ii UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI SANDRO ESGOLMIN DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS ACABADOS EM GRANDES CENTROS URBANOS: UMA ANÁLISE DOS ATRASOS CAUSADOS PELO TRÂNSITO E PELOS ACIDNETES DE TRABALHO. SÃO PAULO 2009 iii SANDRO ESGOLMIN DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS ACABADOS EM GRANDES CENTROS URBANOS: UMA ANÁLISE DOS ATRASOS CAUSADOS PELO TRÂNSITO E PELOS ACIDNETES DE TRABALHO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia de Produção com ênfase em Logística da Universidade Anhembi Morumbi Orientador: Prof. Dr. MSc. Eng. Sidney Lazaro Martins SÃO PAULO 2009 iv SANDRO ESGOLMIN DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS ACABADOS EM GRANDES CENTROS URBANOS: UMA ANÁLISE DOS ATRASOS CAUSADOS PELO TRÂNSITO E PELOS ACIDNETES DE TRABALHO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia civil com ênfase Ambiental da Universidade Anhembi Morumbi Trabalho____________ em: ____ de_______________de 2009. ______________________________________________ Sidney Lazaro Martins ______________________________________________ ________________________ Comentários:_________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ v AGRADECIMENTOS Agradeço aos profissionais da Distribuidora S/A que participaram indiretamente para elaboração do estudo de caso apresentado neste trabalho, através da consolidação das entrevistas realizadas. Meu sincero agradecimento ao Professor Sidney por sua capacidade em nortear os estudos apresentados e por conduzir de forma ética a orientação necessária para a conclusão deste trabalho. Este exemplo de ética com certeza será um dos grandes aprendizados que levarei da Universidade por toda minha carreira profissional. Ao Professor Damante, por apoiar e nos encorajar a conduzir os estudos deste trabalho e por trazer toda a clareza necessária para manter a boa qualidade e a metodologia exigida. vi RESUMO A atividade de distribuição de cargas nos centros urbanos oferece um grande risco para as empresas de transporte no que se refere aos atrasos de entrega, diminuindo o nível de serviço oferecido ao cliente. O tráfego e os acidentes nos grandes centros urbanos impõem diversas restrições ao bom planejamento destas empresas levando a uma enorme perda de produtividade. Com o objetivo de demonstrar as melhores práticas para diminuição desses impactos, esse estudo abordará os impactos envolvidos nos atrasos de viagens e os custos por acidentes do trabalho em uma empresa do ramo de distribuição de bebidas. Palavras Chave: Distribuição de cargas; Acidente de trabalho; Distribuição de bebidas, Centros urbanos vii ABSTRACT The activity distribution of loads in urban areas offers a great risk for transport companies in relation to late delivery by reducing the level of service to the customer. Traffic and accidents in major cities impose various restrictions to the proper planning of these companies leading to a huge loss of productivity. In order to demonstrate best practices to reduce these impacts, this study will address the impacts involved in travel delays and costs for occupational injuries in a company in the beverage distribution. Key Worlds: Load distribution; Traffic accidents; distribution of beverages, urban centers viii LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mapa de raciocínio para o estudo de caso apresentado.................. 22 Figura 2 - Múltiplas dimensões do critério competitivo Tempo. ........................ 25 Figura 3 - Macroprocesso Logístico ................................................................. 29 Figura 4 - Paralelismo entre canais de distribuição e distribuição física .......... 31 Figura 5 - Níveis de distribuição dos produtos para o cliente final ................... 32 Figura 6 - Qualidade percebida pelo cliente e os resultados da organização. . 35 Figura 7 - Vertente dos custos no lucro operacional da organização............... 37 Figura 8 - Cadeia de suprimento de bens de consumo para o varejo. ............. 38 Figura 9 - Zona Máxima de Restrição e Circulação na cidade de São Paulo... 45 Figura 10 - Pirâmide de Franck Bird................................................................. 55 Figura 11 - Fatores de riscos e suas conseqüências. ...................................... 56 Figura 12 - Cadeia de Distribuição da Distribuidora S/A. ................................. 62 Figura 13 – Direcionamento do modelo de Tempo como critério competitivo .. 62 Figura 14 - Caminhão VUC utilizado em áreas de restrição............................. 64 Figura 15 - Etapa 1 e 2 do ciclo do pedido ....................................................... 65 Figura 16 - Etapa 3 e 4 do ciclo de pedido ....................................................... 66 Figura 17 - Etapa 5 do ciclo de pedido............................................................. 67 Figura 18 - Macro fluxo da Distribuidora S/A.................................................... 68 Figura 19 - Sazonalidade do mercado de bebidas. .......................................... 70 Figura 20 - Mapa de raciocínio......................................................................... 72 Figura 21 - Ocorrência de acidentes na Distribuidora S/A em 2009................. 73 Figura 22 - Relatividade das ocorrências de acidentes pelo quadro de funcionários............................................................................................... 74 Figura 23 - Ocorrências de acidentes com terceiros por área.......................... 74 Figura 24 - Mapa de divisão das diretorias regionais da Distribuidora S/A com percentual de ocorrências. ........................................................................ 75 Figura 25 - Ocorrência de acidentes na distribuição de bebidas por região..... 76 Figura 26 - Ocorrências em SP no ano de 2009 por Transportadora............... 77 Figura 27 - Dias perdidos com acidentes das Transportadoras de São Paulo. 78 ix Figura 28 - Dias perdidos com acidentes de trabalho com a equipe de distribuição ................................................................................................ 79 Figura 29 – Fluxograma do processo de entrega em trânsito da equipe de entrega. ..................................................................................................... 80 Figura 30 – Causas de acidentes na entrega de produtos da Distribuidora S/A no Brasil. ................................................................................................... 81 Figura 31 - Causas das ocorrências com Transportadoras de São Paulo ....... 82 Figura 32 - Detalhamento das causas dos acidentes por Falha no descarregamento. ..................................................................................... 83 Figura 33 - Detalhamento das causas dos acidentes por Falha no transporte manual de cargas...................................................................................... 84 Figura 34 - Detalhamento das causas dos acidentes por Atropelamento do funcionário................................................................................................. 84 Figura 35 - Fluxograma de acompanhamento de acidentes da Distribuidora S/A. ........................................................................................................... 86 Figura 36 - Mapa de raciocínio, atrasos na entrega ......................................... 91 Figura 37 - Taxa de devolução da Distribuidora S/A em São Paulo................. 93 Figura 38 - Motivos de devolução de pedidos. ................................................. 94 Figura 39 - Média aritmética mensal dos congestionamentos, em km, nos horários de pico (manhã e tarde). ............................................................. 95 Figura 40 - Comparativo da taxa de devolução e o trânsito de São Paulo....... 96 Figura 41 – Veículo leve para centros urbanos em teste no RJ. ...................... 98 Figura 42 - Pesquisa de aceitação dos clientes para entrega noturna........... 100 x LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Importância das variáveis de decisão de compra para o varejo...... 38 Tabela 2 - Grau de insatisfação com as práticas de mercado.......................... 39 Tabela 3 - Produção de automóveis por tipo de veículo................................... 48 Tabela 4 - Produção de caminhões por faixa (Anfavea 2009).......................... 49 Tabela 5 - Evolução da Frota de caminhões de São Paulo em 2009............... 49 Tabela 6 - Índice de motorização e frota de São Paulo.................................... 50 Tabela 7 - Volume de vendas do comércio varejista segundo grupo de atividades. ................................................................................................. 52 Tabela 8 - Cargos e salários dos profissionais envolvidos ............................... 87 Tabela 9 - Custo médio dos acidentes com equipe de entrega........................ 88 Tabela 10 - Velocidade do trânsito da manhã e da tarde na cidade de São Paulo ......................................................................................................... 96 Tabela 11 - Pesquisa atendimento noturno por localização ........................... 100 xi LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Principais agentes de mudanças na última década. ...................... 43 Quadro 2 - Descrição do macro fluxo da Distribuidora S/A. ............................. 69 Quadro 3 - Plano de ação para as causas de acidentes da transportadora..... 89 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABGE Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental ABIR Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas ABIA Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos ANFAVEA Associação Nacional Automotores CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CDD Centro de Distribuição Direta DER-SP Departamento de Estradas de Rodagens do Estado de São Paulo EDI Eletronic Data Interchange IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PDV Ponto de Vendas dos Fabricantes de Veículos xiii SUMÁRIO p. 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................15 2 ESCOPO DO TRABALHO ...............................................................................17 2.1 Objetivos .............................................................................................................. 17 2.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 17 2.1.2 Objetivo Específico ....................................................................................... 18 2.2 Justificativa.......................................................................................................... 19 3 METODOLOGIA DO ESTUDO.........................................................................21 4 REFERÊNCIAL TEÓRICO ...............................................................................24 4.1 Organização dos Conceitos básicos.............................................................. 24 4.2 Conceitos fundamentais ................................................................................... 26 4.2.1 Conceituando “Logística” ............................................................................. 26 4.2.2 Logística......................................................................................................... 27 4.2.3 Rede Logística .............................................................................................. 29 4.2.4 Canais de distribuição .................................................................................. 30 4.2.5 Componentes do Sistema de Distribuição ................................................. 33 4.3 Nível de Serviço .................................................................................................. 34 4.3.1 4.4 Uma análise sobre as decisões de compra no comércio varejista .......... 37 Transporte e o meio externo ............................................................................ 40 4.4.1 Atrasos na viagem ........................................................................................ 40 4.4.2 Mobilidade Urbana........................................................................................ 41 4.4.3 Principais influências na mobilidade urbana .............................................. 42 4.4.4 Normas e Restrições para circulação de veículos em São Paulo ........... 44 4.4.5 Restrições na Operação de carga e descarga .......................................... 45 4.5 Conceito City Logistics ..................................................................................... 46 xiv 4.6 Análise das influências sobre o trânsito no Brasil...................................... 47 4.6.1 Análise do crescimento de veículos em 2009............................................ 48 4.6.2 Análise do crescimento do comércio varejista........................................... 51 4.6.3 Análise econômica do segmento de Bebidas ............................................ 52 4.7 Gestão de segurança e saúde ocupacional .................................................. 54 4.7.1 Segurança nas empresas de transporte..................................................... 55 4.7.2 Custos por Acidentes de Trabalho.............................................................. 56 5 ESTUDO DE CASO ..........................................................................................61 5.1 Identificação da empresa.................................................................................. 61 5.1.1 Processo de operação e entrega ................................................................ 63 5.1.2 Ciclo do pedido da Distribuidora S/A .......................................................... 65 5.2 Identificação do problema ................................................................................ 67 5.3 Análise da gestão sobre segurança e saúde no trabalho.......................... 71 5.3.1 Análise das ocorrências de acidentes na Distribuidora S/A ..................... 72 5.3.2 Análise das causas dos acidentes na entrega de produtos ..................... 79 5.3.3 Análise do custo dos acidentes das Transportadoras .............................. 85 5.3.4 Medidas de ação para conter os acidentes................................................ 89 5.4 Gestão da distribuição de cargas ................................................................... 90 5.4.1 Impactos das restrições de circulação para a Distribuidora S/A.............. 91 5.4.2 Análise do trânsito para a Distribuidora S/A............................................... 94 5.4.3 Alternativas às medidas de restrição .......................................................... 97 5.5 6 6.1 Ligando os pontos ........................................................................................... 101 CONCLUSÕES...............................................................................................102 Recomendações para outras pesquisas ..................................................... 103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................104 15 1 INTRODUÇÃO Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2001), cerda de 81% da população brasileira reside em áreas urbanas, sendo 40% nas regiões metropolitanas. Ao lado desta alta concentração populacional está o não acompanhamento do planejamento do uso do espaço urbano, fator agravado pelo alto crescimento do uso do transporte individual, especialmente automóveis, que em 2007 corresponderam a cerca de 2 milhões de licenciamentos em todo o Brasil, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA, 2008). Atualmente, nos grandes centros urbanos, o trafego de veículos vêm contribuindo para diminuir a produtividade das empresas de transporte de cargas no país. Segundo estudo realizado pelo Citigroup, “o congestionamento de automóveis desacelera o crescimento econômico no Brasil e nos demais países latino-americanos”. Levando em conta o tempo perdido em viagens urbanas, a pesquisa constatou que o trânsito gera uma perda de 5% na produtividade brasileira. Quando um entregador pode fazer um serviço em 20minutos, sem trânsito, mas leva 40 minutos no momento de tráfego intenso, diz-se que a produtividade cai pela metade por causa do congestionamento. “O aumento do volume de bens produzidos e consumidos bem como da demanda por serviços em uma região favorecendo sua expansão econômica, gera um aumento significativo da demanda por transporte, que por sua vez, gera um grande número de impactos negativos de ordem social, econômica e ambiental. Faz-se, então, necessária uma ação conjunta no planejamento da circulação dos veículos de carga que inclua fabricantes, operadores, varejistas e autoridades locais, de forma a se evitar as conseqüências indesejadas deste processo”. (SINAY et al, 2002) A movimentação de cargas manuais se apresenta como uma das atividades mais penosas para o ser humano, quando identificado a falta de 16 procedimentos seguros para sua execução. Dessa forma, o estudo a seguir, deve apresentar como as empresas do setor estão preparadas para lidar com esse tipo de situação e como estão classificados os acidentes de trabalho dentro das empresas de distribuição de cargas. 17 2 ESCOPO DO TRABALHO A complexidade do trânsito brasileiro dificulta o trabalho das empresas na distribuição de produtos acabados até a chegada no Ponto de Venda (revendedor) em tempo hábil e com a qualidade necessária, dessa forma, através desse estudo será possível demonstrar as dificuldades encontradas por uma empresa de distribuição de cargas na cidade de São Paulo para atendimento a sua rede de clientes e como os acidentes de trabalho podem interferir nesse processo, gerando custos desnecessários à operação. 