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Relatório dos Investimentos 2013
Sistemas de Reciclagem no RS e em SC
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EXPEDIENTE
INSTITUTO VONPAR
Presidente: Rodrigo Vontobel
Consultor: Léo Voigt
Administrativo: Eberton dos Santos Silva
EQUIPE TÉCNICA
Jacqueline Salvadori Virti
FOTOS
Jacqueline Salvadori Virti
REVISÃO TEXTUAL
Caren Capaverde
DIAGRAMAÇÃO
Beto Fagundes | Agência de Arte
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Apresentação
RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA – Rodrigo Vontobel9
A Experiência 2008/2013
Metodologia de Trabalho com Unidades Populares de Triagem13
Cooperação Técnica e Financeira para Unidades
Populares de Triagem de Resíduos – Aprendizados e Precauções25
Relatório dos Investimentos 2013
Nova Hartz – Cooperlar – Cooperativa de Trabalho e Habitação Nosso Lar42
Piratini – Coopiratini – Cooperativa de Trabalho e Renda Reciclagem Solidária44
Esteio – Cootre – Cooperativa de Trabalhadores e Recicladores de Esteio46
São Leopoldo – Associação de Catadores e Recicladores Mãos Dadas48
São Leopoldo – Cooperativa de Recicladores do Loteamento Santo Antônio50
São Leopoldo – UNICICLAR – Cooperativa de Catadores e Recicladores do Município de São Leopoldo
52
Morro Reuter – Cooperagem – Cooperativa de Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente54
Porto Alegre – CTVP – Centro de Triagem da Vila Pinto56
Porto Alegre – Coopertinga – Cooperativa de Reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos58
Porto Alegre – Organização de Catadores da Vila Santa Teresinha60
Novo Hamburgo – Coolabore – Cooperativa de Construção Civil e Limpeza Urbana62
Taquari – Organização de Catadores de Taquari64
Joinville – RECICLA – Coop. de Reciclagem, Beneficiamento e Arborização de Joinville66
Chapecó – Cooper São Francisco – Associação de Catadores de Materiais Recicláveis São Francisco 68
Blumenau – Recinave Transbordo70
Navegantes – RECINAVE – Associação dos Agentes da Reciclagem de Navegantes72
Araranguá – COOPERAR – Cooperativa de Trabalho e Produção de Recicladores de Araranguá74
Gestão Administrativa e Financeira da Carteira Vonpar77
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RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA
O Brasil sempre foi um país de grandes contrastes sociais, que geram inquietação em diversos
segmentos. À medida que se desenvolvem e crescem, as empresas privadas se sentem motivadas a
participar da agenda pública da nação, aspirando
compartilhar com os segmentos menos desenvolvidos os benefícios do crescimento. Talvez por isso
muitas empresas contam com um setor especiali-
zado para realizar seus investimentos em projetos
comunitários.
No caso da Vonpar, o engajamento comunitário
da empresa ganhou significado estratégico perante
a apresentação dos Objetivos do Milênio, divulgados pela ONU. Na primeira década deste século, os
objetivos faziam muito sentido para todos nós.
Os Oito Objetivos até 2015 são:
Declaração do Milênio – ONU – setembro de 2000. Compromisso assinado por 191 países pela sustentabilidade do planeta.
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Perante os desafios lançados, decidimos contribuir com algumas das metas em nossa região de
atuação empresarial, notadamente a três delas. Na
ocasião, fizemos a escolha estratégica de contribuir
com os Objetivos aperfeiçoando nosso trabalho social referente à cadeia de produção de refrigerantes
e seus impactos. O desejo de fazer a diferença em
alguma das diversas demandas sociais deu origem
ao Instituto Vonpar, entidade vocacionada à inclusão produtiva de catadores. Iniciamos o planejamento em 2007 e já em 2008 realizamos a primeira
rodada de investimentos em unidades populares de
triagem.
Em 2010, foi aprovada a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, dando total legitimidade e antecedência
para a política de investimentos do Instituto Vonpar,
que vinha operando e estava em perfeita consonância com a nova lei. O conceito de responsabilidade compartilhada que fundamenta a Lei nº
12.305, de 02 de agosto de 2010, transforma os
envolvidos com a produção, distribuição, comercialização e o consumo em corresponsáveis pela
destinação final dos descartes.
O objetivo original da inclusão produtiva de catadores e o fomento ao empreendedorismo popular
passaram a ser mais bem complementados pela
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dimensão do resgate de resíduos e redestinação a
novos processos industriais. O tema ambiental em
nossa agenda findou fortalecido pelos fatos que se
sucederam, após as escolhas estratégicas e metodológicas feitas em passado recente.
O certo é que o Brasil alcançou, com antecedência, os oito Objetivos do Milênio. A Vonpar,
por seu turno, muito mais contribuiu, quero crer,
ao desenvolver métodos e processos de inclusão
das populações com maiores dificuldades de proteção, inclusão e adesão a políticas públicas. Neste Relatório Anual referente ao exercício de 2013,
buscamos consolidar muitos desses aprendizados.
Disponibilizamos o que aprendemos nessa trajetória, conhecimento este que compartilhamos com
especialistas, militantes, entidades e todo o sistema
de reciclagem, catadores, lideranças e fóruns de representação do setor. A isso buscamos consolidar
nos capítulos que vêm a seguir.
Boa leitura!
Rodrigo Vontobel
Presidente do Instituto Vonpar
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A Experiência 2008/2013
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Metodologia de
Trabalho com Unidades
Populares de Triagem
A
empresa Vonpar atua há 65 anos no setor
de bebidas e, recentemente, incorporou as
empresas Mumu e Neugebauer. Assim, a tradicional fábrica de refrigerantes
do Sul do Brasil se converteu, desde 2010, numa
indústria alimentícia mais ampla, incluindo em seu
portfólio de produtos chocolates, bombons, balas,
pirulitos e doce de leite.
pós-consumo. A empresa já havia se aproximado
de alguns galpões de triagem de lixo para ajudá-los
a melhorar suas condições de trabalho. A Vonpar
iniciou esse trabalho em 1996, quando participou
da formação da Cooperativa Ecos do Verde, na
cidade de Santo Ângelo/RS. Desde essa época, o
tema passou a ter grande importância, por ajudar
a sociedade a dar destinação correta a embalagens
Nessa trajetória empreendedora, o grupo se en- descartadas após o consumo de produtos, em geral.
volveu em projetos sociais, culturais e comunitáMuito embora o apoio a projetos não se resurios de todos os tipos. Isso fez com que o patamar misse a essa dimensão da reciclagem, tendo sido
de participação nessas ações se ampliasse bastante ampliado também a outros temas sociais, ambienao longo da década passada. Uma das mais impor- tais e culturais, o fato é que a agenda da reciclatantes frentes em que a empresa se lançou foi a de gem foi ganhando dimensão de responsabilidade.
apoiar sistemas de coleta e reciclagem de resíduos Soma-se também a esse fato a aprovação da Lei
descartáveis.
Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.305, de
O investimento social da Vonpar ganhou força
no ano de 2007, com a constituição do Instituto
Vonpar, que visa aperfeiçoar e melhor desenvolver
seu investimento comunitário, sobretudo aquele
destinado a unidades de triagem de resíduos do
02 de agosto de 2010. Com a importante legislação
entrando em vigor – na realidade uma conquista da
sociedade e do patrimônio natural –, nasceu o conceito de responsabilidade compartilhada, a qual a
Vonpar vinha, antecipadamente, praticando.
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O Instituto Vonpar foi instituído para desenvolver métodos e conhecimentos no fomento a sistemas de
reciclagem, tendo as seguintes convicções:
i. a triagem de resíduos deve decorrer da coleta pública seletiva, feita em larga escala;
ii. os descartes do pós-consumo precisam ser entregues pela municipalidade, a domicílio e gratuitamente para as unidades populares associativas ou cooperativadas de separação;
iii. a triagem deve ser operada por equipes, que trabalham em mesas de quatro a seis pessoas, separando os materiais por tipo (especialidade na triagem);
iv. as unidades de triagem recebem os materiais em escala e separam manualmente; quando isso
estiver funcionando em linha de trabalho, pode-se investir em processos mecanizados, como esteiras
e sistemas de beneficiamento, elevando os volumes de materiais triados e a qualidade no trabalho;
v. sempre que possível, as unidades de triagem devem ser estimuladas a formar fóruns municipais
ou regionais de catadores, com vistas a constituírem redes de produção, beneficiamento e comercialização de materiais recicláveis.
