A CARTA DO REPÚDIO DO POVO
MUNDURUKU CONTRA PEC-215
Mundurukania, 30 de outubro de 2015
Nós, povo Munduruku, repudiamos sobre a violência da discriminalidade da
PEC 215. Viemos a informar e dizer que não aceitamos as modificações da
nossa Lei que nos garantem na Constituição de 1988, a preservação e a nossa
sobrevivência nativa, não negociamos nosso direito,à nossa mãe terra Ela é
pra garantir as futuras gerações do nosso povo. A floresta é de onde a gente
sobrevive. Ela cuida, mantém e dá alimento pra nós. Ela sempre dá seu fruto
para novos gerações que são nossos pequenos filhos.
Daqui das nossas aldeias, vemos o rio Tapajós correndo do jeito que nosso
Deus Karosakaybu deixou pra nos preservar e manter viva, o sol por trás das
nossas casas avisa que a hora avança e temos que seguir como ela deseja
que sejamos, mas não sem antes de nos reunirmos com todas as aldeias pra
conversarmos e refletirmos sobre assuntos que nos interessam, entrar de
acordo com todos, se vamos ter que sair das aldeias pra nós agir de como
vamos garantir a nossa mãe terra livre, a demarcação das nossas terras foram
deixados sem demarcar por brancos que não tem mínimo conhecimentos de
como formos criados e deixados avisados por Karosakaybu.
Mas hoje foi diferente! Ficamos tristes por que o Estado brasileiro, dia 27 de
outubro, fizeram uma votação e aprovaram uma lei chamada PEC 215, lei
aprovada por anti-indígenas e que ameaçam nossos direitos conquistados na
Constituição Federal. A guerra foi declarado contra os povos tradicionais.
Em quem os deputados interesseiros pensavam quando fizeram essa lei? Não
foi pro povo brasileiro e sim, por eles individualismos. Nossos irmãos GuaraniKaiowá que precisam de paz e harmonia na própria terra e ainda são
discriminados, ameaçados e morrendo assassinados por querer cuidar e
preservar sua pequena terra mãe que resta, ouvimos até dizer que quem
manda matar nossos parentes, foi quem pediu aos deputados essa lei,
chamam eles de latifundiários interesseiros, pariwat (brancos).
Sabemos que não pensaram em nossos parentes do Maranhão, os Ka’apor,
porque as terras deles estão sendo assediadas por esses mesmos da bancada
ruralista e ninguém dos órgãos responsáveis presta socorro sequer, pegando
fogo e os parentes estão doentes, porque os que tocaram fogo na terra,
pediram essa para aprovar essa lei dos deputados corruptos, chamam eles de
pariwat invasores das nossas terras, madeireiros, grileiros e demais chamados
saúva.
Também sabemos que não foram nossos parentes aqui do rio Tapajós, por que
o que queremos é o território de Dajé Kapap Eipi demarcado, mas ouvimos
dizer que os barrageiros junto com mineradoras pediram essa lei e mais outras
leis pra roubar da terra a vida que sustenta nossos filhos.
Nossos pajés já nos contavam que viam em seus sonhos que isso ia
acontecer, vamos escutar agora mais nossos pajés, nossos sábios, por que o
governo que criou a portaria 303/2012, ilegal, mas que o governo usa pra não
dar nosso direito.
O governo com seus aliados já mostrou que só pensa na morte, matando os
povos tradicionais, anda de mãos dadas com a morte, come junto com a morte.
Não queremos quem vive assim perto de nós. A vida de todos os povos
tradicionais é a terra porque nós somos ligados à mãe natureza, mãe do rio e
dos animais. Assim aprendemos com nossos sábios e mantemos nossa força
unida para lutar, sempre informados, alertas, com nossa própria voz e
autonomia.
Essa lei que os deputados fizeram é a desculpa que o governo precisava pra
não fazer nada, mas sabemos porque lutamos e como educadores garantimos
que as futuras gerações vão estar na luta. Estamos garantindo a floresta viva,
nossa mãe terra, por amor ela e pelas próximas gerações.
A Funai está com o relatório da nossa Terra Sawré Muybu, pronto, mas não
quer publicar, agora com essa lei o governo vai ter a desculpa pra não nos
respeitar. Pra não nos consultar e pior de tudo nenhuma terra será mais
demarcada e nenhum indígena terá mais sossego pois todos vão querer invadir
nosso território. Madeireiros, barrageiros, garimpeiros, mineradores, governo.
Sabemos do risco de nenhuma terra indígena ser demarcada e sabemos
também que as terras já demarcadas correm perigo. Esses deputados que
escreveram essa lei são inimigos e declaram a guerra com nossos povos
Indígenas.
Essa lei também não fala do que é sagrado pra nós, os pariwat não conhecem
mais o que é sagrado e por isso não liga! Mas nós sabemos o que é e onde
fica o sagrado, fica na terra do nosso coração, no território Dajé Kapap Eipi. A
gente sabe que o governo só vem enganando os povos tradicionais com falsas
promessas e mentiras. Não queremos nada do governo. Não queremos
derrota, mas queremos lutar pela liberdade.
Nós Munduruku estamos lutando pela nossa autonomia, mas contamos com o
apoio de todos que são contra a destruição que está acontecendo no planeta e
querem ajudar a gente a continuar preservando a floresta, que é um patrimônio
de todos nós
Agora vamos reunir com todas os caciques e lideranças, pajés, nossos
guerreiros, guerreiras, sábios e com outros povos, e nossos aliados e vamos
enfrentar essa ameaça contra nosso povo, Somos capazes e temos coragem
enquanto estivermos firmes e fortes
É assim que vivemos, lutando para demarcar nosso território, lutando para
expulsar invasores. Por isso a gente nunca esquece o que o governo fez no
nosso rio Xingu, (paribixexe), Sete Queda, uma parte de nós, que foi
enforcado pela barragem.
Aqui deixamos nosso Repúdio contra a PEC-215. E dizer que não somos
parasitas e sim, Povo Munduruku, cortadores de Cabeça dos Inimigos.
Somos Unidos, Fortes e Resistente… Lutaremos até onde Deus quiser.
Sawe! Sawe! Sawe!!!
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