Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Análise dos Constrangimentos na Qualidade da Construção
Contributo para Melhoria do Pós-Venda numa Empresa
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
Humberto José dos Santos Gonçalves
Orientadores
Doutor Professor Tiago Queirós da Silva Pinto
Doutor Professor Paulo Alexandre Lopes Fernandes
Vila Real, Julho 2013
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Análise dos Constrangimentos na Qualidade da Construção
Contributo para Melhoria do Pós-Venda numa Empresa
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
Humberto José dos Santos Gonçalves
Orientadores
Doutor Professor Tiago Queirós da Silva Pinto
Doutor Professor Paulo Alexandre Lopes Fernandes
Composição do Júri
Doutora Sandra Cristina Alves Pereira Silva Cunha
Doutor Florindo José Mendes Gaspar
Doutor Professor Paulo Alexandre Lopes Fernandes
Vila Real, Julho 2013
Agradecimentos
A todos os meus professores e orientadores que contribuíram para a minha formação técnica e
pessoal.
À minha família.
Resumo
A construção de edifícios comporta, provavelmente, um dos conjuntos mais complexos de
tarefas dentre as actividades de produção existentes. O produto que lhe é associado é também
caracterizado por propriedades que lhe são únicas, acrescentando complicações à
compatibilização
das
actividades
de
projecto,
planeamento,
execução
e
utilização/manutenção, por constante alteração dos métodos de trabalho.
Os intervenientes desta indústria têm procurado algumas formas de garantir a qualidade da
construção dos edifícios, como forma de rentabilizar o produto e de modo a alcançar um
consumidor cada vez mais informado, consciente e exigente.
Os custos de não-qualidade e de pós-venda nas empresas de engenharia e construção civil
consomem uma parte considerável de todo o esforço para obter uma reduzida margem de
lucro nas empreitadas. Tendo em conta a conjuntura internacional que afectou drasticamente
este sector em Portugal e na Europa é necessário reflectir, estudar e aplicar no seio das
organizações, métodos e processos eficientes para reduzir os desperdícios, tornando as
empresas mais competitivas nos mercados onde operam.
As alterações da legislação actual exige períodos de garantia mais dilatados que
comprometem a responsabilização do empreiteiro independente das condições de utilização e
manutenção dos empreendimentos após recepção provisória, exigindo assim os mais elevados
requisitos de durabilidade a todos os processos e elementos da construção.
Procurando estudar as principais causas das patologias registadas no departamento de pósvenda, compreendendo cada uma das diferentes fases do ciclo de vida de um
empreendimento, e com o intuito de desenvolvimento de procedimentos que possam prevenir
e reduzir os custos de não-qualidade e de pós-venda são os principais motivos do
desenvolvimento desta dissertação.
A ausência de trabalhos aplicados à realidade empresarial publicados sobre esta matéria em
Portugal evidencia a necessidade do desenvolvimento deste trabalho, que pretende realizar
uma abordagem aplicada numa organização acerca desta matéria.
Palavras-chave: qualidade, custos, construção, pós-venda, manutenção
“…existe uma maneira de ganhar dinheiro que as empresas não têm sabido usar
…deixar de perdê-lo”
Philip Crosby
“Fui impressionado com a urgência da realização.
O conhecimento não é bastante; devemos aplicar-nos.
Estar disposto não é bastante; devemos fazer”
Leonardo da Vinci
“Aprenda com o ontem, viva o hoje,
tenha esperança para amanhã”
Albert Einstein
Abstract
The construction of building probably has one of the most complex set of tasks within the
existing production activities. The related product is also characterised by unique properties,
which adds difficulties to the compatibility with other project activities, such as planning,
execution, and use/maintenance through constant changes of work methods.
The professionals of this industry have looked for other ways of guaranteeing the quality of
construction of buildings, as a way to maximise the product and to reach a more and more
informed, aware, and demanding client.
The low quality and after sale costs in engineering and civil construction companies use a
considerable part of all the effort to obtain a low profit margin at the end of the works.
Taking into consideration the international economic situation that has drastically affected
this sector in Portugal and in Europe, it is necessary to reflect, study, and apply methods and
efficient processes to reduce waste to help companies become more competitive in the
markets they operate in.
The changes in the current laws require longer guarantee periods which prolongs the builder’s
responsibility, not taking into consideration the conditions in which the building has been
used and the level of maintenance after the provisional reception of the works. This results
therefore in higher requirements of durability in all processes and elements of the
construction.
The main objectives of this study is to find out the main causes for the registered pathologies
in the after sale department, understanding each different phase of the cycle of life of a
construction, and with a view to develop procedures that may prevent and reduce the low
quality and after sale costs.
The absence of published studies on this area, applicable to the reality of the business in
Portugal, clearly shows a need to carry out this work, which intends to have an approach
which may be applied to an organisation around this matter.
Key-words: quality, costs, construction, after sale, maintenance.
“…there is a way of earning Money that the companies do not know how to use
…stop losing it”
Philip Crosby
“I was surprised by the urgency of the fact.
Knowledge is not enough; we must apply ourselves.
To be willing is not enough; we must do”
Leonardo da Vinci
“Learn with yesterday, live today,
Have hope for tomorrow”
Albert Einstein
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS............................................................................................................................................V
RESUMO ............................................................................................................................................................. VII
ABSTRACT .......................................................................................................................................................... XI
ÍNDICE GERAL .................................................................................................................................................. XV
ÍNDICE DE FIGURAS ..................................................................................................................................... XVII
ÍNDICE DE GRÁFICOS ................................................................................................................................... XIX
ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................................................................. XXIII
LISTA DE SIGLAS .......................................................................................................................................... XXV
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1
1.1 ENQUADRAMENTO DO TRABALHO .................................................................................................................... 3
1.2 MOTIVAÇÃO E OBJECTIVOS .............................................................................................................................. 4
1.3 METODOLOGIA DA DISSERTAÇÃO..................................................................................................................... 8
1.4 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ................................................................................................................... 10
CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO ACTUAL DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO .................................... 11
2.1 ESTADO DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO NA EUROPA E EM PORTUGAL ............................................................. 13
2.2 FACTORES DE COMPETITIVIDADE NA CONSTRUÇÃO ....................................................................................... 27
2.2.1
COMPETITIVIDADE NA CONSTRUÇÃO ..................................................................................................... 27
2.2.2
A ESTRUTURA EMPRESARIAL ................................................................................................................. 32
2.2.3
A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO ................................................................. 32
2.2.4
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NA CONSTRUÇÃO ....................................................................................... 34
2.2.5
TECNOLOGIA E INVESTIGAÇÃO .............................................................................................................. 34
2.3 QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO ........................................................................................................................ 35
2.4 FACTORES QUE CONDICIONAM A QUALIDADE DE UM EMPREENDIMENTO ...................................................... 40
2.5 CUSTOS DE NÃO QUALIDADE .......................................................................................................................... 44
CAPÍTULO III – COMPREENDER AS CAUSAS DAS PATOLOGIAS NAS DIFERENTES FASES DE UM
EMPREENDIMENTO.......................................................................................................................................... 53
3.1. PATOLOGIAS EM EDIFÍCIOS RECENTES ............................................................................................................ 55
3.1.1.
REGISTO DE SINISTROS NA CONSTRUÇÃO .............................................................................................. 57
3.2. PRINCIPAIS CAUSAS DAS PATOLOGIAS EM EDIFÍCIOS RECENTES .................................................................... 64
3.2.1.
FASE DE PROJECTO ................................................................................................................................ 67
3.2.2.
FASE DE EXECUÇÃO ............................................................................................................................... 84
3.2.3.
FASE DE UTILIZAÇÃO / MANUTENÇÃO ................................................................................................... 95
3.3. GARANTIAS E SEGUROS DE OBRA ................................................................................................................. 111
CAPÍTULO IV – ESTUDO INTERNO APLICADO A UMA EMPRESA ....................................................... 117
4.1.
BREVE CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA .................................................................................... 119
4.2.
MÉTODOS DO ESTUDO INTERNO.................................................................................................... 125
4.3.
ANÁLISE DOS PEDIDOS DE ESCLARECIMENTO DE PROJECTO ............................................... 125
4.3.2. RESULTADOS ....................................................................................................................................... 138
4.4.
ESTUDO DAS NÃO CONFORMIDADES REGISTADAS PELO DEPARTAMENTO DE
QUALIDADE QUE AFECTAM QUALIDADE................................................................................................ 143
4.4.1. RESULTADOS ....................................................................................................................................... 143
4.5.
ESTUDO DOS CONSTRANGIMENTOS COM INFLUÊNCIA NA PERFORMANCE DA
PRODUÇÃO; ..................................................................................................................................................... 144
4.6.
EVOLUÇÃO DOS CUSTOS DE PÓS-VENDA RELATIVAMENTE AO VOLUME DE
FACTURAÇÃO ................................................................................................................................................. 146
4.6.1. RESULTADOS ....................................................................................................................................... 146
4.7.
ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DAS PATOLOGIAS REGISTADAS NO DEPARTAMENTO DE
PÓS-VENDA; ..................................................................................................................................................... 147
4.7.1. RESULTADOS ....................................................................................................................................... 149
CAPÍTULO V – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E PROPOSTAS DE MELHORIA ................................ 153
5.1.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................................................................... 155
5.2.
PROPOSTAS DE MELHORIA .............................................................................................................. 163
CAPITULO VI - CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 177
6.1.
CONCLUSÕES FINAIS ......................................................................................................................... 179
6.2.
PERSPECTIVAS DE TRABALHOS FUTUROS .................................................................................. 181
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................ 183
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Cadeia de valor do sector da construção ................................................................. 30
Figura 2 – Processo de concentração dos grupos empresariais Espanhóis (SEOPAN, 2013) . 34
Figura 3 – Modelo típico de um processo de construção (Aoieong et al., 2002) .................... 40
Figura 4 – O ciclo de qualidade e as relações entre as fases do empreendimento (Melhado,
1994)......................................................................................................................................... 41
Figura 5 – Custos de não qualidade e custos de qualidade ...................................................... 51
Figura 6 – Ingredientes para o sucesso da execução de uma empreitada ................................ 86
Figura 7 – Os diferentes “Players” na execução de uma obra ................................................. 86
Figura 8 – Factores críticos que condicionam a fase de execução ........................................... 88
Figura 9 - Adaptado The seven forces model of project-based management (Turner, 1999).. 89
Figura 10 –A comunicação entre dos diferentes intervenientes da obra .................................. 90
Figura 11 – Ciclo de desenvolvimento de um projecto ............................................................ 92
Figura 12 – Iceberg dos custos verdadeiros da manutenção .................................................. 107
Figura 13 – Imagem da sede da empresa MRG em Coimbra ................................................ 119
Figura 14 – Organograma organizacional da empresa MRG- Engenharia e Construção, SA 120
Figura 15 – Símbolos das duas certificações externas obtidas pela empresa ......................... 122
Figura 16 - Exemplo de Pedido de Esclarecimento de Projecto ............................................ 127
Figura 17 – Plantas e foto virtual do projecto do CMIN ........................................................ 129
Figura 18 – Plantas do Convento de São Francisco – Coimbra ............................................. 129
Figura 19 – Fotos da Reabilitação do Convento de São Francisco – Coimbra ...................... 131
Figura 20 – Fotos da zona da necrópole e achados das invasões Francesas .......................... 131
Figura 21 – Fotos da construção do Auditório ....................................................................... 132
Figura 22 – Planta e fotos da Escola Secundária de Sever do Vouga .................................... 134
Figura 23 – Fotos da Escola Secundária Rainha Dona Leonor .............................................. 134
Figura 24 – Fotos da Escola Herculano de Carvalho ............................................................ 135
Figura 25 – Fotos do projecto e da execução da obra ............................................................ 136
Figura 26 - Resumo do funcionamento de tratamento de reclamações do departamento pósvenda ...................................................................................................................................... 148
Figura 27 – Propostas de melhoria em cada uma das fase da responsabilidade do empreiteiro163
Figura 28 – Novo modelo de Pedido de Esclarecimento de Projecto .................................... 164
Figura 29 – Novo modelo do quadro síntese – controlo e monitorização das reclamações –
Serviço de pós-venda – apoio ao cliente ................................................................................ 166
Figura 30 – Visualização da plataforma de partilha de informação técnica na organização . 167
Figura 31 – Exemplos de Sistemas automatizado de detecção de conflitos e compatibilização
entre projectos ........................................................................................................................ 170
Figura 32 – O âmbito do ciclo das potencialidades do BIM, (Jeong et al, 2009) .................. 171
Figura 33 – O âmbito das potencialidades do BIM no apoio ao Projecto (Jeong et al, 2009)171
Figura 34 – Comportamento e possibilidade de influenciar os custos ao longo da vida do
edifício (Amelung, 1996 apud Weise et al, 2009).................................................................. 172
Figura 35 – Exemplo de resistência à mudança ..................................................................... 173
Figura 36 – A ligação entre a empresa e instituições de investigação e desenvolvimento .... 173
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Licenciamento de fogos novos para habitação (INE, 2013) ................................. 15
Gráfico 2 – Estatísticas dos concursos públicos – Janeiro 2013 (FEPICOP, 2013) ............... 16
Gráfico 3 – Títulos habilitantes válidos 2009/2011 (INCI, 2012) ........................................... 16
Gráfico 4 – Adaptado da Chalmers University of Technology, Caracterização dos custos de
não qualidade............................................................................................................................ 45
Gráfico 5 – Relação clássica entre custos relacionados com a qualidade e o nível de qualidade
(Foster, 1996). .......................................................................................................................... 45
Gráfico 6 – Média da percentagem de sinistros ao longo dos anos por elemento de construção
anos (Adaptado “Sycodés”, 2012) ........................................................................................... 59
Gráfico 7 – Médias dos custos de reparação em % dos custos de construção (Adaptado
Sycodés 2012) .......................................................................................................................... 61
Gráfico 8 – Percentagem dos custos de reparação tendo em conta o tipo de defeitos (Adaptado
“Sycodés”, 2012) ...................................................................................................................... 62
Gráfico 9 – Média das principais patologias na construção em França, 1995 a 2011 (Adaptado
“Sycodés”, 2012) ...................................................................................................................... 63
Gráfico 10 – Ocorrência de anomalias apontadas pelos utentes (Paiva, 2001)........................ 64
Gráfico 11 – Causas de anomalias em Edifícios (Adaptado Paiva, 2002) ............................... 64
Gráfico 12 – Causas de anomalias em Edifícios (Brito, 2005) ................................................ 65
Gráfico 13 – Médias dos diferentes estudos apresentados na quadro anterior (adaptado:
Esteves, 2008, Bento 2009 e Sycodés 2012) ............................................................................ 66
Gráfico 14 –Incidência das diferentes causas de erros de projecto (Adaptado Bureau Securitas
1979)......................................................................................................................................... 68
Gráfico 15 – Capacidade de influência das fases de um empreendimento no custo da
construção (Sparrius, 1998)...................................................................................................... 71
Gráfico 16 – Capacidade de influência para reduzir custos nas diferentes fases de um
empreendimento (Hammarlund e Josephoson, 1992). ............................................................. 73
Gráfico 17 – Reclamações devidas a deficiências no processo construtivo ............................ 97
Gráfico 18 – Distribuição de custos (OZ, 2008). ................................................................... 100
Gráfico 19 – Mercado da construção na Europa em 2007 (Adaptado de Euroconstruct 2008).103
Gráfico 20 – Evolução do volume de facturação 2008/2012. ................................................ 123
Gráfico 21 – Divisão percentual das áreas de negócio em 2012. ........................................... 124
Gráfico 22 – Divisão percentual dos colaboradores em 2012. ............................................... 124
Gráfico 23 – Divisão percentual dos colaboradores consoante o tipo de formação em 2012.124
Gráfico 24 – Resultados, tipo de Falhas. ................................................................................ 138
Gráfico 25 – Resultados, média da percentagem das falhas. ................................................. 138
Gráfico 26 – Resultados, Elementos de Construção afectados pelos pedidos de esclarecimento
de projecto. ............................................................................................................................. 139
Gráfico 27 – Resultados, média dos elementos de Construção afectados pelos PEP. ........... 139
Gráfico 28 – Resultados, Especialidades afectadas pelos PEP .............................................. 140
Gráfico 29 – Resultados, média das especialidades afectadas pelos PEP .............................. 140
Gráfico 30 – Resultados dos tipos de instalações técnicas afectadas pelos PEP ................... 141
Gráfico 31 – Resultados, Média dos tipos de instalações técnicas afectadas pelos PEP ....... 141
Gráfico 32 – Resultados dos tipos de materiais afectados pelos PEP .................................... 142
Gráfico 33 – Resultados, média dos tipos de materiais afectados pelos PEP ........................ 142
Gráfico 34 – Resultados, causas das não-conformidades do departamento de qualidade ..... 143
Gráfico 35 – Resultados, elemento da construção mais afectado nas não-conformidades
internas ................................................................................................................................... 144
Gráfico 36 – Resultados, responsabilidades na performance da produção ............................ 145
Gráfico 37 – Resultados, volume de facturação ..................................................................... 146
Gráfico 38 – Resultados, custos de pós-venda ....................................................................... 146
Gráfico 39 – Relação dos custos de pós-venda / volume de facturação ................................ 147
Gráfico 40 – Resultados, evolução do volume de facturação vs custos de pós-venda .......... 147
Gráfico 41 – Tipos de patologias mais comuns identificados no estudo ............................... 149
Gráfico 42 – Caracterização das patologias identificadas no estudo por elemento de
construção............................................................................................................................... 150
Gráfico 43 – Relação entre o tipo de patologias e os custos de reparação. ............................ 150
Gráfico 44 – Caracterização das possíveis causas das patologias. ......................................... 151
Gráfico 45 – Responsabilidades nos Erros de Execução. ...................................................... 151
Gráfico 46 –Resultado das entrevistas aos colaboradores, causas dos erros de Execução. ... 151
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 – Ranking Euroconstruct - Dezembro 2012 ............................................................. 13
Quadro 2 – Variação das classes de alvará atribuídas ao longo dos anos (INCI, 2012) .......... 17
Quadro 3 - Taxas anuais de crescimento, os índices de custos de construção de novos edifícios
residenciais (Eurostat, 2012) .................................................................................................... 18
Quadro 4 - Quadro comparativo definição de custos da Qualidade ......................................... 47
Quadro 5 - Comparativo de autores de causas dos custos de não-qualidade ........................... 48
Quadro 6 - Comparativo dos custos médios da não qualidade relativamente ao custo de
produção ................................................................................................................................... 49
Quadro 7 - Lista sumária de patologias mais comuns em edifícios recentes ........................... 57
Quadro 8 - Análise dos sinistros em França nos elementos construtivos (Adaptado”Sycodés,
2012)......................................................................................................................................... 58
Quadro 9 - Percentagem do custo de reparação face ao custo de construção e o custo de
reparação médio (Adptado “Sycodés”, 2012) .......................................................................... 60
Quadro 10 - Custos de reparação, em França, tendo em conta o tipo de defeito (Adaptado
“Sycodés”, 2012) ...................................................................................................................... 61
Quadro 11 - Principais patologias na construção em França, 1995 a 2011 (Adaptado
“Sycodés”, 2012) ...................................................................................................................... 62
Quadro 12 - Principais causas das patologias em edifícios (Adaptado: Esteves, 2008; Bento,
2009 e Sycodés 2012) .............................................................................................................. 65
Quadro 13 - Quadro comparativo entre ficha técnica de habitação e compilação técnica da
obra, (Adaptado Rodrigues e Teixeira, 2004) ........................................................................ 111
Quadro 14 - Prazos de garantia estipulados no CCP .............................................................. 114
Quadro 15 - Percentagem de libertação das garantias tendo em conta os anos decorridos ... 115
Quadro 16 - Número de colaboradores por áreas profissionais em 2012 .............................. 125
Quadro 17 - Exemplo de pedidos de esclarecimento de projecto .......................................... 137
Quadro 18 - Exemplo de caracterização dos pedidos de esclarecimento de projecto ............ 137
Quadro 19 - Quadro dos constrangimentos com influência na performance da produção .... 145
Quadro 20 - Resultados, volume de facturação, custos de pós-venda e sua relação .............. 146
Quadro 21 - Novo modelo do mapa de controlo de pedidos de esclarecimento do projecto com
influência no pós-venda. ........................................................................................................ 165
LISTA DE SIGLAS
AQC – Agence Qualité Constrution
AVAC - Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado
BIM - Building Information Modeling
CCP - Código dos Contractos Públicos
CE – Certificação Europeia
CEN - Comité Europeu de Normalização
CESE - Comité Económico e Social Europeu
EN - Norma Europeia
EU – União Europeia
FEPICOP - Confederação para a Industria da Construção
I&D – Inovação e Desenvolvimento
INCI – Instituto da Construção e do Imobiliário;
INE – Instituto Nacional de Estatística
IPAC – Instituto Português de Acreditação;
IPQ - Instituto Português da Qualidade,
ISO - Internacional Standard
IVA – Imposto de valor absoluto
LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil
M&R - Manutenção e reabilitação
NP - Norma Portuguesa
OE - Ordem dos Engenheiros
PEP – Pedidos de Esclarecimento de Projecto
QUALITEL – Sistemas de Qualidade de Edifícios - Francês
RCCTE - Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios
RGEU - Regulamento geral das edificações urbanas
RJUE - Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação
RSECE - Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em Edifícios
SEL - Système dÉvaluation des Logements
SNQ - Sistema Nacional da Qualidade
SWOT – Análise SWOT ou Análise FFOA (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças)
UTAD - Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro
VAB - Valor Acrescentado Bruto
CAPITULO I – Introdução
CAPÍTULO I - Introdução
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
1
CAPITULO I – Introdução
2
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO I – Introdução
1.1 Enquadramento do Trabalho
Actualmente, resultado do contexto económico-financeiro que o mundo atravessa as empresas
de construção civil atravessam uma grave crise, pelo que é essencial que nas empresas deste
sector haja espaço para a reflexão e reorganização interna de modo a desencadear uma
regeneração na forma de actuar das empresas de construção de modo a estas se tornarem mais
competitivas e sustentáveis nos mercados onde operam.
A nível nacional a indústria da construção é uma das mais importantes, caracterizando-se pela
elevada concorrência entre empresas. Minimizar as falhas de qualidade é fundamental para
reduzir ineficiências e assim aumenta os benefícios obtidos pelas empresas. Esta minimização
é realizada através da implementação de medidas de gestão transversais às diferentes fases do
ciclo de vida de um empreendimento e controlo da qualidade, contudo o objectivo deve passar
pela minimização dos custos de não-qualidade permitem reduzir os custos de pós-venda
durante o período de garantia legal.
Quando um empreiteiro termina uma obra e esta é recepcionada pelo dono de obra, garantindo
o cumprimento do projecto, caderno de encargos e o licenciamento pelas diversas entidades.
Não é esperado que essa obra se traduza em custos adicionais, pelo menos num futuro
próximo enquadrado nos períodos de garantia estipulados em caso de ser obra privada ou
pública.
Todavia devido a um conjunto de factores a realidade actual é consideravelmente diferente. É
frequentemente referenciado que inúmeras casas, escolas, hospitais, empreendimentos de
construção civil e de engenharia civil recentemente construídas, apresentam graves
patologias. Estas situações são sempre desagradáveis para o empreiteiro, que julgava ter
entregue ao cliente uma obra conforme o estipulado no contrato e de acordo com o projecto.
O cliente vê a utilização do seu investimento condicionado e por vezes comprometido face à
expectativa ou objectivo inicial do projecto.
Estas situações são ainda mais questionáveis quando as empreitadas são públicas com um
caderno de encargos exigente e por vezes com cláusulas abusivas. Com projectistas de
renome no mercado, equipas de fiscalizações multidisciplinares e em grande número de
técnicos em obra e no entanto também se registam as mais variadas e graves patologias na
fase do pós-venda.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
3
CAPITULO I – Introdução
Em Portugal não existe um sistema de garantias e seguros que permita a resolução rápida
deste tipo de situações, resultando em intermináveis e dispendiosos casos em tribunal sem
qualquer acção imediata em obra, aumentando degradações das patologias identificadas sem
benefícios para nenhuma das partes.
Nem a legislação nacional nem as seguradoras das empresas obrigam a um controlo dos
defeitos ou patologias. No caso de patologias no período de garantia este assunto é remetido
para Código de Contractos Públicos ou para o Código Civil no caso de obras privadas. Apesar
existirem várias entidades intervenientes no projecto e na obra com deveres e funções legais.
Na maior parte dos casos, o empreiteiro que detém garantias ou cauções no cliente é quem é
chamado a responder no futuro por patologias e/ou defeitos.
Algumas das empresas do sector da construção estão certificadas pela qualidade ISO
9001:2008, mas infelizmente esta certificação não é uma garantia para um departamento de
pós-venda isento de reclamações. Estes sistemas de certificação avaliam e monitorizam
apenas os processos e procedimentos documentais internos da organização da empresa, não o
resultado concreto do produto final executado pela empresa.
1.2 Motivação e Objectivos
Com a presente conjuntura económica do sector, talvez seja este o momento de reflectir sobre
aspectos que afectam a produtividade e as verbas investidas na correcção de erros de
execução após a conclusão das empreitadas. É também importante reflectir sobre a incidência
dos repetidos erros de projecto, execução e utilização/manutenção em diferentes obras. Muitas
vezes os erros cometidos são sistemáticos que se continuam a repetir sem qualquer correcção
em obras futuras, resultando em elevados custos de não-qualidade no pós-venda, reduzindo a
eficiência e competitividade da organização numa fase crucial do mercado para além de
passar uma má imagem junto do cliente.
O presente estudo foi realizado na empresa MRG - Engenharia e Construção, SA, com o
envolvimento da Administração e demais departamentos, que entenderam a necessidade do
estudo dos custos de pós-venda na empresa que recentemente registaram um significativo
aumento.
4
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO I – Introdução
No geral as empresas de construção negligenciam a importância do departamento de pósvenda, dado que este está normalmente ligado a despesa e não da receita. Estranhamente as
empresas de construção não estão sensíveis à importância e possibilidade de valorização da
informação e do conhecimento que o departamento de pós-venda pode transmitir à
organização e o seu potencial para aumento da eficiência e produtividade.
O objectivo principal deste estudo consiste em identificar e avaliar as causas dos custos de
pós-venda dentro da organização. As causas encontradas transportaram-nos para uma
entusiasmante pesquisa e investigação dos pontos críticos que condicionam estes custos nas
diferentes fases do ciclo de vida de um empreendimento. Interessa saber à organização quais
são as causas das patologias reclamadas pelos clientes durante o período de garantia? Porque
falhamos? E como podemos evitar o erro em futuras empreitadas? Será que o cliente está
devidamente informado acerca dos riscos futuros de determinadas soluções construtivas
optadas em projecto? Terá o cliente conhecimento dos procedimentos de utilização e
manutenção do edifício durante a sua vida útil?
A presente dissertação tem como intuito estudar, compreender e actuar sobre os custos de
não-qualidade no departamento de pós-venda, de forma a contribuir para um aumento da
competitividade da empresa e a satisfação dos clientes. Pretende-se contribuir activamente
com a introdução de procedimentos que promovam a prevenção de patologias nas diferentes
fases da vida de um empreendimento.
De modo a cumprir o objectivo principal, foram definidos os seguintes objectivos secundários
ao longo do desenvolvimento do trabalho:
i. Identificar e caracterizar as patologias mais comuns registadas no pós-venda;
ii. Quantificar os custos do departamento de pós-venda pela natureza das patologias;
iii. Identificação dos constrangimentos com influência na performance da produção;
iv. Criação de procedimentos que visam a passagem da informação relevante ao longo das
diferentes fases do ciclo de vida do empreendimento;
v. Desenvolver ferramentas de modo a melhorar e controlar a qualidade da actividade da
empresa, medida através dos custos de pós-venda e reclamações dos clientes – “tableau
du bord”;
vi. Melhorar o desempenho e competitividade da empresa no mercado;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
5
CAPITULO I – Introdução
vii. Promover a transferência do conhecimento dentro da organização através de exemplos
de más e de boas práticas, resultados da actividade de pós-venda;
A realização deste trabalho pretende ir além da identificação de pontos críticos, pretende-se
propor soluções práticas e a sua implementação com vista a ter impacto positivo na
organização.
O desenvolvimento deste tema tem interesse académico, uma vez que não existem estudos
desta natureza em Portugal, e interesse profissional, dado que o seu desenvolvimento pode
trazer benefícios para todos os intervenientes na indústria da construção.
Também para a sociedade o desenvolvimento deste tema é vantajoso, visto que a identificação
das causas e origem da não-qualidade permite uma optimização dos métodos e processos
construtivos e, consequentemente, uma redução dos recursos materiais necessários
apontando-se. Desde logo, uma série delas previamente seleccionadas, obtidas quer da
experiência profissional dos autores, quer da pesquisa bibliográfica sobre estudos
internacionais semelhantes.
O contributo deste trabalho para a importância do impacto junto da sociedade sensibilizando
os utilizadores finais para as consequências de determinadas soluções de projecto, de controlo
da execução e dos cuidados a ter durante a fase de utilização e manutenção de um edifício.
Alerta para a necessidade dum empreendimento ser durável e corresponder com os objectivos
para os quais foi pensado e projectado.
Dado o desenvolvimento de estudos desta natureza noutros países, pretende-se comparar os
resultados deste trabalho com os que são apontados nesses estudos, em particular no que diz
respeito aos custos da não-qualidade e respetivas patologias.
Reduzir os custos da não-qualidade, que incluem os defeitos de construção, as soluções que
exigem maiores custos de manutenção e operação e os que decorrem de ciclos de construção
mais longos do que o necessário incrementando o mercado de reabilitação e manutenção.
Responsabilizar os diferentes agentes económicos, públicos e privados, pela não observância
dos normativos legais que regulam todo o processo construtivo, desde a elaboração do
projecto, contratação e manutenção, passando pela edificação.
6
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO I – Introdução
Sensibilizar os donos de obra para o custo global dos empreendimentos, compreendendo, para
além do investimento com a execução, os custos de manutenção e operação sem esquecer a
rendibilidade decorrente da maior ou menor vida útil das soluções propostas, estimulando a
consideração dos requisitos técnicos, para além do preço, como factor de enorme relevância
para a decisão de adjudicação;
Contribuir para uma convergência entre os diferentes intervenientes, cliente, projectista,
empreiteiro, fiscalização afim de todos trabalharem para um resultado comum a qualidade na
construção promovendo a troca de experiências e o “Know how” que cada interveniente.
Incentivar o funcionamento adequado das entidades acreditadoras e certificadoras e fiscalizar
a sua actuação por forma a garantir a credibilidade pública do sistema nacional de qualidade;
Ampliar o envolvimento das seguradoras na indústria da construção através de uma maior
oferta de seguros às empresas de construção, projectistas, fornecedores e demais
intervenientes;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
7
CAPITULO I – Introdução
1.3 Metodologia da Dissertação
As metodologias de investigação utilizada no tipo de análise pretendida na presente
dissertação foram:
a) Recolha e análise da legislação vigente em Portugal e Internacional, no âmbito dos
temas abordados;
b) Recolha e análise de elementos estatísticos relacionados com a evolução do sector da
construção em Portugal e com os principais defeitos em construções em Portugal e
noutros países;
c) Reuniões com intervenientes no processo construtivos (administradores, directores
coordenadores, responsável pelo pós-venda, directores de Obra, encarregados e
preparadores de obra);
d) Análise dos questionários internos de satisfação dos clientes no âmbito do sistema de
certificação pela ISO 9001:2008;
e) Análise e tratamento estatístico das reclamações do cliente durante o período de
garantia das empreitadas;
f) Análise das não conformidades registadas pelo departamento de qualidade
relacionadas com patologias identificadas durante a fase de execução das empreitadas;
g) Análise e tratamento estatístico dos pedidos de esclarecimento de projecto durante a
fase de preparação/execução das empreitadas mais representativas;
h) Estudo interno dos custos de pós-venda e caracterização das patologias mais comuns;
A metodologia utilizada envolve a análise das reclamações do pós-venda da empresa MRG –
Engenharia e Construção, SA no sentido de as caracterizar por patologias e localizar as
mesmas nos diferentes elementos dos empreendimentos, através de:
a) Consulta dos arquivos de obras já executadas;
b) Caracterização e análise das patologias identificadas nas empreitadas realizadas pósvenda;
c) Relacionar os pedidos de esclarecimento de projecto com as patologias do pós-venda.
d) Caracterização e análise das não-conformidades levantadas por fiscalização e donos de
obra acerca de má execução;
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO I – Introdução
O presente caso de estudo interno pretende também analisar alguns dados das empreitadas
nomeadamente os pedido de esclarecimento de projecto para análise dos erros mais comuns
ao nível dos projectos, erros e omissões e a falta de compatibilização entre os projectos das
diferentes especialidades que levam a atrasos e redução da capacidade produtiva da empresa:
a) Identificação e análise dos constrangimentos com influência na performance na
produção;
b) Técnicas de observação – através da observação directa de cada actividade, para
recolha de dados.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
9
CAPITULO I – Introdução
1.4 Organização da Dissertação
O presente trabalho encontra-se organizado em seis capítulos e referências bibliográficas.
Capítulo I – Introdução: Apresenta-se o enquadramento do trabalho desenvolvido, os
objectivos, a metodologia bem como a forma de organização adoptada na dissertação.
Capítulo II - Caracterização actual do Sector da Construção: Caracterização actual do
Sector da Construção com enquadramento do contexto socioeconómico actual, análise do
