O ENSINO DAS ARTES EM SALA DE AULA NA REALIDADE BRASILEIRA 1
FERREIRA, C. Fernanda2; PRETTO, Valdir 3
1
Trabalho de Pesquisa _UNIFRA
Acadêmica do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa
Maria, RS, Brasil [email protected]
3
Professor do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS,
Brasil – [email protected]
2
RESUMO
O presente artigo é um recorte da investigação realizada para o trabalho final de graduação
que teve como objetivo verificar as possibilidades de aplicabilidade do ensino e aprendizagem
das artes visuais em sala de aula. A metodologia desenvolvida centrou-se na pesquisa
bibliográfica e na pesquisa de campo. O delineamento teórico buscou o ensino da arte no
Brasil, e as possibilidades do ensino da arte nas escolas nos dias atuais. Nessa pesquisa, os
alunos construíram trabalhos de expressão artística por meio de uma proposta triangular. Entre
os diferentes trabalhos analisados e resultados obtidos, selecionou-se um para amostragem.
Palavras-chave: Artes visuais; Criação; Reflexão e Contextualização.
1. INTRODUÇÃO
Dentre as mais diversas discussões que envolvem a profissão
docente, há questionamentos sobre como a educação está sendo aplicada no
ambiente escolar. Ao observar a organização curricular, se percebe que
algumas disciplinas têm assumido lugar de destaque no processo educacional
por historicamente constituírem o corpo daquelas áreas que são consideradas
essenciais, e de algum modo, seletivas no ingresso a cursos superiores, cursos
técnicos, e ao próprio mercado de trabalho.
As artes, em grande parte da escola básica brasileira, não fazem
parte desse grupo de componentes curriculares essenciais ao desenvolvimento
do educando, muito embora tenha ocorrido mudança na Legislação vigente
desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
Este estudo verificou as possibilidades de elaborar atividades
diversificadas de expressão artística, em sala de aula. Buscou-se uma
retomada histórica do ensino das artes visuais no Brasil e como este ensino
está sendo feito nos dias de hoje, também realizou-se uma proposta de criação
onde os alunos poderam demostrar o potencial que se pode explorar. Após as
criações dos alunos, realizou-se um trabalho de reflexão baseado na proposta
triangular.
2. O ENSINO DE ARTE NA REALIDADE BRASILEIRA
Desde o “descobrimento” do Brasil novas culturas, de outros países,
foram incorporadas a nossa. O nosso país é muito vasto e cheio de
peculiaridades, o que deixa a cultura muito rica. Nesse sentido Martins et al
(1998, p.10) escreve que:
Uma referência importante para a compreensão do ensino de arte no
Brasil é a célebre Missão Artística Francesa trazida em 1816, por
dom João VI. Foi criada então a Academia Imperial de Belas Artes,
que após a proclamação da República passou a ser chamada de
Escola Nacional de Belas Artes.
Essa escola tinha como foco o desenho voltado para a cópia fiel e a
utilização de modelos europeus. No Brasil, o barroco já estava presente, porém
o Neoclassicismo trazido pelos franceses foi o estilo adotado pelas elites. A
partir dessa época, de acordo com essa perspectiva, Martins et al (1998, p.11)
coloca que o ensino da arte tinha:
[...] ênfase no desenho, pautada por uma concepção de ensino
autoritária, centrada na valorização do produto e na figura do
professor como dono absoluto da verdade [...]. Ensinava-se a copiar
modelos - a classe toda apresentava o mesmo desenho - e o objetivo
do professor era que seus alunos tivessem boa coordenação motora,
precisão, aprendessem técnicas, adquirissem hábitos de limpeza e
ordem nos trabalhos e que estes, de alguma forma, fossem úteis na
preparação para a vida profissional, já que eram, na sua maioria,
desenhos técnicos ou geométricos. O desenho deveria servir á
ciência e á produção industrial, utilitária.
Percebe-se que o ensino da Arte não era voltado para os alunos
como conhecimento, mas sim como mera reprodução.
Nas décadas de 50 e 60, conforme Martins et al (1998) houve a
influência do movimento Escola Nova, iniciando-se uma pedagogia centrada no
aluno, e as aulas de arte eram direcionadas a um trabalho de livre expressão.
Ao professor, cabia oportunizar ao aluno expressar-se no simplesmente deixar
fazer, o que pouco acrescia ao conhecimento dos alunos. Neste contexto,
Martins et al (1998, p.11) diz que: “esses princípios, na prática escolar, muitas
vezes refletiam uma concepção espontaneísta, centrada na valorização
extrema do processo sem preocupação com seus resultados”. Com a leitura
desse texto tem-se noção de como se desencadeou o processo de ensino em
Artes.
No Brasil, foram importantes os movimentos culturais na relação
entre arte e educação desde o século XIX. Eventos culturais e artísticos como
a criação da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, no século XX, a Semana
da Arte Moderna em 1922, a criação de universidades nos anos 30, o
surgimento das Bienais de São Paulo a partir de 1951, os movimentos
universitários ligados à cultura popular nos anos 50 e 60, entre outros, vêm
caminhando lado a lado com o ensino artístico desde sua introdução no país
até sua expansão através da educação formal e não-formal.
