é importante
que os animais venham de explorações o mais próximo possível do matadouro onde irão
ser abatidos, visto isto diminuir o tempo de transporte a que os animais são sujeitos. No
entanto, o tempo máximo a que os animais devem estar sujeitos à viagem de transporte
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
não está estabelecido. Segundo o Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de
Dezembro de 2004, animais não desmamados devem apenas ser submetidos a viagens
de 9 horas, com uma hora de intervalo para abeberamento e podendo depois seguir
viagem por mais 9 horas. Os suínos podem ser submetidos a 24 horas de viagem, mas
devem para isso ter água sempre à disposição. Relativamente aos pequenos e grandes
ruminantes, podem fazer viagens de 14 horas, seguidas de uma hora de repouso e
podendo depois seguir viagem durante mais 14 horas. Estes ciclos referidos podem-se
repetir sempre se necessário, desde que os animais tenham uma pausa de 24 horas em
local apropriado, para serem descarregados, alimentados, abeberados e poderem
repousar.
Animais que não estejam em jejum também não são considerados aptos para
transporte imediato. Isto porque, com o estômago ou os compartimentos gástricos
repletos, os solavancos e o stresse do transporte aumentam muito o risco de uma torção
gástrica, o que poderia causar-lhes a morte desnecessariamente. O tempo recomendado
de jejum pré-transporte é de cerca de 4 horas para os suínos (FAO, 2007).
Além disso, segundo TARRANT (1991), GUISE et al. (1995), MURRAY
(2001), FAUCITANO (2001) e PELOSO (2002) citados por COSTA e colaboradores
(2005), o jejum é benéfico pois, para além de diminuir a probabilidade de vómito dos
animais, também evita uma maior disseminação de salmonela intestinal através das
fezes (por diminuição do número de evacuações), diminui a carga de conteúdo intestinal
(o que facilita a evisceração, diminuindo o risco de ruptura do intestino durante o
processo), melhorando assim a higiene e segurança alimentar, antes, durante e após o
abate. Pode-se também manter o piso do transporte mais seco e higiénico quando se
restringe o fornecimento de água aos animais antes da carga, reduzindo assim a micção
durante o transporte (FAO, 2007).
Há situações especiais em que animais mais fracos ou lesionados podem ser
transportados, mas apenas com autorização veterinária ou, quando o Veterinário não
está disponível, com autorização de um responsável. Devem-se ter cuidados especiais
nestes casos, principalmente na rapidez e comodidade do transporte (FAO, 2007).
O Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004,
obriga a que todos os operadores envolvidos no processo de transporte (incluindo
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
operações anteriores e posteriores ao transporte) tenham tido uma formação adequada.
Os transportadores e tratadores devem apresentar um Certificado de Aptidão
Profissional que prove a formação adequada recebida relativamente ao bem-estar dos
animais em transporte. Sempre que o trajecto a percorrer é superior a 65 km, os
transportadores são obrigados a pedirem uma autorização à DGV. No caso de viagens
de duração superior a 8 horas (chamadas viagens de longo curso), os transportadores
devem também possuir um Certificado de Aptidão Profissional, um certificado de
aprovação do meio de transporte usado e a informação acerca do rastreio e registo dos
movimentos do veículo, assim como plano de emergência. Presentemente é também
necessário apresentar provas de que se possui um sistema de navegação por satélite em
todos os veículos (Regulamento (CE) n.º 1/2005).
4.2 Carga dos animais
HARTUNG e seus colaboradores apresentaram em 2008 um estudo baseado na
medição de frequências cardíacas e os resultados indicam que o momento da carga dos
animais no veículo é um dos pontos mais críticos nos seus níveis de stresse. A
frequência cardíaca dos animais atingiu níveis muito elevados (passou de 100 bpm para
170 bpm) durante a carga. Também durante a descarga houve um aumento na
frequência cardíaca dos animais, que voltou a níveis considerados normais durante o
período de tempo de espera na abegoaria.
No entanto, VAN PUTTEN (1982) refere que o stresse na carga pode ser
controlado caso haja estruturas e condições para tornar a carga um evento o menos
traumatizante possível para os animais. Por isso é essencial que os responsáveis pela
condução dos animais tenham noções de comportamento animal e de como
correctamente lidar com eles, de forma a afastar possíveis danos ou stresse
desnecessário, tanto nos animais como nas pessoas envolvidas (FAO, 2007).
No caso de se usar aguilhão eléctrico, o seu uso deve ser reduzido ao mínimo e é
apenas autorizado em bovinos e suínos que recusem mover-se (Decreto-Lei n.º 28/96 de
2 de Abril). Deve-se dar preferência ao uso de objectos menos cruéis, como varas ou
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
vassouras, que manejadas inteligentemente, produzem o mesmo efeito. Também se
tolera o recurso a cães treinados para auxiliar a mobilizar gado (FAO, 2007).
No caso de se usarem rampas para a carga dos animais no meio de transporte, é
aconselhável que esta não tenha uma inclinação superior a 20º (o mesmo se diz em
relação a rampas de descarga), visto desagradar aos animais mudanças bruscas no nível
do chão, podendo recusar a movimentação. Também é importante verificar a ausência
de arestas pronunciadas que possam magoar os animais enquanto caminham. As rampas
devem ter pelo menos 1,5 metros de largura, de forma a dar espaço e facilitar a carga
dos animais. Além disso, o piso deve ser antiderrapante e possuir gradeamento lateral
ou equivalente de forma a impedir que os animais caiam ou resvalem para os lados. O
material deve ser sólido e resistente (FAO, 2007).
Sempre que possível, devem utilizar-se plataformas ou elevadores hidráulicos
para a carga e descarga dos animais. É também importante que os animais tenham
espaço para seguirem uns atrás dos outros, mas não tanto que se dispersem. O recurso a
mangas curvas, de paredes compactas de forma a bloquear a visão dos animais, é muito
útil para facilitar a movimentação dos animais e impedir os animais de se assustarem ou
distraírem com a presença de pessoas, mudança no nível do chão, ou existência de
objectos estranhos. As portas existentes não devem ser demasiado ruidosas nem ter
arestas cortantes. Também é importante assegurar uma correcta iluminação das
instalações, mangas, rampas e transportes, visto que os animais reagem com hesitação
sempre que surgem subitamente zonas de sombra ou de luz forte. O ideal é a existência
de uma luz suave e difusa, sem grandes contrastes. O transporte a receber os animais
deve ter sido limpo previamente e ter um piso seco (FAO, 2007).
4.3 Cuidados a ter no transporte
Os veículos de transporte devem ser suficientemente fortes e estáveis, sendo
vistos regularmente para manutenção, para oferecerem alguma segurança e impedirem
qualquer fuga dos animais durante o transporte, assim como conterem todas as partes do
corpo dos animais no interior dos seus limites. Devem ser facilmente laváveis, tanto no
interior como no exterior. No interior do veículo, o piso deve ser antiderrapante. Não
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
devem existir materiais ou objectos perigosos passíveis de provocar lesões nos animais,
assim como qualquer tipo de arestas perfurantes. Deve ser suficientemente espaçoso
para dar bem-estar aos animais e permitir alguma movimentação. As portas devem ter
sempre mais de 90 cm, e ser construídas de forma a facilitarem a entrada e saída dos
animais. A ventilação deve ser adequada e os fumos provenientes do tubo de escape do
veículo não devem dirigir-se para os animais transportados (FAO, 2007).
O transporte deve ser efectuado de noite (ou nas horas consideradas mais
frescas) quando as condições climatéricas de dia não forem favoráveis ao transporte por
calor excessivo, visto os animais (sendo os suínos uma espécie particularmente
sensível) poderem vir a sofrer de stresse térmico. O transportador deve ter o cuidado de
evitar estradas sinuosas ou de mau piso, assim como ter a atenção de conduzir sem
travagens ou acelerações bruscas, de forma a afastar um risco maior de lesões ou quedas
dos animais que transporta (FAO, 2007).
Tal como sugerido anteriormente, deve ser assegurado que animais ou espécies
considerados incompatíveis viajem separados. Os grupos de animais que não devem
viajar juntos ou sem separação física incluem animais com cornos, animais sem cornos,
animais mais fracos ou excessivamente fortes, animais de tamanhos muito díspares,
assim como touros adultos (FAO, 2007).
É da responsabilidade do condutor do veículo transportador que o seu veículo
permita a densidade de carga a que será sujeito. A densidade da carga varia com o peso
e tamanho dos animais, condições climatéricas e tipo de transporte. Isto é muito
importante visto que a densidade tem repercussões na quantidade de lesões que os
animais sofrem durante o transporte. No caso dos animais terem cornos, a densidade
deve ser reduzida cerca de 5% da densidade considerada normal. É também seu dever
certificar-se que os animais carregados têm todas as condições de bem-estar devidas
(FAO, 2007).
O Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004,
estipula as densidades de carga recomendadas para cada espécie animal consoante o seu
peso, para os tipos de transporte previstos. Os valores previstos podem variar consoante
o peso, tamanho e estado físico dos animais, condições atmosféricas e duração da
viagem (Regulamento (CE) n.º 1/2005).
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.4 Factores associados a um transporte inadequado e suas
consequências
Mesmo sob condições boas de transporte e viagens curtas desde a exploração até
ao matadouro, os animais podem apresentar sinais de stresse. Esta resposta aumenta
drasticamente se as condições de transporte não são as melhores, levando
inevitavelmente a uma diminuição do bem-estar animal e a perdas económicas
(TARRANT e GRANDIN, 1993). A degradação do bem-estar animal durante o
transporte tem influência directa no stresse animal, o que interfere na qualidade da carne
(CHLOUPEK et al., 2008). Transporte sob condições atmosféricas adversas
(temperaturas extremas ou tempo húmido), com mistura de animais de diferentes
proveniências no mesmo espaço (stresse social), com densidades excessivas ou
vibrações e ruídos estranhos que possam assustar os animais são alguns dos inúmeros
factores que podem afectar os animais durante o transporte (MOTA-ROJAS et al.,
2006). Também a fraca ventilação do transporte, a técnica de transporte e uma
manipulação violenta diminuem o bem-estar dos animais transportados (LAMBOOIJ e
VAN PUTTEN, 1993).
De seguida são enumerados alguns dos principais problemas com que os animais
de produção se deparam durante o transporte desde a exploração até ao matadouro e são
referidas algumas das suas consequências.
4.4.1 Duração excessiva do transporte
Os resultados obtidos por MOTA-ROJAS et al. (2006) indicam que a duração do
transporte afecta a incidência de lesões na pele dos animais. Quanto mais longo for o
tempo de transporte, mais lacerações os animais apresentam e mais casos de eritema
(tanto localizado como generalizado) são detectados em matadouro. Os machos são
aqueles que mais lacerações exibem, podendo isto ser explicado pela maior tendência
destes animais para lutas durante o transporte e principalmente no período de tempo que
passam na abegoaria, local preferencial para estabelecer hierarquias quando há mistura
de animais de diferentes proveniências (GEVERINK et al., 1996). Num estudo de
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
BECERRIL-HERRERA et al. (2007) demonstra-se que são os machos os mais
afectados com sinais de hiperventilação, em transportes com a duração elevada e são
também os menos resistentes à fadiga.
O ideal seria abater os animais próximo dos locais de cria e produção, para que o
stresse de transporte fosse minimizado (RADOSTITS e BLOOD, 1985; MOTA-ROJAS
et al., 2006). HARTUNG e colaboradores (2008) referem mesmo que transportes de
curta distância não têm qualquer efeito nefasto na qualidade da carne.
É de prever alguma perda de peso no transporte, quer devido ao stresse de
transporte como à privação de água e comida a que os animais são submetidos
(GRACEY et al., 1999). As perdas normalmente variam entre 4 a 9% do peso do
animal, a maior parte devido à perda de fluidos e electrólitos no tracto digestivo do
animal, que não são substituídos ou compensados. No caso de animais submetidos a
transportes longos ou sob muito stresse, a recuperação total do peso perdido pode
demorar até 3 semanas (RADOSTITS e BLOOD, 1985). As fêmeas desidratam menos
que os machos, provavelmente devido à sua constituição corporal ser diferente,
contendo uma maior percentagem de gordura, sendo esta capaz de reter água (BROWN
et al., 1999; RUBIO, 1996 citado por MOTAS-ROJAS et al., 2006).
4.4.2 Densidade excessiva
A elevada densidade de animais no transporte é um dos factores que predispõe a
uma maior incidência de contusões (GRANDIN, 2001). Um estudo de NANNI-COSTA
e colaboradores (1999) revelou que altas densidades (acima dos 0.6 m2/100kg) aumenta
a ocorrência de traumatismos e lacerações nos animais.
WAJDA e DENABURSKI (2003) citados por BECERRIL-HERRERA e
colaboradores (2007) também referem que a qualidade da carne diminui sempre que os
animais são transportados em condições de excessiva densidade e em longos trajectos, o
que provoca uma diminuição do glicogénio dos músculos, originando carnes fatigadas.
Uma das conclusões a que de BECERRIL-HERRERA e seus colaboradores
(2007) chegaram defende que o aumento de espaço no transporte possibilita um maior
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
bem-estar animal, além de assegurar uma diminuição da incidência de cores
desfavoráveis na carne.
Outro problema relativo a grandes densidades é a pouca capacidade de
arrefecimento dos animais nestas condições, que pode ser agravada quando o transporte
não tem uma ventilação adequada ou no caso de ser efectuado em dias quentes. Os
suínos não têm glândulas sudoríparas desenvolvidas e por isso não transpiram. A
selecção a que os suínos domésticos foram submetidos também deteriorou a sua
capacidade de arrefecimento, visto que sempre se preferiu animais com uma tromba
mais pequena (por razões estéticas), o que lhes diminuiu a área corporal de evaporação
(LAMBOOIJ e VAN PUTTEN, 1993).
4.4.3 Condução inadequada do transporte
Chegou-se à conclusão que a qualidade do piso das estradas e a perícia do
condutor têm influência no stresse dos animais (HARTUNG et al., 2008). TARRANT e
GRANDIN (1993) afirmam mesmo que a capacidade de condução do transportador e a
qualidade da estrada é mais importante que a distância percorrida pelos animais desde a
exploração até ao matadouro. Paragens bruscas ou a utilização de estradas secundárias
em mau estado estão associadas ao aumento de stresse e aparecimento de traumatismos
e lacerações (TARRANT, KENNY e HARRINGTON, 1988 citado por MOTA-ROJAS
et al., 2006). Carcaças de animais muito lesionados terão de ser aparadas, perdendo
peso e destruindo o aspecto comercial, o que leva a perdas económicas (SOUZA e
FERREIRA, 2007).
