Motricidade
ISSN: 1646-107X
[email protected]
Desafio Singular - Unipessoal, Lda
Portugal
Carvalho, M.T.V.; Batista, A.P.L.; Almeida, P.P.; Machado, D.M.; Amaral, E.O.
Qualidade de vida dos pacientes transplantados renais do Hospital do Rim
Motricidade, vol. 8, núm. Supl. 2, 2012, pp. 49-57
Desafio Singular - Unipessoal, Lda
Vila Real, Portugal
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273023568007
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Motricidade
2012, vol. 8, n. S2, pp. 49-57
© FTCD/FIP-MOC
Suplemento do 1º EIPEPS
Qualidade de vida dos pacientes transplantados renais do
Hospital do Rim
Quality of life of patients with kidney transplants from Hospital do Rim
M.T.V. Carvalho, A.P.L. Batista, P.P. Almeida, D.M. Machado, E.O. Amaral
ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE
RESUMO
Este estudo teve como objetivo identificar os principais fatores que interferem na qualidade de vida dos
pacientes que realizaram transplante renal no Hospital do Rim de Montes Claros – MG no período de
2005 a 2007. Foram estudados 42 pacientes (12 mulheres e 30 homens) com idade entre 20 e 50 anos
utilizando o instrumento genérico SF-36, autoaplicado, traduzido e validado para o português. Os
pacientes transplantados tinham idade média de 33.07 anos (DP = 9.06). Os escores médios das
dimensões analisadas foram: CF: 55.97, AF: 52.97, DF: 78.21, EGS: 66.39, VT: 64.18, AS: 72.38, AE:
54.69, SM: 65.90.
Palavras-chave: insuficiência renal crônica, transplante renal, qualidade de vida
ABSTRACT
This study aimed to identify the main factors that affect quality of life of patients who underwent renal
transplantation at the Hospital do Rim of Montes Claros - MG in the period 2005 to 2007. We studied
42 patients (12 women and 30 men) aged between 20 and 50 years using the generic instrument SF36, self-administered, validated and translated into Portuguese. Transplant patients had a mean age of
33.07 years (SD = 9.06). The mean scores of the dimensions analyzed were: CF: 55.97, AF: 52.97, DF:
78.21, EGS: 66.39, VT: 64.18, AS: 72.38, LA: 54.69, SM: 65.90.
Keywords: chronic renal insufficiency, kidney transplantation, quality of life
Submetido: 01.08.2011 | Aceite: 14.09.2011
Maria Theresa Veloso Figueiredo de Carvalho, Ana Paula Lopes Batista, Paula Pereira Almeida, Daiane Marize Machado,
Edilene Oliveira Amaral. Instituição UNIMONTES, Montes Claros, Brasil.
Endereço para correspondência: Maria Theresa Veloso Figueiredo de Carvalho, Unimontes, Campus Universitário
Prof. Darcy Ribeiro s/n - CEP 39401-089 Montes Claros - MG, Brasil.
E-mail: [email protected]
50 | M.T.V. Carvalho, A.P.L. Batista, P.P. Almeida, D.M. Machado, E.O. Amaral
Estima-se que anualmente, em todo o
mundo, em torno de 500.000 pacientes
desenvolvam insuficiência renal crônica (IRC),
provocando uma demanda deste órgão em
torno de um milhão de transplantes por ano, se
todas as pessoas tivessem acesso ao tratamento
(Garcia, 2006).
A IRC consiste da perda progressiva e
irreversível das funções renais, na qual fracassa
a capacidade do corpo para manter os
equilíbrios metabólicos e hidroeletrolítico,
resultando em uremia ou azotemia (retenção
de uréia e outros resíduos nitrogenados no
sangue), que podem iniciar com um quadro
agudo ou de maneira lenta e progressiva
(Ministério da Saúde, 2002).
A IRC pode ser causada por doenças
sistêmicas, como o diabetes mellitus (causa
principal); hipertensão arterial; glomerulonefrite crônica; pielonefrite; obstrução do trato
urinário; lesões hereditárias, como doença do
rim policístico; distúrbios vasculares; infeções;
medicamentos ou agentes tóxicos (Suddarth &
Bare, 2009).
À medida que a função renal diminui, os
produtos finais do metabolismo protéico (que
normalmente são excretados na urina) acumulam-se no sangue. A uremia desenvolve-se e
afeta adversamente todos os sistemas do corpo.