Diante destas considerações, um fato torna-se representativo com a
ampliação de uma nova lei voltada para o ensino de Arte nas escolas,
conforme Martins et al (1998, p. 12):
Em 1971, com a lei n° 5.692, foi criado o componente curricular
Educação Artística. A lei determina que nessa disciplina fossem
abordados conteúdos de música, teatro, dança e artes plásticas nos
cursos de 1° e 2° graus, acabou criando a figura de um professor
único que deveria dominar todas essas linguagens de forma
competente.
Isso vem reforçar a evolução das artes no currículo, mostrando o
avanço que já estava havendo numa ligação da arte com o desenvolvimento do
aluno. Apesar destes avanços, a Educação Artística ainda não era considerada
disciplina, tendo como referência PCN (Brasil 2000, p.30): “Em 1971, pela Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a arte é incluída no currículo
escolar com título de Educação Artística, mas é considerada ‘atividade
educativa’ e não disciplina”.
Frente a essas mudanças, iniciou-se um movimento voltado para o
Ensino de Arte no Brasil. A esse respeito, PCN (Brasil 2000, p.30) aponta que:
A partir dos anos 80 constitui-se o movimento Arte-Educação,
inicialmente, com a finalidade de conscientizar e organizar os
profissionais resultando na mobilização de grupos de professores de
arte, tanto da educação formal como da informal.
O movimento Arte-Educação ampliou as discussões frente ao
professor de arte nas escolas. Os eventos nas universidades, nas associações
de arte-educadores, promoveram um novo ânimo nestes grupos fortalecendoos para propor novas ações educativas em arte.
A educação vai avançando, e com ela os conceitos de arte na
escola. Em 1996 foi aprovada a Lei n° 9.394/96, que contempla no artigo 26,
parágrafo 2°: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório,
nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos”. Com isso a arte começa a ser tratada
como disciplina e não somente como uma atividade ou um passatempo.
Ao final da década de 90, (MARTINS et al, 1998) coloca que esse
novo marco curricular apresenta características que identificam a área por Arte
e não mais por Educação Artística, e a inclui no currículo como área, com
conteúdos próprios ligados a cultura artística.
As mudanças na educação em relação à arte são importantes para o
desenvolvimento da educação em sala de aula. Com o passar do tempo mais
propostas de trabalhos que valorizam o criar do aluno são aplicadas nas
escolas. Uma linha de pensamento que está em desenvolvimento, e vem
aumentando em níveis de reflexão e ação do fazer artístico, é a "Proposta
Triangular para o ensino da Arte”. Esta proposta, difundida por Ana Mae
Barbosa1, que está interferindo qualitativamente no processo e na melhoria do
ensino de arte, tem por base um trabalho pedagógico integrador de três faces
do conhecimento em arte: criação, percepção e reflexão do fazer artístico.
Segundo Rizzi apud Barbosa (2002, p. 66):
Dos anos 90 em diante, temos aqui no Brasil, sistematizada por Ana
Mae Barbosa, uma concepção de construção de conhecimento em
artes denominada Proposta Triangular do Ensino da Arte, nela
postula-se que a construção do conhecimento em arte acontece
quando há a interseção da experimentação com a codificação e com
a informação. Considera-se como sendo objeto de conhecimento
dessa concepção, a pesquisa e a compreensão das questões que
envolvem o modo de inter-relacionamento entre a Arte e o Público,
propondo-se que a composição do programa do ensino de Arte seja
elaborado a partir das três ações básicas que executamos quando
nos relacionamos com a Arte: ler obras de arte, fazer arte e
contextualizar.
Quando são utilizados os termos observar, recriar e contextualizar, é
reforçada a Proposta Triangular e a maneira como qualquer indivíduo pode se
expressar. São as formas de ver e rever o mundo. Para melhor explicar esta
proposta, Barbosa (2002 p. 70) diz que:
A proposta triangular permite uma interação dinâmica e
multidimensional, entre as partes e o todo e vice-versa, do contexto
do ensino da arte, ou seja, entre as disciplinas básicas da área, entre
1
Ana Mae Barbosa - Foi diretora do Museu de Arte Contemporânea e professora da Escola de
Comunicações e Artes ambos da Universidade de São Paulo.
as outras disciplinas, no inter-relacionamento das três ações básicas:
ler, fazer e contextualizar e no inter-relacionamento das outras três
ações decorrentes: decodificar / codificar, experimentar, informar e
refletir.
Portanto, para Barbosa, a importância na Proposta Triangular é a
criação, que é o fazer artístico, a apreciação da leitura da obra de arte ou a sua
fruição, e a contextualização da obra. Nesse sentido, a leitura de obra de arte
envolve o questionamento e o despertar da capacidade crítica do aluno com o
pensamento
e
a
expressividade
que
construirá
com
o
grupo
ou
individualmente.
