Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
Intersecções metodológicas entre História Oral, Análise Crítica do Discurso, Gênero e
Teorias Migratórias
Jamylle Rebouças Ouverney-King
Universidade Federal de Santa Catarina –UFSC- PPGCH, [email protected]
Marcos Fábio Freire Montysuma
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC – PPGCH, [email protected]
Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar
Apresentação
Discutimos aqui as considerações teórico-metodológicas, as quais julgamos pertinentes para uma
análise minudente das questões subjetivas que envolvem sujeitos de origem anglo-americana, que por
motivos de ordem pessoal, decidiram se deslocar de seus países de origem para viver no Brasil.
Para tanto, dividimos essa discussão em cinco seções nas quais iremos nos ocupar de questões
referentes à memória, narrativa e experiência em associação com a História Oral; como a História Oral e
Análise Crítica do Discurso podem ampliar os conhecimentos investigativos linguísticos em se tratando de
análise discursiva; de que formas os estudos de gênero e masculinidades se inserem no contexto de
investigação; como os estudos sobre subjetividades dialogam de forma interdisciplinar com a análise social e
de relações de gênero; e, por fim, em que contexto as questões sobre mobilidades humanas são trazidas
numa pesquisa que busca uma visão ampliada e não reificadora do sujeito migrante.
Maria Cecília Minayo (2010) esclarece que a interdisciplinaridade nas ciências humanas permeia
todo o processo de pesquisa. Está presente desde a concepção e escolha do objeto, ou no caso em tela, para
atuarmos com os sujeitos com os quais interagimos na pesquisa. Então, já no início, realizamos uma seleção
de pressupostos teóricos e metodológicos, para desenvolver uma análise compatível com as nossas utopias
de pesquisa, em conformidade com os objetivos previstos no projeto.
A autora torna claro que a interdisciplinaridade não é um método ou uma teoria, mas uma abordagem
para analisar e/ou pesquisar os fenômenos sociais. Por este meio procuramos atuar dentro de uma forma que
visa potencializar possibilidades de interpretações da ação dos sujeitos. Agindo assim, procuramos nos
distanciar de uma visão que aborda os conhecimentos das pessoas de modo fechado, estanque. Em nosso
caso, muito pelo contrário, as consideramos de um modo amplo, multifacetado, englobando muitas
possibilidades que nos chegam através de seus discursos. Por isso, examinamos outras visões relativas aos
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aspectos tratados nas entrevistas que realizamos. Aqui, contudo, nos concentramos no aporte teórico que, se
a princípio pode sustentar, também pode dialogar com a pesquisa.
Memória, narrativa e experiência através da História Oral
Adotamos nesta pesquisa a metodologia da História Oral considerando as experiências dos sujeitos e
nos voltamos para as memórias reveladas através de suas narrativas. É através dessas categorias que
lançamos nossas possibilidades de análises.
As entrevistas de história de vida (ALBERTI, 2005), são uma possibilidade de vislumbrar a trajetória
da vida de um sujeito e sua relação com o tema investigado. A narrativa, por sua vez, pode apresentar
diversas subdivisões temáticas em seu percurso narrativo. Vem daí a riqueza e a importância do trabalho que
realizamos, pois possibilitamos que os sujeitos atribuam outras dimensões para suas experiências.
Por meio das entrevistas de história de vida vimos ocorrer varias temáticas presentes, sem que exista,
necessariamente, um assunto central, nuclear. Essa perspectiva facilita o trabalho de pesquisa ao lidamos
com os discursos proferidos pelos sujeitos, propiciando uma análise interdisciplinar dos conteúdos. Vem daí,
também, a nossa escolha pela Análise Crítica do Discurso como outra fonte teórica para a análise, uma vez
que esta oferece condições para uma investigação linguística dos significados atribuídos ao discurso, o que
veremos com mais profundidade adiante.
Registramos que o trabalho com história oral envolve, na maioria das vezes, uma abordagem
multi/inter/transdisciplinar. Mas convém alertar ao leitor que esta não é uma condição previamente
determinada. Sua assertiva deriva da percepção e do perfil da pessoa que atua na elaboração do texto, como
o artesão que vai alinhavando, unindo as partes entre conteúdos discursivos, que foram colhidos e conteúdos
discursivos de caráter teórico.
