O PAPEL DA UNIVERSIDADE NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA, ZONA DE EDUCAÇÃO PARA O
ECODESENVOLVIMENTO DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO
RIBEIRÃO FIDÉLIS, BLUMENAU (SC)
Cristiane Mansur de Moraes Souza1
Anderson Miranda2
Samara Braun3
Julia Helena Gesser4
Resumo: Educação para o ecodesenvolvimento é um tema amplamente discutido, abordado
associado a geografia, planejamento urbano, neurociência na educação e reflexos da
problemática socioambiental contemporânea em estilos de desenvolvimento. Este estudo é um
relato de experiência desenvolvida na Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento – ZEE da microbacia hidrográfica do Ribeirão Fidélis, que procura fazer frente a problemática
socioambiental local, promovendo um espaço de diálogo entre alunos e professores da escola
local, o curso de Arquitetura e Urbanismo e o programa de pós-graduação em Desenvolvimento
Regional da Universidade Regional de Blumenau (SC). A metodologia da pesquisa envolve um
diagnóstico descritivo e uma etapa participativa. O processo de educação para o
ecodesenvolvimento incluiu uma reflexão com alunos da escola sobre geografia física e a
importância de se conhecer o local onde se vive através de jogos para fixar a temática de
estudo, doação e plantio de mudas de espécies nativas. Os resultados são: percepção
ambiental – visão da comunidade sobre a qualidade do meio ambiente, diagnóstico descritivo
do meio físico e início de um processo de sensibilização de atores sobre a problemática
ambiental local.
Palavras-chave: inserção na realidade local; aprendizagem; educação para o
ecodesenvolvimento; desenvolvimento regional.
1. INTRODUÇÃO
No final do século XIX, o pensamento tecnocrático predominante levava a crer que o
1
Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e do curso de
Arquitetura e Urbanismo. FURB. [email protected]
2
Mestrando Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. FURB. [email protected]
3
Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo - FURB. [email protected]
4
Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo - FURB. [email protected]
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século XXI iria promover ainda mais a expressão do que se cunhou de modernidade como
sinônimo
de
progresso
da
humanidade.
No
entanto,
estamos
vivendo
tragédias
socioambientais, além de desigualdades socioeconômicas sem precedentes. O planeta sempre
esteve sujeito a mudanças climáticas produzidas por longos e curtos ciclos, mas este tem se
modificado, sendo resultado principalmente do aquecimento global induzido e acelerado pelas
ações humanas.
Para combater este quadro de degradação ecossistêmica e aumento na freqüência de
desastres naturais, alicerçam-se entre os documentos brasileiros que deram base a Rio+20 Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - especificamente o
documento sobre desafios emergentes do desenvolvimento sustentável. Neste, o item
educação indica que “cabe ao Estado e à sociedade civil organizada desenvolver ações
abrangentes e colaborativas que visem ao fortalecimento da dimensão cultural do
desenvolvimento, levando em consideração a construção de sociedades mais justas e
conscientes”. O mesmo afirma que para atingir esse objetivo é preciso combinar políticas de
cultura, meio ambiente, educação, saúde, infraestrutura, planejamento territorial, entre outras.
Apesar da evolução progressiva da consciência ambiental por alguns setores da
população brasileira, observada por especialistas, as iniciativas que vem sendo tomadas pelos
Estados Nação, em nome de política ambiental preventiva e proativa, têm se mostrado pouco
capazes de combinar políticas de cultura, educação, meio ambiente para desenvolver ações
junto à sociedade civil, organizada no sentido de promover a educação para o
ecodesenvolvimento.
O termo ecodesenvolvimento foi cunhado no início da década de 70, para designar
modalidade política e ambiental e afirma que é preciso considerar os problemas de recursos,
ambiente, população e desenvolvimento de forma unificada (SACHS, 1997, p. 213). Este
enfoque normativo de planejamento e gestão das interações sociedade & natureza combina um
esforço de diagnóstico da dinâmica coevolutiva (NORGAARD, 1995) dos sistemas
socioambientais com o reconhecimento da relevância de modalidades diferenciadas do
conhecimento ecológico local (BERKES, FOLKE 1998; LEFF, 2000).
Em suma, “o ecodesenvolvimento é um estilo de desenvolvimento que, em cada
ecorregião, insiste na busca de soluções específicas para seus problemas particulares confia na
capacidade das sociedades humanas de identificar seus próprios problemas e apresentar
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soluções originais para os mesmos e ainda que se inspirando em experiências alheias, enaltece
a autoconfiança (SACHS, 2007, p. 65). Não obstante, o conceito de fundo, região laboratório de
educação para o ecodesenvolvimento, parte do princípio que o ecodesenvolvimento precisa ser
tratado na sua viabilidade. Para tanto, este conceito de região laboratório (LÉVÊQUE, 2000),
tem por premissa: o esforço de planejar o desenvolvimento deve ser pensado em várias
escalas. Sendo cada escala uma forma de organizar concepções da realidade, socialmente
construída e que está em constante transformação. Desta forma, a região pode ser estudada
em diferentes zonas de aproximação, ou seja, em escalas diferentes.