2.1 Objetivos O estudo da atividade de distribuição de cargas urbanas e das variáveis que aumentam o tempo de entrega de produtos deve demonstrar que um bom planejamento pode aumentar a produtividade das empresas desse segmento. O objetivo deste trabalho é analisar o processo de distribuição de carga em centros urbanos, identificando as restrições à eficiência deste serviço, conforme estabelecido nos objetivos gerais e específicos a seguir: 2.1.1 Objetivo Geral O estudo da gestão de distribuição de cargas nos centros urbanos visa demonstrar os impactos gerados por essa atividade para as empresas do setor, propondo medidas que visem diminuir os problemas detectados, de forma a auxiliar no planejamento e na tomada de decisão por parte das empresas que atuam no seguimento. 18 2.1.2 Objetivo Específico Para viabilizar os objetivos acima apresentados, pretende-se também com este estudo: a) Analisar como os principais tipos de acidentes de trabalho interferem na produtividade e no custo da atividade de Distribuição de Bebidas no estado de São Paulo; b) Identificar as alternativas para diminuir os impactos causados pelo trânsito; c) Verificar a correlação entre Segurança X Produtividade, traduzindo de forma clara para as empresas, as perdas por conta dos acidentes de trabalho na atividade de distribuição de bebidas; d) Identificar as principais variáveis que influenciam na devolução de cargas para as empresas de Distribuição de bebidas; Esse estudo visa auxiliar no processo de identificação dos problemas gerados por essa atividade e propor medidas mitigadoras para melhorar a produtividade no processo de distribuição e para os acidentes de trabalho causados pela atividade de movimentação de cargas durante esse processo 19 2.2 Justificativa “O tempo necessário para realizar um serviço de distribuição de carga urbana pode ser subdividido em vários componentes: o tempo de carregamento do veículo, tempo de viagem desde o Centro de Distribuição (CD) até o cliente, tempo procurando o local para estacionamento e estacionando o veículo próximo ao cliente, tempo de descarregamento, tempo de contato com o cliente e tempo da viagem de retorno. Dessa forma esse estudo visa buscar subsídios para identificar as atividades críticas e estudar os recursos disponíveis para minimizar os riscos envolvidos nessa atividade”. (SINAY et al, 2002) O tempo está diretamente relacionado ao fator custo e por conta disso alguns aspectos deverão ser abordados para melhor compreender as variáveis que influenciam indiretamente no custo das empresas de transporte de carga. Duas variáveis se mostram mais importantes para o desenvolvimento dessa pesquisa, como, o trânsito de veículos e os acidentes de trabalho decorrentes da atividade de distribuição de cargas. O crescente aumento de volume de distribuição de bens produzidos para região metropolitana tem gerado impactos significantes para a produtividade das empresas que necessitam de serviços de Distribuição de cargas dentro dos grandes centros urbanos. Esse aumento de volume de bens produzidos e consumidos, bem como a ampliação da demanda por serviços numa região, favorecendo sua expansão econômica, gera um aumento significativo da demanda por transporte (CARVALHO, 1998). Isto provoca um grande número de problemas, destacando-se as restrições de tráfego e o aumento do risco sobre os demais veículos e sobre os pedestres; conflitos entre o transporte urbano e o transporte de carga; obstruções ao trânsito com conseqüente redução da velocidade; congestionamentos, que por sua vez acarretam em maior consumo de combustível, maiores tempos de viagem, incremento na poluição sonora, atmosférica e visual, acidentes; e o aumento do 20 custo do serviço de transporte de carga propriamente dito, com o conseqüente aumento no custo final dos produtos. Alguns estudos apontam que para atender seus clientes em grandes centros urbanos, um caminhão de entrega gaste em média cerca de 80% de seu tempo procurando local para estacionamento. Um estudo da Universidade Westminster (Apud SINAY, 2002), Inglaterra concluiu que enquanto os motoristas de cargas despendem 10% de seu tempo no percurso de ida e volta ao local de carregamento, 1% é gasto no contato com os clientes, 2% em congestionamento diversos e a maior parte, 87% do tempo total, é gasto procurando local para estacionamento, estacionando o veículo e providenciando a coleta e entrega da carga. Esses dados podem ser utilizados como base para o Brasil e complementados nesse estudo com informações de como os acidentes de trabalho podem atrasar ainda mais a atividade. (SINAY, 2002) O mercado de distribuição de bebidas se mostra como fonte inspiradora para o estudo a comprovação desses aspectos, pois, as bebidas são produtos de alta subistituibilidade e com uma das operações de distribuição mais pulverizadas e complexas. Por isso, os estudos de caso a serem apresentados buscarão atender este ramo de atividade, já que o volume de entrega e o número de viagens por caminhão necessário para atender a demanda de vendas deste segmento, podem influenciar diretamente nos objetivos apresentados. Sendo assim, esse trabalho se justifica na identificação de que boa parte do trânsito dos grandes centros urbanos provém em grande parte do afunilamento das vias por conta do grande número de caminhões parados em locais inapropriados, aumentando assim os impactos sociais e econômicos desses grandes centros e gerando a perda de produtividade das empresas de distribuição de cargas e da sociedade em geral que depende do deslocamento. 21 3 METODOLOGIA DO ESTUDO Esse estudo deve apresentar os desperdícios identificados por atrasos de viagem por conta do alto congestionamento das vias e pela má gestão em Saúde e Segurança dos colaboradores envolvidos na atividade de entrega de bebidas nos centros urbanos. Para isso o trabalho estrutura-se tendo o capitulo 4 como o referencial teórico dividido em 7 sub-capítulos. Sub-capitulo 1. A organização dos conceitos fundamentais, como norteador de todo o referencial teórico; Sub-capitulo 2. Os conceitos fundamentais para entendimento do trabalho, quanto a Logística, canais de distribuição e os componentes de um sistema de distribuição; Sub-capitulo 3. Abordagem teórica de Nível de Serviço Sub-capitulo 4. Uma análise do transporte e o meio externo observando as medidas de restrição impostas pelo estado na gestão de dsitribuição de cargas e as principais influências da Mobilidade urbana; Sub-capitulo 5. Um breve resumo sobre o conceito City Logistics; Sub-capitulo 6. Uma análise das influências do trânsito, quanto ao aumento do número de veículos nas vias e o crescimento do mercado varejista, principal norteador do mercado de bebidas; Sub-capitulo 7. Conceitos de gestão de Segurança e Saúde ocupacional para as empresas de transporte de cargas e referencial teórico para cálculo dos custos de acidentes do trabalho; 22 O Capitulo 5 apresenta o Estudo de caso de um Centro de Distribuição de Bebidas. O estudo de caso apresentado neste trabalho parte da hipótese de que existe um grande desperdício não computado nas empresas do setor de distribuição de cargas urbanas, mais especificamente nas empresas de distribuição de bebidas, que, quando bem gerenciadas, podem ajudar no aumento do nível de serviço oferecido por esta e na diminuição de custos operacionais para o aumento de produtividade. A árvore na Figura 1 abaixo apresenta o mapa de raciocínio a ser utilizado no estudo de caso: Hipótese Identificação do problema Análise das causas Propostas Avaliação Falhas no processo de distribuição Acidentes de Trabalho Soluções para diminuição do risco Custo dos acidentes pessoais Atrasos na entrega de pedidos Ligação dos pontos Devolução de mercadorias Alto congestionamento das vias Melhores alternativas em transportes Velocidade do trânsito Figura 1 - Mapa de raciocínio para o estudo de caso apresentado. Fonte: O próprio autor Por conta da facilidade geográfica encontrada para o desenvolvimento das análises do estudo e por conta da disponibilidade do avaliador optou-se por utilizar o segmento de bebidas como fonte dos estudos. Para identificar melhor o problema, conforme apresentado no mapa de raciocínio, faz-se necessário uma análise prévia da conjuntura econômica do segmento de bebidas apresentado nos dois primeiros itens desse capitulo, 23 mostrando um importante crescimento do setor e uma tendência igualmente alta para os próximos anos. O que justifica plenamente o objeto desse estudo com vistas a melhorar o planejamento e minimizar os desperdícios decorrentes de atrasos em viagens por trânsito e acidentes. Dessa forma o Estudo de Caso deste trabalho estará subdivido da seguinte forma: 5.1. Apresentação da empresa estudada e do processo operacional de maior influência para o estudo de caso; 5.2. Identificação do problema 5.3. Análise da gestão de Segurança da empresa estudada; 5.4. A gestão de distribuição de cargas e os impactos das restrições; O Capitulo 6 mostra as conclusões a respeito das análises identificadas e as recomendações para trabalhos futuros. 24 4 REFERÊNCIAL TEÓRICO Os princípios e abordagens de um Sistema Logístico de transportes deverão ser apresentados a seguir como forma de embasamento teórico para o estudo apresentado. Os conceitos de Distribuição de cargas e Logística de produtos acabados servem de contexto inicial para identificação de alternativas para o transporte de cargas. 4.1 Organização dos Conceitos básicos Visando respaldo contextual e histórico das abordagens sobre a Gestão da distribuição de cargas no Brasil, a pesquisa teve base nos seguintes temas: • Alguns conceitos de Logística e Distribuição de produtos acabados; • Nível de Serviço na atividade de distribuição; • Histórico do trânsito de veículos pesados nos principais Centros urbanos do País; • Gestão de Segurança no Trabalho em empresas de Distribuição de cargas; • Conceito City Logistics • Canais de Distribuição Pautado nesses conceitos é que o trabalho será fundamentado e desenvolvido, buscando o respaldo necessário para apresentar os impactos da gestão da distribuição na atividade econômica brasileira. 25 O estudo da competitividade da atividade de distribuição se dá pela análise do tempo gasto para entrega do produto ao cliente (revendedor). Podese dizer que os principais critérios competitivos abordados na pesquisa realizada são relacionados com o custo, a qualidade e o tempo. Todos esses critérios relacionam-se entre si, de maneira que para se conseguir um baixo custo é preciso pensar em qualidade e para se garantir tempo é preciso garantir custo e qualidade. Pela bibliografia básica pesquisada (STALK; HOUT apud COLING, 2000), o tempo como critério competitivo pode ter dois enfoques: o primeiro se relaciona com o desenvolvimento de produtos, enquanto que o segundo se relaciona com o fornecimento de produtos. O desenvolvimento de produtos também pode ser encarado sob dois enfoques: o da introdução rápida de produtos no mercado e o do desenvolvimento rápido de produtos e processos. O fornecimento de produtos possui outras duas dimensões que são apresentadas através da pontualidade de entrega e do atendimento rápido dos pedidos. A Figura 2 abaixo representa como os critérios do tempo influenciam a competitividade para a chegada do produto fabricado com pontualidade no cliente e na data solicitada. Fornecimento de produtos Tempo como critério competitivo Desenvolvimento de produtos Pontualidade na data de entrega solicitada Atendimento rápido de pedidos Introdução rápida de novos produtos no mercado Desenvolvimento rápido de produtos e processos Figura 2 - Múltiplas dimensões do critério competitivo Tempo. Fonte: (STALK; HOUT apud COLING, 2000) Sob esse aspecto, o estudo buscará as variáveis de interferência deste processo, relacionando sempre as perdas possíveis para as empresas do 26 setor. Para o modelo apresentado por Stalk, Hout, o tempo será focado apenas no fornecimento de produtos dentro dos centros urbanos, onde as variáveis citadas abaixo podem influenciar negativamente no atendimento de prazos e aumentar os custos envolvidos: • Trânsito das vias; • Acidentes de trânsito com equipes de entrega; • Fluxos logísticos incoerentes; 4.2 Conceitos fundamentais Este capitulo visa esclarecer conceitos importantes para a análise do cenário brasileiro que será estudo mais a frente e visa demonstrar os principais componentes de ligação entre as empresas e seus clientes. 4.2.1 Conceituando “Logística” (NOVAES, 2001) define logística como sendo “o processo de planeja, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender os requisitos do consumidor”. A abrangência do estudo sobre logística vai muito além das operações de transporte e armazenagem de produtos é o que mostra (ARBACHE et al, 2007) em seu livro “Gestão de logística, distribuição e marketing” ao comentar o erro de uma reportagem em um jornal, ao atribuir a logística a “culpa pelo atraso na invasão norte-americana ao Iraque”. Por essa citação é possível 27 entender que a Logística tem uma abrangência enorme e precisa ser estudada com direcionamento e foco para que exista não exista interpretações erradas e sempre exista um bom planejamento por parte das empresas. Este trabalho visa esclarecer alguns aspectos que envolvem a distribuição de cargas urbanas, apresentando os principais aspectos da gestão logística aplicada a essa atividade. Após esclarecido os fundamentos mais importantes, será possível analisar a distribuição e a movimentação da carga nos centros urbanos. 4.2.2 Logística Após a segunda guerra mundial houve um avanço significativo na diversidade, na qualidade e na rapidez da oferta de produtos e serviços, fruto de inovações tecnológicas e, especialmente, de exigências de consumidores ávidos por novidades e conveniência. Tais aspectos vêm elevando principalmente os custos de armazenagem e transporte e, ao mesmo tempo, lançando as empresas em um ambiente mais competitivo, pressionando seus preços e suas margens de lucro. (SANTOS, 2008). Assim, para manter a rentabilidade e sobrevivência dos negócios, uma das principais alternativas tem sido buscar eficiência em processos produtivos, reduzindo custos ao mesmo tempo em que se atende ao nível de serviço exigido pelo mercado. Porém, atualmente tais desafios vêm sendo amplificados por um aumento e concentração da população em centros urbanos que, pouco estruturados para tal, se distribuem de forma cada vez mais dispersa e heterogênea, com uso mais intenso dos automóveis, tornando o transporte de produtos uma tarefa dispendiosa e complexa. (SANTOS, 2008). Atualmente, segundo (NOVAES, 2001), a logística caracteriza-se pela quebra de fronteiras entre os agentes participantes da cadeia logística; uso em larga escala da tecnologia da informação (exemplo: troca eletrônica de dados ou EDI, de Electronic Data Interchange); aplicação do conceito de 28 postponement (adiamento); presença das chamadas empresas virtuais (empresas ágeis, como a DELL Computers); preocupação com o impacto da logística no meio ambiente, fato este expresso pelo conceito de logística reversa e, em especial; introdução do conceito de Supply Chain Management (Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos). O estudo logístico se destaca pro três grandes macros processos: Logística de entrada, Logística interna e Logística reversa e segundo (ARBACHE, et al 2007), entendem-se cada uma delas da seguinte forma: • Logística de entrada ou de suprimentos liga a empresa aos seus fornecedores (ARBACHE et al, 2007); • Logística interna ou de operações, relaciona-se ao controle das movimentações e dos estoques em processo nas linhas de produção, durante a fabricação dos produtos (ARBACHE et al, 2007); • Logística reversa, diz respeito ao fluxo inverso de produtos, dos clientes para a empresa. Este macro-processo cresceu devido ao movimento de reciclagem, como ocorre quando a legislação impõe aos fabricantes de baterias ou de pneus a responsabilidade de sua destinação final após o uso. (ARBACHE et al, 2007). “A logística tem uma enorme abrangência e pode ser avaliada sobre diversos aspectos, como Spupply chain1 ou até mesmo o Trade Marketing 2” (NOVAES, 2001), mas nos atentaremos sempre ao processo de distribuição física dos produtos para o cliente final. (ARBACHE, et al, 2007) destacam que quando observado o macro processo logístico em uma determinada empresa verifica-se que a distribuição física está presente em várias etapas do processo, conforme ilustra a figura 3 abaixo: 1 Termo utilizado para indicar o Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos 2 O autor indica como uma estratégia importante conquista de clientes 29 Operações Distribuição Surpimentos Logística reversa Fornecedor Indústria Cliente Figura 3 - Macroprocesso Logístico Fonte: Adaptado do livro “Gestão de logística, distribuição e trade marketinde” (ARBACHE, et al, 2007). A Logística de saída refere-se ao que ocorre com os produtos acabados desde que são armazenados até o momento em que são entregues aos clientes, em atendimento aos seus pedidos ou contratos de fornecimento (ARBACHE, et al, 2007). Fica claro então que a logística deve ser considerada como área estratégica de importância no sucesso dos negócios de uma empresa e que seu caráter dinâmico quando observada a distribuição física de produtos é condição essencial na busca do baixo custo e do incremento de competitividade tornando essa uma atividade em constante evolução. 4.2.3 Rede Logística Rede logística, segundo (ALVARENGA; NOVAES, 2000), é a representação físico-espacial dos pontos de origem e destino das mercadorias, bem como de seus fluxos e demais aspectos relevantes, de forma a possibilitar a visualização do sistema logístico como um todo. A Distribuição de bens ou serviços, além de ser um dos itens de maior peso nos custos operacionais de uma empresa (BALLOU, 2001), também envolve o contato direto com o cliente ou consumidor final. Ou seja, uma 30 gestão mal feita nesta área pode significar perdas decisivas no sucesso de um negócio. Conforme aponta (BALLOU, 2001), é missão da Logística: “dispor a mercadoria ou o serviço certo, no lugar certo, no tempo certo e nas condições desejadas, ao mesmo tempo em que fornece a maior contribuição à empresa”. 