ID: 59623768
08-06-2015
Tiragem: 14617
Pág: 6
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,00 x 27,38 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 6
“As escolas deviam ter
maior papel na gestão
dos seus professores”
Autonomia Na gestão de professores, orçamentos e métodos. Para o Ministro da Educação,
autonomizar e dar espaço a modelos concorrentes de escola pública é aproximá-la dos alunos.
Rosário Lira
Bruno Faria Lopes
[email protected]
Mais autonomia, mais concorrência entre modelos diferentes
de escola pública. Esta é a linha de
sempre do ministro da Educação e
Ciência, Nuno Crato, cujo aprofundamento faz parte do programa da coligação para a próxima
legislatura. O ministro defende o
trabalho feito nesta frente e considera que os directores das escolas
- que estão mais perto dos alunos
do que a máquina do ministério devem ter mais autonomia na
contratação de professores e na
gestão orçamental.
Uma das matérias que está nas
orientações gerais do programa
da coligação é o aprofundamento
da autonomia das escolas. Até que
ponto está disponível a ir?
Autonomia o mais possível para as
escolas. Uma das primeiras coisas
que me aconteceram quando
cheguei ao ministério foi receber
um pedido de uma escola que
queria mais 15 minutos de hora de
almoço. Achei a coisa extraordinária, um ministro não tem nada a
ver com o assunto. Outro exemplo: as aulas até ao momento em
que entrámos eram de 45 minutos
ou múltiplos de 45 minutos. Tudo
isso estava completamente determinado [centralmente]. O número de minutos para cada disciplina
semanal também. O que fizemos
primeiro foi dizer que as horas em
cada disciplina são da responsabilidade da escola, desde que se
cumpra o mínimo. A duração de
cada aula é da responsabilidade da
escola. Passámos para as escolas
uma série de responsabilidades
que lhes dá maior liberdade. Que-
remos ter muito maior autonomia. A bolsa de contratação, por
exemplo, dá grande autonomia à
escola para definir critérios de
contratação de professores para
certas necessidades.
Mas se já avançou tanto, o que é
que pode fazer mais nesta área?
Há muito a fazer.
Dê-me um exemplo.
No aspecto curricular já determinámos isso. As escolas deviam ter
maior papel ainda na gestão dos
seus professores, na escolha dos
professores que vão para as suas
aulas. As escolas deviam ter um
maior papel ainda na gestão orçamental. Deviam ter certos limites
e, depois, maior liberdade de gestão. A descentralização das competências, com o apoio das autarquias, é parte desse trabalho. Um
processo em que nada é retirado
das escolas, mas em que há coisas
que são retiradas do Ministério da
Educação.
As autarquias têm capacidade
para determinar o número de
alunos por turma. Essa descentralização dá às autarquias poderes que se calhar não deviam ter...
O número de alunos por turma
tem máximo e mínimo definidos.
Havendo recursos é possível fazer
desdobramento de turmas e gerir
“
É muito difícil de
compreender, pelo
passado de grande
centralização, que
possam existir
modelos concorrentes
de escola pública.
outras ofertas, outros aspectos da
escola, como o ‘curriculum’. O
princípio é: liberdade na gestão,
liberdade nos métodos, avaliação
de resultados. Queremos avaliar
os resultados e dar às escolas a liberdade para utilizarem os melhores métodos para obterem resultados para os seus alunos. Dá-me licença para mostrar a primeira página de um jornal?
Faça favor.
Não vou mostrar o jornal, só este
título: “Escolas: professores oferecem aulas antes dos exames”
[manchete do Diário de Notícias
de 2 de Junho]. O subtítulo: “alunos do 9º, 11º e 12º vão ter aulas
extra para se preparem para os
exames. Escolas públicas estão a
planear esses apoios com recurso
a crédito de horas ou à boa vontade dos professores”. Isto mostra
um país diferente. Mostra da parte
dos jornalistas uma atenção a estes problemas, da parte das escolas, dos pais, uma atenção aos resultados que não existia até há algum tempo. Queremos que os
alunos tenham sucesso. E há liberdade nas escolas, que antigamente não existia, para ter as horas extra. Para utilizar essas horas
que fazem parte das horas lectivas
dos professores para dar um apoio
especial. Como há a boa vontade
dos professores. Os professores
em Portugal, na sua esmagadora
maioria, estão interessados no sucesso dos seus alunos. E todos os
directores estão interessados em
gerir os recursos para o sucesso
dos seus alunos.