4.4.4 Condições climatéricas desfavoráveis
GRANDIN (1994) menciona que há uma maior tendência para o aparecimento
de carnes PSE caso o transporte se verifique em meses do Verão, quando há mistura de
animais de diferentes proveniências ou quando há uma densidade excessiva no
transporte. Este facto foi comprovado em 2008, por VOSLAROVA e seus
colaboradores. O factor ambiental mais determinante no stresse de suínos transportados
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
é a temperatura ambiente, devendo ser sempre um aspecto a considerar antes de se
proceder ao transporte. Num dos seus estudos na República Checa com porcos de
engorda, desde 1997 até 2006, verificou-se que as estações do ano afectam directamente
a mortalidade dos animais durante o transporte. A maior taxa de mortalidade foi notada
no durante o mês de Junho, Julho e Agosto (meses particularmente quentes, cujas
temperaturas médias ultrapassavam os 15ºC).
4.4.5 Stresse de transporte
Um estudo de GRIGOR e colaboradores (2004) pretenderam comparar o bemestar animal entre animais (vitelos, neste caso) transportados para o matadouro para
abate e animais que foram abatidos na própria exploração, para determinar de que forma
é que o transporte atinge os animais. Observou-se que, efectivamente, o transporte é um
evento indutor de stresse nos animais. Os vitelos transportados para o matadouro tinham
níveis mais elevados de creatina-quinase comparativamente com animais não
submetidos a transporte. A creatina-quinase é uma enzima específica dos músculos,
cujos níveis altos indicam trauma muscular devido a lesão ou excesso de exercício
físico (LEFEBVRE e colaboradores, 1996 citados por GRIGOR et al., 2004). Esta
observação está em sintonia com o facto de os animais transportados para o matadouro
aparecerem com mais lesões do que os animais abatidos na exploração. Também se
observou um aumento na frequência cardíaca (durante o transporte e estadia na
abegoaria), e um aumento significativo dos níveis de cortisol plasmático após o
transporte, indicando que estes eventos são particularmente stressantes para os animais.
GRANDIN (1997) documenta também que o transporte é responsável tanto por
stresse físico (cansando os animais, submetendo-os a temperaturas não adequadas e
expondo-os ao risco de traumatismos), como por stresse psicológico (na manipulação,
contenção e condução dos animais, sujeitando-os a ambientes desconhecidos).
O estudo de BECERRIL-HERRERA et al. (2007) demonstrou de que forma a
qualidade da carne se altera com o stresse de transporte. Neste estudo verificou-se que
viagens longas aumentam o aparecimento de um pH baixo na carne, aos 45 minutos
pós-abate. Este facto pode ser explicado pela aceleração do processo de glicólise no
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
músculo do animal, devido ao stresse agudo sofrido por este. Isto leva a que o pH da
carne diminua mais rapidamente que o normal, alterando as suas características e
predispondo ao aparecimento de carnes PSE. No caso de viagens de longa duração, há
uma maior incidência de carne DFD (também corroborado por BROWN et al., 1990 e
por MOTA-ROJAS et al., 2006), ocorrência que se compreende devido ao stresse
crónico e continuado, à fome e às temperaturas extremas, o que limita o processo de
glicólise (provocando um esgotamento de glicogénio muscular e de reservas
energéticas) e, consequentemente, limita também a descida de pH (GIL, 2000). De
referir que a carne que apresente um pH inferior a 5.7 aos 45 minutos após o abate pode
apresentar a condição conhecida por PSE e carne que apresente pH superior a 6.3 aos 45
minutos após o abate pode apresentar a condição DFD (BECERRIL-HERRERA et al.,
2007).
Trabalhos de VAN DE WATER e colaboradores (2003) provaram que existem
diferenças nos níveis de cortisol e na qualidade da carne de animais dependentemente
da zona do veículo de transporte onde viajam. Animais que viajavam nos
compartimentos mais atrás do veículo apresentaram um ritmo cardíaco mais acelerado,
o que se deve ao facto de ser mais difícil os animais equilibrarem-se nestes
compartimentos (devido à maior movimentação desta zona), levando a um maior
esforço e desgaste físico dos animais. No entanto, era nos compartimentos da frente que
os animais apresentavam maiores níveis de cortisol plasmático (provavelmente devido
ao facto de, nesta parte do veículo, mais facilmente existir pior ventilação, temperaturas
inadequadas, ruídos incómodos vindos do motor ou correntes de ar), ocorrendo com
maior frequência a condição PSE nestes animais.
4.4.6 Doenças de transporte
O transporte, por ser um factor de stresse importante, predispõe a várias doenças,
entre elas a doença respiratória aguda e a pasteurolose pneumónica, levando a graves
perdas económicas (RADOSTITS e BLOOD, 1985). Uma das doenças mais
importantes é a chamada “febre dos transportes”, frequente causa de mortalidade, sendo
uma patologia respiratória com origem multifactorial, que surge devido à associação do
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
stresse de transporte (que deprime o sistema imunitário), agentes bacterianos e agentes
virais oportunistas (GRANDIN, 1993a).
Outro problema bastante comum é a salmonelose. O stresse provoca aumento da
susceptibilidade dos animais que estão em contacto com a bactéria e um aumento da
eliminação de Salmonella em suínos portadores (ISAACSON et al., 2001).
A Salmonella é potencialmente patogénica para o ser humano, podendo provocar
graves intoxicações alimentares (WIERUP, 1994). Salmonella typhimurium é a
responsável pela maioria das salmoneloses no Homem (representa 11-30% dos casos de
intoxicações alimentares relacionados com o consumo de carne de porco, segundo o
Centre for Disease Control, EUA) (ISAACSON et al., 2001). Este aumento da excreção
de agentes bacterianos pode levar a contaminações cruzadas e a uma reduzida
salubridade das carnes (GREGORY, 2008). Daí perceber-se a importância de uma boa
higiene e a gravidade de uma carcaça estar contaminada pela bactéria e proceder para
consumo humano (WIERUP, 1994).
Normalmente, os suínos são infectados por Salmonella ainda jovens, tornando-se
portadores crónicos no caso de sobreviverem à infecção. O estudo de ISAACSON e
seus colaboradores também provou que é o stresse de transporte e não o jejum a que os
animais são submetidos antes do transporte que provoca este aumento na eliminação do
agente, uma hipótese que anteriormente se tinha colocado (ISAACSON et al., 2001).
5. Matadouro
5.1 Recepção e permanência na abegoaria
Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, todos os matadouros devem
dispor de instalações e equipamento adequado à descarga dos animais. O transportador
tem que apresentar na recepção toda a documentação necessária que a legislação em
vigor exige, incluindo o registo da exploração, guias, certificados, passaportes, etc.
(GIL, 2000). É da responsabilidade do condutor do veículo informar a pessoa
encarregada de todas as ocorrências na viagem susceptíveis de atingir o bem-estar
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
animal, assim como da última refeição e abeberamento, e tratamentos administrados
(FAO, 2007).
Na descarga, devem ser tomados os mesmos procedimentos e cuidados
adoptados na carga (FAO, 2007). Deve-se ter em conta que os animais chegam
cansados e possivelmente lesionados, sendo por isso imprescindível uma maior calma
ao lidar com eles. Também por isso, a descarga deve ser feita assim que se chega ao
matadouro (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; GIL, 2000; FAO, 2007). É importante
assegurar que animais incompatíveis não se misturem durante este processo (DecretoLei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007).
Animais que cheguem em agonia ou com lesões severas devem ser submetidos a
abate de urgência. No caso de não haver um Veterinário presente, o abate pode ser feito
sob a supervisão de um responsável para o efeito. Deve-se evitar ao máximo causar dor
acrescida ao animal em sofrimento, seja por movimentação desnecessária, seja por
prolongamento do período de agonia (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007).
É aceitável proceder-se à insensibilização e sangria do animal, caso tal seja possível ou
necessário, no próprio veículo de transporte (FAO, 2007).
Assim que os animais são descarregados e encaminhados para a abegoaria, develhes ser oferecida água potável sem limitações, de forma aos animais puderem recuperar
do desgaste e desidratação sofridos no transporte (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril;
FAO, 2007). Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, os animais que não sejam
abatidos nas 12 horas seguintes à sua chegada devem ser alimentados adequadamente,
assegurando sempre um intervalo seguro de jejum antes do abate.
Nos matadouros, as abegoarias devem ser construídas de forma a garantir o bemestar animal e segurança para todos os intervenientes. Os currais onde são mantidos os
animais, assim como os corredores ou mangas por onde são encaminhados, devem ser
adequados para a espécie animal respeitante. O piso deve ser facilmente lavável e
antiderrapante. A ventilação e iluminação do local devem ser adequadas (Decreto-Lei
n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). Deve haver um sistema eficaz para eliminação de
fezes e urina. Não deve haver arestas cortantes ou objectos passíveis de causar lesões
nos animais. De preferência, as paredes das mangas devem ser maciças, de forma a
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
impedir que os animais se assustem ou distraiam enquanto são movimentados. Toda a
maquinaria circundante deve ser o mais silenciosa possível (FAO, 2007).
Durante a sua permanência nas abegoarias os animais nunca devem sofrer
agressões que lhes provoquem medo, stresse ou dor. Não devem ser agredidos,
flagelados, espancados ou empurrados, nem lhes deve ser provocada qualquer dor em
zonas sensíveis. Não devem ser obrigados a moverem-se arrastando-os por qualquer
parte do corpo, seja pela cauda, pelos cornos, pelo nariz, pelo pêlo, etc. O uso do
aguilhão eléctrico deve ser feito com a maior cerimónia possível, sendo uma opção de
último recurso (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007), e as descargas apenas
podem ser aplicadas nos membros posteriores do animal (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de
Abril). No caso de ser usado, indica uma falha em termos da aplicação das boas práticas
do bem-estar animal, e que é necessário uma revisão do sistema de condução animal
(FAO, 2007).
A sobrelotação da abegoaria é outro factor a evitar, devendo sempre dar-se
espaço suficiente aos animais para uma circulação livre, seja para exploração do novo
espaço ou para abeberamento/alimentação se necessário. O espaço tem de ser suficiente
para todos os animais estarem deitados ao mesmo tempo sem problemas de maior
(FAO, 2007). Também aqui se deve seguir as regras de segregação de animais
incompatíveis (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril), separando animais de explorações
diferentes, touros adultos, animais adultos de animais jovens, animais com cornos e sem
cornos, etc. Os animais mais frágeis (seja por lesão, fadiga excessiva, ou por serem
muito jovens) devem ser protegidos e colocados à parte (FAO, 2007). Esta separação
dos animais por lotes de idade, sexo, espécie e tamanho, para além de evitar possíveis
prejuízos económicos devido a agressividade dos animais, ajuda o inspector sanitário a
realizar a inspecção ante mortem (GIL, 2000).
Uma forma rápida e fácil de reduzir o stresse destes animais é aspergindo água
sobre eles. O duche relaxa e alivia o stresse, atenuando a possibilidade de surgir carne
com características PSE, ao diminuir a acidose pré-abate (GREGORY, 2008). Segundo
ROÇA e SERRANO (1995), também permite um abate mais higiénico, apesar de não
ter quaisquer efeitos relativamente à contaminação microbiana na carcaça.
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Refira-se ainda que a acção do stresse (devido ao jejum forçado, às condições
climatéricas, do transporte e do matadouro e à mistura de animais de diferentes
proveniências) reduz a resposta imunológica do animal. Segundo COSTA e
colaboradores (2005), o stresse provoca um aumento de evacuação fecal, levando, por
exemplo, a um agravamento de excreção de Salmonella nas fezes. Os mesmos autores
citam BERENDS e seus colaboradores (1996), que referem que esta situação leva à
contaminação de animais que não estavam infectados por Salmonella anteriormente,
piorando as condições de higiene na abegoaria. É, por isso, de esperar que quanto mais
tempo os animais passam na abegoaria, maior será a contaminação cruzada de
Salmonella intestinal (GIL, 2000; COSTA et al., 2005).
5.2 Abate dos animais
5.2.1 Encaminhamento dos animais para a nave de abate
O encaminhamento dos animais consta da sua condução desde os parques da
abegoaria até à zona de insensibilização ou atordoamento (GIL, 2000).
HAMBRECHT e seus colaboradores (2004, 2005) indicam que os momentos
antes do abate efectivo são preponderantes no que respeita às características da carne
obtida, visto que o stresse vivido pelo animal desde a abegoaria até ao local de
insensibilização tem grande influência na concentração de lactato muscular nas 2-3
horas post mortem e no pH final da carne. Uma má manipulação dos animais leva
invariavelmente a perdas económicas (GALLO et al., 2001 citado por BECERRILHERRERA et al., 2007).
FRANK e seus colaboradores (2003a) chegaram a conclusões semelhantes.
Estudaram o efeito de duas técnicas de encaminhamento de suínos para a zona de
insensibilização e da forma como estes afectavam a frequência de ocorrência de carne
PSE. O primeiro grupo de animais foi submetido a um encaminhamento violento,
através de uma manga de retenção imobilizadora, que obrigava os animais a dirigiremse para a zona de insensibilização um a um, e com o uso sistemático de aguilhão
eléctrico. Foram observados sinais de stresse, como a vocalização, apatia e tentativas de
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PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
fuga. No segundo grupo, o encaminhamento foi feito calmamente, com os animais
conduzidos em pequenos grupo, recorrendo-se apenas ao uso de portas de deslize, sem
intervenção humana. Estes animais não aparentaram sinais de stresse, dirigindo-se sem
relutância para a zona de insensibilização. Após o abate, a carne dos animais foi
analisada, constatando-se que o stresse imediatamente antes do abate tem grandes
consequências na qualidade da carne, particularmente na ocorrência de carne PSE, que
se caracteriza pela ocorrência de miopatia exsudativa (FRANK et al., 2003b). O
segundo grupo de animais teve uma frequência de 13% de carne com características
PSE, contrastando com o primeiro grupo, com uma frequência de 50% (FRANK et al.,
2003a).
Tem sido referido também que, na proximidade da nave de abate, os animais a
abater tenham a capacidade de detectar uma feromona de aviso presente no sangue de
animais submetidos a um elevado nível de stresse que se liberta para o ambiente no acto
da sangria. Tal facto teria naturalmente um efeito ao exacerbar o stresse pré-abate.
Desta forma, é importante a colocação de ventoinhas que retirem o ar da zona de
insensibilização, assim como de lavagens regulares do sangue dos animais abatidos
(GRANDIN, 1993b).