O aluno, na sua prática estética do fazer, irá desenvolver a sua
interpretação e não uma mera cópia. Desta forma estabelecem-se relações
quando o aluno contextualiza, cria e lê o seu processo de ensino-aprendizagem
da arte. Para melhor compreensão do aluno sobre a arte em geral, torna-se
necessário que ele conheça um pouco das linguagens artísticas. No dia-a-dia
deparamo-nos com criações artísticas variadas que devem ser exploradas e
colocadas à disposição do aluno.
É fundamental que a arte seja tratada e reconhecida como
conhecimento. O aluno, ao apropriar-se da linguagem da arte, desenvolve sua
própria leitura de mundo e amplia seu repertório cultural.
Para melhor demostrar esta visão a respeito da aplicabilidade das
artes visuais em sala de aula foi realizada uma proposta de pesquisa em sala
de aula com 22 alunos, para este artigo utilizou-se como exemplo o trabalho
realizado por uma das alunas pesquisadas, preservando seu nome.
ALUNA A – 8 anos
Figura 1 Desenho e Volume
Figura 2 Modelagem em Argila
Para a aluna A, assim denominada, a expressão foi o ponto forte no
seu trabalho, o grafismo está carregado de força, formas e movimento, assim
como na figura 1 o traçado forte foi base para uma exploração dos volumes. A
aluna demonstrou preocupação em utilizar os volumes de forma a marcar bem
o formato de seu rosto.
Através da percepção e sensibilidade, a menina coloca na argila
formas e relevos a fim de mostrar aos outros seu trabalho como algo bem
elaborado. Seguidamente a aluna dizia “olhem pro meu trabalhinho como tá
bem
feitinho”
apresentando
uma
grande
preocupação
estética.
Uma
característica pontual deste trabalho foi a constante contextualização que ela
fazia no decorrer da sua criação. Por várias vezes a aluna A refazia partes do
seu trabalho por achar que poderia ficar melhor.
Analisando toda a situação em torno da aluna e de seu trabalho
pode-se dizer que a importância de trabalhar a arte em todas as suas
possibilidades é extremamente significativo para o desenvolvimento dos
alunos. Barbosa (2002, p.18), neste sentido diz:
A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um
importante instrumento para a identificação cultural e o
desenvolvimento individual. Por meio da arte é possível desenvolver
a percepção e a imaginação, aprender a realidade do meio ambiente,
desenvolver a capacidade critica,permitindo ao individuo analisar a
realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar
a realidade que foi analisada.
Desta forma, fica evidente que a arte nos possibilita um
desenvolvimento crítico e a contextualização da obra realizada.
3. METODOLOGIA
De acordo com Lüdke & André (1986 p. 5), a função do pesquisador
[...] “é justamente o de servir como veículo inteligente e ativo entre esse
conhecimento acumulado na área e nas novas evidências que serão
estabelecidas a partir da pesquisa.” Estas palavras revelam a importância da
pesquisa e sua abrangência no conhecimento.
Para reforçar os argumentos, foi realizada uma pesquisa qualitativa
que, conforme Ludke & André (1986 p. 18), é “[...] o que se desenvolve numa
situação natural, é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e
focaliza a realidade de uma forma complexa e contextualizada”.
Na pesquisa qualitativa a interação entre o pesquisador e os alunos
é de fundamental importância. Referente ao conteúdo das observações para
Bogdan e Biklen (apud LUDKE & ANDRÉ, 1986, pp. 30-31): “deve envolver
uma parte descritiva e uma parte mais reflexiva”. Na parte descritiva, todas as
anotações que foram feitas através do diário de campo em relação aos alunos,
como atividades e falas, tiveram um papel fundamental para construir a parte
reflexiva das anotações no que se refere ao que está sendo aprendido, à
metodologia, aos processos e aos resultados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
No decorrer da pesquisa pode se verificar como a arte foi introduzida
no Brasil e como seus métodos de aplicabilidade foram mudando no decorrer
dos tempos, assim como, a importância de modificar a maneira de proposta
de artes visuais em sala de aula, observou-se que os alunos quando
desafiados a criar algo novo sentem-se estimulados e trabalham com mais
empenho, a aluna que este artigo trouxe como exemplo mostrava constante
preocupação em realizar seu trabalho da melhor forma possível, com isso
verificamos que os alunos podem buscar a reflexão para analisar e realizar
suas atividades escolares.
5. CONCLUSÃO
O presente trabalho de pesquisa permitiu a conclusão de como pode
ser rica uma proposta de artes visuais em sala de aula e das práticas
pedagógicas necessárias para que sua aplicabilidade traga benefícios aos
educandos, pois uma vez que eles criam, observam seus trabalhos e
conseguem visualizar e contextualizar os resultados de suas experiências,
pode-se afirmar que esse tipo de proposta reveste-se de fundamental
importância ao desenvolvimento e conhecimento dos alunos.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez,
2002.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte. 2ª
ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
MARTINS, Miriam Celeste Ferreira Dias; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M.Terezinha Telles.
Didática do Ensino de arte: A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo:
FTD, 1998.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas.
São Paulo; EPU, 1986.
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