Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no CEO Cidade Tiradentes - Município de
São Paulo - na especialidade de Estomatologia.
Epidemiologic profile of the patients treated at Stomatology Service – CEO – Cidade
Tiradentes, São Paulo City, Brazil.
Renata Bezerra Coutinho Cruz. Marcus Vinícius Diniz Grigoletto. Silmara Regina da Silva.
RESUMO
A partir de 2004 a Estomatologia foi incluída nos Centros de Especialidades Odontológicas
representando desta forma um avanço para o Sistema Único de Saúde. O objetivo desta
pesquisa foi conhecer o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no Centro de
Especialidades Odontológicas da Microrregião de Cidade Tiradentes município de São Paulo,
na Especialidade de Estomatologia no período de janeiro 2010 à maio de 2011 com 227
pacientes. A idade dos pacientes variou de 1 à 89 anos (mediana 52,6 anos). Em 183 pacientes
(80,6%) foi constatada a presença de lesão bucal. Enquanto que em 44 pacientes (19,4%) não
foi constatada a presença de lesão no momento do atendimento no CEO. O diagnóstico mais
prevalente foi hiperplasia fibrosa inflamatória (44,7%), seguido por queratose (7,1%) e
carcinoma espinocelular (6,6%). A partir dos dados coletados conclui-se que medidas como a
capacitação para os profissionais das Unidades Básicas de Saúde juntamente com a ampliação
do serviço de prótese, além de campanhas para o combate aos principais fatores de riscos do
câncer de boca, tornariam o atendimento mais efetivo, com melhor resolutibilidade e
diminuiria os casos de pacientes com carcinoma espinocelular que representou na amostra a
terceira lesão mais freqüente.
Palavras-chave: diagnóstico bucal, epidemiologia, Sistema Único de Saúde.
ABSTRACT
Since 2004 the Stomatology service was included on the Odontology Specialties Centers
which represented a great advance to Sistema Único de Saúde (SUS). The objective of this
research was to analyze the epidemiologic profile of the 227 patients treated on the
Odontology Specialties Center of Cidade Tiradentes, São Paulo City, from January 2010 to
May 2011. Results: Patients age varied from 1 to 89 year (median 52.6 years). 183 (80.6 %)
patients had oral lesions, meanwhile in 44 patients (19.4 %) any lesion was found at the
moment of the consultation at the specialty center. The most prevalent lesion was
inflammatory fibrous hyperplasia (44.7%), followed by hyperkeratosis (7.1 %) and squamous
cell carcinoma (6.6 %). Based on this data, we concluded that some measures could make the
specialty service more effective like educational campaigns to the Basic Units Health
workers. Moreover, campaigns to avoid the oral cancer risk factor could reduce the incidence
of the third more prevalent lesion found at this population.
Key-words: oral diagnosis, Epidemiology, Sistema Único de Saúde.
INTRODUÇÃO
As lesões da mucosa bucal reúnem dentre outras lesões a afta, hiperplasia fibrosa
inflamatória, candidíase, herpes labial recorrente, queilite angular, mucocele, queratose,
granuloma piogênico, as lesões cancerizáveis como a leucoplasia e a eritroplasia e o câncer
de boca1,2,3,4.
De todas as lesões da mucosa bucal a mais relevante é o câncer de boca, devido a sua alta
letalidade e pelas possibilidades de identificação precoce por parte da rede básica de
atendimento odontológico5,6.
O tabagismo, alcoolismo, exposição à radiação solar, fatores ocupacionais, entre outros
quando conjugados a fatores do próprio hospedeiro, e ao tempo de exposição a estes
constituem condições básicas e características para explicar a origem dos tumores malignos
que acometem a cavidade oral5. Desta forma, os esforços do sistema de saúde devem ser
direcionados no sentido de estabelecer estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e
controle do câncer além da obtenção de informações de qualidade sobre a distribuição de
incidência e mortalidade, possibilitando assim melhor compreensão sobre a doença e seus
determinantes; formulação de hipóteses causais; avaliação dos avanços tecnológicos aplicados
à prevenção e tratamento, bem como avaliação da efetividade da atenção à saúde7.