Consideramos em nossas análises que os sujeitos narradores efetuam interpretações subjetivas
atribuindo significados às suas experiências. Verena Alberti (1996, pp. 910-911) advoga que a “experiência
– que foi vivida – é transmitida através da linguagem” e ela faz uma ponte esclarecendo que “[...] entre a
experiência em si e sua transmissão, a linguagem realiza o trabalho de cristalizar as imagens que se referem
e significam a experiência”. Portanto, a consumação da palavra, que externa uma ideia, expressa o conteúdo
interpretativo elaborado pelo sujeito a respeito do que passou.
Michel Pollak (1992) considera as questões relativas à memória importantes na pesquisa histórica.
Defende que a relação estabelecida entre a memória e o ato da entrevista, consiste na ideia de que tanto o
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entrevistado, quanto o entrevistador, seriam personagens e autores, simultaneamente, da história que um
narra e que o outro ouve. Nisso ocorre uma interação, na qual o entrevistador, em que pese compartilhar o
ato criativo do conteúdo, fica a mercê dos exercícios da memória da pessoa que tem diante de si.
No momento em que realizamos as entrevistas em História Oral temos uma interatividade, em que
ocorre a promoção de uma interface constante entre imagens, discursos, eventos, sentimentos, enfim, uma
pletora de sensações que convivem misturando tempos e lugares na memória do narrador. Estes vêm à tona
colorindo a narrativa com detalhes e nuances que permitem ao ouvinte, e até ao próprio narrador, ter/em
uma visualização do que está sendo narrado, e nisto nos oferecem uma variedade de elementos plausíveis de
análise.
Desta forma, entendemos que memórias e identidades mantêm-se unidas com o objetivo de estarem
sempre modelando, ou promovendo a manutenção, a subjetividade do narrador, isto é, o personagem da
narrativa, o dono da memória e da identidade narrada. As identidades dos sujeitos são como personagens
que vão construindo suas histórias a partir das memórias retidas.
Combinando História Oral com Análise Crítica do Discurso
Se por um lado a metodologia da História Oral possibilita a constituição de fontes, entre narrador/a e
pesquisador/a, para que se possa compreender um fato. Por outro lado, a ênfase da análise crítico-discursiva
toma o discurso do sujeito, que narra amparado na sua memória. É o relato decorrente desta condição que se
tornará o centro da análise narrativa do pesquisador.
Através da Análise Crítica do Discurso, o enfoque é centrado na organização linguística do discurso
e como essa organização toma sentido quando inserida no contexto da prática social. Abordar as questões
discursivas também está no escopo de ação de segmentos que atuam na História Oral, quando realizamos
análise social.
Falar sobre os significados que os sujeitos atribuem aos fatos e às experiências transcorridos na
história e nas suas vivências, via Análise Crítica do Discurso, é considerar os dispositivos linguísticos
presentes na oralidade, alguns transferidos para a escrita, e que nos permitem fazer interpretações acerca do
tema pesquisado.
Faz-se mister ressaltar o fato de que se fossemos nos valer somente das palavras e seus significados
isolados, não poderíamos contar com o aparato sociocultural, que cerca as palavras no discurso e promove a
presença da “representação de mundo” (FAIRCLOUGH, 2010b, p. 46), dos conhecimentos, das
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experiências e vivências do sujeito sobre o tema – o que chamamos de background – que, por sua vez, são
refletidos no discurso.
Em nossas análises consideramos a categoria experiência essencial na compreensão do papel dos
sujeitos, visto que, na pesquisa, percebemos as interjunções discursivas, através das quais inserem elementos
que valorizam aspectos ou momentos transcorridos em suas vidas.
Segundo Norman Fairclough (2010b, p. 93) os discursos são “[...] formas de significar áreas da
experiência a partir de uma experiência particular [...]”, assertiva corroborada em Joan Wallach Scott (1999,
p.42) ao declarar que a “experiência é uma história do sujeito. A linguagem é o local onde a história é
encenada”. Logo os discursos enunciados nos remetem às experiências individuais, nos oferecendo nuances
do que a pessoa experimenta e, deslindam aspectos acerca da construção imagética, via memória, sobre
percursos de suas vidas.
