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DIVERSIDADE HISTÓRICA, CULTURAL E LINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO
Patrícia Edí Ramos
Escola Estadual Maria Eduarda Pereira Soldera
São José dos Quatro Marcos
INTRODUCÃO
Este trabalho tem por objetivo uma pesquisa em torno da diversidade
histórica, cultural e linguística na educação, o fato de vivermos em uma sociedade
em que se necessita educar os indivíduos para multiculturalismo, nos leva a refletir
sobre a necessidade de levar em consideração a fundamental importância de se
reconhecer, valorizar, respeitar e acolher o outro nas suas particularidades, sem que
haja qualquer tipo de ameaça, preconceito e desrespeito à vida humana, pois, todo
cidadão deve ser respeitado e valorizado independentemente da cor da pele, do
sexo, gênero, religião, etnia, nacionalidade e condição econômica financeira.
Muito se tem discutido ao decorrer dos anos sobre o direito a igualdade
social, a superação de mecanismos que geram discriminação e formação de uma
sociedade baseada na justiça social, fatores estes que dependem de boa educação,
levando em conta que a escola tem papel crucial na formação do cidadão, na qual
sua função é modificar o imaginário e as representações coletivas negativas sobre
aquilo que possa ser diferente perante o outro.
A diversidade cultural é um bem que exige de nós um posicionamento crítico
e político e um olhar mais ampliado que consiga abarcar os múltiplos recortes dentro
de uma realidade culturalmente diversa, a convivência entre pessoas de cultura
diferente proporciona partilhar diversos tipos de conhecimento, experiências e assim
caminhar em direção a uma sociedade democrática e de respeito. Mas, para que
isso aconteça precisamos implantar políticas públicas em que a história e a diferença
de cada grupo social e cultural sejam respeitadas dentro das suas especificidades
sem perder o rumo do diálogo, da troca de experiências e da garantia dos direitos
sociais.
EDUCAR PARA A DIVERSIDADE CULTURAL, LINGUISTICA E HISTÓRICA
Vivemos em uma época em que a globalização tem propiciado inúmeras e
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profundas transformações que independente da área profissional acaba por facilitar
a vida cotidiana tornando-a mais confortável.
O desenvolvimento global atinge as diversas áreas da vida social e na
educação não é diferente, pelo contrário nas instituições de ensino o progresso deve
ocorrer no mesmo ritmo das demais áreas, pois, é através da escola que todos os
indivíduos independentemente da situação financeira conseguem ter contato com
diversas tecnologias.
Ao iniciarmos uma discussão em torno da diversidade cultural, não podemos
nos esquecer de que a língua de um determinado povo é um dos seus bens mais
preciosos, pois é na/pela língua que o individuo se constitui e se desenvolve, através
desta ocorre todo o processo de comunicação com outro, representações e
construções de uma sociedade, transmissões culturais, as relações de poder e
dominação, situações que permitem ao homem construir seu lugar na sociedade, ou
até mesmo dependendo de suas ações a sua exclusão social. A língua nas suas
mais variadas formas e variantes é uma entidade viva em que o homem utiliza para
trocar informações, discutir ideias e conceitos.
Ouro fato importante, é que ao longo da história da educação brasileira muito
se privilegiou a cultura do homem branco, fato este que torna difícil nos dias atuais
educar de forma a valorizar a diversidade, o que exige uma postura ética que
valorize as culturas que vem sofrendo discriminação, pois, aceitar as diferenças e
procurar enriquecer seu conhecimento com elas, é um problema que ainda hoje
preocupa a sociedade em si, pois são poucos que sabem lidar com as diferenças do
outro. A esse respeito, Santos (1983) ressalta:
Cultura é uma preocupação contemporânea, bem viva nos tempos atuais. É
uma preocupação em entender os muitos caminhos que conduziram os
grupos humanos às suas perspectivas de futuro. O desenvolvimento da
humanidade está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes
de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos naturais e
transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la (SANTOS, 1983, p.
3).
La Taille (1992) fala que o homem é um ser essencialmente social, portanto
deve ser pensado no contexto da sociedade em que nasce e vive, considerando que
as cidades geralmente são formadas pela união de diversas raças e povos, é
impossível ignorar que a diversidade étnica é uma característica forte de nosso país.