5.2.2 Na nave de abate
O Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril estabelece as normas para a protecção dos
animais no abate. Proíbe a utilização do equipamento de atordoamento como forma de
contenção ou imobilização dos animais, assim como para os obrigar a mover. Também
não é permitido utilizá-lo para provocar sofrimento nos animais. De referir que existem
métodos menos convencionais de abate, que comprometem gravemente o bem-estar
animal. Práticas como o afogamento, matança de porcos sem atordoamento ou o corte
da medula espinal cervical em bovinos sem insensibilização são práticas a considerar
como cruéis e inaceitáveis (FAO, 2007).
A FAO (2007) sugere a implementação de um sistema do tipo HACCP para
assegurar o bem-estar animal durante todos os passos do abate, apontando falhas e
- 35 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
apresentando possíveis melhorias para um contínuo progresso na qualidade de todo o
sistema de abate. Há referência a 5 pontos críticos de controlo:
- Eficácia do atordoamento: avaliação do número de animais que são
efectivamente insensibilizados à primeira tentativa;
- Insensibilidade após o atordoamento: avaliação do número de animais que se
mantêm insensíveis durante e após a sangria;
- Vocalização: avaliação do número de animais que vocalizam (não se aplica na
espécie ovina, pois pouco vocalizam em condições ditas normais);
- Quedas/deslizes: avaliação do número de animais que caem ou escorregam
durante o encaminhamento e na zona de atordoamento;
- Eficácia do uso de aguilhão eléctrico: avaliação do número de animais que
obrigam ao uso de aguilhão eléctrico.

A INSENSIBILIZAÇÃO:
A insensibilização antes da sangria é um passo extremamente importante do
ponto de vista do bem-estar animal de forma a evitar sofrimento inútil ao animal
(ROÇA, 2001; Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). Consiste em induzir o
estado de inconsciência ao animal, de forma a evitar qualquer sofrimento desnecessário
(GIL, 2000).
A insensibilização deve ser feita através de um método seguro e apropriado para
o efeito, deve provocar a perda de consciência do animal e deve durar até a altura da
morte do animal na sangria (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). É
importante que haja formas de verificar se o processo de atordoamento está a ser
correctamente executado, consoante a espécie e tamanho do animal. Os operadores
responsáveis pela execução do método devem ser competentes e treinados para o efeito.
Os dispositivos utilizados para a insensibilização devem ser limpos regularmente e
sempre que necessário, submetidos a manutenção apropriada. O animal só deve ser
sujeito à insensibilização no caso de se proceder à sangria imediatamente depois
(Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007).
- 36 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os animais são normalmente conduzidos para a área de insensibilização através
de mangas, de preferência com paredes maciças e sem arestas, com iluminação
adequada e com chão antiderrapante, e com o mínimo de stresse possível (FAO, 2007).
Um correcto atordoamento implica que se faça antes a imobilização do animal,
limitando-lhe os movimentos (GIL, 2000). Segundo as normas estabelecidas pelo
Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, os animais devem ser sempre imobilizados, de
forma a prevenir possíveis dores, sofrimento, agitação ou lesões desnecessárias.
Existem vários tipos de imobilizadores de animais, que facultam a contenção do
animal e facilitam o processo de insensibilização, tornando-o mais seguro, rápido e
eficaz. O objectivo é confinar o animal e impedi-lo de fazer movimentos bruscos. No
entanto, a imobilização dos animais também pode ser manual (FAO, 2007). É
importante que, qualquer que seja o método de imobilização do animal, este não
provoque lesões nem sofrimento ao animal (GIL, 2000).
Segundo o Anexo D do Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril, existem vários métodos
de atordoamento autorizados:
- Electronarcose ou Atordoamento eléctrico: Este método consiste na utilização
de eléctrodos que são colocados abrangendo o cérebro do animal, de forma a que seja
atravessado por uma corrente eléctrica.
A identificação de uma correcta insensibilização é fundamental para reconhecer
situações de falhas no bem-estar animal. Após um atordoamento correcto e eficaz, o
animal passa por duas fases: a fase tónica (com duração de 10 a 12 segundos, em que o
animal cai rigidamente, com as patas anteriores esticadas e as posteriores flectidas,
respirando irregularmente) e a fase clónica (com duração de 20 a 35 segundos, em que o
animal escoiceia, movimenta os olhos e saliva). Caso o animal não seja sangrado
imediatamente, recuperará a respiração regular (FAO, 2007).
Uma consequência possível de um atordoamento eléctrico incorrecto é o
aparecimento de hemorragias de shock (também conhecida por “splashing”) na carcaça
ou vísceras do animal. Estas manchas ou petéquias hemorrágicas aparecem
normalmente nos tecidos contíguos à zona de descarga eléctrica, principalmente
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Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
músculos e fáscias. Ocorre devido à súbita ruptura de capilares que a descarga
desencadeia, havendo várias teorias para o facto, mas nenhuma ainda foi provada.
Pensa-se que poderá estar relacionado com as contracções musculares que rasgam os
capilares devido a um súbito aumento de pressão venosa (MORENO, 2006;
GREGORY, 2007). Poderá também estar relacionado com a própria genética do animal,
visto que o “splashing” é mais frequentemente observado em animais com capilares
frágeis (GREGORY, 2007).
- Atordoamento por concussão: Feito através de um golpe violento na cabeça do
animal, de forma a provocar a perda repentina de consciência do animal, que deve durar
até à sua morte (FAO, 2007). É feito através de pistolas de êmbolo (também chamadas
de CBG’s) não penetrantes. A mais recomendada é a CBG que incorpora no seu sistema
um dispositivo em forma de cogumelo que atinge a cabeça do animal com uma pancada,
provocando perda de consciência por concussão, devendo ser usada apenas em bovinos
(GRACEY et al., 1999; FAO, 2007). O atordoamento não deve provocar fractura do
crânio (Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril).
- Atordoamento com pistola de êmbolo retráctil: No caso das CBG’s
penetrantes, ao contrário das CBG’s não penetrantes, o êmbolo causa sempre lesões
irreversíveis no cérebro, penetrando no córtex e cérebro médio, provocando a
inconsciência ao interromper a actividade cerebral do animal. A posição de tiro destas
pistolas varia com a espécie do animal (Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril), assim como
com a sua idade e o tipo de CBG usada (FAO, 2007). É proibido atordoar os animais
pela nuca, excepto no caso de coelhos, ovinos ou caprinos cuja posição dos cornos não
permita a penetração frontal do êmbolo (Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril).
Após um atordoamento mecânico eficaz, o animal cai imediatamente, tendo os
olhos fixos, sem qualquer reflexo córneo ou respiração rítmica. Caso o animal não caia
prontamente, tenha reflexo córneo, mova os olhos ou respire ritmicamente, é indicativo
de que o atordoamento foi mal feito, violando-se um principio importante do bem-estar
animal. Deve-se assegurar que este erro seja rapidamente corrigido, atordoando
novamente o animal de uma forma eficaz, posicionando a pistola cerca de 1 cm acima
- 38 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
do ponto correcto de disparo e cerca de 5 cm ao lado da linha média. De salientar que
não se deve nunca utilizar o mesmo ponto de disparo utilizado anteriormente. Sempre
que a eficácia dos disparos baixe dos 95%, deve-se actuar de forma a melhorar esta
percentagem (FAO, 2007).
Têm-se feito estudos acerca da possibilidade de tecido cerebral passar para a
corrente sanguínea devido à insensibilização feita com pistola de êmbolo oculto
penetrante. Os resultados indicam que há efectivamente risco de disseminação de
material do sistema nervoso central na circulação sistémica, incluindo órgãos viscerais,
levantando novas preocupações acerca de possíveis infecções de EET (Encefalopatias
Espongiformes Transmissíveis) nos seres humanos. É possível que, eventualmente, este
problema possa levar à proibição do uso deste método de atordoamento (FAO, 2007).
- Atordoamento com atmosfera modificada ou Exposição ao CO2: Este tipo de
atordoamento é feito com a ajuda de uma câmara com uma mistura de gases aos quais o
animal é exposto, capazes de provocar inconsciência no animal. Deve-se monitorizar e
assegurar que a quantidade de gases e o tempo que o animal é exposto a eles são
suficientes para uma insensibilização eficaz. Um animal correctamente insensibilizado
sai da câmara com os músculos relaxados, sem respiração rítmica e sem resposta a
estímulos dolorosos (FAO, 2007).
Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, a concentração de CO2 para um
atordoamento eficiente deve ser, no mínimo, de 70% em volume.
Segundo GIL (2000), vários métodos de atordoamento foram abandonados por
apresentarem problemas de segurança, de sanidade e de bem-estar animal, tais como a
técnica da choupa, a técnica da cavilha ou prego, o uso do maço (de madeira ou de
ferro) ou o uso de armas de fogo. São consideradas excepções relativamente ao método
de atordoamento os casos de abate de emergência sem que haja possibilidade de
executar o atordoamento, abate de animais devido a controlo sanitário, abate realizado
pelo produtor para consumo próprio e abate religioso (GIL, 2000).
- 39 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo

PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
SACRIFÍCIO JUDAICO (“SHECHITA”):
O método de sacrifício judaico, também chamado de “shechita”, é aplicado
somente a bovinos, caprinos e aves, visto que os judeus não comem carne de porco. Não
é feito qualquer tipo de insensibilização ao animal, apesar de já haver algumas práticas
de insensibilização com êmbolo autorizadas pela lei judaica (FAO, 2007). A legislação
abre uma excepção para estes rituais religiosos (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril). O
abate é feito após contenção do animal, com uma faca especial afiada que corta rápida e
eficazmente o pescoço do animal. A sangria faz-se cortando todos os vasos do pescoço,
devendo ser rápida para que o animal morra o mais depressa possível. O maneio préabate deve ter as mesmas considerações sobre bem-estar animal que um abate nãoreligioso (FAO, 2007).
Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, é obrigatória a imobilização de
bovinos antes do abate religioso, através do uso de processos mecânicos. É proibido
prender as patas dos animais, assim como suspendê-los antes do abate ou atordoamento.
Existem inúmeras preocupações sobre o bem-estar de animais submetidos a
abate religioso. Os pontos principais são o maneio pré-abate que provoca grande stresse
nos animais (imobilização com cordas para prender as patas; vendas nos olhos), a dor
sentida pelo animal durante o corte do pescoço (visto estarem conscientes) e a
possibilidade de degolas mal feitas (levando a uma morte lenda e agonizante para o
animal) (FAO, 2007; GREGORY, 2007). Desta maneira, é essencial que as pessoas
envolvidas no abate religioso sejam experientes e tenham formação adequada para a
tarefa a executar, para que o animal sofra o menos possível. Deve-se, sempre que
possível, explicar todas as vantagens da insensibilização do animal antes da sangria,
alertando para o facto de que a insensibilização não ter qualquer efeito negativo na
sangria (FAO, 2007).

SANGRIA:
A sangria consiste na redução da quantidade de sangue em circulação no sistema
do animal (GIL, 2000). De acordo com as normas estabelecidas no Decreto-Lei n.º
28/96 de 2 de Abril, deve ser iniciada o mais rapidamente possível após o correcto
atordoamento e ser efectuada antes da recuperação da consciência do animal.
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Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A sangria deve apenas ser feita em animais correctamente insensibilizados.
Recorre-se a uma faca “tipo vampiro”, adequada ao tamanho e espécie do animal. O
corte é feito na base do pescoço, na prega da jugular, apontando para o peito do animal
(FAO, 2007). O que se pretende é cortar as artérias carótidas ou os vasos que delas
derivam, para que o animal sangre o mais completamente possível e a morte ocorra
(Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007).
Os tempos máximos tolerados para começar a sangria após atordoamento do
animal, segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, estão expostos a seguir:

Atordoamento com pistola de êmbolo: 60 segundos;

Atordoamento eléctrico ou por pancada: 20 segundos;

Atordoamento por exposição ao CO2: 60 segundos (após sair da câmara).
É importante que o animal mantenha os movimentos respiratórios e os
batimentos cardíacos para que a sangria seja o mais completa possível. Nos grandes
animais, uma sangria completa demora entre 5 a 8 minutos. Uma má sangria leva a
carnes com má apresentação, conservação e salubridade (GIL, 2000).
6. Conclusão
Actualmente ainda há muito trabalho a fazer no vasto campo do bem-estar
animal. Nos últimos anos tem havido um acréscimo de atenção relativamente às
condições de transporte a que os animais são submetidos, e um aperto das fiscalizações
e restrições em termos da lei. Apesar de continuarem estar longe do ideal, estas
melhorias tiveram efeitos positivos na redução da taxa de mortalidade dos animais
durante o transporte, principalmente de suínos, animais mais sensíveis ao stresse de
transporte (CHLOUPEK et al., 2008). O ideal seria aperfeiçoar todas as etapas da
cadeia de produção de carne, desde o processo de cria e maneio pré-abate, passando
pela melhoria das instalações e rede de transportes para o matadouro, até todo o
processo de insensibilização e de abate. A escolha de raças de animais menos propensas
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Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE I
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
ao stresse é também uma medida a ser avaliada para se obterem carcaças e carne de
melhor qualidade (COSTA, 2006).
Existem movimentos cívicos que defendem a proibição de importação de carne
vinda de países com poucas condições de bem-estar animal, de forma a pressionar os
produtores a melhorar as condições em que produzem os animais (APPLEBY, 2005).
GRANDIN (1993a) também sugere o uso de incentivos financeiros, valorizando-se o
trabalho pela qualidade e não pela rapidez de execução. Prémios pela redução de lesões
nos animais para abate são uma opção a ter em conta.
Segundo a Ordem dos Médicos Veterinários (2008), foram várias as propostas
sugeridas pela Comissão para melhorar os níveis de protecção animal em relação ao
bem-estar, tidos como muito desiguais dentro da União Europeia. Entre elas, destaca-se
a necessidade de certificados de competência (emitidos por órgãos creditados para o
efeito) de cada pessoa envolvida no abate dos animais. Também se propôs a criação de
um Centro Nacional de Referência em cada país da UE, que assegurará um melhor bemestar animal, ao conceder assistência técnica, ao ponderar os métodos de atordoamento e
avaliar novos matadouros.