A análise crítica do discurso nos permite investigar a língua e a linguagem em três esferas que não se
separaram: o texto, a prática discurso e a prática social. A análise textual, focada, muitas vezes, em
expressões e vocábulos e suas simbologias léxico-semânticas nos remetem, por sua vez, à prática discursiva
do sujeito que, por sua vez, também pode nos remeter à prática social. A análise dessas três esferas, em
conjunto, permite, por outro lado, vislumbrar as percepções identitárias dos sujeitos migrantes.
Sabendo que a narrativa revela, através do estilo linguístico, a prática discursiva (FAIRCLOUGH,
2010a; 2010b) à época da migração, além de promover a construção imagética do migrar, utilizaremos a
proposta de reflexão teórica híbrida, a ser explanada em breve, acerca da migração para identificar as
percepções e sentimentos presentes nas memórias das trajetórias de migração dos sujeitos anglo-americanos.
Essa análise revela as particularidades que os fazem migrar e assim traçar uma visão panorâmica da
trajetória do migrante antes e depois de migrar em um contexto de prática social.
Através da ótica de Pollak (1992), nossas memórias são permeadas por acontecimentos, personagens
e lugares sobre os quais falamos. E assim o fazemos porque são representativos e como tais os elegemos em
análise em nosso trabalho. Destarte, utilizaremos a ferramenta proposta pelo autor, acerca dos efeitos
constitutivos da memória para identificar os acontecimentos, os personagens e os locais aos quais os
entrevistados se reportam para narrar seus pontos de partida e de chegada. A partir daí, podemos identificar
nas práticas sociais discursivas a presença de estereótipos sobre o Brasil, Nordeste, João Pessoa, dos/as
brasileiros/as e como estes são (des)construídos pelos sujeitos.
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Uma análise discursiva que não considera tais elementos pode levar a uma interpretação limitada, no
mínimo, e de pouca intensidade semântica para o contexto investigado. Além disso, Marcos Montysuma
(2006, p. 123) assevera que “a fonte, nesse caso, é a palavra que adquire um caráter documental, por estar
convertida em documento sonoro gravado”.
Nesse sentido, a preservação da fonte oral é um ato de preservação daquele momento histórico da
entrevista e serve, igualmente, como forma de resguardar a narrativa do entrevistado. Daí a importância da
constituição dessas fontes orais e sua associação interdisciplinar com a Linguística, já que como advoga
Portelli (2005), ocorre uma recordação do fato histórico não de forma passiva e sim criativa, pois ao ativar a
memória e utilizar o que o autor chama de “filtro linguístico” o sujeito elabora os significados ou atribui
novos significados.
As fontes orais são capazes de revelar as nuances de significados que não estão aparentemente
escritos, mas repousam na percepção do pesquisador, porque a linguagem oral reflete a cultura e a
espontaneidade do orador no ato da fala. A linguagem escrita, em tese, sedimenta a norma culta, rouba a
espontaneidade da linguagem falada, para dar vazão à racionalidade da norma, da regra gramatical.
Logo, trabalhar com as fontes orais possibilita retermos significados unidos por uma ponte entre a
análise linguística e a análise que reflete a posição dos indivíduos na sociedade em que estão inseridos. A
associação entre elas permite a travessia dessa ponte, concedendo uma análise social da língua e,
consequentemente, dos sujeitos e suas subjetividades. Entender a ordem social dos discursos é, acima de
tudo, posicionar-se criticamente, não para julgar, mas para compreender, numa atitude de percepção, por
quais caminhos trafegam as análises que os sujeitos realizam quando narram suas experiências.
Gênero e masculinidades
Com o objetivo de possibilitar uma visão sobre as mobilidades de homens que se deslocaram dos
Estados Unidos e do Reino Unido para o Brasil, os estudos de gênero e, consequentemente, os estudos sobre
masculinidades estarão presentes nesse percurso teórico.