Ao realizar essa ação de fomento econômico, de forma simples e objetiva, converte-se o “lixo” em
matéria-prima reindustrializável e se oportuniza aos trabalhadores, aglomerados em galpões de trabalho
artesanal, a transição para um empreendimento econômico autônomo, operando com escalas e resultados
desejáveis. Isso significa abandonar as formas artesanais e empobrecedoras de sobrevivência.
Pretendendo fazer uma diferença nesse ambiente de trabalho antigo e marginalizado, a Vonpar estabeleceu como método a construção de um ambiente participativo e, sobretudo, colaborativo, identificando
os caminhos para transformar essa realidade conjuntamente com os ativos locais. Pela participação especializada e regular, compartilhando conhecimento, desenvolveu uma metodologia que ajuda a sociedade
a construir soluções para esse tema, que todos consideram um dos principais problemas da atualidade.
A partir de um longo planejamento e da formação de uma linha de trabalho deu-se origem a uma pequena agência regional de cooperação técnica e financeira, com especialidade e boa capacidade para intervir
sobre essa realidade em sua zona de abrangência comercial. Por consequência, o Instituto formou-se
operando nos moldes das agências de cooperação internacional, dedicado ao fomento do desenvolvimento econômico e social de unidades populares de triagem de resíduos, com redução do impacto ambiental
por redestinação produtiva de materiais originalmente candidatos aos aterros sanitários urbanos.
16
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Sob essa orientação, o Instituto Vonpar operou seis rodadas anuais de cooperação técnica, com financiamento não reembolsável, a galpões de triagem de resíduos das periferias urbanas do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina.
QUADRO-RESUMO DOS INVESTIMENTOS DO
INSTITUTO VONPAR EM SISTEMAS POPULARES DE RECICLAGEM
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Total
734.000,
817.000,
861.000,
264.700,
260.771,
356.030,
3.293.500,
Unidade de Triagem
17
42
62
22
25
17
185
Trabalhadores
582
846
1.538
385
374
274
3.999
Cidades
15
31
41
18
25
13
143
Média por Galpão
43 mil
19.452,
13.894,
12.031,
10.430,
14.519,
Per capita R$
1.261,
965,
559,
687,
697,
901,
Investimento R$
18.887,
845
Para dar maior efetividade aos recursos financeiros aplicados na Unidade de Triagem e elevar o impacto do apoio na vida dos catadores beneficiados, o Instituto desenvolveu um conjunto de procedimentos e
regras que foram dando origem a um método de fomento, seguindo os seguintes passos:
1. Fixação de um orçamento anual a ser disponibilizado para unidades de triagem nos dois estados,
por meio de um edital, apresentando a oportunidade de acesso a financiamento não reembolsável e
regras claras e simples de como se candidatar.
2. Construção de um roteiro de projeto simplificado; na realidade, um formulário para preenchimento
que identifica a associação, as necessidades da unidade e o pedido que apresentavam, com orçamento
previsto.
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3. Total disponibilidade do Instituto para orientar qualquer pessoa ou instituição na compreensão das
poucas regras fixadas e para preencher o roteiro de projeto, dando apoio por meio de contato telefônico, e-mail ou mesmo em visita presencial a unidade em dúvida.
4. Contato direto com a Unidade de Triagem candidata que atendeu aos critérios de enquadramento
do edital, a saber:
a. Ser uma unidade popular de triagem de resíduos;
b.Ter caráter associativo ou cooperativado;
c. Ter um abrigo institucional formal, com CNPJ e conta bancária, seja a própria associação, seja
uma ONG parceira que abrigue o projeto; ou ainda a incubadora da universidade local;
d.Estar localizada nos estados Rio Grande do Sul ou Santa Catarina.
5. Identificação e reunião de parcerias, visando incentivar diversas formas de apoio e formar redes
de apoiadores.
6. Enquadramento final do projeto a partir de um diálogo e aprovação conjunta, entre financiador e
financiado; isso torna o catador coautor e corresponsável pelo projeto final contratado.
7. Combinação do orçamento, usos, prazos e estabelecimento conjunto de metas a serem perseguidas ao longo do investimento.
8. Busca obstinada por:
a. melhores condições de trabalho e dignificação da vida;
b.aumento da produtividade;
c. elevação imediata da renda mensal (partilha).
9. Contratação dos itens citados em um termo de cooperação, assinado por todos. Objetiva-se capacitar os envolvidos para as relações contratuais.
10. Depósito do recurso financeiro, por parcelas, em conta bancária exclusiva para o projeto.
11. Prestação de contas de cada parcela de investimento como instrumento disparador da parcela
subsequente.
12. Acompanhamento da execução por meio documental – notas fiscais, recibos, cópia de cheques e
extrato bancário – e visita in loco de técnico do Instituto Vonpar.
13. Orientação técnica durante o desenvolvimento do projeto com visitas regulares à UT e desloca18
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mento de equipe especializada nos casos de crise.
14. Monitoramento do diálogo da UT com a política pública municipal de saneamento e com as autoridades locais.
15. Formação sobre reciclagem, produção, gestão e resultados.
16. Trabalho com aproximação, conhecimento recíproco, confiança, foco no resultado e impacto na
política pública da localidade.
17. Registro sistemático e documentado de todas as etapas; celebrar junto os resultados e divulgar
amplamente o que foi realizado.
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Esses procedimentos, reunidos em um sistema
lógico e aplicados de forma criteriosa, como uma
ferramenta pedagógica, foram modificando catadores e associações em diversos aspectos. Em
muitos casos, representaram a primeira experiência de método na vida e no trabalho. Ter a vivência
de que vale a pena mover-se segundo objetivos e
cumprir combinações traz resultados concretos. O
empenho na produção, seguindo orientação técnica, eleva volumes de triagem, o que traz ganho
financeiro imediato. A cooperação técnica, valendo-se do argumento financeiro, introduziu elementos
de método, processo, foco, especialização e linha
de trabalho onde tradicionalmente prevaleciam a
fragmentação, a dispersão, o caos e os resultados
pobres. Ainda que haja muito por fazer em todas as
unidades apoiadas pelo Instituto Vonpar, em seis
rodadas foi possível elevar o empreendedorismo
dos trabalhadores. Em todos os estabelecimentos
financiados – unidades populares marginalmente
estabelecidas nas cidades – foi possível estabelecer ou aperfeiçoar as relações de diálogo com a
comunidade para além da vila ou do bairro onde
se situam. Foi possível reapresentá-los fortalecidos
perante parceiros privados, entidades do terceiro
setor, órgãos públicos e autoridades municipais.
Além disso, foi feito contato com muitos centros
universitários e incubadoras tecnológicas.
volvimento. Em seis anos, e quase 200 Unidades
financiadas, houve um único caso de rejeição. A
experiência demonstrou ainda que o dinheiro ofertado era um elemento convocante entre as partes e,
frequentemente, deixou de ser o insumo catalizador
para se converter em um dos ativos desejados, semelhante à cooperação técnica, à rede de parcerias
e à chancela que a aproximação da Vonpar passou
a representar. Tradicionalmente, os catadores são
vistos como população periférica e sua atividade é
indesejada na cidade, porém foi frequente a aproximação da municipalidade após a aprovação do
projeto no Instituto Vonpar.
Cabe ainda destacar que a iniciativa repercutiu e
impactou a política pública do setor. Em Santa Catarina, o fomento a galpões populares de triagem tornou-se uma política pública estadual, com elevados
investimentos. A ação é liderada por profissionais
que integraram o sistema Vonpar de cooperação.
No Rio Grande do Sul, o Instituto integrou a Rede
de Parceria Social do Governo Estadual e liderou
a carteira Vonpar de investimento em sistemas de
triagem no estado.