CURTIS (1990) citado por LEMAN e colaboradores (1992), afirma também que
é importante educar os produtores e todas as pessoas envolvidas no maneio animal
acerca do bem-estar animal e a sua importância para uma maior produtividade e
melhores lucros. FRIEND (1990) alerta inclusive para a importância da instrução acerca
do bem-estar animal e do bom maneio dos animais a alunos de Medicina Veterinária, de
forma a tornarem-se profissionais com ética, conhecedores do comportamento de
animais de produção, da fisiologia do stresse e da melhor maneira para implementação
de um bem-estar animal de qualidade superior, ao mesmo tempo que são capazes de
enfrentar criticas de possíveis grupos activistas de defesa dos animais. De referir, no
entanto, que, apesar de poderem aparentar algum extremismo, estes grupos activistas,
juntamente com os grupos responsáveis pelo bem-estar animal, desafiam tanto os
métodos como os procedimentos utilizados na produção animal, possibilitando e
estimulando a constante mudança e evolução do sistema (GETZ e BAKER, 1990).
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Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
PARTE II – TRABALHO EXPERIMENTAL
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
1. Introdução
Lacerações, hematomas, eritema, fracturas e luxações são alguns tipos de
anomalias observáveis em suínos abatidos para consumo, causados por deficiências de
bem-estar animal, nomeadamente na carga dos animais, transporte, descarga e
permanência na abegoaria. Refira-se ainda como tendo um papel importante a mistura
de animais de diferentes proveniências e os golpes infligidos através do uso de paus ou
objectos para o encaminhamento dos animais (MORENO, 2006). Durante a inspecção
post mortem, estas lesões podem ser motivo de reprovação parcial ou da carcaça inteira,
consoante a sua extensão e repercussões sobre outras partes da carcaça. Refira-se
também que a ocorrência deste tipo de lesões está muitas vezes ligada ao aparecimento
de alterações na qualidade da carne, que conferem à carcaça um aspecto repugnante,
comprometendo a sua aprovação, levando a perdas económicas (GRANDIN, 1993a;
KNOWLES, 1999; MORENO, 2006), e são consideradas ainda bons indicadores de
problemas relacionados com o bem-estar animal (BROOM, 1993; FLECKNELL e
MOLONY, 1997; GUÀRDIA et al., 2009). Desta forma, achou-se oportuno o estudo
mais aprofundado deste problema em suínos, animais onde facilmente se identifica a
presença de lacerações, hematomas, eritema cutâneo ou fracturas durante a inspecção
post mortem, procedendo-se à elaboração deste trabalho prático.
Este trabalho foi delineado com o objectivo de se determinar o efeito do
tamanho do lote de suínos para abate, o tipo de trajecto a que os suínos são submetidos,
o número de horas totais desde a saída da exploração até serem abatidos, horas de
viagem e horas na abegoaria na ocorrência de lacerações, eritema cutâneo, hematomas e
fracturas nos suínos monitorizados. Pretendeu-se também comparar os resultados
obtidos com outros estudos feitos neste campo e contribuir academicamente para uma
melhor compreensão relativamente à importância do bem-estar nesta espécie animal.
- 44 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
2. Material e Métodos
Fez-se o acompanhamento de actos de descarga dos animais à chegada ao
matadouro e ainda dos actos de Inspecção Sanitária ante mortem e post mortem em
vários matadouros da Região Norte do país durante 4 meses (no período entre 15 de
Setembro de 2008 e 15 de Janeiro de 2009), tendo-se especial atenção na observação de
irregularidades relativas ao Bem-Estar Animal. Em particular, procedeu-se a uma
recolha de dados para o presente trabalho no Matadouro Aleu, em Vila Real, entre 12 de
Novembro e 2 de Dezembro de 2008, tendo sido analisados com detalhe 5 abates
diferentes, que se traduziram na inspecção de um total de 834 animais da espécie suína.
Os animais chegavam ao matadouro no dia anterior ao abate, sendo
descarregados imediatamente à chegada e encaminhados para a abegoaria. No dia
seguinte, eram inspeccionados na abegoaria antes do abate. Recorrendo-se ao uso de
palmas ou de jactos de água, forçava-se os animais a circularem, procurando-se
quaisquer sinais de lesões, hematomas ou fracturas que pudessem ter resultado da
viagem ou da estadia na abegoaria.
Durante o abate, e durante a execução da Inspecção Sanitária post mortem, era
feito o exame visual rigoroso e individual da carcaça dos animais submetidos a abate,
procedendo-se ao registo de lesões observadas, como fracturas de membros,
hematomas, eritema e lacerações (lesões habitualmente relacionadas com deficiências
no bem-estar animal).
As lacerações observadas foram classificadas em lesões tipo 1, 2 ou 3, consoante
a sua extensão na carcaça, a gravidade ou profundidade dos golpes. As lacerações tipo 1
são lesões relativamente superficiais na pele e presentes na carcaça em escasso número
(Fig. 2). As lacerações tipo 3 são lesões profundas na pele e mais ou menos
generalizadas por todo o dorso ou membros do animal (Fig. 4). As lacerações tipo 2 são
lesões de grau intermédio entre os 2 últimos tipos (Fig. 3). Refira-se ainda a detecção de
carcaças não inclusas nesta classificação, uma vez que não apresentaram sinais de
lacerações consideradas relevantes (Fig. 1).
O eritema observado na face externa da carcaça foi diferenciado em localizado
(Fig. 5) ou generalizado (Fig. 6).
- 45 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
Figura 1. Carcaça de suíno sem
Figura 2. Carcaça de suíno com
lacerações relevantes.
lacerações tipo 1.
Figura
3.
Carcaça
de
suíno
Figura 4. Carcaça de suíno com
apresentando lacerações tipo 2.
lacerações tipo 3.
Figura 5. Membro posterior de suíno
Figura 6. Carcaça de suíno com eritema
apresentando eritema localizado.
generalizado.
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Deficiências no Bem-Estar Animal
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
Na figura 7 e 8 estão representadas, respectivamente, um hematoma e uma
fractura recente do membro posterior, lesões também consideradas como possíveis
indicadores de bem-estar animal pré-abate.
Figura 7. Membro posterior de suíno
Figura 8. Membro posterior de suíno
com hematoma.
apresentando fractura.
Foi constatado que os animais que chegam ao matadouro no mesmo transporte
são muitas vezes constituídos por diversos grupos de animais de diferentes zonas do
país, e consequentemente, a hora da carga dos animais analisados varia consoante essa
proveniência. Desta forma, optou-se por calcular a média de horas em viagem dos
animais para trabalhar estatisticamente os dados. Foram registadas as horas de
permanência na abegoaria antes do abate. Foi classificado o tipo de trajecto que os
animais percorriam na viagem da exploração até ao matadouro, separando-se em dois
tipos: animais que viajaram por auto-estrada e animais que viajaram por trajecto misto
(cujo principal trajecto passa por estradas nacionais ou estradas secundárias, mas
podendo também passar por um troço de auto-estrada).
Recorreu-se ao programa de estatística XLSTAT 2009 para o cálculo do χ2 e de
percentagens relativamente aos dados recolhidos, com o objectivo de verificar que tipo
de relação existe entre as variáveis analisadas (dimensão do lote/tipo de trajecto/tempo
pré-abate/horas de viagem/horas na abegoaria) e a ocorrência de lesões relacionadas
com deficiências nos cuidados de bem-estar animal. Também se avaliou o nível de
significância dos resultados obtidos, em que p≥0,05 é indicativo da não existência de
diferenças estatisticamente significativas, p<0,05 indica a existência de diferenças
47
Deficiências no Bem-Estar Animal
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
significativas, p<0,01 indica a existência de diferenças muito significativas e p<0,001
indica a existência de diferenças altamente significativas entre as variáveis analisadas.
3. Resultados e Discussão
Apresenta-se de seguida o quadro 1 onde se encontram os registos gerais
referentes a cada um dos 5 abates analisados.
Quadro 1. Registos gerais relativos aos 5 abates analisados.
Abate 1
Abate 2
Abate 3
Abate 4
Abate 5
Tamanho
do lote
111
153
153
112
305
Tipo de
trajecto
Auto-estrada
Misto
Misto
Auto-estrada
Misto
Horas totais pré-abate
(viagem+abegoaria)
18,5
22,5
18
17,5
21,5
Horas de
viagem
5
13,5
9,5
4
13
Horas na
abegoaria
13,5
9
8,5
13,5
8,5
No total dos 5 abates considerados (834 animais), 71,5% dos animais apresentou
lacerações (Anexo B, quadro B.2), 19,7% apresentou eritema cutâneo (Anexo B, quadro
B.19), 10,9% apresentou hematomas (Anexo B, quadro B.34) e apenas 1,2% surgiu com
fracturas nos membros (Anexo B, quadro B.49).
São de seguida apresentados os resultados individuais de cada variável estudada.
Concretamente, o que se pretendeu foi avaliar o tipo de dependência existente entre
estas e a ocorrência das lesões observadas na carcaça, consideradas como indicadores de
bem-estar animal.
3.1 Tamanho do lote de animais – Lesões observadas
Relativamente ao tamanho do lote, resultado da aplicação do teste de χ2,
verificou-se que o tamanho do lote foi um factor determinante e altamente significativo
(p<0,001) no aparecimento de animais com lacerações e eritema (Anexo B, quadro B.5
e B.22). O efeito do tamanho do lote revelou-se muito significativo (p<0,01)
relativamente ao aparecimento de suínos com hematomas (Anexo B, quadro B.36 e
48
Deficiências no Bem-Estar Animal
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
B.37). Não se observou a existência de diferenças estatisticamente significativas
(p≥0,05) em relação às fracturas que surgiram (Anexo B, quadro B.50), muito
provavelmente devido à ocorrência em baixo número deste tipo de lesões. O
aparecimento de fracturas não é muito habitual nos animais de produção como os
suínos, mas são vários os factores que podem contribuir para o aumento da sua
ocorrência: instalações dos animais em más condições, responsáveis pelo maneio e
encaminhamento dos animais sem formação adequada, procedimentos impróprios de
carga e descarga ou feitos sob fracas condições, etc. (BROOM, 1993).
3.1.1 Lacerações
No quadro 2 estão representadas as percentagens referentes à presença ou
ausência de lacerações, consoante o tamanho do lote a que os animais pertencem.
Quadro 2. Percentagem de animais com e sem lacerações, em função do tamanho do lote.
Tamanho do lote
(n.º de animais)
111
112
153
153
305
Total
N.º do
abate
1
4
2
3
5
Sem Lacerações
Com Lacerações
Total
61,3%
10,7%
49,7%
32,7%
10,5%
28,5%
38,7%
89,3%
50,3%
67,3%
89,5%
71,5%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Fazendo uma simples análise do quadro 2, é evidente a grande quantidade de
animais com lacerações que surge em todos os abates. Observa-se que 89,5% dos
animais referentes ao lote de maior tamanho (305 animais) apresentaram lacerações na
inspecção post mortem, sendo o lote com a maior percentagem deste tipo de lesões. O
lote mais pequeno que se analisou, com 111 animais, foi o lote que menos animais com
lacerações apresentou, com apenas 38,7% dos animais atingidos por estas lesões. Estes
resultados confirmam que altas densidades aumentam a tendência para lutas entre
animais, levando a um aumento de lesões cutâneas. (WARRISS et al., 1998; NANNICOSTA et al., 1999, citados por BECERRIL-HERRERA et al., 2007). Também
GRANDIN (2001) e GUÀRDIA e colaboradores (2009) referem um aumento deste tipo
49
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
de lesões quando há excesso de densidade animal. Destacamos, no entanto, que no lote
de 112 animais surgiram 89,3% de animais com lacerações. Esta variação pode ser
causada pela influência de outros factores e variáveis que influenciem o aparecimento
deste tipo de lesão, que são analisados nos pontos seguintes.
Para uma análise mais aprofundada dos dados, optou-se por reunir os dados
obtidos nos 5 abates em 3 grupos, em função do tamanho do lote a que os animais
pertenciam, já que 2 abates apresentaram o mesmo número de animais (153 animais) e
outros 2 abates apresentaram um número de animais muito próximo (111 e 112
animais). No quadro 3 apresentam-se as percentagens de animais com e sem lacerações,
em função do tamanho do lote.
Quadro 3. Percentagem de animais com e sem lacerações, agrupados consoante o tamanho do
lote a que pertenciam.
Tamanho do lote
(n.º de animais)
111-112
153
305
Total
N.º do abate
Sem Lacerações
Com Lacerações
Total
1e4
2e3
5
35,9%
41,2%
10,5%
28,5%
64,1%
58,8%
89,5%
71,5%
100%
100%
100%
100%
No quadro 3, apesar de se observar que a percentagem de animais com
lacerações não aumenta linearmente com o aumento do tamanho do lote, nota-se
novamente que é no maior lote (305 animais) que surge a maior percentagem de animais
com lacerações.
3.1.2 Eritema cutâneo
No referente ao eritema cutâneo, os 2 lotes com 153 animais foram os que mais
apresentaram lesões deste tipo, com 41,2% e 20,9% dos animais atingidos. O lote que
menos lesões de eritema apresentou (apenas 9,8% dos animais) foi o maior lote (de 305
animais), como se pode observar no quadro 4. Neste caso, outros factores contribuíram
para que um tão baixo número de animais fosse atingido. O transporte utilizado para
transportar os 305 animais tinha melhores condições de bem-estar animal (um correcto
uso de serrim seco no chão do transporte, animais submetidos a um jejum prévio para
50
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
reduzir o número de excreções e um transporte com melhores condições gerais de bemestar), prevenindo assim o aparecimento de eritema cutâneo.
Quadro 4. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em função do lote.
Tamanho do lote
(n.º de animais)
111
112
153
153
305
Total
N.º do abate
Sem eritema
Com eritema
Total
1
4
2
3
5
81,1%
83,9%
58,8%
79,1%
90,2%
80,3%
18,9%
16,1%
41,2%
20,9%
9,8%
19,7%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
No quadro 5 apresentam-se também as percentagens de animais com e sem
eritema, agrupados em função do seu número para uma análise mais aprofundada dos
dados.
Quadro 5. Percentagem de animais com e sem eritema, agrupados consoante o tamanho do lote
a que pertenciam.
Tamanho do lote
(n.º de animais)
111-112
153
305
Total
N.º do abate
1e4
2e3
5
Sem eritema
Com eritema
Total
82,5%
69,0%
90,2%
80,3%
17,5%
31,0%
9,8%
19,7%
100%
100%
100%
100%
Mais uma vez se nota a grande ocorrência de eritema cutâneo nos animais em
lotes de 153 animais, e a baixa percentagem de animais com este tipo de lesão no grupo
de 305 animais.
3.1.3 Hematomas
Relativamente ao aparecimento de hematomas, observa-se que o lote com o
maior número de animais (305 animais) é o lote que mais animais com hematomas
apresentou em abate, com 15,4% dos animais a surgirem com este tipo de lesão (quadro
6). É provável que este facto se deva à grande densidade animal tanto no transporte
como na abegoaria, que leva inevitavelmente a uma maior proximidade, contacto físico,
51
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
pisoteio do animal no caso de quedas e possível confronto entre animais (KNOWLES,
1999), sendo por isso de esperar um aumento de ocorrência de hematomas nestes
animais.
