16OPINIÃO
A GAZETA
SÁBADO, 5 DE DEZEMBRO DE 2015
Rodrigo Medeiros
OPINIÃO DE A GAZETA
É professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)
Aparecimento de complicações
graves relacionadas ao zika vírus
precisa motivar o combate
definitivo ao Aedes aegypti
A carga tributária regressiva é injusta, e a propensão
marginal ao ato de poupar ou consumir não é a
mesma para classes sociais e de renda distintas
GUERRA AO
MOSQUITO
É
Ajuste
regressivo
compreensível o temor que tem
se espalhado na mesma proporção que a proliferação do zika no
país, com a consequente epidemia de microcefalia relacionada
ao vírus. Já são 1.248 casos suspeitosdamá-formaçãonoBrasil.Hámuitasdúvidas, com pesquisadores e órgãos de saúde
tentando solucionar os enigmas que ainda cercam a infecção. Mais do que nunca, o poder
público,emtodasassuasesferas,precisaseempenhar na mobilização contra esse gravíssimo
problema de saúde pública.
Urge também a união de esforços com mecanismos internacionais, por se tratar de uma situação inédita no mundo. Vírus como o zika, de
origem africana e identificado pela primeira
vezemmeadosdoséculopassado,mudamsuas
características genéticas. Praticamente inofensivo até então, acredita-se que, ao entrar no
país, tenha aumentado sua capacidade de infecção. Portanto, todo estímulo a estudos que
tragam mais compreensão ao que está acontecendo precisa ser prioridade neste momento.
O estado de alerta atual evidencia as falhas no
país quando o assunto é a saúde pública. Especialistas dos Estados Unidos que estão no
Brasil para colaborar com essas investigações
criticaram as condições precárias dos nossos
laboratórios públicos. A falta de planejamento
e de investimentos nesse setor só se torna explícita em situações dramáticas como a atual,
realçando o despreparo nacional para combater uma epidemia dessas proporções.
Há muito a ser compreendido ainda sobre os
efeitos do zika no organismo humano. Mas há
ações possíveis, que necessitam ser imediatas:
o combate definitivo ao Aedes aegypti. O mosquito transmissor de doenças tropicais precisa
ser destronado no país, onde reina como vetor
da dengue há décadas. Todos os anos, é uma
batalha perdida. O surgimento do zika estimula um embate final, unindo as administrações
públicas e a população, que precisa fazer a sua
parte na exterminação dos focos. Chegamos ao
limite, a guerra tem que ser declarada.
EU DIGO QUE...
“Entendemos
que devemos
aprofundar o
diálogo. Vamos
dialogar escola
por escola”
—
Geraldo Alckmin
Governador de São
Paulo, ao anunciar
a suspensão da
reorganização das
escolas públicas,
proposta que tinha
gerado protestos
de estudantes
“Acho que
fica difícil ele
permanecer.
É difícil tocar o
futebol brasileiro
na situação como
está”
—
Delfim Peixoto
Vice-presidente da
CBF, comentando as
denúncias que
forçaram o
licenciamento de
Marco Polo Del Nero
da presidência da
entidade
A partir de informações e análises disponíveis, é possível dizer que as medidas do ajuste macroeconômico não
atingiram o resultado objetivado. Com o
fim do ciclo de consumo, commodities e
crédito, seria surpreendente se o ajuste
pretendido conseguisse “rapidamente”
retomar a confiança do empresariado
na economia brasileira.
Segundo o Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial, “o Brasil
segue perdendo posições no ranking
dos maiores exportadores mundiais de
bens manufaturados” (“Análise IEDI”,
18/11/2015). Nos últimos dez anos, a
participação dos manufaturados nas exportações brasileiras recuou de 53%
para 34%. Para o instituto, “a indústria
do país continua perdendo competitividade no cenário internacional e doméstico, o que contribui para agravar a
restrição externa ao crescimento e é
parte explicativa da recessão econômica
vivida pelo país”.
As desonerações fiscais e o represamento dos preços administrados retardaram alguns efeitos da crise vigente.
Entre 2011 a 2015, segundo levantamento da Receita Federal, foram editadas ao menos 40 medidas provisórias
contendo isenções fiscais contestadas
pela Operação Zelotes; de 2010 a 2018, a
soma das desonerações é de R$ 501
bilhões (“Blog do Fernando Rodrigues”,
04/11/2015). O professor Naercio Menezes Filho, por sua vez, afirma que
“está na hora dos mais ricos também
contribuírem com o ajuste fiscal” (“Valor
Econômico”, 20/11/2015).
Segundo o relatório da Transparência Internacional, o Brasil tem uma das
piores legislações do mundo no que
diz respeito à lavagem de dinheiro e à
evasão de divisas (“Blog do Fernando
Rodrigues”, 11/11/2015). O Sindicato
Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional aponta que a sonegação
fiscal é da ordem de 10% do PIB
(“Valor Econômico”, 18/11/2015).
Portanto, o ajuste poderia muito bem
estar sendo feito de forma progressiva,
redistribuindo o peso da carga tributária para aliviar os mais pobres e,
ainda, estimular o desenvolvimento
da economia popular. A carga tributária regressiva é injusta e a propensão marginal ao ato de poupar ou
consumir não é a mesma para classes
sociais e de renda distintas.
As medidas de austeridade em curso,
diz a matéria do “Wall Street Journal”
(09/11/2015), assinada por Paul Kiernan, fizeram a tributação ainda mais
regressiva para as classes de renda
média e baixa no Brasil. Essas estão
pagando, a partir de dramáticos cortes
nos investimentos públicos, a conta
amarga dos ajustes.
HÁ 50 ANOS
FOTO: PROJETO ACERVO DIGITAL / WWW.AGENCIAAG.COM.BR
Foi lançado ontem, em
Cabo Kennedy, às 17h30
(horário brasileiro de
verão), a Gemini-7, com
dois astronautas a
bordo, Frank Borman e
James Lovell, para um
voo que vai durar entre
14 e 15 dias. A façanha
dos cientistas
americanos, que todo o
mundo acompanha com
grande interesse, será o
primeiro passo para o
encontro de duas naves
espaciais em pleno
cosmos. Os dois
astronautas têm 35 anos.
A IMAGEM DESTE JORNAL ESTÁ AMPLIADA NA EDIÇÃO DIGITAL DE A GAZETA
agazeta.com.br
Duas naves
espaciais dos EUA
vão se encontrar
no cosmos
Presidente do Conselho de Administração: CARLOS FERNANDO LINDENBERG FILHO Diretor-Geral
da Rede Gazeta: CARLOS FERNANDO LINDENBERG NETO | Diretor Executivo de Mídia Impressa:
ÁLVARO MOURA | Diretor Comercial de Mídia Impressa: FÁBIO RUSCHI | Diretor de Mercado
Leitor e Logística: RANIERI AGUIAR
Download

GUERRA AO MOSQUITO Ajuste regressivo