O trabalho ainda preparou as associações ou
cooperativas de reciclagem, seus líderes e assessores, para participar de outros processos de financiamento, seletivos ou não, governamentais ou
A aproximação da Vonpar sempre foi acolhi- privados, ampliando a captação de recursos para o
da e repercutida pelas UTs e pelos parceiros que sistema popular de triagem.
No entanto, tudo indica que não apenas catadose aglutinaram no entorno da proposta de desenRELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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res e associações tiveram mudanças decorrentes
dessa cooperação. Além das inovações nas políticas governamentais, conforme referido, mudaram
os parceiros privados envolvidos com a carteira.
Ao aproximar os líderes das unidades de triagem
e suas entidades de apoio da organização – empresa e empresário, se estabelece um diálogo inusitado de cooperação e camaradagem. No lugar de
trabalhadores informais malsucedidos e operando
em sistema marginal, eles passam a ser vistos por
muitos como líderes populares obstinados; empreendedores que, mesmo perante as piores condições de trabalho e sobrevivência, mesmo em
meio ao lixo, lançam mão de estratégia social de
sobrevivência para muitos, com resultados, ainda
que notoriamente insuficientes. Em alguns casos,
os empreendedores populares geraram soluções,
colhendo bons resultados. A visão da cultura em-
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presarial tende hoje a identificar o empreendedorismo alternativo e resiliência desses agrupamentos
populares em vez dos desgastados e conhecidos
preconceitos.
Nas organizações que se aproximaram da carteira Vonpar de investimentos, formou-se uma aliança
tácita em torno da causa, que já produz impactos
muito além dos elementos originais pretendidos,
além de haver consenso sobre a metodologia aqui
recomendada.
Os resultados colhidos na experiência do Sul do
país estão sendo repercutidos pela política institucional e comunitária do sistema Coca-Cola. Adaptando essa metodologia aos objetivos da empresa,
em 2014, o Instituto Coca-Cola torna nacional a estratégia de fomento ao desenvolvimento econômico
e social de unidades populares de reciclagem em
todo o território brasileiro.
QUADRO-RESUMO DOS INVESTIMENTOS EM 2014
S a nta Cata rina
Araranguá
Chapecó
Imbituba
Joinville
Navegantes
Navegantes
COOPERAR
AMARLUZ
COOPERZIMBA
ASSECREJO / UNIPOL
RECINAVE – UNIDADE DE TRANSBORDO
RECINAVE
Total SC
R$ 15.000,00
R$ 14.950,00
R$ 15.000,00
R$ 14.000,00
R$ 15.000,00
R$ 15.000,00
R$ 73.950,00
Total RS
R$ 16.500,00
R$ 14.980,00
R$ 15.000,00
R$ 20.000,00
R$ 15.000,00
R$ 12.050,00
R$ 15.000,00
R$ 6.319,00
R$ 14.994,00
R$ 11.693,00
R$ 6.340,00
R$ 25.000,00
R$ 172.876,00
Valor Total
R$ 246.826,00
R i o Gra nde do Sul
Esteio
Morro Reuter
Nova Hartz
Novo Hamburgo
Piratini
Porto Alegre
Porto Alegre
Porto Alegre
São Leopoldo
São Leopoldo
São Leopoldo
Taquari
COOTRE-ARCA
COOPERAGEM
COOPERLAR
COOLABORE – UNIDADE VILA ODETE
COOPIRATINI – ASSOCIAÇÃO DE MULHERES
COOPERTINGA
SANTA TEREZINHA / AVESOL
CTVP
COOPERATIVA SANTO ANTÔNIO
UNICICLAR
MÃOS DADAS
PARÓQUIA SÃO JOSÉ
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para Unidades Populares de
Triagem de Resíduos
Aprendizados e Precauções
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O
Instituto Vonpar completa neste Relatório Anual seis rodadas de investimento em galpões de
triagem de resíduos nas periferias urbanas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, consolidando um conjunto de conhecimentos e práticas sobre o modo de cooperar com as Unidades
de Triagem. Desde as primeiras rodadas de cooperação técnica e financeira, iniciadas em 2008,
surpreendeu a complexidade dos temas relacionados ao universo do “lixo” e dos catadores. Havia muitos
desafios a enfrentar e muito que aprender, além da ausência de soluções viáveis e da presença de “soluções” presumidas.
O ambiente da reciclagem popular estava caracterizado, salvo poucas exceções, pela ausência de método, processo, gestão e sistemática de apoio. Além disso, era paupérrimo em tecnologia. Em sentido contrário, o que caracterizava esses ambientes periféricos e oficiosos era a bricolagem das diferentes formas
de trabalhar, reunindo fragmentos utilitaristas de modo um tanto anárquico no fazer e, disso tudo, tentar
obter alguma renda. Os catadores sempre foram pessoas pobres dedicadas à catação diária, separação
e comercialização de resíduos. Como ocorre ainda hoje, milhares de toneladas de materiais recicláveis,
com baixa atratividade comercial, eram dispensados nos logradouros públicos ou em aterros sanitários.
Muito embora o tema continue sendo um complexo desafio para as sociedades atuais – não há soluções com segurança nem exemplos consolidados que possam ser replicados – a verdade é que se aprendeu muito nesses anos de acompanhamento a galpões de triagem. Se ainda não foi possível escrever a
receita da triagem, do tipo manual de procedimentos, já é possível apontar quais os erros que não podem
ser reproduzidos. Portanto, propõe-se aqui um conjunto de Precauções Metodológicas – elenco de convicções acerca dos procedimentos que permitem melhorar as práticas de gestão e inclusão econômica
– capazes de gerar ganhos de produtividade e de qualidade no interior das unidades de triagem. Essas
precauções decorrem da prática sistemática, avaliada por um grande número de pessoas e organizações
que o Instituto Vonpar foi congregando nessa caminhada. É Seguro afirmar que sempre será possível
acrescentar novas considerações e artigos, quanto mais rico for o debate sobre a matéria e mais consistente e continuado for o apoio a UTs e aos catadores.
Este é uma reflexão; um texto de partida, e não de chegada. Deve ser instrumentalmente útil para aqueles que trabalham com Reciclagem. Uma vez que o ambiente da coleta e triagem de materiais é efetivamente popular, periférico e alternativo na sociedade formal, esse ambiente não pode mais ser vítima dos
descaminhos da política pública nem da filantropia privada. A fragilidade em que se encontra a maior parte
das cooperativas e associações de triagem no Brasil está exigindo medidas de fomento efetivas e políticas
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protetivas, sem que sejam novamente usadas como cobaia de experimentos e ideias que parecem boas
quando apresentadas numa reunião, pois isso na vida dos catadores pode representar mais uma etapa
penosa a ser tolerada, reiterando a desesperança que compõe sua rotina.
Lição I – Fim do Conceito Lixo
Ao longo do desenvolvimento dos diferentes modos de produção, todas as formas de descartes de
resíduos foram sendo construídas socialmente como lixo. Ou seja, lixo é uma categoria histórica e significa resíduo descartado após o consumo, considerado matéria sem valor e inútil para uso humano. No
entanto, na sociedade industrial, à medida que ela avançou tecnologicamente, os resíduos são cada vez
mais considerados materiais com valor comercial e passíveis de reutilização.
Atualmente, não há descarte no pós-consumo que seja totalmente inútil. Tanto os materiais orgânicos
são ricos em potencialidades de reaplicação quanto os materiais secos ou descartáveis, que contêm
matérias-primas úteis para a reaplicação industrial. Hoje, há tecnologia e meios para reciclar todos os
tipos de materiais. Mesmo os rejeitos da triagem (desprezados na recuperação dos materiais), que formam percentual relevante no volume total do “lixo” doméstico, podem ser aplicados como fonte geradora
de materiais novos ou gerar energia. Por essa razão, os resíduos do processo industrial e do consumo
têm valor comercial, encaminhando-nos para a futura extinção do conceito de lixo como o conhecemos.
Quase já não há mais descartes inúteis, que devam ser depositados em aterros sanitários. Isso nem é mais
desejável, uma vez que deixa para as gerações futuras um passivo ambiental relevante e potencialmente
de risco. Logo, temos que transformar a cultura do “lixo” em oportunidade para a geração de novos materiais e novas aplicações.