4.2.4 Canais de distribuição Em muitos segmentos de negócios, para que um profissional de qualquer área possa desempenhar bem suas funções cotidianas deve ter conhecimentos básicos de planejamento, execução e controle das operações logísticas por causa da importância e abrangência da logística (ARBACHE, 2007). “O deslocamento dos produtos da manufatura até o varejo ou consumidor final é analisado sob diferentes enfoques. Enquanto a logística trata dos processos operacionais e de controle, tais como armazenagem, roteirização, transporte, carga e descarga, o marketing cuida dos aspectos ligados à comercialização dos produtos e aos serviços a ela associados” (NOVAES, 2001). No primeiro caso tem-se a denominação de distribuição física e, no segundo caso, de formação dos canais de distribuição. A maior parte dos produtos comercializados chega às mãos dos consumidores através de intermediários: o fabricante ou montadora, que produz o objeto, o atacadista ou distribuidor, o varejista, e eventualmente outros intermediários. Sob esse enfoque, os elementos que formam a cadeia de suprimento, na parte que vai da manufatura ao varejo, formam o canal de distribuição. (NOVAES, 2001) Denomina-se Distribuição física de produtos todos os processos operacionais e de controle que permitem transferir os produtos desde o ponto 31 de fabricação, até o ponto em que a mercadoria é finalmente entregue ao consumidor. Esse ponto final de distribuição é a loja de varejo, mas pode existir casos de entrega do produto na casas do consumidor, principalmente quando trata-se de produtos pesados ou volumosos. Sendo assim, a distribuição física opera todos os elementos necessários para a operacionalização do processo como o depósito, os veículos, os estoques, equipamentos de carga e descarga, entre outros. (NOVAES, 2001) Pode existir certo paralelismo entre a distribuição física de produtos e os canais de distribuição como pode ser visto na Figura 4. Um esquema de distribuição específico será escolhido, dado a estratégia pré-definida pela empresa. Distribuição Física Canal de Distribuição Depósito da Fábrica Fabricante Depósito (Centro de Distribuição) Atacadista Depósito Varejista Varejista Transporte Transporte CONSUMIDOR FINAL Figura 4 - Paralelismo entre canais de distribuição e distribuição física Fonte: (NOVAES- 2001) No processo de distribuição de produtos, desde a fábrica que o produz até o consumidor final na cadeia de suprimento, podem ocorrer situações diversas, formando canais típicos de comercialização, Novaes (2001) indica as principais situações a seguir: • O fabricante abastece diretamente as lojas de varejo; 32 • O fabricante abastece seus próprios depósitos ou centros de distribuição e a partir desses pontos, abastece as lojas de varejo; • O fabricante abastece os centros de distribuição do varejista que, por sua vez abastece as lojas; • O fabricante abastece os depósitos do atacadista ou distribuidor que, por sua vez, abastece as lojas; • O fabricante distribui seus produtos para os centros de distribuição de um operador logístico, que posteriormente faz as entregas às lojas de varejo; • O fabricante entrega o produto diretamente no domicílio do consumidor final, utilizando o correio ou serviço de courier (vendas pela internet, telefone ou fax; vendas de catálogo e outras). A Figura 5 abaixo mostra os processos de distribuição de produtos conforme o esquema de níveis de distribuição: Figura 5 - Níveis de distribuição dos produtos para o cliente final Fonte – Seminário (AHK , 2009) 33 4.2.5 Componentes do Sistema de Distribuição Novaes (2001), destaca que a distribuição física de produtos possui alguns componentes físicos ou de informações que podem ser apresentados por sete fatores conforme segue: • Instalações fixas (centros de distribuição, armazéns); • Estoque de produtos; • Veículos; • Informações diversas; • Hardware e software diversos; • Custos; • Pessoal; As instalações físicas podem ser entendidas como o “espaço destinado a armazenar os produtos até que estes sejam transferidos para os clientes ou para as lojas” (NOVAES, 2001). Os estoques de produtos são representados por “todo o produto acabado que fica armazenado no depósito da fábrica, nos centros de distribuição, nas lojas varejistas e nos veículos de transporte” (NOVAES, 2001). O terceiro fator, objeto de estudo mais detalhado deste trabalho, trata dos veículos, uma vez que os produtos são normalmente comercializados em pontos diversos que vão desde a fabricação até sua distribuição para o cliente final. Novaes (2001) avalia que para os setores de bebidas e de cigarros, é importante garantir um cadastro de clientes com endereço, coordenadas geográficas, horários de entrega, até seqüência de clientes a serem atendidos, pois isso facilita a roteirização da entrega a ser realizada e a programação dos clientes a ser visitado por caminhão 34 Por meio de software as atividades de distribuição são planejadas através da “preparação dos roteiros de entrega, controle dos pedidos, monitoramento da frota, entre outros recursos necessários para um bom sistema de distribuição” (NOVAES, 2001). A estrutura de custos garante a empresa “competitividade neste setor, dado a necessidade de controle dos transportes realizados e controle dos custos logísticos para atendimento ao mercado” (NOVAES, 2001). Por último, para que uma distribuição física funcione de forma competitiva, é necessário dispor de pessoal devidamente capacitado e treinado. Conforme destaca Novaes (2001), “o motorista e o ajudante de entrega têm contato constante com o cliente, quando mal treinados ou mal orientados, podem trazer uma imagem negativa para a empresa a qual trabalham”. Isso afeta diretamente o Nível de Serviço das empresas. 4.3 Nível de Serviço Segundo (ARBACHE, et al, 2007) existem diversas maneiras de um consumidor tomar a decisão de compra de um bem ou serviço, e a disponibilidade do produto em um ponto-de-venda (PDV) é uma delas. As etapas necessárias para a chegada desse produto até o PDV necessitam um gerenciamento detalhado da cadeia de suprimentos e organização do fluxo de produtos para o mercado. Segundo (BALLOU, 2001), nível de serviço logístico é a qualidade com que o fluxo de bens e serviços é gerenciado. É o resultado líquido de todos os esforços logísticos da empresa. É o desempenho oferecido pelos fornecedores aos seus clientes no atendimento dos pedidos. Ainda segundo Ballou o nível de serviço é o fator-chave do conjunto de valores logísticos que as empresas oferecem a seus clientes para assegurar fidelidade. 35 Caon e Correa (2002) afirmam que para aumentar o sucesso financeiro da empresa, para aumentar sua lucratividade operacional, para que ela ganhe mais dinheiro, é possível fazer duas coisas: aumentar as receitas e reduzir os custos. Essa afirmativa parece óbvia, quando nos deparamos com a realidade das empresas de serviço logístico atuais. Manter nível de serviço e diminuir custos na atividade de distribuição de cargas será o tema central deste trabalho (CORREA; CAON, 2002). O nível de satisfação do cliente dependerá do Valor ofertado a ele pelo processo prestador de serviço. Mais precisamente, é o valor percebido (a diferença é sutil mas importante, pois às vezes o cliente necessita de auxílio para perceber adequadamente o valor que lhe está sendo ofertado) pelo cliente em cada um dos momentos que estabelece algum tipo de contato com algum aspecto do processo de prestação do serviço. (CORREA; CAON, 2002) A Figura 6 ilustra as relações entre a qualidade das atividades executadas na linha de frente, seu resultado percebido pelo cliente e o resultado da organização. Figura 6 - Qualidade percebida pelo cliente e os resultados da organização. Fonte – (CORREA; CAON, 2002) Gestão de Serviços. Para se obter sucesso nas linhas de frente (as realizadas em contato direto com o cliente), se faz necessário que muitas outras atividades de suporte 36 (de retaguarda) tenham também qualidade em níveis adequados. (CORREA; CAON, 2002). Segundo BALLOU (1993), no passado, uma prática comum em logística era tratar os requisitos de serviço do cliente como algo fixo. Este nível era normalmente determinado junto com o pessoal de vendas, que tem maior contato com os clientes. A logística entendia como sua tarefa atender metas de agregação de valor de tempo e espaço ao mínimo custo total. BALLOU (2001) ressalta que os vários níveis de serviços logísticos oferecidos pode ser ainda um elemento promocional tão importante quanto desconto de preço, propaganda, vendas personalizadas ou termos de vendas favoráveis. Transporte especial, maior disponibilidade de estoque, processamento mais rápido de pedidos e menor perda ou dano de transporte geralmente afetam positivamente os clientes e, logo, as vendas. (BALLOU, 1993). O processo de geração de valor percebido pelo cliente requer que atividades sejam realizadas e que atividades são direcionadoras e causadoras de custo (CORREA; CAON, 2002). Atividades, por sua vez, são realizadas por recursos. A boa utilização, a utilização eficiente desses recursos é que será o fator decisivo para definir quais serão os custos da operação, que por sua vez estão diretamente relacionados com a lucratividade operacional que estamos procurando maximizar. (CORREA; CAON, 2002). Dessa forma, a Figura 7 complementa a anterior apresentando que a qualidade na retaguarda ou qualidade dos serviços de back office3 e a utilização correta dos recursos, aumentam a produtividade e contribuem para a diminuição dos custos e aumento da receita. 3 Termo utilizado para indicar equipe de apoio administrativo 37 Figura 7 - Vertente dos custos no lucro operacional da organização. Fonte – (CORREA; CAON, 2002) 4.3.1 Uma análise sobre as decisões de compra no comércio varejista O crescente aumento das vendas no comércio varejista tem se apresentado como forte impulsionador da economia brasileira o que gera fortes impactos nas relações comerciais entre os participantes da cadeia de suprimentos de bens de consumo. É o que mostra a pesquisa “Benchmarking Serviço de distribuição física” do Centro de estudos em Logística - Coppead / UFRJ e analisada por LAVALLE (2008), diretor de relações internacionais do Instituto de Logística e Supply Chain – ILOS. Segundo LAVALLE (2008), a lógica do fluxo físico de bens de consumo entre a indústria e o consumidor, pode ser feito diretamente, através de atacadistas, ou por meio da rede varejista, como mostra a Figura 8. Neste último caso consiste o foco da pesquisa realizada por Lavale. 38 Figura 8 - Cadeia de suprimento de bens de consumo para o varejo. Fonte – (LAVALE, 2008). (Disponível em: www.ilos.com.br/site/index.php) A pesquisa mostra como a importância relativa das variáveis de decisão de compras dos varejistas junto à indústria foi se alterando ao longo do período considerado pela pesquisa (1994 a 2007) que pode ser observada na Tabela 1 logo abaixo. Tabela 1 - Importância das variáveis de decisão de compra para o varejo. Fonte – (LAVALE, 2008). (Disponível em: www.ilos.com.br/site/index.php) 39 Conforme análise de LAVALE (2008), é possível observar que em 2006, houve uma mudança de patamar em termos de importância do serviço de distribuição física no processo de decisão de compras dos varejistas, quando notadamente a variável promoção e propaganda ganharam espaço em termos relativos. Em 2007, observa-se o serviço de distribuição física voltando a crescer em importância com relação a todas as demais variáveis. Este fato pode ser compreendido na medida em que o aumento de poder aquisitivo da população, ao se traduzir em maior consumo, faz com que o comércio exija maior esforço de reposição dos estoques por parte da indústria até as suas gôndolas. Assim, é de se esperar que o serviço de distribuição física ganhe importância no processo de decisão de compras do comércio, a fim de manter alta disponibilidade de produtos ofertados ao menor nível de estoque. (LAVALE, 2008). A pesquisa mostra ainda o nível de satisfação do comércio varejista com o desempenho das indústrias que detém as melhores práticas de distribuição, considerando 3 (três) dimensões de distribuição física: disponibilidade do produto, consistência do prazo de entrega e tempo de ciclo de pedido. Conforme Tabela 2 abaixo: Tabela 2 - Grau de insatisfação com as práticas de mercado. 40 Fonte – (LAVALE, 2008). (Disponível em: www.ilos.com.br/site/index.php) 4.4 Transporte e o meio externo As variáveis apresentadas na Justificativa para o tema serão apresentadas neste capitulo, para demonstrar o quanto a atividade de distribuição de cargas está sujeito a essas variações. 4.4.1 Atrasos na viagem Em alguns casos, quando a empresa se utiliza de transportadoras para a transferência de seus produtos, podem ocorrer atrasos de forma a possibilitar a consolidação da carga, ou seja, a transportadora mantém os produtos em seu depósito esperando outras cargas para o mesmo destino, com isso garantindo o carregamento completo, ou quase completo para seus veículos. O mesmo pode se dar na outra ponta, quando a carga aguarda no depósito até 41 que a transportadora consiga um carregamento satisfatório para um determinado roteiro de entregas. (ALVARENGA; NOVAES, 2000). De acordo com COLING (200), a capacidade de alteração do sistema de produção para atender demandas dos clientes no curto prazo, denominada muitas vezes na literatura como flexibilidade, também tem relacionamento com o tempo. As alterações no sistema de produção podem ser, por exemplo, na data de entrega, na quantidade vendida e no mix de produtos. Assim, uma empresa que possui uma alta capacidade de atendimento de pedidos no curto prazo terá grande parte das características de uma empresa flexível. Dessa forma é possível verificar que as empresas de distribuição de cargas que se utilizam dos grandes centros urbanos para garantir a entrega de seus produtos ao cliente final ou “Ponto de Vendas” (PDV) como é denominado pela grande massa, precisam de alta flexibilidade para atender a demanda e com muita rapidez e agilidade. Para empresas líderes ou que querem chegar à liderança, o fornecimento rápido de produtos pode ser importante para qualquer empresa. Empresas que buscam uma maior eficiência em relação aos parâmetros de tempo no fornecimento de produtos terão um longo caminho pela frente (COLIN. 2000). 4.4.2 Mobilidade Urbana A criação do SEMOB – Secretaria de Mobilidade, no Ministério das Cidades, demonstra a sensibilidade do governo brasileiro para o assunto. Pelas diretrizes de planejamentos estratégicos, é possível avaliar que o seu foco extrapola a preocupação com as cargas urbanas. Na visão do SEMOB, em suas três diretrizes estratégicas, deve ocorrer a: promoção de cidadania e priorização dos modos coletivos e não motorizados de mobilidade; promoção institucional, regulatório e gestor; promoção de políticas e mobilidade urbana. “Mobilidade sustentável” é um vocábulo de diferentes conotações. Segundo DUTRA (2004) significa “a capacidade de atender às necessidades 42 da sociedade em deslocar-se livremente, em ganhar acesso, em comunicar-se, em comercializar e em estabelecer relações sem sacrificar outros valores fundamentais humanos ou ecológicos hoje ou futuramente” (conceituação mais voltada para o social). Para outros, no entanto, o termo reflete preocupações mais plausíveis (operacionais), como saber se os sistemas de transporte, no futuro, ainda conseguirão atender às nossas necessidades. A globalização da economia e a liberação dos mercados aumentaram as distâncias entre a fonte de matéria-prima, a transformação dos produtos e o consumidor final. Assim, houve não só o aumento do transporte de mercadorias, mas o aumento das distâncias. Logo, será preciso somar esforços para reduzir a relação existente entre os transportes e o crescimento econômico, o que requer alterações nas orientações políticas, passando-se de uma política de transporte orientada para oferta (hoje, centrada, principalmente, no modo rodoviário, pela oferta de autos) para uma política integrada, orientada para a procura, visando à melhoria da acessibilidade e, paralelamente, restringindo o crescimento do tráfego motorizado e motivando o uso de modos menos poluentes (DUTRA, 2004). 4.4.3 Principais influências na mobilidade urbana Abaixo, um quadro ilustrativo com os principais agentes influenciadores das tantas mudanças ocorridas nos últimos anos quanto ao comportamento das cidades ajuda a entender as principais influências das empresas sobre a mobilidade urbana. (FRANÇA; RUBIN 2005) 43 - A intensa globalização do mercado que aumentaram as Globalização Grande concentração da população nos grandes centros urbanos. distâncias entre a fonte de matéria-prima, a transformação dos produtos e o consumidor final. - Em 1950 menos de 30% da população mundial morava em zonas urbanas e a ONU projeta para 2050 mais de 60% da população vivendo nos grandes centros urbanos. JIT (Just in Time) - A filosofia JIT reduziu drasticamente os estoques e com isto aumentou o número de transportes diários. Preocupação Ambiental - O aumento com a preocupação ambiental devido aos grandes problemas gerados com a poluição nas cidades. Surgimento de novas tecnologias. - Surgimento de novas tecnologias como a B2C (Business to Consumer) e o comércio eletrônico. Quadro 1 - Principais agentes de mudanças na última década. Fonte – (FRANÇA; RUBIN, 2005). Sob esse aspecto várias cidades brasileiras vêm tomando medidas restritivas para trânsito com intuito de minimizar os impactos negativos que vão desde restrições físicas até mudanças de lay-out em infra-estrutura e veículos. Um exemplo forte disso é a cidade de São Paulo, apresentado a seguir. SCARINGELLA (2001), Diretor Superintendente do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito, destaca em seu artigo “A crise da mobilidade urbana em São Paulo” que a cidade registra um número de veículos próximo a seis milhões de unidades. Ele comenta ainda que existe um forte questionamento quanto ao colapso da cidade frente a esse forte aumento da frota, mas que para que isso ocorresse seria necessário que os níveis de motorização chegasse a níveis estratosféricos, o que está longe de ocorrer, porém, a extensão da área do trânsito e a degradação urbana são assuntos prioritários que requer bom planejamento para conter. SCARINGELLA (2001) destaca ainda que São Paulo têm um problema grave que trata da “mobilidade clandestina” onde as ocupações irregulares, favelas de alvenaria, surgem em velocidade e extensão assustadoras sem planejamento e sem controle. São Paulo possui atualmente (outubro de 2009) 14 mil quilômetros de vias, sendo 11,7 mil pavimentados e 3 mil de vias de terra. O sistema viário principal, onde o maior deslocamento ocorre, pode ser considerado com 2,5 mil quilômetros de extensão. (Prefeitura de São Paulo) 44 4.4.4 Normas e Restrições para circulação de veículos em São Paulo Para conter os problemas de mobilidade urbana, algumas medidas são adotadas como o exemplo de São Paulo, onde foi implantado a Zona Máxima de de Restrição e Circulação - ZMRC. As principais avenidas do Estado de São Paulo são consideradas vias estruturais, que fazem importantes ligações entre regiões da cidade e são denominados "Corredores", pela legislação atual – Decreto 48.338/07, Vias Estruturais Restritas - VER. Algumas possuem restrições ao trânsito de caminhões, como é o caso de algumas vias importantes. ZMRC é uma região da Cidade com restrições de horário para trânsito de caminhões. ZMRC significa Zona de Máxima Restrição de Circulação. O Decreto 49.487/08 alterou os limites e horários da ZMRC, que passou a ser com horário de 2ª a 6ª das 05 às 21h e sábados das 10 às 14h. Este Decreto passou a vigorar em 30/06/08. A ZMRC pode ser visualizada na figura 9 abaixo. 