Quadro 6. Percentagem de animais encontrados com e sem hematomas, em função do tamanho
do lote.
Tamanho do lote
111
112
153
153
305
Total
N.º de abate
1
4
2
3
5
Sem hematomas
84,7%
96,4%
92,2%
92,8%
84,6%
89,1
Com hematomas
15,3%
3,6%
7,8%
7,2%
15,4%
10,9%
Total
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Também o lote de 111 animais (o menor) apresentou uma grande ocorrência de
hematomas, com 15,3% dos animais lesionados. Isto pode-se explicar pelo facto de os
hematomas não surgirem apenas devido a um aumento de densidade animal, mas
também devido às condições de transporte, maneio, tipo de trajecto, tempo de viagem e
de estadia na abegoaria ou mistura de animais de diferentes proveniências, por exemplo.
Este lote foi submetido a uma viagem relativamente curta, de 5 horas, por auto-estrada,
o que não justifica o grande número de hematomas. O facto de ter tido um período de
13 horas e meia na abegoaria pode justificar estes resultados visto que a aplicação do
teste de χ2 demonstrou a existência de um efeito muito significativo entre as horas
passadas na abegoaria e o aparecimento de hematomas (ver ponto 3.5.3). Este lote
poderá também ter sido submetido a um maneio menos adequado ou a um veículo de
transporte com poucas condições de bem-estar, ambos os factores com potencial para
serem apontados como causas de hematomas em suínos.
3.2 Tipo de trajecto – Lesões observadas
3.2.1 Lacerações
Através da aplicação do teste de χ2 observa-se que existem diferenças muito
significativas (p<0,01) quando se comparou o tipo de trajecto (auto-estrada ou misto) e
o aparecimento de lacerações nos animais (Anexo B, quadro B.7 e B.8). No quadro 7
52
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
podemos observar as percentagens de lacerações encontradas nos animais em função de
cada tipo de trajecto considerado.
Quadro 7. Percentagem dos animais encontrados com e sem lacerações, em função do tipo de
trajecto considerado.
Trajecto - Auto-estrada
Trajecto - Misto
Total
Sem Lacerações
35,9%
25,9%
28,5%
Com Lacerações
64,1%
74,1%
71,5%
Total
100%
100%
100%
74,1% dos animais que viajaram por trajecto misto apresentaram lacerações na
inspecção post mortem, mais 10% que os animais que viajaram apenas por auto-estrada.
Este resultado não é surpreendente visto que a viagem por auto-estrada é mais cómoda,
rápida e menos traumatizante para os animais do que por estradas nacionais ou
secundárias, tendencialmente em piores condições e exigindo mais travagens bruscas ou
manobras de diversos tipos, o que necessariamente vai aumentar a probabilidade de
lesões dos animais transportados. TARRANT e GRANDIN (1993) referem mesmo que
a qualidade da estrada (e a capacidade de condução do transportador) são factores mais
importantes que a distância percorrida no que respeita ao aparecimento de lesões nos
animais.
3.2.2 Eritema cutâneo, hematomas e fracturas
A aplicação do teste de χ2, relativamente à ocorrência de eritema cutâneo,
hematomas e fracturas, reflectiu uma ausência de diferenças significativas (p≥0,05)
entre os 2 tipos de trajectos considerados e o aparecimento destes tipos de lesões.
Observou-se, contudo, um ligeiro acréscimo de casos de eritema e de hematomas em
animais submetidos a viagens por trajecto misto (20,5% destes animais surgiram com
eritema cutâneo e 11,5% com hematomas, comparativamente aos 17,5% de casos de
eritema e 9,4% de casos de hematomas dos animais que chegaram ao matadouro por
auto-estrada), como se pode observar no quadro 8 e 9.
53
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
Quadro 8. Percentagem dos animais encontrados com e sem eritema, em função do tipo de
trajecto considerado.
Sem eritema
82,5%
79,5%
80,3%
Trajecto – Auto-estrada
Trajecto - Misto
Total
Com eritema
17,5%
20,5%
19,7%
Total
100%
100%
100%
Quadro 9. Percentagem dos animais encontrados com e sem hematomas, em função do tipo de
trajecto considerado.
Trajecto – Auto-estrada
Trajecto - Misto
Total
Sem hematomas
90,6%
88,5%
89,1%
Com hematomas
9,4%
11,5%
10,9%
Total
100%
100%
100%
O facto de as lesões de eritema não parecerem estar relacionadas com o tipo de
trajecto é um resultado que se pode facilmente explicar. O eritema cutâneo é uma lesão
inflamatória caracterizada pelo aparecimento de uma coloração avermelhada anormal na
pele do animal e que pode surgir associada ao transporte devido ao contacto prolongado
da pele dos animais com substâncias irritantes (fezes, urina, desinfectantes) presentes no
chão do veículo (SHEARD e colaboradores, 1981, citados por MORENO, 2006), e
portanto, no caso de transportes que cumpram as regras de bem-estar animal e as leis em
vigor na legislação (serrim seco no solo, andar superior do transporte sem fugas de urina
ou fezes para o andar inferior, densidade animal no transporte dentro do normal), é um
problema evitável, mesmo em viagens mais longas ou acidentadas.
As fracturas de membros que surgiram em abate (apenas em 10 animais ao todo)
podem não ter sido em número suficiente para concluirmos relativamente à sua
ocorrência e tipo de trajecto.
3.3 Horas totais antes do abate – Lesões observadas
Relacionou-se também o tempo total desde o início da viagem, iniciada na
exploração, até os animais serem apresentados para abate (ou seja, a soma das horas de
viagem com as horas passadas na abegoaria) com a existência de animais com as lesões
mencionadas. Da aplicação do teste de χ2, foram observadas diferenças muito
significativas (p<0,01) no aparecimento de suínos com hematomas (Anexo B, quadro
54
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
B.40 e B.41) e altamente significativas no aparecimento de animais com lacerações e
eritema cutâneo (p<0,001) (Anexo B, quadro B.11 e B.26). Mais uma vez, não se
observaram diferenças significativas (p≥0,05) relativamente ao aparecimento de animais
com fracturas (Anexo B, quadro B.52), provavelmente devido ao baixo número deste
tipo de lesões observado.
3.3.1 Lacerações
Relativamente ao aparecimento de animais com lacerações, os resultados obtidos
não demonstraram uma evolução linear, como se pode observar no quadro 10.
Quadro 10. Percentagem de animais encontrados com e sem lacerações, em função do número
de horas desde o início da viagem até ao abate.
Horas totais antes
do abate
(viagem+abegoaria)
17,5
18
18,5
21,5
22,5
Total
N.º de
abate
N.º de
animais
Sem
Lacerações
Com
Lacerações
Total
4
3
1
5
2
112
153
111
305
153
834
10,7%
32,7%
61,3%
10,5%
49,7%
28,5%
89,3%
67,3%
38,7%
89,5%
50,3%
71,5%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
O abate cujos animais tiveram um total de 18 horas e meia antes do abate (abate
n.º 1, 111 animais, trajecto auto-estrada) foi o que apresentou uma menor percentagem
de lacerações (apenas 38,7%). Em contrapartida, no lote no qual o tempo total pré-abate
foi inferior em uma hora (17 horas e meia), apesar de submetido a condições
semelhantes (abate n.º 4, 112 animais, trajecto auto-estrada) apresentou percentualmente
um dos maiores números de animais com lacerações observados nos 5 lotes
monitorizados, 89,3%. Uma explicação a considerar é o factor de erro humano no abate
n.º 1, com a possibilidade de se terem observado animais com lacerações do tipo 1 que
foram encarados como animais que não apresentavam lacerações. Refira-se, contudo,
que os factores tipo de veículo e maneio pré-abate podem explicar o resultado obtido.
O lote que apresentou 21 horas e meia pré-abate (Abate 5, 305 animais, trajecto
misto), foi o que apresentou maior percentagem de lacerações (89,5%). Apesar de não
55
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
ser o lote com maior número de horas em viagem e na abegoaria, a sua dimensão pode
justificar este grande número de lacerações, pela maior proximidade a que o aumento de
densidade (quer no transporte, quer no abegoaria) obriga.
3.3.2 Eritema cutâneo
Relativamente ao eritema cutâneo, 41,2% dos animais submetidos ao maior
número de horas pré-abate (22 horas e meia) analisado apresentaram esta lesão (quadro
11). Este grupo de animais foi o que passou mais tempo em viagem (13 horas e meia),
podendo-se assim justificar facilmente estes resultados. O eritema cutâneo é conhecido
por afectar suínos após viagens longas (SHEARD e colaboradores, 1981, citados por
MORENO, 2006; MOTA-ROJAS et al., 2006).
Quadro 11. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em função do
número de horas desde o início da viagem até ao abate.
Horas totais antes
do abate
(viagem+abegoaria)
17,5
18
18,5
21,5
22,5
Total
N.º de
abate
N.º de
animais
Sem eritema
Com eritema
Total
4
3
1
5
2
112
153
111
305
153
834
83,9%
79,1%
81,1%
90,2%
58,8%
80,3%
16,1%
20,9%
18,9%
9,8%
41,2%
19,7%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Relativamente aos outros abates, não há um aumento linear no aparecimento de
animais com eritema com o aumento das horas pré-abate. O abate n.º 5 (21 horas e meia
pré-abate), surpreendentemente, foi o lote no qual surgiu uma menor percentagem de
animais com eritema cutâneo. Este facto deve-se, provavelmente, à acção de outros
factores concorrentes, como as condições de transporte.
3.3.3 Hematomas
Os animais submetidos ao menor número de horas pré-abate analisado (17 horas
e meia) foram os que apresentaram menos hematomas em abate. Este resultado era
56
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
esperado, visto que quanto mais tempo os animais passam em viagem ou em grupos na
abegoaria, maior a probabilidade de contacto físico e lesões físicas nos animais
(MOTA-ROJAS et al., 2006).
A percentagem de hematomas registados aumenta com o aumento do número de
horas totais antes do abate, como se pode observar no quadro 12, excepto no abate
correspondente ao maior número de horas totais pré-abate. Este resultado pode-se
explicar tendo em conta outras variáveis que influenciaram o lote de animais em causa e
que podem resultar nesta baixa ocorrência de hematomas, como por exemplo um
maneio mais cuidado dos animais por parte do transportador e pessoal responsável do
matadouro e o tipo de veículo utilizado. No entanto, da análise global dos dados, parece
que quanto mais tempo os animais passam em viagem e em repouso na abegoaria, maior
a probabilidade destes surgirem com hematomas à inspecção post mortem.
Quadro 12. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas
totais desde início da viagem até ao matadouro.
Horas totais antes
do abate
(viagem+abegoaria)
17,5
18
18,5
21,5
22,5
Total
N.º de
abate
N.º de
animais
Sem
hematomas
Com
hematomas
Total
4
3
1
5
2
112
153
111
305
153
834
96,4%
92,8%
84,7%
84,6%
92,2%
89,1%
3,6%
7,2%
15,3%
15,4%
7,8%
10,9%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
3.4 Horas de viagem – Lesões observadas
A aplicação do teste de χ2 indicou a existência de diferenças altamente
significativas (p<0,001) nos valores de ocorrência de lacerações e eritema nos animais
monitorizados em função da duração da viagem (Anexo B, quadro B.14 e B.29).
Também foram detectadas diferenças muito significativas (p<0,01) relativamente ao
aparecimento de hematomas nos animais (Anexo B, quadro B.43 e B.44). No que
respeita à presença de fracturas, mais uma vez não foram encontradas diferenças
57
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
significativas (p≥0,05) quando se comparou a sua ocorrência face à duração da viagem
(Anexo B, quadro B.53).
3.4.1 Lacerações
No quadro 13 estão representados os resultados percentuais relativos à presença
e ausência de lacerações nos suínos monitorizados. Refira-se que a análise destes
resultados pela simples observação da tabela não nos permite tirar conclusões claras
sobre o efeito do número de horas de viagem na ocorrência de lacerações. Contudo,
observa-se que o lote no qual foram encontradas percentualmente um maior número de
lacerações (89,5%) corresponde ao lote com maior número de animais (abate n.º 5, 305
animais).
Quadro 13. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas de
viagem até ao matadouro.
Horas de
viagem
4
5
9,5
13
13,5
Total
N.º de
abate
4
1
3
5
2
N.º de
animais
112
111
153
305
153
834
Sem Lacerações
Com Lacerações
Total
10,7%
61,3%
32,7%
10,5%
49,7%
28,5%
89,3%
38,7%
67,3%
89,5%
50,3%
71,5%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Um estudo de 2004 (GRIGOR et al.) comparou a quantidade de lacerações que
surgiam entre animais abatidos na própria exploração e animais submetidos a transporte
para abate em matadouro e concluiu que os animais transportados apresentavam mais
frequentemente este tipo de lesões mas as diferenças não foram significativas, indicando
que o tempo passado em viagem não é determinante para o aparecimento de lacerações.
3.4.2 Eritema cutâneo
No que respeita ao aparecimento de eritema cutâneo, há um aumento gradual da
manifestação desta lesão com o aumento do número de horas em viagem, excepto no
lote sujeito a 13 horas de viagem, curiosamente correspondente ao maior lote (abate n.º
58
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
5, 305 animais), como se pode observar no quadro 14. Mais uma vez se considera a
possibilidade deste lote ter sido sujeito a um de transporte mais cuidadoso e com
melhores condições de higiene e bem-estar que os outros lotes, explicando assim o
menor número de casos de eritema.
Quadro 14. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função das
horas de viagem até ao matadouro.
Horas de
viagem
4
5
9,5
13
13,5
Total
N.º de
abate
4
1
3
5
2
N.º de
animais
112
111
153
305
153
834
Sem eritema
Com eritema
Total
83,9%
81,1%
79,1%
90,2%
58,8%
80,3%
16,1%
18,9%
20,9%
9,8%
41,2%
19,7%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
3.4.3 Hematomas
De seguida apresenta-se o quadro 15 com as percentagens relativas à presença e
ausência de hematomas em função das horas de viagem até ao matadouro, nos
diferentes abates analisados.
Quadro 15. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas de
viagem até ao matadouro.