Lição II – Diferenciar Reciclagem e Reaproveitamento
Durante a realização de seminários de estudos com presença de especialistas em plásticos do antigo
CEFET de Sapucaia do Sul (hoje IFSul), consolidou-se a orientação de que só há reciclagem quando o
material pós-consumo é destruído na sua forma original e volta a ser matéria-prima para a reaplicação
industrial. Por isso, o reaproveitamento que é próprio das oficinas artesanais não configura reciclagem
e, na maior parte dos casos, deve ser evitado. O artesanato requer retrabalho sobre os materiais pós-consumo, como pintura, costura, cola e aplicação de outras matérias, elementos que para a reciclagem
são considerados contaminadores, retirando o valor comercial. Além disso, todo o material do artesanato
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um dia voltará para o “lixo” e, necessariamente, deverá ser encaminhado ao aterro sanitário porque foi
inutilizado para o processo industrial.
Logo, projetos artesanais com materiais descartados são úteis e importantes como forma alternativa de
trabalho terapêutico, ocupacional ou lúdico. Porém, são preponderantemente de baixo retorno econômico
e comercialmente inviáveis.
Lição III – Fortalecer a Unidade Produtiva
O sistema de triagem não tem viabilidade econômico-financeira se estiver baseado na figura do catador
nas ruas, andando com carrinhos de tração humana ou carroças de tração animal, que coletam o resíduo
comercial ou doméstico e entrega a um galpão ou atravessador para a triagem e comercialização. Isso
acrescenta mais um intermediário numa cadeia de baixíssimo retorno. Historicamente, esse caminho
representa pequenos volumes e baixo retorno, que tem funcionado como uma estratégia pobre de sobrevivência, feita por pessoas pobres, com métodos e resultados pobres, mantendo todos eternamente
pobres. Fica evidenciado que a dedicação exclusiva à triagem, feita em equipes com funções individuais
especializadas, proporciona maior retorno aos recicladores no interior dos galpões, pois elimina um item
na cadeia, faz aumentar os volumes triados e melhora as condições de comercialização.
Seja pela comprovação empírica nas unidades financiadas, seja no diálogo com trabalhadores e especialistas no tema, desde o princípio o Instituto Vonpar investe na ideia de abandonar as ruas e a catação
individual e fragmentária. Em sentido contrário, a reunião dos antigos catadores de rua em centros de
triagem, sob o controle dos associados ali agrupados, que recebam materiais da coleta seletiva pública
gratuitamente no galpão (a domicílio) e cujo método de produção esteja baseado no trinômio mesa de
triagem / equipe especializada / escala de volumes, gera impacto imediato na remuneração média mensal.
• Mesa: a primeira etapa do trabalho de triagem deve abandonar o trabalho sobre lixões ou amontoados acumulados no interior do galpão. Ao contrário, é necessário dispor os materiais oriundos da
coleta seletiva pública em cestos que drenam os materiais por gravidade sobre mesas padronizadas.
Nelas trabalham duas ou três duplas dispostas de cada lado da mesa, fazendo com que os materiais
se movam em sentido longitudinal, tendo um tonel ao final da mesa para recolher o rejeito da triagem.
• Prensa: materiais corretamente separados e prensados agregam valor comercial, impactando a
30
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renda. Além disso, aperfeiçoam a organização produtiva, reduzindo espaços necessários na UT e
em todo o transporte a seguir.
• Equipe: o trabalho deve ser realizado com especialização das tarefas. Cada pessoa retira da coleta
sobre a mesa um ou dois tipos de materiais focadamente, elevando a qualidade e o volume do que
foi triado.
• Escala: cada galpão deve ter entre quatro e oito mesas, de 20 a 40 trabalhadores, nas grandes
cidades, para gerar volumes com escala de material que justifique o deslocamento dos transportes
da coleta pública e dos compradores de materiais até o galpão e o retorno econômico mínimo aos
associados que permita, pelo menos, salário mínimo mensal e recolhimento de INSS.
Lição IV – Desenvolvimento e Aprendizagem por Etapas
Sempre que possível, iniciar o processo de formação empreendedora e busca de resultados sustentáveis por associações pequenas e médias (entre 20 e 40 trabalhadores). É preciso aprender a operar conjuntamente nas equipes de trabalho e associativismo nas decisões e na partilha dos resultados. Evita-se
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implantar sistema de esteira elétrica e demais tecnologias acessíveis, como o beneficiamento de materiais, antes de colher bons resultados nessa primeira etapa.
Ao iniciar com tecnologias de ponta e em agrupamentos maiores, todas as experiências até aqui conhecidas redundaram em fracasso. Apesar do desejo de fazer o que é certo e buscar sempre o desejável,
há que reconhecer a humana condição de conhecimento crescente, ideia de processo e etapas evolutivas.
Isso não é diferente em se tratando de pessoas excluídas.
Lição V – Fim da Operação nas Ruas
No passado, o menino pobre e de rua recebia da sociedade esmola e dos governos e instituições sociais caixa para engraxar sapatos, vender pipoca ou picolé. Entendia-se que era filho de uma família muito
pobre e deveria ser ajudado a fim de elevar sua renda familiar. O resultado desse olhar foi o trabalho infantil, a exclusão da escola, o afastamento do convívio familiar e comunitário e a manutenção das crianças
nas ruas, ali se “desenvolvendo”.
Algo semelhante faz-se ainda hoje com os catadores. A sociedade gerou o catador de rua. Há muitos
projetos e muitas políticas públicas reformando os meios e instrumentos de mantê-los na rua, no trabalho penoso, indigno, desprotegido, fragmentado, ao relento, ao desabrigo da lei e sem previdência.
Aprendeu-se rapidamente que o incontornável erro do passado, que produziu uma geração de brasileiros
adultos iníquos, será repetido ao dar acesso a um carrinho de catação novo, com identificação e placa,
mantendo-os na tração humana. Ou mesmo um carrinho elétrico, perpetuando-os nas ruas e em circunstância de baixa escala na catação manipulada, sem empreendedorismo nem especialização, sem acesso a
tecnologias de triagem e agregação de valor aos materiais, impedindo-os de serem donos do seu próprio
negócio, com autonomia.
Não se deve reformar as pobres condições de trabalho dos pobres, mantendo-os na pobreza.
Lição VI – Coleta Seletiva, em Escala e Entregue a Domicílio
A coleta pública, domiciliar e comercial, é uma atribuição da municipalidade. Ela arrecada impostos
para realizar profissional e sistematicamente essa tarefa e deve fazê-la, por lei, de forma seletiva e universal. Reunir os descartes que o consumo dispersou é a tarefa mais complexa e o instante mais caro da reciclagem. Deve ser realizado diariamente e em larga escala, por empresas públicas ou privadas que reúnam
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especialidade para esse fim e recebam remuneração pública para fazê-lo. Existem experiências em
que a Unidade de Triagem popular é a organização
contratada para prestar esse serviço. Em contraposição, há muitos casos em que governantes bem-intencionados experimentaram colocar essa tarefa
de coleta domiciliar na mão dos catadores da cidade, tornando-os, da noite para o dia, operadores de
complexos sistemas de logística circulando em todo
o território urbano e movimentando volumes e custos superlativos. Findaram gerando uma crise para
todos. Os catadores tiveram que administrar custos
fixos, operações e processos para os quais nunca
foram preparados. A municipalidade sofreu com o
estrangulamento do sistema urbano de limpeza e
saneamento, que já opera normalmente nos limites de suas possibilidades. Logo, é uma demasia
pedir aos catadores desempenho satisfatório como
operador de sistemas rotineiros de logística, com
escala, e dar destino para milhares de toneladas de
lixo por dia. Nessa fase de implantação de sistemas
integrados de reciclagem, aos catadores cabe, antes
de tudo, a geração de suas próprias condições de
sobrevivência e desenvolvimento, com autonomia.
O desafio da coleta domiciliar eficiente e da destinação deve prosseguir como uma tarefa pública,
estatal ou terceirizada, conectada com as unidades
de triagem no que tange à coleta seletiva.