mercado em Portugal e na Europa. Ameaças e oportunidades futuras do sector da construção.
Capítulo III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um
Empreendimento: Compreender diferentes fases de um empreendimento nomeadamente a
fase de projecto, fase de execução e fase de utilização e manutenção identificando as
principais causas das patologias em cada uma das fases que compreendem o ciclo de vida de
um empreendimento.
Capítulo IV – Estudo Interno Aplicado a uma empresa: Apresentação dos resultados do
estudo desenvolvido aplicado a uma empresa de construção.
Capítulo V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria: Discussão dos resultados
obtidos, comparação com outras referências bibliográficas e apresentação de propostas de
melhoria no âmbito do estudo apresentado.
Capítulo VI - Conclusões: Contém as conclusões finais e perspectivas de trabalhos futuros.
Referências Bibliográficas: Neste ponto são apresentados as referências das obras
bibliográficas e outros documentos técnicos e académicos de serviram de apoio estudo
desenvolvido.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
CAPÍTULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
2.1 Estado do Sector da Construção na Europa e em Portugal
As esperanças de uma recuperação rápida anunciadas para a indústria de construção europeia
foram frustradas. Em vários dos dezanove países da Euroconstruct a crise do euro continua a
colocar a actividade da construção em cheque. Esta tendência é agravada pela situação da
economia mundial, que continua difícil. Em Junho de 2012 os especialistas da Euroconstruct
esperavam um declínio de 2% durante o mesmo ano, mas já reviram esta previsão a um
declínio de 4,7% na actividade de construção do grupo da União Europeia. Ao contrário das
previsões originais, os especialistas prevêem perdas adicionais de cerca de 1,5% para 2013.
Qualquer possibilidade de recuperação apenas está prevista em 2015 e espera-se que seja
apenas moderada.
Quadro 1 – Ranking Euroconstruct - Dezembro 2012
Com o trabalho do sector da construção prevê-se atingir um valor total de 1,27 trilhões de
euros (a preços de 2011) para 2013. A construção, nos 19 países-membros deve cair um
pouco abaixo do nível alcançado em meados dos anos 1990. O crescimento na demanda
crescente de construção visto entre 1997 e 2007 foi, portanto, cancelado nos seis anos desde
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
13
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
2008. Após a decisão de introduzir o euro, especialmente as taxas de juros no sul dos Países
Europeus caíram consideravelmente, tornando-o muito apetecível aceder aos empréstimos.
Isto marcou o início dos "anos dourados" para a indústria de construção europeia, que
acabaram por ser caracterizados por excessos do mercado.
A crise financeira internacional, a crise económica mundial e a crise do euro tem vindo a ter
um efeito devastador sobre a actividade de construção na Europa. Comparado com o seu nível
de 1966, a indústria europeia da construção terá de "começar do zero" de novo em 2014.
No entanto, os sinais não apontam para uma crise em todos os países. Noruega, Suíça e
Alemanha são os vencedores da crise do euro uma vez que estes países estão atrair o capital
de muitos investidores graças à sua estabilidade económica.
O relatório de Dezembro de 2012 da Euroconstruct, aponta os factores chave, positivos e
negativos, e os riscos desenvolvidos pela actividade da construção nos diversos países. Para
Portugal, são referidos como pontos positivos a alteração da lei do arrendamento. Nos
factores negativos são indicados; a grave crise económica em que o país está mergulhado,
problemas de financiamento, elevada oferta de habitações no mercado, a estagnação
demográfica acentuada, riscos na estabilidade política interna e nas medidas adicionais de
controlo do défice inscritas no orçamento de estado e seu cumprimento e por fim as elevadas
taxas de juro.
De acordo com notícias da Federação da Industria da Construção em Fevereiro de 2013, as
violentas reduções recentemente registadas no consumo do cimento, no número de
trabalhadores e no número de fogos licenciados são os indicadores mais fiáveis da grave crise
que assola o sector da Construção. De acordo com a mais recente análise de conjuntura da
FEPICOP, em 2012, o consumo do cimento caiu 26,9%, face a 2011, sendo preciso recuar 39
anos, até 1973, para se encontrar uma época em que a sua utilização tenha sido inferior à
verificada o ano passado. Por seu turno, os 10.511 fogos em construção nova licenciados até
Novembro último, correspondendo apenas a cerca de 10% das autorizações emitidas em igual
período de 2001, reflectem uma diminuição constante da produção do sector neste segmento
ao longo dos últimos 11 anos. Mas todos os outros indicadores habitualmente analisados pela
Federação evidenciam, também, a contínua deterioração da conjuntura da actividade do
sector.
14
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
O gráfico 1 mostra que até Novembro e em termos homólogos, as licenças para construção
nova caíram 30,2% e as concedidas para reabilitação e demolição recuaram 6,5%, enquanto
no caso dos edifícios não residenciais a área licenciada contraiu 23,5%, o que se traduz numa
redução de 601 mil m2.
Gráfico 1 – Licenciamento de fogos novos para habitação (INE, 2013)
Nas obras públicas, os concursos abertos em 2012 revelam uma redução homóloga de 38,7%
e de 44,4%, respectivamente, em número e valor, e as adjudicações evidenciam uma quebra,
em valor, de 51,6% conforme podemos observar no gráfico 2. Com uma carteira de
encomendas, no último trimestre de 2012, inferior em 44,4% à apurada no mesmo período do
ano anterior e com a confiança dos empresários a cair 25,6%, as perspectivas de emprego
diminuíram 17,0%, ao mesmo tempo que a situação financeira das empresas piorou 7,8%. A
reduzida procura sem precedentes observada em 2012 é considerada pelos empresários, a par
dos aspectos financeiros, um dos principais condicionantes da actividade provocou, nos
primeiros nove meses do ano, uma quebra do VAB (Valor Acrescentado Bruto) do Sector em
15,3% e do investimento em Construção de 18,1%. Por fim, destaca-se a pior consequência de
todo este ambiente para a economia do País: o número de desempregados, que continuou a
aumentar, tendo atingido, 101.449 no final de Novembro de 2012, o que traduz um
crescimento homólogo de 34,4% e representa 15,9% do número total de desempregados
inscritos nos centros de emprego no final desse mês.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Gráfico 2 – Estatísticas dos concursos públicos – Janeiro 2013 (FEPICOP, 2013)
Gráfico 3 – Títulos habilitantes válidos 2009/2011 (INCI, 2012)
Tendo em conta o gráfico 3 no final de 2011, existiam no sector da construção 23.555
empresas habilitadas com alvará e 37.693 com título de registo. O número de alvarás válidos
tem-se mantido relativamente estável, ainda que com uma tendência de descida ligeira. O
facto de o número de alvarás válidos ter registado uma diminuição de apenas 1,3% não
significa, necessariamente, que a crise não se tenha reflectido no sector.
No final de 2011, cerca de 61,6% (14.511) das empresas registadas, eram detentoras de alvará
em classe 1. No entanto a classe com maior crescimento em relação a 2010, foi a classe 8,
com uma variação de 10% podendo justificar-se pela entrada de novas empresas para essa
classe e de reclassificação de empresas classificadas em classes anteriores. O número de
empresas detentoras de alvará nas três primeiras classes atingiu 86,4% (20.360) do total das
empresas registadas. Relativamente à distribuição de alvarás por classes, verificou-se um
crescimento de empresas classificadas nas classes 5, 6, 8 e 9 desde 2006 até 2011 como
demonstra a quadro 2.
16
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Quadro 2 – Variação das classes de alvará atribuídas ao longo dos anos (INCI, 2012)
Saliente-se o facto de a classe 1 e 2 representarem cerca de 76% do mercado, ou seja, ¾ das
empresas de construção, podendo executar obras até 332.000€. (INCI, 2011)
Portugal possui um grande número de pequenas empresas de construção com menos de 20
trabalhadores, que representam uma esmagadora maioria (superior a 97%) do total das
empresas do sector da construção sendo responsáveis por mais de metade do volume de
negócios do sector. O VAB apresentou uma taxa de variação negativa de 1,8%, após ter
registado uma variação positiva no ano anterior de 1,4%. O VAB no sector da construção
apresentou, por seu lado, uma diminuição mais expressiva de -9,2% relativamente a 2010 (4,3%), ainda assim menos pronunciada que a diminuição registada em 2009 (-10,7%). Numa
análise trimestral dos três últimos anos, constata-se que o VAB da construção apresentou
sistematicamente um desempenho inferior ao da economia, ainda que durante o ano de 2010
se tenha verificado uma diminuição da tendência divergente entre o VAB do sector e o VAB
total. Este indicador remete assim a indústria da construção para um dos sectores de baixa
produtividade nacional. (INCI, 2011)
O sector irá confrontar uma conjuntura muito desfavorável, os grandes ajustamentos eram
previsíveis face aos excessos da construção nova em Portugal nas últimas duas décadas, quer
de edifícios, quer de infra-estruturas. A solução imediata para as empresas do sector passa, em
grande parte, pela internacionalização, seja pelo continente Africano (designadamente Angola
e Moçambique) ou no continente Americano (Brasil, América Latina), pese embora a fraca
dimensão comparativa não muito favorável das nossas maiores empresas no contexto
internacional e mesmo no contexto europeu. (INCI, 2011)
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Quadro 3 - Taxas anuais de crescimento, os índices de custos de construção de novos edifícios
residenciais (Eurostat, 2012)
Entre 2005 e meados de 2008, os custos de construção (para edifícios residenciais) aumentou
relativamente constante na UE-27, com uma taxa anual de cerca de 4,4% como evidencia a
quadro 3. No terceiro trimestre de 2008 o índice começou a cair e atingiu o seu nível mais
baixo um ano depois. No último trimestre de 2009 o índice começou a aumentar novamente.
Menos de um ano depois, recuperou o nível que tinha exibido antes da crise. A evolução do
índice de custos de construção foi influenciado, principalmente, pela componente de custos de
materiais, enquanto a componente de custo do trabalho continuou a crescer mesmo durante a
crise - embora a um ritmo um pouco mais lento do que antes.
O Quadro 3 apresenta as taxas anuais de crescimento para a UE-27 e os seus EstadosMembros para o período entre 2005 e 2011. Com poucas exceções, os países da UE
apresentam um desenvolvimento que é muito semelhante ao que pode ser encontrado para o
conjunto da UE. As diferenças podem ser encontradas no tempo e o tamanho da redução do
índice de custo. O índice de custos de construção de edifícios residenciais começaram a cair
18
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
pela primeira vez em Portugal (mas note-se que na Irlanda, o índice de custo é aproximado
por um índice de preços), nos demais países esse desenvolvimento ocorreu apenas alguns
meses depois. As reduções do índice de custos foram mais fortes na Irlanda e nos Estados
Bálticos. Em vários países, as taxas de variação em 2008 e 2009 manteve-se positivo, embora
muito menor do que na primeira metade do período em observação.
Segundo o INE em Maio de 2013 os principais obstáculos à actividade da construção eram;
com 80,9 % insuficiência da procura, 57,6% deterioração das perspectivas de venda, 52,5%
dificuldade na obtenção de crédito bancário, 33,4% elevadas taxas de juro, 16,3% dificuldade
na obtenção de licenças e 7,5% condições climatéricas desfavoráveis.
A apreciação sobre a actividade em Maio de 2013 relativamente aos últimos três meses
mantiveram maus resultados com a promoção imobiliária com -49,8% e Engenharia Civil 58,9% e o indicador de confiança da construção encontrava-se nos -62,1%. Numa apreciação
sobre a carteira de encomendas da construção os números são bastante fracos apresentando-se
-80,3% na promoção imobiliária e -82,7% na Engenharia Civil.
O sector da construção assume um papel fundamental para o crescimento do país,
designadamente, pelo peso que representa na actividade económica, no emprego e no
investimento. É um sector responsável por cerca de 18,2% do PIB e cerca de 610 mil postos
de trabalho, agregando actividades que vão desde a construção e manutenção de infraestruturas e edifícios, até áreas tão distintas como a produção e comercialização de materiais
de construção, a promoção imobiliária e os serviços de engenharia e arquitectura.
Perante a conjuntura actual em Março de 2013 foi assinado um compromisso para a
competitividade sustentável do sector da construção e imobiliário entre o Governo Português
e a Confederação para a Industria da Construção.
Em Abril de 2013 o Comité Económico e Social Europeu (CESE) emitiu um parecer em
comunicação da comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho designado estratégia para a
competitividade sustentável do sector da construção e das suas empresas onde refere que o
sector da construção nos 27 Estados-Membros da UE foi gravemente afectado pela crise
financeira que começou em 2008 e pela consequente recessão económica na construção. A
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
retoma foi atrasada pelo início da crise da dívida soberana na zona do euro e pela imposição
de programas de austeridade em muitos Estados-Membros. No que respeita às empresas, o
sector da construção conta com 3.1 milhões de empresas, das quais 95% são PME com menos
de vinte trabalhadores e 93% têm menos de 10.
Trata-se do sector industrial que mais emprega na Europa, com 14.600 milhões de
trabalhadores em 2011, representando 7% do emprego total e 30,7% do emprego industrial.
Desde 2008, os níveis de emprego diminuíram continuamente. Tendo em conta o efeito
multiplicador (cada pessoa que trabalha neste sector gera mais dois empregos noutro sector),
na UE há 43.800 milhões de trabalhadores que dependem de maneira directa ou indirecta do
sector da construção.
O sector foi afectado pelo mesmo tipo de factores económicos, que são, essencialmente: os
efeitos duradouros da retracção de crédito, que limitou os empréstimos, o início da crise da
dívida soberana no verão de 2012, e a subsequente aplicação de medidas de austeridade em
toda a Europa conforme referido anteriormente.
O CESE reconhece a importância estratégica do sector da construção para a economia
europeia, não só no que respeita ao contributo do sector para o PIB, que representa quase 10%
do PIB da UE, mas também em termos do papel da construção para a criação de emprego e de
crescimento económico. Considera que cabe ao sector da construção um papel fundamental na
redução da procura de energia na UE, diminuindo a pegada ecológica humana e contribuindo
para a atenuação e adaptação aos efeitos das alterações climáticas. Segundo uma análise do
Banco Mundial, a construção encontra-se entre os sectores afectados pela corrupção e pelo
crime organizado, em especial na concessão de projectos por interesse político e não por
concurso público e na forma como se efectua a acreditação dos procedimentos de certificação
de edificações e construções.
Consciente de que, apesar de a austeridade estar a corrigir deficiências estruturais, não se está
a avançar no sentido de um crescimento renovado; pelo contrário, a crise económica está a
agravar-se em muitos países. Importa investir em edifícios e infra-estruturas sustentáveis para
assegurar as perspectivas futuras de crescimento e de emprego na Europa. A renovação do
parque imobiliário vetusto europeu encerra um enorme potencial de redução da procura de
20
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
energia, com vista a cumprir os objectivos da UE de redução em 20% tanto das emissões de
gases com efeito de estufa como da procura de energia. Além disso, essa medida contribuiria
para reduzir as importações de energias fósseis e assegurar que a maior parte da riqueza
europeia permanece na Europa, contribuindo assim para manter e criar emprego no contexto
actual de crise económica e financeira. Para aproveitar este potencial, os Estados Membros
devem providenciar incentivos fiscais e financeiros apropriados para orientar o mercado para
uma melhor poupança energética e garantir a redução dos défices em termos de competências.
A evolução demográfica coloca novos desafios à edificação, aos quais o sector da construção
terá de fazer face. Entre eles, incluem-se as consequências do envelhecimento da população
no que respeita ao acesso às áreas construídas. O CESE tomou nota dos trabalhos em curso
realizados pelo Comité Europeu de Normalização (CEN), mandatado pela Comissão
Europeia, para adaptar as normas pertinentes aos princípios do «desenho universal». Além
disso, o sector da construção enfrenta o problema do envelhecimento da mão-de-obra. Neste
sentido, o CESE salienta a Estratégia Europa 2020 para o crescimento inteligente, sustentável
e inclusivo e o desafio que representa para a economia no seu conjunto.
Muitas empresas do sector da construção, em especial PME (Pequenas e Médias Empresas),
estão sujeitas a uma intensa pressão devido à morosidade dos pagamentos do sector público e
dos do sector privado. A Directiva 2011/7/UE relativa à luta contra os atrasos de pagamento
nas transacções comerciais deve ser aplicada de forma adequada para assegurar a
sobrevivência das empresas. Com vista à aplicação plena das disposições da Directiva
2011/7/UE e à realização dos objectivos nela fixados, sublinha-se, em particular, a
necessidade de reduzir para 30 dias, no máximo, os prazos de pagamento/recepção nos
contractos públicos e de velar pelo seu cumprimento através do pagamento efectivo das
facturas, prevendo-se a adopção de medidas orçamentais e administrativas adequadas
(incluindo a obtenção de créditos bancários para pagamento de facturas em atraso). O CESE
considerou necessário resolver prioritariamente o problema dos atrasos registados
anteriormente à transposição da Directiva 2011/7/UE, uma vez que atrasos muito importantes
no pagamento de facturas nos contractos públicos afectam gravemente a competitividade, a
rentabilidade e a viabilidade actual das empresas.
O CESE no seu relatório entende que importa actualizar a percentagem de I&D no sector da
construção como instrumento para impulsionar a produtividade. É necessária uma política que
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
21
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
favoreça a inovação continuada, o aumento da produtividade baseado nas competências da
mão-de-obra, em novos produtos e numa organização do trabalho inteligentes, assim como
empregos de qualidade. Neste sentido, a tecnologia ambiental pode converter-se num dos
vectores para um novo desenvolvimento.
A Proposta da Comissão tem dois objectivos estratégicos primeiro responder aos principais
desafios que o sector da construção enfrenta em termos de investimento, capital humano,
exigências energéticas e ambientais, regulamentação e acesso aos mercados até 2020 e em
segundo propor, para tal fim, um plano de acção a curto e médios prazos.
A proposta da Comissão visa:
i.
Estimular a procura de construções sustentáveis, em especial no que toca à
renovação de edifícios;
ii.
Melhorar o desempenho da cadeia de abastecimento/valor e do mercado interno
para os produtos e serviços de construção;
iii.
Ampliar as perspectivas de mercado para as empresas europeias do sector da
construção a nível internacional.
O plano de acção proposto no relatório centra-se em cinco objectivos:
i.
Estimular condições de investimento favoráveis;
ii.
Melhorar a base de capital humano;
iii.
Melhorar a eficiência dos recursos, o desempenho ambiental e as oportunidades de
negócio;
iv.
Reforçar o mercado interno da construção;
v.
Promover a competitividade global das empresas de construção da UE.
O relatório da Comissão apresenta uma análise SWOT do actual estado do sector da
Construção onde apresenta os seguintes pontos:
Pontos Fortes
1. Atenuação a adaptação aos efeitos das alterações climáticas e redução da pegada
ecológica humana;
22
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
2. Na UE a 27, cerca de 43.8 milhões de trabalhadores ainda dependem directa ou
indirectamente do sector da construção;
3. O elevado número de microempresas e de PME que operam no sector da construção
leva a crer que esta é uma actividade profundamente enraizada nas comunidades
locais, reflectindo a diversidade das tradições e culturas locais;
4. Em muitos Estados-Membros, o sector da construção, em conjunto com as instituições
de formação profissional, desempenha um papel central na disponibilização de
oportunidades de aprendizagem para trabalhadores mais jovens, assegurando assim a
mobilidade social.
5. A construção é uma actividade empresarial local e muito intensiva em termos de mãode-obra. Como tal, a produção não pode ser deslocalizada para fora dos países, o que
constitui uma garantia de que o emprego permanece na EU.
Pontos Fracos
1. Em muitos países, o sector da construção confronta-se com regras que dificultam os
mecanismos de cooperação entre as empresas (por exemplo, em matéria de
responsabilidade das empresas), tem uma cadeia de valor complexa e um potencial
elevado de conflitos e ineficácia. Tal constitui um obstáculo à melhoria da
competitividade.
2. Apesar de melhorias recentes, como o manifesto Building Prosperity for the Future of
Europe [Construir a prosperidade para o futuro da Europa], publicado em Novembro
de 2010 pela plataforma informal do Fórum Europeu da Construção e reeditado em
Janeiro de 2013 propositadamente para a comunicação da Comissão, o sector é
composto por uma tal diversidade de partes interessadas que se torna difícil coordenar
os diferentes pontos de vista e falar a uma só voz a nível nacional ou europeu.
3. Em alguns casos, o sector está exposto a bolhas imobiliárias, como as ocorridas numa
série de Estados-Membros durante a primeira década do século XXI, resultantes da
disponibilidade de empréstimos com juros baixos para o desenvolvimento imobiliário.
4. As medidas políticas destinadas a fomentar formas específicas de construção,
incentivos fiscais para actividades de renovação e adaptação destinadas a melhorar a
eficiência energética ou tarifas para apoiar microempresas do sector das energias
renováveis – são muitas vezes imprevisíveis, dispõem de um e curto prazo e estão
sujeitas a restrições antes de os seus benefícios se fazerem sentir adequadamente.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
23
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
5. Tradicionalmente, a contratação pública baseia-se no critério do preço mais baixo.
Esta pressão para reduzir os preços das ofertas impede que as empresas remodelem os
seus procedimentos e invistam em materiais inovadores, constituindo um obstáculo à
inovação.
6. No sector da construção, o investimento em I&D é baixo, quando comparado com
outros sectores, e isto deve-se à natureza fragmentada do sector, ao carácter
extremamente regulamentado e predeterminado das obras de construção e às margens
de lucro do sector, tradicionalmente limitadas. Não obstante, o CESE tomou nota da
parceria público privada para a eficiência energética, que combina os auxílios
europeus à I&D da União Europeia com o financiamento correspondente do sector
privado.
7. Apesar dos grandes avanços conseguidos nos últimos anos, o sector da construção
continua a sofrer de um problema de imagem e, como tal, melhorias em termos de
saúde e segurança continuam a ser uma prioridade. De maneira mais geral, e apesar da
recessão, o sector continua a não ser capaz de atrair um número suficiente de
engenheiros qualificados com estudos superiores. Com a evolução demográfica, este
problema agravar-se-á. O sector tem de encontrar uma solução para este problema de
imagem e conseguir atrair trabalhadores jovens qualificados
Oportunidades
1. O objectivo de eficiência energética do parque imobiliário é uma oportunidade imensa
para aumentar a sua actividade, com recurso às tecnologias existentes. Contudo, os
governos nacionais devem reconhecer o potencial existente e proporcionar o apoio
financeiro necessário, bem como incentivos fiscais.
2. Os Estados-Membros e a União Europeia devem coordenar programas de
investimento em grande escala para as principais infra-estruturas e edifícios, que não
se limitem ao montante proposto pelo mecanismo interligar a Europa no próximo
quadro financeiro plurianual.
3. A médio e longo prazo, o sector tem o potencial necessário para alcançar uma
economia sustentável e hipocarbónica, se se implementarem os incentivos
regulamentares e financeiros necessários.
4. O sector da construção liderará a resposta aos desafios colocados pela adaptação às
alterações climáticas e a sua atenuação.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
5. O desenvolvimento de novas tecnologias baseadas nas tecnologias de informação,
como a Modelagem das Informações de Construção (Building Information Modelling
– BIM), está a contribuir para impulsionar a inovação e para melhorar a eficiência do
sector.
Ameaças ao sector
1. A maior ameaça que o sector da construção enfrenta é a falta de investimento público
e privado, que provocou já a insolvência de muitas empresas viáveis e que, desde
2008, levou a uma diminuição acentuada dos postos de trabalho. Se a recessão no
sector da construção se manter, verificar-se-á a uma perda irrecuperável de
arquitectos, designers, engenheiros e artesãos.
2. Relativamente a este aspecto, outra ameaça ao sector é o envelhecimento da mão-deobra e a falta de trabalhadores jovens que os substituam. Em 2011, na Alemanha, 44%
da força de trabalho tinha mais de 45 anos.
3. A chegada de adjudicatários de países terceiros ao mercado dos concursos públicos na
EU também constitui uma ameaça. Estas empresas, com frequência empresas estatais,
têm vindo a utilizar o financiamento do seu país de origem para falsear a concorrência
em casos como o da auto-estrada A2 na Polónia, em 2009, em que esteve implicada
uma empresa estatal chinesa. Esta concorrência desleal diminui a qualidade da
construção e mina os salários dos trabalhadores locais do sector.
4. A pressão das autoridades para poupar dinheiro nos concursos públicos resulta
frequentemente num número de ofertas com preços anormalmente baixos. Este tipo de
ofertas reduz a qualidade das edificações e construções, além de constituir uma
ameaça à protecção social dos trabalhadores e de aumentar os custos a longo prazo.
5. O sector da construção já é uma actividade muito regulamentada, como o deve ser,
mas a legislação adoptada a nível da UE nesta matéria poderá ser contraproducente se
não for coordenada e adaptada as particularidades nomeadamente o clima de cada
País.
6. Uma das principais características do sector da construção é a elevada mobilidade do
emprego. Não deveria recorrer-se a mão-de-obra proveniente de outros países, em
especial, a trabalhadores independentes e trabalhadores destacados temporariamente,
como uma forma de dumping social para evitar o pagamento de contribuições à
segurança social e contornar as obrigações sociais vigentes no país de acolhimento.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
7. Para a indústria dos materiais de construção, o acesso às matérias-primas no futuro é
um enorme desafio, bem como a eficiência dos recursos.
Importa encontrar uma solução para o grave problema do envelhecimento da mão-de-obra,
tornando a profissão atraente para trabalhadores jovens qualificados. Sem uma elevada
qualidade na concepção e na execução, não seremos capazes de garantir uma construção e
concorrência sustentáveis no sector. Esta elevada qualidade não pode ser obtida com
contractos públicos baseados unicamente no critério do preço mais baixo e que ignorem os
custos a médio e a longo prazo.
A contratação pública dos serviços de construção, que tradicionalmente se baseia no critério
do preço mais baixo, impede que as empresas inovem os seus processos e invistam em
materiais inovadores. Além disso, os regimes de seguros colocam barreiras à inovação,
porque penalizam as empresas que desejam alterar os seus métodos de trabalho ou utilizar
materiais inovadores. Poderia reexaminar-se a possibilidade de reduzir o IVA para habitações
a um preço comportável, o que constituiria um estímulo. Para reduzir o impacto da corrupção,
é também necessário e conveniente elaborar um código deontológico.
As perspectivas de desenvolvimento do sector da construção assentam no rendimento
energético dos edifícios, a eficiência dos recursos na produção, o transporte, a utilização dos
produtos na edificação e construção de infra-estruturas e na economia hipocarbónica tem um
impacto considerável no sector imobiliário e da construção.
O relatório da comissão apresenta os seguintes desafios globais, a considerar:
a. Concorrência globalizada e desequilibrada;
b. Eficiência energética;
c. Edifícios sustentáveis;
d. Resistência às catástrofes;
e. Clima no interior dos edifícios;
f. Recuperação, reciclagem e reutilização dos edifícios e dos materiais;
g. Desenho que se adapte à procura dos clientes no futuro;
h. Envelhecimento da força de trabalho;
i. Procedimentos mais éticos para a adjudicação de contractos públicos;
j. Parcerias público-privadas;
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
k. Questões específicas relacionadas com a saúde e a segurança; e aspectos
deontológicos.
É necessário que entre os agentes do sector da construção se estabeleça uma «cadeia trófica»:
construtoras, gestores de projectos, preparadores, engenheiros, arquitectos, designers,
promotores, etc., deveriam participar em áreas do conhecimento como o financiamento, os
seguros, a contratação, o marketing e o ensino. Para combater a corrupção e o crime
organizado, as construtoras estão a implementar uma gama complexa de acções e de reformas
estruturais, nomeadamente a supressão das atuais barreiras técnicas, administrativas e
regulamentares que falseiam os procedimentos de concursos para obras de infra-estruturas, de
construção e de montagem, simplificando determinados quadros regulamentares e impondo
obrigação rigorosas aos agentes implicados e a revisão dos atuais mecanismos de contratação
pública e de pagamento que envolvam fundos da UE, melhorando o fluxo de documentos,
aumentando a responsabilidade dos organismos competentes no que respeita à monitorização
e controlo, e recorrendo a uma conta caução, para cada projecto.
2.2 Factores de Competitividade na Construção
2.2.1 Competitividade na Construção
Esta indústria é caracterizada por uma elevada competitividade entre as empresas, o que se
traduz numa redução das suas margens de lucro. Adicionalmente, os crescentes requisitos
legais e exigências por parte dos clientes leva a que estas empresas procurem aumentar o nível
de eficiência da sua actividade, reduzindo os custos de operação e melhorando o nível de
qualidade da construção.
O Ambiente produtivo da construção civil tem aspectos relevantes e peculiares dado que tem
um esquema de produção não repetitivo, tem a necessidade de um elevado número de
elementos operacionais, tem uma grande interdependência no desenvolvimento de cada
actividade, dificuldade na compreensão das especificidades de cada actividade por elementos
da equipa envolvidos em outras especialidades. A produtividade na construção depende muito
da experiência profissional, meios de produção e da organização que é o factor mais
importante para a produtividade. (Costa, 2008)
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
As particularidades deste sector demonstram a necessidade essencial de ligações entre as
diferentes especialidades a arquitectura com engenharia estrutural, com instalações especiais,
a necessidade de pareceres técnicos e apoio de consultores especializados, tudo isto tem de
estar devidamente organizado e funcional para que se possa então iniciar a produção em obra.
As empresas têm de compreender que ser eficaz já não é suficiente é necessário ir mais além,
e construir uma organização eficiente, proactiva que consiga prever os pontos críticos de cada
projecto, e promovendo a sua própria gestão do conhecimento.
De um modo geral existem três variáveis que se devem equilibrar num projecto de
construção: custos, qualidade e prazo de execução. Do posto de vista empresarial pretende-se
elevado níveis de qualidade com prazo e custo minino. Como podemos fazer isso? Quais são
as actividades críticas? Quais as ferramentas que podemos implementar?
Seja qual for a definição de competitividade, esta estará sempre relacionada com a capacidade
de investigação, inovação, diferenciação, satisfação, rentabilidade e concorrência. A aposta
em actividades de investigação e desenvolvimento proporciona a criação de processos
inovadores. A satisfação dos clientes irá proporcionar a repetição do negócio e a credibilidade
da indústria ou empresa que os produz, gerando um negócio crescente e rentável.
A rentabilidade do negócio disponibilizará fundos que poderão proporcionar novos
investimentos em actividades de investigação e desenvolvimento, criando um ciclo de
melhoria constante. A procura constante de inovar os processos é importante pois geralmente,
tais processos são copiados ou até mesmo melhorados por empresas concorrentes.
As competências dos trabalhadores de uma empresa influenciam directamente os seus níveis
de produtividade. Aquando de um investimento, o que se pretende é: garantia de qualidade,
rigor orçamental e cumprimento de prazos.
O sector da construção com toda a evolução que já sofreu ao longo dos tempos, ainda não
interiorizou o quanto é importante listar os erros cometidos para não os voltar a repetir. Assim
como não enuncia numa base de dados os ensinamentos e experiências positivas que adquire
com a execução de certos projectos, para que num futuro próximo se possam usar essas
soluções. A ausência de um código técnico da Construção em Portugal leva a um método de
execução de projectos e de execução de obra que dão origem à repetição dos mesmos erros,
este facto acarreta acréscimos nos custos, derrapagens nos prazos e quando o caso se mostra
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
grave leva à execução de um projecto de alteração. E apesar desta triste realidade pouco foi
feito para alterar esta situação. Não existe qualquer guia ou normativo que regulamente e
valide os pormenores e processos construtivos a aplicar nos projectos, deixando ao sabor da
imaginação e inspiração de cada projectista sem a certeza nem feedback de que o que
projectou/desenhou foi durável e funcional ao longo da vida útil do empreendimento.
O Professor Canha da Piedade na sua publicação “Princípios da Construção de Edifícios”
referia que “A separação de Arquitectos e Engenheiros no final do XIX deu lugar que entre
uns e outros se tivesse desenvolvido uma “terra de ninguém” suprida pelo constante apelo “às
regras da boa arte” em geral, designação para se ter presente o que se ignora”.
São muitas as falhas cometidas pelo dono da obra na preparação dos elementos essenciais
para fornecer aos projectistas, umas vezes por ignorância, outras até para “aparentemente”
economizar algum dinheiro. É muito importante para as organizações serem bem-sucedidas
nos seus negócios, a fim de sobreviver em ambientes competitivos de negócios, como a
construção. A Indústria da construção civil está constantemente em mudança com o
desenvolvimento de métodos de negócios e tecnologias. Assim, as empresas de construção
têm de adoptar estas aplicações e desenvolver estratégias adequadas para ser mais competitiva
nesta indústria e obter sucesso em seus negócios.
Tradicionalmente e como referido anteriormente os parâmetros para o sucesso dos projectos
neste sector são os prazos, custo e qualidade. No estudo de (Hutchings e Christofferson, 2003)
realizado entre os de pequeno volume de construção residencial empresas nos Estados
Unidos, os factores mais importantes para a sucesso da empresa foram encontrados como
mão-de-obra de qualidade, honestidade, tendo subcontratados bons clientes, comunicação,
reputação, com bons funcionários, e concluir projectos no prazo, respectivamente. Numa
pesquisa realizada fora entre as maiores empresas de construção da Alemanha, os factores de
sucesso mais importantes foram identificados como aplicação e desenvolvimento eficaz de
gestão de risco, inovação, parcerias com clientes e da estrutura organizacional ágil (Lean).
Como a construção é um negócio arriscado e da possibilidade de falha de negócio existe, as
empresas têm de considerar os parâmetros que podem ter um efeito directo para o seu sucesso
e por em causa a sua sobrevivência.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
O sector da construção é caracterizada por uma cadeia de valor complexo. Este inclui tanto a
básica fabricação e fornecimento de materiais de construção, como uma gama de
conhecimento intensivo de serviços prestados por empresas privadas e organizações de
conhecimento público. Um fluxograma da cadeia de valor do sector de construção é fornecido
abaixo com o “core business” pintado a verde na figura 1.
Figura 1 – Cadeia de valor do sector da construção
Alguns dos grandes actores nos diferentes subsectores operam actualmente na Europa e
mesmo noutros mercados mundiais (por exemplo, arquitectos e empresas de engenharia),
enquanto outros atores da cadeia de valor operam essencialmente nos mercados nacionais ou
locais. Como resultado, estes diferentes atores enfrentam desafios muito diferentes no que diz
respeito à competitividade e inovação do sector.
A actividade de construção está sujeita a influências resultantes do ritmo da mudança
tecnológica em outros sectores da economia e de regulamentações cada vez mais rigorosas e
exigentes. Alterar desejos do cliente como resultado de variações de gostos, aspirações e
poder de compra.
As próximas etapas são as únicas que podem transformar um negócio ou os processos que
envolvem uma maior integração com clientes e parceiros. A forma como os edifícios são
projectados ou construídos precisam de ser repensados. O Relacionamento com os clientes
deve tornar-se de longo prazo.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
A crise financeira mudou substancialmente o cenário competitivo na construção. O segmento
de engenharia civil está a em mudança com o aumento da concorrência internacional e da
formação de grandes consórcios para concorrer a grandes projectos em relação à construção
de estradas, projectos ferroviários, pontes, túneis e projectos, etc. O sector residencial de
edifícios continuam a ser um subsector, com competição europeia limitado. Isto é porque cada
país, e muitas vezes regiões diferentes em cada país, ainda têm sua própria maneira de
construir edifícios residenciais. Estas tradições estão ligadas ao acesso histórico para materiais
de construção e às condicionantes do clima nas regiões. A competição europeia na construção
não-residencial subsector também não é extensa. Mais uma vez, a cultura local e as
abordagens têm uma significativa impacto sobre como e com que materiais os edifícios são
construídos.
No contexto de todas estas mudanças dramáticas, a construção aparece como um farol
histórico de atitudes tradicionais, métodos e abordagens. A ameaça de substitutos para os
produtos e serviços do sector da construção é crescente. Em parte como resposta a esta
competição influências externas dentro da indústria da construção é cada vez mais intensa.
Além disso, começa a verificar-se algo diferente como a concorrência-fabricantes de materiais
de construção e componentes estão a integrar verticalmente o mercado, com oferta de serviços
de construção.
Neste sector cada vez mais dinâmico e mais global as empresas Portuguesas enfrentam
desafios globais e tem de estar preparadas para reagir a esta mudança. Posicionando a
empresa, observando as forças externas e processos internos, planear e gerenciar mudanças
são essenciais para a sobrevivência das empresas.
Os clientes estão cada vez mais conscientes da natureza da construção (e dos seus direitos) e
tendem a ser mais criteriosos e exigentes. Com o aumento do controle estatutário, maior
conhecimento do usuário e principalmente a preocupação com o meio ambiente, os direitos e
as responsabilidades profissionais estão a ser definidas cada vez mais com maior rigor. Há
também crescente desregulamentação e privatização adicional relativa ao desenvolvimento e
controle de edifícios.
O ambiente da indústria da construção está cada vez mais influenciado por factores
económicos, tecnológicos e sociais. Outra grande influência vem do progresso para a era da
informação. A reorganização estrutural da indústria parece provável. Como a maneira como
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
se executa projectos de construção passa por mudanças radicais, aqueles que se posicionam
estrategicamente pode maximizar seus benefícios.
Adicionalmente, as crescentes exigências legais e por parte dos clientes leva a que estas
empresas procurem aumentar o nível de eficiência da sua actividade, reduzindo os custos de
operação e melhorando o nível de qualidade da construção. As competências dos
trabalhadores de uma empresa influenciam directamente os seus níveis de produtividade.
2.2.2 A Estrutura empresarial
A estrutura empresarial deve ser equilibrada que combine a flexibilidade das pequenas e
médias empresas, que constituem e constituirão a larga maioria do sector da construção, com
um maior número (relativamente à actualidade) de empresas com dimensão para competir
com sucesso nos mercados internacionais, garantindo o crescimento sustentado da actividade
de construção nacional. Dado que as empresas com menos de 20 trabalhadores (cerca de 97%
do total) representam mais de 50% do emprego total do sector da construção, dar prioridade à
informação e à formação da mão-de-obra das pequenas empresas. As empresas de maior
dimensão devem ser estimuladas a seleccionar adequadamente e a preservar a sua cadeia de
subempreiteiros, cooperando com estes na formação, na obtenção de informação técnica
adequada e na gestão da qualidade, mas ao mesmo tempo garantindo o cumprimento das
melhores práticas e da legislação em vigor em todos os domínios relevantes. As associações
de empresas devem funcionar como uma forma de ultrapassar as desvantagens de uma menor
dimensão. As relações comerciais devem ser de longo-prazo. Para uma maior transparência e
ética o sistema de qualificação deverá ser adequado às empresas de construção, excluindo as
que não cumprem os requisitos legais ou que tenham registo de más práticas.
2.2.3 A internacionalização das empresas de construção