As questões de gênero, muitas vezes já complexas por natureza como bem aponta Judith Butler
(1990), têm em seu cerne a interdisciplinaridade como ponto de partida, uma vez que, sem ela, muitas visões
sobre as relações de gênero seriam inviáveis. Compreender ações, visões de mundo, atitudes, físicas ou
discursivas, relacionadas aos homens e mulheres por um viés interdisciplinar é possibilitar que a linguagem
de gênero ultrapasse as fronteiras do social, do político e do acadêmico para além da representação de
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grupos. Falamos em homens e mulheres no plural, pois assim englobamos pluralidades e diferenças evitando
o essencialismo na categorização.
Com base em uma perspectiva que orienta para a necessidade de pluralidade e diversidade, Mara
Lago (1999) observa que tanto as feminilidades quanto as masculinidades são marcadas de forma cultural,
com diferentes padrões e valores comportamentais que podem, muitas vezes, ser relacionados aos gêneros a
depender da cultura em que estão inseridos.
Nesse sentido, refletimos que, ao se deslocarem de uma cultura para outra, os sujeitos vêm munidos
de valores, atitudes, relações interpessoais e comportamentais, que podem ser transferidas, naturalmente,
para a cultura de destino, ou não. Dentro da acepção proposta orientamos nosso foco, que tem origem nos
estudos de gênero, para os estudos sobre masculinidades.
É importante pensar em masculinidades mas não de uma forma ideologizada, isto é, enquanto
dispositivo de uso de poder de um grupo sobre outro, ou como referência dominante já que, quando imposta
a primazia de um significado, ou conceito, em detrimento de outro, perde-se a comunicação de significados
(CERDA & BUSTOS, 2005), o que, em nossa opinião, faz com que ocorra um processo de ideologização
conceitual e, consequentemente a retirada da característica mutável do conceito. Afinal, não são
masculinidades estáticas e sim construídas nas práticas sociais, assim como as identidades culturais, então
são dinâmicas per se.
Desta forma, como mencionamos anteriormente, as masculinidades também são orientadas
culturalmente, daí a necessidade de inserção da categoria nesta pesquisa que busca ilustrar as expressões de
masculinidades nos discursos dos sujeitos que se deslocam.
Subjetividades
Em busca de uma análise compreensiva da experiência do migrar, julgamos necessária a inserção de
reflexões teóricas, ainda que não pelo viés metodológico e sim puramente teórico-filosófico, que auxiliem a
interpretação de categorias como subjetividades, já que investigamos as subjetividades intrínsecas às
trajetórias de migração do migrante masculino, através do aporte de Hall (2011) acerca da identidade
cultural no mundo contemporâneo e suas multifacetadas formas de ser.
Pesquisas com trajetórias de vida serão sempre permeadas por questões de subjetividades, como bem
aponta Portelli (1996) quando estabelece uma conexão entre os atos de recordar e contar como sendo, em si
próprios, fazes de interpretação do sujeito sobre o fato que está sendo questionado.
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Nesse sentido, se são interpretações, são subjetivas per se. Todavia, não devem ser jamais julgadas
como passíveis de falhas ou enganos. Ao contrário, as interpretações, enquanto ações subjetivas do narrador,
devem ser consideradas participações colaborativas na constituição daquele fato ou evento narrado. Ainda
que o sujeito em si não tenha participado do evento, através da sua narrativa ele proporciona ao ouvinte, e
pesquisador, a sua visão, a sua compreensão, do ponto de vista de alguém que, de fato, participou, e ainda
participa, física ou cognitivamente.
Seguindo a via na qual a constituição subjetiva ocorre de forma relacional e intersubjetiva, podemos
afirmar que o sujeito se constitui na linguagem e na cultura a qual interage, nos „apontando‟ sua identidade
cultural, uma vez que o sujeito pode agir sem a intenção premeditada de nos dizer de onde fala.
E como identidade cultural “não pode ser definida apenas por sua presença positiva e conteúdo.
Todos os termos da identidade dependem do estabelecimento de limites – definindo o que são em relação ao
que não são” (HALL, 2003, p. 85). Assim sendo, consideramos as questões subjetivas como definidas para
além do que é observável no mundo físico, constituídas na relação entre presença e ausência, uma relação
que não pode ser considerada nem antagônica, muito menos dualista, mas sim dicotômica, pois é a presença
de um elemento que determina a ausência de outro, e assim por diante.