A concepção de zona laboratório define um instrumento capaz de fazer frente a
problemática socioambiental e promover a organização e gestão do território através de
espaços de diálogo entre diferentes pesquisadores e gestores. Permite também a participação
de coletivos de pesquisa, o surgimento de novos pesquisadores, o diálogo entre atores sociais
múltiplos, a formação para a cidadania e a obtenção de dados confiáveis e projetos de rede.
Este tipo de visão coaduna com concepção do programa de gestão ecossistêmica da UNESCO,
ou seja, o programa de reserva da Biosfera. Tal programa é voltado à conservação da
biodiversidade, à promoção do desenvolvimento sustentável e à manutenção de valores
culturais, associado à Rede Brasileira de Reservas de Biosfera. A rede possui seis reservas
remanescentes da Mata Atlântica, onde está inserido o um recorte da microbacia hidrográfica
do Ribeirão Fidélis, Blumenau, (SC).
Este relato de experiência apresenta uma das atividades desenvolvidas na Educação
para o Ecodesenvolvimento - ZEE da microbacia hidrográfica do Ribeirão Fidélis, que procura
fazer frente à problemática socioambiental local, promovendo um espaço de diálogo e
aprendizado entre os gestores e alunos da Escola Básica Municipal Rodolfo Rolllenweger
(Bairro Fidélis, Blumenau, SC), alunos do curso de arquitetura e urbanismo e Programa de PósGraduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau - FURB. A
experiência vem ao encontro das diretrizes da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Ensino Superior - CAPES, fundação do ministério da educação -– MEC, que é de aproximar o
ensino básico da pós-graduação. A CAPES visa fortalecer a sinergia entre as atividades de
ensino da pós-graduação e da educação básica e assim incluir o aprimoramento do ensino
básico, num esforço de se fazer cumprir o papel da universidade frente ao desenvolvimento
regional.
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Neste contexto, o plano de ensino da disciplina de planejamento territorial urbano V,
aplicado à sétima fase do curso de arquitetura e urbanismo, além de abrir espaço para estágio
docência para um aluno do mestrado em desenvolvimento regional, consistiu na compreensão
de uma metodologia de avaliação em planejamento ambiental urbano e ações de educação
para o ecodesenvolvimento, tendo a bacia hidrográfica como unidade de planejamento.
Desta forma, na primeira etapa da disciplina de planejamento urbano V analisou-se a
percepção ambiental de um grupo focal, que inclui habitantes de diferentes localidades da
microbacia. Na segunda etapa elaborou-se uma análise e diagnóstico descritivo, com dados
socioeconômicos e cartas temáticas dos fatores físico naturais da localidade. A terceira etapa
consistiu em uma síntese do diagnóstico realizado na etapa II com cartografia de
vulnerabilidade local à ocupação urbana. Na quarta etapa, por fim, praticou-se a Educação para
o ecodesenvolvimento na escola local. Foi utilizado o material levantado no diagnóstico etapa I,
II, e III e feita a doação e plantio de mudas de árvores nativas com crianças da escola Rodolfo
Rollenweger, como um meio de articular o conhecimento entre a universidade e a comunidade.
A justificativa de se atuar na escola nesta localidade, como unidade de análise e
educação para o ecodesenvolvimento, recai no fato da área em foco apresentar um contexto
urbano-rural, além de que a população mantém características culturais marcantes, com o
modo de vida e tradições oriundas dos imigrantes alemães, as quais possuem um significativo
potencial para o desenvolvimento territorial. O termo desenvolvimento territorial procura
associar o desenvolvimento a uma escala espacial, e tem perspectiva no território. O território,
por sua vez, é um lugar de relações sociedade-natureza e entre homens num espaço de ação e
de poder (RAFESTIN, 1993); uma extensão do espaço apropriada por um grupo social
(CORREA, 1994; SOUZA, 1995; SANTOS, 2001).
A segunda justificativa da escolha da microbacia como área de estudos se apóia no fato
de parte da localidade ser vulnerável a problemas ambientais como cheias periódicas e por se
tratar de área de expansão do perímetro urbano Norte do município. A localidade, por este
motivo, vivencia uma crescente alteração de uso e ocupação do solo, sendo cada vez mais
perceptível a transição do aspecto rural para o urbano.
O objetivo deste trabalho é submeter a trajetória de pesquisa-ação-formação da ZEE a
uma fase de desenvolvimento da autonomia local, em que os resultados obtidos na disciplina
de Planejamento Territorial Urbano V do curso de Arquitetura e Urbanismo (FURB) sejam
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aplicados em processos participativos de ensino aprendizagem, com vistas a desenvolver as
competências dos moradores locais.