A competitividade das empresas de construção em Portugal tem um elevado desafio, a
internacionalização, no entanto será necessário adquirirem dimensão e serem competitivas.
Para além da pequena dimensão do tecido empresarial da construção em Portugal acresce o
estado de fragmentação do sector em que detém ao momento catorze associações. Deve-se
repensar e analisar o que aconteceu com Espanha onde as vinte e seis maiores empresas de
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
construção deram lugar a seis grandes grupos empresariais com dimensão e capacidade para
se internacionalizarem para mercados tão maduros como o Canadá, Estados Unidos da
América e Norte da Europa como apresenta a figura 2. À semelhança do que Espanha pôs em
prática, deve ser estabelecida uma parceria estratégica de interesse nacional entre o Estado e
as empresas portuguesas de construção para o desenvolvimento de sistemas de crédito e de
seguros à exportação que fomentem uma aproximação coordenada aos projectos de
construção de dimensão significativa.
É necessário garantir a algumas empresas portuguesas a obtenção de escala significativa a
nível europeu que lhes permita competir nos diferentes mercados externos e enfrentar com
êxito a concorrência de que são alvo no mercado interno, mantendo níveis de rendibilidade
sustentáveis, com vantagem para o desenvolvimento da economia nacional. Apoiar as
empresas de construção na obtenção de informação fiável sobre os mercados de exportação
(incluindo informação política, económica, legislativa, regulamentar, etc.), no acesso a fontes
de financiamento competitivo e à entrada em mercados externos, assente no princípio da
reciprocidade. Dada a nossa dimensão deve-se estimular alianças estratégicas entre empresas
de construção, empresas de outros sectores e instituições financeiras que permitam a
participação portuguesa em projectos de maior dimensão no estrangeiro e promover o
desenvolvimento de acções concretas de cooperação entre as Universidades e as empresas em
todas as áreas relevantes para a competitividade das empresas de construção.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Figura 2 – Processo de concentração dos grupos empresariais Espanhóis (SEOPAN, 2013)
2.2.4 Sistemas de Informação na Construção
As empresas de construção deverão garantir um fluxo adequado de informação oportuna e
fiável, necessária para a tomada de decisões estratégicas e técnicas correctas. Estimular a
adopção, pelas empresas de construção e demais agentes económicos com relevância para o
sector, de sistemas integrados de informação para a gestão. Estas devem desenvolver um
conjunto alargado de dados estatísticos relevantes sobre a produção do sector da construção,
estruturando-a em função dos segmentos relevantes do mercado (residencial, não-residencial,
engenharia civil e renovação e manutenção). A cooperação entre empresas, associações do
sector, donos de obra e organismos produtores de informação estatística, quer na
disponibilização de dados, quer na definição de conceitos e metodologias com o intuito de
criar bases de dados de obras concluídas. A Criação de bases de dados sobre resultados de
I&D e de documentos técnicos como informação sobre procedimentos, legislação e
regulamentos, quer a nível nacional, quer a nível internacional.
2.2.5 Tecnologia e Investigação
A adopção de tecnologias, produtos e de sistemas de controlo de gestão apropriados à
construção e que contribuam para aumentar a produtividade e competitividade das empresas
de construção. Estas contribuirão decisivamente para construir com rendibilidade e qualidade,
ajudando a preservar o ambiente, e constituirão factor determinante para atrair mão-de-obra
qualificada e motivada para o sector, garantindo o seu desenvolvimento sustentável.
Criação de um centro nacional de investigação e desenvolvimento para o sector da
construção, gerido com o contributo do sector privado, que se dirija a toda a fileira da
construção, que estude todo o processo construtivo e que coordene a investigação nas áreas
dos projectos, materiais, produtos, processos e gestão de obras e empreendimentos com o
objectivo de:
i.
Elencar e disseminar as melhores práticas, métodos e produtos construtivos;
ii.
Acelerar o desenvolvimento de standards técnicos;
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
O desenvolvimento de redes de saber que permitam transmitir informação sobre os novos
produtos e tecnologias disponíveis em cada momento e incorporar novas ideias nos processos
construtivos;
i.
Contemplar as actividades de I&D no conjunto das prioridades do Estado que para
elas deverá carrear fundos públicos nacionais e comunitários;
ii.
Utilizar a política fiscal para estimular as actividades de I&D desenvolvidas pelas
empresas de construção.
2.3 Qualidade na Construção
A qualidade é cada vez mais uma variável incontornável no mundo empresarial. Por um lado,
o contexto económico cada vez mais globalizado obriga a encarar a qualidade como um factor
de competitividade e de diferenciação nos mercados. Hoje os consumidores estão mais
informados e exigentes originando uma maior presença do conceito de qualidade na sociedade
tornando-o um factor de competitividade entre as empresas. O conceito qualidade está sob a
forma de certificação de produtos ou procedimentos de gestão dos processos da empresa, com
vista a garantir a satisfação do cliente e a diferenciação dos seus produtos ou serviços.
Numa perspectiva técnica, o caso da Norma ISO 9000, a qualidade é definida como a
totalidade das características de um produto, processo, organização, pessoa, actividade ou
sistema que lhe confere a capacidade de satisfazer necessidades explícitas e implícitas. Para
que a qualidade seja mensurável, é necessária uma definição mais pragmática e objectiva. As
definições apresentadas por Juran e Gryna (1993), “adequação à finalidade”, e por Crosby
(1979), “conformidade com os requisitos”, aproximam-se desses objectivos. No sector da
construção, de acordo com Kazaz et al. (2005), a qualidade é entendida como a capacidade
de cumprir os requisitos contratualizados com os clientes.
A Norma NP EN ISO 9000 (Comité Europeu de Normalização 2005) define qualidade como
“o grau de satisfação de requisitos dados por um conjunto de características intrínsecas”. De
uma forma mais ampla, a British Standard BS4778 (British Standards Institution 1971)
define-a como “o conjunto de propriedades e características de um produto ou serviço
relacionadas com a capacidade de satisfazer exigências expressas ou implícitas”.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Nas empresas de construção de edifícios, pelas próprias peculiaridades do mercado
consumidor, a motivação pela implementação de um sistema da qualidade deve estar
predominantemente vinculada à redução de custos finais dos produtos, já que hoje existe a
consciência de que se deve buscar maior competitividade e que as perdas no processo de
produção, os custos de trabalho e correcções pós-venda são significativos, embora nem
sempre conhecidos (Melhado, 1994).
O sector da construção civil é uma indústria que vem sido caracterizada pela inexistência de
normas ou códigos técnicos que estabeleçam uma padronização do seu principal produto, a
edificação, admitindo-se que nem é possível estabelecê-las, uma vez que a variação das
condicionantes é superabundante. Existem alguns padrões a respeito de trechos de edifícios
específicos, alguns relativos ao seu desempenho global e muitas normas relativas aos seus
componentes, mas estes são os produtos de uma fabricação em série e, por isso, pertencentes a
um domínio diferente (Amorim, 1998).
Esta preocupação com a qualidade é provavelmente tão antiga quanto o fabrico de produtos,
mas foi a Revolução Industrial que motivou as alterações no modo de a avaliar. A explosão
no número de artigos produzidos em série impedia a verificação da conformidade de todos.
Era agora impraticável e dispendiosa a verificação e possível correcção a posteriori de um
produto; tornava-se mais rentável o fabrico de produtos por lotes, acabando por se eliminar
aqueles cuja amostra avaliada se mostrava não-conforme. Mais importante ainda, a
verificação da qualidade ia progressivamente desviando o foco no produto e centrando a
atenção no processo de fabrico do mesmo. Estudando as diversas etapas de produção,
procurava-se reduzir ou eliminar as imperfeições do produto final. Surgem assim as primeiras
normas e especificações na área da garantia de qualidade (Fisher e Nair 2009).
A experiência tem mostrado que as pressões da concorrência e da globalização têm motivado
o desenvolvimento de fortes culturas e gestão baseadas na qualidade. No pós-segunda Gerra
Mundial, a melhoria da qualidade foi um ingrediente essencial na competitividade
internacional dos produtos Japoneses. Só na década de 80 o ocidente procurou aplicar as
práticas de gestão que levava o Japão a produzir artigos de qualidade superior, com menos
desperdício, ciclos de produção mais rápidos e a um custo inferior (Cole, 2000).
As primeiras tentativas para o enquadramento dos conceitos da qualidade no sector da
construção em Portugal remontam aos anos sessenta, quando os Donos de Obra começaram a
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
manifestar preocupações ao nível de prazos e custos. Este facto originou diversos estudos de
planeamento e controlo nas décadas seguintes, mas durante muito tempo a gestão da
qualidade baseava-se em factores como a experiência, memória e intuição (Lopes, 1998).
A Normalização existente não evidencia compatibilidade com as especificidades da Industria
da Construção. As metodologias de controlo de qualidade modernas nasceram de indústrias
cujas linhas de produção apresentavam reduzida variabilidade e onde estava envolvido um
número de especialidades. No sector da Construção verifica-se o oposto: não só as condições
de produção dos edifícios são constantemente alteradas (equipas de projecto com diferentes
membros, locais de obra e construtores diversos, condições atmosféricas variáveis) como cada
elemento físico da construção tem, frequentemente, de possuir um conjunto de propriedades
que garantam o cumprimento das exigências mais variáveis, muitas vezes antagónicas (Costa,
1995).
A qualidade é um factor de aumento da produtividade e do desempenho de uma empresa. Cho
e Pucik (2005), referem os estudos de diversos autores em que estes dizem que, quanto maior
for a qualidade maior, é o desempenho de uma organização. A qualidade está associada à
ausência de não conformidades e outros problemas menores que alterem o desempenho de
uma organização. Esta ausência vai interferir com o desempenho da empresa, levando a um
aumento da rentabilidade e, por consequência, uma possível diminuição dos custos de
produção e de venda do produto.
A qualidade também está relacionada com a capacidade de uma empresa determinar os
requisitos dos clientes e, nesse sentido, ser capaz de determinar e antecipar, as necessidades e
aspirações dos clientes e de negociar com estes as suas necessidades e aspirações procurando
obter novos meios de as satisfazer (Hawk, 2006). Este mesmo autor, refere que a qualidade é
importante para melhorar os processos de produção, mas que pode ser um factor impeditivo
da inovação, que considera mais importante para o futuro do sector.
A qualidade, como uma forma de obter vantagem competitiva numa empresa de construção,
para (Kale e Arditi, 2002), é limitada pelo papel que a empresa desempenha no processo
construtivo. Se uma empresa de construção apenas intervir no processo de construção, fica
limitada ao nível de qualidade exigida pelo projecto. Assim não lhe é exigido que melhore o
desempenho e a adequação ao uso do bem que está a construir, uma vez que tem de utilizar os
materiais e produtos especificados, de acordo com o processo de construção indicado. Mesmo
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
nestas condições, a empresa pode dar o seu contributo propondo alterações às especificações,
que tenham por objectivo melhorar a qualidade do produto. A possibilidade de influenciar a
qualidade do produto da construção, aumenta se a empresa tiver maior participação na
concepção do projecto. No entanto, quer a empresa construtora participe ou não na
concepção, o seu nome e responsabilidades ficarão sempre associadas à construção. A
empresa deve ter todo o interesse em que o produto final seja adequado ao fim a que se
destina e que tenha o desempenho pretendido pelo cliente e utilizadores do bem a construir,
porque disso vai depender a sua reputação em construir produtos com qualidade.
Em Portugal, a dificuldade de implementação de Sistemas da Qualidade na construção é
comprovada pelo ainda reduzido número de empresa certificadas pela ISO 9001 que em
Fevereiro deste ano eram 561. Estas estatísticas depois de um aumento recente tem vindo a
reduzirem devido aos efeitos da crise instalada no sector que eliminou empresas que detinham
a certificação (IPAC, 2013). No final de 2011, existiam no sector da construção 23.555
empresas habilitadas com alvará e 37.693 com título de registo (INCI, 2011).
A certificação pela ISO 9001 é uma demostração e boa intenção da empresa certificar
processos e procedimentos internos no entanto não podemos afirmar ou garantir a qualidade
final do produto de uma empresa de construção apenas pela sua certificação. No entanto é
sempre uma mais-valia na uniformização dos processos internos e para a melhoria contínua.
A evolução dos requisitos dos produtos da construção na sua fabricação para a certificação do
mesmo e agora com algumas certificações CE de montagem e instalação revelam a
necessidade de criar métodos para garantir a qualidade do produto final da construção. É
preciso distinguir o comportamento de materiais isolados e de sistemas compostos por vários
materiais que poderão ou não ser compatíveis numa construção. Não se deveria certificar
apenas materiais, dever-se-ia promover o estudo e certificação de sistemas construtivos.
A implementação, regulamentação e controlo da qualidade é, a nível nacional, da
responsabilidade do IPQ, Instituto Português da Qualidade, que tutela o Sistema Nacional da
Qualidade (SNQ). O IPQ é responsável por gerir e desenvolver o referido sistema,
assegurando a presença Portuguesa nos organismos para a qualidade a nível internacional. O
Instituto é também responsável pelo Laboratório Central de Metrologia, pela informação
técnica na área da qualidade e pela secretaria nacional do Conselho Nacional da Qualidade,
gerindo ainda os programas de apoio financeiro no domínio da qualidade. Este organismo é
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
membro da Internacional Organisation, for Standartisation, ISO, que promove a pesquisa e
desenvolvimento para normalização internacional desenvolvendo as normas ISO, cuja
adopção tem sido cada vez mais corrente a nível internacional e nacional. O IPQ recorre a
órgãos consultivos para adaptação das normas à realidade Portuguesa. Uma norma ISO
harmonizada a nível Europeu e adoptada a nível nacional recebe a classificação de NP EN
ISO (NP de Norma Portuguesa, EN de Norma Europeia e ISO de Internacional Standard).
Para além do IPQ integram o Sistema Português da Qualidade, o Conselho Nacional da
Qualidade, que constitui um órgão consultivo do Governo no âmbito da política da Qualidade
e desenvolvimento do SPQ e as entidades acreditadas e qualificadas para tal âmbito das
subsistemas da Metrologia, da Normalização e da Qualificação.
As empresas de construção podem de forma voluntária, candidatar-se à certificação, através
de uma entidade, acreditada pelo IPQ, no âmbito da ISO 9001:2008.
O processo de candidatura consiste na implementação de uma política da qualidade,
estruturando um sistema da qualidade a implementar na empresa. Esta fase é normalmente
acompanhada por uma empresa especialista na área da Qualidade. A aferição da
implementação é feita através de auditorias internas, sendo a certificação final feita por uma
empresa acreditada no IPQ para o efeito, através de uma auditoria externa de certificação.
O sistema Português da Qualidade pode coexistir com outros sistemas de apoio à qualidade.
Entre estes sistemas, destaca-se em Portugal a Marca de Qualidade LNEC. O Sistema da
Marca da Qualidade LNEC baseia-se essencialmente no acompanhamento de todo o processo
do empreendimento, desde da sua concepção até à sua conclusão da construção por um Gestor
Geral da Qualidade. O Gestor Geral da Qualidade LNEC está permanentemente em contacto
com o Dono de Obra e o LNEC fazendo a apreciação das propostas, zelando pela qualidade
do projecto, dos fornecedores e da execução. Diferentemente dos sistemas baseados nas séries
ISO 9000 que atestam a apetência de um sistema organizacional para uma produção com
qualidade, a marca LNEC certifica o produto o que, no caso de uma construção, será feito
caso a caso.
A França e a Suíça desenvolveram para os edifícios de habitação, sistemas para garantia de
qualidade das construções, a marca QUALITEL e o sistema SEL (Système dÉvaluation des
Logements). A marca QUALITEL, baseia-se no acompanhamento do empreendimento desde
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
39
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
da concepção até à execução com base na observação de treze critérios devidamente
pontuados.
2.4 Factores que Condicionam a Qualidade de um Empreendimento
Os sectores da construção e promoção imobiliária atravessam momentos difíceis conforme
referido anteriormente, sendo hoje aceite que o sucesso de um empreendimento está
directamente relacionado com sua a qualidade global. Esta exigência de qualidade deve ser
entendida em todas as vertentes do empreendimento, sabendo-se que a ocorrência de erros
numa das suas partes pode pôr em risco o sucesso do mesmo.
Figura 3 – Modelo típico de um processo de construção (Aoieong et al., 2002)
A complexidade do processo de construção conforme apresenta a figura 3, obriga à
conjugação dos trabalhos dos diversos especialistas e intervenientes no processo de
concepção e produção. O projecto e obra dependem de diversas entidades independentes que,
no entanto, têm de coordenar o seu esforço no sentido de optimizar o produto final e os
processos para a sua produção. Não obstante a diversa regulamentação existente é necessário
ultrapassar obstáculos de informação e conseguir compromissos para a construção de cada
obra. A optimização de todo o processo torna-se mais difícil de conseguir do que na produção
industrial, onde o processo envolve muitas vezes a mesma unidade espacial, sobretudo,
quando cada novo edifício significa recomeçar a constituição de toda uma cadeia de
40
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
comunicação que terá de ser o mais eficiente possível ao longo de todo o período de execução
de uma obra.
O Ambiente produtivo do sector da construção tem aspectos relevantes como:
 Esquema de produção não repetitivo;
 Número elevado de elementos operacionais;
 Grande independência no desenvolvimento de cada actividade;
 Dificuldade na compreensão das especificidades de cada actividade por elementos da
equipa envolvidos em outras especialidades;
 A produtividade depende muito da experiência profissional, meios de produção e da
organização que é o factor mais importante para a produtividade;
 Ligações entre diferentes especialidades. Engenharia estrutural, electricidade e
comunicações, Arquitectura, engenharia mecânica, consultores especializados –
produção;
Figura 4 – O ciclo de qualidade e as relações entre as fases do empreendimento (Melhado, 1994).
É imprescindível dominar todo o ciclo de qualidade e as relações entre as fases do
empreendimento conforme se apresenta na figura 4. Melhado em 1994 representou um ciclo
relacional entre as diferentes fases, colocando o projecto no centro do ciclo com relações
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
41
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
directas com todos as fases desde do fabrico e fornecimento, à execução e sem esquecer a
utilização e manutenção do empreendimento. Nas últimas décadas tem havido uma
consciencialização crescente quanto à falta de qualidade dos produtos desta indústria, pelo
aumento de pressões dos utilizadores sobre as garantias de obra e pelos empreiteiros que
pretendem reduzir os custos de pós-venda e reclamações. Tem-se mostrado que a principal
causa do aparecimento de patologias em edifícios está relacionada com a falta de qualidade
dos projectos, erros de execução, má qualidade dos materiais e falhas de utilização e
manutenção dos edifícios.
A investigação de Love e Edwards (2004) identificou cinco causas subjacentes à ocorrência
de repetição de trabalhos nos projectos de construção examinados. Essas causas são expostas
em seguida, acompanhadas de uma breve descrição da forma como cada uma se revelou nos
casos de estudo:
1. Desconhecimento das exigências dos utilizadores finais: No Empreendimento x, os
compradores dos apartamentos deram origem à maioria das alterações realizadas ao
projecto. No Empreendimento y quase todo o trabalho repetido como consequência de
pedidos de alteração do cliente/utilizador final deveu-se à insuficiente ou inadequada
intervenção destes nas fases anteriores às fases de projecto e de construção.
2. Documentação de contrato fraca: As equipas de projecto não foram coordenadas e
integradas com eficácia durante a fase de projecto pelo director de empreendimento do
dono de obra. O espaço de tempo para realizar o projecto foi insatisfatório e
projectistas inexperientes foram contratados para a realização dos projectos. A
combinação destes factores motivou a existência de erros e omissões na documentação
de contrato. Para além disto foi revelado que os projectos técnicos não foram revistos
depois de realizados
3. Baixo nível da mão-de-obra: Um grande número de erros ocorridos em ambos os
estaleiros teve como consequência a repetição dos trabalhos. Muitos dos erros
deveram-se à fraca qualidade da mão-de-obra ou a negligência por parte dos
subempreiteiros. Os erros cometidos por um subempreiteiro podem ter um impacto
adverso nas subempreitadas seguintes.
4. Falta de orientação para a qualidade: No Empreendimento Y, as instruções dadas
pelo encarregado não foram formalmente documentadas apesar de este procedimento
ser um requisito do sistema de garantia de qualidade implementado. O encarregado
42
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
afirmou que os episódios de repetição de trabalhos não foram documentados devido à
sua reduzida disponibilidade de tempo. Uma vez descoberto este problema, o director
de empreendimento incumbiu o encarregado de documentar todas as futuras
instruções, com o intuito de reduzir os riscos de disputas e de potenciais aumentos nos
custos.
5. Fraca supervisão e inspecção: Em ambos os empreendimentos o encarregado não
inspeccionou o trabalho dos subempreiteiros de forma regular, o que levou a que os
trabalhos mal executados só tenham sido detectados em fases adiantadas da
construção. Nessa altura muitos subempreiteiros já haviam deixado o estaleiro, sendo,
por isso, obrigados a regressar para rectificar o trabalho. Um factor comum e
recorrente que contribuiu para a realização incompleta de trabalho foi o mau
planeamento.
As obras são construídas nos locais a que se destinam o que leva à deslocação e
implementação no local de toda uma unidade de produção implicando o recrutamento e
destacamento de mão-de-obra necessária, a criação de infra-estruturas e a mobilização de
equipamento e de meios para os locais específicos da edificação. As condicionantes locais
incidem inevitavelmente na forma de produção do edifício. As condições geotécnicas,
sísmicas e climáticas, as edificações contíguas e infra-estruturas existentes, entre outros
factores, obrigam a que cada projecto seja adaptado à sua envolvente e que cada obra seja
gerida e controlada em função da zona em que se insere. (Sequeira, 2003)
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
43
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
2.5 Custos de não Qualidade
A complexidade associada à produção na construção é um dos principais motivos para que
aplicação do conceito de custos relacionados com a qualidade seja mais problemática na
indústria da construção. A produção nesta indústria envolve um vasto número de
intervenientes e, ao contrário do que acontece na indústria fabril, a maior parte dos projectos
são únicos, com actividades que não se repetem, o que dificulta a sua sistematização (Low e
Yeo, 1998; Aoieong et al., 2002). São diversas as vantagens associadas ao conhecimento dos
custos relacionados com a qualidade na indústria da construção. Aoieong et al. (2002)
referem as seguintes:
 Alertar a direcção das empresas para o potencial impacto da má qualidade;
 Ajudar a direcção das empresas a determinar quais as actividades com maior potencial de
redução dos custos totais da qualidade;
 Alertar todos os funcionários da empresa para a importância dos trabalhos relacionados
com a qualidade;
A análise dos custos relacionados com a qualidade possibilita o conhecimento dos pontos
fortes e fracos de um sistema de gestão da qualidade, assim como a identificação das falhas
ocorridas durante o desenvolvimento de um projecto de construção, o que ajuda a evitar a
ocorrência dos mesmos erros, ou de erros semelhantes, no período remanescente do projecto e
em projectos futuros.
O custo médio da correcção de anomalias da não qualidade é cerca de cinco vezes superior ao
custo adicional que existiria para a execução correcta à primeira, representando o custo de
não-qualidade cerca de 10% dos custos totais da construção. (Paiva, 2002)
Um estudo da Chalmers University of Technology da Suécia apresentou um estudo acerca dos
custos internos de não qualidade conforme gráfico abaixo onde evidencia que a maior
percentagem dos custos de não qualidade estão na gestão da produção, seguindo-se o
projecto, a execução e os materiais.
44
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Outros
Equipamentos de Construção
Materiais
Execução
Gestão da Produção
Projecto
Cliente
0%
5%
10% 15% 20% 25% 30% 35% 40%
Gráfico 4 – Adaptado da Chalmers University of Technology, Caracterização dos custos de não qualidade.
Foster em 2006 apresentou um modelo de relação inversa entre os custos da qualidade
(prevenção e avaliação) e os custos da não-qualidade (falhas). Um aumento do investimento
em actividades de prevenção e avaliação da qualidade tem como consequência o aumento do
nível de qualidade e, consequentemente, a redução das despesas com as falhas de qualidade.
Os desvios de qualidade têm consequências a nível financeiro quando implicaram a repetição
ou reparação de um trabalho já executado. O mínimo da curva dos custos totais da qualidade
corresponde ao nível de defeitos óptimos ou nível de qualidade óptimo, dependendo do que é
representado nas abcissas do gráfico abaixo.
Gráfico 5 – Relação clássica entre custos relacionados com a qualidade e o nível de qualidade (Foster, 1996).
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
45
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Por vezes os sistemas da qualidade sobrecarregam as empresas de burocracias que fazem com
que os colaboradores não aceitem ou revelem inércia para a sua aplicação dentro da empresa,
dai os custos da não qualidade serem difíceis de apurar no entanto são essenciais para que a
empresa sinta, controle a qualidade do seu produto e reduza os seus custos desnecessários
com o desperdício e repetição de trabalho. Assim devemos de aplicar um sistema de gestão
ágil e simples para que possamos obter dados eficientes e úteis à organização (Almeida,
2011).
Muitas vezes os custos relacionados com a não-qualidade não são registados formalmente, em
particular os relacionados com as falhas ocorridas durante as fases de projecto e de
construção. A existência de métodos que permitam o registo destas falhas de uma forma
sistemática e expedita são essenciais para uma completa percepção dos custos relacionados
com a não-qualidade na indústria da construção. Estes sistemas devem ser um complemento
às técnicas que habitualmente são utilizadas na identificação e quantificação dos custos na
construção. Apenas a quantificação dos custos da não-qualidade permite saber qual o estado
de eficiência dos processos das empresas. A execução de uma obra pode ter o mesmo nível de
qualidade e custos da não-qualidade diferentes residindo ai um factor de sucesso.
Quando os custos da não-qualidade são demasiado elevados é sinal que os procedimentos
estão desajustados ou que, não estando desajustados, não estão a ser seguidos, o que tem
consequências não apenas financeiras, mas também na moral dos trabalhadores, a quem
desagrada trabalhar numa empresa caracterizada por uma grande incidência de falhas. O
conhecimento destes custos é um meio para o reconhecimento da origem e das causas da nãoqualidade, algo fundamental para a sua redução. Identificar os pontos que originam mais
custos de não-qualidade (desperdícios, atrasos, repetição de tarefas, custos de pós-venda,
garantias, não-conformidades, ociosidade das frentes de trabalho). A não-qualidade tem
consequências que vão além do seu efeito directo nas actividades ligadas aos projectos de
construção, casos das rectificações ou repetições de trabalhos. A este fenómeno estão
associadas consequências indirectas, como os atrasos nos trabalhos, e intangíveis, caso da
perda de reputação e consequente perda de futuros clientes.
Custos da não-qualidade, devem ser vistos como um processo de melhoria continua onde se
identifica os pontos críticos e se propõem soluções com vista ao aumento da eficiência e à
redução dos custos e redução dos desperdícios contribuindo para uma construção mais
46
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
sustentável e não apenas como uma identificação dos responsáveis pela não-qualidade. O
receio do escrutínio das suas actividades é, possivelmente, uma das razões pela qual os
intervenientes na indústria da construção não demonstram maior interesse no conhecimento
destes custos (Couto, 2006).
O tema Custos da Qualidade foi inserido no contexto académico por Juran na sua obra
Quality Control Handbook (1951), que no primeiro capítulo dissertava sobre economias da
qualidade, no qual estavam colocados os custos da qualidade. Desde esse evento surgiram
teorias sobre o assunto, a seguir expõe-se algumas dessas teorias de vários autores no quadro
seguinte.
Quadro comparativo – Definição - Custos da qualidade
“os custos da qualidade são definidos como quaisquer despesas de fabricação ou de
Garvin (1992)
serviço que ultrapassem as que teria havido se o produto tivesse sido feito ou o serviço
tivesse sido prestado com perfeição da primeira vez”.
Feiganbhaum
os custos da qualidade não deveriam existir com este nome, mas sim, custos da não
(1994)
e
Campanella
qualidade (ou má qualidade), entretanto, são conhecidos e chamados de custos da
qualidade
(1999)
Campanella
os custos da qualidade servem de ferramentas para a gestão, o aperfeiçoamento da
(1999)
qualidade e, ainda, contribuem para o lucro. Para desenvolver os conceitos dos custos da
qualidade é necessário esclarecer a diferença entre estes custos e os custos para
organização e certificação da qualidade.
Crosby (1979)
um dos conceitos de custos da qualidade é o catalisador que leva a equipa da melhoria da
qualidade e o restante da gestão, à plena percepção do que está acontecer
Dale & Vand
declaram que, é através do estudo dos custos da qualidade em empresa de manufactura que
(1999)
será possível fornecer os seguintes motivos para as empresas se interessarem por custos da
qualidade:
i) os custos da qualidade podem ser um meio de mensurar o sucesso das empresas no seu
esforço de aperfeiçoamento;
ii) o baixo lucro da empresa pode indicar previamente a necessidade de controlo dos
custos da qualidade e relacioná-los com as vendas.
Hansen
&
Mowen (2001)
os custos da qualidade podem ser altos e, por isso, podem ser uma fonte óptima para
redução de custos na economia da empresa
Quadro 4 - Quadro comparativo definição de custos da Qualidade
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
47
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
O conhecimento do porte e natureza dos custos da não-qualidade, colocando os
administradores conscientes dos problemas e dos motivos para se interessarem pelo
aperfeiçoamento contínuo. Sabendo que existem outros custos nomeadamente das não
conformidades resultantes da execução da obra que causam ociosidade nos rendimentos das
equipas, paragens de frentes e custos acrescidos devido a falta de planeamento ou erros de
execução ou mesmo quando se trata de erros de projecto é um indicador que poderíamos
analisar melhor para evitar erros durante a execução (Almeida, 2011).
Dispor de uma certificação de sistemas da qualidade não quer dizer que seja compatível com
o uso que vai ser dado à construção. É necessário uma capacidade pericial, fundamental na
engenharia e na arquitectura, para verificar se os produtos inovadores são adequados ao uso
que vão ter. Este é um processo que tem a ver com o projecto e tem a ver com o “por em
obra”, exigindo um rigoroso controlo em obra, incluindo no âmbito da fiscalização (Couto &
Couto, 2007).
Existem determinados pontos críticos na construção já há muito identificados no entanto
muitas das empresas de construção continuam a falhar, reduzem exageradamente os custos,
reduzem os prazos de construção. Para uma melhoria de desempenho é necessário uma atitude
de controlo da qualidade muito elevada na fase de projecto e em fase de obra.
Os autores concluíram então que os desvios ocorridos nas fases de projecto e de construção
são responsáveis pela quase totalidade dos custos incorridos pelas empresas com os desvios
de qualidade. A fase de projecto é, em particular, uma fase sensível dos empreendimentos
uma vez que os desvios ocorridos ou originados nesta fase foram, em média, 78% do número
total de desvios e perfizeram, em média, 79% do custo total dos desvios.
Causas dos Custos de Não Qualidade
Abdul-Rahman et al. (1996)
Subempreiteiros
Coordenação e planeamento
Relacionado com a construção
Marcações de posicionamento
Hammarlund et al., (1990)
Fase de produção (direcção e mão de
obra)
Projectos técnicos
Materiais
Dono de obra ou Cliente
%
40,10%
16,30%
13%
7,03%
54%
20%
20%
3%
Quadro 5 - Comparativo de autores de causas dos custos de não-qualidade
48
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Autores
Love e Edwards (2005)
Paiva (2002)
Baber et al. (2000)
Love e Li (2000)
Josephson e Hammarlund (1999)
(Hammarlund et al., 1990)
Média do production cost
(%) Custos médios da não qualidade
relativamente ao orçamento
(production cost)
12,00%
10,00%
5,10 %
2,80%
4,90%
6,00%
6,80%
Quadro 6 - Comparativo dos custos médios da não qualidade relativamente ao custo de produção
Josephson e Hammarlund (1999) apontam algumas causas de raiz para a existência dos
defeitos encontrados na sua investigação:
1. Falta de estabilidade na organização do cliente/dono de obra – alteração frequente de
pessoas chave;
2. Fraco controlo do empreendimento por parte do cliente – muitas vezes o cliente demorou
excessivamente a tomar decisões necessárias aos projectistas e empreiteiros, o que
motivou alterações frequentes no planeamento destes últimos;
3. Envolvimento tardio do utilizador final – em alguns empreendimentos os utilizadores
finais visitaram o estaleiro numa fase adiantada da obra e, consequentemente, deram as
suas opiniões demasiado tarde;
4. Espaço de tempo reduzido para execução do empreendimento;
5. Composição da estrutura organizacional do empreendimento – nos empreendimentos em
que as pessoas envolvidas já haviam anteriormente trabalhado em conjunto os trabalhos
decorreram consideravelmente melhor do que nos empreendimentos em que tal não
aconteceu;
6. Pressão para minimizar o custo dos empreendimentos – esta pressão propagou-se do
cliente para o empreiteiro, deste para os subempreiteiros e por ai em diante;
7. Reduzido apoio à direcção de obra por parte da administração das empresas de
construção;
8. Escassez de acções de motivação dos trabalhadores de obra;
Love e Edwards (2005) propuseram-se estimar o custo total (custo directo e indirecto) da
repetição de trabalhos na indústria da construção australiana. Entre outras questões, foram
interrogadas as causas da repetição de trabalhos, os custos directos e indirectos associados a
essa repetição e as práticas de gestão promovidas nesse projecto. Para efeitos do seu trabalho,
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
49
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
Love e Edwards (2005) utilizaram a definição de repetição de trabalhos anteriormente
apresentada por Love et al. (1999): “esforço dispensável de refazer um processo ou actividade
que foi implementado(a) incorrectamente na primeira ocasião”. As respostas ao questionário
dividem-se da seguinte forma por classe de respondente:
1. Consultores de projecto (designação dada ao grupo formado por arquitectos,
inquiridores de qualidade e engenheiros de estruturas, mecânicos e eléctricos) – 44%
2. Empreiteiros – 33%
3. Directores de empreendimento (normalmente são o representante do dono de obra nos
empreendimentos) – 23%
Love e Edwards (2005) calcularam o custo total médio da repetição de trabalhos em 12% do
valor de contrato (contract value), sendo este valor a soma de 6,4% de custos directos e de
5,6% de custos indirectos.
A demarcação dos custos relacionados com a qualidade dos restantes custos é contudo
essencial para que se possa, entre outros aspectos:
 Conhecer o impacto da não-qualidade;
 Determinar as actividades de promoção da qualidade mais eficazes na redução do
valor total destes custos;
 Comparar este tipo de custos entre os vários projectos de uma empresa ou,
inclusivamente, entre empresas
Estudos efectuados na União Europeia apontam para entre 10% a 18% dos gastos na
construção serem empregues na eliminação de erros devidos à não qualidade (Dias, 1998).
Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos apresentam os seguintes indicadores de nãoqualidade do sector:
 30% da actividade da construção é repetição de trabalho (trabalho realizado duas
vezes);
 A força de trabalho é usada até 40% - 60% da sua potencial eficiência;
 Pelo menos 10% de material é desperdiçado;
50
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
A utilização de medidas precisas em programas de melhoria visa assegurar o retorno dos
investimentos através da redução dos custos da não qualidade, pretendendo sempre a
satisfação total do cliente. A definição de uma estratégia competitiva sustentável centrada na
qualidade e nos custos requer a avaliação dos custos que envolvem a área da qualidade da
empresa, assim aumenta a eficiência nas decisões envolvendo a estratégia.
A figura 5 apresenta um resumo dos custos de não-qualidade e custos de qualidade mais
comuns a considerar numa organização.
Custos de não Qualidade
Custos de qualidade
•Custos de falhas internas;
•Correcções de projectos elaborados na empresa;
•Deficiências no planeamento e propostas;
•Falhas no sistema de aprovisionamento;
•Repetição de trabalhos e correcção de defeitos;
•Avarias de equipamentos;
•Aratamento de reclamações de clientes;
•Reparações dentro do período de garantia;
•Compensações,multas e outros custos legais;
•Custos com pessoal do sector de qualidade da empresa;
•Formação para a qualidade;
•Auditorias internas de qualidade;
•Acreditação e monitorização de fornecedores;
•Controlo e monitorização de materiais e produtos;
•Controlo interno da qualidade durante a obra;
•Equipamentos de controlo de qualidade;
•Inspecções e ensaios a realizar;
Figura 5 – Custos de não qualidade e custos de qualidade
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
51
CAPITULO II – Caracterização Actual do Sector da Construção
52
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
CAPÍTULO III – Compreender as causas das patologias nas
diferentes fases de um empreendimento
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias na diferentes Fases de um Empreendimento
54
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
3.1.
Patologias em edifícios recentes
A aquisição ou construção de um empreendimento envolve sempre esforço financeiro e
expectativas quanto ao seu desempenho em termos de conforto, de segurança e de
durabilidade. As inúmeras anomalias surgidas quer ainda durante o período de construção,
quer logo no período inicial da sua utilização, poderá traduzir a falta de qualidade do projecto
de execução, dos processos construtivos e dos materiais aplicados ou, especialmente, da sua
incorrecta implementação/execução. Ocupando uma posição chave na nossa economia o
sector da construção deveria constituir um sector industrial modernizado, qualificado,
motivado e prestigiado, bem como produzir com qualidade. Infelizmente a realidade nem
sempre satisfaz estes requisitos.
Apesar de existir uma crescente preocupação com a qualidade da construção, muitos edifícios
construídos nos últimos anos não apresentam o desempenho e durabilidade esperada. O
aparecimento recorrente de determinadas anomalias, devidas a problemas de construção e de
projecto, é determinante para a competitividade das empresas de construção. A construção,
considerada como um processo cumulativo desde a sua génese até à sua conclusão, é propícia
a acumular diversos tipos de erros aos longos das suas diferentes etapas (Sequeira, 2005).
No ano de 2003, a revista Deco/Proteste, recebeu cerca de 2500 reclamações de defeitos em
construções ainda no prazo de garantia de cinco anos, mas a solução destes problemas tornou-se num processo muito moroso, que acabou em alguns casos no tribunal. Apesar desta notícia
se basear num estudo bastante limitado, permite ter uma noção da falta de qualidade das
construções em Portugal.
Num estudo realizado pela Deco/Proteste, que levou à publicação de um artigo na revista de
Outubro de 2004 “Habitação em Portugal: casas novas com muitos defeitos” Foram
Inspeccionadas 34 casas ainda dentro do período de garantia de cinco anos Estipulado pela lei
e descobriu muitos defeitos de construção. “..as falhas mais frequentes devem-se à má
instalação dos materiais, causando a abertura das juntas no piso flutuante e desníveis entre
os elementos, manchas de humidade são o defeito mais comum.… a caldeira estava mal
localizada e a torneira de segurança de gás num local de difícil acesso….nos tectos, o
problema mais grave é a humidade, com o aparecimento de manchas e fungos devido à má
ventilação ou infiltrações nas cozinhas e casas de banho.” Embora as notícias mencionadas
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
55
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