Sobre modelos de gestão e professores, uma das propostas que
consta do programa da coligação
são as escolas independentes [de
propriedade e gestão dos professores]. A medida já estava no programa em 2011. Concorda com a
medida? Porque não avançou
nesta legislatura?
Vivemos durante estes anos momentos excepcionais, de que já
nos esquecemos um pouco. Há
quatro anos, quando houve intervenção da troika, estávamos em
pré-bancarrrota. Estivemos num
período de vigilância, em que fomos obrigados a seguir determinado programa com grande atenção aos gastos. Na educação também foi necessária contenção de
custos muito grande, sobre as
contratações, a constituição de
turmas. Um controlo centralizado, porque foi preciso imediatamente fazer com que os custos
não disparassem.
Não havia condições para haver
tanta autonomia?
No momento em que nós entramos no Governo estávamos preocupadíssimos em controlar todas
as fontes de acréscimo de despesa.
Mas agora há?
Agora estamos um pouco melhor.
Não estamos completamente à
vontade, temos uma dívida pública ainda muito grande e temos
ainda défice. Mas estamos muitíssimo melhor do que há quatro
anos. Temos mais liberdade para
pôr em prática outras medidas de
descentralização.
Como esta especificamente?
Sim. Julgo que se pode avançar já
para uma autonomia de escola
que seja progressiva e que existam
modelos concorrentes. É muito
difícil de compreender, pelo passado de grande centralização, que
possam existir modelos concorrentes. Escolas onde há um grande apoio das câmaras municipais.
Escolas em que os professores a
possam gerir. Em que o orçamento seja determinado de forma global e em que os professores, através dos seus directores, através de
órgãos de gestão, giram esses fundos. Pode haver vários modelos
concorrentes e esses modelos todos beneficiam a escola pública.
Esse tipo de concorrência podem
empenhar mais as pessoas e tornar a escola mais sua, mais eficaz e
mais virada para os alunos. ■
Professores:
“Estamos a dar
estabilidade a mais
quatro mil famílias”
“O Governo vai ter no fim deste
mandato quatro mil professores
que não estavam nos quadros”,
afirma Nuno Crato, quando a
entrevista se desloca para o tema
dos professores excedentários e
dos contratados. “Com algumas
vinculações extraordinárias que
foram feitas e com as vinculações
que vão ser feitas este ano para as
vagas a mais, além das da norma-travão, vamos introduzir no
sistema cerca de quatro mil
professores. Estamos a dar
estabilidade a mais 4 mil famílias”,
ID: 59623768
O MINISTRO
● Nuno Crato, 63 anos, doutorou-se
em Matemática Aplicada nos EUA.
● Foi professor de matemática
no ensino secundário e superior.
08-06-2015
É catedrático de Matemática
e Estatística no ISEG desde 2000.
Foi presidente da Sociedade
Portuguesa de Matemática. Tem
vários trabalhos de investigação
Tiragem: 14617
Pág: 7
País: Portugal
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Period.: Diária
Área: 26,00 x 30,19 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 6
publicados na área da estatística.
● Ficou conhecido do grande público
com livros e intervenções públicas
sobre matemática, ensino e ciência
● É casado, com dois filhos.
Paula Nunes
O ministro Nuno Crato
continua fiel à sua linha
para a Educação: mais
liberdade para as escolas e
mais avaliação.
“Pagámos um
preço político
elevadíssimo
por aquele erro”
Ministro antecipa colocação de
professores para evitar erro que
prejudicou alunos e professores.
O erro na colocação de professores no início deste ano lectivo
foi o momento mais delicado no
mandato de Nuno Crato. O ministro sente que houve responsabilização política e administrativa - e defende que a antecipação do processo este ano nada
tem a ver com as eleições.
defende o ministro. Sobre
eventuais excedentários no
próximo ano lectivo, Nuno Crato
prefere não adiantar números
uma vez que “a colocação de
professores é das coisas mais
difíceis de prever”. Mas adianta
que o número venha a ser
“residual”. “O nosso objectivo é
que seja zero”, afirma. O ministro
destaca o trabalho feito para
minimizar as saídas para a bolsa
de excedentários, rebaptizada de
‘requalificação’. “Este ano
conseguimos um feito enorme
que foi uma grande redução de
horários zero e o número de
professores que estão em
processo de possível
requalificação é reduzidíssimo.
