Dos campos nativos ao agronegócio
A contribuição suábia em Guarapuava
nos relatos de Anton Gora
(1951-2009)
Universidade Estadual do Centro-Oeste
Guarapuava - Irati - Paraná - Brasil
www.unicentro.br
Anton Gora
Dos campos nativos ao agronegócio
A contribuição suábia em Guarapuava
nos relatos de Anton Gora
(1951-2009)
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE
UNICENTRO
Reitor: Vitor Hugo Zanette
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Sidnei Osmar Jadoski
Ficha Catalográfica
Catalogação na Publicação
Regiane de Souza Martins -CRB 9/1372
K155d
Gora, Anton
Dos campos nativos ao agronegócio: a contribuição
suábia em Guarapuava (1951-2009) nos relatos de Anton
Gora. – – Guarapuava: Unicentro, 2010.
284 p.: il.
Bibliografia
ISBN 978-85-7891-055-6
1. Agricultura – Guarapuava – Paraná. 2. Cooperativa
Agrária Agroindustrial de Entre Rios. 3. Agronegócios. 4.
Agricultura – História. 5. Gora, Anton, 1953 – Biografia. I.
Autor. II. Título.
CDD 338.1
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Apresentação
A realização deste livro é fruto do sonho de um
homem contemporâneo por um lado, com pensamentos até
irreverentes para seu meio, sobre vida e trabalho, e por outro,
marcado pela herança dos seus antepassados. Anton Gora
descende de uma classe de imigrantes europeus, os suábios do
Danúbio, povo de etnia alemã em cujas veias corre o sangue
da luta pela sobrevivência, e sobre a pele, o suor do trabalho
na agricultura.
Gora queria ser retratado em frente e verso como
um homem nem melhor nem pior: uma pessoa igual a
tantas outras com qualidades e defeitos, mas que nessas
semelhanças de natureza humana deixou marcas por onde
passou, principalmente no trabalho, ao qual dedicou toda sua
transpiração.
Falar sobre a vida de alguém que eu conhecia apenas
por contingências da profissão, nos meios de comunicação
onde eu trabalhava foi desafiador, e ao mesmo tempo,
gratificante. Acima de um contrato de trabalho foi necessário
estabelecermos relações de respeito, cooperação, confiança e,
porque não dizer, de amizade.
Assim, este livro foi escrito com uma abordagem
crítica e não apenas historiográfica, em que Anton Gora é o
centro da narrativa, mas os demais personagens não são menos
importantes. Eles fizeram parte da vida pessoal e de trabalho
dele, sendo fundamentais no processo de seu amadurecimento.
Para o leitor, os depoimentos dessas pessoas sobre temas
como assistência técnica, pesquisa agronômica, política
sindical e ambiental proporcionam preciosos momentos de
conhecimento.
Pode-se dividir o livro em duas partes: passado
e presente, distribuídos em 12 capítulos. O passado é
representado pela fascinante origem de Anton Gora, a saga
dos Donauschwaben, suábios do Danúbio, em português,
embora não seja o foco principal desta obra (por não termos
a pretensão de nos passarmos por historiadores), e pela
reconstrução da história pessoal dele, em que reconhece e se
penitencia pelos erros cometidos na vida familiar.
Na verdade, é na parte presente que se poderá ver a
ponta do fio condutor de todo este trabalho. Anton Gora conta
sobre as experiências (muitas frustrantes) que teve na política,
quando secretário municipal de Agricultura, e ao contrário, da
satisfação nas atividades sindicais junto à diretoria do Sindicato
Rural de Guarapuava. E é na análise de seus mais de 30 anos
de atuação junto à Cooperativa Agrária Agroindustrial de Entre
Rios (atual razão social) que esta obra deverá chamar mais a
atenção. A Agrária, como é mais conhecida na região, é uma
das cooperativas mais importantes do Sul do Brasil e já esteve
na condição de possuir a maior maltaria da América Latina.
Com base na fundamentação teórica e na
atividade prática que adquiriu ao longo desses anos, e por
ter acompanhado as diversas crises da entidade, Gora faz
severas críticas à maneira como alguns gestores conduziram
a cooperativa. Com dados técnicos, ele aponta alguns rumos
que podem ser tomados para que o agronegócio e a própria
Agrária sigam fortes e bem estruturados.
E por acreditar que, toda experiência vivida boa ou
má deve ser compartilhada, e não guardada como propriedade
particular, é que Gora decidiu produzir este livro. A intenção
dele é fazer com que profissionais e estudantes do setor
saibam que os problemas são proporcionais ao tamanho das
organizações, que elas são dirigidas por homens, e muitas
vezes os homens falham mesmo quando querem acertar. No
segmento do agronegócio, hoje reconhecido pela sofisticação
tecnológica, humildade para repensar ações, agir de modo
coletivo e preparação para o futuro é a linha que separa o
sucesso do fracasso nas grandes corporações, empresas e
produtores rurais. Lições essas que aprendeu com o expresidente da Agrária, Mathias Leh (já falecido), um dos
maiores líderes da comunidade suábia de Entre Rios, mentor
intelectual e amigo de Gora.
Marisa Kaminski
Introdução
Plantar, cultivar
colher!
Plantar grãos, cultivar plantas, colher riquezas.
Plantar arvores, colher um mundo melhor para os nossos
filhos.
Plantar idéias, colher harmonia entre as pessoas.
Plantar amizades, colher amigos eternos.
Plantar honestidade, colher credibilidade.
Plantar conhecimento, colher resultados.
Plantar experiência, colher acertos.
Plantar humildade, colher carinho.
Passei a vida plantando, colhi erros e acertos.