sejam anteriores à nova e ultima regulamentação dos edifícios, infelizmente continuamos a
registar notícias de patologias em edifícios recentes como os enunciados.
A cinco de Fevereiro de 2013, noticiou-se na comunicação social defeitos numa das obras da
Parque Escolar com investimento de 20 milhões de euros que apresenta problemas de
infiltrações “esta infiltração inunda tectos, paredes e pavimentos do ginásio e balneários…as
portas de acesso ao ginásio com uma envergadura de três metros que correm o risco de
cair”(Engenharia e Construção, 2013).
De referir que apesar das constantes noticias nos meios de comunicação social não existe em
Portugal informação disponível detalhada acerca destes acontecimentos.
“O que me preocupa mais, e que preocupa todos os cidadãos, é o facto de termos 3,5 milhões
de edifícios que estão construídos, muitos deles de péssima qualidade, muitos a precisar de
ser reabilitados e sem condições de requisitos que correspondam sequer aos regulamentos
que estão publicados” (Construção Magazine n.º 54 (Março/Abril 2013), Doutor Helder
Gonçalves, investigador LNEG).
A situação Portuguesa referente às patologias em edifícios recentes é resultado de
incompatibilidades entre os objectivos da construção e as funções que lhes são atribuídas na
prática. Recentemente assistimos ao esforço muito interessante de reabilitação e ampliação
das escolas (Parque Escolar)…os objectivos em termos de funcionamento não são
compatíveis com, por exemplo, os sistemas de tratamento de ar que lá foram introduzidos. Em
geral há incompatibilidade entre os sistemas montados e o orçamento para energia sendo que
essa patologia poderia não existir se tivessem adoptado um conceito de intervenção diferente.
(Trigo, 2012).
Há muitas soluções técnicas que são introduzidas nas construções mas que não são adequadas.
Vivemos num mundo globalizado, as soluções técnicas circulam por toda a parte. Só que em
Portugal temos uma prática de projecto, uma prática de construção e um determinado tipo de
executantes que funcionam com a sua aprendizagem, os seus conhecimentos e as suas
experiências. Quando o executante introduz funções inovadoras que vêm de diferentes
ambientes, pode não estar a fazer uma adaptação adequada. O resultado poderá traduzir-se por
erros graves, por exemplo com materiais a degradarem-se muito rapidamente. Como exemplo
os soletos betuminosos para revestimento de coberturas, sistema importado da Bélgica, no
56
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
entanto este material é incomportável com as temperaturas das nossas coberturas quando
expostas ao sol e ainda para mais da cor preta. Por isso se fala em patologias construtivas em
construções recentes, penso que elas podem resultar da falta de atenção neste processo de
globalização (Trigo, 2012).
A nova regulamentação europeia transposta demonstra uma preocupação com o conforto das
construções e nomeadamente o Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização em
Edifícios (RSECE) Apesar da existência esta regulamentação que promove o conforto nas
construções e preocupações crescentes com a qualidade das construções, a realidade do
mercado não assim demonstra, uma vez que os edifícios recentes muitas vezes não
apresentam a qualidade desejada dando origem a milhares de fogos recentes com graves
patologias, condicionando a sua utilização para o qual foi projectado.
No quadro 7 apresenta-se um resumo das patologias mais comuns e as respectivas causas
associadas.
Tipo de anomalia
Corrosão das armaduras dos
elementos de betão
Fendilhação
Condensação
Infiltrações de humidade
Deformações excessivas dos
elementos estruturais
Segregação do betão
Entupimento de esgotos
Causas Associadas
Recobrimento das armaduras insuficiente;
Omissão no projecto das condições de exposição ambiental e medidas particulares de protecção,
assim como, a composição do betão.
Assentamento das fundações devido a insuficiente informação geotécnica e/ou de utilização do
edifício;
Má concepção face às principais acções;
Quantificação inadequada das acções;
Modelos incorrectos de análise ou dimensionamento;
Fendilhação nas fachadas devida ao deficiente tratamento das pontes térmicas;
Má concepção, originando deficiente ventilação das habitações e variações térmicas significativas;
Deficiente pormenorização das ligações e remates das telas de impermeabilização;
Má concepção (pendentes insuficientes, pormenores construtivos mal concebidos, etc.);
Deficiente isolamento dos elementos construtivos, nas caves, em relação ao terreno;
Assentamento das fundações devido a insuficiente informação e/ou de utilização do edifícios;
Má concepção face às principais acções;
Quantificação inadequada das acções;
Modelos incorrectos de análise ou dimensionamento;
Mau dimensionamento, excesso de armadura, queda do betão a grandes alturas;
Dimensionamento inadequado das tubagens;
Deficiente concepção das caixas de recepção de esgotos e das cotas de entrada e saúde, contribuindo
para deficientes condições de drenagem.
Quadro 7 - Lista sumária de patologias mais comuns em edifícios recentes
3.1.1. Registo de Sinistros na Construção
Em França existe um organismo denominado de Agência de Qualidade da Construção
(Agence Qualité Constrution – AQC) que criou um mecanismo de recolha e análise dos
sinistros declarados às companhias seguradoras, dado que no mercado Francês dispõem de
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
57
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
um seguro obrigatório decenal que permite a recolha destes dados. Através do “Sycodés” é
descrita a patologia, o elemento construtivo onde existe o defeito, a causa que origina a
patologia e os custos de reparação inerentes.
Este sistema existente em França foi criado em 1986 no âmbito da garantia decenal e dos
seguros inerentes: seguro de reparação de danos e de responsabilidade decenal. Os dados
apresentados no quadro abaixo referem-se ao “Tableu du bord” das diferentes publicações ao
longo dos anos que a AQC disponibiliza no seu site. Nestas publicações são analisados os
defeitos de construção e os custos que lhes estão associados tendo em vista o aumento da
qualidade da construção em França.
Da observação da evolução do “Sycodés” ao longo dos anos constata-se que o valor dos
defeitos de execução é superior ao que se verificava no passado, em França. No entanto
registou-se uma redução no peso dos defeitos na fase de projecto. Este acontecimento poderá
ter origem nas diferenças de interpretação dos autores que se dedicam ao estudo desta
temática. Os dados dos sinistros declarados às seguradoras Francesas permitem fazer uma
análise mais detalhada dos diversos elementos construtivos que apresentam patologias.
Patologias em Elementos
1995 a 1999
2000 a 2004
2005 a 2009
2009 a 2011
Infra-Estruturas
7%
7%
8%
8%
Fundações
9%
8%
7%
5%
Estruturas de Suporte
7%
5%
5%
6%
Cobertura Inclinada
15%
14%
14%
13%
Cobertura em Terraço
7%
9%
10%
9%
Fachada
16%
19%
17%
17%
Vãos Envidraçados
8%
7%
6%
6%
Envolvente Interior
Equipamentos
15%
17%
13%
18%
13%
19%
13%
18%
Quadro 8 - Análise dos sinistros em França nos elementos construtivos (Adaptado “Sycodés”, 2012)
58
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
20%
18%
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
Gráfico 6 – Média da percentagem de sinistros ao longo dos anos por elemento de construção (Adaptado
“Sycodés”, 2012)
Se considerarmos os diferentes períodos de construção verificamos que se registou um
aumento nos equipamentos, resultado da nova legislação, e um ligeiro aumento nas coberturas
em terraço e das infra-estruturas. As fundações, estruturas de suporte, coberturas inclinadas,
fachadas, vãos envidraçados e envolvente interior registaram uma ligeira diminuição que
poderá indiciar uma evolução na qualidade da construção nestes elementos.
No gráfico 6 identificamos que os elementos de construção mais susceptíveis de sinistros são
respectivamente os equipamentos, as fachadas, coberturas inclinadas, coberturas em terraço e
envolvente interior sendo que as restante em menor percentagem.
Os defeitos nas fachadas e nos equipamentos dos edifícios estão no topo dos sinistros em
elementos construtivos, representando um valor próximo dos 20%. É de salientar as
coberturas inclinadas e a envolvente interior e as coberturas em terraço com valores entre os 8
a 14%. Os outros elementos encontram-se abaixo dos 8%.
Estes dados estatísticos são essenciais para promover e divulgar boas práticas junto dos
intervenientes do sector da construção por forma a prevenirem durante o projecto e execução
de obra o aparecimento de determinadas patologias que condicionam a qualidade da
construção.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
59
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Infra-Estruturas
Fundações
Estruturas
Cobertura Inclinada
Cobertura Planas
Fachada
Vãos Envidraçados
Revestimentos
Equipamentos
7%
11%
9%
7%
5%
7%
5%
7%
9%
3%
9%
7%
4%
2%
3%
2%
3%
5%
4%
10%
5%
4%
2%
3%
2%
4%
6%
4%
8%
4%
4%
2%
3%
2%
4%
8%
2009 - 2011
2005 a 2009
2000 a 2004
Custo de reparação médio
(euros/reparação)
1995 a 1999
2009 - 2011
2005 a 2009
2000 a 2004
1995 a 1999
% do custo de reparação face ao
custo de construção
7.960,00 €
6.310,00 €
6.680,00 €
6.080,00 €
13.250,00 €
13.310,00 €
15.010,00 €
12.050,00 €
9.640,00 €
9.640,00 €
8.130,00 €
6.820,00 €
5.280,00 €
5.200,00 €
5.050,00 €
4.910,00 €
5.690,00 €
5.810,00 €
4.890,00 €
4.780,00 €
5.600,00 €
4.780,00 €
4.750,00 €
4.560,00 €
4.390,00 €
4.450,00 €
4.260,00 €
3.740,00 €
6.940,00 €
6.590,00 €
6.940,00 €
6.460,00 €
9.640,00 €
9.490,00 €
8.460,00 €
8.160,00 €
Quadro 9 - Percentagem do custo de reparação face ao custo de construção e o custo de reparação
médio (Adaptado “Sycodés”, 2012)
No quadro 9 poderemos observar uma redução geral dos custos de reparação face ao custo de
construção em todos os elementos de construção, tal facto pode ter resultado de uma melhoria
da forma como efectuam as reparações ou até mesmo a redução da gravidade das reparações a
executar. Em relação aos custos de reparação apresentados no quadro 9 e no gráfico 7, denotase que no caso das fundações embora não seja muito frequente o aparecimento de sinistros no
entanto quando estes existem tem custos elevadíssimos uma vez que mexem com uma parte
bastante sensível de uma construção em que os processos construtivos são muito diferentes no
caso de estarem previsto sapatas directas e devido a falta de capacidade resistente do solo
verificado “in situ” haver necessidade de alteração para fundações indirectas. Outros custos de
relevância são os custos de reparação ao nível da estrutura e dos equipamentos. Os de
estruturas pelo mesmo facto das fundações de necessidade de alteração do processo
construtivo e nos equipamentos pelo elevado valor de aquisição. Custos estes que poderão
estar relacionados com falta de manutenção ou cuidados de utilização levando a avarias ou
inutilização dos equipamentos instalados dando a origem à total substituição ou a elevadas
intervenções de reparação.
60
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
10%
9%
8%
7%
6%
5%
4%
3%
2%
1%
0%
Gráfico 7 – Médias dos custos de reparação em % dos custos de construção (Adaptado Sycodés 2012)
Tipo de
Defeitos
Defeitos de
Concepção
Defeitos de
Execução
Defeitos de
Materiais
Defeitos de
Utilização
% do custo de reparação face ao custo de
construção
1995 a
2000 a
2005 a
2009 a
1999
2004
2009
2011
Custo de reparação médio (euros/reparação)
1995 a
1999
2000 a
2004
2005 a
2009
2009 a
2011
11%
8%
10%
8%
12.220 €
12.840 €
14.470 €
12.610 €
6%
3%
3%
3%
5.470 €
5.240 €
5.210 €
4.880 €
7%
4%
6%
5%
6.360 €
6.200 €
7.130 €
6.150 €
5%
2%
2%
2%
5.180 €
7.230 €
4.320 €
3.800 €
Quadro 10 - Custos de reparação, em França, tendo em conta o tipo de defeito (Adaptado “Sycodés”, 2012)
Pela análise do quadro 10, pode constatar-se que os erros decorrentes de concepção/projeto
são os que apresentam custos de reparação mais elevados, bem como percentagem dos custos
de reparação face aos custos de construção. Podemos assim constatar a importância da
responsabilização dos projectistas no acto de construir que afectam incondicionalmente todo o
ciclo posterior ao projecto. De realçar a redução dos custos em todos os tipos de defeitos ao
longo dos anos cumprindo o objectivo para o qual o Sycodés foi criado. Os defeitos de
execução são ao longo dos anos sempre inferiores aos defeitos de materiais relevando a um
aumento significativo da qualidade de execução em França ao longo destes quinze anos. De
realçar a mudança de paradigma dos cuidados de utilização e manutenção dos edifícios
levando a uma redução superior a 50% no período em estudo.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
61
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
3%
Defeitos de Concepção
9%
6%
Defeitos de Execução
Defeitos de Materiais
4%
Defeitos de Utilização
Gráfico 8 – Percentagem dos custos de reparação tendo em conta o tipo de defeitos (Adaptado “Sycodés”, 2012)
Pode-se afirmar que os defeitos de concepção são que maior impacto tem nos custos de
reparação pelas razões atrás mencionadas, seguindo-se os defeitos de materiais que ao se
registarem provocam normalmente a necessidade de substituição do material colocado em
obra. Os defeitos de execução rondam os 4% dos custos de reparação por serem de caracter
pontual e de intervenção rápida. Apesar da grande evolução positiva dos defeitos de utilização
estes continuam ter lugar e peso nas estatísticas evidenciando a necessidade de formar e
informar os utilizadores para os cuidados na utilização e manutenção dos edifícios.
Principais Patologias na Construção
1995 a 1999
2000 a 2004
2005 a 2009
2009 - 2011
Infiltrações
58%
55%
52%
56%
Condensações
1%
2%
1%
2%
Falta de Isolamento
2%
2%
3%
2%
Problemas de Estabilidade
16%
4%
8%
11%
Problemas de estanquidade ao ar
2%
1%
2%
1%
Outros
21%
36%
34%
28%
Quadro 11 - Principais patologias na construção em França, 1995 a 2011 (Adaptado “Sycodés”, 2012)
Através do quadro 11 pode-se avaliar a evolução das principais patologias registadas no
período apresentado em que no geral se apresenta ligeiras melhorias no entanto persistem ao
longo do tempo. Será necessário uma maior atenção e prioridades durante a execução dos
projectos e execução da obra para as patologias acima mencionadas como as infiltrações,
problemas de estabilidade e condensações.
62
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Infiltrações
Condensações
Falta de
Isolamento
Problemas de Estaquidade ao
Estabilidade
ar
Outros
Gráfico 9 – Média das principais patologias na construção em França, 1995 a 2011 (Adaptado “Sycodés”, 2012)
Constata-se através do gráfico 9 que as principais patologias registadas na construção são os
problemas relacionados com infiltrações que correspondem à maior percentagem,
representando mais de metade dos defeitos em construções em França. As patologias
relacionadas com problemas de estabilidade também são significativos, embora se tenha
registado no primeiro triénio uma redução. Relativamente às restantes patologias o seu peso é
pouco significativo, nunca ultrapassando os 3%.
Em Portugal não existem dados relativos a erros ou sinistros na construção apenas podem ser
encontrados em trabalhos académicos de investigação realizados por entidades que se
dedicam a peritagem e afins, não existindo um sistema de recolha de dados dos sinistros
declarados às seguradoras, à semelhança do que acontece em França, através do Sistema de
Recolha de Patologias (Sisteme de Collecte des Désordres – “Sycodés”) (Bento, 2009).
Um estudo do observatório da construção, da responsabilidade da Universidade de Trás-OsMontes e Alto Douro (UTAD), tendo por base 110 inquéritos realizados na zona urbana de
Vila Real aponta para a seguinte caracterização de ocorrência de anomalias. É de referenciar
que alguns dos erros apontados pelos utentes são coincidentes com os erros detectados pelos
empreiteiros, nomeadamente os erros referentes a aparecimento de humidade devido a
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
63
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
problemas de impermeabilização e os erros causadores de patologias no revestimento exterior
do edifício. (Paiva, 2001).
Falta de acesso para deficientes
53,60%
88,20%
Existência de ruídos incómodos
53,60%
Problemas devidos às humidades
60,90%
82,70%
Patologias no interior do edifício
Gastos muitos elevados do edifício
com aquecimento
Gráfico 10 – Ocorrência de anomalias apontadas pelos utentes (Paiva, 2001)
3.2.Principais Causas das Patologias em Edifícios Recentes
A melhoria do ciclo de qualidade envolve a actualização contínua de informação em todas as
fases do empreendimento, sendo esta veiculada a todos os seus intervenientes, afim de estes
melhorarem a sua prestação evitando cometer erros passados e melhorando a qualidade na
construção. Contudo, as anomalias em edifícios, podem ter ou ser conjugação de várias
causas, dividindo-se estas em quatro grandes campos como se apresenta no gráfico 11.
Gráfico 11 – Causas de anomalias em Edifícios (Adaptado Paiva, 2002)
Será assim necessário, um maior investimento nas fases iniciais de concepção, projecto,
fiscalização e construção, a fim de reduzir os custos a longo prazo de exploração e
manutenção, conseguindo, no final, uma redução dos custos totais do empreendimento.
(Paiva, 2002). O gráfico 6 apresenta os defeitos de projecto como principal causa dos defeitos
em edifícios, seguindo-se os defeitos de execução, defeitos de materiais e defeitos de
utilização.
64
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Gráfico 12 – Causas de anomalias em Edifícios (Brito, 2005)
Como se pode constatar nos gráficos 12,13 e 14 e quadro 9 são vários os autores que
apresentam estudos procurando quantificar as principais causas das patologias em Edifícios.
Quadro 12 - Principais causas das patologias em edifícios (Adaptado: Esteves, 2008; Bento, 2009 e
Sycodés 2012)
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
65
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
60%
50%
50%
40%
33%
30%
20%
12%
11%
10%
0%
Erros de
Projeto/Conceção
Defeitos de Materiais
Erros de Execução
Defeitos de Utilização
e outros
Gráfico 13 – Médias dos diferentes estudos apresentados na quadro anterior (adaptado: Esteves, 2008, Bento
2009 e Sycodés 2012)
Embora os diferentes estudos analisados tenham ligeiras discrepâncias entre os resultados
obtidos, numa visão global indicam a fase de projecto e de execução como as principais
causas das patologias nos edifícios, seguindo-se os defeitos de materiais e os defeitos de
utilização e manutenção. Analisando o gráfico 13 com as médias dos diferentes estudos
apresentados na quadro anterior, evidencia-se claramente que erros de execução e erros de
projecto/concepção como as principais causas das patologias em edifícios.
O projecto, entendido como forma de antecipação da construção, é uma das etapas onde se
concentram grande parte dos erros posteriormente materializados em obra. A fase construção,
dada a sua dimensão e multiplicidade de intervenientes, tende a “construir” os erros de
projecto e a agravá-los com erros próprios da actividade de construção propriamente dita. Os
tipos de erros com expressão considerável na qualidade da obra; a) os erros com base na
ausência ou insuficiências do projecto de execução; b) os erros de construção com
manifestações de patologias estruturais; c) erros ao nível das interfaces dos diversos
elementos construtivos; d) os erros de organização, gestão e planeamento de obra
(Sequeira,2005).
Segundo estudos de França (Bureau Securitas) e do Canadá (CMHC) indica que até ao 5.º ano
manifesta-se a maioria dos principais defeitos (70-80%).
O mau estado de conservação dos edifícios pode ser causado por factores que vão para além
da sua deficiente utilização. As primeiras fases do ciclo de vida de um edifício são
66
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
determinantes na sua qualidade futura o que justifica a importância de um aumento da
preocupação com cada uma delas (Esteves, 2008).
Deste modo, o processo de construção de um empreendimento pode ser caracterizado como
um conjunto de acções necessárias à execução de uma obra, desde o aparecimento da ideia até
a fase de exploração abrangendo, nas situações correntes, três fases principais distintas no
tempo – a fase de projecto, a fase de construção e a fase de exploração.
3.2.1.
Fase de Projecto
Estudos em diversos países, onde o controlo de projecto é mais apertado, concluíram que 40 a
50% dos custos necessários para a reabilitação das construções novas afectadas por defeitos
dizem respeito a situações originadas por erros ou por omissões de projecto. Estes e outros
estudos no mercado internacional comprovam que a melhoria de qualidade dos projectos
influencia de forma drástica o custo total do investimento. Desta forma, para além da
racionalização dos custos imediatos da obra (fase de construção), a necessidade de rever e
melhorar a qualidade dos projectos coloca-se, também, em termos dos custos de utilização e
manutenção.
Em Portugal, numa análise realizada no norte do país sobre a qualidade dos projectos de
estruturas de betão de edifícios, constatou-se que 64% dos projectos classificados quanto ao
nível da qualidade obtiveram nota “medíocre” ou “mau” e só 2% obtiveram “bom” (Cóias e
Silva e Soares 2003). Um inquérito realizado por (Moura e Teixeira, 2007) aponta para
soluções de projecto inadequadas como a causa da falta de qualidade em 27% dos casos
considerados. Outro inquérito nacional do mesmo período, realizado pela Universidade do
Minho, indica que os intervenientes na indústria da construção consideraram a categoria
“Causas relacionadas com a Equipa Projectista” como uma das principais responsáveis pelos
atrasos em empreendimentos (Couto e Couto 2007).
O actual processo de projecto é responsável por uma parcela significativa das deficiências do
processo construtivo (até 50%). Adicionalmente, como a fase de projecto se encontra no
início deste processo, as deficiências desta fase tendem a manter-se durante todo o processo e
fases seguintes e a provocar outras deficiências nas fases seguintes. (Trigo, 2012)
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
67
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
18%
pormenorização deficiente
Materiais inadequados
13%
Erros de cálculo
59%
Erros de Conceção de
Projeto
10%
Gráfico 14 –Incidência das diferentes causas de erros de projecto (Adaptado Bureau Securitas 1979).
De acordo com o estudo efectuado pela Bureau Securitas em 1979, resultados no gráfico 14,
os erros de projecto são os que mais contribuem para o aparecimento de anomalias durante a
fase de obra e o período de garantia. O mesmo estudo aponta as seguintes causas para o
aparecimento de erros de projecto:
- Má selecção dos materiais; Má selecção dos processos construtivos e Ausência de
pormenorização adequada e esclarecedora;
A insuficiência de pormenorização dá assim azo ao aparecimento de patologias que seriam
previsíveis e evitáveis através de especificações e detalhes adequado. Seria também
interessante um código técnico nacional com uma biblioteca de detalhes tipos e específicos
devidamente comprovados quanto à sua eficácia de execução e garantia de funcionalidade e
de durabilidade, evitando assim uma proliferação de várias e diferentes soluções de
pormenores em projectos, muitas vezes sem funcionalidade condenadas a serem causas de
patologias futuras.
Até recentemente, a fase de projecto tem sido, de certa forma, quase negligenciada como meio
de garantia de qualidade, mas é inegável que um bom projecto, isento de erros, omissões e
ambiguidades e bem organizado dá melhores garantias de sucesso na concretização dos
empreendimentos, enquanto um projecto deficiente poderá ter consequências imprevisíveis no
desenvolvimento dos mesmos. A complexidade crescente das construções, a falta de
sistematização do conhecimento, a inexistência de um sistema efectivo de garantias e seguros,
68
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
a velocidade exigida para o processo de construção, as novas preocupações arquitectónicas, a
aplicação de novos materiais, a inexistência na equipa de projecto de especialistas em física e
tecnologias das construções são causas fundamentais da não qualidade dos edifícios. (Couto e
Teixeira 2006).
A extraordinária multiplicidade e diversidade de materiais actualmente disponíveis para
aplicações em engenharia civil tem vindo a colocar os projectistas, arquitectos, engenheiros,
gestores de projecto e até donos de obra perante um problema de complexidade crescente: o
problema da selecção, do domínio das técnicas de aplicação e do controlo da qualidade dos
materiais. Na selecção dos materiais terão de ser introduzidos constrangimentos adicionais
com pena de condicionar, por vezes, as opções iniciais em termos criativos, volumétricos,
morfológicos e estéticos e passar a ser cada vez mais afectada pelos parâmetros aos quais se
terá de prestar uma crescente atenção, como seja a adequação ao uso, aos limites de custo, ao
ciclo de vida, à reciclagem ou reutilização dos materiais (Materiais de Construção, 2005). Os
próprios processos construtivos deverão ser previamente idealizados, estudados, analisados e
ensaiados com vista à sua funcionalidade, custo, durabilidade, manutenção e posterior
demolição.
No que respeita à especificação das exigências face aos materiais e à sua aplicação, os
projectistas dispõem apenas do instrumento do caderno de encargos e especificações técnicas
para fazer prevalecer as suas opções iniciais e o comportamento esperado de determinados
materiais ou elementos previstos em projecto. No entanto é raro a referência à durabilidade e
período de vida útil dos materiais preconizados no projecto ou mesmo a periocidade das
manutenções, esta informação é essencial para validar a selecção os materiais e processo
construtivos e apurar os custos de utilização e manutenção ao longo da vida útil do
empreendimento. O constante aparecimento de materiais aplicados na construção deveria
obrigar para além dos requisitos de marcação CE a ensaios específicos para análise da sua
durabilidade às condições onde irá ser aplicado e o respectivo período de vida útil. Tem-se
registado que a aplicação de materiais sem qualidade para as acções a que vai ser exposto
condiciona a funcionalidade de determinados elementos construtivos no seu desempenho
originando patologias e limitando a durabilidade do empreendimento.
Num estudo efectuado a Associação Espanhola para controlo da Qualidade (AECC,1983),
conclui-se que, a origem da falta de qualidade do projecto deve-se;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
69
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
- Tempo de estudo insuficiente;
- Projectos incompletos e mal detalhados;
- Falta de coordenação entre as especialidades;
- Desconhecimento da tramitação de processos;
- Ausência de apreciação sistemática quanto ao controlo da qualidade no processo.
Frequentemente os intervenientes no processo de construção não conseguem assegurar o
cumprimento de todos os requisitos de qualidade, reflectindo-se isso em deficiências nas
obras o que tem sido alvo de grandes críticas por parte dos utilizadores, e tem inclusive
motivado aceso debate no sector, com propostas de revisão da legislação, nomeadamente,
quanto ao aumento do período de garantia dos imóveis. Com a diminuição do ciclo de vida
dos materiais e dos componentes da construção, os novos utilizadores deparam-se com custos
inesperados que importa atenuar, desafios que o sector da construção enfrenta,
designadamente no tocante à manutenção, apresentando-se para o efeito a revisão de projectos
como um excelente procedimento e recurso na persecução desse objectivo. A qualidade do
projecto é primordial para a redução dos custos ao longo da vida útil do edifício. Hoje,
reconhece-se que a falta de qualidade dos projectos se traduz, frequentemente, em descontrolo
dos custos das obras e reduzida durabilidade. (Couto, 2006)
Assim, nos últimos tempos, os agentes intervenientes na indústria da construção têm vindo a
sentir a necessidade de procurar a qualidade agindo ao nível do Projecto. Esta nova forma de
conduta tem sido motivada por resultados divulgados em análises estatísticas a projectos
correntes de edifícios – mostra-se que a legislação e regulamentação nem sempre são
completamente satisfeitas, independentemente de se verificar a existência dos termos de
responsabilidade dos respectivos autores do Projecto muito frequentemente a má qualidade do
projecto vem acompanhada da má qualidade do produto final. (Appleton, 2000).
Infelizmente, a falta de ponderação sobre a qualidade na construção tornou as falhas de
qualidade numa característica endémica desta actividade. A prevenção da falta de qualidade
quase nunca recebe a atenção devida, especialmente na fase de concepção do projecto, o que
tem como resultado o aparecimento de falhas logo no início da fase de construção e de custos
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
exorbitantes de trabalhos de rectificação/reconstrução que, segundo alguns autores, chegam a
atingir 12,4% do custo total da obra (Love, et al, 2000).
Sparrius, (1998) indicava que problemas encontrados a jusante de um processo de execução
são sintomas da ocorrência de negligência a montante. O gráfico 15, abaixo demonstra a
capacidade de influenciar as características de um sistema (em particular, o custo da execução
mas análogo noutras variantes) diminui rapidamente na passagem duma fase do seu ciclo de
vida para outra. O projectista situa-se, deste modo, numa fase de determinante importância
para o sucesso do empreendimento.
Gráfico 15 – Capacidade de influência das fases de um empreendimento no custo da construção (Sparrius, 1998).
O método de como são elaborados os projectos em Portugal, leva à repetição dos mesmos
erros em obra, este facto acarreta acréscimos nos custos, derrapagens nos prazos e quando o
caso se mostra grave leva à execução de um projecto de alteração. São muitas as falhas
cometidas pelo dono da obra na preparação dos elementos essenciais para fornecer aos
projectistas, umas vezes por ignorância, outras até para economizar algum dinheiro. (Santo,
2002).
A identificação da fase do projecto como de influência primordial no resultado final de um
processo de construção tem sido regularmente mencionada. Dois dos primeiros estudos mais
divulgados sobre a matéria, indicava valores acima dos 40% para deficiências originárias na
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
fase de projecto que se propagem para as fases seguintes do empreendimento. Mesmo em
países com tradição de maior rigor no desenvolvimento das actividades da construção civil e
obras públicas (Pimentel, et al 2004).
A Ordem dos Engenheiros (OE) tem estado cada vez mais atenta a esta problemática,
assumindo um papel activo na sensibilização dos engenheiros para uma melhoria da qualidade
dos seus projectos. Segundo (Sousa, 2007) a etapa correspondente à concepção e projecto
construtivo assume uma importância fulcral no que diz respeito ao sucesso das actividades de
construção. Apesar das facilidades do uso de software, a qualidade de muitos projectos
nacionais é fraca, com reflexos directos na qualidade final dos produtos da construção. Uma
das formas de diminuir esta possibilidade de erros poderá passar pela revisão sistemática dos
projectos (Sousa, 2007).
Mais recentemente, em 2007, um inquérito realizado por Moura e Teixeira aponta para
soluções de projecto inadequadas como a causa da falta de qualidade em 27% dos casos
considerados. (Moura e Teixeira, 2007).
Igualmente, (Figueiras e Ribas 2000) também correlacionam os erros cometidos durante a
fase de projecto de estruturas com a possibilidade de provocarem patologias estruturais,
nomeadamente devido a má concepção, indevida contabilização das acções actuantes,
características de durabilidade desadequadas, modelação inadequada, utilização imprópria de
programas de cálculo e pormenorização deficiente, entre outros.
Na opinião de Brito, 2007, o projecto de estruturas tem sido laxista em vários domínios, o que
tem permitido uma concorrência desleal e uma diminuição da qualidade. Ainda segundo
(Brito 2007), a causa da falta de qualidade no projecto de estruturas é devida a interesses
económicos, falta de preparação dos projectistas, prazos inaceitavelmente curtos, falta de
deontologia profissional de alguns dos intervenientes, má utilização das ferramentas de
cálculo e falta de supervisão durante a aprovação dos projectos.
O projecto exerce considerável influência sobre os custos das edificações, principalmente
devido à grande possibilidade de alternativas existentes nesta fase, e é justamente nesta fase
onde poucas despesas foram realizadas (Picchi 1993). Para Hammarlund e Josephson (1992)
as decisões que influenciam na redução dos custos do empreendimento devem ser tomadas na
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
fase inicial do mesmo, pois com a evolução das etapas seguintes, esta possibilidade diminui
consideravelmente, conforme demonstra o gráfico abaixo.
Gráfico 16 – Capacidade de influência para reduzir custos nas diferentes fases de um empreendimento
(Hammarlund e Josephoson, 1992).
Com o advento das tecnologias da informação e da implementação de sistemas de gestão da
qualidade nas diversas empresas da área produtiva da construção esperar-se-ia uma melhoria
desta situação. Curiosamente, não foi isso que parece ter acontecido, uma vez que outros
estudos, um pouco mais recentes (Cnudde 1991) e (Hammarlund e Josephson, 1992)
continuam a identificar a fase de projecto como a principal responsável pelas situações de
não-qualidade, seja durante a fase de produção das construções seja na fase de utilização
propriamente dita, com incidências atingindo os 50%.
As deficiências do projecto têm muito a ver com a crescente complexidade dos edifícios. Há
cinquenta anos para fazer um projecto envolvia-se apenas um arquitecto e um ou dois
engenheiros, mais nada. Só que à medida que o tempo passa, os projectos são cada vez mais
complexos e têm cada vez mais intervenientes. Neste momento temos o arquitecto, o
arquitecto de interiores, o arquitecto paisagista, o engenheiro das fundações, o engenheiro da
estrutura de betão armado, o engenheiro das estruturas metálicas, os engenheiros das águas e
esgotos, o engenheiro do AVAC, o engenheiro das instalações eléctricas, o engenheiro das
telecomunicações, o engenheiro do estudo térmico, o engenheiro do estudo acústico. Há cada
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
vez mais intervenientes em obra, o legislador entendeu pedir cada vez mais partes do
projectos com cada vez mais demonstrações, o que na realidade é prejudicial, porque as
pessoas depois de produzirem o seu “papel” pensam que está tudo resolvido. Na prática há
uma diluição das responsabilidade por vários intervenientes sem que efectivamente alguém
assuma a responsabilidade pela compatibilidade e funcionamento das diferentes soluções e
projectos. São muitos os intervenientes e tem que haver uma autoridade técnica que integre
todos os componentes dos projectos (Trigo, 2012).
Continuam a assistir a uma permanente e insistente pergunta, porque há erros de concepção?
Dentro de todos os assuntos já referenciados, e com o objectivo de resumir e com uma
abordagem tópica apresenta-se algumas das causas;
- Falta de sistematização do conhecimento;
- Inexistência de um Guia técnico de concepção;
- Ausência de informação técnica;
- Inexistência de sistema efectivo de garantias e seguros;
- Não exigência de qualificação profissional;
- Novas preocupações arquitectónicas;
- Aplicação de novos materiais ou sistemas construtivos sem estarem devidamente ensaiados
e testados para o efeito;
- Inexistência de pormenorização adequada à complexidade do projecto;
Naturalmente é um facto que a actividade do projectista é caracterizada pela mudança. A sua
crescente complexidade é o espelho das características evolutivas do processo construtivo:
constante crescimento da variabilidade e complexidade dos trabalhos de um empreendimento,
prazos de execução cada vez mais reduzidos, requisitos de segurança e qualidade mais
exigentes, a crescente importância da actividade de manutenção e o aparecimento de novos
desafios como a sustentabilidade e gestão ambiental das actividades de construção. O
projectista tem sido portanto pressionado a utilizar métodos mais elaborados e inovadores
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
cada vez mais cedo, sendo-lhe simultaneamente exigida a redução dos custos dum
empreendimento.
Mas é vasto o número de variáveis e factores sobre os quais se pode actuar tendo em vista o
controlo e garantia de qualidade de um projecto. Com incidência particular no projecto de
Estruturas, a Ordem dos Engenheiros compilou um conjunto de recomendações tendo em
vista estes propósitos (Colégio de Engenharia Civil, 2008), fazendo até sugestões para a
implementação de um “Seguro de projecto” e a criação de um “Sistema Integrado de
Certificação da Construção”. Porém, é praticamente consensual que todos os intervenientes
no processo construtivo e o utilizador final poderão beneficiar, em larga medida, de uma
actividade de Revisão de projecto que tenha como principal objectivo, para além das
verificações de correcção, de exequibilidade e de compatibilidade das soluções, a garantia de
um projecto de execução de qualidade (Couto e Couto 2007).
Neste contexto reveste-se de particular importância a qualidade das soluções encontradas ao
nível do projecto, o primeiro e fundamental instrumento para a definição dos níveis de
qualidade do empreendimento, seja do ponto de vista do Dono de Obra com o cumprimento
do programa predefinido, seja do ponto de vista dos futuros utilizadores com as suas
expectativas de durabilidade e custos de exploração e manutenção, seja ainda do ponto de
vista da comunidade onde o empreendimento se insere, tendo em vista preocupações sociais e
ambientais.
Infelizmente, não raras vezes, as empreitadas apresentam desvios significativos de preços e
prazos relacionados com deficiências ou omissões de projecto, com natural prejuízo do Dono
de Obra. Frequentemente é ainda necessário recorrer a projectos de alterações de modo a
corrigirem-se deficiências no projecto inicial ou a garantir a compatibilidade entre as soluções
preconizadas ao nível das diferentes especialidades.
Com a percepção desta situação tem sido opção dos Donos de Obra efectuar a contratação da
empreitada por preço global, transferindo para o Empreiteiro a responsabilidade associada à
existência de deficiências de projecto. Este, por sua vez, vê-se obrigado a tirar partido das
deficiências dos projectos por forma a poder apresentar uma proposta competitiva,
responsabilizando-se pela execução do estritamente estipulado no projecto que serve de base à
assinatura do contrato de empreitada; posteriormente, em fase de execução, o Empreiteiro
espera recuperar o equilíbrio financeiro da obra, apontando ao Dono de Obra as deficiências
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
existentes no projecto e transferindo para este último a responsabilidade de promover as
correcções necessárias. Este processo de correcção tem associado, invariavelmente, um
aumento de custos e prazos de execução.
As deficiências dos projectos são uma das mais significativas causas dos problemas e
conflitos na construção e, por vezes até, causa marcante para o seu insucesso. De facto, a
importância do projecto e da sua coordenação, está directamente relacionado com o sucesso
da construção e gestão dos empreendimentos. Um bom projecto, isento de erros, omissões e
ambiguidades e bem organizado dá melhores garantias de sucesso na concretização de
empreendimentos, enquanto um projecto deficiente poderá ter consequências imprevisíveis no
desenvolvimento dos mesmos. Com frequência a comunicação social tem vindo a divulgar
relatórios de auditorias a obras públicas que apresentam significativos desvios de custos, de
prazo e de qualidade. Na origem de muitos destes desvios encontram-se o modelo de
contratação e a gestão e o controlo da qualidade dos projectos (Couto e Teixeira 2006).
“Mais 20 milhões para a obra do pediátrico de Coimbra” informava o Diário de Coimbra em
24 de Abril de 2013, “diferendo – erros de projecto levaram a indeminização ao construtor de
13,6 milhões, acrescidos de IVA e de juros de mora. No essencial, segundo a decisão do
tribunal arbitral, o projecto «mostrou-se inexequível, pelo menos em parte das suas vertentes»
e «desadequado à realidade da obra». São notícias como esta que fazem a sociedade reflectir
sobre o impacto da qualidade dos projectos na sociedade em que vivemos.
Para fazer face à habitual ocorrência de desvios de custos e prazos nas empreitadas obras
públicas o novo Código dos Contractos Públicos (CCP) (Decreto-Lei nº 18/2008 de 29 de
Janeiro), que procede à transposição das Directivas Comunitárias 2004/17/CE e 2004/18/CE e
entrou em vigor a 30 de Julho de 2008, prevê na alínea c) do ponto 2 do art.º 370 que só pode
ser ordenada a execução de trabalhos a mais quando, entre outras condições, “O preço
atribuído aos trabalhos a mais, somado ao preço de anteriores trabalhos a mais e deduzido do
preço de quaisquer trabalhos a menos, não exceder 5 % do preço contratual”. Face a esta
realidade deverão os Donos de Obra investir na melhoria da qualidade dos projectos, na sua
coerência e pormenorização das soluções, no rigor das suas especificações e ainda na rigorosa
quantificação e definição da natureza dos trabalhos envolvidos. Esta aposta na qualidade pode
ser facilmente conseguida por recurso à revisão de projecto onde uma equipa independente de
técnicos, de reconhecida capacidade, analisa os projectos avaliando a qualidade e
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
pormenorização das soluções apresentadas, o dimensionamento e a quantificação e natureza
dos trabalhos a executar.
“Todas as acções tomadas antes de um problema surgir, que visem impedir o aparecimento
desse problema, são acções preventivas. Uma vez conhecidas as causas potencialmente
criadoras de anomalia, o projectista deve actuar, de modo a preveni-las” Decreto – Lei
18/2008 de 29 de Janeiro, Código dos Contractos Públicos.
A Portaria n.º 701-H/2008 de 29 de Julho, designada “Instruções para a elaboração de
projectos de obra”, tinha como pretensão constituir uma ferramenta decisiva para a
actualização da importância, exigências e requisitos na elaboração de projectos. Esta portaria
ao abrigo do número 7 do artigo 43.º do CCP, os conteúdos obrigatórios do programa e do
projecto de execução, assim como os procedimentos e normas a adoptar na elaboração e
faseamento de projectos de obras públicas. Prevê também a classificação de obras por