Estamos a falar da ordem das
dezenas”, afirma Crato. São doze.
“É possível atingir
objectivo taxa de
abandono escolar
de 10%” até 2020
A entrevista já estava a deslizar
para o tema do Ensino Superior
quando Nuno Crato volta atrás,
para falar de abandono escolar, um
dos problemas estruturais da
Educação em Portugal. “A taxa de
abandono escolar que estava na
ordem dos 28% em 2010, está
neste momento em 17,4%”, afirma
o ministro. “Isto significa que é
perfeitamente possível atingir o
objectivo europeu de ter uma taxa
de abandono escolar apenas de
10%”, prevê. O objectivo tem um
prazo que coincide, grosso modo,
com o final da próxima legislatura:
2020. Para Nuno Crato, a redução
do abandono escolar num contexto
de crise económica e de maior
exigência do sistema é “prova de
que isto [alterações feitas] está a
funcionar”. Sobre o chumbo anual
de, em média, 150 mil alunos, Crato
fala em “problema prioritário” a
combater. Como? “Não com
passagens administrativas.
Queremos que todos os alunos
passem, mas que passem
sabendo”, afirma. “Temos que
fazer o que já fazemos desde 2012,
um conjunto de medidas para
acompanhamento aos alunos mal
surjam as primeiras dificuldades”,
indica, exemplificando com a
atribuição de “horas extra para os
professores poderem fazer esse
acompanhamento”.
No início do ano lectivo foi ao
Parlamento pedir perdão pelas
falhas graves na colocação dos
professores. O que poderia ter
feito e não fez?
É uma pergunta difícil, porque o
erro foi detectado. Foi um momento difícil do mandato. Houve
um erro de transposição da lei. A
lei indicava um determinado método de hierarquizar os candidatos, que não foi exactamente seguido. Hoje o que teria feito? É fácil
dizer. Teria verificado que a transposição estava correcta. Mas assumo a responsabilidade pelo que se
passou, assumi-a publicamente.
Sente que houve responsabilização da tutela, sua e dos seus secretários de Estado e, depois, dos
serviços do ministério?
Houve. Nós pagámos um preço
político elevadíssimo por aquele
erro. O director-geral demitiu-se
porque reconheceu que tinha
responsabilidade directa. Teve a
hombridade de ter a iniciativa de
se demitir. Houve algo que foi
pago, nesse sentido. Agora, o que
mais nos preocupou foram os
prejuízos para professores e alunos. Esses prejuízos, na medida
em que é possível voltar atrás no
tempo, estão resolvidos. Demos
às escolas condições para terem
complementos educativos que
repusessem o tempo que se perdeu. Também os professores que
tiveram a sua colocação anulada
foram compensados.
São 63?
Julgo que são 62. Mas não tenho
os números na cabeça.
Em breve começa um novo ano
lectivo. Consegue garantir que
não haverá problemas?
Estamos a antecipar todos os
prazos. Fizemos um estudo de
todo o processo de colocação de
professores. Não quisemos fazer
uma revisão completa do processo em termos da legislação porque são hábitos que estão estabelecidos. Neste momento as coisas
estão antecipadas e os ajustamentos a fazer serão a tempo do
início do ano lectivo.
Antecipar permite-lhe reduzir a
pressão. O início do ano lectivo
calha na fase de eleições. Têm falado consigo por parte do gabinete do primeiro-ministro? Sente
pressão para que as coisas corram
bem?
O senhor primeiro-ministro
acompanhou-me naquele momento e tem acompanhado sempre. Nós discutimos as coisas
abertamente e vamos vendo
quais são os problemas e as coisas
que estão a correr bem. Antecipar
também significa algum alívio
para os directores. Trabalham
todo o ano civil. Enquanto em
Agosto muitos de nós estamos em
férias – eu por acaso não tenho tirado praticamente férias – os directores estão na escola. Se não
estão, vão lá quase todos os dias,
porque têm processos de colocação de professores a resolver.
É uma mudança estrutural? Se
for só este ano é fácil dizer que,
depois de quatro anos, antecipa
agora porque existem eleições.
Não é porque existem eleições.