45 Figura 9 - Zona Máxima de Restrição e Circulação na cidade de São Paulo Fonte – Secretaria de Transportes da Cidade de São Paulo (2009) De acordo com o inciso I do artigo 2º do Decreto Municipal nº 48.338, de 10 de maio de 2007, os Veículos Urbanos de Carga - VUC - são caminhões que possuem conjuntamente as seguintes características: a. largura máxima: 2,20m (dois metros e vinte centímetros); b. comprimento máximo: 6,30m (seis metros e trinta centímetros); e c. limite de emissão de poluentes. O VUC é o caminhão de menor porte, mais apropriado para áreas urbanas. Que permite maior facilidade em manobra e estacionamento, usado para o transporte de carga, principalmente nos centros urbanos. 4.4.5 Restrições na Operação de carga e descarga 46 A operação de carga e descarga é considerada estacionamento de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (Art. 47, parágrafo único), sendo, portanto proibida a parada em locais onde é proibido estacionar, a menos que exista a informação complementar estabelecendo os horários permitidos para carga e descarga. De acordo com o Anexo I do Código de Trânsito Brasileiro a “operação de carga e descarga é a imobilização do veículo, pelo tempo estritamente necessário ao carregamento ou descarregamento de animais e carga”. O agente da autoridade de trânsito considera a movimentação ou não desta ação. A espera por pagamento e nota fiscal não se caracteriza como carga e descarga; portanto, quando esta é realizada em local com proibição para estacionamento e dentro do horário permitido apenas para carga e descarga, ao final da operação o veículo deve se retirar para não ser autuado. 4.5 Conceito City Logistics Em síntese, a logística vem agregando valor aos negócios e à sociedade por meio de conceitos diferenciais e de uma abordagem sistêmica. É nesta condição que, atualmente, face aos problemas enfrentados pela sociedade com a saturação do tráfego nos grandes centros urbanos, surgiu o conceito denominado city logistics. Para FRANÇA e RUBIN (2005) este conceito é novo e vai mais a fundo do que os aspectos tratados de modo tradicional pela logística urbana, tais como otimização do transporte (tanto de passageiros quanto de cargas), armazenamento e transbordo. Para os autores, o conceito de city logistics amplia a discussão para questões como, por exemplo, o aumento de congestionamento, da poluição e do ruído e “tenta conciliar tudo com uma intervenção otimizadora das atividades e procedimentos que visam ao bem estar global do ambiente urbano”. 47 Ou seja, city logistics são processos em que, por meio de esquemas inovadores e parcerias entre entidades privadas e públicas, busca-se otimizar a distribuição de cargas e propiciar avanço no uso do espaço urbano para toda a sociedade. (FRANÇA; RUBIN, 2005) O problema gerado pela movimentação de mercadorias em áreas urbanas, mesmo não sendo novo raramente fora considerado no planejamento de transporte urbano, mas essa visão vem mudando rapidamente dada a crescente conscientização dos cidadãos e organizações a respeito dos grandes problemas gerados pelo tráfego de carga. (DUTRA, 2004). Um estudo realizado no município de Lorena em São Paulo baseado nos coceitos City Logistics, revelou que 60% da frota de entrega é composta por caminhões de 3 eixos e que 40% das entregas anuais são realizadas utilizando vias públicas para descarga de materiais. (CARVALO; RIBEIRO, 2001). Esse fator é apresentado pelos autores como agravante em relação à mobilidade urbana, dado que, veículos maiores ocupam mais espaço e tem maior dificuldade em estacionar. Este cenário de movimentação de veículos de carga e uso da via urbana para carga e descarga de materiais associados à ausência de planejamento logístico urbano integrado torna-se um fator agravante na qualidade socioambiental e econômica da cidade e merece atenção especial das empresas e dos órgãos públicos competentes para o desenho de um plano estratégico mais eficiente. (CARVALHO; RIBEIRO, 2001) 4.6 Análise das influências sobre o trânsito no Brasil Dois estudos são apresentados a seguir como os mais importantes na análise do trânsito brasileiro. O primeiro trata do crescimento de veículos até o período de 2009, e o segundo trata da análise do crescimento do comércio varejista nos últimos anos. Sob o aspecto da economia, esses dois indicadores são positivos, pois sinalizam uma forte melhor no desenvolvimento do país, 48 porém, é importante ressaltar que um crescimento mal planejado, pode influenciar negativamente o desempenho das empresas. As duas análises a seguir apresentarão apenas o cenário atual frente a esse desempenho econômico para mostrar o impacto do trânsito nos grandes centros urbanos do país. 4.6.1 Análise do crescimento de veículos em 2009 A Anfavea, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores registrou a produção de 2.048.343 novos veículos durante os meses de janeiro a agosto de 2009, (Anuário estatístico, Anfavea) conforme a tabela 3 abaixo: Tabela 3 - Produção de automóveis por tipo de veículo. Fonte: Anuário estatístico – (ANFAVEA, 2009). Os dados mostram que a produção total de veículo teve um crescimento de 60% em relação a janeiro de 2009. Quando observado apenas a produção de caminhões, o Brasil apresenta um crescimento de 25% na produção total em relação a janeiro de 2009 e 30% em relação ao mesmo período de 2008. Os caminhões do tipo leves, utilizados geralmente para a distribuição de cargas em centros urbanos apresentaram em agosto de 2009 um crescimento de 55% em relação a janeiro de 2009, como mostra a tabela 4 abaixo: 49 Tabela 4 - Produção de caminhões por faixa (Anfavea 2009). Fonte: Anuário estatístico – (ANFAVEA, 2009). Em São Paulo, é possível identificar um crescimento de 1% na frota da capital paulista em Outubro comparado a janeiro de 2009 e 3% no estado de São Paulo comparando a frota de Outubro com Janeiro de 2009. Este pode ser considerado um crescimento significativo quando leva-se em consideração as restrições existentes dentro da cidade (DETRAN-SP, 2009). A Tabela 5 abaixo mostra esses dados. Tabela 5 - Evolução da Frota de caminhões de São Paulo em 2009 MÊS Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro DADOS Nº DE CAMINHÕES Capital 166.458 Estado 681.052 Capital 166.707 Estado 678.460 Capital 166.700 Estado 676.173 Capital 167.089 Estado 673.952 Capital 166.900 Estado 671.888 Capital 166.610 Estado 669.718 Capital 165.539 Estado 666.922 Capital 165.477 Estado 665.038 Capital 165.570 Estado 662.321 Capital 165.694 Estado 660.433 Fonte: (DETRAN-SP, 2009) 50 O aumento da frota significa maior gargalo nas vias e aumento do trânsito o que leva ao aumento de tempo das viagens com significativo aumento de custos para as empresas de transporte. Os dados da CET de São Paulo mostram um indicador de alta influência para o trânsito da cidade, chamado de Motorização. Que siginifica dividir o total da frota da cidade pelo número de habitantes. Esse indicador pode ser avaliado abaixo na Tabela 6. Tabela 6 - Índice de motorização e frota de São Paulo. ano população frota motorização* 1990 1991 9.512.545 3.421.059 2,78 9.610.659 3.614.799 2,66 1992 1993 9.690.419 3.823.772 2,53 9.774.322 4.092.730 1994 2,39 9.864.512 4.404.616 2,24 1995 9.952.805 4.529.929 2,2 1996 10.040.370 4.671.362 2,15 1997 10.134.220 4.680.012 2,17 1998 10.233.627 4.790.897 2,14 1999 10.333.057 4.880.019 2,12 2000 10.426.384 5.128.234 2,03 2001 10.508.218 5.318.888 1,98 2002 10.552.311 5.491.811 1,92 2003 10.615.844 5.649.318 1,88 2004 10.679.760 5.807.160 1,84 2005 10.744.060 5.332.582 2,01 2006 10.789.058 5.614.084 1,92 2007 10.834.244 5.962.512 1,82 Fonte: (CET / Gerência de Planejamento, 2009) Os dados mostram que de 2006 para 2007 o índice de motorização da cidade de São Paulo teve uma redução de 5% o que significa um maior número de habitantes utilizando algum tipo de veículo. É importante destacar que a frota teve um aumento de 74% desde 1990 e a população teve um aumento de apenas 13%. Cabe ressaltar que a frota de caminhões da cidade representa 2,5% do total de veículos e a frota de ônibus e meios de locomoção apenas 51 0,5% o que indica que a redução no índice de motorização é um indicador negativo. 4.6.2 Análise do crescimento do comércio varejista Mensalmente o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgam o crescimento do setor de varejo. Segundo a pesquisa da Diretoria de pesquisas do IBGE na coordenação de serviços e comércio, o Comércio Varejista do País apresentou em julho de 2009, com relação ao mês anterior, crescimento de 0,5% tanto para o volume de vendas quanto para a receita nominal. Observa-se com esse resultado que o setor completa um trimestre de taxas positivas. Nas demais comparações, o varejo nacional obteve, em termos de volume de vendas, acréscimos da ordem de 5,9% sobre julho do ano anterior e de 4,7% e 5,8% nos acumulados dos sete primeiros meses do ano e dos últimos 12 meses, respectivamente. Para os mesmos indicadores, a receita nominal de vendas apresentou taxas de variação de 9,4%, 9,8% e de 11,4%, respectivamente. (IBGE, 2009) Ainda sobre a pesquisa do IBGE, no quadro abaixo é possível avaliar que o segmento de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com variação de 10,1% no volume de vendas em julho, sobre igual mês do ano anterior, foram responsáveis pela principal contribuição à taxa global do varejo (Tabela 7) Esse resultado, acima da média, se justifica pelo aumento do poder de compra da população, decorrente do crescimento da massa de rendimento real habitual dos ocupados (4,1% sobre julho de 2008, segundo a PME (Pesquisa Mensal do Emprego); bem como pela estabilização dos preços do setor, que evoluíram no acumulado dos últimos 12 meses, em 1,7% no Grupo Alimentação no Domicilio, ficando abaixo da inflação global medida pelo IPCA (4,5%). Os resultados da atividade em termos de acumulados nos sete primeiros meses do ano e nos últimos 12 meses, foram de 7,3% e 6,3%, respectivamente. (IBGE, 2009) 52 Tabela 7 - Volume de vendas do comércio varejista segundo grupo de atividades. SEGUNDO GRUPOS DE ATIVIDADES PMC - 2009 ATIVIDADES INDICADOR MÊS/MÊS (*) INDICADOR MENSAL ACUMULADO Taxa de Variação Taxa de Variação Taxa de Variação MAI JUN JUL MAI JUN JUL NO ANO 12 MESES COMÉRCIO VAREJISTA (**) 0,4 1,7 0,5 2,9 5,7 5,9 4,7 5,8 1 - Combustíveis e lubrificantes 1,6 -3,0 -1,3 1,9 -1,3 -4,2 1,2 4,6 2 - Hiper, supermercados, prods. alimentícios, bebidas e fumo 0,2 1,0 0,8 6,7 8,2 10,1 7,3 6,3 0,7 0,5 0,6 6,6 8,0 10,0 7,1 6,1 3 - Tecidos, vest. e calçados -2,5 10,1 -3,9 -10,7 -1,0 -2,1 -6,2 -4,1 4 - Móveis e eletrodomésticos 0,8 3,6 1,9 -6,1 -1,0 0,5 -1,9 3,6 5 - Artigos farmaceuticos, med., ortop. e de perfumaria 0,9 0,0 3,8 10,2 12,6 13,4 12,0 12,7 6 - Equip. e mat. para escritório informatica e comunicação -10,6 14,3 -4,2 5,3 22,4 9,6 15,6 24,1 7 - Livros, jornais, rev. e papelaria 2,4 -0,4 4,2 6,9 4,5 12,1 9,0 9,7 8 - Outros arts. de uso pessoal e doméstico 3,2 2,7 -0,8 11,1 11,8 7,9 9,3 9,4 5,0 7,1 -6,0 2,8 10,4 0,9 3,4 3,8 2.1 - Super e hipermercados COMÉRCIO VAREJISTA AMPLIADO (***) 9 - Veículos e motos, partes e peças 6,9 9,3 -10,4 4,4 20,9 -4,9 3,7 1,8 10- Material de Construção 4,0 -1,4 -1,3 -8,3 -5,5 -12,5 -10,3 -4,9 Fonte – (IBGE, 2009). Disponível em http://www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/ 4.6.3 Análise econômica do segmento de Bebidas O setor de alimentos e bebidas teve um forte crescimento em volume de vendas em julho de 2009, quando comparado com igual mês do ano anterior, conforme apresentado na análise do crescimento do comércio varejista no item 4.6.2 deste trabalho. Até a última apuração do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2001, o Brasil totalizava quase 20 mil empresas do setor de produtos alimentícios e bebidas (a instituição não separa os dois segmentos). O Segmento de bebidas em conjunto com alimentos representa 9% do PIB brasileiro, ficando atrás apenas do segmento Petroquímico, ou seja, é o segundo setor mais importante para a economia brasileira. (IBGE, 2008) De acordo com um levantamento do Target Group Index, divulgado pelo Ibope em 2008, 52 milhões de pessoas consomem refrigerantes no País, 48 53 milhões, preferem sucos e mais de 22 milhões optam pelas cervejas. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR) mostram que, em 1998, o mercado nacional de refrigerantes já era o terceiro em nível mundial, com um consumo de 11 bilhões de litros. Entre os brasileiros, 19% consomem bebidas alcoólicas regularmente, colocando o País entre os 25 maiores consumidores desse tipo de produto no mundo. No Brasil, o consumo médio de cerveja por habitante é de 47 litros de cerveja por ano. Desde a década de 70, a ingestão de bebidas alcoólicas cresceu cerca de 70% no Brasil. (ABIR) Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os meses de janeiro e maio de 2007, o setor de bebidas cresceu 7,8%, quase o dobro do crescimento obtido pela indústria em geral no período (4,4%). No mesmo ano, a indústria de bebidas teve um faturamento líquido de R$ 34,4 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA). Apenas seis anos antes, em 2001, este número estava em R$ 15,2 bilhões. O segmento de bebidas é predominantemente voltado para o mercado interno e, portanto, seus resultados dependem do comportamento e do rendimento dos trabalhadores. Por isso, é essencial conhecer os diversos perfis de consumidores, analisando as periódicas mudanças no cenário econômico e nos hábitos de quem compra e consome cada bebida. Dessa forma, acompanhar e antecipar o que é importante para cada grupo consumidor e conhecer os concorrentes de cada produto são essenciais para o sucesso de qualquer estratégia comercial. (SANTOS, 2008) Dados da ABIR revelam que, em 2008, o faturamento bruto do setor foi de aproximadamente R$ 270 bilhões, desempenho 14% superior ao registrado em 2007 (R$ 231 bilhões). Os números do ano 2008 foram prejudicados pela crise financeira no último trimestre do ano. 54 4.7 Gestão de segurança e saúde ocupacional “A multiplicidade de ações e decisões que o administrador de empresa, principalmente da micro e pequena empresa, quando na maioria das vezes é o proprietário dela, tem que realizar e tomar ante os diversos compromissos, para buscar a sobrevivência organizacional, faz com que não detenha suas atenções quanto ao ambiente de trabalho que oferece a seus funcionários” (FILHO, 2001) Segundo FILHO (2001) todos os processos produtivos têm particularidades que os diferenciam dos demais processos no tocante à gestão da segurança. Por outro lado, existem processos distintos que podem servir de orientação para a atividade de gestão de segurança em um terceiro processo. Essas orientações servirão de base para analisar como as empresas de transporte gerenciam os processos de segurança. Ao estudar a gestão de segurança de uma empresa é importante interpretar que o objetivo principal disso é reduzir o número de acidentes do trabalho e mais ainda, reduzir o tempo perdido por essas ocorrências mantendo a produtividade da empresa dentro do padrão de normalidade. Para buscar a redução do número de ocorrências, um estudo realizado em 1967 pelo norte americano Franck Bird, ajuda a entender como os acidentes de trabalho se comportam dentro de uma organização. (BITENCOURT; QUELHAS, 2008) Nos anos de 1967 e 1968, Franck Bird analisou 297 companhias nos Estados Unidos da América, sendo envolvidas nessa análise 170.000 pessoas de 21 grupos diferentes de trabalho. No período estudado, houveram 1.753.498 acidentes comunicados. A partir desses dados foi criada a “pirâmide de Franck Bird”, onde chegou-se a conclusão que para que aconteça um acidente com lesão incapacitante ao trabalhador, é necessário que ocorra 600 incidentes sem danos pessoais ou materiais. A “Pirâmide de Franck Bird”, pode ser vista na Figura 10 abaixo. (BITENCOURT; QUELHAS, 1996) 55 Figura 10 - Pirâmide de Franck Bird Fonte: Adaptado de (BIRD, 1967 apud BITENCOURT; QUELHAS, 1996) A seguir será apresentada como se comporta a gestão de segurança nas empresas de transporte. 