Veremos na imagem abaixo, que embora haja diferenças o homem
independentemente de sua cor, etnia ou cultura, faz parte do mundo como sujeito
multiplicador de conhecimento e respeito, viver em sociedade permite que cada
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cidadão se complete a partir da vivência com o outro e construa em espírito de
cooperação um mundo melhor.
Partindo desta contextualização podemos dizer que a escola deve ser um
ambiente de reflexão em que os indivíduos aprendem a respeitar e interagir com as
diferenças étnicas, culturais, sociais e econômicas, visto que, é um local em que se
dá o encontro de múltiplas culturas, onde todos os indivíduos são acolhidos
independentemente de sua cultura, raça ou situação econômica financeira, e não
devemos esquecer que cada aluno traz para a escola uma “vasta bagagem” de
informações de sua sociedade e realidade, as quais precisam e devem ser
valorizadas pela sociedade. Nesse sentido Hélio Pellegrino (1992, p. 5) afirma:
Nascemos para o encontro com o outro, e não o seu domínio. Encontrá-lo é
perdê-lo, é contempla-lo na sua libérrima existência, é respeitá-lo e amá-lo
na sua total e gratuita inutilidade. O começo da sabedoria consiste em
perceber que temos e teremos as mãos vazias, na medida em que
tenhamos ganhado ou pretendamos ganhar o mundo.
Educar para a diversidade nesse contexto significa montar grupos
heterogêneos para a troca de experiências e desenvolvimento individual. Embora
muitas vezes a diferença possa gerar conflitos, tensões e até mesmo resistência a
determinados assuntos é necessário que se estabeleça padrões de respeito, de
ética e garantia aos direitos sociais, sendo, portanto dever das instituições de ensino
avançar na construção de práticas educativas que possam resignificar a vivência
com o outro, uma mudança que deve ter por inicio o próprio individuo e somente
depois partir para a relação com o outro. Todo esse processo deve ocorrer através
do professor que terá papel de mediador e educador para a pluralidade cultural. Na
imagem a seguir veremos que educação social e o respeito ao outro se inicia nas
mais simples ações, como brincadeiras e jogos.
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A esse respeito Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural afirma em
seu artigo 1° que:
A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa
diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades
que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade.
Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural
é, para o gênero humano, tão necessário como a diversidade biológica para
a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e
deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes e
futuras.
As lutas pelo direito as diferenças faz parte da atividade humana, pois existe
desde que o homem passou a entender seu papel perante a sociedade e que
independente de cor de pele, do modo de falar e de condição financeira todos tem
direitos e deveres iguais, Gomes (2005) afirma:
[...] a luta pelo direito às diferenças sempre esteve presente na história da
humanidade e sempre esteve relacionada com a luta dos grupos e
movimentos que colocaram e continuam colocando em xeque um
determinado tipo de poder, a imposição de um determinado padrão de
homem, de política, de religião, de arte, de cultura. Também esteve próxima
as diferentes respostas do poder em relação às demandas dos ditos
diferentes. Respostas que, muitas vezes, resultaram em formas violentas e
excludentes de se tratar o outro: colonização, inquisição, cruzadas,
escravidão, nazismo, etc (GOMES, 2005, p. 73).
Muitas reflexões já foram realizadas e ainda se faz em torno de temas que
permeiam a diversidade cultural como falar sobre: negros, índios, mulheres, homens,
homossexuais, deficientes, classe social. Vale ressaltar que o reconhecimento não
se trata apenas de aceitar o outro, mas acima de tudo de respeitar o outro,
reconhecer as diferenças, fatores estes imprescindíveis para o ciclo de vida humano
(TAYLOR, Charles, 1994 apud MUNANGA, 2003, p. 45).
Juridicamente temos dois instrumentos que são de grande importância para a
defesa da diversidade cultural:
a)
A Declaração Sobre a Diversidade Cultural: votada e adotada em 2001 por
todos os países membros da UNESCO. Este documento afirma a diversidade
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cultural como patrimônio de toda a humanidade, e ressalta a necessidade do
respeito manifestações culturais de diferentes povos.
b)
A Convenção Internacional para a Proteção e Promoção da Diversidade dos
Conteúdos Culturais e Expressões Artísticas: esta Convenção regula a proteção e a
promoção da diversidade cultural no mundo, ao todo são 151 países membros da
UNESCO, entre eles o Brasil, que aprovaram o documento, se comprometendo a
defender e incentivar a diversidade cultural em seus territórios e fora deles.