Agradeço a todos, principalmente aos cooperados da Agrária.
Produtores, Sindicalistas, Profissionais, Amigos,
Companheiros.
Que me ajudaram a plantar, a cultivar e a colher.
A colheita é nossa, das pessoas, dos nossos filhos, do futuro.
Mesmo aqueles que não me entenderam, o meu muito
obrigado.
Anton Gora
É preciso investir nas
pessoas
“No exemplo reside o grande significado da
colonização”
Bento Munhoz da Rocha Neto – ex Governador do
Paraná.
Quando os suábios desceram o rio Danúbio para
ocupar e cultivar a terra do Sudeste da Europa, transformaram
aqueles pântanos em terras férteis e produtivas. Em pouco tempo
o Sudeste Europeu se transformou no celeiro da Europa.
A Segunda Guerra Mundial os trouxe ao Brasil, e
novamente transformaram os campos nativos de Guarapuava,
considerados pobres, ácidos, de baixa fertilidade, impróprios
para a produção de grãos, em áreas altamente produtivas,
chegando a ultrapassar países desenvolvidos em produtividade,
e ainda hoje detêm as maiores produtividades do Brasil,
preservando o meio ambiente.
Foram certamente a cultura e o espírito de luta de
uma etnia, preservada por mais de três séculos, responsáveis
por esses resultados.
A história mostra mais uma vez o quanto é importante
preservar as origens, a cultura, os valores de cada povo para o
desenvolvimento de uma nação.
No livro procuro basicamente ressaltar essas
convicções que a história me ensinou. Acredito que no dia em
que esquecermos de onde vieram e por qual motivo vieram
nossos antepassados, a colonização perderá o seu sentido e
muitos dos nossos compatriotas, principalmente pequenos
produtores, não sobreviverão. Já assistimos essa cena quando,
no início da colonização, mais da metade dos suábios
abandonou a colônia, transferindo-se para grandes centros no
Brasil e outros países, principalmente a Alemanha.
Os prejuízos serão grandes para todos, para os
nossos irmãos suábios, para a comunidade de Entre Rios, para
o município e para o país.
Conseguimos sobreviver como grupo devido aos
investimentos feitos no passado, preservando a nossa cultura,
criando condições de crescimento e desenvolvimento
para todos. Como exemplo, cito apenas a Reforma Agrária
Interna efetuada por Mathias Leh. Sem essa reforma, sem os
investimentos nas pessoas, teríamos ainda poucos suábios
sobrevivendo no Agronegócio.
Investir nas pessoas é função de todas as empresas, dos
municípios, estados, país, e principalmente das cooperativas,
que são uma sociedade de pessoas, em que a colaboração e a
ajuda mútua devem se refletir na qualidade de vida de todos
os cooperados e não apenas no crescimento econômico de
alguns. Todas as entidades têm a também a função social de
redistribuir riquezas.
Empresas e entidades que pensam apenas no
crescimento econômico têm vida curta. A falta de cultura, de
solidariedade faz desmoronar rapidamente o sucesso inicial,
como nos mostraram exemplos do passado.
Penso ser essa a minha contribuição com esse livro
quando teço algumas críticas construtivas no sentido de evitar
que erros sejam repetidos na gestão do agronegócio, e sugiro
alguns caminhos para que as futuras gerações tenham um bom
14
futuro. São pontos de vista pessoais, não comungados por
alguns, mas acredito que é o choque de ideias que faz surgir
um consenso e provoca mudanças positivas.
Vamos pensar em primeiro lugar nas pessoas: elas
são o fim e o meio. Da mesma forma como a cooperativa deve
ser o meio, o cooperado deve ser o fim.
A riqueza maior está nas pessoas e o futuro das
pessoas depende dos líderes do presente. A única constante
no mundo são as mudanças. Mudanças essas que respeitem,
em primeiro lugar, o ser humano.
Faço um agradecimento especial ao trabalho da
jornalista Marisa Kaminski nas entrevistas e no acompanhamento
de todo o processo da produção deste livro.
Anton Gora
15
Sumário
Capítulo 1
25
Os Donauschwaben
Destino: Brasil, Paraná
Ícones de Entre Rios
Mathias Leh, referência da comunidade
Dona Elisabeth
Uma sólida amizade
Política
Conhecendo a terra
A vida em torno da Agrária
Preservando as raízes
Capítulo 2
87
Uma vida, muitas histórias
Capítulo 3
101 As relações com a cooperativa
Projetos engavetados
Outros trabalhos
FAPA
Terceirização da assistência técnica
Erros e acertos
Sonhos não realizados
Propostas
Meio ambiente
Agronegócio
Capítulo 4
139 Pesquisa do campo: Jaster, um técnico
competente
Gratidão e reconhecimento
Capítulo 5
153 Evolução da assistência técnica agronômica
Os Desafios
A pesquisa
A lacuna deixada por Paulo Grollmann
Reflexões...
Capítulo 6
187 A cultura da cevada e a produção de malte
O papel da pesquisa
Considerações sobre o assunto
Os números da cevada
Sugestões
Gráficos cevada
Capítulo 7
209 O futuro?
Crise anunciada
Capítulo 8
221 Sangue novo no agronegócio
20
Capítulo 9
225 A inserção na política
Entusiasmo x frustrações
Idealista
Capítulo 10
235 Atividade sindical
O Sindicato Rural de Guarapuava
Divisor de águas
A FAEP
O SENAR
Capítulo 11
275 UNICENTRO: de mãos dadas com o
agronegócio
Transferência de tecnologia
Capítulo 12
287 Convivência com Gora
Referências
293 Referências
297 Siglas
21
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