Horas de
viagem
4
5
9,5
13
13,5
Total
N.º de
abate
4
1
3
5
2
N.º de
animais
112
111
153
305
153
834
Sem
hematomas
96,4%
84,7%
92,8%
84,6%
92,2%
89,1%
Com
hematomas
3,6%
15,3%
7,2%
15,4%
7,8%
10,9%
Total
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Observando o quadro 15, vê-se que a viagem de apenas 4 horas foi a menos
traumatizante para os animais, surgindo apenas 3,6% de suínos apresentando
hematomas. O lote que apresentou uma maior percentagem de hematomas refere-se à
viagem de 13 horas, sendo também o lote com o maior número de animais (305
59
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
animais). Curiosamente, este foi também o lote que apresentou a maior percentagem de
animais com lacerações (quadro 13) e a menor percentagem de animais com eritema
cutâneo (quadro 14). Pela análise dos dados obtidos, e supondo que a origem das
lacerações é comum à ocorrência de hematomas, podemos especular que o
aparecimento de lacerações e hematomas são acontecimentos independentes do
aparecimento de eritema cutâneo, surgindo devido a factores diferentes.
3.5 Horas na abegoaria – Lesões observadas
A aplicação do teste de χ2 aos dados relativos à ocorrência das lesões
monitorizadas indica que há diferenças altamente significativas (p<0,001) relativamente
ao aparecimento de animais com lacerações e eritema (Anexo B, quadro B.17 e B.32),
em função das horas passadas na abegoaria. Também se encontraram diferenças muito
significativas (p<0,01) relativamente ao aparecimento de animais com hematomas
(Anexo B, quadro B.46 e B.47). No entanto, o teste de χ2 reflectiu uma ausência de
efeito (p≥0,05) no tempo passado na abegoaria e a ocorrência de fracturas (Anexo B,
quadro B.54).
3.5.1 Lacerações
O quadro 16 indica as diferentes percentagens relativas à ausência e presença de
lacerações segundo o número de horas que os animais estiveram na abegoaria.
Esperava-se um aumento na percentagem de lacerações com o aumento do
número de horas na abegoaria (de acordo com os estudos de GUÀRDIA e
colaboradores, 2009), devido ao contacto físico prolongado com outros animais,
principalmente quando há mistura de animais de diferentes proveniências, como é o
caso. No entanto, esta proporcionalidade não se verifica, sendo por isso necessário
atender a outros factores que possam ter influenciado estes resultados em particular.
60
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
Quadro 16. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas
passadas na abegoaria.
Horas na
abegoaria
8,5
8,5
9
13,5
13,5
Total
N.º de
abate
3
5
2
1
4
N.º de
animais
153
305
153
111
112
834
Sem
Lacerações
32,7%
10,5%
49,7%
61,3%
10,7%
28,5%
Com
Lacerações
67,3%
89,5%
50,3%
38,7%
89,3%
71,5%
Total
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Para uma análise de dados mais detalhada, reuniram-se os dados em 3 grupos:
animais que estiveram 8 horas e meia na abegoaria, animais que estiveram 9 horas na
abegoaria, e animais que estiveram 13 horas e meia na abegoaria (quadro 17).
Quadro 17. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas
passadas na abegoaria.
Horas na abegoaria
8,5
9
13,5
Total
N.º de abate
3e5
2
1e4
Sem lacerações
17,9%
49,7%
35,9%
28,5%
Com lacerações
82,1%
50,3%
64,1%
71,5%
Total
100%
100%
100%
100%
Os grupos de animais que passaram 8 horas e meia na abegoaria e que mais
lacerações apresentaram referem-se aos animais do abate n.º 3 e n.º 5, que são grupos de
animais que viajaram por trajectos mistos e com um tamanho de lote considerável (153
e 305 animais, respectivamente). Esta é a provável justificação para estes grupos
apresentarem tão grande número de lacerações, comparativamente aos outros grupos de
animais.
Relativamente aos restantes 2 grupos considerados, observa-se que houve um
aumento na percentagem de animais com lacerações (mais 13,8% de animais) quando o
período de espera na abegoaria foi de 13 horas e meia, comparando com os animais que
apenas estiveram 9 horas na abegoaria.
61
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
3.5.2 Eritema cutâneo
No que se refere ao aparecimento de eritema cutâneo na pele dos suínos
monitorizados, os resultados obtidos apresentam-se no quadro 18.
Quadro 18. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função das
horas passadas na abegoaria.
Horas na
abegoaria
8,5
8,5
9
13,5
13,5
Total
N.º de
abate
3
5
2
1
4
N.º de
animais
153
305
153
111
112
834
Sem eritema
Com eritema
Total
79,1%
90,2%
58,8%
81,1%
83,9%
80,3%
20,9%
9,8%
41,2%
18,9%
16,1%
19,7%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Não se verifica um aumento linear dos casos de eritema com o aumento do
tempo passado na abegoaria, sendo por isso necessário atender a outros factores que
possam ter actuado nestes resultados.
Também se reuniram os dados em 3 grupos: animais que estiveram 8 horas e
meia na abegoaria, animais que estiveram 9 horas na abegoaria, e animais que estiveram
13 horas e meia na abegoaria para melhor observar o efeito do tempo na abegoaria na
presença ou ausência de eritema (quadro 19).
Quadro 19. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo, agrupados
consoante as horas passadas na abegoaria.
Horas na abegoaria
8,5
9
13,5
Total
Sem eritema
86,5%
58,8%
82,5%
80,3%
Com eritema
13,5%
41,2%
17,5%
19,7%
Total
100%
100%
100%
100%
Os resultados relativos ao aparecimento de eritema não aumentaram com o
aumento de horas na abegoaria. É preciso salvaguardar o facto de que os animais podem
ter apresentado eritema cutâneo devido à viagem e não terem surgido casos durante a
permanência na abegoaria.
62
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
Os animais que passaram 9 horas na abegoaria referem-se aos animais do abate
n.º 2, que foi o lote que mais tempo passou em viagem (13 horas e meia), podendo ter
sido na viagem que tão grande número de casos surgiu devido ao contacto prolongado
com outros animais ou com o solo com fezes e urina durante o transporte.
3.5.3 Hematomas
Os resultados obtidos relativamente ao aparecimento de hematomas nas carcaças
monitorizadas apresentam-se no quadro 20.
Quadro 20. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas
passadas na abegoaria.
Horas na abegoaria
8,5
8,5
9
13,5
13,5
Total
Sem hematomas
92,8%
84,6%
92,2%
84,7%
96,4%
89,1%
Com hematomas
7,2%
15,4%
7,8%
15,3%
3,6%
10,9%
Total
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Também neste caso não se verifica um aumento linear dos casos de hematomas
com o aumento do tempo passado na abegoaria, sendo por isso necessário atender a
outros factores que possam ter actuado nestes resultados.
Para melhor observar e analisar os resultados, procedeu-se à mesma organização
de dados utilizada anteriormente, considerando os animais que estiveram nos parques da
abegoaria 8 horas e meia, 9 horas e 13 horas e meia (quadro 21).
Quadro 21. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas, agrupados consoante
as horas passadas na abegoaria.
Horas na abegoaria
8,5
9
13,5
Total
Sem hematomas
90,6%
87,3%
92,2%
89,1%
Com hematomas
9,4%
12,7%
7,8%
10,9%
63
Total
100%
100%
100%
100%
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
Observa-se que não há uma linearidade no aumento da percentagem de animais
com hematomas e o aumento de horas passadas na abegoaria, provavelmente devido à
acção de outras variáveis que possam ter tido influência no aparecimento deste tipo de
lesões.
3.6 Lacerações tipo 1, 2 e 3 – Abate realizado
Encontram-se representados no quadro 22 os dados obtidos relativos ao número
e percentagem de animais sem lacerações detectadas e com lacerações tipo 1, 2 e 3 em
cada abate analisado.
Quadro 22. Números e percentagens dos diferentes tipos de lacerações considerados e ausência
destas nos diferentes abates analisados.
Sem
lacerações
Lacerações
tipo 1
Lacerações
tipo 2
Lacerações
tipo 3
Total de
animais
Abate 1
Abate 2
Abate 3
Abate 4
Abate 5
68
(61,3%)
34
(30,6%)
6
(5,4%)
3
(2,7%)
111
(100%)
76
(49,7%)
63
(41,2%)
13
(8,5%)
1
(0,7%)
153
(100%)
50
(32,7%)
88
(57,5%)
13
(8,5%)
2
(1,3%)
153
(100%)
12
(10,7%)
67
(59,8%)
30
(26,8%)
3
(2,7%)
112
(100%)
32
(10,5%)
176
(57,7%)
72
(23,6%)
25
(8,2%)
305
(100%)
Total de
animais
238
428
134
34
834
Analisando o quadro, observa-se que é no lote n.º 5 (lote de maior tamanho) que
surge a maior parte de animais que apresentam lacerações tipo 3, sugerindo que as
lacerações (em particular as mais profundas, mais graves e em maior número) tendem a
surgir em lotes de maior tamanho. Os restantes valores não nos permitem tirar mais
conclusões relativamente aos diferentes tipos de lacerações considerados.
Uma maior densidade animal, quer no transporte, quer na abegoaria, leva sempre
a um maior contacto físico e conflitos entre animais (KNOWLES, 1999). No entanto,
estas lacerações de maior grau podem ter sido feitas pelas pessoas responsáveis pela
condução dos animais que, sendo um grupo maior e por isso mais difícil de dominar,
optaram pelo uso da força para os movimentar mais rapidamente.
64
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
3.7 Eritema cutâneo localizado e generalizado – Abate realizado
O eritema cutâneo é uma lesão que pode surgir associada a várias causas, já
referidas. No nosso trabalho desprezaram-se os factores ambientais e alérgicos como
causas de eritema, apenas atribuindo o seu aparecimento ao contacto dos animais com
fezes, urina ou outras substâncias irritantes que possam estar presentes no transporte e
abegoaria. Apresenta-se de seguida o quadro 23, relativo aos dados obtidos (número e
percentagem) dos dois tipos de eritema considerados (localizado e generalizado), em
função do abate monitorizado.
Quadro 23. Números e percentagens relativos à presença de eritema localizado e generalizado
ou à sua ausência nos diferentes abates analisados.
Eritema
localizado
Eritema
generalizado
Sem
eritema
Total de
animais
Abate 1
Abate 2
Abate 3
Abate 4
Abate 5
19
(17,1%)
2
(1,8%)
90
(81,1%)
111
(100%)
56
(36,6%)
7
(4,6%)
90
(58,8%)
153
(100%)
28
(18,3%)
4
(2,6%)
121
(79,1%)
153
(100%)
17
(15,2%)
1
(0,9%)
94
(83,9%)
112
(100%)
22
(7,2%)
8
(2,6%)
275
(90,2%)
305
(100%)
Total de
animais
142
22
670
834
Os animais pertencentes ao abate n.º 5 (lote com o maior número de animais
monitorizado) surgiram com poucos casos de eritema, mas os que apresentaram a lesão,
tinham principalmente, em termos percentuais, a forma generalizada. No abate n.º 2
(153 animais) também se observa uma grande percentagem de eritema generalizado
presente nos animais (4,6% dos animais do lote n.º 2). É também no abate n.º 2 que
mais casos de eritema localizado (detectado principalmente nos membros posteriores,
mais propensos ao contacto com o chão do veículo e da abegoaria) foram observados
(36,6% dos animais do lote n.º 2). Estes abates correspondem aos animais que mais
tempo passaram em viagem (13 horas e meia no caso do abate n.º 2, e 13 horas de
viagem no caso do abate n.º 5), sugerindo que esta generalização da lesão está também
relacionada com um grande número de horas de transporte.
65
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
4. Conclusões
Apesar de não nos ter sido possível controlar todas as variáveis de forma
independente, vários dos resultados obtidos vêm de encontro a outros estudos feitos no
campo do bem-estar animal. Desta maneira, podemos considerar várias conclusões:
a) As lacerações são as lesões que mais frequentemente se observam nas
carcaças de suínos de engorda durante a inspecção post mortem (71,5% dos suínos
monitorizados apresentaram este tipo de lesão), em particular as lacerações tipo 1,
sugerindo a existência de falhas habituais no bem-estar dos animais durante o transporte
e estadia na abegoaria;
b) O tamanho dos lotes dos animais enviados para abate tem um efeito altamente
significativo (p<0,001) no aparecimento de animais com lacerações e eritema cutâneo,
tendo também um efeito muito significativo (p<0,01) no aparecimento de animais com
hematomas. O transporte e estadia na abegoaria de lotes de grande tamanho levam a um
aumento da percentagem de animais com lacerações, eritema cutâneo e hematomas.
Refira-se, contudo, que o lote de maior tamanho analisado para este trabalho apresentou
uma menor percentagem de animais com eritema, facto a que atribuímos às boas
condições de transporte. Sendo pouco prático enviar lotes reduzidos para abate, deve-se,
pelo menos, assegurar sempre uma densidade animal óptima quer no transporte, quer na
abegoaria, evitando a mistura de animais de diferentes proveniências ou de animais que
possam entrar em conflito com os outros;
c) O tipo de trajecto utilizado no transporte de animais tem um efeito muito
significativo (p<0,01) no aparecimento de animais com lacerações. Concretamente, a
utilização de trajectos mistos em vez de auto-estradas aumenta a percentagem de
animais que apresentam este tipo de lesões na inspecção post mortem. Neste estudo, o
aumento foi de 10%. Conclui-se, portanto, que é preferível o uso de trajectos suaves
(tipo auto-estrada) como forma de diminuir a ocorrência deste tipo de lesões nos suínos;
66
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PARTE II
TRABALHO EXPERIMENTAL
d) Não nos foi possível tirar conclusões relativamente ao efeito do número total
de horas pré-abate no aparecimento de animais com lacerações, apesar da análise de
dados efectuada ter revelado um efeito altamente significativo (p<0,001). No entanto,
um aumento do tempo de permanência na abegoaria (factor cujo efeito no número de
animais que apresenta lacerações se revelou altamente significativo) traduz-se num
aumento no número de animais que apresentam lacerações na carcaça à inspecção post
mortem;
e) Os resultados obtidos indicam que o número de horas que decorre entre a
saída da exploração e o abate dos suínos tem um efeito altamente significativo
(p<0,001) no aparecimento de eritema nos animais. Contudo, os dados obtidos indicam
que é a duração da viagem que influi de forma decisiva na ocorrência deste tipo de
lesões, e não o período de permanência na abegoaria. Um aumento do número de horas
de viagem leva a um aumento do número de casos de eritema cutâneo nos suínos de
engorda, particularmente de eritema generalizado. Este problema poderia ser reduzido
com a melhoria das condições de transporte. Veículos em boas condições, que cumpram
a legislação no que respeita às regras de bem-estar animal são um ponto crucial na
redução do eritema de transporte;
f) Quando mais tempo os animais demoram desde a saída da sua exploração até
serem abatidos no matadouro de destino, maior a percentagem de animais que surge
com hematomas. Neste estudo, um aumento de 4 horas (de 17 horas e meia para 21
horas e meia) traduziu-se num aumento de 11,8% de animais com este tipo de lesão.