Lição VII – De Catador para Empreendedor
da Triagem
A figura e o conceito de Catador que se popularizaram e foram incorporados pela legislação brasileira nasceram a partir das pessoas que tinham
por estratégia de sobrevivência catar, nos grandes
lixões urbanos a céu aberto, os materiais com algum valor comercial que eram despejados pelos
caminhões da prefeitura. Essa imagem se ampliou
com o catador das ruas, aquele que vai na “fonte”
– residências, condomínios ou empresas – catar os
materiais atraentes para venda, abreviando o trajeto
que fariam por meio da coleta pública. Atualmente,
passa-se a diferenciar a velha figura do catador das
ruas, também confundido como mendigo, para investir na nova imagem de um trabalhador protegido
e especializado, dono do seu próprio negócio – a
reciclagem, de forma associativa. Esses catadores,
a partir da triagem, tornam-se empreendedores e
recebem a coleta seletiva em grandes volumes de
materiais descartados, fazendo a triagem submetida
a uma linha de produção e com aplicação crescente
de tecnologia. O avanço ambicioso que se busca no
presente é alcançar a separação com consequente
beneficiamento, introduzindo lavagem e picotagem
dos materiais, enfardamento e comercialização final, diretamente com a indústria.
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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Lição VIII – Uma População Especialmente
Excluída
Em grande parte, as unidades de triagem reúnem
uma população com perfil especialmente desafiador. Muitos dessa população, com baixa escolaridade, não deram certo em outras atividades e
tornaram-se catadores em decorrência da não inserção no mundo do trabalho. Geralmente, inadaptados a condições regulares do trabalho formal ou
com histórias de desordens pessoal, familiar e social. Nesse ambiente, há maior incidência de riscos
e conflitos, pelo menos mais do que na média da
população, além da maior recorrência de transtornos e sofrimento psíquico e problemas com álcool
e outras drogas.
As lideranças das unidades de triagem precisam
ter especial talento para manter o grupo unido e
focado em resultado – certamente mais do que na
empresa privada regular. Além dessas características que elevam os indicadores de não adesão e
absenteísmo, a elevada rotatividade da mão de obra
no setor eleva as dificuldades de aprendizado, acumulação e conquistas de longo prazo. Mudanças e
usufruto são conquistas que se obtêm no tempo. O
fomento ao desenvolvimento econômico e a inclusão social são altamente civilizatórios nas populações vulneráveis e excluídas da cidade. A reunião e
o fortalecimento da atividade dos recicladores em
Unidades de Triagem são, antes de tudo, um meio
para vincular trabalhadoras e trabalhadores na busca conjunta por mudanças em suas vidas.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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Lição IX – A Centralidade da Liderança
Existe quase que uma ligação direta entre o perfil da liderança e os resultados de uma unidade de triagem popular. Sempre que um agrupamento tem um líder saudável, empreendedor e agregador, o grupo
cresce com ele e obtém maior produtividade, maior renda e percorre um caminho mais longo de conquistas, desafios e sucesso. O oposto disso só faz confirmar essa regra.
Lição X – A Conquista pelo Resultado
Catadores são trabalhadores que fazem da venda de materiais coletados sua estratégia de sobrevivência, uma vez que, na maior parte dos casos, outras formas não se revelaram atraentes ou viáveis. Esse
trabalho tem baixa sistematicidade e baixa expectativa de resultados. Tanto catadores de rua como uma
parcela dos associados em cooperativas de triagem não têm motivação para fazer sua tarefa de forma
diferente do que fazem. Eles tendem a buscar resultados para o dia, pois não carregam consigo a experiência da acumulação. O futuro é uma categoria abstrata. O trabalho de fomento a essa economia informal
deve demonstrar, pelo exemplo e pelo resultado no curto prazo, que dedicação e produtividade impactam
imediatamente em benefícios, gerando uma inovação na experiência cotidiana desses trabalhadores. Além
de perceberem, no bolso, a melhora de renda já no primeiro mês dos investimentos, todos os recicladores
reunidos em unidades de triagem devem visitar outras unidades iguais, porém com resultados melhores
que os seus. A visita a UTs melhor sucedidas gera um impacto inovador no olhar dos catadores a partir
daquela experiência. O apoio financeiro e técnico, investindo na melhoria das condições de trabalho e em
novos comportamentos na produção, geram resultados reconhecidos por todos, instaurando a reversão
num ciclo que era depressivo. Antes, poucos materiais vendidos a atravessadores, baixa adesão à produtividade e resultados econômicos desestimulantes retroalimentavam a desmotivação, o absenteísmo, a
desorganização interna e os resultados pobres.
Lição XI – Transitar da Manufatura para a Tecnologia
Muito embora projetos complexos e com prazos longos sejam insustentáveis no campo popular, o fato
é que, reordenado o galpão em UT, estabilizadas e motivadas as equipes, alcançada renda mínima digna
e previdência, torna-se possível iniciar o investimento em tecnologia. A triagem manual, feita por equipes
e em mesas, é uma etapa necessária para a formação e organização de uma Unidade de Triagem, mas não
é suficiente. A triagem manual e popular não dá conta dos volumes de materiais diariamente descartados
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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pela sociedade. Mesmo nas localidades com UTs exemplares, um percentual relevante do resíduo é destinado aos aterros sanitários. Logo, ir introduzindo esteiras elétricas, sistemas tecnológicos para separação
de materiais e captura diferenciada em meio ao resíduo, assim como sistemas de beneficiamento com
lavagem, secagem e picotagem são desejáveis e devem ser o futuro tão imediato quanto possível. Claro
que essa é uma história que não deve começar pelo fim. Isso já foi tentado.
Lição XII – Diversidade de Soluções e Acomodações não Legitimam Qualquer
Experiência
Nas cidades brasileiras foram sendo produzidas e acomodadas soluções que melhoraram as condições de saneamento urbano e dignificação dos resultados para os trabalhadores envolvidos. Disso não
se conclui que muitas das soluções acomodadas sejam aconselháveis. Há municípios em que o resultado
econômico da triagem é bem elevado, mesmo não havendo coleta seletiva. Em outros, a distribuição de
carrinhos elétricos representou um salto na higienização urbana. Numa outra experiência, a cooperativa
realiza a coleta urbana, triagem e comercialização da cidade e, por isso, recebe benefícios abundantes
como creche, alimentação, cesta básica, subsídio financeiro etc., configurando trabalho condicionado,
uma vez que substituem a coleta pública contratada, dispensando o poder público desse encargo. Ainda
assim, diferentes experiências com visíveis melhorias na cidade em relação à etapa anterior podem não
legitimar as “soluções” arranjadas e que se tornam questionáveis. Ou seja, ainda que não haja soluções
garantidas, nem um modelo testado e replicável, há aprendizados que não podem ser negligenciados e há
erros e acomodações que não são sustentáveis nem desejáveis. Como na estratégia que o Brasil aplicou
para a proteção da infância e juventude em risco desde os anos 1990, aqui também não há que buscar-se
qualquer resultado. É necessário perseguir os resultados sustentáveis, legais e que promovam a condição
humana do trabalhador. Dito de outra forma: não há um só caminho; porém, os descaminhos são conhecidos.
Lição XIII – A Singularidade de Cada Unidade de Triagem
Apesar das muitas semelhanças e de algumas recorrências, sabe-se que cada grupo tem suas peculiaridades, sua cultura própria, seus meios e suas formas de fazer, solucionar e decidir. A singularidade
de cada unidade de triagem chega a um ponto em que o mesmo investimento, nos mesmos moldes e
rubricas, feito em duas UTs com condições semelhantes na mesma cidade, irá gerar resultados bastante
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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distintos. Logo, o trabalho tem que ser personalizado em todos os sentidos: valor financiado e insumos
adquiridos, cronograma de implantação, assessoria técnica e capacitação específicos geram impactos que
quase nunca se repetem.
Lição XIV – Solução Total
As alternativas propostas para o tema da reciclagem geram soluções parciais, com mais ou menos custos. No entanto, não solucionam tudo. Em qualquer alternativa atende-se uma parte do problema, o que
permite afirmar que não existe uma solução total. Deve-se tolerar que mesmo as boas medidas exigem
uma complementação; e em todas, gera-se algum novo resíduo. Quanto mais competente for a solução
tecnológica buscada, mais cara é sua viabilização. As unidades populares de triagem, que operam com
materiais entregues pela coleta seletiva, ainda são a forma mais barata e viável de recuperar resíduos
descartados, além de proporcionarem a inclusão social do segmento.