O ano de 2004 representa um avanço no que se refere à saúde bucal no Brasil, uma vez que
foram instalados os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), unidades de referência
para as unidades de saúde encarregadas da atenção odontológica básica, com o objetivo de
ampliar e qualificar as ofertas de serviços odontológicos especializados. A estomatologia,
especialidade que faz a prevenção, diagnóstico, tratamento e ainda o encaminhamento e
suporte, no caso de lesões malignas, das alterações da cavidade oral, foi uma das
especialidades inseridas nos CEO’s8.
Mas para que ocorram avanços expressivos na saúde bucal é necessário ir além da criação dos
CEO’s e da melhoria da atenção básica, é preciso investir dentro destes espaços em ações de
promoção de saúde uma vez que é expressiva a influência dos fatores externos na gênese do
câncer de boca e de outras lesões da mucosa bucal como a hiperplasia fibrosa inflamatória que
está associada na maioria dos casos a um trauma mecânico 6,9.
OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa foi conhecer o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no
Centro de Especialidades Odontológicas sob gestão da Organização Social Santa Marcelina
na Microrregião de Cidade Tiradentes município de São Paulo, na Especialidade de
Estomatologia no período de janeiro 2010 à maio de 2011.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo transversal, descritivo, a partir dos prontuários dos pacientes
atendidos de forma consecutiva no serviço de Estomatologia do Centro de Especialidades
Odontológicas/ Microrregião Cidade Tiradentes do período de janeiro de 2010 à maio de
2011.
As variáveis analisadas foram gênero, idade, etnia, tabagismo, etilismo, e características da
lesão bucal encontrada como: localização, tipo e diagnóstico definitivo. Foram analisadas
ainda a realização de exames complementares, tratamento realizado e Unidade Básica de
Saúde de origem do paciente.
A análise estatística dos dados foi feita utilizando o programa SPSS statistics 19.0. As
variáveis qualitativas foram apresentadas em termos de seus valores absolutos e relativos e, as
variáveis quantitativas foram apresentadas em termos de seus valores de tendência central e
de dispersão.
RESULTADOS
Foram analisados 227 pacientes atendidos consecutivamente no período de janeiro de
2010 à maio de 2011.
A idade dos pacientes variou de 1 à 89 anos (mediana 52,6 anos). Os dados referentes
a gênero, tabagismo, etilismo e presença de lesão podem ser visualizados na tabela 1.
Não foi encontrada correlação estatisticamente significativa entre a presença de lesão e as
variáveis raça, gênero, etilismo e tabagismo (p>0,05).
Em 183 pacientes (80,6%) foi constatada a presença de lesão bucal. Enquanto que em 44
pacientes (19,4%) não foi constatada a presença de lesão no momento do atendimento no
CEO. A localização mais freqüente de lesão foi em fundo de sulco (19%), seguido por lábio
(15,8%) e língua (13,6%). As demais localizações das lesões assim como o tipo podem ser
visualizadas na Tabela 2.
Dois pacientes abandonaram o tratamento antes que se chegasse a um diagnóstico.
Em 157 pacientes (69,2%) não foi realizado exame complementar. A biópsia foi o exame
complementar mais realizado (27,8%), seguido pela radiografia (2,2%). Em apenas 0,9% dos
pacientes foram realizadas biópsia e radiografia.
O diagnóstico mais prevalente foi hiperplasia fibrosa inflamatória (44,7%), seguido por
queratose (7,1%) e carcinoma espinocelular (6,6%) (Tabela 3).
A cirurgia representou a modalidade terapêutica mais frequente com 39,1% e em seguida o
ajuste da prótese com 15,8% e a proservação da lesão com 12,5% (Tabela 4).