Da mesma forma ocorre com as subjetividades contemporâneas e as sobreposições de camadas de
subjetividades umas sobre as outras. O sujeito evidencia subjetividades ou expressões subjetivas quando
sente necessidade de fazê-lo. Para ilustrar, podemos dizer que a presença do sujeito migrante em terras
brasileiras lhe concede a circunstância subjetiva de estrangeiro, mas sem uma identidade cultural brasileira.
A mesma relação de ausência e presença ocorre quando ele se ausenta de seu país de origem e viaja
para o Brasil, assumindo a condição de estrangeiro, porém, quando retorna também retoma sua condição de
pertencimento àquele país, perdendo o condição de estrangeiro no país em que era visitante.
Além da presença no ideário de „uma‟ identidade cultural brasileira não podemos obliterar a
constituição das „marcas‟ sociais que os migrantes podem apresentar no ideário do/a brasileiro/a, ao serem
representados pela figura do „gringo‟, que, por sua vez, também possibilita a produção de „fantasias‟ sobre o
„ser anglo-saxônico‟ ou „anglo-americano‟.
Desta forma, inferimos que a pesquisa que trás migrantes como cenário de estudo pode tanto
oportunizar a visão do que é ser brasileiro para os sujeitos migrantes, como igualmente a impressão que os
sujeitos migrantes desenvolvem sobre o que é ser um „gringo‟ em terras brasileiras, a partir do olhar e da
interação social com brasileiros.
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Isto posto, investigamos, através do discurso narrado – e a partir de recordações –, a constituição das
características subjetivas inerentes aos deslocamentos dos sujeitos anglo-americanos, discurso que é
multifacetado e plural na sobreposição de vários momentos na vida do migrante e, por conseguinte,
permeado por várias práticas sociais subjetivas.
Mobilidades
Estamos cientes da inexistência de uma reflexão teórica, ou de uma teoria que, de forma compacta e
precisa, englobe homogeneamente as mobilidades aqui estudadas. Daí advém nossa proposta híbrida, isto é,
de associação com várias propostas e reflexões teóricas acerca das mobilidades humanas objetivando uma
visão que supera as fronteiras disciplinares e não se encerra somente em conceitos econômicos, políticos,
entre outros, que até hoje serviram para explicar o perambular humano, além das convencionais fronteiras
nacionais.
Oferecemos uma perspectiva que escape à visão cristalizada que tanto as reflexões teóricas quanto as
teorias clássicas de migração vêm convencionando. Para tanto, descortinamos agora os elementos que
consideramos basilares das reflexões teóricas selecionadas e que irão nos auxiliar a analisar de forma
interdisciplinar e interseccional as narrativas dos entrevistados.
A seleção foi feita empiricamente, já que tomamos por base as entrevistas realizadas e as primeiras
impressões. Logo, procuramos amalgamar partes das proposições teóricas que contribuíram de modos
distintos para essa reflexão acadêmica de modo que podemos caracterizar melhor os sujeitos e suas
mobilidades tão singulares no panorama moderno.
Mesclamos as noções de alteridade e diferença, apresentadas por Brah (2003), Ribeiro (2005),
Appiah (2006) e Benson (2009) sobre a visão do outro, como basilares na constituição das trajetórias
subjetivas dos migrantes, uma vez que é através do olhar do sujeito que se desloca que poderemos observar
suas relações subjetivas e de gênero. Suas apreensões em relação à cultura em que se propõe inserir.
Atitudes que causam estranhamentos ou que os acolhem enquanto sujeitos de outras culturas.
A aproximação entre alteridade e diferença nos permite avaliar como esse sujeito migrante se sente
inserido, ou não, aceito, ou não, pela cultura brasileira. Além disso, nos permite observar também a visão
dele sobre o sujeito brasileiro, sobre a cultura brasileira e outras nuances que porventura possam surgir em
seu discurso.