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Relatório dos
Investimentos 2013
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Nova Hartz
Investimento: C ooperlar – Cooper at i va d e
Tr abal ho e Habi t ação Nosso L a r
R$ 15.000,00
Atividades: aquisição de equipamentos e retomada dos trabalhos do galpão que estava
desativado: bombonas, bags, computador, uniforme e carrinhos de carga. O grupo ainda
resgatou uma prensa de materiais financiada pela Vonpar em anos anteriores.
Resultados:
• Reinício das atividades e geração de trabalho e renda para 18 associados.
• No primeiro mês, comercializou 31 toneladas, gerando renda média de R$ 1.546,00.
• Na sequência, houve aumento da produtividade de 1,9 mil kg para 2,1 Kg per capita.
• Incremento da renda média para R$ 1.712,00 e comercialização de 38,5 toneladas.
• A implantação do sistema de informática permitiu a emissão de notas fiscais, controles de
produção, gestão do negócio e pesquisa de editais públicos para novos financiamentos.
• A aquisição dos uniformes promoveu qualidade no trabalho e autoestima aos associados.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“O galpão estava parado e a gente não sabia
o que fazer. Precisava tudo! O Projeto foi
um achado, um ganho. Garantiu a estrutura
mínima e necessária para a retomada do
trabalho. Estamos vendo grandes desafios e
temos esperança de crescimento!”
Regina de Fátima Moura de Oliveira
Coordenadora da CooperlaR
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Piratini
Investimento: C oopiratini – Co o p e ra t iva d e Trab a lh o e Re n d a Re c iclag e m So lid ária
R$ 15.000,00
Atividades: aquisição de um contêiner que serve de unidade de higiene, contendo
chuveiros, pias, armários individuais, vasos sanitários, com adaptação para cadeirantes.
A Cooperativa conta com uma rede ampla de parceiros locais que viabilizam as operações
de triagem.
Resultados:
• Saneamento e higiene aos associados e visitantes.
• Salubridade no ambiente de trabalho e restauração da dignidade das trabalhadoras.
• Estímulo à produção, retenção de quadros e ampliação de associados, proporcionando
trabalho e renda.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“O Instituto Vonpar foi fundamental para que
nós, cooperados, tivéssemos o mínimo de
dignidade na área de higiene, possibilitando
a compra de um contêiner no qual foi feita a
instalação de banheiros e chuveiros.”
Simone Valadão da Silva
Presidente da Coopiratini
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Esteio
Investimento: C ootre – Cooperativa de Trabalhadores e Recicladores de Esteio
R$ 16.500,00
Atividades: contratação de educador social para assessorar a Cooperativa na organização de documentos e dos espaços de trabalho, cotação e controle de vendas, confecção
dos relatórios financeiros, constituição de fundo de reserva e provimento de receitas,
plano de ação e definição de metas com o grupo; trabalho em equipe e transparência na
prestação de contas.
Resultados:
• Incremento da renda per capita/mês de R$ 1.100,00 para R$ 1.380,00.
• Aumento de postos de trabalho de 20 para 26 associados.
• Aumento da produtividade de 1,8 mil para 2,0 mil Kg por trabalhador.
• Aumento do material comercializado de 36 para 52 T/mês.
• Aumento do material coletado de 30 para 84 T/mês.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“Significa muito! Com o recurso Vonpar
mantemos um assessor que nos ajuda na
organização. Transformamos a associação em
Cooperativa. Ele nos ajudou para isto e hoje
o grupo pensa o galpão como um negócio.
Evoluíram e pensam como empreendedores.
O assessor nos passa confiança e segurança.
Os gestores públicos têm muito respeito por
ele e por nós e sabem que o negócio vai dar
certo e vale a pena investir. Com o assessor,
conseguimos até acessar mais recursos. É
tudo de bom!.”
Rita Cássia de Souza
Presidente da Cootre
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São Leopoldo
Investimento: A ssoci ação de Cat ador es e
R eci cl ador es M ãos Dadas
R$ 6.340,00
Atividades: aquisição de balança digital, bombonas, material elétrico e realização de
capacitação em gestão de UT e produtividade. A contrapartida da Associação foi mão de
obra para as novas instalações elétricas da Unidade.
Resultados:
• Com a capacitação, os associados compreenderam a classificação e composição dos
materiais recicláveis.
• A balança possibilitou controle na pesagem para a comercialização.
• Melhoria substancial na operação com o uso de bombonas para triagem.
• A instalação elétrica viabilizou a prensagem dos materiais e a iluminação.
• Houve elevação dos preços na venda dos materiais.
• A produtividade cresceu de 912 Kg para 1.475 Kg /trabalhador.
• Incremento de 135% na renda média mensal dos associados.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“O Projeto significou tudo, tudo! No primeiro
mês, já vimos a diferença vendendo nosso
material enfardado. Antes, os compradores
pesavam lá nas empresas e botavam o peso
que eles queriam. Agora, a gente sabe o que
tá mandando para a rua. A gente percebeu o
ganho no bolso!”
Gilmar Schlusen
Presidente da Mãos Dadas
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São Leopoldo
Investimento:
C ooper at i va de Reci cl ador es d o
L ot eam ent o Sant o Ant ôni o
R$ 14.994,00
Atividades: aquisição de madeiramento e telhas para a construção do novo galpão com
600 m²; a Prefeitura Municipal destinou área de 3.500 m² e realizou terraplenagem. Na
construção, a mão de obra foi da Cooperativa.
Resultados:
• Construção da primeira etapa do novo galpão.
• Mobilização local e poder público em torno dessa obra.
• Futura melhoria da segurança e das condições de trabalho.
• Potencial duplicação do quadro de associados, gerando mais postos de trabalho.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“Já coloquei nas reuniões com a Prefeitura: a
Vonpar está ajudando e vocês também devem
dar uma forcinha. Valeu! Este apoio foi o
empurrão que precisávamos para construir
nosso novo galpão!”
Antônio Carlos da Silva
Presidente da Cooper Santo Antônio
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São Leopoldo
U NI CI CLAR – Cooperativa de Catadores
e Recicladores do Município de São Leopoldo
Investimento:R$ 11.693,00
Atividades: aquisição de elevador de fardos, construção de muro para cercamento da
área da Cooperativa e portão de ferro.
Resultados:
• Eliminação do esforço físico na movimentação dos fardos.
• Facilidades e maior capacidade de armazenamento dos materiais.
• Melhor aproveitamento do trabalhador na atividade de triagem, elevando a produtividade e
a renda.
• Aumento no quadro de 13 para 17 associados.
• Aumento da produtividade de 20 para 28 t/mês.
• Redução dos frequentes furtos de materiais.
• Melhoria no layout da produção e segurança da Cooperativa.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“Para nós, o projeto e o recurso chegaram em
boa hora. Tínhamos muitas perdas de material
por furtos durante a noite; além dos finais
de semana, animais e crianças espalharem
material e resíduos orgânicos no pátio. O
investimento está ajudando a aumentar a
renda dos cooperados e a segurança!”
Pedro Cézar Dutra dos Santos
Presidente da Uniciclar
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Morro Reuter
Investimento: Cooperagem – Cooperativa de
Reciclagem Unidos pelo Meio Ambiente
R$ 14.980,00
Atividades: aquisição e instalação de esteira de triagem e contratação pública, com a
municipalidade, para a realização da coleta seletiva urbana.
Resultados
• Incremento da produtividade de 1 t para 5,7 t /trabalhador/mês.
• Redução do volume e manejo de rejeitos.
• Melhoria da qualidade do material coletado e separado.
• Aumento da comercialização de 8 t para 34 t de materiais/mês; ou seja, 300%.
• Incremento da renda per capita de R$ 776,00 para R$ 2.356,00 (dez. 2013).
• Fortalecimento da cooperativa perante o poder público e a comunidade.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“O projeto significou muito! Nós esperamos
muito tempo por isso. Agora, com esteira,
vai menos material fora; é mais rápido e a
organização melhorou. Valeu! Estamos muito
agradecidos!”