Desde o princípio que tentámos
sempre antecipar as coisas e que
corressem da melhor maneira. E
esperemos que nos anos seguintes as coisas se passem da mesma
maneira. ■ B.F.L. e R.L.
“
“Estamos a antecipar
todos os prazos. Os
ajustamentos a fazer
serão a tempo do
início do ano
lectivo.(...) Não é
porque há eleições.
ID: 59623768
08-06-2015
Tiragem: 14617
Pág: 8
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,00 x 30,56 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 3 de 6
Destaque Grande Entrevista a Nuno Crato
Paula Nunes
Restrições
à gestão “não
se aplicam” ao
Ensino Superior
O ministro, fotografado à saída do
estúdio da RDP, em Lisboa.
Lei Ministro não percebe receios dos reitores sobre
a nova lei de enquadramento orçamental.
Bruno Faria Lopes
e Rosário Lira
[email protected]
Mais autonomia na gestão das
escolas e menos na das instituições do Ensino Superior? Os
reitores receiam os efeitos da
nova Lei de Enquadramento
Orçamental, mas o ministro garante que a autonomia de gestão
do Ensino Superior não sai beliscada.
Temos uma Lei de Enquadramento Orçamental, em discussão no Parlamento, que parece
restringir bastante a autonomia
de gestão dos reitores. Falo no
impedimento de fazer alterações orçamentais ao longo do
ano, de usar saldos transitados,
e de assumir compromissos
plurianuais, tudo enquanto não
houver luz verde das Finanças.
Esta lei que está neste momento
em fase de discussão não significa uma perda de margem
grande dos reitores na sua gestão?
Sinceramente não percebo a
pergunta. Já houve duas ou três
pessoas que me levantaram o
mesmo problema. Julgo que o
artigo 5º dessa lei diz que não se
aplica às instituições de Ensino
Superior.
É uma confusão que os reitores
fazem?
Será que a lei tem alguma coisa
que dá a entender que não é assim? Está lá escrito. Podemos
propor ao Parlamento que seja
mais claro. Escrever duas vezes…
Não há qualquer mudança ou
restrição que introduz na gestão financeira das universidades?
Eu não estou a ver. Está lá especialmente dito que no que se refere às instituições de Ensino
Superior que se segue o regulamento geral, o REGIES, que não
são alteradas as normas desse
regulamento.
Por que é que essa lei de enquadramento tem um artigo que
diz que as universidades não
podem ter dinheiro na banca
comercial? Está lá escrito universidades.
Acha que isso é uma grande limitação da autonomia das universidades, não terem na banca
comercial? Qual é o artigo que
tem isso?
Não tenho aqui a lei para indicar o número, mas há um artigo
que diz isso.
É melhor não discutirmos sem
termos a legislação à frente. Eu
já ouvi essa preocupação, mas
continuo sem a perceber. Vou
ter que reunir com alguns reitores e com aqueles que manifestam maior preocupação e com
alguns juristas, para ver o que
ali está que possa criar algum
problema.
Foi a falta de dinheiro que o levou a não fazer uma efectiva
reorganização do Ensino Superior?
A reorganização do Ensino Superior é um processo que longo,
que exige uma série de coisas
que foram feitas entretanto. O
Ensino Superior tem um sistema binário: por um lado Politécnicos, por outro Universidades. E tem outra dualidade: escolas no litoral que têm um
grande número de estudantes e
escolas no interior que têm uma
procura menor. Para lidar com
essa procura menor de estudantes, os politécnicos têm um papel decisivo porque têm a possibilidade de adequar a sua oferta
melhor às necessidades da economia regional. Criámos os
cursos técnicos superior profissionais, de dois anos. São uma
continuidade natural do ensino
profissional e do ensino vocacional. Ao mesmo tempo correspondem a uma necessidade
da economia portuguesa, da
existência de técnicos de nível
intermédio. E a uma necessidade dos jovens de terem uma
qualificação profissional superior mas intermédia, que lhes
dê uma saída profissional. Isto é
uma medida estruturante, por-
RESPOSTA RÁPIDAS
UDP?
União Democrática Popular.
Mário Nogueira?
Líder de uma frente sindical
portuguesa.
Professor?
Aluno
Família?
Sociedade.
Pátria?
Nações.
Nuno Crato?