Face às realidades contemporâneas é pertinente utilizar critérios de um quadro
interdisciplinar no ensino, de maneira a privilegiar uma perspectiva ecológica, com um enfoque
sistêmico e global das realidades, que visa a participação na construção de uma visão de
mundo e o enriquecimento das intervenções educativas de forma intergeracional.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No decorrer da história, o desenvolvimento das sociedades baseou-se nos moldes do
capitalismo, funcionando como instrumento necessário para alcançar os objetivos monetários e
quantitativos do capital. Houve uma valoração e uma prioridade da eficiência produtiva em
detrimento de déficits sociais e ambientais.
Nesse sentido, a capacidade dos Estados de definir políticas ambientais nacionais é
reduzida pela globalização da cultura consumista, que resulta de uma dada visão de mundo,
cuja mudança para atender às demandas da reconciliação entre economia e meio ambiente
assume um caráter de mudança civilizacional (ROMEIRO, 1999, p.12).
Percebe-se que não há verdadeiro desenvolvimento caso haja deterioração do meio
ambiente. De acordo com Maurice Strong (1993), Secretário Geral da Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da época, no trabalho de Sachs (1993): o
desenvolvimento e o meio ambiente estão indissoluvelmente vinculados e devem ser tratados
mediante a mudança do conteúdo, das modalidades e das utilizações do crescimento. Três
critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente: equidade social, prudência
ecológica e eficiência econômica (STRONG, 1993, p. 7)
Sachs, nos chama ainda atenção sobre a incompatibilidade de se pensar o
desenvolvimento sem que o meio ambiente seja atrelado ao mesmo: “ A verdadeira escolha não
é entre o desenvolvimento e o meio ambiente, mas entre as formas de desenvolvimento
sensíveis e insensíveis a questão ambiental” (SACHS, 1993, p. 17).
O termo meio ambiente abrange, por um lado, o inventário dos recursos naturais,
identificados e identificáveis, existentes em quantidades finitas na nave espacial Terra, e por
outro, a qualidade do ambiente de vida, ou seja, o meio ambiente onde o homem e os demais
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seres vivos vivem. Esta última constitui um elemento importante da qualidade de vida e
condiciona a disponibilidade e a qualidade dos recursos renováveis. (SACHS, 2007)
Os problemas ambientais são efeitos ‘inesperados’ do modelo de desenvolvimento
econômico dominante, que se “legitima” atendendo as demandas de consumo da população.
Faz-se necessária uma transformação da humanidade em direção a uma maior solidariedade e
cooperação entre culturas, nações, indivíduos e espécies. (LEIS, 1995, p. 15).
Neste contexto, emerge em 1973 o conceito de ecodesenvolvimento, por Maurice
Strong. “Em suma, o ecodesenvolvimento é um estilo de desenvolvimento que, em cada
ecoregião, insiste na busca de soluções específicas para seus problemas particulares, levando
em conta não só os dados ecológicos, mas também os culturais, bem como as necessidades
imediatas a longo prazo.” (SACHS, 2007).
A partir dessa configuração, Sachs elabora as cinco dimensões do ecodesenvolvimento:
(1) Dimensão Social – busca a redução das desigualdades e melhorar substancialmente os
direitos e as condições da massa da população; (2) econômica – tem como objetivo um
aumento da produção e da riqueza social, sem dependência externa; (3) ecológica, defende a
melhoria da qualidade do meio ambiente e preservação das fontes de recursos energéticos e
naturais para próximas gerações; (4) espacial – voltada para uma configuração mais equilibrada
e a uma melhor distribuição territorial de assentamentos humanos e atividades econômicas; e
(5) cultural – procura evitar conflitos culturais com o potencial regressivo (SACHS, 1993).
Para que o ecodesenvolvimento possa ser levado a pratica, alguns fundamentos
normativos devem ser implementados e consequentemente monitorados: a) a prioridade ao
alcance de finalidades sociais, ou seja, a satisfação das necessidades básicas materiais e
imateriais, promovendo a equidade; b) a prudência ecológica; c) a valorização da participação
das populações; d) a viabilidade econômica pensada em termos macrossociais (SACHS, 1993;
STRONG 1993; VIEIRA 1995).
Considerando que vivemos em um sistema socioambiental, o qual é alterado pelo
sistema sociocultural, a educação para o ecodesenvolvimento se torna fundamental na
formação de uma população crítica, autônoma e independente, já que “estimula a reflexão e a
experimentação criativa (e participativa) com modalidades de crescimento econômico que
valorizem o potencial de recursos naturais e humanos em cada contexto regional específico,
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minimizando os custos sociais e ecológicos e promovendo a autonomia das populações
envolvidas” (VIEIRA , 1995).
