ID: 51513554
27-12-2013
Tiragem: 38013
Pág: 6
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 27,50 x 31,96 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 2
Escolas de Educação dizem que é
inevitável pedir demissão de Crato
Escolas superiores de Educação reúnem-se hoje para reagir às declarações de Crato sobre a formação
nestas instituições. “Em última análise, devia ser alvo de um pedido de indemnização”, defendem
Educação
Maria João Lopes
A Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação (ARIPESE) promove nesta sexta-feira,
em Coimbra, uma reunião com os
presidentes das escolas superiores
de Educação e do encontro deverá
sair um comunicado exigindo a demissão do ministro da Educação e
Ciência, Nuno Crato. No encontro
também será escolhido um dia de
Janeiro para se realizar, em todas as
escolas superiores de Educação, uma
jornada “de reflexão” em torno da
polémica levantada por Crato, que
questionou a formação dada nestas
instituições.
Numa entrevista à RTP1 no dia em
que se realizou a prova de avaliação
de conhecimentos e capacidades
(PACC), o ministro da Educação
afirmou que o sistema de formação
de professores “tem várias falhas”.
E que “há professores licenciados
por universidades e há professores
licenciados por escolas superiores
de Educação que têm características diferentes e critérios de exigência
muito diferentes”.
“Como é que é possível dizer que
há exigências completamente diferentes nas universidades e nos politécnicos? Mas o ministro sabe? Vai às
aulas? Tem algum dado no terreno?”,
questiona o presidente da ARIPESE,
Rui Matos.
Apesar de o Ministério da Educação e Ciência (MEC) já ter emitido um
esclarecimento, no qual rejeitava que
na entrevista televisiva Crato se tivesse referido apenas aos alunos das escolas superiores de Educação (ESE),
tal não foi suficiente para acalmar os
ânimos de professores e alunos destas instituições. “O ministro já veio
dizer que afinal não disse aquilo, o
que é muito estranho, porque toda a
gente ouviu”, reitera Rui Matos, defendendo que as declarações representam um “grande prejuízo” para as
ESE e que alguns pais que as ouçam
poderão optar por uma universidade para os filhos fazerem o curso. “É
inadmissível, em última análise, isto
devia ser alvo de um pedido de indemnização”, defende. Explica que
esse pedido de indemnização seria
apenas um gesto simbólico diante de
uma atitude “bastante grave”.
“O ministro estava muito zangado
com o que aconteceu no dia da prova
[PACC] e depois resolveu disparar na
direcção das ESE, julgando encontrar
aí, de repente, uma justificação para
a necessidade da feitura da prova,
o que ainda foi mais caricato”, nota
Rui Matos.
No esclarecimento, o MEC sublinhava que o ministro “se referia ao
conjunto do sistema de formação inicial de professores, que tem programas curriculares diversos, dizendo
que há diferenças entre as diversas
escolas de formação de professores,
sejam universitárias, sejam politécnicas, referindo ‘essas escolas’ no
seu conjunto, e sem fazer juízos de
qualidade que distinguissem escolas
politécnicas por um lado e universitárias por outro”.
Para Rui Matos, porém, pedir a demissão de Crato “é um dos aspectos
quase inevitáveis” da reunião. Defen-
de que, quando o ministro que tutela o ensino superior “não acredita”
na formação que é dada aos alunos,
“algo está mal”. “Como é que nós podemos confiar, desenvolver o nosso
trabalho?”, questiona ainda. “Não
podemos confiar num ministro destes, aliás, acho que o país não pode
confiar num ministro destes”, reitera. Já o dia de luta previsto para Janeiro deverá acontecer em simultâneo
em todas as ESE e não se prevê que
seja de greve ou manifestações, mas
sim uma “jornada de reflexão”, com
debates que juntem especialistas,
professores, alunos e ex-alunos.
Para a reunião desta sexta-feira foram convidados os presidentes dos
institutos politécnicos e o Conselho
Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos que também já
defenderam, em carta dirigida ao
primeiro-ministro, a demissão de
Crato. Também a esta carta o MEC
reagiu, lamentando que “um órgão
como o CCISP, parceiro da tutela na
definição das políticas educativas para o ensino superior e constantemente auscultado, possa fazer um aproveitamento despropositado de uma
conjecturável ambiguidade prontaO ministro
Nuno Crato
esclareceu que
não fez “juízos de
qualidade” que
distinguissem
escolas
mente esclarecida”. No comunicado,
o MEC escrevia ainda que a “tomada de posição do CCISP é ainda mais
injustificada tendo em conta que o
sentido e alcance das declarações do
sr. ministro foram directamente esclarecidos junto daquele órgão, mal
foram suscitadas dúvidas”.
Depois de já terem também divulgado uma carta, as ESE sentiram
necessidade de voltar a manifestar
repúdio pelas declarações, até porque têm sido contactadas por alunos que estão “bastante preocupados”: “Queremos que os alunos e
ex-alunos percebam que nós estamos com eles, que podem confiar
na formação que lhes foi dada e que
este foi um ataque, diria pueril, infantil, que não se faz. Uma pessoa
com aquela responsabilidade não
pode dizer o que disse e ficar impune. Aliás, eu acho que já não vai ser
possível reparar aquilo”, afirma Rui
Matos. Rui Matos espera ainda que
também a Agência para a Avaliação
e Acreditação do Ensino Superior
reitere o seu repúdio, uma vez que,
sustenta o presidente da ARIPESE,
com aquelas declarações, o ministro está a dizer que “não confia” na
agência.
ENRIC VIVES RUBIO
A prova de avaliação dos professores realizou-se no dia 18 de Dezembro, apesar de uma forte contestação
ID: 51513554
27-12-2013
Tiragem: 38013
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País: Portugal
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Period.: Diária
Área: 5,66 x 4,90 cm²
Âmbito: Informação Geral
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Educação reúnem-se hoje
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