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Faz-se mister apontar o contexto histórico e social em que ocorre a renovação subjetiva ao qual nos
reportamos enquanto uma pesquisa que tem como pano de fundo a mobilidade: falamos do que é tido como
„segunda onda da globalização‟. A segunda onda é denominador comum a concepções teóricas como o
transnacionalismo (SCHILLER & WIMMER, 2002) que fomenta e, por vezes, agencia algumas trajetórias
de deslocamento.
As formas de migração e de estabelecimento, ou não, como é o caso dos transmigrantes, também se
fazem importantes para uma pesquisa que traz sujeitos que não expressam o desejo de retorno (CASTLES,
2002).
Além disso, vamos nos valer das reflexões propostas por Hoey (2009), Benson (2009), O‟Reilly &
Benson (2009) e Casado-Diaz (2009) ao citarem o estilo de vida e a busca pela qualidade da mesma como
alavanca para a mobilidade. Não desconsiderando o valor do local muito bem exposto por Hoey (2009) e
Garcês (2006). A reflexão dos autores detalha sujeitos que buscam locais onde possam prolongar a
estimativa de vida, o notório „viver mais‟ e com mais saúde, como é o caso de aposentados ingleses que
migram para a costa espanhola ou italiana. Ou locais onde se permitam um encontro com o „eu interior‟,
como é o caso de europeus que se deslocam para um período de retiro espiritual na Índia e por lá decidem
ficar.
No caso dos sujeitos entrevistados, o estilo de vida e a busca por uma vida com mais conforto e
realização pessoal é uma constante na trajetória de vida deles. Um estilo de vida que não se remete única e
exclusivamente ao campo profissional como uma fuga do stress da cidade grande. São sujeitos que
atravessam a fronteira da preocupação capitalista pelo acúmulo financeiro e se empenham em uma vida para
si e para sua família em um ambiente com clima mais ameno e menos flutuante.
Apropriamo-nos anteriormente do termo híbrido tomando por base Homi Bhabha e sua descrição de
um “momento ambíguo e ansioso de ... transição, que acompanha nervosamente qualquer modo de
transformação social, sem a promessa de um fechamento celebrativo ou transcendência das condições
completas [...]” (1997 apud HALL, 2003, p. 75). Enfim, poderíamos dizer que o hibridismo, em qualquer
aplicação que tenha, desperta o senso crítico naquele/a que dele se apropria para aplicá-lo. A vontade de ver
o que existe do outro lado, a necessidade de conhecer o outro.
O hibridismo teórico, nesse caso, é, acima de tudo, uma relação de alteridade com a proposta
contrária, ainda que esta não tenha sido revelada ou descoberta, ele estará sempre aberto e pronto para cingir
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essa nova (re)proposta, permitindo outras interpretações, sem cair nas falácias utópicas de uma doutrina, ou
uma política, ou uma teoria que deseje ser completa.
Daí sua associação, mais que pertinente, com a interdisciplinaridade, pois em uma visão de teoria,
pelo menos do ponto de vista daquela que busca a completude, uma teoria será sempre parca no sentido de
não conter acepções suficientes para dar conta do que pretende. Por isso não deve buscar a completude e sim
a associação.
Considerações finais
Discutimos neste artigo, de modo breve, como a interdisciplinaridade permeia a metodologia, de
pesquisa e de análise, e como os conhecimentos de vários campos epistemológicos nos permitem olhares
menos generalizadores ou reificadores sobre as trajetórias dos sujeitos.
Dentro da perspectiva que encadeia história oral, análise crítico-discursiva, gênero, masculinidades,
subjetividades e migrações, localizamos as narrativas para entender os deslocamentos e as características
inerentes que fazem os sujeitos mudarem de lugar, tendo em vista que, no patchwork em que vivemos de
uma sociedade globalizada, a união de fragmentos, em suas semelhanças e diferenças, é o que compõe a
sociedade, tornando-a plural e interdisciplinar.
Com base nas ações revividas através das narrativas, podemos desenhar os passos do futuro e
maximizar experiências positivas e minimizar as negativas. Usamos o termo História, ou história, mas
relembramos que história não remete única e exclusivamente ao passado. Escrevemos história a cada minuto
respirado, rua atravessada, som emitido, alimento experimentado. Ainda que não seja um fato social
histórico e relevante para a sociedade ao redor, a pesquisa com trajetórias de vida é uma forma de escrita de
história, a história de um sujeito, de suas subjetividades, sujeitos que se deslocaram do hemisfério norte para
o sul.