Deve, por isso, ser feito um esforço no sentido de melhorar as estradas de ligação entre
as explorações e os matadouros, assim como de evitar abater animais em matadouros
longe do local de criação e exploração dos animais;
g) Não foram encontradas quaisquer relações significativas (p≥0,05) entre o
aparecimento de animais com fracturas dos membros e qualquer uma das variáveis em
estudo.
67
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
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Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
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- 75 -
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXOS
- 76 -
ANEXOS
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
1. ANEXO A
Registos dos diferentes animais apresentados para abate normal durante o período
de estágio.
1. Total de animais abatidos
No quadro A.1 pode-se observar que o volume de abate de suínos acompanhado
durante o período de estágio é notavelmente maior que o das restantes espécies, visto
que a maioria dos matadouros onde se actuou recebiam e abatiam mais animais desta
espécie específica. O abate de bovinos foi apenas acompanhado no PEC-NordesteCarnagri, em Penafiel. Assim, todos os dados referentes aos bovinos que aqui se
apresentam são apenas deste Matadouro.
Quadro A.1. Total de animais apresentados para abate normal durante os 4 meses de estágio.
N.º animais mortos no
transporte/abegoaria
(Reprovações totais ante
mortem)
N.º de animais
admitidos para
abate
N.º de
Reprovações
Totais post
mortem (%)
Suínos de
engorda
4
5998
42 (0,70%)
Porcas Adultas
-
46
1 (2,17%)
Leitões
1
1382
3 (0,22%)
Peq.
Rum.
Cap/Ov<12
meses
3
1603
2 (0,12%)
Gr.
Rum.
Bovinos
-
695
7 (1,00%)
Suínos
Total de animais
8
9724
55 (0,57%)
Peq. Rum. – Pequenos Ruminantes; Gr. Rum. – Grandes Ruminantes; Cap – Caprinos; Ov – Ovinos.
Verifica-se também que os suínos de engorda são a espécie aparentemente mais
sensível, com um maior número de mortos à chegada ao matadouro. As porcas adultas
reprodutoras são animais que sofrem bastantes reprovações totais, facto explicado pela
sua idade e pela pressão produtiva a que estão sujeitas durante a vida.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
2. Causas de reprovação total nas diferentes espécies
O quadro A.2 mostra quais foram as diferentes causas de reprovação total post
mortem dos animais submetidos a abate normal.
Quadro A.2. Causas de reprovação total dos diferentes animais apresentados para abate normal
durante os 4 meses de estágio.
Eng
Suínos
Adul
Lei
1
P
Bov
R
Total
Melanosarcoma (Fig. 12)
1
Melanose cutânea generalizada (Fig. 10)
3
3
ABC (Fig. 14) + Melanose cutânea generalizada
1
1
ABCs múltiplos
1
1
2
ABC necrótico-purulento
1
1
Osteíte purulenta (Fig. 9)
10
1
1
12
Osteíte purulenta+ABC
3
3
Osteomielite purulenta (Fig. 13)
1
1
Osteomielite purulenta+ABCs
4
4
Onfalite necrótico-purulenta
1
1
Hemorragias musculares generalizadas (Fig. 15)
1
1
Caquexia+Liquef. gordura+ABCs+ROG
1
1
PN purulenta (Fig. 18)
1
1
PN purulenta+Peritonite purulenta
1
1
PN purulenta+ROG
2
2
PN fibrinopurulenta+ABC
1
1
Mamite purulenta
1
1
Hidrocaquexia
1
1
Caquexia+Liquefacção gordura
1
1
PL sinfisária fibrinosa+PN purulenta
1
1
PleuroPN aguda purulenta
3
3
PleuroPN purulenta+Osteíte purulenta
1
1
PleuroPN aguda+ABC+Ferida supurativa
1
1
PleuroPN aguda+ABC+Pericardite
1
1
PleuroPN+Pericardite fibrinosa+magreza
1
1
Artrites múltiplas+ABC
2
2
LFDs agudas+miosite inespecífica+magreza
1
1
LFDs purulentas (Fig.17)+magreza+PL+pericardite+cheiroAN
1
1
Peritonite e pleurisia fibrinosa+LFDs agudas+ABC abdominal
1
1
Peritonite+Conspurcação carcaça (Fig. 16)
1
1
Peritonite purulenta+caquexia
1
1
Reacção generalizada ganglionar
1
1
TOTAIS
42
1
3
2
7
55
Eng – Engorda; Adul – Porcas adultas; Lei – Leitões; PR – Pequenos Ruminantes; Bov –
Bovinos; ABC – Abcesso; ABCs – Abcessos; Liquef. – Liquefacção; ROG – Reacção Orgânica Geral;
PN – Pneumonia; PL – Pleurisia; PleuroPN – Pleuropneumonia; LFDs – Linfadenites; AN – Anormal.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Observou-se que a principal causa de reprovação total dos animais foi a osteíte
purulenta (Fig. 9), sobretudo em suínos de engorda.
Apresentam-se de seguida algumas imagens das causas de reprovação total mais
frequentemente observadas em matadouro.
Figura 9. Osteíte purulenta em carcaça
Figura 10. Melanose cutânea em
de suíno
carcaça de suíno.
Figura 11. Timo do suíno da Figura 10,
Figura 12. Melanosarcoma na carcaça
apresentando melanose, confirmando
de um leitão, atingindo também o
uma melanose generalizada.
gânglio
pré-crural.
Figura 13. Osteomielite purulenta na
cauda
de
um
suíno,
provavelmente por caudofagia.
causada
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Figura 14. Abcesso encapsulado e
aberto no membro de um leitão.
Figura 15. Hemorragias musculares
Figura 16. Conspurcação por conteúdo
generalizadas na carcaça de borrego.
ruminal de uma carcaça de pequeno
ruminante.
Figura
purulenta
17.
Focos
presentes
de
nos
linfadenite
gânglios
mesentéricos do intestino de suínos,
compatíveis com lesões tuberculosas.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Figura 18. Pneumonia purulenta em
carcaça de suíno.
3. Reprovações parciais e suas causas
Por uma questão de segurança, sempre que se reprovou o coração optou-se
também por reprovar igualmente os pulmões e o fígado do animal, ou seja, a colada
inteira, partindo-se do princípio que, quando o coração apresenta alguma patologia,
poderá existir repercussões nas vísceras mais próximas. Da mesma forma, sempre que
se reprovou um pulmão, reprovou-se também o seu par sempre que a patologia ou
alteração subjacente fosse de natureza inflamatória.
3.1 Suínos
De seguida apresenta-se o quadro A.3 com o número de reprovações parciais de
vísceras e cabeças em suínos, num total de 5998 animais desta espécie, assim como a
percentagem de reprovações parciais (n.º vísceras ou de cabeças reprovadas/n.º total de
vísceras ou cabeças em abate x100). As vísceras e cabeças de animais reprovados
totalmente não foram contabilizadas nesta tabela.
Quadro A.3. Reprovações parciais das diferentes vísceras e cabeças de suínos observadas
durante o estágio.
Suínos
%RP
Fígados
Rins
1908
31,81%
5881
49,02%
RP – Reprovações parciais.
Coladas
inteiras
399
6,65%
Pulmões
Baços
Intestinos
Cabeça
11996
100%
1
0,02%
53
0,88%
35
0,58%
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
No que respeita aos suínos, todos os pulmões foram reprovados visto que os
matadouros onde se acompanharam os abates utilizarem um escaldão horizontal.
A maioria das causas de reprovação de fígados foi o parasitismo. A presença de
“milk spots” ou manchas leitosas no fígado (Fig. 19), causadas pela fase larvar do
parasita Ascaris suum, é bastante comum nestes animais. Este parasita, cuja forma
adulta se encontra no intestino delgado dos suínos (Fig. 25), faz migrações no
parênquima hepático, causando uma hepatite intersticial crónica, notada pela existência
das “milk spots” referidas. Outras alterações hepáticas observadas foram casos de
esteatose (Fig. 20) e de congestão hepática (Fig. 21).
Figura 19. Fígado de suíno com “milk
Figura 20. Fígado de suíno com
spots”.
esteatose.
Figura 21. Congestão hepática.
No que respeita aos rins, a causa de reprovação mais frequente foi a presença de
nefrites inespecíficas (Fig. 24). Outras causas bastante frequentes de reprovação destes
orgãos são a existência de quistos renais (Fig. 23) e petéquias. Também as tecnopatias
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
(corte dos rins durante a evisceração ou corte sagital) levam muitas vezes à sua
reprovação.
Figura 22. Rins de suíno com nefrose.
Figura 23. Rim de suíno com quisto
renal abrangendo grande parte do órgão.
Figura 24. Rim de suíno com nefrites.
A maioria dos corações foi rejeitada por apresentarem pericardite, que se
caracteriza pela presença de aderências fibrinosas entre o coração e o saco pericárdio, e,
por vezes, entre este e os pulmões.
Os intestinos rejeitados tiveram como principais causas de reprovação o
parasitismo extremo (Fig. 25) e a presença de linfadenites purulentas compatíveis com
tuberculose (Fig. 17). 23 intestinos foram reprovados por terem estado em contacto com
vísceras que apresentavam linfadenites tuberculosas.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Figura 25. Ascaris suum, parasita
adulto do intestino delgado dos suínos.
O único baço observado rejeitado teve como causa uma esplenite (Fig. 26),
estando o órgão aumentado de volume e com uma aparência hemorrágica.
Figura
26.
Baço
de
suíno
com
esplenite.
As 35 cabeças de suínos foram reprovadas parcialmente, de acordo com o
Regulamento n.º 854/2004, por apresentarem linfadenites purulentas tuberculosas num
dos gânglios submandibulares (Fig. 27 e 28). Caso estas lesões tuberculosas se
localizassem também noutras zonas ou vísceras da carcaça, a reprovação seria total,
visto indicar uma tuberculose generalizada.
Figura 27. Pormenor de pequenos focos
purulentos
compatíveis
com
uma
linfadenite tuberculosa nos gânglios
submandibulares
de
um
suíno.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Figura 28. Gânglio submandibular de
suíno apresentando focos purulentos
compatíveis
com
linfadenite
tuberculosa.
3.2 Bovinos
Apresenta-se de seguida o quadro A.4 com o número de reprovações parciais de
vísceras de bovinos, num total de 695 animais desta espécie, assim como a percentagem
de reprovações parciais (n.º vísceras reprovadas/n.º total de vísceras em abate x100). As
vísceras de animais reprovados totalmente não foram contabilizadas nesta tabela.
Os números apresentados relativamente à língua referem-se apenas à apara do
órgão devido à presença de úlcera do palato, não levando a uma rejeição completa do
órgão.
Quadro A.4. Reprovações parciais das diferentes vísceras de bovinos observadas durante o
estágio.
Fígados
Pulmões
Rins
Corações
Bov.
259
%RP 37,27%
655
47,12%
883
63,53%
2
0,29%
Compart.
gástricos
9
1,29%
Língua
Diafragma
12
1,73%
71
10,22%
Bov. – Bovinos; RP – Reprovações Parciais; Compart. Gástricos – Compartimentos gástricos.
Nota-se uma grande percentagem de rins rejeitados, assim como de fígados e de
pulmões nestes animais. Apenas 2 corações num total de 695 bovinos foram rejeitados,
sendo a víscera com menos percentagem de rejeição.
Apresentam-se de seguida as causas de rejeição parcial das vísceras referidas e o
número de órgãos afectados por elas.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
3.2.1 Fígado
Apresenta-se de seguida o quadro A.5 com as causas de reprovação parcial do
fígado em bovinos e a quantidade de fígados afectados por cada uma delas.
Quadro A.5. Causas de reprovação parcial do fígado em bovinos e número de fígados afectados
por cada uma delas.
FIGADO
Causas de reprovação parcial
Aderências
Inespecífico
Parasitismo
Distomatose
Fasciolose (Fig. 29)
Esteatose
Petéquias
Colangite parasitária
Fibrose (parasitária)
Abcesso
Órgão friável
Conspurcação do órgão
Congestão
Telangiectasia maculosa (Fig. 30)
Órgão aparado
TOTAL
N.º de órgãos
reprovados
34
4
28
10
14
7
4
1
112
17
17
14
4
2
19
259
Percentagem de
reprovação
13,13%
1,54%
3,86% 10,81%
5,41%
2,70%
1,54%
0,39%
43,24%
6,56%
6,56%
5,41%
1,54%
0,77%
7,34%
100%
A presença de parasitas é habitual neste órgão, sendo a Fasciola hepatica e o
Dicrocoelium dendriticum facilmente identificáveis (Fig. 29). Esta distomatose é
passível de provocar fibrose, trajectos hemorrágicos e espessamento dos conductos
biliares devido à acção traumática e mecânica dos parasitas. A fibrose parasitária foi,
por isso, a causa de rejeição mais frequentemente observada do fígado de bovinos no
matadouro visitado, durante os 4 meses de estágio.
Figura 29. Fígado de bovino parasitado
por
Fasciola
hepatica,
podendo-se
observar os parasitas a saírem dos
canais biliares.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
Figura
ANEXO A
30.
apresentando
deprimidas
compatível
Fígado
zonas
por
com
de
bovino
escurecidas
todo
o
e
órgão,
telangiectasia
maculosa.
3.2.2 Pulmões
De seguida apresenta-se o quadro A.6 com as diferentes causas de reprovação de
pulmões em animais da espécie bovina e o número de órgãos afectados por cada uma
delas.
Quadro A.6. Causas de reprovação parcial dos pulmões em bovinos e número de pulmões
afectados por cada uma delas.
PULMÕES
Causas de reprovação parcial
Fibrose
inespecífica
Aspiração
agónica de sangue
de conteúdo ruminal
Conspurcação do órgão
Aderências
Pleurisia
Congestão
Broncopneumonia
inespecífica
Pneumonia
Purulenta (Fig. 31)
Catarral (Fig. 32)
Enfisema (Fig. 33)
TOTAL
N.º de órgãos
reprovados
2
20
34
2
12
20
42
12
19
274
57
234
17
160
18
655
Percentagem de
reprovação
0,31%
3,05%
0,31% 5,19%
1,83%
3,05%
6,41%
1,83%
2,90%
41,83%
8,70%
2,60% 35,73%
24,43%
2,75%
100%
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Observa-se um grande número de reprovações parciais de pulmões tanto por
broncopneumonia (que afectou 41,83% do total de pulmões reprovados) como por
pneumonia, particularmente a do tipo catarral (24,43% dos pulmões reprovados), visível
na figura 32. Também se observaram alguns pulmões com pneumonia purulenta (Fig.