A declaração do Rio sobre Meio Ambiente afirma que os seres humanos são o centro de
preocupação do desenvolvimento sustentável. Têm o direito a uma vida saudável e produtiva,
em harmonia com a natureza. A educação provê o aperfeiçoamento da adaptabilidade dos
seres humanos às mudanças que ocorrem devido as constantes transformações do meio
ambiente.
Segundo Sen “o desenvolvimento tem de estar relacionado, sobretudo com a melhora
da vida que levamos e das liberdades que desfrutamos. Expandir as liberdades que temos
razão para valorizar não só torna nossa vida mais rica e mais desimpedida, mas também
permite que sejamos seres sociais mais completos, pondo em prática nossas volições,
interagindo com o mundo em que vivemos e influenciando esse mundo”. Desta forma, a
liberdade é associada a capacidade de autonomia e ambas são promovidas através do
conhecimento. “As pessoas têm de ser vistas como ativamente envolvidas – dada a
oportunidade – na conformação de seu próprio destino, e não apenas como beneficiárias
passivas dos frutos de engenhosos programas de desenvolvimento.” (SEN, 2000, p. 77).
A partir deste conceito, diretrizes que orientem educação para a promoção do
ecodesenvolvimento devem ser pensadas. Entre elas: replanejar currículos de escolas
primárias e secundárias para incluir noções de ecodesenvolvimento urbano, poupança de
recursos e maior autoconfiança, iniciar crianças e jovens em seus papéis de cidadãos,
envolvendo-os na gestão ambiental das cidades onde vivem. (SACHS, 2007)
Neste contexto, emerge o papel da universidade no ecodesenvolvimento como recurso
para o desenvolvimento local. “Além de tarefas educacionais, a universidade dispõe ainda de
potencial humano para assessorar e implementar projetos de desenvolvimento local e para
responder as demandas específicas. Atuando deste modo, criará para os alunos de graduação
e
para
jovens
professores
as
condições
adequadas
para
conduzirem
pesquisas
interdisciplinares.” (SACHS, 1993, p.39).
O conhecimento compartilhado entre universidade e comunidade agrega um saber
popular, de tradição, formado por valores e opiniões fundamentadas e que ampliam a força de
opinião pública. Alternativas para solucionar os problemas socioambientais locais começam a
ser elaborados pela própria comunidade, quando o povo é estimulado a considerar novas
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alternativas e a compensar as suas consequências. Desta forma, a abertura do leque de
opções deve acompanhar a abertura do leque de opiniões. (SACHS, 1993)
Visto que o ecodesenvolvimento é um enfoque de planejamento, os diagnósticos
participativos são etapas iniciais fundamentais do trabalho de planejamento de estratégias de
regionalização do ecodesenvolvimento, no qual se identificam informações relativas a
necessidade, aspirações e estilos de vidas das populações, como dados sobre o potencial de
recursos e as características geobiofísicas peculiares de cada área a ser focalizada (VIEIRA,
1995, p.46).
Na passagem do conceito a ação observa-se que os diagnósticos participativos na etapa
inicial devem ser descritivos e posteriormente ter caráter explicativo. O diagnóstico descritivo
consiste em observar a partir das percepções sensoriais da região, providenciar o relato
descritivo dos problemas e desarranjos que afetam o ambiente e suas populações (VIEIRA,
2006)
No diagnóstico explicativo, os dados previamente coletados devem ser ordenados,
classificados e sistematizados, como parte de um esforço de identificação das relações causais
próximas e remotas. (VIEIRA, 2006, p.267).
É neste contexto que se inscreve a experiência de educação para o ecodesenvolvimento
na microbacia hidrográfica do ribeirão Fidélis, entendendo-se que a educação para o
ecodesenvolvimento converge para criar condições propícias ao desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e mais globalmente, das competências relativas
ao meio ambiente (SAUVÉ, 1996). Assim, considera-se que não existe ecodesenvolvimento
sem educação para o ecodesenvolvimento.
3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDOS
O aumento dos impactos ambientais vem prejudicando cada vez mais a sustentabilidade
dos recursos hídricos e degradando bacias hidrográficas. Não desconsiderando o fato de as
enchentes registradas no Vale do Itajaí (SC) estarem intimamente relacionadas a fatores
naturais, a potencialização dos danos causados deve ser relacionada, às formas da
organização sócio-espacial, pois as situações de catástrofe refletem as condicionantes das
áreas urbanas ao risco eminente de inundações.
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Frente aos desafios a serem enfrentados, no caso de Blumenau (SC), as medidas de
mitigação reportam-se ao âmbito regional e local, o qual deve ser tratado de maneira
pragmática, como sugerem as Zonas de Educação para o Ecodesenvolvimento – ZEE, em
particular a ZEE do Ribeirão Fidélis.