Percebemos a escrita dessas histórias ao entrevistá-los e ouvir suas trajetórias de migração que, de
tão abundantes em detalhes, nuances, expressões e representações subjetivas, merecem um olhar mais atento
e menos reificador. Menos genérico do que o olhar proposto pelas teorias e reflexões teóricas
universalizadoras da migração.
Um olhar que revele a autenticidade de cada uma dessas mobilidades, nas particularidades que as
compõem, afinal como Scott (1999, p. 24) concebe “ver é a origem do saber”. Mas como concretizar esse
olhar? Se é que podemos, de fato, concretizar um olhar.
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Se nos empreendemos a fazê-lo, devemos estar conscientes de que a concretização desse olhar ocorre
em uma fração de segundo na qual o olhar ocorreu e em uma outra oportunidade, esse olhar pode ter uma
concretização totalmente dessemelhante. Além disso, por estarmos lidando com interpretações estamos
lidando com atribuições de significados e, portanto, com autenticidade das informações que são validadas na
voz daquele sujeito que narra.
É através dos relatos dos sujeitos sobre suas trajetórias de deslocamentos que construímos um
quadro, uma cena, uma reprodução escrita da memória que permite uma „visualização‟, uma construção
imagética do relato. Nesse painel pictórico transmitimos a experiência desse sujeito.
Transformamos essa visão em saber e, consequentemente, ao reproduzir essa construção através da
escrita, estamos comunicando não somente a experiência daquele sujeito relator mas a nossa experiência
como aqueles que ouvem, visualizam, escrevem e transmitem. Uma transmissão que precisa, acima de tudo,
considerar as esferas comunicativas e como essa narrativa é expressada, isto é, considerar de forma
interdisciplinar as multifacetadas interpretações que a narrativa permite ter e ver aquele que a narra.
Retomamos Alberti (2005, p. 10) quando ela se questiona se todas as entrevistas são “realmente
importantes para o estudo do passado e do presente”. Vamos mais longe e encorajamos nossos colegas
pesquisadores a pensarem para além de uma dicotomia passado-presente.
Portelli (2005, p. 05) recomenda que “podemos pensar as fontes orais como algo que acontece no
presente, ao invés de apenas um testemunho do passado”. De fato, as pesquisas em História Oral são muito
valiosas social, antropológica, linguisticamente, enfim, em um sem-número de esferas disciplinares, que
uma vez em uma situação interdisciplinar, são úteis tanto para a reintegração do passado no presente, quanto
para potenciais perspectivas futuras. Os entrevistados têm nos mostrado isso ao destacaram, antes mesmo da
pesquisa finalizada, que já enviaram minha versão transcrita para seus filhos e netos conhecerem um pouco
do itinerário de deslocamento que eles percorreram até chegar ao hoje.
Ao respeitar as singularidades e as alteridades, estamos nos proporcionando o gozo de um eterno
aprendizado, do que temos em comum, ou daquilo em que diferimos uns dos outros. Além disso, perceber as
motivações que levam os sujeitos a migrarem para o Brasil, em particular para João Pessoa, no Nordeste,
nos remete à compreensão das leituras subjetivas de mundo através das pessoas entrevistadas na pesquisa.
Ante ao exposto, reiteramos o viés interdisciplinar da abordagem aqui sugerida, permitindo um
diálogo teórico e metodológico das questões apresentadas no projeto de pesquisa. Esta condição é forjada de
forma prática na união da História Oral como metodologia e as demais orientações teóricas, por onde
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problematizamos as questões acerca das subjetivas, das identidades culturais, dos estudos de gênero e
masculinidades, em combinação com Análise Crítica do Discurso. Ao nos apropriarmos desse tipo de
abordagem temos potencializadas as condições de êxito da pesquisa por onde é possível compor um
panorama de análise consistente do objeto de estudo.
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Intersecções metodológicas entre História Oral, Análise Crítica do