Eu próprio.
que dá aos Politécnicos a possibilidade de terem muito mais
alunos, de se reorganizarem.
Outra medida estruturante que
vai aparecer em breve é a legislação sobre os consórcios de
Ensino Superior. Vão incentivar
as Universidades e Politécnicos
a conjugarem esforços e a partilharem recursos de forma a
funcionarem quase como uma
escola única, no sentido em que
podem criar cursos em comum.
Mas continuamos a ter as mesmas estruturas e a mesma dispersão em termos territoriais
sem que exista efectivamente a
junção de politécnicos, de faculdades. Isso não aconteceu e
está também nas tais linhas de
orientação da coligação. O que
se vai fazer?
Vai-se certamente mais longe
nos próximos anos. Mas algumas coisas aconteceram. O
mais visível foi a criação da
Universidade de Lisboa. A actual Universidade de Lisboa re-
sulta da fusão de duas universidades. A isso não são estranhos
um conjunto de motivos que são
gerais, que não são apenas de
Lisboa, que são a necessidade
de melhoria em termos de realização científica, de conjugação de esforços entre as diversas Faculdades e diversos institutos. A criação da Universidade de Lisboa é um passo importante nesse sentido. Outro passo que se registou foi o
consórcio do Norte. Pode-se ir
neste sentido da constituição de
consórcios locais. Não queríamos, nas devíamos tomar uma
conjunto de medidas administrativas de vamos fechar este
Politécnico, aquela Universidade, ninguém ficava contente
com isso. Há aqui uma pressão
no sentido de caminhar para
uma racionalização da oferta e
essa pressão através desta legislação e através destes exemplos
que eu dei, certamente vai dar
mais resultados no futuro. ■
ID: 59623768
08-06-2015
Tiragem: 14617
Pág: 9
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 4,97 x 28,96 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 4 de 6
“Há 102
alunos que
querem
resolver
o problema”
Alunos da Lusófona que querem
tirar cadeiras em falta ou
verificar creditações.
Quase três anos após o rebentar
do caso da licenciatura de Miguel
Relvas, a auditoria à Universidade Lusófona não está concluída.
Quando é divulgada a auditoria
à universidade Lusófona?
O relatório não está concluído, o
processo está em curso. O que
aconteceu, foi que…
Já passou imenso tempo.
Estas coisas demoram tempo, mas
são feitas. A Inspecção-Geral teve
que analisar e reanalisar centenas
de casos. No momento em que se
percebeu que havia irregularidades na creditação de alguns cursos
foi necessário verificar quais
eram. E a Inspecção passou meses
a analisar esses casos, com os funcionários da Lusófona. Chegou à
conclusão que havia, salvo erro,
152 casos. E notificou a Lusófona,
para que declarasse nulas essas
creditações, esses diplomas.
Algo que creio que a Lusófona
ainda não fez, pelo menos em
todos os casos.
Não sei se fez em todos, mas fez
em muitos. Sei que algumas das
notificações não foram registadas
pelos próprios. Mas são processos
em curso. O importante é que a
Inspecção notificou a universidade e a universidade notificou os
estudantes. E dos 152 casos é importante que 102 já declaram que
querem resolver o problema. Ou
seja, querem tirar as cadeiras em
falta ou verificar as creditações
que estão erradamente atribuídas.
O essencial é dignificar as universidades portuguesas. A nossa
preocupação foi que a sociedade
tivesse confiança que um diploma
corresponde a algo de sério.
Não era isso que se passava. Estão
previstas sanções para a Lusófona? Alguma responsabilização?
A lei é omissa nesse aspecto. A Lusófona já teve uma advertência
formal. Está a colaborar e vamos
acompanhar até ao fim para que o
processo tenha conclusão. Mas ao
mesmo tempo fizemos uma alteração na lei em 2013 para acabar
com um regime em que as creditações por experiência profissional podiam ser ilimitadas. Há pessoas que fizeram óptimas coisas
na vida, mas não é por isso que
têm um diploma. ■ B.F.L. e R.L.
ID: 59623768
08-06-2015
Tiragem: 14617
Pág: 10
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,00 x 30,48 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 5 de 6
Destaque Grande Entrevista a Nuno Crato
Paula Nunes
“
Nunca penso nisso
[voltar a ser
ministro]. Tenho
orgulho em ser
professor de
Matemática na
Universidade
de Lisboa.