4.7.1 Segurança nas empresas de transporte O Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getulio Vargas realizou para a Fundacentro a pesquisa Saúde Ocupacional e Segurança no Transporte Rodoviário (SOS - Transporte Rodoviário). A pesquisa consiste na análise de um conjunto amplo de base de dados O estudo mostra que a análise das condições de vida (origem, grau de instrução, moradia, alimentação), condições de trabalho (acesso à assistência médica, características dos veículos, duração da jornada de trabalho), o ambiente de trabalho (ruído, vibração, poluentes químicos), entre outros são alguns aspectos que vão determinar situações adversas na vida, trabalho e saúde dos trabalhadores no transporte rodoviário de passageiros e cargas. O estudo aponta para 7 fatores de risco, listados abaixo que têm influência direta sobre a os motoristas, empresas e sociedade em geral: • Ruído; 56 • Calor e ventilação; • Aspectos Ergonômicos; • Poluição; • Jornada de Trabalho; • Congestionamentos; • Hábitos comportamentais; Um plano de gestão em segurança para as empresas de transporte de cargas têm abrangência significativa para a sociedade e sua atuação pode ser apresentada através da figura 11 abaixo, conforme estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas: CONDIÇÕES DE TRABALHO Consequências para os condutores Consequências para as empresas Consequências para a sociedade - Disturbios emocionais - Disturbios físicos - Aumento do absenteísmo - Aumento da rotatividade - Aumento dos conflitos - Diminuição da qualidade do serviço - Aumento do número de acidentes - Aumento do custo do serviço Figura 11 - Fatores de riscos e suas conseqüências. Fonte – (CPS – FGV, 2001) 4.7.2 Custos por Acidentes de Trabalho É importante destacar que acidente de trabalho é definido de forma legal como “o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, com o segurado empregado, que provoca lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”, (FILHO, 2001) mas, pode ainda ser definido pela sua forma prevencionista, que se dará da seguinte maneira, “acidente do trabalho é toda ocorrência não programada ou prevista, estranha ao andamento normal do 57 trabalho, da qual possa resultar danos físicos e/ou funcionais ou lesões ao trabalhador e/ou danos materiais e econômicos à empresa” (FILHO, 2001). È importante esclarecermos ainda que e a doença profissional é “toda e qualquer deficiência e/ou enfraquecimento da saúde humana, causada por uma exposição contínua a condições inerentes à ocupação de uma pessoa”. (OLIVEIRA, 2008). OLIVEIRA (2008) destaca ainda 3 situações para o custo com os acidentes conforme abaixo: “1º situação – o empresário busca não assumir os custos decorrentes deste processo acidentário e, repassa ao cliente através do aumento do preço de venda de seus produtos ou serviços, ao realizar este procedimento, o empresário torna-se menos competitivo uma vez que seus produtos são mais caros. 2º situação – o empresário absorve o custo acidentário, não imputandoo sobre o preço de venda, nem repassando-o em espécie alguma ao seu cliente, dessa forma o cliente não sofre quaisquer consequências das falhas no processos produtivo, porém, o empresário reduz a margem de lucro de seus produtos ou serviços e com isso parte da sua receita que poderia ser voltada para o aumento da qualidade dos seus processos, melhoria de maquinários e equipamentos, investimento no estímulo motivacional de seus empregados e outros investimentos com foco no processo de melhoria contínua empresarial, perde eficácia podendo não atingir a excelência. 3º situação – O cliente compra do concorrente o produto ou serviço, uma vez que o produto ou serviço em questão tornou-se oneroso em função dos custos de acidentes e doenças profissionais a ele imputados. Essa é a mais grave de todas as situações, do ponto de vista empresarial. O Gestor Empresarial deve ter visão aguçada para entender quando e quanto lhe é válido investir em prevenção de acidentes afim de não onerar seu produto e nem reduzir sua margem de lucro por motivos de acidentes e doenças profissionais, motivos estes considerados desnecessários e dispendiosos, ou seja, desperdícios.” (OLIVEIRA, 2008) 58 “Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), ocorrem cerca de 270 milhões de acidentes de trabalho e cerca de dois milhões de mortes por ano em todo o mundo, que, por serem potencialmente evitáveis, expressam negligência e injustiça social. Estima-se que 4% do Produto Interno Bruto (PIB) sejam perdidos por doenças e agravos ocupacionais, o que pode aumentar para 10% quando se trata de países em desenvolvimento. No Brasil, com base no PIB do ano 2002, essas estimativas de perda ficariam entre US$21,899,480 e US$54,748,700 refletindo baixa efetividade das políticas e programas de prevenção de agravos à saúde no trabalho é o que mostra um estudo realizado pelo Instituto de saúde coletiva da Universidade da Bahia. Ainda de acordo com esse estudo, os custos totais para as doenças e acidentes de trabalho foram maiores do que os relacionados com a Aids ou a doença de Alzheimer e comparáveis aos resultantes dos cânceres”. (LIMA, 2003) No Brasil, uma parte substancial dos custos diretos com acidentes de trabalho recai sobre o Ministério da Previdência Social que, por meio do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), tem a missão de garantir o direito à previdência social (Ministério da Previdência Social). LIMA (2003), apresenta uma metodologia com base na informação e a experiência disponível de organizações europeias, em particular a Health and Safety Executive (HSE) do Reino Unido, e organizações internacionais como a International Labour Organization para identificar os custos dos acidentes. A tabela será utilizada de modelo para calculo do custo dos acidentes no estudo de caso apresentado no capitulo 5. O cálculo para o custo do acidente não é difícil, mas muito trabalhoso. Conforme metodologia da Fundacentro, para cada caso há diferentes variáveis envolvidas em muitos casos podem chegar a dezenas de variáveis, muitas vezes de difícil identificação. Em linhas gerais pode-se dizer que o custo do acidente é o somatório dos custos diretos e indiretos envolvidos. Custo total = Custos Diretor + Custos Inditretos 59 Custo Direto: É o custo mensal do seguro de acidentes do trabalho. Não tem relação com o acidente. A contribuição é calculada a partir do enquadramento da empresa em três níveis de risco de acidentes do trabalho essa porcentagem é calculada em relação à folha de salário de contribuição e é recolhida juntamente com as demais contribuições arrecadadas pelo INSS. - 1% para as empresas de riscos de acidente considerado leve; - 2% para a empresa de risco médio, - 3% para a empresa de risco grave. Custo Indireto: Não envolvem perda imediata de dinheiro. Relacionamse com o ambiente que envolve o acidentado e com as consequências do acidente. Entre os custos indiretos estão: - Salário que deve ser pago ao acidentado no dia do acidente e nos primeiros 15 dias de afastamento, sem que ele produza. - Multa contratual pelo não cumprimento de prazos. - Perda de bônus na renovação do seguro patrimonial. - Salários pagos aos colegas do acidentado. - Despesas decorrentes da substituição ou manutenção de peça danificada. - Prejuízos decorrentes de danos causados ao produto no processo; Gastos de contratação e treinamento de um substituto. - Pagamento de horas-extras para cobrir o prejuízo causado à produção. - Gastos de energia elétrica e demais facilidades das instalações (horasextras) - Pagamento das horas de trabalho despendidas por supervisores e outras pessoas e ou empresas: - Na investigação das causas do acidente. - Na assistência médica para os socorros de urgência. -No transporte do acidentado. - Em providências necessárias para regularizar o local do acidente. - Em assistência jurídica. - Em propaganda para recuperar a imagem da empresa. 60 - Em caso de acidente com morte ou invalidez permanente ainda devemos considerar o custo da indenização que deve ser pago mensalmente até que o empregado atinja a idade de 65 anos. Neste conceito a metodologia apresentada por LIMA (2003), é a que melhor se enquadra para o desenvolvimento de uma análise sobre os custos dos acidentes de trabalho. 61 5 ESTUDO DE CASO As empresas de transporte de mercadorias em centros urbanos precisam conviver com uma série de variáveis em seu ambiente organizacional que dificultam o planejamento estratégico para o atendimento ao Nível de Serviço adequado exigido pelo mercado. Frente a esse desafio, o estudo apresentado a seguir, visa contribuir para a visão das empresas de distribuição de cargas frente aos atrasos em viagens decorrentes do alto índice de vias congestionadas na cidade e pelos acidentes de trabalho com as equipes de entrega. 5.1 Identificação da empresa Por conta de política de confidencialidade o nome da empresa estudada será mantida em sigilo, sendo apresentados apenas os dados pertinentes ao contexto geral do estudo. Por esse motivo será adotado o nome fictício “Distribuidora S/A”. A Distribuidora S/A tem sua matriz localizada em São Paulo e atua em todo o Brasil com 29 unidades produtivas e mais 46 centros de distribuição separadas por 8 diretorias regionais. Ao todo, soma-se mais de 20 mil funcionários próprios e outros 25 mil contratados. Além de suas unidades produtivas e centros de distribuição próprios conta também com 170 revendas afiliadas que, juntas, somam mais de mil empresários ligados à atividade e gera mais de 30 mil empregos diretos e cerca de 90 mil indiretos em todo o Brasil. Em conjunto com seus revendedores atendem a cerca de 2 milhões de pontos-de-venda em todo o País com uma frota de distribuição com mais de 10 mil caminhões de entrega conforme apresentado na figura 12 abaixo. 62 Inbound (Insumos) Fornecedores Transferência Puxada Plantas Distribuição Revendas Operação Revenda 170 Revendedores PDVs 30.000 funcionários 90.000 contratados 10.00 caminhões de entrega CDDs Operação CDD’s 49 Centros de Distribuição PDVs 10.000 funcionários próprios 12.000 contratados 3.000 caminhões de entrega Contas-chave AS - CD 3.500 funcionários próprios 500 caminhões de entrega AS - VD Distribuição Estrutura Figura 12 - Cadeia de Distribuição da Distribuidora S/A. Fonte – O próprio autor. O modelo de (STALK; HOUT apud COLING, 2000), já abordado na justificativa do referencial teórico deste trabalho, sugere que o tempo, pode influenciar competitivamente a cadeia de distribuição da empresa analisada conforme figura 13 abaixo. Fornecimento de produtos Tempo como critério competitivo Desenvolvimento de produtos Pontualidade na data de entrega solicitada Atendimento rápido de pedidos Introdução rápida de novos produtos no mercado Desenvolvimento rápido de produtos e processos Figura 13 – Direcionamento do modelo de Tempo como critério competitivo Fonte: (STALK; HOUT apud COLING, 2000) Dessa forma o foco da analise estará apontando para as influências sobre a pontualidade de entrega já que o não cumprimento dos prazos de entrega e falta de pontualidade dessas entregas, se desenrolam como um problema para todas as empresas do setor. 63 5.1.1 Processo de operação e entrega As equipes são formadas por vendedores que iniciam a jornada de trabalho por meio de reuniões matinais e, em seguida, realizam em torno de 45 visitas diárias aos seus clientes, coletando pedidos em palm-tops. Retornam ao final do dia a seus depósitos ou escritórios de vendas para “baixar” os pedidos. Em geral cuidam de um território de vendas. Os motoristas recebem as cargas por meio da consolidação de vários pedidos dos vendedores em geral no dia seguinte pela manhã, conferindo-as com as notas emitidas. Realizam cerca de 40 entregas diárias. Trabalham geralmente com dois ajudantes por veículo. A entrega de bebidas é realizada normalmente por dois modelos de veículos, que variam entre 4.000 e 8.000 kg de lotação. No limite inferior de capacidade de carga, há que se destacar o uso obrigatório, nas zonas com restrições ao tráfego de veículos de carga de determinados centros urbanos, dos VUC (veículo urbano de carga) ou VLC (veículos leves de carga). São veículos com dimensões reduzidas, cuja largura não pode ultrapassar 2,20 metros e os comprimentos máximos de 5,50 e 6,30 metros, respectivamente. Os veículos trucados normalmente exercem dupla função, executando tanto o trajeto fábrica – depósito, quanto entregas urbanas, especialmente para os clientes que fazem pedidos com carga completa (exemplos: atacadistas, hipermercados e pequenas redes). A Distribuidora S/A vêm adotando o modelo VUC para atendimento às áreas urbanas de São Paulo, onde existe a área de Restrição, conforme indicado no item 4.3 do referencial teórico e em outros centros urbanos como Rio de Janeiro e Porto Alegre. Abaixo a figura 14 mostra o modelo utilizado. 64 VUC é um tipo de veículo que estará cada vez mais presente nos grandes centros urbanos brasileiros. Ainda não existe uma legislação única no Brasil, mas algumas cidades já vêm se adiantando (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre) e criando restrições às dimensões de caminhões na circulação nas cidades. Figura 14 - Caminhão VUC utilizado em áreas de restrição. Fonte: Site da Mercedes Benz (www.mercedes-benz.com.br) Este modelo de caminhão é bastante utilizado para os grandes centros urbanos, porém, existe um grande agravante no que se refere a segurança do usuário para a retirada de produtos do caminhão. Durante o período de estudo na Distribuidora S/A (dados coletados do ano de 2009), foram identificados diversos casos de acidentes por quedas de cima do caminhão no momento da descarga dos produtos o que mostra que existe uma grande oportunidade de melhoria nesta etapa da atividade. Este assunto será abordado na análise da gestão sobre segurança da Distribuidora S/A. 65 5.1.2 Ciclo do pedido da Distribuidora S/A Analisar o fluxo do pedido para as empresas de distribuição de bebidas, ajuda a entender as etapas da atividade da equipe de entrega para atender o nível de serviço exigido. O fluxo a seguir, foi adaptado da tese “Aplicação da gestão baseada em atividades à distribuição urbana de bebidas” PEREIRA, 2008, para identificar o ciclo do pedido da Distribuidora S/A. A entrada de um pedido pode ocorrer da visita de um vendedor ao ponto de venda ou por uma ligação do cliente. PEREIRA, 2008, mostra que o cliclo do pedido pode se comportar por fluxo de materiais ou de informações. Ele divide esse ciclo em 5 etapas: Preparação do pedido; Transmissão do pedido; Entrada do pedido; Atendimento do pedido e Fechamento do pedido. Cada uma dessas etapas pode ser detalhada conforme fluxograma das figuras 15, 16 e 17 logo abaixo: Início Preparação Preparação do do Roteiro Roteiro Visitar Visitar clientes clientes Coletar Coletar pedidos pedidos Transmissão Transmissão do do pedido pedido 11- Preparação Preparação do do Pedido Pedido 11 22- Transmissão Transmissão Figura 15 - Etapa 1 e 2 do ciclo do pedido Fonte: Fonte: Adaptado da tese de PEREIRA,(2008). PEREIRA, 2008, destaca cada fase deste ciclo e na primeira etapa sinaliza a preparação do roteiro de entrega, visitar cada um dos clientes em seu ponto de venda, e coletar os pedidos e a forma de pagamento dos produtos. A segunda etapa compreende a transmissão do pedido para o fornecedor e a entrada no sistema de processamento. A figura 18 mostra a terceira e quarta etapa do ciclo do pedido caracterizada pela “entrada do pedido” no sistema de processamento e pelo “atendimento do pedido” respectivamente. Os processos de decisão etapa de 66 entrada do pedido podem ser detalhados por: receber e avaliar o pedido, analisar o crédito do cliente e verificar a disponibilidade do estoque. Caso as etapas sejam atendidas a entrega é programada. O atendimento do pedido consiste em: Separar o produto par entrega, movimentar o produto, embalar o produto para entrega e consolidar a carga conforme roteirização. O fluxo de informação corre em paralelo com: Programação do transporte, definição das rotas de entrega e emissão do conhecimento de embarque. Após isso ocorre a montagem da carga, liberação do veículo, transporte ao cliente e entrega do pedido ao cliente. 11 3- Preparação Preparação do do Pedido Pedido 3- Receber Receber ee validar validar os os pedidos pedidos Analisar Analisar crédito créditodo do cliente? cliente? Disponibilida Disponibilida de de de de estoque? estoque? Sim Não Atualizar Atualizar cadastro cadastro Fluxo de materiais Fluxo de informação 22 Fluxo de materiais Reserva Reserva de de produto produto Não Pedido Pedido pendente pendente 4- Atendimento Atendimento do do pedido pedido 4- Sim 33 Separar Separar produtos produtos Separar Separar produtos produtos Montar Montar carga carga Movimentar Movimentar produtos produtos Movimentar Movimentar produtos produtos Liberar Liberar veículo veículo Embalar Embalar produtos produtos Embalar Embalar produtos produtos Transportar Transportar para para cliente cliente Consolidar Consolidar pedidos pedidos Consolidar Consolidar pedidos pedidos Entregar Entregar para para cliente cliente 33 44 Figura 16 - Etapa 3 e 4 do ciclo de pedido Fonte: Adaptado da tese de PEREIRA, 2008. 