A área de estudo foi delimitada pela microbacia hidrográfica, como unidade de
planejamento, por ser a menor unidade ecossistêmica, onde se constitui a manifestação de um
sistema natural aberto, com ciclos naturais de energia, nutrientes e da água, possibilitando
estudo das interações e dependências socioeconômicas do território. Através da ZEE,
considera-se o princípio do conhecimento pertinente, que indica o grande problema a ser
enfrentado pela educação do futuro é: conhecimento das informações ou dados isolados é
insuficiente; é preciso situar as informações e dados em seu contexto para que adquiram
sentido (MORIN, 2001).
A localidade em estudo consiste em uma microbacia da área de expansão do perímetro
urbano do Norte do município de Blumenau (SC). Esta delimitação está relacionada com a
identificação dos espaços sujeitos às influências dos impactos potenciais associados à
atividades ali desenvolvidas,
modificadoras do meio ambiente, de modo a permitir o
entendimento das deficiências e potencialidades locais, que emergem da sobreposição do
sistema natural e do sistema antrópico (MANSUR et al.,2011).
Na microbacia hidrográfica do Ribeirão Fidélis, Blumenau (SC) apresenta-se um quadro
que vem sendo agravado pelas mudanças climáticas e maior intensidade de chuvas, frente a
um modelo de uso e ocupação do solo não apropriado para as características locais, que ocupa
áreas com declive acentuado e também a zona ripária. Esta, exatamente por ser zona ripária, é
submetida a inundações periódicas e sua ocupação carece de maiores orientações por parte de
profissionais qualificados. Este fator, agravado pela periodicidade das cheias que afetam a
cidade, motivou a segunda revisão do Plano Diretor, elaborada pelo Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Blumenau (IPPUB) aprovada em 1996, que regulamentou um
aumento às restrições ao adensamento na região central (área de consolidação urbana),
diminuiu o perímetro urbano no sul e zoneou a área de ampliação do perímetro urbano no Norte
(Lei Complementar n° 83 de 1995). Tal revisão do plano diretor identificou o potencial da área
Norte do município como a porção da cidade mais propícia para urbanização. Desta ampliação
resultou a expansão urbana sobre a área rural em cinco bairros no Norte, sendo o bairro Fidélis
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um deles (XAVIER, 1995, p. 2; MANSUR DE M. S., 2003).
O Bairro Fidélis inicialmente possuía área geográfica total de 0,5 km² e através da Lei
Complementar nº 88/1995, teve seu perímetro urbano ampliado em direção a Norte, o que
resultou na expansão da sua área geográfica para 11,3 km². Atualmente o bairro abriga a
população total de 5.392 habitantes, dos quais, 3.122 pessoas residem na área urbanizada e
2.270 pessoas na área não urbanizada. Em sua área urbana, limitada no extremo Sul pela BR
470, está localizada a maioria dos estabelecimentos voltados à prestação de serviços. Devido à
existência de áreas relativamente planas e livres de cheias periódicas, após o aumento do
perímetro urbano, viabilizou-se a implantação de indústrias e outras atividades econômicas,
loteamentos residenciais, entre outros (MANSUR; SANTOS; LIMA, 2006).
4. METODOLOGIA
O atual modelo do sistema educacional se torna inadequado em face às realidades
socioambientais contemporâneas e faz com que este não consiga se posicionar frente à crise
do desenvolvimento. Emerge então a necessidade de introduzir critérios de um quadro
interdisciplinar no ensino fundamental, de maneira a privilegiar uma perspectiva ecológica, com
um enfoque sistêmico e global das realidades.
A ecologia, o ecodesenvolvimento, a ecodecisão, caracterizam uma demarcação
histórica da preocupação ambiental, logo, a necessidade de uma nova pedagogia a ser
formulada, contrapondo às ações antrópicas que se mostram prejudiciais ao desenvolvimento.
Neste âmbito, emerge a Educação para o Ecodesenvolvimento, que visa a participação
comunitária na construção de uma visão de mundo, de integração interdisciplinar das
aprendizagens, com inclusão e uma reflexão ética, democrática e criativa (VIEIRA, 1999).
Neste contexto, é pertinente uma metodologia para o enriquecimento das intervenções
educativas direcionadas para os jovens e membros comunitários, onde o diálogo de saberes
pode criar um contexto favorável à caracterização conjunta da realidade, triagem de problemas
e pesquisa por soluções (SAUVÉ, 2011).
Partindo de tais premissas, a metodologia adotada considerou uma abordagem
complexa de saberes locais, isto é, das compreensões distintas sobre o mundo natural
(TOLEDO e BARRERA-BASSOLS, 2010). Esta compreensão emerge do contexto da crise
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paradigmática da ciência moderna e da necessidade de abertura ao diálogo com outros
saberes, trata-se de um método interpretativo do discurso social. No caso relatado, visou-se a
formação e sensibilização de crianças e jovens para a compreensão do ecodesenvolvimento,
com estímulo a participação comunitária em ações que incluam a troca de saberes,
conhecimento cientifico. Num contexto onde a população passa a compreender a importância
do local em que vive e a vigente alteração de uso e ocupação do solo local.
