A DUPLA EXCLUSÃO: RAÇA E
GÊNERO NA HISTÓRIA DO
BRASIL REPUBLICANO
História do Brasil Independente II
QUESTÃO RACIAL
• “Raça” – categoria relacional e não normativa; construção social
• Críticas ao “essencialismo” – raça = natureza = identidade
determinada
• Linhagens analíticas (matrizes): Gilberto Freyre (1933) e Florestan
Fernandes (1965)
• O mito da “Democracia racial”
• Ação política e identidade racial: Estrutura e agenciamento
QUESTÃO RACIAL E EXCLUSÃO POLÍTICOSOCIAL – BALIZAS HISTÓRICAS
• Desagregação do sistema escravista (1871-1888)
• Emergência do “racismo científico” no final do século XIX (darwinismo
social, evolucionismo, eugenismo) – mestiçagem como desafio à
“civilização” e ideologia do “branqueamento”
• Liberalismo oligárquico – “elitismo político”
• Pós-abolição: imigrantismo e substituição do trabalhador
“afrodescendente” no setor mais dinâmico da economia (café)
• Racismo e segregacionismo legal - o caso brasileiro
PÓS-ABOLIÇÃO
• “Trata-se, fundamentalmente, de reconhecer que o processo de destruição
da escravidão moderna esteve visceralmente imbricado com o processo de
definição e extensão dos direitos de cidadania nos novos países que
surgiam das antigas colônias escravistas. E que, por sua vez, a definição e o
alcance desses direitos esteve diretamente relacionado com uma continua
produção de identidades, hierarquias e categorias raciais (...) a grande
preocupação das elites contemporâneas aos processos de emancipação era
definir quem poderia ser cidadão” (RIOS, Ana & MATTOS, Hebe. “O pósabolição como problema histórico” Topoi , 5/8, jan-jun 2004, 170-198).
• “Detalhes sobre diagnósticos e projetos de construção nacional,
produzidos por elites invariavelmente conservadoras, pautaram por muito
tempo a discussão historiográfica sobre o período pós-emancipação.
Melhor dizendo, o pós-abolição como questão específica se diluía na
discussão sobre o que fazer com o ‘povo brasileiro’ e a famosa ‘questão
social’ (MATTOS & RIOS, p. 191).
“NEGROS E POLÍTICA”
• Período que vai do final do Império ao Estado Novo foi marcado pelo
surgimento de várias associações civis e por uma imprensa feita por e
dirigida para os “homens de cor”
• Estes espaços de organização e solidariedade reuniam os setores
letrados da população afrodescendente, em meio à massa de
analfabetos.
• O grande número de analfabetos entre os afrodescendentes – 2/3 em
1918 - deve-se às condições sociais de reprodução da força de
trabalho (escrava ou “precária”) e às dificuldades institucionais de
acesso às escolas privadas e públicas.
“NEGROS E POLÍTICA”
• Perspectivas: “assimilacionismo” (São Paulo); “sociedade paralela e
identidade afro” (Salvador) e “mestiçagem” sem integração (Rio de
Janeiro, Recife)
• Centro Cívico Palmares (1926)
• Frente Negra Brasileira (1931)
• FNB: Arlindo Veiga dos Santos e Justiniano Costa (presidentes)
• 1936: entre 40 e 200 mil associados
• FNB: afirmação da “dignidade dos negros” e inserção na “sociedade
branca” (Petrônio Domingues)
• FNB: valores nacionalistas e autoritários – aproximação com o
fascismo.
