RISCO CARDIOVASCULAR DE ALCOOLISTAS EM
TRATAMENTO
João Elias Ferreira Braga1*, Marcia Regina Messaggi Gomes Dias2, Rebeca De Oliveira Camargo1
1
Acadêmicos do Curso de Medicina da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil. *[email protected]
2 Professora Adjunta da Faculdade Evangélica do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil.
GRÁFICO 2: Classificação da CC entre os
grupos de abstinência alcoólica.
INTRODUÇÃO
O alcoolismo é uma patologia prevalente no Brasil,
acometendo cerca de 32,4% dos homens entre 15-85
anos, em 2003 (1). Está intimamente relacionado com
Doenças Cardiovasculares, além de ser uma das
principais causas de morbimortalidade do país (2). O
objetivo deste estudo foi verificar o risco cardiovascular
em pacientes nas diferentes etapas do tratamento da
dependência alcoólica.
57,69%
p = 0,019
A amostra, compôs-se de 83 pacientes, todos do sexo
masculino, com idade média geral de 47,05±11,02
anos. Distribuídos nos grupos da seguinte forma: AR =
28 pacientes, AI = 26 e AT = 29 pacientes. Houve um
aumento significativo do IMC conforme o decorrer do
tempo de abstinência, p=0,018 (GRÁFICO 1). Da
mesma forma na análise da CC e do %GC, com p=
0,019 e 0,018, respectivamente (GRÁFICOS 2 e 3). Na
análise das alterações da PA em relação ao IMC, foi
encontrado p= 0.000089 (GRÁFICO 4). Ainda foi
possível notar que as três variáveis seguiram o mesmo
padrão morfológico, havendo uma pequena queda dos
valores do grupo AR para o grupo AI, seguido de uma
elevação significante para o grupo AT (GRÁFICO 5).
GRÁFICO 1: Classificação do IMC entre os grupos de
abstinência alcoólica
75,86%
p= 0,018
72,41%
37,93%
30,77%
28,57%
34,48%
27,59%
21,43%
7,14%
7,14%
11,54%
14,29%
11,54%
0,0%
AR
RESULTADOS
p = 0,018
80,77%
71,43%
50,00%
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, observacional e
analítico, com pacientes alcoolistas em diferentes
etapas do tratamento, vinculados aos Alcoólicos
Anônimos de Curitiba - PR e ao Instituto de Pesquisa e
Tratamento do Alcoolismo de Campo Largo - PR. Todos
os avaliados possuíam diagnóstico de alcoolismo
segundo os critérios de dependência da 10ª edição da
Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
Foram divididos em grupos de acordo com o tempo de
abstinência, classificando-se em: Abstinentes Recentes
(AR) aqueles com menos de 1 mês, Abstinentes
Intermediários (AI), entre 1 mês e 6 meses e
Abstinentes Tardios (AT), com mais de 6 meses de
abstinência. Avaliou-se parâmetros antropométricos
como: peso corporal, altura, circunferência da cintura
(CC) e se realizou os cálculos de índice de massa
corporal (IMC) e percentual de gordura corporal (%GC),
além da aferição da pressão arterial (PA), medida da
glicemia capilar e aplicação de um questionário de
coleta de dados para análise nutricional e critérios de
exclusão.
O projeto de pesquisa foi aceito pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Sociedade Evangélica Beneficente de
Curitiba, CAAE: 27833814.0.0000.0103.
GRÁFICO 3: Classificação do %GC entre os
grupos de abstinência alcoólica
Normal
AI
Risco
AR
Abaixo da média
AT
Alto Risco
AI
Média
20,69%
7,69%
3,45%
3,45%
AT
Acima da média
Risco
AR: Abstinentes Recentes; AI: Abstinentes Intermediários; AT:
Abstinentes Tardios. Teste qui-quadrado.
AR: Abstinentes Recentes; AI: Abstinentes Intermediários;
AT: Abstinentes Tardios. Test qui-quadrado.