A metodologia foi aplicada ao semestre de forma integral. Num primeiro momento, os
graduandos em arquitetura e urbanismo foram levados a conhecer a área de estudo, em
seguida, a coleta de dados com a comunidade e interação escolar (sabedoria tradicional). A
partir destes dados, foi elaborada a base cartográfica (conhecimento científico), base de dados
e diagnóstico descritivo. Com este conjunto de informações, foram elaboradas aulas interativas,
a partir de concepções de Educação Ambiental e Educação para o Ecodesenvolvimento,
direcionadas para crianças de diferentes anos da Escola Rodolfo Rollenweger (microbacia
Hidrografica do Ribeirão Fidelis).
A metodologia procurou descobrir, caracterizar e diagnosticar as situações-problema e
processos de resolução, que implica na abordagem de componentes biogeofísicos e sociais,
colabora para o desenvolvimento do pensamento crítico e a questão dos valores, imprimindo as
noções de desenvolvimento e de desenvolvimento responsável.
5. A EXPERIÊNCIA: APRENDIZAGENS E A INSERÇÃO NA REALIDADE LOCAL
A disciplina de Planejamento Urbano V, do curso de Arquitetura e Urbanismo (FURB), é
aplicada aos acadêmicos da sétima fase. Nesta disciplina, a ementa consiste no
desenvolvimento, através de um estudo de caso em uma área urbano-rural de Blumenau, em
percepção ambiental (tanto técnica, quanto participativa, através interação com a comunidade),
análise do meio físico natural e sistema social (elaboração e análise de dados socioeconômicos
e cartas temáticas), síntese de diagnóstico e análise de vulnerabilidade à ocupação urbana. Por
fim, e também, como objetivo principal, o plano de ensino que inclui prática de Educação para o
ecodesenvolvimento, como um meio de articular o conhecimento entre a Universidade e a
comunidade, colocando ensino, pesquisa e extensão.
Para uma melhor compreensão, a disciplina foi dividida em etapas. Na primeira etapa
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(FIGURA 1, 2), foi levantada a percepção ambiental dos membros comunitários e alunos da
escola local, através de entrevistas e conversas informais, com diferentes faixas etárias, como
um meio de analisar as diversas escalas perceptivas.
Figuras 1 e 2. Primeira etapa de levantamento de dados e interação com a comunidade. Fonte: arquivo
dos autores.
A análise e interpretação destes dados resultou na percepção ambiental local (FIGURA
3, 4, 5 e 6) na qual se observaram causas dos problemas ambientais. Notou-se que a
comunidade não tem uma atitude conjunta para minimizar os problemas ambientais, apesar de
se reconhecer como um dos atores responsáveis por estes problemas. Ao analisarmos as
variáveis sociais, podemos entender que tais problemas ambientais se dão pela falta de
informação básica e pelo fato de não haver um senso de pertencimento por parte desta
população. Isto pode se ocorrer devido ao grande fluxo migratório, e consequente não
valorização do local em que se vive.
Na segunda etapa, foram produzidas cartas temáticas de Hipsometria, Declividade,
Legislação Ambiental, Geologia, Aspectos Legais e Informais de Ocupação, Cheias Periódicas,
Circulação Urbana e Morfologia Urbana, Evolução Histórica, Equipamentos Urbanos,
Contextualização e Aspectos Ambientais. A partir desta plataforma de dados e a sobreposição
de informações, elaborou-se a carta temática de Vulnerabilidade à ocupação urbana. A
metodologia da segunda etapa visa compreender a dinâmica natural para repensar os padrões
de uso do solo, analisando e identificando áreas passíveis de ocupação e áreas com aptidão a
preservação.
Ainda nesta etapa aplicou-se a metodologia – C D P – Condicionantes,
deficiências e potencialidades, que é uma sistemática de organização dos dados, que possibilita
visão sintetizadora de dados locais para elaboração de estratégias de ação.
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Figuras 3 e 4. Gráficos resultantes das entrevistas. Problemas ambientais e como amenizar. Fonte:
Produzido pelos acadêmicos da disciplina.
Figuras 5 e 6. Gráficos resultantes das entrevistas. Causas e ações. Fonte: Produzido pelos acadêmicos
da disciplina.
Por fim, com esta gama de informações, foi realizada a última etapa da disciplina,
visando a Educação para o ecodesenvolvimento. Foram ministradas aulas expositivas e de
caráter participativo, permitindo a interação entre os acadêmicos e os estudantes da escola. As
atividades foram realizadas com três turmas de diferentes anos do ensino básico, logo, foram
adotados três diferentes planos de ensino, cada qual adequado ao ano pedagógico da turma
correspondente.