Desdobramentos na área político-cultural
• Teatro Popular Brasileiro (Solano Trindade, 1943)
• Teatro Experimental do Negro (Abdias Nascimento, 1944)
• - Jornal “O Quilombo” – 1943
• União dos Homens de Cor (RS)
• I Congresso do Negro Brasileiro (1950)
• Incorporação da “questão racial” na cultura nacional-popular de
esquerda (pós-1945)
• Reconfiguração da identidade negra na cultura e na política (anos
1960 e 1970)
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
• Joel Rufino dos Santos, "Movimento negro e crise brasileira", Atrás do muro da noite; dinâmica das culturas afro-brasileiras, Joel Rufino dos
Santos e Wilson do Nascimento Barbosa, Brasília, Ministério da Cultura/Fundação Cultural Palmares, 1994
• Miriam Nicolau Ferrara, A imprensa negra paulista (1915-1963), São Paulo, FFLCH/USP, 1986
• Marina Pereira de Almeida Mello, O ressurgir das cinzas: negros paulistas no pós-abolição: identidade e alteridade na imprensa negra
paulistana (1915-1923), São Paulo, Dissertação de Mestrado, FFLCH-USP, 1999
• Petrônio Domingues, Uma história não contada. Negro, racismo e branqueamento em São Paulo no pós-abolição, São Paulo, SENAC, 2004
• Laiana Lannes de Oliveira, A Frente Negra Brasileira: política e questão racial nos anos 1930, Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, UERJ,
2002
•
Jeferson Bacelar, "A Frente Negra Brasileira na Bahia", Afro-Ásia, n. 17, Salvador, 1996, p. 73-85
• Joselina da Silva, União dos homens de cor (UHC): uma rede do movimento social negro, após o Estado Novo, Rio de Janeiro, Tese de
Doutorado, UERJ, 2005
• Ricardo Gaspar Muller, Identidade e cidadania: o Teatro Experimental do Negro, Belo Horizonte, Dissertação de Mestrado, FFCH/UFMG,
1983
• Márcio José de Macedo, Abdias do Nascimento: a trajetória de um negro revoltado (1914-1968), São Paulo, Dissertação de Mestrado,
FFLCH/USP, 2005
• José Jorge Siqueira, Entre orfeu e xangô: a emergência de uma nova consciência sobre a questão do negro no Brasil (1944-1968), Rio de
Janeiro, Tese de Doutorado, UFRJ, 1997
• CLOVIS MOURA. 'História do negro brasileiro'. São Paulo: Ática, 1989
• Flávio Gomes. Negros e Política (1888-1937). Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005
GÊNERO E EXCLUSÃO
• Gênero: categoria relacional e não normativa-essencial
• Identidades e relações de poder no âmbito do público e do privado
• Estrutura e agenciamento: abordagens possíveis
• Memória social “liberal”: privilegia a luta das “sufragistas” e dos
indivíduos do sexo feminino que ousavam desafiar padrões
(“liberdade de pensamento e comportamento”)
• Memória social “de esquerda”: foco nas interações entra gênero e
classe no mundo do trabalho e dos movimentos sociais
Mulheres no mercado de trabalho fabrilBrasil
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1872 = 72% (aprox.)
1950 = 23%
Concentração maior nas industrias de fiação e tecelagem.
Hipótese historiográfica: entre 1920 e 1950, as mulheres deram lugar ao operário
homem, como parte da imposição de novos valores sociais e de uma nova política na
área trabalhista (médicos, juristas, políticos)
Fábrica: lugar do assédio sexual e da imoralidade – trabalho braçal = corrupção moral;
incompatibilidade física (ao contrário do que muitos industriais defendiam)
Visão Anarquismo: igualdade dos sexos (plano discursivo e ideológico); contra a
monogamia, direito à maternidade (e não “dever”), divórcio, amor livre
Mulher: Estado e Igreja Católica enfatizam seu papel no mundo privado, como guardiã
dos valores familiares e “mãe-civilizadora”.
Novas configurações de masculinidade e feminilidade – mulher “santa” e homem
“guerreiro”
Representações dominantes (discurso médico e
jurídico “cientificista” – paradigma até anos 1960)
• “Vocação” da mulher de acordo com determinismo biológico:
maternidade, família,
• “Características inatas”: sentimentalismo, irracionalidade,
inferioridade mental, fragilidade física
• Ideal masculino (trabalhador – anos 1930): higiênico, patriota,
produtivo, disciplinado, submisso ao poder vigente
• Mulher casada: paradigma simbólico da “santa” e da “dona de casa”.
• BARBIERI, T. “Sobre la categoria de gênero: una introducción teóricometodológica” In: Diretos reprodutivos. São Paulo, Fundação Carlos
Chagas, 1981
• SAFFIOTI, Helieth. A mulher na sociedade de classes (1969)
• DIAS, Maria Odila. Quotidiano e poder (1984)
• RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar. A utopia da cidade disciplinar
(1985)
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Variáveis da dupla exclusão - História do Brasil Independente