Claudiomir Wegner
Presidente da Cooperagem
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Porto Alegre
Investimento: CTVP – Cent ro de
Tr i ag em da Vi l a Pi nt o
R$ 6.329,00
Atividades: aquisição de cinco ventiladores industriais e material elétrico para
instalação na área de produção; aquisição de portão para fechamento da área do galpão. A
parceria com a Prefeitura permitiu a aquisição e colocação de novo telhado e mão de obra
para instalação do portão.
Resultados
• Qualificação das condições de trabalho no interior do galpão.
• Cuidado e respeito pelos catadores, com impacto na autoestima.
• Mais segurança na guarda dos materiais triados e do patrimônio da UT.
• Atualização das condições físicas do galpão e mutirão bem-sucedido em torno de uma
unidade modelo na cidade.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“O apoio da Vonpar é uma valorização forte de
nosso trabalho. A gente se sente gratificada
porque o trabalho é duro; o pouco que entra é
partilhado e não sobra para investimentos. O
investimento feito pela Vonpar é um estímulo,
uma valorização do ser humano!”
Marli Medeiros
Presidente do CTVP
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Porto Alegre
Investimento: Coopertinga – Coop. de Reciclagem
de Resíduos Sólidos Urbanos
R$ 12.050,00
Atividades: aquisição de elevador de fardos. Unidade ainda em fase de
auto-organização e aquisição de balança eletrônica.
Resultados:
• Eliminação do esforço físico na movimentação dos fardos.
• Facilidades e maior capacidade de armazenamento dos materiais.
• Melhor aproveitamento do trabalhador na atividade de triagem, elevando a produtividade e
a renda.
• Rapidez e praticidade na pesagem do material comercializado.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“O projeto é essencial porque nós não temos
nada. É a alma do negócio. Como não temos
convênio com a Prefeitura, pagamos tudo
com a venda do pouco material que temos.
Como iríamos ter equipamentos sem este tipo
de projeto? Ajuda muito!”
Gerno Dias Prado
Presidente da Coopertinga
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Porto Alegre
Investimento: Organi z ação de Cat ador es
d a Vi l a Sant a Ter esi nha
R$ 15.000,00
Atividades: aquisição da prensa do novo galpão. Tratam-se de 40 catadores
fragmentados do centro de Porto Alegre em processo de formação de uma nova
associação. A entidade Avesol promoveu capacitação em formação de grupo,
administração e triagem de materiais. Na formação, os carrinheiros receberam bolsa
remunerada da municipalidade. O poder público está comprometido no acesso do grupo
a um galpão na região.
Resultados:
• Organização em grupo dos catadores ambulantes individuais.
• Preparação para formação de mais uma unidade de triagem na cidade.
• Transformação profunda na vida dos associados; das ruas para o trabalho abrigado.
• Compreensão sobre união, produção e classificação dos materiais recicláveis.
• Comprometimento da Prefeitura ao integrar o grupo na política pública.
• Aquisição de equipamento fundamental para o início da atividade produtiva.
• Consolidação de parceria entre os setores público, privado e ONG.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“O apoio muda muito! Eu trabalho sozinha
no sol e vendo o material sem prensar.
No galpão, vai melhorar bastante. Dá para
aproveitar e melhorar o material e sair do sol,
da chuva e do frio. Estou feliz e acreditando!”
Nina Mara Soares da Rosa
Líder da Organização
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Novo Hamburgo
Investimento: Coolabore – Cooperativa de
Construção Civil e Limpeza Urbana
R$ 20.000,00
Atividades: aquisição e instalação de prensa.
Resultados:
• Redução do tempo no processo de produção e prensagem.
• Redução na ocupação dos espaços e agilização das atividades.
• Incremento da produtividade de 2,1 t para 3 T trabalhador/mês.
• Aumento da comercialização de 52 t para 76 T de material/mês.
• Incremento da renda per capita de R$ 850,00 para R$ 1.200,00.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“Este tipo de financiamento é fundamental
para a Cooperativa. Só vem a gerar mais
postos de trabalho, renda e contribuir com o
meio ambiente. O Meio Ambiente
agradece muito!”
Claudir Frederico
Coordenador da Coolabore
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Taquari
Investimento: Organi z ação de
C at ador es de Taquar i
R$ 25.000,00
Atividades: em parceria com a Diocese de Montenegro e a Paróquia Franciscana de
Taquari, o projeto disponibilizou uma educadora social para assessorar os catadores
ambulantes na constituição de um grupo associativo, visando formar uma cooperativa,
além de ministrar cursos de capacitação. O projeto ainda contemplou material de
construção civil para organizar um galpão provisório. A Prefeitura já destinou a área
para a construção da unidade definitiva e realizou a terraplenagem do terreno. Em 2014,
devem iniciar as obras civis.
Resultados:
• Reunião dos catadores dispersos e individualizados em agrupamento.
• Cooperativa formalmente constituída, aguardando apenas registro na Junta Comercial.
• Participação efetiva dos novos associados, com elevada expectativa.
• Descoberta dos benefícios do trabalho associativo e especializado.
• Comprometimento da Prefeitura integrando o grupo à política pública de coleta e
reciclagem.
• Formulação de um novo projeto apresentado à FUNASA, pela municipalidade.
• Mobilização da Igreja para orientar a separação doméstica e o fortalecimento do
sistema de reciclagem.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“Vejo neste projeto a possibilidade de
trabalho digno, com renda justa e satisfatória,
crescimento pessoal e profissional para os
cooperados!”
Brenda Galvon da Silva
Líder do grupo
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Joinville
Investimento: RECICLA – Coop. de Reciclagem, Beneficiamento e Arborização de Joinville
R$ 14.000,00
Atividades: aquisição e instalação de esteira elétrica. A Unisol assessora a cooperativa,
que está focada em gestão empreendedora. A Prefeitura destinou um galpão maior para
ampliar as atividades.
Resultados:
• Profissionalização dos catadores na triagem.
• Aumento da qualidade dos materiais separados.
• Aumento da produtividade de 3,5t para 5t/mês por trabalhador.
• Aumento da renda per capita de R$ 1.400,00 para R$ 1.840,00.
• Fortalecimento e credibilidade da Cooperativa perante o poder público e a comunidade.
• Estabelecimento de meta para duplicar a produção da triagem em 1 ano.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
“O Projeto da Vonpar significa a gente
existir para alguém. Alguém está vendo e
reconhecendo nosso trabalho! Até então
parece que a Prefeitura está fazendo favor
para nós; mas pelo contrário, os catadores
que estão fazendo um favor para a cidade,
dando destino ao material.”
Ricardo Schelbauer
Presidente da Recicla
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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Chapec ó
Investimento:
Cooper São Francisco – Associação de Catadores de Materiais Recicláveis São Francisco
R$ 14.950,00
Atividades: aquisição e instalação de esteira elétrica; aquisição de equipamentos de
proteção individual (EPIs); realização de visitas benchmarking. A Incubadora Tecnológica
da UNOCHAPECÓ realizou capacitação dos associados e, principalmente, das lideranças.
A Prefeitura está destinando amplo galpão para a Associação. As atividades ainda estão
em fase de implantação.
Resultados:
• Segurança no trabalho e maior motivação do grupo.
• Melhorias na linha de produção, funcionalidade e qualidade da separação.
• Fortalecimento das lideranças com conhecimento e informação sobre reciclagem.
• Aumento da produtividade de 580 Kg para 1.100 Kg/trabalhador/mês.
• Duplicação da renda per capita.
• Meta para ampliação de vagas de trabalho.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
“O Projeto é um primeiro passo para
retomar a produção. Estamos reiniciando.
Este investimento deixa a gente mais
aliviado porque vai gerar mais renda para os
associados. Os associados estão felizes!”
Claudiomiro Cordeiro da Silva
Presidente da Cooper São Francisco
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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pro
j
etos
Blumenau
Investimento:
Recinave Tra n s b o rd o
R$ 14.950,00
Atividades: aquisição de prensa e esteira de triagem. A Incubadora Tecnológica da
Universidade Regional de Blumenau está assessorando a formalização do grupo na
constituição de uma Cooperativa. A Prefeitura está apoiando, entregando os resíduos da
coleta seletiva com a locação de um novo espaço, mais próximo da região central.