Porém, para a elaboração destes planos de ensino, partiu-se dos seguintes propósitos:
A educação para a participação, privilegiando uma perspectiva ecológica e a interação. Ou seja,
para todas as turmas foi apresentado o mesmo material elaborado, nas etapas de levantamento
do conhecimento científico e integração conhecimento cientifico com sabedoria tradicional.
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As cartas temáticas e maquete (FIGURA 7) da microbacia (elaborados pelos
acadêmicos na segunda etapa) foram apresentadas para os alunos como recurso didático,
sendo uma forma de explicar a formação e interação de uma microbacia com todo o
ecossistema. Em seguida, fez-se uma reflexão sobre os recursos hídricos, seu uso e manejo,
estimulando as crianças a pensarem em nossas práticas cotidianas de uso da água, e o seu
tratamento. Junto a tal discussão, foi inserido o conceito de zona ripária e sua importância, tanto
florística como um meio de manter e até mesmo melhorar a qualidade dos recursos hídricos.
A partir deste debate, foi solicitado aos alunos a demarcação de quais os cursos d’água
existentes na microbacia (FIGURA 8), e o destaque do sentido da drenagem da água destes
rios. Também lhes foram propostos demarcarem onde se faz necessária a existência de áreas
de proteção permanente (logo, zonas ripárias) e se estas realmente existem e se são
preservadas.
Figura 7. Uso da maquete como recurso
Figuras 8.
didático,
Rodolf
Rollenweger,
demarcando
d’água
em
Fonte:
reconhecimento
espacial.
arquivo dos autores.
Fonte:
Atividade com mapas na Escola
grupos.
cursos
arquivo
dos
autores.
Junto à temática da importância da preservação de recursos hídricos e zonas ripárias,
inseriu-se o conceito de geomorfologia (visto que o município de Blumenau possui um histórico
de enchentes e deslizamentos) e da importância de se conhecer o lugar em que se vive.
Observou-se que certas atividades urbanas e rurais podem ser prejudiciais à microbacia. Por
fim, foi proposto para as crianças refletirem e debaterem sobre como reverter tais práticas
prejudiciais ao meio ambiente.
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Após toda a reflexão, foram elaboradas dinâmicas para relembrar as temáticas
abordadas, as quais elucidaram o aprendizado e interiorização dos conceitos por parte das
crianças, além de permitir a observação da assimilação dos mesmos frente ao conteúdo
exposto pelos acadêmicos.
Foram distribuídas mudas de árvores nativas da Mata Atlântica para cada aluno,
reforçando a importância de se preservar a vegetação nativa. Nesta mesma ocasião foram
plantadas algumas mudas no jardim da escola numa ação conjunta entre os acadêmicos e as
crianças (FIGURA 9, 10), como incentivo e exemplo.
Posteriormente foi realizada a distribuição de cartilhas de educação ambiental, contendo
atividades e um breve resumo sobre a importância de se preservar o meio ambiente, como um
meio facilitador para os alunos repassem este conteúdo a seus familiares.
Figuras 9 e 10. Atividade de plantio de mudas nativas na escola Rodolf Rollenweger, Fidélis, Blumenau
(SC). Fonte: arquivo dos autores.
6. APRENDIZAGENS: UM BALANÇO CURSIVO
Os efeitos e consequências das mudanças climáticas, ações antrópicas não planejadas
e alterações de uso e ocupação do solo, tem contribuído de maneira considerável para eliminar
as funções que o ecossistema original presta à natureza, evidência esta observada na
microbacia hidrográfica do Ribeirão Fidélis.
Quando se tenta abordar os problemas socioambientais atuais deve-se destacar o fato
de que o conhecimento deve considerar tanto o conjunto de certezas que se têm sobre a
natureza, quanto fatores de incerteza, que já não dependem somente de causas naturais, mas
também da intervenção ativa do homem sobre o mundo e das interações deste para com a
natureza (HENRÍQUEZ, 2007).
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Considerando a relação de interdependência dos elementos do sistema local, na
microbacia hidrográfica do Ribeirão Fidélis, observa-se que a preservação do ambiente é
necessária para a manutenção de sua resiliência. Portanto, as atuais mudanças na paisagem
deveriam ser feitas cautelosamente, a partir de diagnósticos descritivos.
A experiência no bairro Fidelis pode ser considerada um exemplo prático e positivo de
Educação para o ecodesenvolvimento. Observou-se, no convívio escolar, uma carência por
parte dos estudantes em relação a conhecimentos sobre o meio em que vivem. Ao mesmo
tempo, é visível o interesse em agregar e trocar informações sobre fatores que os cercam,
sejam eles bióticos ou abióticos. Notou-se também o grande potencial de intervenção entre os
estudantes: pequenas ações, como a plantio de árvores nativas ou a transferências de
conhecimento para a inserção dos alunos na realidade local, têm um efeito de reação em
cadeia.