Agências Internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) via
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)
e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Banco Mundial tem se
encarregado de “mobilizar” discussões sobre a educação, tolerância e respeito à
diversidade cultural, visto que este problema representa uma ameaça tanto ao rico
como ao pobre, branco, preto, homem, mulher, homossexual, dominado ou
dominante. Através de eventos essas agências induzem os países membros a
assumir um compromisso de uma educação de respeito às diferenças culturais entre
povos, etnias e nações (LOPES, 1999).
Enfim, muito se tem feito e se faz pela valorização do individuo como um
cidadão de direitos e deveres, pois como vimos assumir a diversidade cultural
significa muito mais do que elogiar as diferenças, na verdade é necessário
implementar políticas públicas, alterar as relações de poder, e principalmente
questionar e fazer com que nossa democracia tome novos rumos e de fato nos
tornemos uma sociedade realmente democrática. Não devemos nos esquecer de
que a escola por ser um lugar privilegiado no encontro das mais diversas culturas
tem papel fundamental na contribuição para a superação de preconceitos e
discriminação tanto no ambiente escolar como fora dele.
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CONCLUSÃO
Acreditamos que é através da escola que se dá inicio de toda mudança social,
um ambiente que é capaz de reduzir ou até mesmo por fim ao preconceito.
A educação é um ato de conhecimento e de conscientização, mas para que
isso aconteça é necessário um condutor que leve os indivíduos a percorrerem um
caminho de respeito, em que ambos valorizem, respeitem e elevem os
conhecimentos, aprendendo a partir da relação com o outro. Nesse sentido a
diversidade cultural se concretiza a partir das relações humanas que quando bem
conduzidas por um mediador, resultará em uma sociedade transformadora, em que
a valorização do individuo como cidadão de direitos e deveres, ocorra na igualdade
independente da cultura ou etnia.
Por fim, podemos dizer que a sala de aula é um palco onde entram em cena
as diversidades, e como num teatro da vida real, o professor terá o papel de dirigir a
peça teatral levando em consideração a importância de cada indivíduo perante a
sociedade em que vive, fazendo com que vivenciem as oportunidades de aprender e
enriquecer seus conhecimentos a partir da vivencia com o outro, visto que na
medida em que vidas diferentes se cruzam e passam a conviver em sociedade sem
sombra de dúvidas surgiram grandes ocasiões para construção de conhecimento
mútuo e coletivo. Embora seja um trabalho árduo e lento, é de extrema importância
para se construir uma sociedade de respeito e amor ao outro.
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REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
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BARROS (coordenadores). Diversidade na Educação: reflexões e experiências.
Brasília: Secretaria de Educação Média e Tecnológica/MEC, 2003.
LA TAILLE, Yves Et. AL. Piaget, Vigostsky, Wallon teóricos psicogenéticos em
discussão. São Paulo: Sumnus Editorial, 1992.
MOREIRA, Antonio Flavio; CANDAU, Vera Maria. Educação escolar e cultura(s):
construindo caminhos. In: Educação como exercício de diversidade. Brasília:
UNESCO, MEC, ANPED, 2005.
MUNANGA, Kabengele. Algumas considerações: sobre a diversidade e a identidade
negra no Brasil. In: RAMOS, ADÃO, BARROS (coordenadores). Diversidade na
Educação: reflexões e experiências. Brasília: Secretaria de Educação Média e
Tecnológica / MEC, 2003.
PELLEGRINO, Hélio. De uma carta de Hélio Pellegrino. In: SABINO, Fernando. O
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SANTOS, José Luiz. O que é cultura. Coleção primeiros passos. Editora: brasiliense,
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TOURAINE, Alain. Um novo paradigma. Para compreender o mundo de hoje.
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http://blogs.piraidigital.com.br/epitacio/files/2010/06/intercultural-image-294x300.jpg
(Acessado em: 08/05/2013)
http://1.bp.blogspot.com/_cx6aa6fqKng/SxMRwQmuSEI/AAAAAAAAAus/_l_Mmr60k
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