A UBS Carlos Gentile teve o maior percentual de encaminhamento ao CEO com 17,6% e
na sequência a UBS Profeta Jeremias com 9,3% e Prestes Maia com 8,4% (Tabela 5).
DISCUSSÃO
Os dados coletados demonstram que aproximadamente 20% dos pacientes atendidos no
Centro de Especialidades Odontológicas já não apresentam lesão bucal no momento da
consulta, o que ocasiona aumento dos gastos com saúde bucal.
Este dado demonstra que um quinto dos encaminhamentos ao centro de especialidades são
de alterações que poderiam ser diagnosticadas e tratadas na Unidade Básica de Saúde ou
mesmo de alterações fisiológicas. Com isto, percebe-se a necessidade de capacitação dos
profissionais inseridos nas Unidades Básicas de Saúde a fim de minimizar encaminhamentos
desnecessários.
O diagnóstico mais prevalente foi de hiperplasia fibrosa inflamatória. Uma vez que a
principal causa desta patologia é o uso de prótese mal adaptada e que a confecção de próteses
pelo SUS possui um número ainda reduzido, ações no sentido de agilizar a confecção de
próteses para os usuários tornam-se urgentes.
Dos pacientes encaminhados ao serviço de Estomatologia do CEO, 57,3% são extabagistas ou tabagistas atuais. Um terço dos pacientes ainda são tabagistas ativos. Este dado é
alarmante uma vez que o tabagismo Este dado é alarmante uma vez que o tabagismo é o
principal fator de risco para o câncer de boca. Na série de casos apresentados, o câncer de
boca foi a terceira patologia bucal mais prevalente. Portanto, campanhas de combate ao
tabagismo podem representar uma excelente estratégia da atenção básica de saúde.
No CEO Tiradentes sob a gestão da OS Santa Marcelina, uma ação pioneira de
encaminhamento de pacientes em tratamento oncológico com quimioterapia, radioterapia e
transplante de medula ósseo para adequação do meio bucal está em andamento. Embora
represente apenas 1,7% dos atendimentos do CEO, a ampliação desse serviço é inevitável e
beneficiará vários usuários acometidos por câncer.
CONCLUSÃO
A partir dos dados coletados conclui-se que o Centro de Especialidades representa um
avanço no atendimento do Sistema Único de Saúde e que medidas como a capacitação para os
profissionais das Unidades Básicas de Saúde juntamente com a ampliação do serviço de
prótese, além de campanhas para o combate aos principais fatores de riscos do câncer de boca,
tabagismo e álcool, tornariam o atendimento mais efetivo, com melhor resolutibilidade e
diminuiria os casos de pacientes com carcinoma espinocelular que representou na amostra a
terceira lesão mais frequente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Neville, B.W., Damm, D.D., Allen, G.M., Bouquot, J.E. Patologia oral e maxilofacial.
2.ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 798p.
2. Brasileiro Filho, G. Bogliolo patologia. 7.ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006,
1488p.
3. Regezi, J.A.; Sciubba, J.J.; Jordan, R.C.K. Patologia bucal: Correlações clínicopatológicas.
5ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 417p.
4. Tommasi, A.F. Diagnóstico em Patologia bucal. 3ed. São Paulo: Pancast, 2001. 600 p.
5. Pinto V.G. Saúde bucal coletiva. 5ª ed. São Paulo: editora Santos, 2008. 635p.
6. Pereira A.C. Tratado de Saúde coletiva em odontologia. 1ª ed. São Paulo: editora Nova
Odessa, 2009. 704p.
7. Instituo Nacional de Câncer (Brasil). Estimativa 2010: incidência de câncer no Brasil. Rio
de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer; 2010.
8. Bifulco V.A.Fernandes JR. H.J. Barboza, A.B..Câncer uma visão multiprofissional. 1ª Ed.
São Paulo: editora Manole, 2010. 479p.
9. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Diretrizes da Política
Nacional de Saúde Bucal. Brasília; 2004.
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