22 67 A última etapa, conforme PEREIRA, 2008, consiste no fechamento do pedido no sistema de processamento. O processo de decisão desta etapa consiste em: o cliente não aceitar os produtos ou o cliente aceitar os produtos. Para os casos de devolução dos pedidos, cabe ao ponto de venda sinalizar no verso da NF os motivos que o levaram a não receber os produtos. Caso o cliente aceite a mercadoria o cliente dá o aceite na NF e recebe a mercadoria. Completado a rotina de entrega o caminhão retorna para o CDD para ser descarregado e o motorista realizar a prestação de contas do dia e análise dos motivos de devolução de produtos e demais informações. Os motivos das devoluções serão analisados no item 5.4 das análises do custo de transporte. A figura 17 abaixo mostra a quinta etapa detalhadamente. Fechamento do do Pedido Pedido 55 -- Fechamento 44 Sim Cliente Cliente aceita? aceita? Pagamento Pagamento àà vista? vista? Não Sim Receber Receber valor valor NF NF Recolher Recolher embalagens embalagens vazias vazias Não Sim Cliente Cliente paga paga aa fatura fatura Retornar Retornar ao ao CDD CDD Prestar Prestar contas contas Atualizar Atualizar cadastro cadastro Figura 17 - Etapa 5 do ciclo de pedido Fonte: Adaptado da tese de PEREIRA, 2008 5.2 Identificação do problema Conforme apresentado anteriormente, a pontualidade e o atendimento aos prazos de entrega podem influenciar a empresa de forma competitiva 68 frente a seus concorrentes. Porém, diversos fatores influenciam negativamente esse cenário. A empresa estudada já possui um forte esquema operacional reconhecido mundialmente, mas que também sofre com alguns desperdícios que serão identificados a seguir. O fluxo de produto da Distribuidora S/A se comporta de acordo com o Macro fluxo abaixo. Abasteci mento Produção Informações de Programação Transportes Movimentação e Armazenagem Entrega Acompanha mento Controles Figura 18 - Macro fluxo da Distribuidora S/A. Fonte: O próprio autor Abastecimento Produção Fase onde os insumos são entregues nas unidades produtivas. Fase de fabricação dos produtos nas unidades produtivas. Informações de Integração das informações de Vendas para Programação programação da demanda de produção. Fase chamada de “Puxada”, que identifica o transporte Transporte da carga em caminhões pesados para os Centros de Distribuição. Movimentação e armazenagem Entrega Movimentação da carga dentro do armazém do Centro de Distribuição. Fase de preparação da carga para entrega ao cliente. Distribuição da carga em caminhões de frota com baú para acondicionamento palitizado da mercadoria. Monitoramento do transporte através de equipe de Acompanhamento transportes a fim de garantir os prazos e evitar devoluções. Controles Registro via sistema de coleta de dados durante a 69 conferencia da mercadoria no retorno de rota. Quadro 2 - Descrição do macro fluxo da Distribuidora S/A. Fonte: O próprio autor Conforme indicado no referencial teórico apresentado, o foco do estudo se restringe a fase de Entrega do produto, onde, através de uma análise qualitativa observou-se uma grande oportunidade de melhoria. A complexidade da fase de entrega do produto deve ser avaliada através do nível de serviço oferecido ao cliente quando vencida uma série de variáveis para o deslocamento urbano, que pode ser destacada pelo aumento significativo da complexidade da distribuição física devido a um conjunto de fatores, entre eles: - Aumento e dispersão do número de clientes em malhas viárias cada vez mais congestionadas; - Aumento significativo das restrições à mobilidade e acessibilidade de caminhões nos grandes centros urbanos; - Aumento da variedade do mix de produtos; - Maior competição de mercado, ocasionando uma busca por reduções de custos, tais como a otimização da entrega; - Aumento de riscos, como roubos de carga e, por fim; - Carga de trabalho excessiva de motoristas e ajudantes de entrega com alta ocorrência de acidentes do trabalho; Para um melhor direcionamento do estudo, as analises estarão centradas nos impactos dos congestionamentos nas malhas viárias e no estudo dos acidentes de trabalho para esse grupo de trabalhadores. 70 Um ponto bastante importante para esse estudo é o comportamento de vendas do setor, que se dá por uma grande sazonalidade, com o aumento do consumo nos períodos de verão e uma baixa no inverno. Analisar esse evento é importante, pois, ele evita um mal dimensionamento da frota nos períodos de baixa ou um sub-dimensionamento da frota para os períodos de alta. Neste sentido, NUNES; JÚNIOR (2006) citam o conceito de sazonalidade evitável, aquela produzida por ações humanas (tais como promoções), e a inevitável, por exemplo, devido ao clima. Para cada caso, listam boas práticas pelas quais os efeitos das variações na demanda podem ser amenizados de modo a reduzir seu impacto nos custos operacionais. O gráfico abaixo mostra o comportamento do mercado de bebidas frente a uma sazonalidade inevitável provocado pela baixa no volume vendido no inverno e pela alta nos períodos de verão. Figura 19 - Sazonalidade do mercado de bebidas. Fonte: Adaptado de Noves e Junior (2006). A Distribuidora S/A possui um plano bastante eficaz para evitar o subdimensionamento da frota para os períodos de “picos de vendas” denominado de “Plano verão” que pode ser destacado aqui como uma boa prática. Esse plano visa estabelecer regras para os períodos críticos de Outubro a Fevereiro, conforme apresentado na figura 19 com o intuito de preparar a equipe de 71 vendas e distribuição para o atendimento ao mercado. Dentro do plano é requisito fundamental que a equipe de vendas esteja preparada para algumas restrições que ajudam a minimizar os impactos causados por essa sazonalidade, como orientar os Pontos de Vendas quanto a liberação de pedidos com uma certa margem, por exemplo, um limite pré-determinado de e uma quantidade mínima de produtos a ser vendida. Isso ajuda no dimensionamento da frota e roteirização dos caminhões. É bastante comum para as empresas de bebidas o uso de “agregados” ou especificamente, mão-de-obra terceirizada para compor a frota de caminhões necessária para atendimento da demanda. Um dos grandes fenômenos analisados de maior impacto neste período de sazonalidade, diz respeito aos acidentes de trabalho, pois, como já avaliado anteriormente, contribui significativamente para o atraso nas viagens e para a diminuição do quadro de profissionais para atendimento ao mercado que por muitas vezes têm um aumento significativo de sua carga de trabalho nestes períodos de picos. Habitualmente um caminhão de entrega sai do Centro de Distribuição com um motorista e dois ajudantes e realizam apenas uma rota de entrega. Durante visita em uma das unidades de distribuição, foi verificado que um único caminhão realizaria duas rotas de entrega para atender a demanda programada de entrega para o dia, aumentando em 4 horas a jornada de trabalho da equipe de entrega. Durante a pesquisa realizada in loco com dez equipes de entrega ou 30 funcionários, foi destacado que a jornada de trabalho excessiva é o principal motivo de insatisfação entre os profissionais dessa categoria. Esta análise será abordada novamente na análise da gestão sobre segurança e saúde. 5.3 Análise da gestão sobre segurança e saúde no trabalho O estudo da gestão de segurança das empresas de transporte de cargas se faz necessário para analisar os impactos causados pelos acidentes 72 do trabalho em uma operação de distribuição de cargas. O mapa de raciocínio apresentado no capitulo 2 quanto a metodologia do trabalho, ajuda a demonstrar como esse assunto será abordado. Na figura 20 o quadro em amarelo demonstra onde esta fase do estudo de caso está enquadrada. Hipótese Identificação do problema Análise das causas Propostas Avaliação Custo dos acidentes de trânsito Soluções para diminuição do risco Acidentes de Trabalho Custo dos acidentes pessoais Impactos na Distribuição de cargas Ligação dos pontos Devolução de mercadorias Melhores alternativas em transportes Atrasos de viagem Custo do trânsito Figura 20 - Mapa de raciocínio Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. Os acidentes de trabalho, em geral, causam um impacto significante na produtividade das empresas, porém, quantificar o quanto essa perda é realmente significante e como esses acidentes acontecem, ajudará a tornar o assunto cada vez mais discutido dentro das empresas de distribuição de bebidas em áreas urbanas e buscar cada vez mais, melhores alternativas para minimizar os riscos da atividade. 5.3.1 Análise das ocorrências de acidentes na Distribuidora S/A Os dados da Distribuidora S/A mostram que os acidentes do trabalho, acumulado de janeiro até o mês de outubro de 2009, envolvendo suas 73 empresas parceiras configuram o principal problema no que se refere à gestão de segurança e saúde da empresa. Conforme a figura 21 abaixo, os acidentes com funcionários terceirizados representam 60% das ocorrências da empresa. Ocorrências de acidente 12% 28% 60% Terc eiros Próprios Promotores Figura 21 - Ocorrência de acidentes na Distribuidora S/A em 2009 Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. Conforme já apontado na identificação da empresa, o seu número de funcionários é bastante amplo, e o quadro de funcionários terceirizados representa 53% do quadro total de funcionários. De um total de 22.800 funcionários, 12.000 são terceirizados e 10.800 são próprios. Os promotores são destacados em separado no gráfico acima, pois, eles passaram a fazer parte do quadro de funcionários próprio da empresa no final do ano de 2008, quando por uma estratégia operacional da Distribuidora S/A, esses 2.800 profissionais que efetuam a reposição dos produtos nas gôndolas do supermercado que antes eram contratados por uma agência, a partir de 2008, passaram a fazer parte do quadro de funcionários também, segundo dados coletados da pesquisa in loco. Uma importante análise para identificar melhor o problema, refere-se a relatividade do número de ocorrências com o quadro de funcionários da Distribuidora S/A. Conforme apresentado na figura 22 abaixo, a taxa de ocorrências de acidentes com funcionários terceirizados é de 2,04% do quadro de funcionários, ou seja, 245 pessoas tiveram alguma ocorrência com lesão temporariamente incapacitante que o tirou da jornada de trabalho habitual. 74 Ocorrências / Quadro de funcionário 2,50% 2,04% 2,00% 1,79% 1,44% 1,50% Terc eiros Próprios 1,00% Promotores 0,50% 0,00% Terc eiros Próprios Promotores Figura 22 - Relatividade das ocorrências de acidentes pelo quadro de funcionários. Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. Uma análise mais profunda sobre as ocorrências com terceiros, mostra que aproximadamente 88% destas estão relacionadas às empresas de transporte de cargas, na fase de distribuição para os pontos de vendas as demais ocorrências estão ligadas à fase de manuseio das mercadorias dentro dos armazéns com 9% das ocorrências e outras 3% estão relacionadas a outros tipos de ocorrências que não estão ligadas diretamente às operações logísticas, como, manutenção predial ou serviços de vigilância. É o que mostra a figura 23 abaixo. Ocorrências de acidente 9% 3% Distribuiç ão 88% Armazém Outros Figura 23 - Ocorrências de acidentes com terceiros por área Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. 75 A Distribuidora S/A divide suas operações em oito diretorias regionais conforme o mapa da figura 24 abaixo. Nele é possível identificar o percentual de ocorrências para cada região do país de acordo com a distribuição geográfica da empresa estudada. É possível perceber também que a operação de São Paulo é divida em São Paulo Capital (SPC) e São Paulo Interior (SPI), isso ocorre por uma decisão estratégica da Distribuidora S/A para facilitar o fluxo de sua operação logística. CO – 10% 7% NO 8% NE MG/ES 9% RJ – 18% SPC – 21% PR/SPI – 11% RS/SC – 16% Figura 24 - Mapa de divisão das diretorias regionais da Distribuidora S/A com percentual de ocorrências. Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. É importante destacar a participação de cada região dentro das ocorrências com funcionários da distribuição, conforme figura 25 abaixo, onde a região de São Paulo capital representa 21% do total de acidentes e justifica o foco da análise. 76 Ocorrência na Distribuição por Região 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 120% 45 100% 33 32 28 64% 93% 25 76% 100% 80% 86% 60% 21 16 51% 15 36% 40% 20% 21% 0% SPC RJ RS/SC PR/SPI MG/ES NO NE CO Figura 25 - Ocorrência de acidentes na distribuição de bebidas por região. Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. Os dados da empresa mostram que o seu quadro de funcionários terceirizados está em sua maioria, diretamente ligado a atividade de distribuição de cargas. Durante a fase de coleta de dados da pesquisa o quadro de funcionários terceirizados presentes na área distribuição de bebidas era de aproximadamente 10.300 funcionários ou aproximadamente 85% do quadro total de funcionários terceiros da Distribuidora S/A. A região de São Paulo Capital representa quase 20% do total do quadro de funcionários na distribuição de bebidas. Isso ocorre por conta da alta representatividade da região dentro do volume de vendas da empresa. A diretoria regional São Paulo Capital, possui 2 grandes Centros de Distribuição com uma forte estrutura logística e uma frota de 450 caminhões localizados nas regiões de Diadema e Mooca, dois grandes centros urbanos que se diferem das demais regiões do país, por seu alto volume comercializado e sua alta capacidade de atendimento a demanda. Para uma análise mais detalhada é importante destacar que esses dois grandes centros de distribuição são atendidos por 3 parceiros logísticos. A transportadora Imediato e a Binotto em Diadema e a transportadora Fadel e Binotto na Mooca. A Binotto é um forte parceiro logístico da Distribuidora S/A e está nas duas operações da região de São Paulo. Na figura 26 é possível 77 avaliar a distribuição das ocorrências de acidentes de trabalho na distribuição de bebidas divididos por CDD e por transportadora. Ocorrência por transportadora em São Paulo 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 16 12 9 8 Imediato Binotto Diadema Fadel Binotto Mooca Figura 26 - Ocorrências em SP no ano de 2009 por Transportadora Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. De acordo com os dados coletados as duas principais operações da Distribuidora S/A, apresentam também o principal problema em número de ocorrências por acidentes do trabalho com lesão incapacitante que serão analisadas no item 5.3.2. O estudo apresentado no item 4.2 da Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional sobre a teoria de Franck Bird, mostra que as ocorrências de ordem ocupacional possuem uma série estatística e que podem ser evitadas, quando trabalhadas em seu eixo comportamental ou diminuindo os chamados incidentes. Este estudo demonstra que as ocorrências com lesões incapacitantes, aquelas que tiram o profissional de sua atividade, são apenas uma pequena parte do problema, como apresentado por Franck, 2007 “os acidentes com afastamento, são apenas a ponta do iceberg”. Conforme observado na pesquisa in loco, os acidentes leves com a equipe de distribuição ou aqueles que não causam lesão grave e o funcionário não precisa se deslocar de seu local de trabalho, muitas vezes não são comunicados pelos funcionários à sua gerência e quando são comunicados já possuem uma certa gravidade e o 78 funcionário acaba ficando muitas vezes mais de 15 dias em afastamento para tratamento da lesão. A figura 27 abaixo mostra como se comportou os dias perdidos com o total dos acidentes de cada transportadora na operação de São Paulo. Dias perdidos com acidentes por transportadora 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 456 261 256 Imediato Binotto 416 Fadel Diadema Binotto Mooca Figura 27 - Dias perdidos com acidentes das Transportadoras de São Paulo Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. Avaliar o total de dias perdidos com os acidentes é de suma importância para cálculo do custo com os acidentes que serão apresentados no item 5.3.3. Conforme já apresentado a equipe de entrega é constituída por um motorista e dois ajudantes. A figura 28 abaixo mostra como esses dias perdidos se comportaram em cada uma das funções 79 Dias perdidos por função da equipe de entrega 839 900 800 700 600 550 500 400 300 200 100 0 Motorista Ajudante Figura 28 - Dias perdidos com acidentes de trabalho com a equipe de distribuição Fonte: Dados coletados na pesquisa in loco. Os dados apresentados mostram que 60% do tempo perdido com acidentes de trabalho da Distribuidora S/A ocorrem com os ajudantes de distribuição e os outros 40% com os motoristas de caminhão. Uma análise importante refere-se aos dias perdidos com os motoristas, pois, quando esses profissionais se afastam o caminhão fica parado até que um segundo motorista vá até o local para prosseguir viagem o que pode demorar até duas horas dependendo do local do acidente, acarretando em atrasos de viagem e muitas vezes devolução do pedido por conta do horário de atendimento do ponto de venda. 5.3.2 Análise das causas dos acidentes na entrega de produtos Para analisar as causas dos acidentes na atividade de entrega de produtos é importante identificar o processo da atividade realizada pelo Motorista e pelos dois Ajudantes de entrega conforme figura 29 abaixo. 80 Início Chegada a unidade Assistir Assistir matinal matinal de de entrega entrega Recebe Recebe Nota Nota ee mapa mapa de de entrega entrega Conferência Conferência do do caminhão. caminhão. Conferência Conferência do do caminhão. caminhão. Não Existe local disponível? Sim Segue Segue para para oo próximo próximo PDV PDV Não Existe local disponível ? Procura Procura local local para para estacionar estacionar Saída Saída com com caminhão caminhão para para aa rota rota programada programada Sim Para Para oo caminhão caminhão Efetua Efetua aa descarga descarga do do caminhão caminhão Levar Levar produto produto até até oo PDV PDV FIM Figura 29 – Fluxograma do processo de entrega em trânsito da equipe de entrega. Fonte: Mapeamento realizado em uma saída com a equipe de entrega na visita in loco. Todos os Motoristas e Ajudantes da transportadora participam da “Matinal de Entrega” antes de sair para a sua rotina de entrega. Neste momento é transmitido para a equipe todas as informações necessárias para a rotina diária como dados sobre quantidade de entrega, volume de vendas do dia anterior para ser entregue no dia e informações de segurança. Após a matinal de entrega o motorista recebe o mapa da rota a ser realizada com as notas fiscais e confere a carga no caminhão. Em seguida realiza uma inspeção no caminhão para avaliar as condições de manutenção do caminhão e sai para realizar as entregas, Uma das etapas críticas realizadas na fase de trânsito da mercadoria refere-se à procura por um local de estacionamento do caminhão. Através do fluxograma, é possível avaliar uma fase bastante crítica no processo de decisão do motorista, no momento em que ele não encontra um local para estacionar. Sempre que isso ocorre, o motorista segue para o próximo PDV e procura um novo local para parar, o que é bastante coerente, dado que as 81 rotas de entregas são programadas via roteirizadores e os PDVs, normalmente estão próximos um dos outros o que facilita a entrega dos produtos para a equipe, pois, ela consegue finalizar a entrega em mais de um ponto de venda em apenas uma parada. A descarga do caminhão é realizada pelo motorista e pelo ajudante e a carga é colocada em um carrinho que auxilia no transporte dos produtos até o ponto de vendas. O fluxograma do processo de entrega ajuda a entender as principais causas de acidentes das empresas de distribuição de cargas da Distribuidora S/A. A figura 30 abaixo mostra as causas dos acidentes relacionados à equipe de entrega no período de 2009. Causas das Ocorrência na Distribuição 80 120% 72 70 100% 60 88% 50 62% 40 32 30 20 29 94% 100% 80% 82% 74% 60% 26 40% 48% 17 33% 14 13 12 20% Atropelamento funcionário Acidente de trânsito 0% Atropelamento empilhadeira Falha no fechamento/abertura da baia do caminhão Falha no transporte manual de cargas Estouro de garrafa Falha no descarregamento de produtos 0 Piso irregular 10 Figura 30 – Causas de acidentes na entrega de produtos da Distribuidora S/A no Brasil. Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco Quando observamos apenas a região de São Paulo, o foco do problema continua o mesmo, porém, a causa de Atropelamento do funcionário passa a aparecer como a quarta causa de maior freqüência, conforme figura 31 abaixo. 82 Causas das Ocorrência na Distribuição 16 120% 14 14 100% 12 91% 10 8 8 64% 96% 100% 80% 84% 78% 7 60% 6 6 40% 49% 4 3 3 2 31% 2 20% Acidente de trânsito Falha no fechamento/abertura da baia do caminhão 0% Atropelamento empilhadeira Estouro de garrafa Atropelamento funcionário Falha no transporte manual de cargas Falha no descarregamento de produtos 0 Piso irregular 2 Figura 31 - Causas das ocorrências com Transportadoras de São Paulo Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco Esta análise direciona os esforços da operação de São Paulo para entender como os acidentes na distribuição de cargas nos centros urbanos ocorrem. Conforme as causas identificadas as “Falhas no descarregamento de produtos” durante a fase retirada dos produtos do caminhão aparecem como a principal causa do problema, seguido pelas “Falhas no transporte manual” das mercadorias para entrega no PDV e “Atropelamento do funcionário” na fase da retirada dos produtos do caminhão onde as portas estão viradas para a rua. Utilizando o diagrama de causa e efeito ou diagrama de Ishikawa, é possível identificar os motivos das principais ocorrências de acidentes conforme figuras 32, 33 e 34 a seguir. Segundo os dados coletados da pesquisa e entendimento do processo de distribuição de produtos é possível identificar que a falha no transporte de produtos ocorre por três fatores: Levantamento excessivo de carga, que ocorre quando o motorista ou o ajudante de entrega tentam manusear mais do que uma caixa de produto e acaba caindo. Procedimento inadequado ao descer do 83 caminhão com a carga e acaba torcendo pisando em buracos ou desníveis em calçada levando a uma torção no pé. Por falta de espaço e apoio nos caminhões para realizar a manipulação dos produtos na baia4 e retira-las para entrega. O diagrama na figura 32 mostra detalhadamente essas causas. Pressa (pular do caminhão, pisar de mau jeito, escorregar no degrau, perder o equilíbrio, etc) Não observar o entorno antes de descer c/ a carga (boca de lobo, piso irregular, meio fio, buraco, piso molhado, etc.) 1.2 Procedimento inadequado ao descer do caminhão com a carga Queda de garrafeira sobre outro ajudante 1.3 Levantamento excessivo de carga 1 Falha no descarregamento de produtos 1.5 Procedimento inadequado ao retirar as garrafeiras do caminhão Falta de espaço e apoio nos caminhões para manipulação da carga no interior da baia Ausência de proteção coletiva plataformas, alças de apoio, etc Figura 32 - Detalhamento das causas dos acidentes por Falha no descarregamento. Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco A segunda causa dos acidentes com transporte de cargas nos centros urbanos ocorre pela falha no transporte manual dos produtos para o ponto de vendas. Essas causas podem ser divididas em quatro fatores. O primeiro está relacionado ao levantamento excessivo da carga. 4 Baia é a área da carroceria do caminhão onde ficam alocadas as cargas. 84 Não utilização do carrinho Levantamento excessivo de carga Levantamento incorreto da carga do chão 3 Falha no transporte manual de cargas Piso irregular (ponte de madeira, buracos, calçamento inadequado) Não utilização do carrinho Figura 33 - Detalhamento das causas dos acidentes por Falha no transporte manual de cargas. Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco Ajudante posicionado no ponto cego do caminhão Pelo próprio caminhão 8 Atropelamento funcionário P/ veículo de terceiro Posicionamento do funcionário em área de trânsito de veículos Durante o descarregamento de produtos Posicionamento de parada inadequado (próximo a esquinas, no meio Ao atravessar a rua Ao descer do caminhão (motorista) Figura 34 - Detalhamento das causas dos acidentes por Atropelamento do funcionário Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco As três principais causas analisadas ajudam a entender a carga de trabalho da equipe de distribuição de bebidas e mostram que existe uma falha grande com relação ao modelo dos caminhões utilizados. A principal causa de acidentes tanto no Brasil quanto na região de São Paulo está relacionada ao momento da descarga dos produtos do caminhão. A análise mostra que um 85 dos motivos que levam a esse tipo de ocorrência, refere-se às altura do apoio para a retirada dos produtos do caminhão. Quando o motorista ou o ajudante precisa retirar os produtos, ele precisa subir na carroceria do caminhão sem nenhum tipo de apoio. Essas condições favorecem as ocorrências. 5.3.3 Análise do custo dos acidentes das Transportadoras A análise do custo médio de um acidente para a Distribuidora S/A levou em consideração a análise da Health and Safety Executive (HSE) extraído do artigo da CEG-IST Centro de Estudos de Gestão do Instituto Superior Técnico, mencionado no item 4.7 deste trabalho. A Distribuidora S/A dentro do seu fluxo de atividades possui um processo detalhado para acompanhamento e investigação das ocorrências de acidentes com a equipe de entrega. Esse processo conta com a participação da equipe de Segurança do trabalho da transportadora, dos Supervisores de distribuição, do Gerente de Recursos Humanos e em algumas vezes equipe de apoio administrativo, como Analistas de recursos humanos. Sempre que um acidente ocorre, duas pessoas acabam indo para o local para colher dados que ajudam a compreender a natureza da ocorrência. O Supervisor de Distribuição e o Técnico em Segurança do Trabalho. Esses dois profissionais auxiliam no encaminhamento da vitima ao Hospital e tomada de decisões para a recuperação da atividade, como por exemplo, solicitar a presença de mais um ajudante ou um outro motorista para que a rotina de entrega continue. O processo de investigação de uma ocorrência pode durar até mais do que uma semana, dependendo da gravidade da situação, despendendo tempo do Técnico de Segurança e do Supervisor de Distribuição para acompanhamento desse processo. O fluxograma da figura 35 abaixo ajuda a compreender o processo de como ocorre o acompanhamento dos acidentes da 86 Distribuidora S/A desde o momento em que chega a comunicação do acidente na empresa até a fase de encaminhamento do funcionário e atendimento medido. Início Receber Receber comunicado comunicado de de Acidente Acidente Reunião Reunião de de avaliação avaliação da da investigação investigação Emitir Emitir relatório relatório de desalários salários ee CAT CAT Resgatar Resgatar ee atender atender aa vítima vítima Funcionário Funcionário Recebeu Recebeu alta? alta? Afastamento Afastamento >> 15 15 dias? dias? Sim Sim Alta Alta Validada? Validada? Não Fim Programar Programar retorno retorno junto junto ao aoMédico Médico Comunicar Comunicar Gestor Gestor ee aguardar aguardar nova nova perícia perícia Encaminhar Encaminharpara para Responsável Responsável médico médico Validar Validar Não Sim Não Orientar Orientar funcionário funcionário Não Sim Encaminhar Encaminhar acidentado acidentado ee CAT CAT para para responsável responsável Serviço Serviço Médico Médicoou ou Empresa Empresa Contratada Contratada Investigar Investigar oo acidente acidente ocorrido ocorrido no no local local ÉÉ acidente acidente de de trabalho? trabalho? Encaminhar Encaminhar para para INSS INSS Iniciar Iniciar procedimento procedimento de de investigação investigação detalhada detalhada do do acidente acidentecom com os os gestores. gestores. Comunicar Comunicar Gestor Gestor previsão previsão do do retorno retorno Comunicar Comunicar Gestor Gestor ee Departamento Departamento Pessoal/Contabilidade Pessoal/Contabilidade Fim Figura 35 - Fluxograma de acompanhamento de acidentes da Distribuidora S/A. Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco Após o recebimento da comunicação de uma ocorrência o Técnico de Segurança e o Supervisor de Distribuição, seguem ao local do acidente para iniciar a fase de investigação analisando o local da ocorrência. O resgate a vitima é realizado pelo Supervisor de Distribuição, encaminhando o funcionário acidentado para o Hospital mais próximo. Em muitos casos é necessário encaminhamento do funcionário até uma delegacia para realizar um Boletim de Ocorrência, isso ocorre sempre que existe um acidente de trânsito com danos ao caminhão ou em acidentes por atropelamento com lesão ao funcionário. Após a etapa de acompanhamento do acidentado e procedimentos burocráticos de encaminhamento médico e boletim de ocorrência em delegacia, inicia-se o processo de investigação propriamente dito. Isso implica dizer que o acidente será analisado por uma comissão de investigação, 87 normalmente comporta por, um Gerente de Recursos Humanos, pelo Técnico de Segurança do Trabalho e pelo Supervisor de Distribuição. Nesta comissão serão avaliadas todas as causas que levaram ao acidente e as propostas de melhoria para prevenir novas ocorrências. Para calculo do custo do acidente é preciso calcular o tempo despendido de todos os profissionais envolvidos na ocorrência, desde o momento do acidente, até o momento do retorno desse profissional à sua atividade. A tabela 8 abaixo, ajuda a compreender o custo por hora de cada profissional envolvido no fluxo de acompanhamento do acidente mencionado anteriormente. Tabela 8 - Cargos e salários dos profissionais envolvidos Função MOTORISTA AJUDANTE SUPERVISOR TÉCNICO DE SEGURANÇA GERENTE RH Horas Trabalhadas Salário (R$) (Mês) / Mês 220 R$ 1.200,00 220 R$ 750,00 220 R$ 2.100,00 220 R$ 1.900,00 220 R$ 3.100,00 Salário (R$)/ Dia R$ 5,45 R$ 3,41 R$ 9,55 R$ 8,64 R$ 14,09 Fonte: Dados fornecidos pela Distribuidora S/A. Os dados para construção do custo de um acidente foram fornecidos pela Distribuidora S/A e a memória de cálculo do custo do acidente foi construída através de entrevistas com a equipe de entrega e com a equipe da transportadora. Cabe ressaltar que o custo de um acidente varia bastante dependendo da gravidade da ocorrência e da perda material envolvida. Um acidente com tombamento do caminhão, por exemplo, pode ter proporções de perdas altamente significantes para as transportadoras. A Tabela 9 abaixo apresenta os custos levantados com o acompanhamento dos acidentes de trabalho. O levantamento foi realizado com base no custo para um acidente de gravidade moderada com um ajudante de entrega. 88 Tabela 9 - Custo médio dos acidentes com equipe de entrega. Descrição do custo 1. Gestão imediata do acidente 1.1. Primeiros socorros 1.2. Levar o trabalhador acidentado para o hospital/casa 1.2.1. Custo de transporte 1.2.2. Custo salarial da pessoa que acompanha o acidentado 1.2.3. Custo salarial da pessoa que fica com o acidentado 1.2. Tornar a área segura 1.2.1. Envio da equipe de sinistro 1.2.2. Resgate até o local 1.3. Custo dos trabalhadores que deixam de trabalhar 1.3.1. Motorista 1.3.2. Ajudante 2. Investigação do acidente 2.1. Tempo utilizado a relatar e a investigar o acidente 2.1.1. Tempo administrativo 2.1.2. Tempo para o relatório 2.1.3. Tempo de investigação 2.2. Reuniões para discutir o acidente 2.2.1. Reuniões dos gestores da empresa 3. Reiniciar a actividade 3.1. Reorganização da actividade 3.1.1. Tempo do gestor e do responsável 3.2. Limpeza do local do acidente 3.2.1. Custo de material danificado 4. Custos do negócio 4.1. Custo com os salários do trabalhador acidentado 4.2. Custo dos trabalhadores que substituem 4.3. Perda de tempo de trabalho 4.3.1. Horas extras pagas pelo aumento da jornada 4.3.2. Valor dos produtos e serviços não efectuados 4.4. Custos de recrutamento de novos trabalhadores 4.4.1. Custos das agências de trabalho temporário 4.4.2. Custos administrativos do recrutamento 4.4.3. Custos de formação CUSTO TOTAL R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ Cálculo 184,09 144,55 19,09 90,91 34,55 12,95 12,95 26,59 16,36 10,23 250,45 185,91 34,55 53,64 97,73 64,55 64,55 63,49 19,09 19,09 44,40 44,40 2.625,91 51,14 51,14 2.244,55 24,55 2.220,00 279,09 80,00 28,18 170,91 3.123,95 Fonte: Adaptado da Health and Safety Executive (HSE), com dados in loco. Com base no levantamento realizado o custo com acidente chegou ao valor de R$3.123,95. A análise observou ainda que esse custo pode aumentar dependendo da gravidade e da perda material envolvida. A pesquisa levou em consideração que os funcionários da transportadora trabalham em média 220 horas por mês. Acidentes que envolvem colisão ou tombamento do caminhão acabam com um custo elevadíssimo, pois, geram a perda de todos os produtos do caminhão. Acidentes com o motorista do caminhão em geral custam mais para a Dsitribuidora S/A, pois, nestes casos é preciso que um motorista reserva assuma a atividade na hora da ocorrência. Porém, isso nem sempre é possível, por conta da falta desse profissional. 89 5.3.4 Medidas de ação para conter os acidentes Após o trabalho de pesquisa, foi elaborado em conjunto com a Distribuidora S/A, um plano de ação para minimizar os impactos causados pelos acidentes de trabalho. Este plano está direcionado para a realidade da operação de distribuição de cargas e visa diminuir as lacunas encontradas durante a fase de pesquisa nas três principais causas identificadas na análise das causas. O Quadro 3 abaixo ajuda a mostrar como o Plano de Ação está direcionado. CAUSA P O QUE Criar Manual de Segurança para Distribuição Falha no transporte manual Padrão Transporte Manual de Cargas de cargas Falha no descarregamento de produtos COMO (PLANEJAMENTO DA AÇÃO) Elaborar manual com ações ocrretivas para condições inseguras e Análise de risco de cada atividade desenvolvida pela equipe de entrega. Elaborar padrão com regras para transporte manual de cargas e uso da cinta lombar Mandamentos de Segurança p/ Distribuição Elaborar mandamentos de segurança para a distribuição e enviar ao campo. Desenvolver proteção coletiva nos caminhões Realizar estudo para instalação de plataforma, alças de apoio, material antiderrapante no piso da baia, cintas de fechamento das baias ou escadas de acesso ao caminhão. Garantir proteção a equipe de entrega no descarregamento Disponibilizar para cada caminhão de entrega, cones de sinalização para ser colocado na parte lateeral do caminhão, inibindo que outros veículos passem muito próximos da área de descarregamento do caminhão. Revisar Equipamentos de Proteção Adequar calçados de segurança e Luvas de proteção para equipe de Logística Garantir proteção da equipe de entrega no descarregamento Disponibilizar para cada caminhão de entrega, cones de sinalização para ser colocado na parte lateeral do caminhão, inibindo que outros veículos passem muito próximos da área de descarregamento do caminhão. Desenvolver proteção coletiva nos caminhões Realizar estudo para instalação de equipamento de sinalização na carroceria do caminhão de alerta de parada, a fim de desviar o trânsito de veículos da área de descarregamento. Atropelameto do Funcionário Quadro 3 - Plano de ação para as causas de acidentes da transportadora Fonte: O próprio autor Cabe ressaltar que as ações são apenas um norteador para as empresas de distribuição de bebidas. Elas não neutralizam por completo a ocorrência de um acidente, mas podem ser entendidas como uma das formas de mitigá-los. 90 As causas de atropelamento foram avaliadas como um dos maiores riscos aos trabalhadores e merece ser observada em detalhe para o desenvolvimento de uma ação conjunta com as montadoras de caminhão a fim de identificar a melhor alternativa para neutralizar esse risco. Após a divulgação do plano para as transportadoras, todos os caminhões começaram a utilizar cones para a etapa de descarga do caminhão. 5.4 Gestão da distribuição de cargas A análise da gestão da distribuição de cargas da Distribuidora S/A ajuda a compreender como os atrasos na entrega, impactam no desempenho de uma empresa de distribuição de cargas. As restrições à circulação de caminhões imposta pelo estado a fim de minimizar o grande congestionamento nas vias urbanas de São Paulo têm causado grandes impactos nas empresas de transporte de cargas. Analisar como as medidas de restrição somada ao grande número de acidentes com a equipe de distribuição de cargas influenciam as empresas de transporte ajudará a buscar medidas alternativas que minimizem esses impactos. Conforme já abordado, o atraso na entrega pode ser causado pelos acidentes de trabalho e pelo alto congestionamento nas vias. O mapa de raciocínio da figura 36 abaixo ajuda a entender onde esta análise está localizada. 91 Análise das causas Identificação do problema Hipótese Propostas Avaliação Custo dos acidentes de trânsito Acidentes de Trabalho Soluções para diminuição do risco Custo dos acidentes pessoais Impactos na Distribuição de cargas Ligação dos pontos Devolução de mercadorias Melhores alternativas em transportes Atrasos de viagem Custo do trânsito Figura 36 - Mapa de raciocínio, atrasos na entrega Fonte: O próprio autor 5.4.1 Impactos das restrições de circulação para a Distribuidora S/A As medidas impostas pelo impostas pelo poder público quanto às restrições no transporte de mercadorias nos centros urbanos visam um melhor fluxo do trafego e uma maior organização deste. As medidas de restrições impostas para a cidade de São Paulo para o transporte de cargas devem ser encaradas como uma das formas de resolver os problemas de congestionamentos e de circulação que os caminhões causam nas vias de modo a facilitar o abastecimento aos centros comerciais. Por outro lado, qualquer restrição do poder pública implica em conseqüências imediatas para as empresas do setor que requer adaptação desde o tipo do veículo de carga utilizado no transporte até o fluxo logístico empregado para roteirização das entregas que impactam nos custos diretos de distribuição. Os Gerentes de operações da Distribuidora S/A, afirmam ter buscado alternativas para adaptar a operação as restrições e descrevem algumas 92 dificuldades que foram percebidas durante o processo de adaptação, conforme a seguir: 1. Queda no nível de serviço, por conta da dificuldade encontrada para dimensionamento e roteirzação da frota. Algumas áreas ficaram descobertas por um período longo o que elevou o nível de insatisfação dos clientes. 