Um dos papéis da universidade é estimular e orientar os jovens sobre a atual
interferência no meio ambiente. A interpretação da paisagem é ferramenta essencial na
identificação de elementos que configuram a microbacia ou Bairro. A análise da paisagem
natural através de diagnósticos descritivos é base para a fundamentação de planos
estratégicos, que podem orientar o desenvolvimento de uma localidade. Os diagnósticos
elaborados pelos acadêmicos, os quais possuem conhecimento específico, ganharam força a
partir do seu cruzamento com a opinião dos moradores locais (sabedoria tradicional). A síntese
destas informações foi repassada dinamicamente para os estudantes da escola.
Conhecendo o seu papel no contexto urbano-rural, a população assume autonomia para
as decisões e responsabilidade sobre o lugar onde vivem. De mesma forma, entende os
processos que podem desencadear efeitos drásticos à natureza e, consequentemente, provocar
tragédias socioambientais em suas vidas. Assim, formas criativas de manejo sustentável e
atividades de recuperação começam a ser pensadas e desenvolvidas pelos próprios
moradores, buscando a melhoria da qualidade de vida, em uma relação a um melhor convívio
entre a sociedade e o meio ambiente.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A interação entre a comunidade da microbacia do Ribeirão Fidélis e a Universidade
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Regional de Blumenau foi uma experiência positiva de aplicação do conceito de educação para
o ecodesenvolvimento, onde se propôs a valorização da participação da população em prol da
prudência ecológica. A Educação para o Ecodesenvolvimento colabora para o engajamento
responsável no processo de aprendizagem e de levar em conta as realidades que nos cercam e
com as quais interagimos, e se torna um meio para a redescoberta de seu próprio ambiente de
vida. (SAUVE, 2001). Cabe ressaltar, que a Educação para o Ecodesenvolvimento, neste
trabalho, possui o objetivo maior de aproximar a Universidade à comunidade, admitindo a
importância da conexão entre conhecimentos tradicionais e científicos na busca por soluções
aos problemas cotidianos.
Mudanças de percepção e interpretação da natureza como interdependente das
relações que se estabelecem entre a ação antrópica e a manutenção da resiliência
ecossistêmica, promovem um posicionamento social preservacionista. A elaboração de um
plano de ensino de abordagem participativa foi um dos instrumentos de inserção da percepção
crítica, através do ambiente escolar, com temas relacionados ao meio ambiente, intervenções
antrópicas e sustentabilidade. O enfoque participativo de planejamento ambiental, adaptado a
contextos socioculturais e ambientais específicos, agregou identidade sociocultural ao processo
de análise. Além disso, permitiu a visualização das interações entre a comunidade e seu meio
ambiente, assim como as formas específicas pelas quais essas interações marcaram a
paisagem e as atividades tradicionais na ecorregião.
A educação para o ecodesenvolvimento se tornou possível graças aos diagnósticos
descritivos realizados pelos acadêmicos, os quais dispuseram de recursos e conhecimentos
específicos para analisar os dados do meio físico natural - clima, geologia, hipsometria,
declividade, formas do relevo e hidrografia - e os condicionantes antrópicos que podem
influenciar no uso e ocupação solo. A elaboração de cartografia temática sobre a área do
entorno da escola e maquete física do local contribuiu significativamente para o diagnóstico
descritivo e serviu de material de trabalho para educação. O cruzamento dos dados resultou na
delimitação de áreas de vulnerabilidade à ocupação urbana.
Replanejar currículos de escolas primárias e secundárias para incluir noções de
ecodesenvolvimento, poupança de recursos e maior autoconfiança; e iniciar crianças e jovens
em seus futuros papéis de cidadãos, envolvendo-os na gestão ambiental das cidades onde
vivem são ações estratégicas que estimulam a reflexão e incentivam experimentações criativas
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que valorizam o potencial de recursos naturais e humanos existentes em contextos territoriais
específicos (SACHS, 1993). Inserindo temas de certa complexidade de forma dinâmica, os
alunos se interessam, participam e assimilam informações com mais facilidade. Os jogos
iniciaram, sutilmente, uma reflexão sobre os elementos que compõem o meio em que os alunos
vivem. Esta reflexão se entendeu através de discussões sobre problemas ambientais cotidianos
que os estudantes percebem, mas não interpretam como respostas da natureza aos impactos
negativos provocados por suas ações.
Por fim, medidas mitigadoras simples, como o plantio de mudas nativas, foram
apresentadas no contexto escolar com a função de estimular experiências positivas em relação
à preservação do meio ambiente. Portanto, atividades educacionais promovidas na escola
ganham relevância a partir do entendimento que a educação para o ecodesenvolvimento
contribui para a conservação da biodiversidade e para a auto realização individual e comunitária
(SORRENTINO, 1998). Isto se dá através de processos educativo-participativos que promovam
um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade
e seu conjunto (Morin, 1999).
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