“Linhas do programa do PS têm
muitas medidas que nós fizemos”
Legislativas Crato acredita em maioria absoluta para a coligação. E chuta para canto possibilidade de segundo mandato.
Bruno Faria Lopes
e Rosário Lira
[email protected]
A coligação PSD/CDS tem condições para continuar a governar, afirma o ministro para
quem o PS mostra vontade de
continuar no caminho do actual
Governo na área do Ensino.
Há condições para esta coligação ganhar as eleições?
Sim. Há todas as condições.
Com maioria absoluta?
Creio que as condições estão
abertas para haver uma maioria
absoluta. Mas mesmo que não
haja uma maioria absoluta, julgo que o governo desta coligação mostrou que resolveu problemas dramáticos em que o
país se encontrava. Iniciou o seu
mandato numa situação muito
difícil e conseguiu ultrapassar
as dificuldades. Hoje temos um
horizonte melhor, temos outras
possibilidades de crescimento.
O Governo, em situações de extremas dificuldades, cumpriu o
seu papel.
Estando tão confiante, poderá
vir a ser ministro de novo caso
venha a ser feito o convite?
Nunca penso nisso. Tenho muito orgulho em ser professor de
Matemática na Universidade de
Lisboa. Eu estou completamente focado em terminar esta missão, em terminá-la bem. Julgo
que há uma série de coisas que
conseguimos. Quer no Ensino
Básico e Secundário, como no
Ensino Superior, como na Ciência, que está a passar um ano de
ouro. Isto são resultados que se
devem, em primeiro lugar, aos
cientistas e investigadores portugueses, mas também a muitos
incentivos que foram colocados
nos locais certos.
Já leu as propostas do PS para a
Educação? Disse que algumas
das medidas são inexequíveis. A
quais se estava a referir?
Estava a referir-me à colocação
de professores. Há ali meia dúzia de coisas que não me parecem bem trabalhadas. Mas talvez fosse mais interessante dis-
“
No outro dia tive
uma discussão
interessante com
Tony Blair. Ele disse:
‘Quando as medidas
têm sucesso os
governos que vêm
a seguir gostam
de as prosseguir’.
cutir programas eleitorais
quando eles aparecessem mesmo. Neste momento existem
uma série de linhas do programa do PS. São linhas para um
programa. Essas linhas têm
muitas medidas que são aquilo
que nós fizemos.
A continuidade dos exames, por
exemplo?
São aquilo que temos estado a
fazer.
E isso é bom?
Acho que é bom. No outro dia
tive uma discussão interessante
com o Tony Blair. A certa altura
disse-lhe: “mas eu não percebo, o senhor é socialista e está a
dizer coisas que são exactamente o mesmo que nós estamos a fazer no nosso Governo”.
E ele disse: “São as coisas que é
preciso fazer. Gostaria imenso
de estar no vosso Parlamento a
discutir, só tenho o problema de
não saber falar português”. E
perguntei-lhe: “Por que é que
as suas medidas foram tão seguidas pelo Governo conservador que apareceu em seguida”?
Ele disse-me: “Quando as medidas têm sucesso os governos
que vêm a seguir gostam de as
prosseguir”.
Acha que é por isso que o PS
quer prosseguir?
Há um conjunto de medidas que
fizemos que o PS, quando voltar
a ser Governo - que eu julgo que
não vai na próxima legislatura,
mas há-de voltar a ser porque a
democracia é assim e ainda bem
- vai prosseguir esse conjunto
de medidas. Outras, que estão
nas propostas, são para mim
menos claras e algumas até me
surpreendem, porque parecem
contrárias aquilo que tem sido
dito nos últimos debates. Mas
gostava de discutir isto quando
houvesse um programa para
discutir. ■
ID: 59623768
08-06-2015
Tiragem: 14617
Pág: 1
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 11,17 x 7,28 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 6 de 6
GRANDE ENTREVISTA NUNO CRATO
Paula Nunes
“Programa do
PS tem muitas
medidas nossas”
Ministro da Educação vê
continuidade nas propostas
dos socialistas. Nuno Crato
não compreende receio dos
reitores do Ensino Superior
sobre perda de autonomia
na gestão. ➥ P6 A 10
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“As escolas deviam ter maior papel na gestão dos seus professores”