2. Aumento de devoluções, por conta dos atrasos na entrega ou não cumprimento dos horários de atendimento dos clientes. 3. Aumento do número de multas, devido à circulação dos caminhões em áreas restritas e por estacionamento em locais proibidos. 4. Aumento do tempo de viagem dos caminhões devido aos bloqueios e restrições de trânsito impostas pela legislação. Neste aspecto o estudo procurou identificar, quantitativamente, os principais aspectos referentes ao aumento de custos para a Distribuidora S/A nos Centros de Distribuição de São Paulo. A taxa de Devolução representa o percentual de entregas, cuja mercadoria acaba retornando para o CDD após a NF ter sido emitida. Nos dados coletados durante a pesquisa, observou-se um aumento significativo da taxa de devolução no período de Maio à Dezembro de 2008. Isso é reflexo do impacto das medidas de restrição na cidade de São Paulo. A figura 37 mostra esse impacto. 93 5,00% 4,50% 3,6% 4,00% 3,50% 3,00% 3,8% 3,6% 3,5% 3,8% 3,7% 3,7% 3,2% 3,2% 3,1% 2,8% 2,6% 2,50% 2,1% 2,1% 1,9% 2,00% 1,50% 3,6% 3,2% 1,2% 2,4% 2,8% 2,4% 1,4% 1,00% 0,50% et O ut S l Ag o Ju Fe v M ar A br M ai Ju n Ja n Se t O ut No v De z l go A Ju Fe v M ar A br M ai Ju n Ja n 0,00% Figura 37 - Taxa de devolução da Distribuidora S/A em São Paulo Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco Conforme mencionado no item 5.1.2 Ciclo do Pedido, quando um cliente não quer receber a mercadoria, ele deve informar no verso da NF o motivo da devolução. Para analisar as causas da devolução foi realizada uma estratificação das NF dos períodos de Outubro e Novembro de 2009 como amostragens. O resultado revelou que 38% dos motivos da devolução de mercadorias pelos pontos de vendas, foram causados por atrasos na entrega de produtos e outros 31% por conta de entregas fora do horário pré-estabelecido. Os atrasos de entrega são causados em clientes que mesmo não havendo restrição de horário, ou seja, atende em horário comercial, a entrega acabava não sendo realizada por não ter um responsável para atender a equipe de entrega ou o ponto de venda já estava fechado. A entrega fora do horário é causada especificamente em clientes que possuem restrição de horários de entrega ou horário pré-estabelecido para descarga de produtos. Os principais clientes com esse perfil são as pequenas redes de mini-mercados. Esse tipo de devolução normalmente está atrelada à roteirização de entrega errada ou demora do caminhão em chegar até o PDV devido ao trânsito ou acidentes com a equipe de entrega. A figura 38 abaixo, mostra a identificação das causas apuradas pela devolução. 94 8% Atraso na entrega 10% Entrega fora do horário 38% NF não c onfere Outros motivos 13% Pedido errado 31% Figura 38 - Motivos de devolução de pedidos. Fonte: Dados coletados da pesquisa in loco A Distribuidora S/A não possui dados que comprovem que os acidentes de trabalho acabam causando a devolução de mercadorias, porém, um acidente envolvendo um motorista de caminhão acaba atrasando ainda mais o roteiro de entrega e forçando as causas analisadas acima. 5.4.2 Análise do trânsito para a Distribuidora S/A O trânsito é indicado como um dos fatores principais para os atrasos de entrega que ocasionam a devolução de mercadorias. Quando analisado o histórico do trânsito em São Paulo é possível identificar que a curva do gráfico mostra um alto pico de trânsito quando da implantação da restrição aos caminhões (abril e maio de 2008) com uma leve redução em seguida nos meses de junho a setembro. Isso pode ser explicado pelo momento de adaptação das empresas ao enquadramento nas exigências legais. Esse fenômeno é apresentado na figura 39 abaixo. 95 167 180 147 160 152 156 162 150 140 138 128 140 154 146 140 133 126 123 116 120 100 140 141 91 89 131 104 117 100 105 80 86 60 40 141 52 103 93 91 90 91 102 89 84 82 47 102 106 89 84 47 46 20 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out 2008 2009 Manhã Tarde Figura 39 - Média aritmética mensal dos congestionamentos, em km, nos horários de pico (manhã e tarde). Fonte: Adaptado de CET (Companhia de Engenharia de Trafego) Ao plotar em um mesmo gráfico a média de quilometragem do trânsito nos horários de pico da manhã e da tarde paulistana em conjunto com a taxa de devolução da Distribuidora S/A, é possível avaliar um correlação entre o aumento da taxa devoluções devido ao aumento do trânsito no período e o início das restrições ao trânsito de caminhões a partir de Maio de 2008. A figura 40 abaixo mostra essa relação com as informações da média do tamanho do congestionamento em quilômetros e a taxa de devoluções da Distribuidora S/A em percentual. O gráfico foi construído em dois eixos para uma melhor visualização desse efeito. 96 167 180 147 160 152 156 4,00% 162 150 140 138 128 140 154 146 140 133 140 126 123 116 120 100 141 3,50% 131 3,00% 104 2,50% 117 100 105 82 91 102 102 106 89 84 2,00% 89 84 91 89 1,50% 1,00% 3,12% 3,15% 2,78% 2,38% 2,78% 2,38% 3,70% 3,74% 47 2,14% 46 2,12% 3,76% 3,57% 3,18% 3,45% 3,78% 3,56% 3,60% 2,56% 1,89% 20 90 47 1,35% 52 1,20% 60 40 103 93 91 86 3,21% 80 0 141 0,50% 0,00% Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out 2008 2009 Devolução Trânsito Manhã Trânsito Tarde Figura 40 - Comparativo da taxa de devolução e o trânsito de São Paulo Fonte: Adaptação dos dados coletados pelo próprio autor É possível identificar que no período de Maio de 2008 à Dezembro de 2008, houve um aumento significativo nas devoluções e a média do trânsito no período se manteve estável sem que houvesse uma redução significativa. As medidas de restrição apenas dificultaram a rotina de entrega para as empresas de distribuição de cargas, que se viram obrigadas a buscar novas alternativas para adaptação às exigências Os meses de janeiro e fevereiro de 2009 mostram uma possível adaptação a lei, mas que ainda não entrou completamente na rotina, quando analisado os meses subseqüentes. Esses dados são suficientes para mostrar a grande oportunidade existente na operação de Distribuição de cargas. Os dados são da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), indicam as médias do trânsito nos períodos da manhã e da tarde. A CET mostra ainda a média da velocidade do deslocamento dos veículos desde 1991 em quilômetros por hora (Km/h) dos veículos dentro da cidade de São Paulo nos períodos da manhã e da tarde conforme tabela 10 abaixo. Tabela 10 - Velocidade do trânsito da manhã e da tarde na cidade de São Paulo 1980 1991 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Indicador Indicador Indicador Indicador Indicador Indicador Indicador Indicador Indicador Indicador Indicador Período 1 Pico da manhã 27,1 24,6 20,4 19,7 19,9 23,2 19,3 18,5 18,3 17 17,3 2 Pico da tarde 24,9 20,2 19,4 19 18 19 17 16,7 16,8 14,2 14,8 Fonte: Adaptado de CET (Companhia de Engenharia de Trafego) 97 É possível perceber que a média de velocidade dos veículos em São Paulo vem diminuindo ao longo dos anos. Esse fator não é conclusivo, mas ajuda a justificar como o aumento da frota da cidade impacta no alto congestionamento das vias e influenciando no tempo de deslocamento de um caminhão dentro da cidade. 5.4.3 Alternativas às medidas de restrição É importante destacar que as soluções apresentadas neste capitulo não visam calcular o custo da mudança do meio de transporte das cargas, mas apenas propor as medidas alternativas para enfrentar as restrições impostas pelo governo quanto às restrições de circulação de caminhões e de horários de carga e descarga de veículos. Esta etapa do estudo parte do principio que a carga deverá chegar até o seu cliente final e que a busca por melhores alternativas em transportes deve considerar alguns aspectos importantes como: • Capacidade de armazenagem e local para estacionamento desses veículos; • Necessidade de transbordo em situação inadequada; • Disponibilidade de recebedores no período da noite; • Necessidade de mudanças na embalagem de muitos produtos; • Incremento de prazos de entrega, Conforme abordado anteriormente, o tipo de veículo empregado para combater as medidas de restrição nos grandes centros pela Distribuidora S/A tem sido os VUCs. Porém, esse modelo de veículo ainda possui algumas restrições como é o caso do rodízio por placas final par e impar a cada dia. Essa restrição acaba onerando ainda mais o transporte de cargas. 98 A busca do melhor modelo de distribuição de bebidas se dá por duas variáveis: (a) Maior capacidade de produtos armazenados e (b) Maior agilidade na entrega. Frente a esses dois quesitos um modelo além dos já utilizados VUCs foi analisados e colocado em teste na operação do Rio de Janeiro a fim de avaliar o comportamento do ciclo de pedido e atendimento a demanda de roteirização que pode ser introduzido na operação de São Paulo. O Modelo é da montadora Iveco. Figura 41 – Veículo leve para centros urbanos em teste no RJ. Fonte: Cedido pela Distribuidora S/A. O modelo é o Iveco Daily 60.12, possui capacidade de carga mais carroceria de 4010 Kg (quilogramas) ou 19,9m3 (metros cúbicos). Suas dimensões se adaptam às restrições com comprimento total de carroceria de 4,0 m (metros). A entrega noturna é uma solução bastante atraente para as empresas do setor, pois, apesar de exigir um alto custo para implantação desse processo e ser bastante oneroso, ele pode ser claramente zerado pelo aumento da produtividade. 99 De acordo com Ricardo Melchiori, diretor de operações da Ceva, (apud FNE Federação Nacional dos Estivadores) a empresa vem se organizando sobre a restrição, desde 2002, quando surgiram as primeiras discussões sobre o assunto. Ele afirma que o início de uma operação noturna onera em cerca de 8% o transportador, mas que depois de ajustada a implantação, os custos podem ser reduzidos de 10% a 16%, devido ao aumento da produtividade dos veículos, com o baixo trânsito. Ele afirma ainda que para o destinatário, o custo é mínimo, a maior resistência é a quebra do paradigma em receber materiais no período noturno. Essas afirmações podem ser observadas pela tabela apresentada na Tabela 8 do item 5.4.2 anterior com relação à média de velocidade dos veículos nos horários de pico na cidade de São Paulo. Para avaliar a alternativa de entrega noturna, foi realizada uma pesquisa em conjunto com a equipe da transportadora em 58 clientes que estão alocados na ZMRC de São Paulo. Os dados são apresentados a seguir, mas os nomes dos clientes foram preservados por orientação da Distribuidora S/A. A pesquisa revelou que 67% dos clientes entrevistados, mudariam sua operação de recebimento para o noturno se fosse necessário. 12% dos clientes ainda não souberam responder, pois, acreditam que precisam estudar os impactos que essa medida causaria. Para a realização dessa pesquisa foi utilizado um formulário com poucas perguntas e possibilidade de resposta apenas “Sim” ou “Não” que foi realizado com pesquisa diretamente no ponto de vendas através de entrevistas com os donos de ponto de venda. O resultado da pesquisa pode ser apresentado por um gráfico de pizza conforme figura 42 logo abaixo. 100 12% 21% 67% Sim Não Não souberam Figura 42 - Pesquisa de aceitação dos clientes para entrega noturna. Fonte: Cedido pela Distribuidora S/A. A pesquisa revelou ainda que a maior concentração de clientes que não aceitam a entrega noturna está na região do Ipiranga. A justificativa para isso se deve ao fato de esses clientes estarem muito próximos a áreas residenciais e estarem preocupados com a lei do Psiu5 que determina um limite máximo de funcionamento dos bares e restaurantes e não permite ruído excessivo para os moradores adjacentes. A Tabela 11 abaixo mostra a pesquisa por área onde estão localizados os pontos de vendas pesquisados. Tabela 11 - Pesquisa atendimento noturno por localização LOCAL Centro Ipiranga Itaim Bibi Vl Madalena Total geral Aceita 12 6 11 10 39 Não aceita Não sabe Total geral 3 4 19 5 2 13 2 13 2 1 13 12 7 58 Fonte: Pesquisa realizada nos pontos de vendas em São Paulo. De qualquer forma a pesquisa revelou uma grande receptividade dos clientes em alterar sua forma de recebimento para entrega noturna, obedecendo aos limites impostos para restrição de circulação. 5 Lei instaurada em fevereiro de 2008 para determinar o horário limite de funcionamento de estabelecimentos comerciais. 101 5.5 Ligando os pontos O estudo de caso buscou apresentar como o atraso de entrega ocorre dentro das empresas de distribuição de bebidas e que quanto maior a gestão de uma transportadora, frente aos assuntos que ela possui pleno controle, maior será a sua produtividade e melhores serão os seus indicadores de desempenho. Os acidentes de trabalho não são necessariamente as causas do aumento de devoluções na cidade de São Paulo para a Distribuidora S/A, mas um acidente de gravidade moderada pode acarretar em devoluções para as distribuidoras. A pesquisa realizada com os clientes localizados nas áreas de Zona Máxima de Restrição e Circulação mostram uma grande oportunidade para a Distribuidora S/A em readaptar sua roteirizarão de entrega e pode trazer alguns benefícios como os listados abaixo: - Garantia de rotas sem pontos de congestionamentos; - Temperatura menos elevada, contribuindo para um maior bem-estar do motorista e equipe de entrega, consequentemente diminuindo os riscos de acidentes; - Aumentos da velocidade média dos veículos, aumentando a produtividade por caminhão, tornando factível um estudo para diminuição da frota de entrega; - Disponibilidade do ponto de venda para a correta conferência da carga no momento do desembarque, diminuindo também o tempo da equipe de entrega no PDV; 102 6 CONCLUSÕES O objetivo da pesquisa foi entender como as medidas de restrições à circulação de cargas e os acidentes de trabalho influenciam as empresas de transporte de carga nos centros urbanos a fim de encontrar as melhores alternativas para os veículos de distribuição e quais as ações para minimizar o risco da atividade da equipe de entrega. Neste aspecto o trabalho buscou uma visão da forma mais abrangente sobre essas alternativas, atendendo aos objetivos propostos inicialmente. Os elevados custos identificados pela má gestão da Segurança e Saúde dos trabalhadores dentro das empresas de transporte de cargas podem interferir significativamente no resultado final da empresa, sendo importante avaliar ainda a gravidade das ocorrências. Cabe a Distribuidora S/A continuar mapeando todas as ocorrências de acidentes com as equipes de entrega e apurando todas as causas prováveis dessas ocorrências, porém, deve-se buscar quantificar todos os gastos provenientes desses acidentes, a fim de mensurar de forma geral o custo real sofrido por essa má gestão. As soluções apresentadas para busca de novos veículos de transporte, podem favorecer tanto às medidas de restrição, quanto a segurança das equipes de entrega. As Vans e os modelos VUCs apresentados, oferecem maior segurança na descarga de produtos e minimizam os impactos causados pelo trânsito de São Paulo. Elas também proporcionam uma maior agilidade na busca por locais de parada, porém, para que essas soluções tenham efeito, algumas medidas devem ser tomadas pelo poder público a fim de minimizar os impactos pela falta de infra-estrutura, especialmente para estacionamento e congestionamento em zonas e horários críticos. As medidas de restrição são inevitáveis e as empresas do setor serão obrigadas a se enquadrar, mas as mudanças no ambiente operativo demandam agilidade do estado, preferencialmente com respostas planejadas, 103 baseadas em análises de cenários tornando o conceito City Logistics uma realidade para a região de São Paulo. A receptividade dos pontos de vendas em receber a entrega noturna é um importante norteador das tendências de como melhorar o nível de serviço oferecido ao cliente dentro dos centros urbanos e considerar que as alternativas para diminuir esses impactos são válidas. Sendo assim, o produto final deste trabalho de pesquisa vem a ser uma análise superficial da situação atual das empresas distribuidoras de bebidas, mas que podem servir de base para discussões do assunto, buscando a melhoria continua do setor. 6.1 Recomendações para outras pesquisas Quanto aos assuntos discutidos nesta pesquisa, é preciso identificar que algumas avaliações mais aprofundadas são importantes para justificar algumas ações de melhoria nos processos das empresas de transporte. As recomendações a seguir, se implantadas, poderão contribuir significativamente para as empresas do setor na busca de soluções para adaptação às medidas de restrição: • Avaliar os impactos causados pela atividade de entrega e distribuição de cargas noturna, mensurando os riscos de segurança para a realização da atividade neste horário; • Mensurar o custo de implantação de um mini centro de distribuição e consolidação de cargas em áreas estratégicas das áreas centrais da cidade de São Paulo; • Identificar roteirizadores capazes de calcular a melhor rota através de monitoramento do trânsito; 104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHK – Câmara Brasil Alemanha – Seminário “Canais de Distribuição – Objetivo e visão de Projeto” 2009. Disponível em http://www.ahkbrasil.com acesso em 15/09/2009. ALVARENGA, A. C., NOVAES, Logística aplicada: suprimento e distribuição física; 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. ANFAVEA. Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Brasil. 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