GRÁFICO 4: Relação entre classificações do
IMC e da PA
GRÁFICO 5: Padrões de variação das
médias dos parâmetros antropométricos
72,22%
p = 0,000089
98,72
94,17
91,23
CC
42,55%
29,79%
25,16
25,00%
27,66%
26,86
24,34
20,52
19,51
2,78%
Limítrofe/HE1
Normal
NÃO OBESO OBESO
AR
Ótima
Classificação da pressão arterial: Limítrofe/hipertensão
estagio 1, Normal, Ótima. Teste qui-quadrado.
AI
IMC
22,58
%GC
AT
IMC: índice de massa corporal; CC: circunferência da cintura;
%GC: percentual de gordura corporal; AR: abstinentes recentes;
AI: abstinentes intermediários; AT: abstinentes tardios.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O estudo demonstrou que, apesar de cessada a agressão alcoólica direta ao
sistema cardiovascular, houve um ganho considerável no IMC, %GC e CC;
contrapondo, do ponto de vista antropométrico, os ganhos obtidos pela
abstinência (3).
Também chama atenção o fato de que os pacientes alcoolistas crônicos
costumam apresentar emagrecimento e até um estado de desnutrição, a qual
pode ser decorrente da substituição do consumo de alimentos pela ingesta
alcoólica, ou ocasionada pela má absorção do trato gastrointestinal (por lesão
celular direta ou decorrente da pancreatite crônica) (4).
Sendo assim, a melhora do estado nutricional destes pacientes está associada,
na maioria das vezes, ao ganho moderado do peso corporal (5).
O ganho de peso tem causa multifatorial e ainda não é compreendido o seu real
mecanismo (5). Verificou-se que 90% dos participantes relataram consumir
doces para controlar a vontade de usar drogas. Uma das explicações para o
aumento no consumo de doces, é que estes promovem alterações
neuroquímicas em áreas cerebrais, aumentando a liberação de endorfinas e
dopamina, simulando o efeito do álcool (6).
Entretanto, apesar de apontarmos para o aumento de alguns fatores de risco
cardiovascular durante o tratamento do alcoolismo, fica claro que o prejuízo
causado pela dependência alcoólica supera todos os fatores negativos que
podem ser adquiridos durante o processo de abstinência (7). Além disso, são
necessárias mais pesquisas sobre o manejo e acompanhamento de alcoolistas
em tratamento, com o propósito de realizar um cuidado integrado e
multidisciplinar, visando a recuperação do estado nutricional de forma
balanceada, sem que se ultrapasse os limites da normalidade dos parâmetros
antropométricos.
57,69%
50,00%
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
50,00%
42,31%
24,14%
AR
AI
NÃO OBESO
AT
OBESO
AR: Abstinentes Recentes; AI: Abstinentes Intermediários;
AT: Abstinentes Tardios. Teste qui-quadrado.
1. (WHO) WHO. Global status report on alcohol and health.5. Teo CRPA, da Silva Corralo V, Fransozi C, Kovaleski LFL.
Geneva: WHO; 2011. 2013.
Percepção gustativa: Fator de risco ou proteção para
2. Souza DP, Areco KN, Silveira Filho DX da. Alcohol anddependentes durante a cessação do uso de drogas/Taste
alcoholism among Brazilian adolescent public-school students.perception: Risk factor or protection for dependents during drug
Rev Saude Publica. SciELO Public Health; 2005;39(4):585–92. use cessation. Cad Ter Ocup da UFSCar. 2014;22(1SE).
3. Toffolo MCF, Marliére CA, de Aguiar Nemer AS. Fatores de6. Fortuna JL. Sweet preference, sugar addiction and the familial
risco cardiovascular em alcoolistas em tratamento. J Brashistory of alcohol dependence: shared neural pathways and
Psiquiatr. SciELO Brasil; 2013;62(2):115–23.
genes. J Psychoactive Drugs. Taylor & Francis; 2010;42(2):147–
4. Lieber CS. Alcohol and the liver: 1994 update.51.
Gastroenterology. New York [etc.] Elsevier North Holland [etc.];7. Meloni JN, Laranjeira R. Custo social e de saúde do consumo
1994;106(4):1085–105.
do álcool. Rev Bras Psiquiatr. PUBLISHING SOLUTIONS;
2004;26:7–10.
Download

risco cardiovascular de alcoolistas em tratamento