categorias de complexidade. Dentro dos objectivos pressupostos pretendia nomeadamente;
a) Aperfeiçoar e desenvolver os requisitos mínimos exigidos em cada fase do projecto;
b) Completar e actualizar as especificações de projecto definidas para cada tipo de obra;
c) Atribuir maior responsabilização aos autores do projecto;
d) Ajustar as fases de projecto aos actuais conceitos de gestão na execução das obras;
e) Introduzir maior rigor nas estimativas orçamentais elaboradas nas diferentes fases do
projecto.
Esta Portaria no artigo 8.º refere a programação e coordenação do projecto “1 — A
coordenação das actividades dos intervenientes no projecto tem como objectivo a integração
das suas diferentes partes num conjunto harmónico, de fácil interpretação e capaz de fornecer
todos os elementos necessários à execução da obra, garantindo a adequada articulação da
equipa de projecto em função das características da obra e assegurando a participação dos
técnicos autores, a compatibilidade entre os diversos projectos necessários e o cumprimento
das disposições legais e regulamentares”.
Indica que o «Coordenador do projecto», é o técnico a quem compete, satisfazendo as
condições exigíveis ao autor de projecto, garantir a adequada articulação da equipa de
projecto em função das características da obra, assegurando a participação dos técnicos
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
autores, a compatibilidade entre os diversos projectos necessários e o cumprimento das
disposições legais e regulamentares aplicáveis a cada especialidade;
O «Revisor do projecto», é a pessoa singular ou colectiva devidamente qualificada para a
elaboração desse projecto e distinta do autor do mesmo. Esta portaria reforça a importância do
projecto de execução com um peso relativo de 35% relativamente às outras fases. (artigo
12.º). No entanto a Ordem dos Engenheiros emitiu um parecer onde considera o diploma
positivo para o sector pelas seguintes razões: a) Completa e actualiza um conjunto de
definições sobre esta matéria, introduzindo alguns conceitos novos como “Assistência
Técnica Especial”, “Coordenador de Projecto”, “Revisor de Projecto”, entre outros; b)
Mantém e completa a noção de graduação das obras em complexidade, dividida em 4
categorias, identificando um conjunto extenso de situações que irão seguramente a prazo
contribuir para a graduação dos actos que os técnicos e as empresas podem praticar,
estabelecendo de forma clara que o exercício dos actos mais complexos deverá estar limitado
aos técnicos mais habilitados para o efeito; c) Alarga as disposições especiais a um conjunto
muito mais vasto de obras, sendo objecto de actualização profunda, ou criação de novas
secções, as situações de “Instalações, Equipamentos e Sistemas de Edifícios”, com várias
subsecções correspondentes às diferentes instalações, Caminhos-de-ferro, Aeródromos,
Túneis, Obras Portuárias e de Segurança Costeira e Espaços Exteriores, Produção,
transformação, transporte e distribuição de energia eléctrica e Redes de Comunicação. No
entanto, existem alguns aspectos em que a Portaria publicada não considerou nomeadamente
a)“omite algumas definições/conceitos propostos que se consideram importantes, tais como
“Gestor de Projecto”, “Projecto para licenciamento”, “Projecto para concurso”, “Desenhos de
preparação da obra” e “Desenhos de execução complementares”; b) Altera profundamente a
definição geral de “Assistência Técnica”, atribuindo ao Projectista a responsabilidade, em
sede desta portaria, de assegurar a correcta execução da obra, a conformidade da obra
executada com o projecto, com o caderno de encargos e o cumprimento das normas legais e
regulamentares aplicáveis. Esta exigência é desajustada com a nossa prática, com o peso
agora proposto em termos de honorários para a assistência técnica (15%) e tem
incongruências óbvias com as disposições mais detalhadas sobre “Assistência Técnica”
presentes no articulado das disposições gerais e disposições especiais desta Portaria. Nessa
medida, considera-se que a definição deverá ser melhorada, sob pena de vir a criar dúvidas e
conflitualidades no sector; c) Por último, ao não incluir qualquer referência aos “Desenhos de
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
preparação de obra” e “Desenhos de execução complementares”, que constavam da proposta
do Grupo de Trabalho, esta Portaria perde a oportunidade de clarificar este assunto e reduzir
também aqui as ambiguidades e os conflitos. (OE, 2008).
A revisão de projectos, que preferencialmente deverá decorrer em simultâneo com o trabalho
dos projectistas, visa incrementar a qualidade global dos projectos permitindo que a
contratação da obra seja efectuada com consideráveis ganhos a todos os níveis (qualidade,
custos globais e prazos de execução) para Donos de Obra, Fiscalização, Empreiteiro e
Utilizador final.
A definição de Revisão de Projecto indica “Pessoa singular ou colectiva devidamente
qualificada para a elaboração desse projecto e distinta do autor do mesmo”. A revisão de
projecto consiste na análise crítica do projecto e emissão dos respectivos pareceres. As
funções e responsabilidade do Revisor de projecto é constituída por um conjunto de
metodologias cujo objectivo é a eliminação de erros, a identificação de omissões e
incompatibilidades no conjunto das peças de projecto. Este procedimento permite, de forma
preventiva, evitar um acumular de falhas desde a fase de projecto e planeamento que se
traduzem em elevadas perdas económico-financeiras na fase de execução da obra. Incide em
cada uma das especialidades do projecto e nas respetivas peças escritas e desenhadas, e inclui:
a) Revisão de objectivos à procura de omissões; b)Revisão documental: programa, custos,
prazos; c)Confronto das condições técnicas com listagem de tarefas à procura de
incompatibilidades; d)Confronto das condições técnicas com peças desenhadas; e) Rasteio à
procura de erros por comparação entre as peças desenhadas do projecto de arquitectura e das
várias especialidades; f) Verificação das medições; g)Verificação aleatória e não exaustiva do
cálculo de alguns elementos.
Em grande parte dos casos são erros do projecto que dão origem a patologias futuras pelo que
é essencial uma análise adequada aos projectos e sensibilização dos donos de obras para as
consequências de execução de um projecto com insuficiências técnicas ou com más opções
técnicas. A qualidade dos projectos é uma exigência indispensável à garantia da qualidade
global da construção, quer seja avaliada pela conformidade com as expectativas dos futuros
utilizadores, pelo rigor que assegura no cumprimento das estimativas de custo e prazos ou
pelas exigências do interesse comum.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
O controlo da despesa nas obras públicas tem centrado a sua análise nos desvios de custo e de
prazos durante a execução da empreitada, omitindo a apreciação sobre uma outra importante
componente da despesa, os custos de manutenção e exploração durante a fase de utilização da
obra. Os custos com o desgaste de materiais inadequados para as soluções, os consumos de
energia, os custos dos consumíveis, da manutenção dos equipamentos electromecânicos, da
vigilância e do comportamento global das obras, dependem das soluções dos projectos e das
técnicas construtivas. Ignorar este aspecto, como tem sido corrente, é um erro que não pode
continuar a ser praticado. Cada vez mais os custos de construção serão uma pequena parcela
dos custos a suportar durante a utilização da obra. A política de controlo da despesa pública
deveria contar com essa componente que afectará os recursos futuros de todos.
Por fim, parece evidente que, hoje, deve haver uma preocupação crescente e sedimentada dos
projectistas relativamente aos novos desafios; construção sustentável, ciclo de vida e
durabilidade das construções, racionalização dos recursos materiais e energéticos, facilidade
de implementação das técnicas construtivas concebidas de forma a facilitar o cumprimento
dos prazos, a racionalização dos custos, a gestão dos empreendimentos.
Lei n.º 31/2009 de 3 de Julho que aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação
profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projectos, pela
fiscalização de obra e pela direcção de obra, que não esteja sujeita a legislação especial, e os
deveres que lhes são aplicáveis e revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de Fevereiro. Esta Lei
define como «Coordenador de projecto» o autor de um dos projectos ou o técnico que integra
a equipa de projecto com a qualificação profissional exigida a um dos autores, a quem
compete garantir a adequada articulação da equipa de projecto em função das características
da obra, assegurando a participação dos técnicos autores, a compatibilidade entre os diversos
projectos e as condições necessárias para o cumprimento das disposições legais e
regulamentares aplicáveis a cada especialidade e a respeitar por cada autor de projecto;
Artigo 8.º Coordenação de projecto – 1 - Para a elaboração de projecto sujeito ao regime de
licença administrativa ou de comunicação prévia ou para efeitos de procedimento contratual
público deve sempre existir coordenador de projecto, o qual integra a equipa de projecto
podendo, quando qualificado para o efeito, cumular com aquela função a elaboração total ou
parcial de um dos projectos.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Artigo 9.º - Deveres do coordenador de projecto: 1-Compete ao coordenador do projecto, com
autonomia técnica, e sem prejuízo das demais obrigações que assuma perante o dono da obra,
bem como das competências próprias de coordenação e da autonomia técnica de cada um dos
autores de projecto:
a) Representar a equipa de projecto, da qual faz parte integrante, durante as fases de projecto
perante o dono da obra, o director de fiscalização de obra e quaisquer outras entidades;
b) Verificar a qualificação profissional de cada um dos elementos da equipa, conforme
previsto na presente lei;
c) Assegurar a adequada articulação da equipa de projecto em função das características da
obra, garantindo, com os restantes membros da equipa, a funcionalidade e a exequibilidade
técnica das soluções a adoptar, dentro dos condicionamentos e dos interesses expressos no
programa do dono da obra;
d) Assegurar a compatibilidade entre as peças desenhadas e escritas necessárias à
caracterização da obra, de modo a garantir a sua integridade e a sua coerência;
e) Actuar junto do dono da obra, em colaboração com os autores de projecto, no sentido de
promover o esclarecimento do relevo das opções de concepção ou de construção no custo ou
eficiência da obra, sempre que aquele o solicite ou tal se justifique;
f) Assegurar a compatibilização com o coordenador em matéria de segurança e saúde, durante
a elaboração do projecto, visando a aplicação dos princípios gerais de segurança em
cumprimento da legislação em vigor;
g) Verificar, na coordenação da elaboração dos projectos, o respeito pelas normas legais e
regulamentares aplicáveis, nomeadamente as constantes de instrumentos de gestão territorial,
sem prejuízo dos deveres próprios de cada autor de projecto;
h) Instruir o processo relativo à constituição da equipa de projecto, o qual inclui a
identificação completa de todos os seus elementos, cópia dos contratos celebrados para a
elaboração de projecto, cópia dos termos de responsabilidade pela sua elaboração e cópia dos
comprovativos da contratação de seguro de responsabilidade civil nos termos do artigo 24.º;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
i) Disponibilizar todas as peças do projecto e o processo relativo à constituição de equipa de
projecto ao dono da obra, aos autores de projecto e, quando solicitado, aos intervenientes na
execução de obra e entidades com competência de fiscalização;
j) Comunicar, no prazo de cinco dias úteis, ao dono da obra, aos autores de projecto e, quando
aplicável, à entidade perante a qual tenha decorrido procedimento de licenciamento, de
autorização administrativa ou de comunicação prévia, a cessação de funções enquanto
coordenador de projecto, para os efeitos e procedimentos previstos no RJUE e no Código dos
Contratos Públicos, sem prejuízo dos deveres que incumbam a outras entidades,
nomeadamente no caso de impossibilidade.
No contexto actual indicam-se alguns dos factores que condicionam a qualidade dos projectos
em Portugal:
- A diversidade de legislação (dispersa e não objectiva);
- O acréscimo significativo das instalações técnicas (pesando por vezes mais de 25% do custo
de obra);
- Clara separação entre os negócios da construção na sua cadeia de valor;
- Sobreposição de interesse (conflito de interesses entre os intervenientes);
- A diminuição da qualidade da mão-de-obra;
- O permanente desejo dos donos de obra reduzirem os prazos de construção, por vezes não
compatíveis com o conceito e qualidade dos projectos apresentados, ignorando-se também a
estação do ano em que se iniciam os trabalhos;
- A relevância dos processos administrativos que se sobrepõem aos procedimentos técnicos;
- A crescente importância dos procedimentos técnico-jurídicos, com frequente envolvimento
de advogados nas reuniões de obra, utilizando as debilidades dos projectos para reforçar as
exigências dos empreiteiros;
- A não exigência na fase de licenciamento de pormenores construtivos e a não apreciação dos
projectos pelas entidades responsáveis pelo licenciamento;
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
- A utilização dos projectos para fins diferentes do conceito base.
A elaboração dos projectos é uma actividade com grande complexidade, ultrapassando os
conceitos de ordem técnica, exigindo cada vez mais uma visão global dos diferentes negócios
envolvidos e nas diferentes fases do ciclo de vida de um empreendimento.
A forma como são elaborados os projectos conduz, com frequência, à repetição sistemática
dos mesmos erros em obra, com implicações no acréscimo de custos, através de trabalhos a
mais e derrapagens nos prazos, sendo necessário, frequentemente, elaborar projectos de
alterações.
Uma das áreas que mais contribui para estas situações é a adaptação das fundações e da
estrutura ao terreno, devido à ausência de elementos de referência para elaboração do
projecto.
Também os elementos construtivos de fronteira entre as diferentes especialidades têm uma
quota-parte de responsabilidade nos desvios verificados.
O pouco cuidado dos donos de obra na preparação dos elementos a fornecer aos projectistas a
par do modo como são elaborados, através de diferentes especialidades independentes, por
sua vez subcontratam medidores, sem uma adequada coordenação, estão na base das
incompatibilidades e insuficiências detectadas.
A ausência de levantamentos topográficos actualizados e estudos geotécnicos que
caracterizam as condições dos solos, de forma a permitir a correcta concepção das fundações
e estruturas, avaliação dos movimentos de terras e dos arranjos exteriores;
O reduzido trabalho de coordenação entre as diferentes especialidades com uma visão
integrada, de forma a compatibilizar os projectos e posteriormente os trabalhos, alargando o
âmbito também à envolvente exterior, nomeadamente aos arranjos paisagísticos e as ligações
às redes das infra-estruturas;
A falta de rigor na definição e especificação dos projectos de execução, com destaque para os
mapas de medições, caderno de encargos e pormenores construtivos, mapas de acabamentos e
peças desenhadas;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
83
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
A não existência de um sistema de controlo de qualidade em obra que permita identificar os
erros cometidos, avaliar as suas consequências e elaborar recomendações para serem tidas em
conta nos projectos futuros a nível nacional.
3.2.2. Fase de Execução
A conjugar com as consequências de erros na fase de projecto é na fase de execução que
depende da mão-de-obra dos materiais e da organização e gestão do estaleiro que verificamos
a origem de repetição de erros sistemáticos que condicionam a qualidade final da construção e
a própria viabilidade económica dos próprios construtores, que para além de terem acumulado
patologias e disfunções nas construções que representam a médio e longo prazo custos de
reparação e sociais com significado.
O actual estado do mercado da construção propicia a possibilidade, senão mesmo a
obrigatoriedade, de reflectir sobre aspectos como a pouca produtividade e as verbas investidas
na correcção de erros construtivos, comuns a muitas empresas de construção.
Cada construção constitui por si, só uma solução diferente da anterior para resolver o
programa específico de uma dada situação, para um local preciso e para um determinado
cliente com necessidades próprias.
Como apresentado nos anteriores capítulos a fase de execução de obra é responsável por uma
grande percentagem de custo de não-qualidade. Embora os últimos anos se tenha registado
uma grave crise no sector, os maus procedimentos de execução em obra tem origem no
“boom” da construção onde se registou:
- Aparecimento acelerado e em grande número de empresas de construção pouco qualificadas;
- Mão-de-obra pouco adaptada aos novos materiais e exigências construtivas;
- Escoamento do produto construído independentemente da sua qualidade;
- Criação de uma clima de impunidade face aos maus procedimentos em obra;
- Substituição das boas práticas da construção por métodos mais céleres e de pouca qualidade.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Apesar do estado actual do mercado e após uma década à excepção do escoamento do produto
construído todos os itens se mantém.
Tendo em conta o estado tecnológico e evolução das técnicas construtivas porque
continuamos a assistir a erros de execução? As Estruturas das maiores empresas de
construção apenas gerem uma cadeia interminável de sub-sub-sub empreitadas; Tendo em
conta a elevada quantidade de subempreiteiros em obra com diferentes interesses resulta uma
deficiente interligação com os diversos subempreiteiros. Ao longo dos anos esvaziaram
categorias profissionais importantes como preparador de obra, medidor; A não qualificação da
mão-de-obra, dado a necessidade de formação profissional atestada por entidade reconhecida
que comprovasse os saberes fazeres da cada categoria profissional, iniciativa que melhorava
as competências em obra; O questionável aumento de velocidade exigida ao processo de
construção; A forma como a justiça é lenta e burocrática levando a um espirito de
desresponsabilização entre os intervenientes em caso de conflito; A rápida evolução de
diferentes materiais e técnicas construtivas leva a muitas vezes a um desconhecimento das
propriedades dos materiais e componentes aplicados nas empreitadas; A fragmentação do
sector em diversas associações com as mesmas funções impede a evolução do grupo dos
empresários do sector.
Na fase de execução a aplicação de materiais não conforme dá origem a patologias pelo que é
essencial atestar em obra os requisitos dos materiais encomendados e recepcionados. Porque
os materiais falham? A não realização de um estudo do comportamento dos materiais através
de ensaios rigorosos antes da comercialização; A Homologação/certificação por vezes
insuficiente – como demonstram os resultados em obra de sistemas constituídos por materiais
deviamente certificados e homologados que não resistem às acções que ficam solicitados no
local da obra. O sector da construção não investe o suficiente no desenvolvimento tecnológico
de novos materiais.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Contrato
Planeamento
Plano de Qualidade
Gestão do Risco
Cliente
Projecto
Fiscalização
Segurança e
Ambiente
Empreiteiro
Sub-empreiteiros
Mão-de-obra
Equipamentos
Sucesso
Figura 6 – Ingredientes para o sucesso da execução de uma empreitada
Figura 7 – Os diferentes “Players” na execução de uma obra
A prevenção de patologias nas construções recentes passará pela implementação de métodos e
cuidados durante a fase de execução. Em estudos realizados por Gryna, 1988 já revelamvam
que a falta de motivação foi a principal causa dos custos com os defeitos em três dessas
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
quatro fontes. Esta causa foi responsável por 50% dos custos dos defeitos com origem na
“direcção de obra”, 69% dos custos dos defeitos com origem na “mão-de-obra” e 47% dos
custos dos defeitos com origem nos “subempreiteiros”. Para a “causa”, assim esta é
considerada o “motivo comprovado para a existência de um defeito”. Foram definidas 5
categorias para identificação das causas dos defeitos: (falta de) “conhecimento”, (falta de)
“informação”, (falta de) “motivação”, “stress” e “risco”. O “conhecimento” é composto pelas
competências (skills) e pela experiência e é definido como a informação e compreensão que
uma pessoa tem sobre determinado assunto. O termo “risco” representa a existência da
possibilidade de ocorrer um defeito. Em média, 50% dos custos com defeitos são atribuídos à
falta de motivação, estando esta patente nas omissões e negligência do pessoal. Poucos dos
defeitos provocados por falta de motivação foram intencionais. A falta de conhecimento foi,
em média, a causa de 29% dos custos com os defeitos. A falta de informação foi a causa do
terceiro maior valor médio de custos dos defeitos, contabilizando em média 12% dos custos.
Os restantes 9% de custos com defeitos estão repartidos entre stress (6%) e risco (3%). A
identificação das causas dos defeitos foi complexa, o que aconselha a uma extrapolação
prudente destes resultados. (Gryna,1988).
Josephson e Hammarlund (1999) os autores apontam algumas causas de raiz para a existência
dos defeitos encontrados na sua investigação relativamente à fase de execução de obra:
Espaço de tempo reduzido para realização do empreendimento; Composição da estrutura
organizacional do empreendimento – nos empreendimentos em que as pessoas envolvidas já
haviam anteriormente trabalhado em conjunto os trabalhos decorreram consideravelmente
melhor do que nos empreendimentos em que tal não aconteceu; Pressão para minimizar o
custo dos empreendimentos – esta pressão propagou-se do cliente para o empreiteiro, deste
para os subempreiteiros e por ai em diante; Reduzido apoio à direcção de obra por parte da
administração das empresas de construção; Escassez de acções de motivação dos
trabalhadores de obra.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Qualidade,
Ambiente e
Segurança
Gestão
Contratual
Subempreiteiros
Mão-de-obra e
Equipamentos
Factores Críticos
Fiscalização da
obra
Projectos
Gestão do Risco
Cliente
Figura 8 – Factores críticos que condicionam a fase de execução
Empreiteiro Geral: O empreiteiro geral tem a função de coordenar e responsabilizar-se por
todas as actividades da obra, e pelos recursos a estas afectas. É também a entidade
responsável pela boa execução da obra e pela garantia perante o Dono de Obra. Embora o lei
dos alvarás exija um quadro técnico mínimo nas empresas de construção esta exigência é
insuficiente para garantir um mínimo de pessoal próprio afecto às empreitadas, proliferando
as extensas cadeias de subcontratações nas empreitadas afectando negativamente a qualidade
final do produto pela sucessiva transferência de responsabilidades e inexistência de controlo
na fase de execução.
Subempreiteiros: Os Subempreiteiros são caracterizados por estruturas empresariais de
reduzida dimensão. A principal valia destas empresas é a sua especialização e coordenação
para efectuar uma determinada actividade específica, conseguindo preços mais competitivos
para o empreiteiro geral. No entanto e perante o contexto económico desfavorável estas são as
primeiras a sentir os efeitos da crise na sua fraca capacidade financeira.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Fiscalização: O Dono de obra requer da fiscalização a garantia mínima da qualidade da obra.
Os processos de controlo dos trabalhos efectuados dependem do tipo de promotor do
empreendimento e da finalidade com que este é construído. Em determinadas situações os
meios investidos e a capacidade de controlo da empreitada daí resultantes são, por isso,
consequência directa do”target” a que se destina o produto final.
Fornecedores :A escolha do fornecedor recai nos de menor preço e naqueles que apresentam
um conjunto de condições de pagamento e custo global mais favoráveis ao empreiteiro. Este
factor de escolha nem sempre garante um bom andamento dos trabalhos, sendo frequente o
atraso das obras por demoras nos fornecimentos. Uma escolha fundada na capacidade e
historial de fornecimento do fornecedor raramente é equacionada.
Na gestão estratégica de projectos, estes são submetidos a sete forças indicados na figura 10.
Figura 9 - Adaptado The seven forces model of project-based management (Turner, 1999)
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Figura 10 –A comunicação entre dos diferentes intervenientes da obra
A Informação suporta toda a comunicação, a construção é um trabalho de equipa com base
em informações (produção de informação e troca de comunicação / informação). Envolve
diferentes pessoas que têm educação distinta e desempenham papéis diferentes; Malentendidos e informações perdidas são problemas frequentes que têm consequências directas
no resultado final. E necessário um canal de comunicação sem interferências de compreensão
mútua, em que todos estejam no mesmo comprimento de onda
A falta de compatibilização dos projectos das diversas especialidades
No projecto será pois de prever e compatibilizar as diferentes especialidades suas
interferência de forma a minimizar os seus aspectos negativos e a programar, em tempo útil,
as necessidades das diferentes instalações. Esta actividade durante a fase de projecto requer
investimento de tempo e de recursos humanos e logísticos para ser efectuada. A compressão
dos preços de projecto por parte dos donos de obra e a imposição de diminuir prazos para a
sua elaboração são duas premissas por si só exclusivas uma da outra, tornando esta actividade
de risco elevado para o empreiteiro, uma vez que uma compatibilização de projectos mal
executada acarreta graves implicações durante a fase de execução de obra como;
1. Escassez de espaço adstrito à localização dos equipamentos das diversas
especialidades;
2. Inexistência de negativos previstos no projecto de estruturas para os atravessamentos
das tubagens de água, esgotos, electricidade, telefones e AVAC, que resultam
frequentemente no atravessamento de elementos estruturais sensíveis por negativos
para tubagens das diversas especialidades e mesmo inúmeros conflitos entres as
diferentes especialidades;
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
3. Incompatibilidade de cotas entre zonas exteriores e interiores para uma drenagem
eficaz das águas pluviais (incidência nas zonas de coberturas planas, terraços e
varandas);
4. Impossibilidade de colocar algumas das tubagens nas espessuras previstas para os
enchimentos e regularização de pisos da obra;
Embora haja legislação especifica para o projecto de execução e para a coordenação do
projecto, continua-se a registar uma grande falhas na compatibilização dos projecto, pelo que
os empreiteiros devem criar condições internas e procedimentos expeditos para analisar,
verificar e triar possíveis incompatibilidades entre as diferentes especialidades de modo a
evitar derrapagens no prazo, custos de obra e custos de não-qualidade.
Revisão das medições
As medições são umas das peças dos projectos que mais frequentemente se apresentam
defeituosas elaboradas e com omissões e erros, face a isto as empresas têm de se precaver
fazendo uma revisão detalhada das medições.
Compreender o Processo de Desenvolvimento de um Projecto
O desenvolvimento de projectos é um processo complexo e que requer grandes recursos. No
entanto, é possível analisar todos os projectos em termos de um ciclo de vida comum, que
compreende uma série de etapas. Estas etapas estão ilustradas na figura abaixo, seguindo-se
breves explicações acerca de cada uma delas. Embora estas etapas estejam ilustradas de uma
forma sequencial, algumas podem ser efectuadas simultaneamente.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Figura 11 – Ciclo de desenvolvimento de um projecto
Especificação e Viabilidade do Projecto
A primeira etapa do ciclo do projecto é a definição de quais são os seus requisitos e a forma
como podem ser satisfeitos, incluindo-se aqui a decisão da dimensão e da qualidade da
instalação que é necessário construir. Nesta fase vão ser avaliadas diferentes opções em
termos de estimativa geral de custos, desempenho operacional esperado e benefícios
económicos. Nesta etapa pode-se tentar fazer uma estimativa preliminar dos custos.
Às análises de custo/benefício, quer sejam formais ou informais, seguir-se-ão a especificação
inicial do projecto. O objectivo é examinar se o projecto, tal como especificado, será
economicamente viável ou produzirá uma mais-valia dos recursos a utilizar. Relegar a
elaboração destes estudos de viabilidade para uma fase posterior ao início do projecto (o que
acontece frequentemente na prática) pode significar que problemas potenciais não sejam
apreendidos a tempo de influenciar o planeamento do projecto.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Embora a avaliação económica e financeira do projecto seja provavelmente o elemento mais
evidente da fase de viabilidade, existem factores externos que podem desempenhar um papel
importante na determinação da continuidade de um projecto. O contexto político de um
projecto, a sua relação com a comunidade local, o contexto económico geral, a sua localização
e as condições físicas em que será construído, são os factores externos mais importantes.
Concepção Geral
Iniciar-se-ão então os trabalhos para desenvolvimento dos planos para o projecto. Estes
planos estabelecerão os parâmetros gerais de concepção de um esquema e incluirão todos os
principais componentes do projecto. A função da concepção geral é a de fornecer:
• A base de uma concepção pormenorizada e uma estimativa precisa de custos do esquema;
• a informação necessária para o planeamento e para o processo de aquisição do terreno.
Financiamento
O financiamento de um projecto envolve a tomada de medidas necessárias para angariar os
fundos adequados destinados ao pagamento do desenvolvimento e funcionamento de um
projecto claramente definido. Em alguns casos é igualmente necessário angariar fundos para
cobrir os custos de manutenção e funcionamento.
Para a maior parte dos projectos, os principais elementos de financiamento são:
• Financiamento do desenvolvimento – para pagar as fases de estudo de viabilidade e a
concepção inicial;
• Financiamento da construção – para pagar as despesas imobiliárias;
• Financiamento de contingência – para permitir cobrir custos superiores aos previstos e
atrasos.
A estrutura e a forma de financiamento serão influenciadas pela natureza do projecto. Para
alguns projectos, a maior parte dos fundos será proveniente de fontes locais ou do governo
central. Noutros casos, o projecto será gerador de rendimentos os quais serão utilizados para
pagar os empréstimos, a manutenção e o funcionamento. Alguns projectos podem,
igualmente, envolver a contribuição do sector privado, que pretende deter e controlar uma
parte ou a totalidade do capital.
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Boa Gestão de Projectos
Projectos que foram objecto de uma boa gestão, os seus promotores puderam fornecer
respostas positivas às seguintes questões:
O cliente dispõe da capacidade necessária para administrar e gerir grandes projectos?
O cliente tem experiência na adjudicação de contratos?
O cliente e o empreiteiro já trabalharam em conjunto anteriormente?
O cliente avaliou as questões-chave e as principais áreas de risco?
O cliente compreende e sabe aquilo que deseja?
Os factores-chave para o sucesso foram:
• Relação de trabalho estreita entre o cliente e o empreiteiro desde o início que envolveu o
pessoal superior;
• Definição clara da concepção do produto final por parte do cliente;
• Acordo antecipado do orçamento total do cliente;
• Tempo suficiente para desenvolver o plano do cliente e levar a cabo o exercício de gestão de
optimização de recursos;
• Recurso aos desenhadores do cliente para componentes especiais, evitando assim, problemas
de especificação;
• Abordagem flexível durante a fase de concepção de forma a incluir as alterações do cliente;
• Acordo de uma especificação pormenorizada para o projecto antes do trabalho de
construção;
• Nomeação, por parte do cliente, de um gestor de projecto sénior permanente para controlar
as relações entre o empreiteiro, o gestor do aeroporto e o público;
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
• Realização durante dois dias, de um exercício formal de construção entre todos os
colaboradores do cliente e a equipa de projecto do empreiteiro para fomentar uma boa relação
de trabalho;
• Constituição de uma equipa experiente para a gestão do projecto.
O cliente preparou uma especificação pormenorizada definindo exactamente quais seriam os
requisitos técnicos, estéticos e contratuais;
• Os prazos para preparação da candidatura e conclusão do projecto foram realistas;
• As investigações pormenorizadas ao local ficaram sob a responsabilidade dos proponentes;
• O empregador concordou em pagar mais pelas investigações do solo, reconhecendo a
existência de condições adversas;
• O cliente e o empreiteiro já tinham trabalhado em conjunto anteriormente;
• Cliente respeitou o plano e não foram introduzidas alterações;
• O cliente constituiu uma equipa de engenharia experiente para proceder à auditoria do
sistema de garantia de qualidade do empreiteiro e dar apoio contínuo em termos de novas
abordagens de engenharia e gestão de tráfego
3.2.3. Fase de Utilização / Manutenção
A cultura reactiva existente em Portugal, associada a uma legislação quase inexistente,
constitui um obstáculo à mobilização de meios adequados à prática da manutenção. Numa
sociedade cada vez mais competitiva e no actual contexto de crise internacional, os recursos
financeiros devem ser aplicados com critérios de rigor e exigência, incidindo particularmente
na implementação de planos de inspecção e manutenção de edifícios.
Nas últimas décadas, observou-se em Portugal um elevado crescimento do volume de
construção nova. A ausência de políticas adequadas às necessidades de manutenção ao longo
da vida útil do edifício e a falta de informação dos responsáveis pela gestão do edificado e
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
próprios utentes originaram elevados graus de degradação do parque habitacional e o
envelhecimento precoce ao nível dos elementos constituintes do edifício.
A falta de investimento, que se tem verificado em Portugal em trabalhos de reparação e
manutenção do edificado, tem-se revelado muito penalizadora para o desempenho económico
do país (no período 1985/2009, apenas 20% do número de licenças emitidas para edifícios de
habitação se referiam a trabalhos de manutenção e reparação, face a 80% relativos a
construção nova). Numa sociedade cada vez mais competitiva e no actual contexto de crise
internacional, os recursos financeiros devem ser aplicados com critérios de rigor e exigência,
incidindo especialmente na implementação de planos de inspecção e manutenção de edifícios.
Na temática dos planos de manutenção, destacam-se o Brasil, o Canadá, Espanha, os Estados
Unidos, a França, a Itália, o Japão e o Reino Unido, os quais apresentam: bases de dados com
os defeitos mais correntes; prática de inspecções nacionais para avaliação do estado de
conservação dos edifícios e sua monitorização; planos a longo prazo das operações de
manutenção; existência de registos de todas as intervenções e de bases de dados com custos
de manutenção (Flores, 2002).
Verifica-se uma necessária alteração urgente da actual conjuntura nacional, com o objectivo
de melhorar a qualidade de vida das populações e a sustentabilidade da economia. Deste
modo, constatou-se uma mais-valia a implementação de acções de formação, pois a
documentação técnica e normativa, em Portugal, é muito reduzida. Contudo, tem-se assistido
a um esforço considerável de mudança, quer a nível governamental (criação de uma comissão
para elaboração do novo RGE), quer a nível universitário (Flores, 2002); (Madureira, 2011).
As envolventes exteriores assumem cada vez mais um papel predominante, pois estão
associadas a um conjunto de factores determinantes para a utilização com conforto de um
determinado edifício e provam ser os elementos mais susceptíveis à acção dos agentes
atmosféricos (cada vez mais agressiva devido à poluição ambiental e industrial), refutando
assim a hipótese da degradação prematura do sistema de coberturas ser apenas consequência
de ineficaz concepção e execução dos elementos constituintes.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Gráfico 17 – Reclamações devidas a deficiências no processo construtivo
O gráfico acima demonstra os pontos da envolvente exterior que mais sofrem reclamações
devido a deficiências do processo construtivo como é o caso de fissuração em fachadas,
pavimentos danificados, infiltrações e humidades e pinturas com patologias.
A implementação de planos de inspecção e manutenção de coberturas e de fachadas permite
acompanhar o desempenho dos diversos elementos construtivos e assim compreender as
condições de serviço estipuladas, as características, modelos e agentes de degradação, os tipos
de anomalias e respetivas causas, com o intuito de preservar os níveis de qualidade prédefinidos, optimizar os custos financeiros e garantir a satisfação dos utilizadores.
Na primeira metade do séc. XVIII a.C., o comportamento do edifício em serviço já era uma
preocupação real. O Código de Hammurabi (Rei da Babilónia) evidenciava essa preocupação
no desempenho do edifício, definindo penas severas ao responsável, quando se verificassem
danos no edifico. A Lei n.º 229 inserida do Código de Hammurabi referia que ”Se um
construtor construir uma casa para outrem e não a fizer bem-feita, ela cair e matar seu dono,
então o construtor deverá ser condenado à morte”. A Lei n.º 233, na mesma linha da
anteriormente referida, responsabiliza o construtor pelas anomalias verificadas na obra: “Se
um construtor construir uma casa para outrem, e mesmo a casa não estando completa, as
paredes estiveram em falso, o construtor deverá às suas próprias custas fazer as paredes da
casa sólidas e resistentes”. (Código de Hammurabi).
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
No Império Romano (Roma, 393 d.C.) a constituição de Graciana, Valentiniano e Teodósio,
impunha para as construções uma garantia de quinze anos, responsabilizando o construtor e o
seu património.
Vitruvius, arquitecto romano, no seu tratado de arquitectura, actualmente conhecido como
“Os Dez Livros de Arquitectura” trata a forma como manter e cuidar os edifícios. Refere que
os edifícios devem ser construídos com “durabilidade, conveniência e beleza”, a famosa tríade
vitruviana firtmitas, utilitas e venustas. Construir com durabilidade sempre foi uma
preocupação desde os tempos mais remotos. Esta preocupação foi sendo vertida na forma
como se projectavam os edifícios, na forma como se construíam, nos materiais que se
empregavam, na forma como se utilizavam os edifícios, na forma como se mantinham. Ao
longo da história da arquitectura e da construção foram surgindo referências à preocupação do
desempenho do edifício em serviço, ou seja a sua durabilidade. No entanto, os estudos
existentes dirigem-se fundamentalmente para a previsão da vida útil não existindo trabalho
desenvolvido no âmbito da concepção arquitectónica, de cariz mais prático e pragmático.
Em França em 1804, Napoleão deliberou o Código de Napoleão que impunha uma garantia de
dez anos (garantia decenal), responsabilizando o construtor e os projectistas.
No dia 27 de Abril de 2013 no jornal semanal Expresso informava um alerta vermelho, cerca
de um terço do património nacional necessitava de intervenções urgentes. Ameaçados pela
degradação de décadas em que a sua conservação foi esquecida. Esta notícia relata o relatório
sobre o estado do património cultural, remetido pela secretaria de estado da cultura, onde
constam nomes emblemáticos do nosso rico património como o Convento de Cristo em
Tomar, Mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém, Sé Velha de Coimbra e Castelo de Alcácer
do sal, etc. Esta notícia é um espelho cultura de conservação e manutenção Portuguesa.
Para além de todo o património edificado de Norte a Sul, Portugal neste momento apresentase como um país fortemente edificado, com recentes e abundantes infra-estruturas, no entanto
urge o grande desafio futuro, garantir a conservação e manutenção.
A maior parte das intervenções nos edifícios em Portugal são reactivas e não preventivas
sendo que grande parte destas quando actuação tardia origina outras patologias mais graves
ou levando a outras patologias mais severas nos edifícios.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Esta cultura reactiva existente no nosso País, associada a uma legislação generalista que
apenas obriga à manutenção dos edifícios de 8 em 8 anos (RGEU, 2006) constitui um
obstáculo na mobilização dos meios adequados à prática da manutenção. Nesta perspectiva,
não surpreenderá o afastamento que o nosso sector da manutenção / reabilitação residencial
apresenta relativamente à média da União Europeia, a qual representa cerca de 33% da
actividade de construção, face aos cerca de 4 % apresentados por Portugal (Sequeira, 1999).
No entanto a legislação deve ser mais rigorosa e objectiva, de modo a alterar esta cultura
reactiva de intervenção que quando tardia seja por parte do dono de obra seja por parte do
empreiteiro. Durante o prazo de garantia dos edifícios é importante a manutenção através de
operações periódicas de manutenção para evitar maiores encargos à posterior. Sem nunca
esquecer um desenvolvimento sustentável.
Anteriormente referenciou-se a importância da qualidade do projecto para os custos de
manutenção e exploração durante a fase de utilização da obra. Os custos com o desgaste de
materiais inadequados para as soluções, os consumos de energia, os custos dos consumíveis,
da manutenção dos equipamentos electromecânicos, da vigilância e do comportamento global
das obras. Com a incorporação de novos materiais na construção com ciclos de vida dos
materiais e dos componentes da construção, os utilizadores deparam-se com custos
inesperados de conservação e manutenção, tornando um fardo pesado de suportar.
Segundo dados da OZ, Diagnostico, levantamentos e controlo de qualidade de estruturas, Lda.
cerca de 2 a 5% dos custos totais envolvidos pela construção e exploração de um edifício