31). A broncopneumonia é uma patologia caracterizada pela inflamação dos brônquios e
do pulmão, observando-se lesões bastante heterogéneas, principalmente nas zonas
cranio-ventrais do órgão. No caso da pneumonia, as lesões são mais homogéneas,
atingindo principalmente as regiões dorso-caudais do órgão.
A aspiração agónica de sangue ocorre durante o abate devido a uma tecnopatia,
por corte acidental da traqueia, que leva a uma infiltração de sangue arterial nos
pulmões, tornando-os impróprios para consumo. A aspiração de conteúdo ruminal
também é comum. Neste caso, observa-se conteúdo ruminal no interior dos brônquios
ou bronquíolos, podendo também existir enfisema associado.
O enfisema pulmonar (Fig. 33) apresenta-se como sendo uma distensão
exagerada dos alvéolos ou do interstício pulmonar por infiltração excessiva de ar. Pode
ser provocado durante o abate do animal, por aspiração forçada de ar.
Apresentam-se de seguida imagens de pulmões reprovados por algumas das
principais causas de reprovação.
Figura 32. Pormenor de um pulmão de
bovino com pneumonia catarral.
Figura 31. Pulmões de bovino com
pneumonia purulenta.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Figura 33. Lobo pulmonar de bovino
com enfisema evidente.
3.2.3 Coração
No total de 695 animais observados, apenas 2 corações foram reprovados e
ambos por apresentarem pericardite, identificada pela existência de aderências de
fibrina entre o pericárdio e o coração.
3.2.4 Rins
De seguida é apresentado o quadro A.7 com as diferentes causas de reprovação
parcial de rins em bovinos, assim como o número de órgãos afectados por cada uma
delas.
Quadro A.7. Causas de reprovação parcial dos rins em bovinos e número de rins afectados por
cada uma delas.
RINS
Causas de reprovação parcial
Nefrite intersticial focal
Nefrite inespecífica (Fig. 34)
Congestão
Petéquias (Fig. 34)
Cálculo renal
Quisto renal
TOTAL
N.º de órgãos
reprovados
671
162
2
39
1
7
883
Percentagem de
reprovação
75,99%
18,35%
0,23%
4,42%
0,11%
0,79%
100%
Observou-se que a causa mais frequente de reprovação de rins em bovinos é a
nefrite intersticial focal, que afectou 76% dos rins reprovados. Também foram
observados rins com nefrites inespecíficas e petéquias (Fig. 34).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Figura 34. Rim de bovino com nefrites
e petéquias.
3.2.5 Diafragma
Apresenta-se de seguida o quadro A.8, com as diferentes causas de reprovação
parcial do diafragma em bovinos, assim como o número de órgãos afectados por cada
uma delas.
DIAFR.
Quadro A.8. Causas de reprovação parcial do diafragma em bovinos e número de diafragmas
afectados por cada uma delas.
Causas de reprovação parcial
Aderências
Conspurcação do órgão
Aparado
TOTAL
N.º de órgãos
reprovados
53
2
16
71
Percentagem de
reprovação
74,65%
2,82%
22,54%
100%
Diafr. – Diafragma.
A causa mais frequente de reprovação do diafragma em bovinos é a presença de
aderências no órgão (74,65% dos órgãos apresentaram este problema). 22,54% dos
diafragmas foram aparados por causas diversas, não sendo rejeitados completamente.
3.2.6 Compartimentos gástricos
O quadro A.9, apresentado de seguida, mostra as diferentes causas de
reprovação dos compartimentos gástricos nos animais da espécie bovina, assim como o
número de compartimentos gástricos afectados por cada uma delas.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
COMP.
GÁSTR.
Quadro A.9. Causas de reprovação parcial dos compartimentos gástricos em bovinos e número
de compartimentos gástricos afectados por cada uma delas.
Aderências
Abcesso
N.º de órgãos
reprovados
2
7
Percentagem de
reprovação
22,22%
77,78%
TOTAL
9
100%
Causas de reprovação parcial
Comp. Gástr. – Compartimentos gástricos.
Observaram-se poucas rejeições parciais de compartimentos gástricos na espécie
bovina. A principal causa de rejeição foi a presença de abcessos.
3.3 Leitões, porcas adultas e borregos
No que respeita a estes animais, não pôde ser feita a recolha de números de
reprovações parciais. No entanto, observou-se que a principal causa de reprovação
parcial de fígados e pulmões é o parasitismo.
No caso dos caprinos e ovinos jovens é frequente observar a presença de
vesículas de Cysticercus tenuicollis no fígado, semelhantes a “bolhas de água” (Fig. 35).
Este parasita é também responsável por trajectos hemorrágicos (se recentes) ou
fibróticos (se antigos) no fígado (Fig. 36 e 37). Nos pulmões, a causa mais frequente de
rejeição é o parasitismo e pneumonias. Outra causa de reprovação bastante comum e
facilmente evitável é a conspurcação das vísceras (e carcaça).
No caso do Matadouro Beira-Lamego-Agroalimentar S.A. (Lamego), por uma
questão de escolha, as vísceras dos leitões não são aproveitadas, apesar da maioria estar
em bom estado para aprovação sanitária.
As porcas adultas reprodutoras são animais que, devido à pressão reprodutiva e
produtiva a que são submetidas durante a sua vida, têm uma maior taxa de reprovação
no que respeita às suas vísceras. Efectivamente, a grande maioria das vísceras (em
particular os rins e fígado) foram reprovadas. Nos rins observou-se frequentemente
nefrites e quistos renais, enquanto que nos fígados era habitual encontrar zonas
fibróticas.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO A
Figura 35. Vesícula de Cysticercus
Figura
tenuicollis presentes à superfície de um
recentes no fígado de um pequeno
fígado de pequeno ruminante.
ruminante.
Figura
36.
37.
Trajectos
Trajecto
parasitários
fibrótico-
hemorrágico parasitário no fígado de
um pequeno ruminante.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
2. ANEXO B
LACERAÇÕES
Quadro B. 1
Tabela de contingência (Lote / Lacerações):
Lacerações-0
Lacerações-1
Lote-1
68
Lote-2
76
43
77
Lote-3
50
103
Lote-4
12
100
Lote-5
32
273
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
Quadro B.2
Porcentagens / Total (Lote / Lacerações):
Lacerações-0
Lacerações-1
Total
Lote-1
8,153
5,156
13,309
Lote-2
9,113
9,233
18,345
Lote-3
5,995
12,350
18,345
Lote-4
1,439
11,990
13,429
Lote-5
3,837
32,734
36,571
28,537
71,463
100,000
Total
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
- Tamanho do lote
Quadro B.3
Quadro B.4
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (Tamanho lote / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
159,236
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
9,488
GL
p-valor
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (Tamanho lote / Lacerações):
4
< 0,0001
alfa
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
13,277
4
< 0,0001
0,01
Quadro B.5
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (Tamanho lote / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
18,467
4
< 0,0001
0,001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
- Tipo de trajecto
Quadro B.6
Quadro B.7
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (Trajecto / Lacerações):
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (Trajecto / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
8,035
Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 8,035
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
3,841
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
1
0,005
0,05
GL
p-valor
alfa
6,635
1
0,005
0,01
Quadro B.8
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (Trajecto / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
8,035
10,828
1
p-valor
0,005
alfa
0,001
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: as linhas e
colunas da tabela são independentes).
- Horas totais pré-abate
Quadro B.9
Quadro B.10
Teste de independência entre as linhas e as colunas
(H pré-abate (viagem+abegoaria) / Lacerações):
Teste de independência entre as linhas e as colunas
(H pré-abate (viagem+abegoaria) / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
9,488
4
< 0,0001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
13,277
4
< 0,0001
0,01
Quadro B.11
Teste de independência entre as linhas e as colunas
(H pré-abate (viagem+abegoaria) / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
18,467
4
< 0,0001
0,001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
- Horas de viagem
Quadro B.12
Quadro B.13
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / Lacerações):
159,236
9,488
4
< 0,0001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
13,277
4
< 0,0001
0,01
Quadro B.14
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
18,467
4
< 0,0001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
0,001
- Horas na abegoaria
Quadro B.15
Quadro B.16
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / Lacerações):
159,236
9,488
4
< 0,0001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
13,277
4
< 0,0001
0,01
Quadro B.17
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / Lacerações):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
159,236
18,467
4
< 0,0001
0,001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
ERITEMA
Quadro B.18
Tabela de contingência (Lote / eritema):
eritema-0
Lote-1
eritema-1
90
21
Lote-2
90
63
Lote-3
121
32
Lote-4
94
18
Lote-5
275
30
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
Quadro B.19
Porcentagens / Linha (Lote / eritema):
eritema-0
eritema-1
Total
Lote-1
81,081
18,919
100
Lote-2
58,824
41,176
100
Lote-3
79,085
20,915
100
Lote-4
83,929
16,071
100
Lote-5
90,164
9,836
100
Total
80,336
19,664
100
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
- Tamanho do lote
Quadro B.20
Quadro B.21
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Tamanho lote / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Tamanho lote / eritema):
64,575
9,488
4
< 0,0001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
0,01
Quadro B.22
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Tamanho lote / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
0,001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
- Tipo de trajecto
Quadro B.23
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Trajecto / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
0,912
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
3,841
GL
p-valor
alfa
1
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,01, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
0,340
0,05
- Horas totais pré-abate
Quadro B.24
Quadro B.25
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / eritema):
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
64,575
9,488
4
< 0,0001
0,05
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
0,01
Quadro B.26
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
0,001
- Horas de viagem
Quadro B.27
Quadro B.28
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / eritema):
64,575
9,488
4
< 0,0001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
0,01
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
Quadro B.29
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
0,001
- Horas na abegoaria
Quadro B.30
Quadro B.31
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
Teste de independência entre as linhas e as colunas
(H abegoaria / eritema):
64,575
9,488
4
< 0,0001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
0,01
Quadro B.32
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / eritema):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
64,575
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
p-valor
alfa
4
< 0,0001
Como o p-valor calculado é menor que o
nível de significância alfa=0,001, deve-se
rejeitar a hipótese nula H0 em favor da
hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma
dependência entre as linhas e colunas da
tabela).
0,001
HEMATOMAS
Quadro B.33
Tabela de contingência (Lote / hematoma):
hematoma-0
hematoma-1
Lote-1
94
17
Lote-2
141
12
Lote-3
142
11
Lote-4
108
4
Lote-5
258
47
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
Quadro B.34
Porcentagens / Linha (Lote / hematoma):
hematoma-0 hematoma-1 Total
Lote-1
84,685
15,315 100
Lote-2
92,157
7,843 100
Lote-3
92,810
7,190 100
Lote-4
96,429
3,571 100
Lote-5
84,590
15,410 100
Total
89,089
10,911 100
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
- Tamanho do lote
Quadro B.35
Quadro B.36
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Tamanho lote / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Tamanho lote / hematoma):
18,433
9,488
4
0,001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
GL
p-valor
alfa
4
0,001
0,01
Quadro B.37
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Tamanho lote / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
4
p-valor
0,001
alfa
0,001
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
- Tipo de trajecto
Quadro B.38
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Trajecto / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
0,699
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
3,841
GL
p-valor
alfa
1
0,403
0,05
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,05, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
- Horas totais pré-abate
Quadro B.39
Quadro B.40
Teste de independência entre as linhas e as colunas
(H pré-abate (viagem+abegoaria) / hematoma):
Teste de independência entre as linhas e as colunas
(H pré-abate (viagem+abegoaria) / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,433
9,488
GL
p-valor
alfa
4
0,001
0,05
GL
p-valor
alfa
4
0,001
0,01
Quadro B.41
Teste de independência entre as linhas e as colunas
(H pré- abate (viagem+abegoaria) / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
4
p-valor
0,001
alfa
0,001
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
- Horas de viagem
Quadro B.42
Quadro B.43
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
GL
p-valor
alfa
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / hematoma):
18,433
9,488
4
0,001
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
GL
p-valor
alfa
4
0,001
0,01
Quadro B.44
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
4
p-valor
0,001
alfa
0,001
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
- Horas na abegoaria
Quadro B.45
Quadro B.46
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / hematoma):
18,433
9,488
GL
4
p-valor
0,001
alfa
0,05
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
13,277
GL
p-valor
alfa
4
0,001
0,01
Quadro B.47
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / hematoma):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
18,433
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
18,467
GL
4
p-valor
0,001
alfa
0,001
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
FRACTURAS
Quadro B.48
Tabela de contingência (Lote / Fractura):
Fractura-0
Fractura-1
Lote-1
109
2
Lote-2
152
1
Lote-3
152
1
Lote-4
111
1
Lote-5
300
5
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
Quadro B.49
Porcentagens / Linha (Lote / Fractura):
Fractura-0
Fractura-1
Total
Lote-1
98,198
1,802
100
Lote-2
99,346
0,654
100
Lote-3
99,346
0,654
100
Lote-4
99,107
0,893
100
Lote-5
98,361
1,639
100
Total
98,801
1,199
100
Nota: 0 – ausência; 1 – presença.
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
-Tamanho do lote
Quadro B.50
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Tamanho lote / Fractura):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
1,697
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
9,488
GL
p-valor
alfa
4
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
0,791
0,05
- Tipo de trajecto
Quadro B.51
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (Trajecto / Fractura):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
0,055
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
3,841
GL
p-valor
alfa
1
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
0,815
0,05
- Horas totais pré-abate
Quadro B.52
Teste de independência entre as linhas e as
colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / Fractura):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
1,697
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
9,488
GL
p-valor
alfa
4
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
0,791
0,05
- Horas de viagem
Quadro B.53
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H viagem / Fractura):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
1,697
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
9,488
GL
p-valor
alfa
4
0,791
0,05
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
Deficiências no Bem-Estar Animal
Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo
ANEXO B
- Horas na abegoaria
Quadro B.54
Teste de independência entre as linhas
e as colunas (H abegoaria / Fractura):
Qui-quadrado ajustado (Valor observado)
1,697
Qui-quadrado ajustado (Valor crítico)
9,488
GL
p-valor
alfa
4
0,791
0,05
Como o p-valor calculado é maior que o
nível de significância alfa=0,001, não se
rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e
as colunas da tabela são independentes).
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estudo