Resultados:
• Aumento da qualidade do material.
• Incremento dos volumes comercializados.
• Aumento da renda mensal que já alcança R$ 1.080,00 por trabalhador.
• Aumento da produção de 11t para 20t/mês.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
“O Projeto da Vonpar significa tudo. Na hora
da maior dificuldade, a Vonpar ajudou e muito.
Sou muito agradecida, do fundo do coração
por aquilo que a Vonpar fez por nós. Veio na
hora certa e na medida certa. Há quem critique
o baixo valor financiado, mas o pouco se torna
bastante na mão do necessitado!”
Gessi Fidelis Souza
Presidente do Transbordo
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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pro
j
etos
Navegantes
Investimento:
RECINAVE – As s o c ia ç ã o d o s Ag entes
d a Re c iclag e m d e Nav e g a n t e s
R$ 15.000,00
Atividades: aquisição de uma prensa e troca dos pneus do caminhão da coleta de
descartes e busca de ampliação de parceiros para o projeto. A Incubadora Tecnológica da
Universidade Regional de Blumenau presta assessoria técnica sistemática e capacitação
em administração, gestão e produção de UTs.
Resultados:
• Restauração do caminhão fora de operação.
• Garantia da obtenção dos resíduos seletivos de grandes empresas locais conveniadas com
a Associação.
• Redução do dispêndio de tempo na prensagem.
• Conquista da autonomia para comercialização, acessando valores de mercado para os
materiais triados.
• Incremento da autoestima e motivação dos associados.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
“O Projeto significa uma qualidade de vida
melhor. Até então a gente tinha que trabalhar
como dava, e com a ajuda da Vonpar a gente
passou a ter mais esperança de poder ajudar
as pessoas para todos crescerem. A Vonpar
está dando esta oportunidade para nós!”
Nilceia Calistro (Índia)
Presidente da Recinave
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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pro
j
etos
Ararangu á
Investimento:
COOPERAR – Cooperativa de Trabalho e
Produção de Recicladores de Araranguá
R$ 15.000,00
Atividades: construção de espaço para armazenamento de materiais separados e reforma do caminhão (motor e assoalho) utilizado na busca dos materiais seletivos.
Resultados:
• Melhor conservação dos materiais que aguardam a prensagem.
• Aumento da vida útil de equipamentos como bags e do material triado.
• Melhorias na organização do espaço produtivo.
• Manutenção da coleta realizada pela Cooperativa, que assegura matéria-prima para
separação.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
“A gente tem que ter amor por aquilo que faz,
para dar resultado; se não, não adianta! O
Projeto da Vonpar significa muito porque foi
um empurrão para nos incentivar a continuar.
Só nós não dá porque temos pouco material.
Valeu, estamos satisfeitos!”
Adriana de Almeida Souza Neto Pedro
Presidente da Cooperar
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
Gestão Administrativa e
Financeira da Carteira Vonpar
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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“Chega-se à conclusão
de que a disponibilização
de recursos financeiros
aplicados de forma flexível
e transparente fortalece
a captação de mais
investimentos, além de
contribuir para a melhoria
das condições de vida
de um empreendimento
popular.”
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
A
pós seis rodadas de investimentos sistemáticos em
galpões de reciclagem de resíduos no Rio Grande do Sul
e em Santa Catarina, através
da cooperação técnica e financeira, o Instituto Vonpar logra consolidar
a inovadora experiência que, pela primeira
vez, financiou galpões de reciclagem com
depósito financeiro realizado diretamente na
conta bancária de cada unidade (associação
ou cooperativa). Os recursos foram operados na modalidade financiamento não reembolsável, com prestação de contas a cada
etapa de desembolso.
Financiar diretamente projetos para catadores e exigir destes a prestação de contas,
num primeiro momento, pareceu demasiado
complexo. Elaborar uma prestação de contas
padrão, com planilhas e documentação não é
algo simples e muitas vezes pode ser assustador, especialmente para essa população.
Alguns desafios precisaram ser enfrentados,
entre eles, a capacitação dos líderes ou administradores da reciclagem em sistemática
de transparência e prestação de contas, que
demonstra a importância desse instrumento
para a gestão e correta utilização e para a
aplicação dos recursos, além da oportunidade perante outras fontes de financiamento.
Para capacitar os gestores, o Instituto utilizou as
seguintes estratégias:
a)A cada novo edital lançado e após a seleção
dos projetos com enquadramento realizou-se seminário de capacitação contábil e financeira.
b) Um manual de prestação de contas foi elaborado em parceria com a Secretaria da Justiça
e Desenvolvimento Social que serviu para a Rede
de Parceria Social.
c) Acompanhamento especializado direto nas
UTs nas dificuldades referentes à matéria.
A prestação de contas tem como base o orçamento aprovado conjuntamente na contratação do Projeto, desdobrado em cronograma físico-financeiro. A
aplicação dos recursos é acompanhada mensalmente, através do instrumento de prestação de contas,
de acordo com o planejado no cronograma.
Valores Investidos
A carteira Vonpar investiu, durante as seis rodadas
de financiamento, o total de R$ 3.293.000,00 (três
milhões, duzentos e noventa e três mil reais), diretamente em galpões de reciclagem.
Conforme previsto no cronograma físico-financeiro do conjunto dos projetos aprovados nas seis
rodadas de financiamento Vonpar, os maiores investimentos foram realizados nas rubricas material de construção, serviços de terceiros e material
permanente.
RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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Aprendizados e Desafios
Embora algumas organizações tenham apresentado dificuldades na prestação de contas desde as primeiras rodadas, o fato é que o assessoramento técnico personalizado para o preenchimento de planilhas
financeiras acabou já na terceira rodada da carteira Vonpar, facilitando o processo e reduzindo, em muito, as
dificuldades no andamento dos contratos. Ao final da sexta rodada de investimentos, algumas convicções
foram se consolidando:
• Financiar projetos na área da reciclagem diretamente, de acordo com as necessidades definidas pelos próprios recicladores, fortalece o
sistema e capacita as pessoas.
• O processo de prestação de contas orientado
pelo Instituto demonstrou, de forma transparente e documental, como foram gastos os recursos
investidos.
• Os recicladores sabem gerir recursos, pois,
durante os seis anos de financiamento, os recursos previstos foram plenamente realizados.
Todos os valores liberados foram utilizados com
transparência e assertividade, e a utilização foi
comprovada através de prestações de contas
mensais.
• Esse instrumento fortaleceu a relação de parceria entre os galpões financiados e o Instituto,
pois contribuiu para o desenvolvimento dos projetos por meio do controle da execução financeira.
• Não houve projetos cancelados, nem interrompidos; tão pouco houve qualquer despesa
glosada.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
2013
• A experiência Vonpar preparou as UTs e suas
lideranças para movimentarem-se em direção a
financiamentos maiores, perante parcerias mais
complexas, além de colocar a muitas dessas em
condições de operar projetos com os poderes públicos, em condições de contratar.
Além disso, os registros das receitas e das despesas para apuração do resultado econômico e financeiro foram garantidos por contadores, uma vez
que era obrigatória a assinatura destes na prestação
de contas.
Ao final de mais essa rodada de financiamento,
chega-se à conclusão de que a disponibilização de
recursos financeiros aplicados de forma flexível e
transparente, a capacitação para gestão, o controle e
o monitoramento de recursos fortalecem a captação
de mais investimentos e novos parceiros, além de
contribuir para a melhoria das condições de vida de
um empreendimento popular.
Isso posto, a gestão administrativa e financeira
do Instituto Vonpar alcançou bons resultados, com
aprendizado constante para a carteira Vonpar, para
seus parceiros estratégicos e para os galpões financiados. Foram acumulados conhecimentos na
área de gestão financeira de Projetos que auxiliarão
financiadores e catadores na busca da viabilidade
econômica e financeira de projetos, para garantir a
sustentabilidade de galpões de reciclagem no longo
prazo.
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RELATÓRIO DOS INVESTIMENTOS
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