correspondem à concepção, projecto e fiscalização; 15 a 20% à construção e o restante à
exploração e manutenção, figura 2.6. (OZ, 2008):
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Gráfico 18 – Distribuição de custos (OZ, 2008).
Os elevados custos relacionados com as necessidades de manutenção e de reabilitação das
edificações que os utilizadores têm de suportar durante o ciclo de vida dos empreendimentos,
fizeram aumentar a preocupação com a análise do seu custo global. No Reino Unido, este
problema aparece tratado em dois documentos, o “Latham Report” e o “Egan Report”.
O primeiro destes relatórios, “Construction The Team”, de Michel Latham, publicado em
Julho de 1994, refere que o custo global de um empreendimento não se resume ao seu custo
durante a fase de construção, mas ao seu custo de todo o seu ciclo de vida, ou seja, para seu
cálculo devem ser contabilizados os custos de manutenção, reparação, alteração e demolição
parcial ou total. Os projectos que contemplem a problemática da manutenção e de todas as
intervenções posteriores à construção, pode traduzir-se numa maior durabilidade do edificado
e em custos mais baixos de utilização.
Na fase do projecto deverá ser indicado um plano de manutenção e utilização ou um manual
de inspecção e manutenção da edificação definido na proposta de alteração do actual RGEU,
onde se registarão todas as acções de manutenção a realizar, a sua periodicidade, as
recomendações de utilização e outras particularidades. Este documento deverá estar em
consonância com a Compilação Técnica, da regulamentação de segurança, Decreto-Lei
273/2003, de 29 de Outubro, também designado por Plano de Utilização e Manutenção (Dias,
1999), que resulta da necessidade de cumprir os princípios gerais de prevenção dos riscos
existentes, durante as operações de manutenção (Flores, 2002).
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Os projectistas apresentam um papel principal na escolha adequada das soluções tecnológicas,
dos materiais (durabilidade e funcionalidade), dos custos envolvidos e na previsão de
acessibilidades e de condições de segurança para a execução das operações de manutenção a
implementar durante a vida útil dos edifícios (Flores, 2002). A opção de soluções técnicas
mais económicas (menor custo inicial) poderá corresponder às situações efectivas de maior
custo global, associadas a onerosos encargos de manutenção.
Na proposta do novo regulamento geral das edificações urbanas, no Artigo 117º a vida útil é
definida apenas para a estrutura do edifício, para a qual prescreve um valor de referência de
cinquenta anos. No entanto, para cada componente do edifício, a sua vida útil é definida pelo
respectivo fabricante, com base em características de deterioração obtidas pela experiência da
respectiva utilização. Para fazer face a esta situação a legislação de controlo da qualidade é
apenas obrigatório por lei a ficha técnica da habitação e a compilação técnica. Inexistência da
obrigatoriedade de controlo da qualidade (com excepção do RSECE).
O RCCTE exige temperaturas mínimas de conforto no interior das casas de forma a evitar o
aparecimento de condensações. No artigo 14.º nas condições interiores de referência indica as
condições ambientes de conforto de referência são uma temperatura do ar de 20 ºC para a
estação de aquecimento e uma temperatura do ar de 25ºC e 50% de humidade relativa para a
estação de arrefecimento. Refere ainda a necessidade de renovação do ar para garantia da
qualidade do ar interior de 0,6 renovações por hora. Hoje os clientes estão mais conscientes
dos custos. Nos inquéritos realizados pelo observatório da Construção (UTAD), os gastos
elevados de aquecimento são considerados um factor de não qualidade por 51,9 % dos
entrevistados, sendo que nesta data o custo do petróleo era bem mais baixo que hoje.
Sendo grande parte das patologias do pós-venda inexistência de manutenção inadequadas
políticas de manutenção / reabilitação, a par de políticas de arrendamento anteriores os
aspectos relacionados com a manutenção dos edifícios são quase sempre descurados e, só
quando se verificam problemas de funcionalidade e de segurança de alguns elementos se dá a
devida relevância às questões da manutenção.
Uma das causas para a situação actual deve-se à falta de regulamentação em Portugal, apesar
de sermos uns país aparentemente rico pelas onerosas soluções construtivas que assistimos
nas escolares – parque escolar, em que o orçamento das obras chegam a pesar cerca de 30%
do seu custo para a instalações técnicas que acabam por ficar a deteriorar-se nas coberturas
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
das escolas ou acabam por ser desligadas devido à insuportável factura de electricidade e
custos de manutenção mensal. Temos o dever de entender quem somos e que dinheiro temos e
aproveitar o clima do país para novas soluções técnicas que visem a redução de custo de
manutenção e utilização. De referir o caso do conceito da “passive house” que tem pontos
fortes, no entanto deve-se ter atenção com as devidas adaptações para Portugal. Devido à crise
começamos a entender que tudo tem um preço e que a importação “cega” das directivas
quadro por vezes não servem para as condições especificas de cada país, faltando uma
adaptação ao clima, poder de compra de cada estado membro.
A Portaria n.º 701-H/2008 de 29 de Julho” instruções para a elaboração de projectos de obras”
introduz algumas novidades de utilidade para a fase de utilização e manutenção como é o caso
das «Telas finais», o conjunto de desenhos finais do projecto, integrando as rectificações
alterações introduzidas no decurso da obra e que traduzem o que foi efectivamente construído.
A “assistência técnica especial», os serviços complementares a prestar, quando
contratualmente previstos, pelo Projectista ao Dono da Obra, visando a apreciação da
qualidade de equipamentos, elementos ou ensaios ligados à execução da obra, à sua
monitorização ou manutenção, bem como à recepção da obra. No artigo 4.º da portaria faz
referência à estimativa geral do custo da obra, tomando em conta os encargos mais
significativos com a sua realização e análise comparativa dos custos de manutenção e
consumos da obra nas soluções propostas. Para além da assistência técnica e assistência
técnica especial, apresenta no artigo 82.º serviços suplementares os condicionamentos a nível
de exploração, acesso e manutenção dos sistemas e equipamentos. No artigo 43.º anteprojecto
refere para o dimensionamento dos espaços técnicos principais, centrais e percursos verticais
e horizontais, acima dos tectos falsos ou sob os pavimentos sobreelevados, e indicação das
condições de acesso para manutenção ou reparação, os aspectos a ter em conta na inspecção,
observação, manutenção e conservação da obra, equipamentos de serviço, nomeadamente
acessos para inspecção e manutenção, condições económicas relativas à exploração,
manutenção conservação da obra e especificação de actividades periódicas de observação e de
manutenção durante a vida útil da obra.
Actividade europeia do sector da manutenção
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Nos países mais desenvolvidos da União Europeia, a preocupação pela manutenção do parque
habitacional e pela qualidade de vida dos utentes é cada vez maior nos últimos anos. Deste
modo, a definição de mecanismos de apoio para a implementação da manutenção e
reabilitação (M&R) é cada vez mais frequente, no sentido de responder às necessidades de
conservação dos edifícios (Leite, 2009). Segundo o EuroConstruct (2008), foi realizada uma
avaliação da produção no sector da construção civil nos 19 países pertencentes a esta rede, a
qual foi quantificada em mais de 1500 mil milhões de euros. Com base neste estudo,
verificou-se que o subsector residencial, mesmo não sendo o mercado mais dinâmico,
representava ainda em 2007 quase metade desse mercado, ou seja, 718 mil milhões de euros,
representado na figura abaixo. No entanto, na construção de edifícios não residenciais e na
manutenção dos edifícios já edificados, os investimentos existentes eram ainda bastante
reduzidos (cerca de 480 mil milhões de euros), tendo em conta a necessidade de melhoria das
condições de desempenho e qualidade do parque edificado e dos respectivos utentes. O
subsector no qual se fez menos investimentos foi no das obras públicas, em que foram
aplicados apenas 319 mil milhões de euros (cerca de 21% do valor total aplicado no sector da
construção civil).
Gráfico 19 – Mercado da construção na Europa em 2007 (Adaptado de Euroconstruct 2008).
O RJUE - Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação na secção IV – Utilização e
conservação do edificado, artigo 89º refere o dever da conservação com uma periocidade
mínima de 8 anos, sendo que podem ser ordenadas obras coercivas de conservação ordenada
pela câmara municipal incluindo a demolição total ou parcial coerciva ordenada pela Câmara
municipal sempre com prévia notificação ao proprietário. A periodicidade da intervenção está
relacionada com o tipo de intervenção; o nível exigido de qualidade e o grau e tipo de
deterioração patentes, em cada elemento. O estabelecimento de uma periodicidade de
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
103
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
intervenção permite racionalizar as estratégias da mesma, no pressuposto de que um
encurtamento excessivo na periodicidade das operações de manutenção terá sempre, como
consequência, encargos supérfluos e desnecessários.
Na proposta de alteração do regulamento geral de edificações urbanas, o Artigo 119º,
manutenção, estabelece que o proprietário ou proprietários assegurem a realização de
inspecções periódicas correntes e especiais, de acordo com o respectivo Manual de Inspecção
e Manutenção da Edificação. Assim, no caso de edifícios possuidores do respectivo manual, a
periodicidade é de 15 meses para inspecções periódicas correntes, destinadas a detectar
anomalias que devem ser registadas nas fichas de inspecção e originar as acções indicadas no
respectivo manual, enquanto que no caso de edificações sem Manual de Inspecção e
Manutenção da Edificação, prescrevem-se inspecções periciais, pelo menos uma vez em cada
período de oito anos, devendo o proprietário proceder à correcção das deficiências.
O RSECE no artigo 21.º faz referência à obrigatoriedade de um técnico responsável pelo bom
funcionamento dos sistemas energéticos de climatização, incluindo a sua manutenção e pela
qualidade do seu ar interior, bem como pela gestão da respectiva informação técnica. Estes
técnicos têm qualificações mínimas exigidas para o exercício das funções. Esta lei é a única
que faz referência à obrigatoriedade de um técnico responsável pela manutenção.
Numa perspectiva a longo prazo o edifício deverá ser entendido como entidade global com
um propósito funcional, para a definição dos diferentes tipos de inspecção, trabalhos de
manutenção e eventuais reparações A hierarquia dos objectivos do Plano de Manutenção é:
1.
Redução dos efeitos devidos a colapso e garantia de segurança;
2.
Garantia de condições de higiene e salubridade;
3.
Garantia de condições de uso do edifício;
4.
Uso eficiente de recursos energéticos e minimização de custos de manutenção.
A tomada de decisões relativas às actividades de manutenção e reparação pode ser
influenciada pela existência de um plano que caracterize as intervenções e os respectivos
custos. Torna-se assim evidente que a análise de um edifício não acaba no momento da
finalização da construção, mas que se deve prolongar durante a vida útil. Este princípio será
104
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
igualmente importante no caso dos edifícios de recente construção em que as instalações
especiais (ar-condicionado, elevadores, sistemas inteligentes de gestão, aquecimento central,
detecção de incêndio) constituem um dos principais elementos da construção. Por outro lado a
definição em projecto de regras de manutenção associadas a manuais de utilização permitem
um melhor controlo de custos ao longo da vida útil do edifício e também a elaboração de
cronogramas destinados a potenciar as intervenções necessárias. (Ferreira, 2009)
A fase de manutenção é normalmente aplicada a equipamentos mecânicos vitais ao bom
funcionamento dos edifícios. São exemplos disso os elevadores em que a manutenção é
obrigatória, os equipamentos de exaustão, ventilação, ar condicionados, etc.
No que diz respeito à manutenção na envolvente do edifício verifica-se que esta é
frequentemente esquecida, quer pela sua amplitude no tempo, quer pela lenta depreciação do
edifício, o que origina uma ideia de perpetuidade do edifício, não sendo, por vezes,
imediatamente perceptível, o estado de degradação de certos elementos. É nestes elementos
que se apresentam as coberturas. Além da pouca perceptibilidade de degradação no tempo,
estes elementos não estão visíveis e aquando da verificação de ocorrências de anomalias
nestes elementos, estes já se encontram num estado adiantado de degradação dos
componentes onde ocorrem. Actualmente, a maioria dos trabalhos de manutenção executados
na fase de exploração são provenientes de uma política de manutenção reactiva, ou seja estão,
quase sempre associados a situações de emergência que necessitam de resolução rápida. Estas
intervenções imprevistas ocasionam oscilações nos custos de manutenção / exploração anuais.
A procura de minimização dos custos, no entanto origina, por vezes, a adopção de técnicas
não adequadas mas financeiramente mais económicas que, ao fim de algum tempo, por não
resolverem os problemas, são novamente aplicadas. (Ferreira 2009)
Segundo I. Flores (2002), ―”uma estratégia de manutenção quer-se clara nos objectivos e
métodos a aplicar durante a fase de exploração e utilização do edifício. A gestão da
manutenção deverá partir de pressupostos aceitáveis, designadamente de carácter legal e
técnico (em particular as exigências de saúde e segurança), o controlo orçamental, a satisfação
dos utentes e o controlo e execução dos raciocínios de manutenção.” A realidade Portuguesa
acerca deste assunto é através de caderno de encargos generalizadamente fracos, ausência de
passagem a escrito das “Regras da Arte” sem referência a operações de manutenção ao longo
da vida útil do empreendimento.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
No planeamento das actividades de manutenção, é importante identificar os trabalhos que
caracterizam as diferentes vertentes de actuação. Tendo em conta que a manutenção engloba
necessariamente diversas operações, será oportuno caracterizar as diversas intervenções
(Flores, 2002):
Operações de limpeza: embora não lhes seja frequentemente atribuída a devida importância
e sejam por isso minimizadas, são de grande relevância na prevenção de outras anomalias que
surgem na sequência da volumação das sujidades e a acumulação de outros depósitos.
Operações de inspecção: encaradas como marco importante em qualquer estratégia de
manutenção no nosso país, as operações de inspecção decorrem geralmente sem qualquer
apoio técnico, quase sempre recorrendo a empreiteiros mais vocacionados para a reparação
das anomalias. Quando existe apoio técnico, este é normalmente solicitado por empresas de
gestão de condomínios e assume um carácter curativo, ou seja associado a uma manutenção
reactiva.
Operações de reparação ou substituição local: estas operações enquadram-se no âmbito das
operações de manutenção e têm como objectivo solucionar determinadas anomalias que se
manifestam em zonas localizadas. Quando estas anomalias são oportunamente tratadas
impede-se a propagação para todo o elemento. Conforme já referido, estas operações apenas
devem ser executadas após análise e correcção das causas dessas anomalias, adoptando
técnicas adequadas a cada tipo, de forma a evitar o aparecimento dos fenómenos de repatologia.
A operação de inspecção, como o nome indica, refere-se a operações de verificação dos
elementos considerados, efectuada por um técnico, com o objectivo de identificar patologias
ou factores precedentes às anomalias, deteriorações prematuras, deficiência de funcionalidade
do elemento, assim como todos os factores que prejudiquem o bom funcionamento da
cobertura;
A Manutenção: representa todas as actividades de manutenção necessárias para que os
elementos mantenham o seu correcto funcionamento ao longo da sua vida útil (actividades de
limpeza, pequenas reparações, etc. …) englobando assim as actividades que tendem a manter
o nível inicial de qualidade do elemento;
106
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Substituição representa a substituição total do elemento em causa por este já ter atingido o
seu fim de vida, correspondendo assim ao começo de um novo ciclo de manutenção e ao
termo do anterior, para o elemento em causa.
Associados às actividades de manutenção, existem custos dificilmente quantificáveis, os quais
representam uma parte significativa dos custos globais. Na figura abaixo, a imagem do
iceberg traduz a realidade dos custos de manutenção: a ponta visível representa os custos
apurados contabilisticamente, por outro lado, a parte submersa representa todos os outros
custos, dificilmente quantificáveis.
Figura 12 – Iceberg dos custos verdadeiros da manutenção
Manutenção preventiva
A implementação de metodologias de manutenção, desde a fase de projecto, e a sensibilização
de cada interveniente, em particular gestor e/ou dono de obra, arquitecto, engenheiro,
empreiteiro, fabricante, empresas de gestão de condomínios e utentes, incentivam a prática da
manutenção pró-activa (actuação periódica e atempada dos problemas). Este tipo de
metodologia de manutenção deve abordar os aspectos técnicos, ao nível dos materiais e
soluções construtivas (modelos de degradação, durabilidades, vidas úteis, etc.). Deve, ainda,
ter em conta os aspectos económicos (custos globais das soluções), aspectos ambientais e
energéticos (racionalização e eficiência energética e gestão de resíduos) e funcionais
(adequada utilização e manutenção – acessibilidades). (Flores, 2003)
Essa metodologia desenvolve-se nas seguintes actividades: análise dos elementos de projecto,
recolha e sistematização de informação, planeamento das inspecções e acções de manutenção,
modos de actuação, implementação das acções, correcção de anomalias imprevistas,
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
controlo/registo das intervenções, tratamento de dados e retorno de informação aos
projectistas.
Em suma, estes aspectos deverão ser sistematizados em planos de inspecção e manutenção, a
definir na fase de concepção, caso de edifícios em projecto, ou na fase de utilização, caso de
edifícios existentes. Com a definição da periodicidade das intervenções é possível identificar
as grandes fases de actuação, durante a vida útil dos elementos, de forma a gerir recursos,
custos e intervenções, visando garantir uma vida útil maior para as construções através do
impedimento do seu envelhecimento precoce.
Dentre as tarefas inerentes ao estabelecimento de um plano de manutenção e face às
exigências de uma adequada utilização e manutenção dos edifícios, deve fazer parte a
elaboração dos manuais de utilização para as administrações e utilizadores. Estes manuais
devem conter as informações necessárias, as regras a respeitar e os cuidados a ter na
utilização e manutenção correntes do edifício e das suas instalações e sistemas, sempre numa
óptica da racionalização e minimização de custos e de desenvolvimento sustentável. Isto é,
deve assentar em conselhos de utilização ao nível da eficiência energética, para que haja uma
racionalização de energia, da utilização da água, minimização de desperdícios e uma gestão
adequada dos afluentes e resíduos, promovendo e incentivando a redução, reutilização e
reciclagem podendo, assim, constituir uma ferramenta de educação ambiental para
utilizadores.
Um dos aspectos importantes da construbilidade é a manutenção e alteração do edifício ao
longo da sua vida. Os custos inerentes a estas operações podem ultrapassar os custos iniciais
da sua construção. A durabilidade é importante não só em termos de intervalo de tempo em
que o edifício permanecerá utilizável, mas também em termos de grau de dificuldade de
detioração. Assim, materiais e componentes de baixa qualidade contribuem para aumento dos
custos de manutenção e têm ciclos de substituição mais curtos. Ter-se-á pois, maior proveito
económico investindo inicialmente em materiais, componentes e processos construtivos de
maior qualidade (Rodrigues e Teixeira, 2004)
Ficha técnica da Habitação
Segundo os dados dos censos de 2001 e 2011, grande parte dos edifícios construídos em
Portugal apresentam necessidade de reparação, encontrando-se muitos deles num estado
108
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
muito degradado. Estes números são ainda mais preocupantes quando a falta de qualidade e
durabilidade se regista em edifícios muito recentes.
Assim, tendo por objectivo a protecção do consumidor adquirente de um prédio urbano ou
habitação, o Decreto Lei 68/2004 de 25 de Março estabelece um conjunto de mecanismos
para reforçar os direitos dos consumidores à informação e protecção dos seus interesses
económicos no âmbito daquela aquisição. Neste sentido, estabelece um conjunto de
obrigações para aqueles que se dedicam, profissionalmente, à actividade da construção de
prédios urbanos habitacionais para comercialização, nomeadamente a elaboração e
disponibilização aos consumidores adquirentes de um documento descritivo das principais
características técnicas e funcionais da habitação, reportadas ao momento de conclusão das
obras de construção, reconstrução, ampliação ou alteração. Este documento descritivo
designa-se por Ficha Técnica da Habitação, sendo o promotor imobiliário o responsável pela
sua elaboração, devendo-se manter em arquivo durante 10 anos e proceder ao depósito de um
exemplar na respectiva Câmara Municipal. O conteúdo deste documento deve estar em
conformidade com os projectos de arquitectura e especialidades, bem como com as alterações
que ocorreram ao longo da fase de construção e do respectivo registo nas correspondentes
telas finais, devendo conter:
- A identificação dos principais intervenientes no processo – construtor, projectista, técnico
responsável da obra, promotor imobiliário;
- Informação técnica sobre o loteamento (caso exista);
- Informação técnica sobre o prédio urbano;
Compilação Técnica da obra
No que respeita à prevenção de riscos profissionais durante as intervenções de manutenção,
reabilitação, demolição, realizadas na edificação, após a sua conclusão, o Decreto Lei n.º
273/2003 de 29 de Outubro identifica a compilação técnica da obra como instrumento no qual
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
109
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
constam os elementos técnicos cujo o conhecimento permite intervenções posteriores em
segurança.
Compete ao dono de obra providenciar para que seja elaborado este documento que deve ser
transmitido ao utilizador final da edificação. Este, por sua vez, deve garantir que se procede à
respectiva actualização sempre que se efectuem intervenções que posam ter influência em
operações posteriores. Tal como a Ficha Técnica, o conteúdo deste documento deve estar em
conformidade com os projectos de arquitectura, estruturas, especialidades, bem como com as
alterações que ocorreram ao longo da fase de construção e do respectivo registo nas
correspondentes telas finais, devendo conter os seguintes elementos:
- Identificação completa do dono da obra, do autor ou autores do projecto, dos coordenadores
de segurança em projecto e em obra, da entidade executante, bem como de subempreiteiros ou
trabalhadores independentes cujas as intervenções sejam relevantes nas características da
mesma;
- Informações técnicas relativas ao projecto geral e aos projectos das diversas especialidades,
incluindo as memórias descritivas, projecto de execução e telas finais, que refiram aspectos
estruturais, as redes técnicas e os sistemas e materiais utilizados que sejam relevantes para a
prevenção de riscos profissionais;
- Informações técnicas respeitantes aos equipamentos instalados que sejam relevantes para a
prevenção dos riscos envolvidos na sua utilização, conservação e manutenção.
- Informações uteis para a planificação da segurança e saúde na realização de trabalhos em
locais de obra edificada cujo o acesso e circulação apresentem riscos.
Ficha Técnica da Habitação
A identificação do: construtor, projectistas, técnico
responsável da obra, promotor imobiliário
110
Compilação Técnica da Obra
Identificação do dono de obra, do
autor ou autores do projectos, dos
Análise Comparativa
A compilação técnica
da obra exige a
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Informação técnica sobre o loteamento (caso exista)
Informação sobre o prédio urbano que deve incluir;
- localização, número de inscrição na matriz predial
e número e data da licença de utilização;
- Número de pisos acima do solo, número total de
fogos, números de ascensores, existência de outro
tipo de utilização que não habitacional, número de
lugares de estacionamento, condições de acesso a
pessoas de mobilidade condicionada, existência de
salas de reuniões de condóminos e de casa de
porteiro;
- Soluções construtivas dos principais elementos de
construção;
- Principais materiais e produtos de construção;
- Sistemas de controlo de gestão do prédio, no que
se refere à segurança contra a intrusão, à segurança
contra incêndio, à gestão energética e à gestão
ambiental;
- Localização dos equipamentos ruidosos;
- Localização dos equipamentos proporcionando
acesso ao prédio a pessoas com deficiência;
- Planta simplificada do piso de entrada no edifício;
A informação sobre a fracção autónoma, com
indicação da sua localização e do número e data da
licença de utilização;
- Descrição da habitação, e das dependências do
fogo, com indicação da área bruta da habitação, da
área bruta do fogo, da área útil do compartimento e
da área útil de cada dependência do fogo;
- Caracterização das instalações na habitação;
A Ficha Técnica da Habitação deve conter ainda
informações relativas;
- à Garantia da habitação;
- Regras de funcionamento do condomínio;
- Planta simplificada do piso de acesso ao fogo,
com indicação da localização dos extintores
portáteis e das saídas de emergência em caso de
incêndio;
- Plantas simplificadas da habitação;
- Plantas simplificadas das redes existentes na
habitação
-Regras de manutenção dos equipamentos
instalados que requerem tratamento especial.
coordenadores de segurança em
projecto e em obra, da entidade
executante, bem como de
subempreiteiros ou trabalhadores
independentes cujas intervenções
sejam relevantes.
Informações técnicas relativas ao
projecto geral e aos projectos das
diversas especialidades, incluindo
as memorias descritivas, projecto
de execução e telas finais, que
refiram os aspectos estruturais, as
redes técnicas e os sistemas e
materiais utilizados que sejam
relevantes para a prevenção dos
riscos profissionais.
Informações técnicas respeitantes
aos equipamentos instalados que
sejam relevantes para a prevenção
dos riscos da sua utilização,
conservação e manutenção;
Informações
úteis
para
a
planificação da segurança e saúde
na realização de trabalhos em
locais da obra edificada cujo o
acesso e circulação apresentem
riscos.
identificação completa
de
todos
os
intervenientes na obra
na fase de concepção e
na fase de construção
Neste item verifica-se
que a ficha técnica
pretende fornecer os
dados que permitam ao
consumidor
final
verificar:
- se o produto que lhe
foi
vendido
corresponde
efectivamente
à
realidade;
- as características e
qualidade
dos
elementos construtivos,
das redes instaladas,
equipamentos
e
materiais
aplicados,
tendo como principal
objectivo a garantia de
qualidade
e
a
durabilidade
da
construção (do edifício
e da fracção) bem
como a salvaguarda da
segurança, saúde e
conforto
dos
utilizadores.
A compilação técnicas
da obra deve reunir um
conjunto
de
informações
para
permitir as operações
de
manutenção,
conservação,
reparação, reabilitação,
demolição e de acesso
ou
circulação
cumprindo as regras de
segurança.
Quadro 13 - Quadro comparativo entre ficha técnica de habitação e compilação técnica da obra, (Adaptado
Rodrigues e Teixeira, 2004)
3.3. Garantias e Seguros de Obra
Garantias e seguros de obra, o que se fez a nível internacional? Refira-se que existe a Lei
Spinetta em França a Lei 78-12, de 4 de Janeiro de 1978 onde responsabiliza os intervenientes
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
111
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
na construção pelos danos que afectem os elementos ou equipamentos indissociáveis da
envolvente durante um período de dez anos. Esta lei impõe a subscrição de dois seguros
obrigatórios: seguro de responsabilidade decenal e um seguro de reparação de danos. No
sistema Francês existe a garantia de “perfeito acabamento” durante o decorrer do primeiro
ano, ou seja patologias que surjam na recepção dos trabalhos “reservas” ou patologias que se
manifestem durante o ano seguinte à recepção da obra.
A garantia de “Bom Funcionamento” decorre durante dois anos após a recepção da obra e
inclui as patologias que afectem os elementos e os equipamentos dissociáveis da obra.
A Garantia decenal decorre desde do segundo ano após a recepção da obra durante dez anos
com efeitos nas patologias que mesmo resultante de um defeito do solo, comprometam a
solidez do edifício, patologias que tornem o edifício, ou parte, inadequado ao uso e ao fim a
que se destina e a patologias que afectem os elementos construtivos ou equipamentos
indissociáveis da envolvente.
No sistema Francês todos os intervenientes no processo construtivo tem obrigatoriamente um
seguro de responsabilidade que garanta os seus actos de construção perante os danos que
afectem os elementos ou equipamentos indissociáveis da envolvente, tornando o edifício ou
parte impróprio para o fim a que se destina. (Freitas, 2012)
O Dono de obra tem obrigatoriamente um seguro de reparação de danos que garante,
independentemente da procura de responsabilidades, o pagamento da totalidade dos trabalhos
de reparação da responsabilidade dos intervenientes.
Deste modo ficamos como uma ideia da estrutura de responsabilização directa sobre todos os
intervenientes, com a garantia que o cliente ficará sempre com o problema resolvido no
imediato, promovendo e dinamizando o sector da reabilitação na construção, á semelhança do
que acontece em Portugal com o seguro automóvel.
Em Espanha existe a L.O.E – Lei de Ordenación de la Edificación, Lei 38/1999, de 5 de
Novembro onde enumera as obrigações e responsabilidade de cada um dos intervenientes no
processo construtivo. Impõe três níveis de responsabilidade, associadas a garantias, durante
um prazo de um, três e dez anos. Este Lei impõe também a elaboração de um “Código
Técnico da Construção”. O código técnico da construção em Espanha é constituído por duas
112
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
partes, a primeira constituída por objectivos e exigências e a segunda dispõem de documentos
de Aplicação do Código Técnico da Construção.
Em Portugal em caso de defeitos apenas temos a Lei de defesa do consumidor e o código civil
(artigo 1225º) onde refere a garantia de cinco anos para “vícios estruturais que ponham em
causa a solidez e a segurança da construção e os outros defeitos que se vierem a revelar”. Em
alguns casos e dependendo do contrato elaborado entre as partes poderá existir uma caução
durante este período de garantia.
Como podemos evidenciar Portugal está muito atrasado em relação a estas matérias, pelo que
é de extrema importância para a dignificação do sector a introdução de medidas que visem
identificar e definir detalhadamente as obrigações e as responsabilidades dos intervenientes no
processo construtivo.
Desenvolver um sistema de garantias associados a seguros obrigatórios em que fosse
garantida a indemnização dos beneficiários e a responsabilização dos intervenientes, como o
sistema Francês. Embora tenhamos uma imensa história da engenharia civil e construção
Portugal não tem qualquer código de construção em que defina as exigências a satisfazer
pelas construções devidamente detalhado de soluções já devidamente testadas e aprovadas.
Esta alteração iria revolucionar o sector nas seguintes medidas;
- Dinamizando o “nichos” de mercados das reparações;
- Obrigação dos empreiteiros serem os primeiros a querer executar bem para evitar aumentos
nos seguros devido ao registo de defeitos por parte do cliente;
- Iria exigir um nível de qualificação e de quadros técnicos nas empresas que se esvaziaram
nos últimos anos;
- Iria conter a gigantesca cadeia de subempreitadas;
- Acalmava a tempestade de preços baixos que assolam as empreitadas;
- Só as empresas viáveis e cumpridoras se mantinham no mercado garantindo um serviço de
qualidade aos clientes;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
Após a recepção provisória da obra decorre o período de garantia. O Decreto-Lei n.º 18/2008
de 29 de Janeiro de 2008 (Código dos Contractos Públicos) na parte III, Titulo II e Capítulo I
– Empreitadas de obras públicas, no artigo 397.º indica que a garantia da obra inicia na data
de assinatura do auto de recepção provisória, durante o qual o empreiteiro está obrigado a
corrigir todos os defeitos da obra. O prazo varia com o defeito da obra conforme quadro
seguinte;
10 Anos
5 Anos
2 Anos
Defeitos relativos a elemento estruturais
Defeitos relativos a elementos construtivos não-estruturais ou a instalações técnicas
Defeitos relativos a equipamentos afectos à obra delas autonomizáveis
Quadro 14 - Prazos de garantia estipulados no CCP
Segundo o ponto 5 do artigo 397.º “O empreiteiro tem a obrigação de corrigir, a expensas
suas, todos os defeitos da obra e dos equipamentos nela integrados que sejam identificados até
ao termo do prazo de garantia, entendendo-se como tais, designadamente, quaisquer
desconformidades entre a obra executada e os equipamentos fornecidos ou integrados e o
previsto no contrato.” No ponto 6 do mesmo artigo “Se os defeitos identificados não forem
susceptíveis de correcção, o dono da obra pode, sem custos adicionais, exigir ao empreiteiro
que repita a execução da obra com defeito ou que substitua os equipamentos defeituosos,
salvo se tal se revelar impossível ou constituir abuso de direito, nos termos gerais”. O ponto 7
refere ainda que “Sem prejuízo da opção pelo exercício do direito de resolução do contrato,
não sendo corrigidos os defeitos nem cumprido o disposto no número anterior, ainda que se
verifiquem os casos previstos na sua parte final, o dono da obra pode exigir a redução do
preço e tem direito de ser indemnizado nos termos gerais”.
Em 2009 o Decreto-Lei n.º 278/2009 de 2 de Outubro o artigo 295.º no ponto 7 esclarece que
“a diferentes prazos de garantia e, consequentemente, a recepções provisórias e definitivas
parciais, a liberação parcial da caução, nos termos do disposto nos números anteriores, é
promovida na proporção do valor respeitante a cada um dos conjuntos de elementos que
compõem a obra, designadamente estruturais, construtivos não estruturais ou instalações
técnicas e equipamentos”. Em 2012 fruto do estrangulamento financeiro que as empresas
atravessam saiu o Decreto-lei n.º 190/2012 de 22 de Agosto que estabelece um regime
excepcional de libertação de cauções em empreitadas de obras públicas, permitindo às
empresas um maior desafogo financeiro para o desempenho das suas actividades em outras
obras. Este documento permite que o empreiteiro solicite junto do dono de obra autorização
114
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
para a libertação das cauções que tenham sido prestadas, decorrido um ano contado da
recepção provisória da obra.
1.º Ano
2.º Ano
3.º Ano
4.º Ano
5.º Ano
30%
30%
15%
15%
10%
Quadro 15 - Percentagem de libertação das garantias tendo em conta os anos decorridos
Em Portugal a eventual existência de defeitos nas construções, a sua denuncia e reparação
estão regulamentados no Código Civil Português, em “sede de empreitada” (Capitulo XII),
sendo relevante reter o estabelecido no artigo 1225º, que, em relação aos imóveis destinados a
longa duração (e todos os edifícios se incluem nesta categoria), prevê uma garantia de cinco
anos a contar da entrega, abrangendo “vícios estruturais que ponham em causa a solidez e
segurança da construção e os outros defeitos que se vierem a revelar”.
Durante o prazo de garantia, que se inicia na data de aceitação da obra (deverá haver este
registo para contar prazo), a denúncia do efeito deve ser apresentada no prazo de um ano a
contar da data do seu aparecimento. O consumidor deve exigir a eliminação dos defeitos, ou,
se estes não puderem ser eliminados, exigir nova construção. No entanto, não sendo
eliminados os defeitos ou construída de novo a obra, pode ser exigida a redução do preço ou a
resolução do contrato a devolução das quantias pagas, se os defeitos tornarem a obra
inadequada ao fim a que se destina.
Em Portugal não existe uma política de responsabilidade e de garantias de reparação de danos
que surjam nos edifícios após a sua construção, devidamente regulamentada, como existe, por
exemplo em França.
A não existência de um regime de responsabilidades pelos danos da construção em Portugal
leva a que a responsabilização pelos erros da construção apenas recaia sobre os empreiteiros e
os donos de obra que são os mais penalizados, ficando de fora os autores de projecto, gestores
da qualidade, coordenadores de segurança e saúde na fase de projecto e na fase de obra,
fiscalização, entre outros intervenientes no processo construtivo ilibados da reparação das
danos resultantes dos seus erros ou omissões. A legislação mais recente estabelece algumas
medidas que visam alterar esta situação, contudo não sortiu o efeito esperado, os resultados
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
115
CAPITULO III – Compreender as Causas das Patologias nas diferentes Fases de um Empreendimento
não foram ao encontro da melhoria do sector neste ponto das patologias, este tema será
abordado mais à frente.
Os defeitos na construção verificados em construções novas, modificadas ou reparadas,
provocadas por vício do solo ou da construção, estão na base da necessidade da existência de
um regime claro de responsabilidades, garantias e seguros no processo construtivo. Este
regime daria seguimento às diversas iniciativas de promoção da qualidade que registaram um
impulso significativo nos últimos anos em Portugal (Esteves, 2008)
Conforme atrás referido anteriormente independentemente do período das garantias existentes
para obras privados ou para as obras públicas é de realçar a inexistência de seguros associados
às garantias, o que leva a uma desregulamentação do sector e uma inexistência de
meritocracia relativamente à qualidade dos trabalhos realizados pelas empresas. Numa
situação limite uma empresa executa uma obra, esta apresenta defeitos, o cliente reclama no
cumprimento da legislação, levando situações para tribunal que se arrastam anos em que por
vezes as empresas abrem insolvência e o cliente não tem qualquer protecção nem mesmo o
da garantias bancárias. Este sistema de responsabilidades, garantias e seguros iria proteger
mais o cliente e os empreiteiros, dinamizando mais um sector que se encontra numa fase de
crise. Funcionaria à semelhança dos seguros de automóvel, em que os danos são suportados
pelos seguros dinamizando o mercado das reparações das oficinas.
116
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
CAPÍTULO IV – ESTUDO INTERNO APLICADO A UMA EMPRESA
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
117
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
118
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
4.1. Breve Caracterização da Empresa
A empresa MRG- Engenharia e Construção, SA encontra-se no mercado desde 1978, tendo
vindo desde o início da sua actividade e a registar um crescimento anual assinalável,
reflectido no volume de vendas pelos resultados positivos alcançados e pela afirmação da sua
“marca” no mercado da Construção Civil e Obras Publicas, veiculadas pelos clientes para
quem tem tido oportunidade de trabalhar, desde Câmaras Municipais a Instituições Públicas,
Privadas e Particulares.
Através de um processo de consolidação descentralizado, visando a continuação do
crescimento da MRG, sem contudo perder a rapidez flexibilidade e capacidade de adaptação
que a caracteriza, devido às condições económicas nacionais e internacionais de momento
está só com a sua sede operacional em Coimbra. Em relação à internacionalização, a MRG já
se encontra em França, Angola, Brasil, Moçambique e está a tentar novos mercados no
Magreb.
Figura 13 – Imagem da sede da empresa MRG em Coimbra
A MRG S.A. encontra-se dividida segundo uma lógica de áreas de negócio, fazendo parte da
sua estrutura um conjunto de direcções de apoio que operem de forma transversal a toda a
empresa, e que se organizam de acordo com o seguinte organigrama organizacional. A
empresa detém o Alvará de Construção
Classe “9” (máxima) Nº 1519.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
119
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Figura 14 – Organograma organizacional da empresa MRG- Engenharia e Construção, SA
A estrutura organizacional da MRG- Engenharia e Construção, SA é constituída por um
conselho de Administração presidida pelo Eng.º Fernando Gouveia. Os departamentos
apresentados dividem-se em SEC – Secretariado; CGE- Controlo de Gestão; GCIComunicação e Imagem; JUR – Jurídico; COM – Comercial; PCC- Planeamento, Controlo e
Compras; PRD- Produção; NNI- Novos Negócios/ Internacionalização; OAP- Órgãos de
Apoio. Na Gestão da 1.ª Linha apresenta-se;
OAP - Órgãos de Apoio
 Contabilidade e Financeira
 Sistemas de Informação
 Administrativa
COM - Direcção Geral Comercial
 Prospecção e Vendas
 Estudos e Propostas
PCC - Planeamento, Controlo e Compras – Sr. Carlos Veríssimo
 Planeamento
 Controlo de Produção
 Compras
120
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
PRD - Produção
 CCE-Construção Civil e Engenharia
 SPV- Serviços Após-venda
 SEP-Serviços Especializados
 Recursos Humanos
 Qualidade, Segurança e Ambiente
 Instalações Especiais
NNI - Novos Negócios/ Internacionalização
A produção está estruturada nas seguintes áreas de negócios:
 Produção de Construção Civil;
 Produção de Engenharia (Vias, Infra-estruturas e Ambiente)
A nível geográfico a área de Produção de Construção Civil, esta dividida em duas zonas de
produção, a Norte e a Sul ambas coordenadas pela sede operacional de Coimbra.
Na área de Produção de Engenharia, a MRG dispõe de todos os meios necessários à execução
das obras rodoviárias e de infra-estruturas, a saber:

Equipamento para terraplanagem;

Central de Fabrico de Misturas Betuminosas a Quente;

Central de Fabrico de Misturas Betuminosas a Frio;

Equipamento de Pavimentação;

Laboratório Central para Controlo de Qualidade.
Dentro da área dos projectos de Construção Civil e Obras Publicas, são de salientar a
competência técnica e os meios que dispõe para trabalhar e, áreas essenciais na melhoria e
optimização de processo, de forma a construir bem, respeitando escrupulosamente todas as
regras de Qualidade e segurança.
Relativamente aos segmentos de actividade acima resumidos, a MRG apresenta e desenvolve
metodologias próprias de abordagem e conceitos, procurando estar sempre actualizada no que
respeita à legislação em vigor, aos procedimentos do sistema de Gestão da Qualidade e ao
aparecimento e desenvolvimento dos novos métodos, conceito e materiais, atenta à evolução
registada neste âmbito.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
121
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Sempre atento às áreas da Qualidade, Segurança e Ambiente a MRG possui protocolos de
parcerias com empresas credíveis, certificadas para o efeito pelo IPQ, bem como técnicos
especializados no seu quadro de pessoal que assegura o estrito cumprimento de todas as
normas.
A empresa recorre ainda regularmente a serviços de Outsourcing para as áreas de arquitectura,
jurídico, consultadoria, sistema de informação, entre outras, em complemento das suas áreas
próprias.
Para além da sua capacidade de realização de obras de elevado rigor, a MGR,SA dispõem de
recursos próprios que lhe permitem assegurar todos os requisitos de qualidade, processos e
procedimentos que lhe são exigidos.
A MRG, S.A. é certificada desde Março de 2006 pela SGS, segundo a norma NP EN ISSO
9001:200 pelas actividades de Concepção, Desenvolvimento, Recuperação e Remodelação de
Edifícios, obras públicas, Infra-Estruturas, Vias de Comunicação e obras no domínio
Ambiental, ao qual foi atribuído o certificado de conformidade nº PT06/01792 e pelo Sistema
de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho, certificado desde Junho de 2009 pela SGS,
segundo a norma OSHA 18001:2007 pelas actividades de Concepção, Desenvolvimento,
Recuperação e Remodelação de Edifícios, obras públicas, Infra-Estruturas, Vias de
Comunicação e obras no domínio Ambiental, ao qual foi atribuído o certificado de
conformidade nº PT09/02791.
Figura 15 – Símbolos das duas certificações externas obtidas pela empresa
A performance empresarial da MRG SA, associada à qualidade dos produtos construídos, foi
recompensada com a atribuição de diversos prémios tais como:
Prémio Instituto Nacional de Habitação (INH) 1993
Prémio PME Excelência Construção 1998
Prémio PME Excelência Construção 1999
Prémio PME Excelência Construção 2000
122
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Prémio PME Excelência Construção 2001
Troféu Invest 2009
Troféu Invest 2010
Volume de Facturação
120.000.000,00 €
100.000.000,00 €
80.000.000,00 €
60.000.000,00 €
Volume de Facturação
40.000.000,00 €
20.000.000,00 €
- €
2008 2009 2010 2011 2012 2013
Gráfico 20 – Evolução do volume de facturação 2008/2012.
O volume de negócios tem reflectido a conjuntura do sector da Construção em Portugal,
dentro dos objectivos da MRG. Em 2010 regista-se um aumento do volume de facturação
devido às adjudicações do Parque Escolar. EPE e às parcerias publico privadas nas áreas da
Educação e Saúde. De referir que o volume de negocios baixou significativamente cerca de
50% em apenas três anos, resultado de uma restruturação organizacional interna por forma a
tornar a empresa sustentável e ajustada à carteira de obras tendo em conta o contexto actual de
mercado.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
123
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
2%
11%
Edifícios Residenciais
Edifícios não
Residenciais
Infra-estruturas e
Ambiente
87%
Gráfico 21 – Divisão percentual das áreas de negócio em 2012.
Quadro superiores
41%
45%
Quadro médios
Técnicos
operacionais
14%
Gráfico 22 – Divisão percentual dos colaboradores em 2012.
49%
Formação Superior
ou Técnica
51%
Formação Básica
Gráfico 23 – Divisão percentual dos colaboradores consoante o tipo de formação em 2012.
124
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
12
• Administrativos
10
• Operacionais Não Especializados
4
• Operacionais Especializados
13
• Manobradores e Motoristas
14
• Encarregados e Chefes de Equipa
19
• Economistas e Técnicos de Gestão
33
• Engenheiros e Técnicos de Produção
Quadro 16 - Número de colaboradores por áreas profissionais em 2012
4.2. Métodos do Estudo Interno
O estudo interno aplicado à empresa MRG-Engenharia e Construção, SA que se apresenta,
resultou da pesquisa e análise de dados internos que se considerou importantes para avaliar os
constrangimentos na qualidade da execução das empreitadas durante a execução de obra/fase
de pós-venda por forma a qualificá-los e quantificá-los analisando os resultados do
departamento de pós-venda. Este estudo foi baseado em pesquisa de arquivos de obras,
através de várias entrevistas aos diferentes níveis hierárquicos e outros dados fornecidos pela
organização onde se procedeu à análise dos seguintes pontos:
- Análise dos Pedidos de Esclarecimento de Projecto de seis obras mais representativas da
empresa;
- Estudo das não conformidades registadas pelo departamento de Qualidade no cumprimento
da norma ISO 9001:2008;
- Estudo dos constrangimentos com influência na performance da produção;
- Evolução dos custos de pós-venda relativamente ao volume de facturação;
- Estudo e caracterização das patologias registadas no departamento de pós-venda;
- Relação entre o tipo de patologias e os custos de reparação;
4.3. Análise dos Pedidos de Esclarecimento de Projecto
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
125
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Sendo a empresa em estudo certificada pela qualidade ISO 9001:2008 tem procedimentos
próprios internos que visam a gestão da construção durante o processo produtivo. Um desses
documentos é o pedido de esclarecimento de projecto que são realizados na fase de
preparação, planeamento de obra e até mesmo durante a fase de execução. Este documento
tem como objectivo registar e oficializar junto do Dono de obra/Projectista/Fiscalização todas
as dúvidas, falhas, erros ou omissões encontradas pelo empreiteiro durante a análise e
interpretação dos documentos do processo de concurso (caderno de encargos, peças escritas,
peças desenhadas, cláusulas jurídicas e cláusulas técnicas) e a coerência entre os conteúdos
nos diferentes documentos e a respectiva compatibilização técnica entre as diferentes
especialidades de modo a esclarecer todas as dúvidas para proceder á execução.
Este documento apresentado na figura abaixo é um registo onde identifica a empreitada o
assunto, a especialidade referente ao projecto. Tem um campo onde se descreve a dúvida ou
pedido de esclarecimento devidamente fundamentado, refere-se quais os documentos de
referência onde existe essa dúvida com a possibilidade de anexar documentos, esquemas,
pormenores, etc. Este documento é então entregue formalmente à fiscalização ou
representante do dono de obra que poderá ou não ter necessidade de transmitir o pedido aos
projectistas para responder ao empreiteiro. As respostas poderão dar origem a novos desenhos
que é necessário actualizar e divulgar no seio da organização da obra e poderá também dar
origem a novas medições ou alterações orçamentais que é necessário registar para controlo.
Este documento pretende defender o empreiteiro de responsabilidades que pertencem aos
projectistas, dono de obra ou fiscalização. Estes pedidos de esclarecimento de projecto devem
ser realizados o mais cedo possível para evitar paragens, alterações ou mesmo demolições
durante a fase da obra, sendo também um requisito legal do artigo 61.º do DL18/2008, de 29
de Janeiro.
126
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Figura 16 - Exemplo de Pedido de Esclarecimento de Projecto
Sendo uma das causas dos atrasos das obras a falta de qualidade dos projectos, procedeu-se a
uma análise detalhada dos Pedidos de Esclarecimento de Projecto realizados em várias
empreitadas executadas pela empresa para análise dos resultados. Raramente as empresas de
construção são responsáveis pela elaboração do projecto, no entanto o sucesso da execução da
obra vai depender e muito da qualidade com que o projecto se apresenta, daí o interesse por
parte do empreiteiro em identificar pontos críticos dos projectos através do tratamento
estatístico dos registos e arquivos da execução de algumas empreitadas. Embora a entidade
executante não sejam responsável pelo projecto fica vinculada ao seu cumprimento durante a
execução da obra e consequentemente aos possíveis erros, falhas de concepção e até mesmo
futuras patologias que possam existir durante a fase de garantia da obra. Deste modo é
essencial que as empresas sejam capazes de gerir o seu conhecimento aproveitando o seu
“know how” adquirido ao longo dos anos nas diferentes empreitadas executadas no sentido de
adquirirem capacidades para tomarem uma posição proactiva com o intuito de sensibilizar o
próprio cliente para alguns cuidados a ter na aceitação de soluções e processos construtivos
que no passado deram origem a patologias. É importante informar e questionar o projectista e
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
127
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
o dono de obra se estão disponíveis para assumir determinados riscos preconizados nos
projectos. Com isto não se pretende que o empreiteiro assuma a função de revisor de projecto,
no entanto ele é o mais interessado que os projectos estejam devidamente detalhados e
elaborados de modo a evitar constrangimentos, alterações e paragens na produção, conflitos
com o cliente na fase de execução da obra e que determinadas soluções ou opções
arquitectónicas ou processos técnicos possam dar origem a patologias no futuro.
Procedeu-se ao estudo interno dos pedidos de esclarecimento de projectos de diferentes obras
de forma a estudar os factores que afectam mais a execução e a qualidade nas empreitadas.
Para o estudo foram seleccionadas seis empreitadas da empresa tendo em conta os seguintes
critérios: qualidade e quantidade dos registos realizados pela direcção de obra, complexidade
do projecto. Deste modo as empreitadas seleccionadas foram;
 Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) (Hospital Maria Pia / Maternidade Júlio
Diniz) – valor da adjudicação: 39.500.000,00 €
 Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de São Francisco-Coimbra valor da adjudicação: 24.136.748,57 €
 Escola Secundária de Sever do Vouga - valor da adjudicação: 16.663.538.8 €
 Escola Secundária Rainha D. Leonor – valor da adjudicação: 10.198.000,00 €
 Escola Secundária Herculano Carvalho - valor da adjudicação: 9.652.049,00 €
 Instituto de Cardiologia Preventiva de Almada – valor da adjudicação: 5.600.000,00 €
4.3.1. Breve descrição das Empreitadas objecto de Estudo
Centro Materno Infantil do Norte (Hospital Maria Pia / Maternidade Júlio Diniz)
A área de intervenção definida para a construção do novo edifício hospitalar insere-se num
conjunto de terrenos com 21.676,50 m². O projecto apresentado reflecte a preocupação
fundamental de devolver a imagem de jardim à alameda de entrada, bem como provocar o
desaparecimento de todas as barreiras arquitectónicas no estabelecimento dos acessos à
intervenção. Existem amplas e variadas zonas ajardinadas que permitem a criação de um
espaço natural e agradável no qual se envolve o hospital, potenciando desta forma os jardins
existentes a norte da parcela, dinamizados pela introdução programática de um parque
infantil, que actua como charneira entre a entrada e a maternidade propriamente dita.
128
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
A existência da maternidade Júlio Dinis, que, á parte da sua grande carga simbólica para a
cidade do Porto, é um edifício que vale a pena manter, recuperar e proteger, pela sua
antiguidade e função. Esta opção foi sempre presente durante todo o desenvolvimento dos
trabalhos desde a proposta a este estudo, por isso pretende-se a recuperação dos elementos
afectados pelo passar do tempo e/ou por actuações mais ou menos cuidadas, de modo a
recuperar todo o esplendor das suas fachadas e convertê-lo na imagem mais importante do
novo hospital que projectamos.
A nova ampliação articular-se-á, não tanto como um bloco isolado com ligações pontuais,
mas como uma ampliação que se integra com o Edifício existente a nível funcional e de
serviços, e que permita a sua identificação como um único Edifício Hospitalar que procura e
resolve todas as necessidades assistenciais dos utentes.
Figura 17 – Plantas e foto virtual do projecto do CMIN
Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de São Francisco-Coimbra
Figura 18 – Plantas do Convento de São Francisco – Coimbra
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
129
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Esta empreitada caracteriza-se pela divisão em cinco áreas de intervenção bastante distintas
entre si, quer pela sua demarcação geográfica no espaço da obra, quer pelas especificidades
técnicas que lhes estão associadas. Assim podem-se destacar as seguintes zonas:
Edifício Existente: Recuperação e adaptação do edifício existente, conhecido como
Convento de São Francisco, o qual, para além da prática religiosa esteve também ligado à
actividade industrial. A tipologia da intervenção aqui prevista baseia-se na recuperação da
traça conventual, sem grandes preocupações correctivas à arquitectura rústica da construção,
com a aplicação de materiais naturais nos seus acabamentos. Estão neste momento quase
concluídos os trabalhos de revestimentos de paredes e tecos, encontrando-se em curso os
trabalhos das especialidades de climatização, electricidade, segurança e telecomunicações.
Encontra-se igualmente em curso os trabalhos de reformulação da cobertura.
130
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Figura 19 – Fotos da Reabilitação do Convento de São Francisco – Coimbra
Auditório: Construção de um auditório preparado para a realização de atividades distintas
como teatro, ópera, orquestra e convenções, com a capacidade de 1125 lugares, distribuídos
em 917 lugares na plateia, 200 lugares no balcão e 8 lugares no camarote VIP.
Neste local de intervenção foi descoberta uma necrópole, tendo sido desenvolvida uma
campanha arqueológica até ao final do mês de Agosto do corrente ano, da qual resultou o
levantamento de 602 indivíduos e 12 ossários. Da avaliação inicial do espólio associado aos
esqueletos, presume-se tratarem-se, na sua maioria, de indivíduos relacionados com as
invasões francesas.
Figura 20 – Fotos da zona da necrópole e achados das invasões Francesas
Sendo esta parte da intervenção a mais complexa do ponto de vista técnico de execução,
encontram-se neste momento em curso os trabalhos de escavação e contenção periférica, com
cerca de 30 metros de altura, realizado através da técnica de "Muros de Berlim".
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
131
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Figura 21 – Fotos da construção do Auditório
Parque de Estacionamento: Construção de um parque de estacionamento com a capacidade
de 540 lugares. O parque, constituído por uma estrutura de betão armado, caracteriza-se por
ter 4 pisos de estacionamento, ficando apenas 1 abaixo da cota da Av. da Guarda Inglesa, a
partir do qual se faz a entrada e saída de viaturas, assim como o acesso aos restantes pisos.
Com a sobrelevação da cota na frente do Convento, fica-se com uma plataforma elevada,
ganhando-se uma vista privilegiada sobre a cidade. Desta forma, para além do novo espaço
lúdico, vai-se de encontro ao que seria a cota adjacente ao Convento original. Prevê-se a
conclusão dos trabalhos nesta zona, no início de Fevereiro de 2012, estando neste momento
executados praticamente todos o trabalhos estruturais. Está ainda previsto o lançamento de
um concurso, para os acabamentos e concessão da exploração deste espaço, no próximo ano.
Restaurante : Construção de um restaurante com dois pisos, com uma área de 650 m2,
definido como um edifício autónomo, o qual remete para uma intervenção inicial de
implantação do edifício original e reconfigura o segundo claustro do Convento. Sendo este
espaço um edifício construído de raiz, encontram-se já executados todos os trabalhos
estruturais e de acabamentos base. Neste momento estão em curso os trabalhos das
especialidades de climatização, electricidade, segurança e telecomunicações.
132
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Infra-Estruturas Afectadas: Remodelação de todas as infra-estruturas afectadas, na envolvente
do Convento, nomeadamente de abastecimento de águas, drenagem de águas residuais e
pluviais, electricidade (incluindo rede de tração dos autocarros eléctricos), gás e
telecomunicações. Foram já desviadas e remodeladas todas a infra-estruturas que se
encontravam dentro do perímetro da intervenção e cuja manutenção era inviável, uma vez que
eram interceptadas pela escavação do estacionamento e auditório. Assim encontram-se
realizados na totalidade, todos os trabalhos previstos neste local.
Escola Secundária de Sever do Vouga
A intervenção nesta escolar consiste na demolição da escola básica pré-existente, corpos do
pavilhão desportivo destinados a balneários e arrecadação, portarias e elementos préfabricados. As pré-existências (a manter): Blocos A, B, C e D (com demolições pontuais e
estruturação interior e reabilitação. Construção novas são: Edifício M (Corpo de balneários);
Edifício L (Ginásio); Edifício F (Laboratórios e Sala de Grandes Grupos); Edifício G
(Laboratórios, Biblioteca e Recreio Coberto); Edifício H (Portaria, Gabinetes de Atendimento
a Pais, Secretaria, Sala deTrabalho de Docentes, Refeitório/Bar); Edifício J (Nova Escola
Básica);Edifício I (Oficina de Soldadura); Corpo N (Passadiços de ligação entre blocos).
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
133
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Figura 22 – Planta e fotos da Escola Secundária de Sever do Vouga
Escola Secundária Rainha Dona Leonor
A Escola Secundária de Rainha D. Leonor faz parte de um conjunto de escolas pertencente ao
segundo período das construções escolares, inaugurado em 1961 e ampliado em 1967. A
escola é composta por um conjunto de três edifícios, implantados em U, no centro dos quais
se encontram os campos de jogos e o recreio. O edifício principal tem três pisos, interligandose com o edifício Nascente. A intervenção centrou-se essencialmente na remodelação das
instalações existentes, ao nível do reordenamento de compartimentação, beneficiação de
revestimentos interiores e parcial intervenção na superestrutura, remodelação integral de
infra-estruturas eléctricas, de telecomunicações, de águas e esgotos. O edifício novo vem dar
resposta à necessidade de ampliação da escola e, simultaneamente, redefinir a entrada
principal, facilitando a gestão e autonomia dos espaços com maior abertura à comunidade –
sala polivalente com cerca de 180 lugares, a biblioteca e os espaços desportivos.
Figura 23 – Fotos da Escola Secundária Rainha Dona Leonor
134
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Escola Secundária Professor Herculano Carvalho
A Escola Secundária Prof. Herculano de Carvalho é um conjunto escolar pertencente ao
terceiro período das construções escolares. A intervenção visou a remodelação das instalações
existentes, ao nível do reordenamento de compartimentação, beneficiação de revestimentos
interiores, remodelação integral de infra-estruturas eléctricas, de telecomunicações, de águas e
esgotos. A intervenção centrou-se na requalificação e ampliação dos edifícios existentes,
tendo sido construído um novo Bloco. O corpo principal do edifício foi ampliado segundo a
lógica espacial da métrica do edifício existente, tendo os espaços desportivos cobertos sido
igualmente ampliados. Os espaços exteriores foram intervencionados, ficando diferenciadas
no projecto três zonas distintas: a zona da entrada, uma zona de campos desportivos exteriores
de menor dimensão e uma zona com um grande recinto desportivo e um campo de pistas de
corrida.
Figura 24 – Fotos da Escola Herculano de Carvalho
Instituto de Cardiologia Preventiva de Almada
O novo edifício, situado no cruzamento da Rua do Facho com a Rua Manuel Tito de Morais,
no Monte de Caparica, dispõe de duas caves para garagem, arquivo e arrecadações, um piso
no r/c com salas de recepção e espera, ginásios, salas de reuniões e auditório; no primeiro piso
funcionam os gabinetes médicos, salas de espera e gabinetes de provas e exames e no segundo
piso estão instalados os serviços administrativos, de logística e de contabilidade, bem como os
gabinetes da direcção e dos responsáveis pela gestão.
O projecto preconizava três serviços: Clínica de Reabilitação (dividida entre zona de exercício
físico e zona de educação), Cardiologia de Ambulatório (dividida entre zona de exames e
zona de consultas), Administração, para além de todas as valências comuns aos vários
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
135
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
serviços. Um quarto serviço de Internamento (dividido entre zona de exames, unidade de
cuidados intensivos, unidade de tratamento e núcleo central), será posteriormente adicionado
com a construção da segunda fase do projecto. Nos dois pisos subterrâneos está projectado
um parque de estacionamento com a capacidade de 116 lugares. Com a construção da segunda
fase do projecto – Internamento – prevê-se o aumento da área útil global parra 4970,00m2, o
que corresponde a 150 lugares de estacionamento. Na sequência da solução arquitectónica
adoptada, previram três unidades exteriores geográficas e funcionalmente distintas, para as
quais se preconizam diferentes tipos de intervenção.
Figura 25 – Fotos do projecto e da execução da obra
O Estudo realizado consistiu num tratamento estatístico dos pedidos de esclarecimento de
projecto para que fosse possível identificar com mais detalhe os pontos críticos dos projectos.
As empreitadas objecto de estudo dispunham de um mapa de registo dos esclarecimentos de
projecto actualizados e efectuados durante a preparação/planeamento e execução da
empreitada. Cada pedido de esclarecimento de projecto continha informações devidamente
detalhadas com base nas peças escritas ou desenhadas onde foi possível identificar as áreas
que cada assunto pretendia tratar.
136
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Quadro 17 - Exemplo de pedidos de esclarecimento de projecto
Quadro 18 - Exemplo de caracterização dos pedidos de esclarecimento de projecto
Procedeu-se à caracterização de determinados pontos que se pretendíam analisar pelo que
dividiu-se as informações nos seguintes pontos;
a) Tipos de Falhas em Projectos: Falta de pormenorização; Erros/Omissões;
Incompatibilidade entre projectos.
b) Especialidade:
Topografia/Implantação;
Arranjos
exteriores;
Geotecnia;
Arquitectura; Projecto de Estabilidade; Instalações Técnicas;
c) Elementos
de
Construção:
Pavimentos
Exteriores;
Fundações;
Estrutura;
Alvenarias; Fachadas; Coberturas; Revestimentos interiores; Instalações técnicas;
d) Instalações Técnicas; AVAC; ITED; Electricidade, Gás, Rede de Incêndios, Água;
Esgotos/Pluvial;
e) Materiais: Betão, Metálicas, Alvenarias, Madeira.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
137
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
4.3.2. Resultados
Tipo de Falhas (%)
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Falta de Pormenorização
CMIN
Erros/Omissões
CSFrancisco
ESSV
ESRDL
Incompatibilidade entre Projectos
Herculano Carvalho
ICPA
Gráfico 24 – Resultados, tipo de Falhas.
Média - % das Falhas
Falta de Pormenorização
Erros/Omissões
21%
Incompatibilidade entre Projectos
46%
33%
Gráfico 25 – Resultados, média da percentagem das falhas.
138
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Elementos de Construção (%)
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Pavimentos
Exteriores
Fundações
CMIN
Estrutura
Alvenarias
CSFrancisco
ESSV
Fachadas
ESRDL
Coberturas
ES Herculano Carvalho
Revestimentos
interiores
/Acabamentos
Instalações
técnicas
ICPA
Gráfico 26 – Resultados, Elementos de Construção afectados pelos pedidos de esclarecimento de projecto.
Elementos de Construção - Média (%)
Pavimentos
Fundações
Estrutura
Alvenarias
Fachadas
Coberturas
Revestimentos interiores /Acabamentos
Instalações Técnicas
4%
24%
11%
14%
35%
5%
5%
2%
Gráfico 27 – Resultados, média dos elementos de Construção afectados pelos PEP.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
139
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Especialidades (%)
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Topografia /
Implantação
Arranjos Exteriores
CMIN
CSFrancisco
Geotécnia
ESSV
Arquitectura
ESRDL
Projeto de
Estabilidades
ES Herculano Carvalho
Instalações
Especiais
ICPA
Gráfico 28 – Resultados, Especialidades afectadas pelos PEP
3% 2%
2%
29%
20%
44%
Topografia / Implantação
Arranjos Exteriores
Geotécnia
Arquitectura
Projeto de Estabilidade
Instalações Técnicas
Gráfico 29 – Resultados, média das especialidades afectadas pelos PEP
140
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CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Instalações Técnicas (%)
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
AVAC
ITED
CMIN
Eletricidade
CSFrancisco
ESSV
Gás
ESRDL
Rede de
Incêndios
Água
Herculano Carvalho
Esgotos /Pluvial
ICPA
Gráfico 30 – Resultados dos tipos de instalações técnicas afectadas pelos PEP
21%
25%
1%
15%
31%
4%
3%
AVAC
ITED
Eletricidade
Gás
Rede de Incêndios
Água
Esgotos /Pluvial
Gráfico 31 – Resultados, Média dos tipos de instalações técnicas afectadas pelos PEP
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141
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Material (%)
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Betão
Metálicas
CMIN
CSFrancisco
Alvenarias
ESSV
ESRDL
Cerâmica
Herculano Carvalho
Madeira
ICPA
Gráfico 32 – Resultados dos tipos de materiais afectados pelos PEP
3% 1%
13%
8%
74%
Betão
Metálicas
Alvenarias
Cerâmica
Madeira
Gráfico 33 – Resultados, média dos tipos de materiais afectados pelos PEP
142
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
4.4. Estudo das não conformidades registadas pelo departamento de Qualidade que
afectam qualidade
A certificação da qualidade pela ISO 9001:2008 exige que se efectue registos de não
conformidade que podem ser levantadas pelo cliente, fiscalização ou por qualquer
colaborador da organização que entenda que não foram cumpridos os requisitos de qualidade
exigidos. O presente estudo teve como base a recolha e tratamento das não conformidades
registadas nos últimos três anos. A empresa em estudo é certificada nas áreas da Qualidade e
Segurança pelo que nem todas as não conformidades registadas afectavam directamente a
qualidade final da obra, pelo que houve necessidade de triar as informações de cada uma das
não conformidades e relacionar que a sua afectação directamente com a qualidade da obra.
Não se considerou que aspectos relacionados com incumprimentos de regras de segurança ou
legislação ambiental afectassem directamente a qualidade da obra pelo que não foram tidas
em conta. Foram analisadas 210 não conformidades das quais só foram validadas 71 para o
objecto deste estudo. Procedeu-se ao apuramento das causas das não-conformidades com a
seguinte classificação: Não aprovação dos trabalhos pela fiscalização; Materiais sem
qualidade exigida; não cumprimento do projecto; má execução em obra. Para além das causas
das não conformidades que afectam directamente a qualidade identificou-se quais os
elementos de construção afectados pelas não conformidades estudadas.
4.4.1. Resultados
Causas Não Conformidades (%)
50,0
38,4
40,0
30,0
23,2
16,7
20,0
21,7
10,0
0,0
Não Aprovação da
Fiscalização
Materiais sem Qualidade Não Cumprimento do
Exigida
Projeto
Má Execução
Gráfico 34 – Resultados, causas das não-conformidades do departamento de qualidade
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
143
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Elemento de Construção afectado (%)
60,0
48,5
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
5,9
2,9
4,4
5,9
8,8
11,8
7,4
4,4
0,0
Gráfico 35 – Resultados, elemento da construção mais afectado nas não-conformidades internas
4.5. Estudo dos constrangimentos com influência na performance da produção;
Os constrangimentos durante a fase de execução têm uma influência directa na qualidade final
da obra, pelo que é importante identificar quais os constrangimentos registados dentro da
organização, quais as causas e consequências dos mesmos e identificar de quem é a
responsabilidade. Este estudo foi realizado com dados fornecidos pelo controlo e planeamento
da empresa e referem-se aos últimos dois anos tendo em conta todas as obras em carteira
neste período.
144
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CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
CONSTRANGIMENTOS COM INFLUÊNCIA NA
PERFORMANCE DA PRODUÇÃO
IMPACTO
FREQUÊNCIA
1
Erros e Indefinições de Projecto
Atraso e alterações em actividades de planeamento
MF
46
2
Alterações de Projecto por iniciativo do cliente
Atraso e alterações em actividades de planeamento
MF
18
3
Supressões de Trabalhos por parte do cliente
Reduz valor de actividade e tem impacto negativo
na margem % e valor absoluto
F
6
4
Alterações de Projecto por iniciativo da MRG
Atraso e alterações em actividades de planeamento
F
11
5
Trabalhos não Previstos pelo Cliente e Projectista
Atraso e alterações em actividades de planeamento
MF
20
9
Aprovação de Alterações propostas pela MRG para
atingir pressupostos de margem
Provoca atraso e alterações em actividades de
planeamento
MF
15
10 Suspensão de obras ou frentes por iniciativa do cliente Reduz valor de actividade e altera o planeamento
PF
4
11 Suspensão de obras ou frentes por iniciativa da MRG
Reduz valor de actividade e altera o planeamento
PF
3
12 Condições climatéricas anormais para a época
Provoca atraso de actividades e altera planeamento
F
10
14 Problemas associados a gestão contratual.
Provoca atraso e altera a execução de actividades
PF
5
15 Problemas associados a fornecimentos/subempreitadas Provoca atraso e altera a execução de actividades
MF
24
Incapacidade Financeira de manter projecto ao ritmo
16
que planeámos
Provoca atrasos na actividade e constrangimentos
gestão com cliente
PF
2
17 Atraso nos aprovisionamentos de material importado
Provoca atraso e altera a execução de actividades
PF
3
18 Redução de ritmo por atrasos em pagamentos
Provoca atrasos na actividade e constrangimentos
gestão com cliente
PF
0
Provoca atrasos na actividade e constrangimentos
gestão com cliente
F
9
Provoca atrasos na actividade e constrangimentos
gestão com cliente
F
6
Provoca ineficiência, atrasos, constrangimentos
gestão com cliente
F
6
Gora as expectativas da empresa, provoca
replaneamentos internos constantes
F
7
Provoca arrastamento de afectação de equipas com
baixíssima produtividade
F
6
19
Necessidade de Substituição de
Fornecedor/Subempreiteiro
20 Falta de capacidade produtiva
21
Falta de capacidade de resposta a desvios de
Custo/Produção/Facturação
23 Mau planeamento de actividades
24
Falta de capacidade na fase de conclusão da
empreitada
MF- Muito Frequente (˃ 12); F – Frequente (˃5 até 12)); PF - Pouco Frequente (até 5);
Quadro 19 - Quadro dos constrangimentos com influência na performance da produção
Responsabilidades na Performance da Produção
5%
Projectista
24%
Cliente
45%
26%
Empreiteiro
Condições
Climatéricas
Gráfico 36 – Resultados, responsabilidades na performance da produção
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
145
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
4.6. Evolução dos custos de pós-venda relativamente ao volume de facturação
4.6.1. Resultados
Ano
Volume de Facturação
Custos de pós-venda
Relação VF/CPV
2010
100.240.000,00 €
1.213.000,00 €
1,21%
2011
81.707.000,00 €
1.422.912,00 €
1,74%
2012
62.550.000,00 €
841.829,00 €
1,35%
2013
55.000.000,00 € *
998.000,00 € *
1,81%*
*os dados referentes a 2013 são apenas uma previsão tendo em conta os resultados do 1.º semestre.
Quadro 20 - Resultados, volume de facturação, custos de pós-venda e sua relação
Volume de Facturação
120.000.000,00 €
100.000.000,00 €
80.000.000,00 €
Volume de
Facturação
60.000.000,00 €
Linear (Volume de
Facturação)
40.000.000,00 €
20.000.000,00 €
- €
2010 2011 2012 2013
Gráfico 37 – Resultados, volume de facturação
Custos de pós-venda
€1.500.000,00
€1.000.000,00
Custos de pós-venda
€500.000,00
€2010 2011 2012 2013
Gráfico 38 – Resultados, custos de pós-venda
146
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Relação Custos de pós-venda / Volume de
facturação
2,00%
1,80%
1,60%
1,40%
1,20%
1,00%
0,80%
Relação VF/CPV
2010
2011
2012
2013
1,21%
1,74%
1,35%
1,81%
Gráfico 39 – Relação dos custos de pós-venda / volume de facturação
Evolução volume facturação vs custos de pós-venda
1,25
1,15
1,05
0,95
0,85
0,75
0,65
0,55
0,45
0,35
0,25
2010
2011
2012
2013
Volume de
Facturação
1,00
0,82
0,62
0,55
Custos de pós-venda
1,00
1,17
0,69
0,82
Gráfico 40 – Resultados, evolução do volume de facturação vs custos de pós-venda
4.7. Estudo e caracterização das patologias registadas no departamento de pós-venda;
Durante o período de garantia das empreitadas a empresa terá de efectuar o tratamento das
reclamações provenientes dos clientes através do seu departamento de pós-venda.
Normalmente registam-se mais reclamações na fase de recepção provisória da obra e na fase
de recepção definitiva da obra, uma vez que ambas são precedidas de vistorias conjuntas com
o dono de obra. O departamento de pós-venda é responsável pelo tratamento das reclamações
dos clientes. Entende-se como custo de pós-venda todos os custos relacionados com o
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
147
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
tratamento e reparação das reclamações apresentadas pelos clientes, incluindo custos
administrativos relacionados com garantias bancárias, a estrutura interna do pós-venda. O
Estudo efectuou-se com base nos documentos disponíveis na empresa relativos a ofícios com
reclamações dos clientes e as respetivas facturas dos custos de tratamento das mesmas. Este
estudo apenas permitiu o acesso limitado a registos disponíveis na empresa visto que
inicialmente, antes do estudo, o departamento de
pós-venda não tinha a informação
devidamente organizada. De registar que não observamos nenhum relatório de levantamento e
diagnóstico das reclamações dado que o responsável pelo departamento efectuava os registos
no seu caderno de uma forma expedita sem qualquer procedimento específico. Este
departamento no geral mede o resultado do produto realizado pela empresa através do número
de reclamações e dos custos de pós-venda registados. Os dados apurados são resultado de
reclamações dos clientes durante o período de garantia da obra nos últimos dois anos que
resultam um total de 161 ofícios de reclamação por parte dos clientes onde a maior partes
deles identifica não uma mas várias patologias.
1
•Com a recepção provisória da obra o Dono de obra é informado de que as reclamações
no período de garantia devem ser encaminhadas para o Departamento de pós-venda
2
•Qualquer reclamação por parte do cliente é encaminhada internamente ao
departamento de pós-venda
3
•Analisa a reclamação e dá conhecimento à Direcção de Produção. Regista a
reclamação. Determina a responsabilidade no tratamento
4
•Análise da reclamação. Responsabilidade da MRG? Se Não comunica ao cliente o
resultado da análise. Se sim analisa a situação no local da reparação. Determina o tipo
de correção , o responsável pela reparação? Subempreiteiro? Forncedor?
Responsabilidades internas?
5
•Comunica ao cliente o desenvolvimento da situação e marca o dia da intervenção para
efectuar as reparações
6
•Confirma a eficácia das correcções efectuadas e informa o cliente formalmente do
encerramento do processo.
Figura 26 - Resumo do funcionamento de tratamento de reclamações do departamento pós-venda
148
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
A caracterização das patologias do pós-venda procedeu-se da seguinte forma; dividiu-se as
patologias por tipologia mais comuns tendo em conta os registos efectuados em: Fissuras em
revestimentos, Fissuras Estruturais, Anomalias em pinturas, Revestimentos Danificados.
Infiltrações/Humidades/condensações,
Oxidação/Corrosão;
Assentamentos/Abatimentos,
Reparações/Avarias. Relativamente à localização destas patologias procedeu-se à seguinte
divisão:
Coberturas,
estrutura
de
betão
armado,
estruturas
metálicas,
alvenarias/rebocos,
caixilharias/vãos, Fachadas exteriores, paredes interiores, revestimento de tectos, pavimentos
interiores, pavimentos exteriores, juntas de dilatação, rede de águas/esgotos/pluvial,
Instalações técnicas (gás, electricidade, AVAC, Incêndios; instalações técnicas e instalações
sanitárias.
4.7.1. Resultados
Tipos de Patologias
40%
36%
35%
30%
25%
26%
23%
20%
15%
11%
10%
10%
6%
4%
5%
0%
Fissuras em
Revestimentos
Fissuras
Estruturais
Anomalias em
Pinturas
Infiltrações /
Humidades /
condensações
Oxidações / Assentamentos Reparações /
Corrosões / Abatimentos /
Avarias
Pavimentos
Gráfico 41 – Tipos de patologias mais comuns identificados no estudo
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
149
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
Elemento de Construção
18%
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
Gráfico 42 – Caracterização das patologias identificadas no estudo por elemento de construção
Ocorrência patologias vs Custos de reparação
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Fissuras em
Revestimentos
Fissuras
Estruturais
Anomalias em
Pinturas
% Ocorrência de Patologias
Infiltrações /
Humidades /
condensações
Oxidações /
Corrosões
Assentamentos / Reparações /
Abatimentos /
Avarias
Pavimentos
% Custos de Reparação das Patologias
Gráfico 43 – Relação entre o tipo de patologias e os custos de reparação.
150
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
11%
Erros de Concepção
38%
Erros de Execução
51%
Erros de Utilização /
Falta de Manutenção
Gráfico 44 – Caracterização das possíveis causas das patologias.
34%
Subempreiteiros
55%
Fornecedores
11%
Responsabilidade Interna
Gráfico 45 – Responsabilidades nos Erros de Execução.
12%
7%
11%
12%
16%
13%
14%
15%
Deficiente preparação e planeamento dos trabalhos
Má qualidade dos subempreiteiros
Orçamentos com margem reduzida
Erros de projecto / alterações de projecto
Equipas de obra pequenas sem técnicos suficientes
Excesso de burocracias absorvem muito tempo
Falta de conhecimento de erros do pós-venda
Não cumprimento do procedimento de Qualidade internos
Gráfico 46 –Resultado das entrevistas aos colaboradores, causas dos erros de Execuçã
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
151
CAPITULO IV – Estudo Interno Aplicado a uma Empresa
152
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
153
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
154
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
5.1.
Discussão dos Resultados
Tendo em conta os resultados apresentados verifica-se que as falhas com mais peso nos
pedidos de esclarecimento de projecto são falta de pormenorização (46%) seguindo-se erros e
omissões (33%) e incompatibilidade entre projectos (21%). Estes resultados acompanham a
revisão bibliográfica realizada evidenciando que os projectos continuam a ter grandes falhas
contribuindo para a inoperância na fase de obra, e sendo uma influência assinalável para a
qualidade final da obra. A legislação de projectos de execução deveria ser ainda mais
detalhada acerca dos elementos obrigatórios constituintes nomeadamente na pormenorização,
sendo que as verificações dos erros e omissões e incompatibilidades entre os projectos
deveriam ser evidenciados no próprio projecto de execução a fim de garantir a qualidade do
projecto, do mesmo modo que se apresentas os cálculos justificativos.
Em relação aos elementos de construção mais afectados pelos pedidos de esclarecimento de
projecto estes são distribuídos com mostra dos gráficos 26 e 27 principalmente pela estrutura
(35%), instalações técnicas (24%), revestimento interiores e acabamentos (14%). Numa
relação directa verificamos que a incompatibilidade entre projectos das estruturas e das
instalações técnicas influenciam o aumento dos pedidos de esclarecimento de projectos.
A falta de pormenorização afecta de um modo geral todos os elementos de construção sendo
que os erros e omissões circunscrevem-se mais nos mapas de acabamentos influenciando os
pedidos de esclarecimentos de projectos nos revestimento e acabamentos.
No caso da obra do ICPA as fundações tiveram bastante relevância nos pedidos de
esclarecimento de projecto, devendo-se ao facto das fundações preconizadas em projecto não
eram as mais indicadas para o tipo de solo e respectiva capacidade resistente do mesmo. Estas
situações embora não sejam muito frequentes quando se registam tem um elevado impacto na
execução de obra e nos respectivos custos, uma vez que é necessário alteração ao projecto e
troca do processo construtivo.
Analisando os pedidos de projecto em termos de especialidades de projecto, verificamos que
lidera o projecto de estabilidade (44%), seguindo-se as instalações técnicas (29%) e
arquitectura (20%), comprovando a necessidade da preparação entres estas três
especialidades.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
155
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Nas instalações técnicas identifica-se a electricidade (31%), o AVAC com (25%) e a rede de
incêndios (21%). Com o aumento da complexidade técnica dos projectos, as instalações
técnicas ganharam preponderância nos projectos de edifícios chegando a pesar cerca de 25%
do custo total das empreitadas. A legislação do RSECE e o seu tão falado
sobredimensionamento entre 1,5 a 2 vezes a necessidade reais nos edifícios para Portugal
resultam condutas de grandes dimensões que necessitam de volumosos equipamentos e
respectiva alimentação eléctrica causando dificuldades na compatibilização entre os diferentes
projectos, é necessário repensar e adaptar esta situação para evitar o atravancamento dos
espaços entre estruturas.
A material ilustre nas construções em Portugal e neste estudo realizado continua a ser o betão
armado. De referir que no estudo os edifícios são na sua maioria novos, existindo apenas uma
parte de uma obra em estruturas de madeira resultado de uma reabilitação de um Convento,
dai os resultados obtidos.
Relativamente ao estudo das não-conformidades revela que a sua origem está principalmente
na má execução em obra (38%) por parte dos intervenientes em obra, seguindo-se a não
aprovação prévia por parte da fiscalização (23,2%) da validação dos requisitos dos materiais
de construção a aplicar (aprovação dos materiais) e a não aprovação da execução de
determinados trabalhos que necessitam de entrega prévia de desenhos de preparação, ou a
execução de protótipos prévios em obra. O não cumprimento do projecto (21,7%) deve-se a
incúria por parte da entidade executante ou poderá ler-se como tentativa de avançar com os
trabalhos evitando um calvário de documentos e prévias aprovações, tentativa de avanço com
os trabalhos para cumprimentos dos objectivos definidos em termos de produção.
Conforme demonstra o gráfico 32, o elemento de construção mais afectado pelas não
conformidades é o betão na sua execução, esta situação leva-nos a reflectir que apesar de
tantos anos a construir em betão ainda não dominamos os métodos adequados para garantia a
sua qualidade. Em segundo lugar aparece as caixilharias, este facto talvez se deva a nova
regulamentação que origina muitas dúvidas em relação a certificações recentes
nomeadamente questões relacionadas com espessuras dos vidros os requisitos da qualidade
dos vidros e marcação CE.
Os pavimentos a par com as instalações técnicas são responsáveis por parte das não
conformidades, estas situações resultam sobretudo de falta de cuidados na execução dos
156
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
pavimentos dai este serem também um dos elementos mais evidenciados nas patologias do
pós-venda. No caso das instalações técnicas deve-se sobretudo a aplicação de materiais
alternativos ou equivalentes aos preconizados em projecto.
Os resultados operacionais de uma empresa de construção são influenciados por diversos
factores apresentados no quadro 19, onde descreve a frequência e os impactos dos
constrangimentos na performance da produção. Sendo o projecto a base da execução de uma
obra é o factor primordial que influencia directamente a produção. Em segundo lugar estão os
problemas associados a fornecimentos e subempreitadas estando este ponto directamente
ligado com o contexto económico que as empresas estão a atravessar neste momento. Os
preços baixos praticados (dumping) nos mercados o excesso de empresas que estão presas a
compromissos bancários e financeiros levam à baixa de preços abaixo dos custos de produção
levando a que as subempreitadas tenham preço cada vez mais baixos sendo uma “vantagem
económica aparente” para os empreiteiros que adjudicam ao preço mais baixo ficando reféns
de fornecedores e subempreiteiros sem capacidade financeira com rotura na tesouraria que
atrasam o normal andamento da obra, fazendo chantagens e pontos de paragens previamente
planeados.
O gráfico 45, apresentado demonstra que o empreiteiro detém as maiores responsabilidades
na performance da produção pelas suas decisões internas, preparação e planeamento de obra,
critérios de selecção dos subempreiteiros e fornecedores, a necessidade de controlo e
monitorização efectivo durante a fase de execução da obra.
O cliente, por não preparar bem os processos na fase de projectos, leva a sucessivas e
intermináveis alterações na fase de obra com forte impacto na produção e cumprimento de
prazos. A qualidade dos projectos conforme referido é um dos pontos críticos.
Sendo a construção civil uma actividade desenvolvida maioritariamente ao ar livre está
sempre condicionada às condições climatéricas que são uma das causas de constrangimentos à
produção das empresas.
A empresa em estudo segue o contexto do sector da construção com uma significativa
redução no volume de facturação conforme gráfico 37, devido a inexistência de concursos
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
157
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
públicos e ao fraco investimento privado, resultando de uma recente restruturação da
organização da empresa.
O estudo realizado analisou os custos de pós-venda desde 2010 onde se verificou que estes
pesam em média cerca de 1,53% do volume de facturação. Valor esse demasiado elevado para
a conjuntura económica onde as empresas não podem desperdiçar recursos. Para que se tenha
uma noção os preços praticados pelas empresas de construção actualmente situam-se com
valores de margens de lucro na casa dos 3,5% a 5%. Se os custos de pós-venda consomem
cerca de 30% da margem de lucro será fácil adivinhar o desfecho da situação a manter-se
estes valores.
Os custos de pós-venda registaram um aumento em 2011 julga-se que se deve ao facto da
empresa ter tido um pico de volume de facturação em 2010 resultando de muitas recepções
provisórias entre 2010 e 2011. Pelo que se prevê que em 2015/2016 a empresa tenha também
um aumento significativo dos custos de pós-venda para efectuar as recepções definitivas
cumpridos os cinco anos de período de garantia previstos legalmente.
No gráfico 40, apresentado pode-se verificar que apesar de a empresa ter reduzido
drasticamente o volume de facturação, os custos de pós-venda tendem a aumentar em linha de
tendência, esta situação pode representar para a empresa mais um estrangulamento em termos
financeiros pois vêem as despesas aumentar com o volume de negócios a diminuir.
No gráfico 41, podemos observar que 36% das patologias registadas por número de registo
devem-se a pequenas reparações e avarias em equipamentos, ferragens e outros acessórios.
As infiltrações registam 26% das patologias registadas, neste ponto juntou-se infiltrações,
humidades e condensações. A evolução da arquitectura actual leva ao uso de coberturas
planas que são muito expostas às condições climatéricas adversas. O desprezo pelas águas no
subsolo e a inexistência de sistemas de drenagens adequados resultam humidades
ascensionais e outras que prejudicam. Com a evolução de novos sistemas construtivos como o
sistemas de isolamento pelo exterior (ETICS), o aumento da estanquicidade das caixilharia
levam a que os edifícios estejam cada vez mais desprovidos de ventilação natural resultando
um aumento de probabilidade de dar origem a condensações. Hoje os donos de obra não estão
devidamente informados e sensibilizados para a importância da ventilação natural numa casa,
que previne o aparecimento de condensações desagradáveis para além dos cheiros e falta de
158
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
salubridade. Os elevados custos de manutenção dos edifícios levam muitos donos de obra a
desligar os sistemas de AVAC para reduzir os custos da factura de electricidade. Ora como
estes edifícios foram projectados com sistemas de AVAC, no entanto ninguém se lembra que
estes equipamentos são susceptíveis de avarias, e quando acontecem verifica-se que os
edifícios não estão providos de sistemas alternativos de ventilação natural resultando
patologias ao nível da salubridade, condensações, aparecimento de fungos, etc.
Através de uma análise do gráfico 42, verifica-se que o elemento que dá origem a mais
patologias é a cobertura. A cobertura de um edifício é o elemento da envolvente que mais
influencia o desempenho de uma edificação, sendo a sua função principal a de o proteger e
preservar do exterior, estas podem ser de dois tipos: coberturas inclinadas e coberturas planas
ou em terraço. Nos últimos anos, as coberturas planas tem tido uma significativa aplicação,
seguindo a evolução das correntes arquitectónicas e usufruindo do aparecimento e
desempenho de novos materiais de impermeabilização. A evolução deste sistema construtivo
tem acompanhado a mudança dos padrões de conforto dos utilizadores dos edifícios, cada vez
mais exigentes ao nível higrotérmico, acústico, visual e táctil. As exigências funcionais das
coberturas planas são diversas como a segurança (estrutural, contra incêndios, resistências das
camadas não resistente); Habitabilidade (estanqueidade, conforto térmico e acústico);
Durabilidade (conservação das resistências mecânicas e qualidades dos materiais ao longo do
tempo expostos a acções agressivas, limpeza, manutenção e reparação); e Economia
(limitação do custo global e eficiência energética).
As coberturas planas são a solução mais utilizada na construção em altura, que mais
identificam as edificações, no contexto actual. Estão constantemente expostas à humidade, à
radiação solar, à chuva, às mudanças de temperatura e ao desgaste de utilização. Como
resultado, a maioria das coberturas planas necessitam de manutenção e ou renovação, o que
implica uma análise cuidada, segundo uma metodologia de trabalho que facilite o
conhecimento da cobertura e permita averiguar, com pormenor, as causas das patologias.
Tendo em conta os resultados estatísticos de alguns estudos realizados a nível europeu,
exposto no quadro 8 e 12 e no gráfico 7, a distribuição da origem das anomalias das
coberturas planas agrupam-se da seguinte forma: 42% são produzidas por erros de projecto;
25% por erros na execução; 18% por defeito nos materiais; 9% por um mau uso e 6% pela
erosão causada pelos agentes atmosféricos. O revestimento e impermeabilização das
coberturas planas exigem a utilização de materiais de qualidade, tendo subjacente a sua boa
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
159
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
utilização, ao nível da concepção do projecto. São recorrentes as anomalias das coberturas
planas, em Portugal, que surgem agravadas pelo não cumprimento da legislação técnica e pela
não utilização de produtos homologados e certificados. Em termos gerais podemos considerar
que os problemas das coberturas são os pontos singulares: caleiras, embocaduras dos tubos de
queda, remates nas platibandas, com chaminés, com soleiras de portas que dão acesso às
coberturas ou com tubagens que atravessam as coberturas. Existe necessidade de investir mais
no projecto ao nível do pormenor para evitar repetição de erros na fase de execução. Após a
análise de diversas coberturas planas e respetivas anomalias, apresentou uma distribuição das
mesmas por zonas das coberturas e em função do número total de ocorrência e da zona
afectada com resultados de 35% para anomalias na superfície corrente, 32% em anomalias
nos pontos singulares, 20% em anomalias nos sistemas de drenagem (Rocha, 2008).
Os pontos singulares são também bastante afectados pelos factores de degradação descritos
sendo a zona da cobertura onde ocorrem mais anomalias. Tal como na superfície corrente,
refere que as principais causas da ocorrência de anomalias incidem principalmente em erros
de concepção e projecto, na fase de execução e na de utilização. As anomalias podem também
ocorrer devido a acções naturais (físicas, químicas e biológicas), a desastres naturais e de
origem humana, mas não são causas tão relevantes como as anteriores.
As juntas de dilatação ocupam um lugar de referência nos elementos de construção sendo os
responsáveis por infiltrações, fissuração e deslocamento, é imperativo a formação dos
colaboradores para as boas práticas de execução de juntas de dilatação.
A rede de esgotos e águas pluviais são também elementos da construção que causam
patologias, é com frequência que se regista caixas de esgoto mal acabadas, sem pendente e
sem concordância resultando em entupimentos desagradáveis aos clientes. Em relação ao uso
e manutenção destes elementos, muitas das vezes não são realizadas sendo da
responsabilidade do dono de obra. Também se regista com frequência a colocação de
determinados objectos volumosos que não são apropriados para colocar nas sanitas e esgotos
resultando dai entupimentos com consequente inundações e inoperação das instalações
sanitárias.
Em relação às instalações técnicas com resultado de 16% no gráfico 42, pode-se deduzir que o
aumento de equipamentos no interior dos edifícios a sua complexidade, juntado ao facto de
muitos instaladores e utilizadores ainda não estarem devidamente aptos para a correcta
160
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
utilização e manutenção dos mesmos resultam muitos pedidos de reparação e por vezes não
passam de situações de desconhecimento de utilização dos mesmos.
O gráfico 43 que relaciona a ocorrência de patologias vs custos de reparação clarifica quais as
patologias que consomem mais recursos financeiros como é o caso das infiltrações,
humidades e condensações com cerca de 38% dos custos de reparação. Outra patologia que
fica muito onerosa para a empresa são as fissuras em revestimentos com cerca de 30%. De
referir que as reparações e avarias tem uma grande frequência no entanto tem pouco
significado em termos de custos. Embora os assentamentos registados tenham alguma
relevância nos custos estas patologias normalmente são também muito dispendiosas
dependendo da gravidade dos abatimentos e do tipo de pavimento. Por vezes julgamos que as
pinturas são relativamente baratas no entanto estas anomalias são recorrentes e muito
repetidas no mesmo local, somando passagens para ocultar as verdadeiras patologias
resultando de custos acumulados com alguma expressão financeira.
Relativamente às causas das patologias os resultados seguem na mesma orientação das
bibliografias expostas com os erros de concepção e os erros de execução a somarem cerca de
90% das causas das patologias. Embora os erros de utilização e a falta de manutenção sejam
referenciados apenas com 11% este valor poderá estar a ocultar a negligência do utilizador
face aos cuidados de utilização e manutenção.
Nos resultados das responsabilidades nos erros de execução o empreiteiro é claramente o mais
responsável pela posição que ocupa como gestor da obra e da respectiva cadeia de
fornecedores e subempreiteiros. No entanto a fiscalização quando existe deve garantir a sua
função em obra não permitindo falhas do empreiteiro.
Os resultados das entrevistas aos colaboradores questionando-os os motivos dos erros de
execução estes são diversos e equilibrados em termos de percentagem. A maior percentagem
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
161
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
vai para o excesso de burocracias que absorvem muito tempo aos técnicos em obra faltando
tempo para o essencial o controlo da qualidade efectiva em obra. Os entrevistados todos
sentem os efeitos nefastos que os erros e alterações de projecto provocam ao normal
andamento da execução da obra pelo que mereceu um lugar de destaque nas causas de nãoqualidade na fase de execução. Com o resultado de 14% as equipas de obras queixam-se das
pequenas estruturas técnicas afectas à obra, aumentando a carga de trabalho sobre cada
elemento, resultando de técnicos tipo bombeiros que não gerem a qualidade apenas apagam os
fogos que surgem. Os resultados obtidos reflectem a necessidade de transferência de
conhecimento dentro da organização dado que 12% das causas dos inquiridos indicou a falta
de conhecimento de erros do pós-venda.
162
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
5.2.
Propostas de Melhoria
Compreender o ciclo de vida útil dos edifícios e actuar em cada uma das fases na óptica do
empreiteiro de modo a melhorar a performance da qualidade de execução.
Fase de cncurso
Fase de
Preparação /
Planeamento
Execução de Obra
Pós-Venda
• Visita ao local da obra e registo fotográfico;
• Check-list ao local da obra, condicionantes, informações;
• Erros e omissões;
• Leitura e análise de mapa de acabamentos;
• Comparação entre materiais descritos no articulado com os descritos em projeto
e Caderno de encargos;
• Comparar mapa de acabamentos com o mapa de qunatidades;
• Conferir a legislação da data do projeto e legislação em vigor tendo em conta as
alterações significativas;
• Chek-list ao projeto – pontos criticos;
• Análise de riscos da empreitada;
• Análise do caderno de encargos;
• Check-list aos pontos criticos do projecto;
• Análise das peças escritas e peças desenhadas;
• Consultas / reorçamento;
• Análise das atividades criticas em termos de tempo e financeiro;
• Check-list de preparação de obra a aplicar ao projecto,
• Elaboração do planeamento, carga de mão de obra e de
equipamentos, rendimentos;
• Avaliação de riscos ;
• Análise de riscos para a fase de execução de obra;
• Aprovisionamento de materiais
• Pedidos de esclarecimento de projeto;
• Planeamento a três meses, mensal e quinzenal com actualização semanal;
• Reuniões de obra com encarregados e subempreiteiros;
• Plano de Ensaios de cada actividade deacordo com Caderno de encargos - Fichas de inspecção
e ensaios
• Plano da qualidade para a empreitada;
• Controlo de peças escritas e desenhadas;
• Cadastro de infra-estruturas no sub-solo e da envolvente;
• Gestão de contractos;
• Elaboração dos Desenhos de Preparação deacordo com a check-list dos ponto criticos;
• Aprovisionamento de materiais e equipamentos;
• Compilação Técnica;
• Resultado dos ensaios finais e entrega ao dono de obra;
• Formação ao dono de obra acerca da utilização e manutenção do edificio;
• Entrega do manual e do Plano de manutenção e utilização do empreendimento;
Figura 27 – Propostas de melhoria em cada uma das fase da responsabilidade do empreiteiro
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
163
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
5.2.1. Pedidos de Esclarecimento de Projecto
Sendo os pedidos de esclarecimento de projecto um modo de monitorização e de referência da
qualidade dos projectos é de interesse alterar o modelo do boletim de pedido de
esclarecimento de projecto de modo a este fornecer mais informações detalhadas. No futuro
este modelo deverá ser preenchido em plataforma informática no servidor interno da MRGEngenharia e Construção, de modo a realizar um tratamento estatístico automático com leitura
rápida do conjunto das empreitadas a decorrer.
Figura 28 – Novo modelo de Pedido de Esclarecimento de Projecto
164
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
A fase de transição de informação da obra para o departamento de pós-venda é sempre algo
complicado dado a elevada quantidade de informações trocadas ao longo da execução da
obra. Uma vez que registamos os pedidos de esclarecimento de projecto no mapa de controlo
entende-se que este documento deveria ter funções alargadas após execução de obra e ser
transferido ao departamento de pós-venda onde poderia seleccionar todas as informações que
ocorreram durante a execução da obra que sejam passiveis de influenciar negativamente o
pós-venda. Situações essas que durante a execução da obra o empreiteiro informou e avisou
por escrito do dono de obra que determinada concepção arquitectónica ou técnica não está
adequada às especificidades da obra e que eventualmente poderá causar patologias no período
de garantia da obra. Este mapa poderá também para registar a entrega do manual de
manutenção e utilização do edifício com os planos de manutenção a efectuar periodicamente
durante o período de vida útil do empreendimento.
Quadro 21 - Novo modelo do mapa de controlo de pedidos de esclarecimento do projecto com influência no pósvenda.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
165
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Departamento de pós-venda – Registo e monitorização das reclamações dos clientes
Figura 29 – Novo modelo do quadro síntese – controlo e monitorização das reclamações – Serviço de pós-venda
– apoio ao cliente
Criar uma plataforma informática que consiga reunir todos os dados relativos ao
departamento de pós-venda – quadro síntese do serviço pós-venda com data do registo da
reclamação por parte do cliente, a designação da obra e respectivo centro de custos, data da
reclamação, hiperligação ao documento oficial, designação do assunto, registo de
comunicações com o cliente em fase de informação sobre o ponto de situação, registo de
relatórios técnicos de visita às obras com o levantamento e diagnóstico das situações,
caracterização dos tipos de patologias e do elementos de construção afectados, comunicações
com cliente acerca do resultado dos relatórios técnicos, em caso de responsabilidade, registo
da intervenção com fotos, custo da intervenção. Este será um tableu de bord do departamento
de pós-venda que além de registo efectua o controlo e monitorização dos indicadores deste
departamento.
166
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Gestão do Conhecimento
Será importante saber-se onde se está a falhar e como se podem corrigir esses erros no sentido
de sermos uma organização que aprende. De modo a informar todos os colaboradores das
patologias do departamento de pós-venda e das medidas preventivas a tomar em cada uma
delas implementou-se na plataforma informática iportaldoc.mrg uma pasta com uma série de
informação acerca dos resultados dos departamentos de pós-venda por cada obra com a
respectiva avaliação de qualidade. Os resultados dos pedidos de esclarecimentos de projecto
de cada obra. Alertas internos para situações que se estejam a passar em determinadas obras
que comprometam a qualidade final relativamente a determinados tipos de materiais, erros de
projecto, métodos de execução correcto, manuais de boas práticas de execução de obra,
listagem de ensaios a realizar para aferir a qualidade em obra, planos de inspecção e ensaios
das diferentes actividades da construção civil e engenharia civil, acesso partilhado a
legislação, normas e outros documentos técnicos. https://iportaldoc.mrg.pt/
Figura 30 – Visualização da plataforma de partilha de informação técnica na organização
Aplicação de novas Tecnologias ao Controlo da Qualidade na Construção
Concluindo que os erros, omissões, falta de pormenorização e compatibilização dos projectos
são os principais constrangimentos à produção, como vimos, é imprescindível a procura de
ferramentas que podem reduzir as falhas e aumentar a eficácia no futuro.
Algumas empresas de construção têm diversificado as suas actividades para tornar a
arquitectura integrada com a engenharia e construção que se designa BIM (Building
Information Modeling) empresas. Isto segue um envolvimento no projecto-e-construção e
projectos chave na mão ou por meio de fusões, aquisições e alianças estratégicas dentro e fora
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
167
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
das fronteiras nacionais. O Desenvolvimento dos negócios tornou-se uma parte importante da
empresa de construção. A Concorrência com base em muito mais do que o preço é cada vez
mais importante.
O BIM é uma resposta integrada e continua. O principal benefício do BIM é a representação
geométrica das partes de um edifício no exercício ambiente integrado de dados. Outros
benefícios relacionados são:
a) Os processos mais rápidos e mais eficazes - a informação é compartilhada com mais
facilidade, podem ser de valor acrescentado e reutilizados;
b) Melhor concepção - edifício pode ser rigorosamente propostas analisadas, as
simulações podem ser executadas rapidamente e desempenho aferido, permitindo
soluções melhoradas e inovadoras;
c) Controlo dos Custos de vida e dados ambientais - o desempenho ambiental é mais
previsível;
d) Os custos são melhor ciclo de vida Entendido;
e) Automatizada montagem - dados de produtos digitais podem ser explorados nos
processos a jusante e ser usadas para fabricação / montagem de sistemas estruturais;
f) Melhor atendimento ao cliente - As propostas são mais bem compreendidas através da
visualização exacta;
g) Dados de Ciclo de Vida - Requisitos, projecto, construção e informações operacionais
podem ser usados em instalações de gestão.
BIM é um processo integrado que armazena e potencia a partilha e manutenção de informação
de projecto, de construção e de exploração/ manutenção entre as várias partes interessadas,
suportado em modelos tridimensionais com uma base de dados associada que representa todas
as características físicas, de construção e funcionais de um edifício e que tem um elevado
potencial no controlo e suporte à tomada de decisão nas várias fases de um empreendimento.
O BIM permite a normalização ao nível de detalhe em regras de medição, codificação
estrutura de informação, armazém de componentes, matrizes tipo para Informação, modelo
especificação de progresso. Através da fácil visualização o modelo BIM acelera a
compreensão da obra e promove a comunicação e colaboração entre as diversas partes
envolvidas.
168
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
O modelo BIM permite a compatibilização das várias especialidades (arquitectura, estrutura e
instalações especiais) e a detecção antecipada de problemas (colisões, incoerências, ausências
de definição) e a sua resolução ou seja a análise de Construtibilidade. Com o estudo da obra,
através do BIM, é facilitado o estudo e a proposta de soluções alternativas de projecto e de
construção, seja por questões económicas, seja por questões técnicas. O modelo suporta esse
estudo de cenários e a sua apresentação ao cliente/projectista permitindo a optimização do
projecto.
As constantes alterações ao projecto dificultam muitas vezes a manutenção das peças
desenhadas, o modelo BIM, desde que mantido actualizado, permite a extracção de peças a
qualquer momento de qualquer localização da obra permitindo peças para a preparação de
obra. A partir do modelo BIM, com critérios bem definidos, é possível retirar
automaticamente quantidades localizadas e por especialidade resultando os mapas de
medição. Estudos realizados em obras piloto, revelam que as quantidades extraídas do BIM
são fidedignas Através de um modelo BIM actualizado, é possível retirar o planeamento físico
através de linhas de balanço apresenta-se como uma solida ferramenta de planeamento,
optimização e projecção de cenários futuros. A orçamentação com base no modelo BIM (pela
ligação existente entre os desenhos e o articulado) permite: melhorar a identificação e
antecipação de erros e omissões; relatórios para apresentação ao cliente, para justificação de
novos prazos ou alternativas; melhor estudo da obra com antecipação de cenários. O BIM
poderá funcionar como tableu du bord com produção directa de relatórios objectivos e
projecções de cenários baseados em factos reais pela periódica actualização do modelo:
diagramas s-curves; análise “earned value”; histograma de recursos.
A Universidade de Stanford Center for Integrated instalações de engenharia (CIFE, 2007)
realizou um estudo com base em 32 grandes projectos utilizando os benefícios do BIM,
concluiu que as vantagens são:
a) Até 40% de variação eliminação não orçamentado;
b) Custo a precisão da estimativa dentro de 3%;
c) Até 80% de redução no tempo necessário para gerar uma estimativa de custo;
d) Uma economia de até 10% do valor do contrato através de detecções de conflitos entre
as diferentes especialidades;
e) Até 7% de redução no tempo de projecto;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
169
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Num só programa estão todas as especialidades, sendo totalmente transversal ao ciclo de vida
de um empreendimento, desde do projecto à gestão da manutenção.
O objectivo dos estudos de caso é ilustrar vários benefícios tangíveis e intangíveis alcançados
pelo desenvolvimento e utilização de modelos de informações de construção para projectos de
construção reais. São necessárias reuniões de coordenação frequentes da equipa de projecto
para identificar os pontos de conflito de modo a solucionar. Estudos evidenciam que a
resolução de conflitos na fase de projecto dá origem uma redução de custos considerável.
Figura 31 – Exemplos de Sistemas automatizado de detecção de conflitos e compatibilização entre projectos
O porquê de apostar no BIM?
A Baixa rentabilidade do negócio, a necessidade de mitigarmos o risco, a necessidade de se
aumentar a eficiência dos processos, a necessidade de eliminar a reduplicação de trabalhos, e
a pretensão de aumento da vantagem competitiva internacional. Tendo em conta os resultados
desta ferramenta o BIM começa a ser um requisito obrigatório em alguns mercados, como o
caso do Reino Unido, Canadá, registando uma tendência internacional.
170
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Figura 32 – O âmbito do ciclo das potencialidades do BIM, (Jeong et al, 2009)
Figura 33 – O âmbito das potencialidades do BIM no apoio ao Projecto (Jeong et al, 2009)
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
171
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
O BIM permite criar um sistema eficiente e eficaz de gestão dos edifícios garantindo:
a) Resposta eficaz e eficiente às intervenções pontuais de reparação ou às intervenções
programadas de conservação e manutenção;
b) Fomentar a correta utilização das instalações e dos equipamentos, formando,
acompanhando e responsabilizando os utilizadores;
c) Garantir a plena utilização das instalações
Figura 34 – Comportamento e possibilidade de influenciar os custos ao longo da vida do edifício (Amelung,
1996 apud Weise et al, 2009)
Esta ferramenta informática permite a possibilidade de reduzir os custos ao longo da vida do
edifícios desde da fase de projecto, execução e exploração através de medidas de optimização
nos custos influenciáveis. O BIM tem um grande potencial em termos de gestão e controlo
nomeadamente na visão global da empreitada, na visão dinâmica de órgãos, na análise de
conflitos entre as diferentes especialidades, no controlo de quantidades, no controlo de custos,
na identificação de trabalhos por equipa e no faseamento construtivo no apoio ao planeamento
e preparação de obra. Esta visão integrada da empreitada permite uma maior tomada de
decisão logo nas primeiras fases do projecto.
Apesar de todas as vantagens enunciadas ainda há um grande caminho a percorrer para o uso
intuitivo deste programa. Nestas alterações e evoluções há sempre uma enorme resistência à
mudança característica do Homem desde dos tempos mais remotos conforme demonstra a
figura abaixo.
172
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Figura 35 – Exemplo de resistência à mudança
Com a introdução desta ferramenta no mercado haverá uma mudança de paradigma com
colaboradores mais flexíveis, multidisciplinares e altamente qualificados onde a colaboração
entre todos os intervenientes será a palavra de ordem.
Inovação e Desenvolvimento nas Organizações
A quantidade de informação e a velocidade com que esta actua no mercado torna-se uma
tarefa árdua para as empresas acompanharem a evolução técnológica de modo a se tornarem
mais competitivas no mercado onde operam pelo que é essencial a ligação das empresas com
Intituições do conhecimento como Universidades, Politécnicos, Institutos de Investigação e
Plataformas de conhecimento na área da Construção e Engenharia Civil. Não basta saber o
que se passa a nível nacional é imprescindível acompanhar o mercado a nível Mundial.
A empresa deve estar ligada a centros de investigação para resolução de problemas de
complexidade que geralmente são transversais ás organizações do mesmo sector nos
mercados onde operam.
Plataformas
de
Conheciment
o
Institutos de
Investigação
Universidades /
Politécnicos
Laboratórios
Especializados
MRG Engenharia e
Construção, SA
Figura 36 – A ligação entre a empresa e instituições de investigação e desenvolvimento
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
173
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
Estes centros deveriam reunir todo o “know how” ao nível do projecto e procedimentos de
execução a fim de garantir a durabilidade das construções. A empresa MRG- Engenharia e
Construção, SA têm parcerias com as seguintes organismos de investigação:
Gestão do Risco
A Gestão do Risco na sua forma genérica pode ser analisada como plano evolutivo de gestão
e controlo da qualidade durante o projecto, devendo especialmente numa obra desta natureza,
assinalar e precaver em fase de concepção os riscos expectáveis.
Desta forma, faz sentido entender a gestão do risco como um processo contínuo de melhoria
durante todo o projecto.
No início da construção são normalmente menosprezados alguns riscos, incluindo riscos
conhecidos que não podem ser evitados e ainda não identificados.
O principal interesse desta gestão reside na possibilidade de desenvolvimento, implementação
e acompanhamento de planos que permitam actuar, muito antes dos potenciais riscos virem a
afectar o projecto e ter implicações, entre outros, ao nível dos desempenhos, prazos e custos.
Assim, com a implementação de uma metodologia de gestão de risco é possível alcançar
importantes benefícios, como sejam:

Mais e melhor informação para o processo de decisão;

Redução de acontecimentos não previstos no planeamento da empreitada;

Maior rigor nos prazos de entrega e na realização dos objectivos do projecto;

Comparação objectiva das alternativas do projecto;

Melhorar o planeamento, desempenho e eficácias;

Maior rigor ao nível de custos.

174
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
A gestão de risco compreende as seguintes etapas:

Estabelecimento do contexto;

Identificação dos riscos;

Avaliação dos riscos;

Hierarquização dos riscos;

Medidas de mitigação;

Actualização permanente, no decurso dos trabalhos, da gestão do risco;

Monitorização e revisão.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
175
CAPITULO V – Discussão dos Resultados e Propostas de Melhoria
176
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO VI – Conclusões
CAPITULO VI - Conclusões
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO VI – Conclusões
178
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO VI – Conclusões
6.1. Conclusões Finais
Este estudo teve como principal objectivo determinar e analisar os constrangimentos na
qualidade da construção, de forma a contribuir para uma melhoria do pós-venda na empresa.
A construção tem uma cadeia de valor complexa e um potencial elevado de conflitos e
ineficácia. Tal facto constitui um obstáculo à qualidade.
A qualidade na construção é fortemente influenciada nas diferentes fases do ciclo de vida de
um empreendimento onde intervém diferentes intervenientes com objectivos e interesses
diferentes. Tal diversidade de partes interessadas torna difícil coordenar os diferentes pontos
de vista e falar a uma só voz.
A competitividade e a viabilização das empresas passa pela qualidade do produto final, pelo
que o empreiteiro será sempre o interveniente mais comprometido devido à responsabilidade
assumida em contrato com o cliente e aos períodos de garantia pelo que este deve assumir o
controlo da gestão do projecto, trabalhando junto do cliente e dos projectistas, monitorizando
os riscos da cada fase do ciclo de vida do edifício.
Com propostas de revisão da legislação, nomeadamente, quanto ao aumento do período de
garantia dos imóveis. Com a diminuição do ciclo de vida dos materiais e dos componentes da
construção, os novos utilizadores deparam-se com custos inesperados que importa atenuar,
muitas vezes resultados de más opções arquitectónicas ou de concepção. É cada vez mais
importante a intervenção das empresas de construção na validação de processos construtivos
uma vez que estes são os mais interessados na durabilidade das soluções construtivas.
É imperativo um programa nacional de desenvolvimento de documentação técnica –
actualizável onde contribuam activamente empresas de construção, produtores de materiais,
seguradoras, ordens profissionais, laboratórios, universidades, plataformas de conhecimento,
centros de investigação. É necessário um código de construção nacional sem espaço para
ambiguidades como as regras de arte onde se operacionalize métodos, técnicas e processos
construtivos duráveis.
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPITULO VI – Conclusões
A necessidade de introdução de um sistema de seguros e garantias no sector da construção
que torne mais fluido a resolução de conflitos entre clientes e empresas de construção onde
haveria lugar a um cadastro e registos de patologias com sanções efectivas para as empresas
prevaricadoras. Esta proposta iria dinamizar o mercado de pequenas reparações e de
reabilitação à imagem do que acontece com o seguro automóvel.
É importante haver lugar à reflexão das causas das patologias na construção em edifícios
recentes, é necessário uma estratégia para melhoria da qualidade e durabilidade onde o
mercado pudesse premiar quem trabalha com qualidade.
O departamento de pós-venda de uma empresa é uma fonte de conhecimento que os
empresários não devem desprezar. Nele podem avaliar a qualidade do seu produto, a
satisfação dos clientes e recolher informação útil para novos projectos. Tendo em conta o
contexto económico actual as empresas devem apostar na redução de custos de pós-venda
evitando desperdiçar recursos. Investir no serviço pós-venda não é um custo, é uma forma de
crescer.
Embora os pontos mais críticos para a qualidade sejam assinalados no projecto e na execução,
não devemos menosprezar as falhas de utilização e manutenção, tornando esta ameaça numa
oportunidade de manobra de marketing para chegar mais perto do cliente dotando-o de
conhecimentos acerca dos cuidados a ter durante a fase de utilização e manutenção do
edifício. A fidelização de clientes é um passo muito importante rumo à construção de laços de
relacionamento futuro.
O desenvolvimento de novas tecnologias baseadas nas tecnologias de informação, como a
Modelagem das Informações de Construção (Building Information Modelling – BIM), está a
contribuir para impulsionar a inovação e para melhorar a eficiência do sector, sem dúvida uma
ferramenta a seguir.
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Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
CAPÍTULO VI – Conclusões
6.2. Perspectivas de trabalhos futuros
No âmbito do trabalho apresentado surgem várias possibilidades de desenvolvimentos
futuros, nomeadamente;
- Elaboração de aplicação informática que funciona como check-list de verificação de erros
grosseiros nas peças escritas e desenhadas;
- Controlo e monitorização dos pedidos de esclarecimento de projecto centralizando o
tratamento estatístico interno e informando periodicamente os colaboradores das boas e más
práticas registadas;
- Desenvolver um sistema interno de transferência e gestão do conhecimento da organização
acerca dos procedimentos de qualidade a implementar em cada fase do ciclo de vida do
edifício;
- Desenvolver uma lista de procedimentos de preparação de obra de modo a triar com mais
rigor qualquer conflito ou incompatibilidade;
- Desenvolver a gestão do risco na empresa aplicado à gestão das empreitadas;
- Criar uma biblioteca on-line e promover o envio de newsletter interna com indicadores
acerca do pós-venda e fichas para prevenir determinadas patologias na fase de projecto e na
fase de execução de obra;
- Promover sensibilizações aos potenciais clientes das opções de projecto com vista à redução
de custos de utilização e manutenção;
- Desenvolver um manual de utilização e manutenção dos edifícios que integrem a ficha
técnica da habitação, a compilação técnica e as telas finais com o objectivo de sensibilizar o
cliente para a necessidade de acções de inspecção e manutenção;
- Nos mapa de quantidades de projecto deveria ter referência aos custos de manutenção ao
longo da vida útil;
Humberto Gonçalves – Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil
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CAPÍTULO VI - Conclusões
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