Quanto maior for o acúmulo de produtos
residuais, mais graves serão os sintomas. A
IRC possui cinco estágios, sendo: estágio I
(lesão renal com taxa de filtração glomerular –
TFG – normal ou supranormal - ≥ 90), estágio
II (lesão renal com discreta redução da TFG –
60-89), estágio III (redução moderada da TFG
– 30-59), estágio 4 (redução acentuada da TFG
– 15-29) e estágio 5 (insuficiência renal - <
15). A taxa de declínio da função renal e a
progressão da insuficiência renal crônica
relacionam-se com o distúrbio subjacente,
excreção urinária de proteína e presença de
hipertensão. A diálise é recomendada quando o
paciente se encontra no estágio quatro
(Daugirdas, Blake, & Ing, 2008).
A doença tende a progredir com maior
rapidez nos pacientes que excretam quanti-
dades significativas de proteína ou apresentam
pressão arterial elevada que naqueles sem
essas condições (Suddarth & Bare, 2009). Por
ser uma doença progressiva e silenciosa, seu
diagnóstico, na maioria dos casos, só é feito na
fase terminal, requerendo, de imediato, terapia
renal substitutiva (Queiroz, Dantas, Ramos, &
Jorge, 2008).
O termo doença renal terminal (DRT) é
utilizado para denominar o estágio mais
avançado da insuficiência renal crônica, com
perda de mais de 90% da função renal. Sua
incidência tem aumentado em todo mundo,
associada ao envelhecimento da população, à
melhora dos recursos disponíveis para tratamento de diversas doenças, como diabetes,
problemas cardiovasculares e câncer, bem
como o rápido crescimento e aprimoramento
dos métodos de substituição da função renal
(Hsu, Vittinghoff, Lin, & Shlipak, 2004).
Os tratamentos atualmente disponíveis para
manejo da DRT não são curativos, mas
substituem a função renal aliviando os
sintomas da doença e podem preservar a vida
do paciente. Incluem a hemodiálise (HD), a
diálise peritonial ambulatorial contínua
(CAPD) e o transplante (TX) (Ravagnani,
Domingos, & Miyazaki, 2007).
Para Garcia (2006)e Santos e Pontes
(2007), entre as terapias, o transplante renal
oferece a melhor oportunidade de sobrevida
em longo prazo e de reabilitação, com menor
custo social que a diálise e, por ser a única
opção terapêutica capaz de prevenir a morte
certa, em poucos meses e/ou anos, oferecendo
a expectativa de uma nova vida.
Os recentes avanços no manejo imunológico, nas técnicas cirúrgicas, nos cuidados
intensivos e a introdução de drogas
imunossupressoras mais modernas e de
soluções de preservação mais eficientes
contribuíram para melhorar os resultados dos
transplantes. Devido a este grande êxito, as
indicações para transplante de órgãos sólidos
estão se tornando cada vez mais liberais,
aceitando-se pacientes idosos ou com doenças
sistêmicas associadas, levando a uma expansão
Qualidade de vida de transplantados renais | 51
no número de potenciais recetores (Garcia,
2006).
Entretanto, mesmo com um transplante
bem sucedido, após a alta e com o enxerto
funcionante, o paciente continua a viver com
uma doença crônica. Consultas hospitalares
com regularidade são necessárias e podem
gerar estresse, especialmente nos primeiros
seis meses, quando são mais freqüentes.
Quando o intenso contato com sistema de
saúde diminui, o retorno a um estilo de vida
normal (diferente, entretanto do estilo de vida
anterior à doença renal) traz novas preocupações, como a necessidade de retomar a vida
profissional, o convívio com a família e outras
responsabilidades (Ravagnani et al., 2007).
Diversos autores demonstraram a influência
da doença renal crônica na qualidade de vida
desses pacientes. Portadores de DRC têm
considerável diminuição da qualidade de vida
quando comparados à população geral,
havendo associação entre a função renal e os
escores de escalas que avaliam bem-estar e
qualidade de vida (Gorodetskaya et al., 2005).
A qualidade de vida é definida pela
Organização Mundial de Saúde como “a
perceção do indivíduo acerca de sua posição na
vida, no contexto cultural e sistema de valores
do local onde vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (Ravagnani et al., 2007).
A qualidade de vida tem-se tornado um
importante critério na avaliação da efetividade
de tratamentos e intervenções na área da
saúde. Abrange domínios de funcionamento,
como condições físicas e capacidade funcional,
condições psicológicas e bem-estar, interações
sociais, condições ou fatores econômicos e/ou
vocacionais e condições religiosas e/ou espirituais. A avaliação da qualidade de vida é
realizada com base na perceção que o indivíduo
tem em relação a cada uma destas áreas e a
terminologia utilizada pode diferir entre os
investigadores (Martins & Cesariano, 2005;
Ravagnani et al., 2007).
Embora estudos sobre a qualidade de vida
de pacientes renais crônicos sejam frequentes,
poucos têm abordado a qualidade de vida de
pacientes transplantados, suas preocupações e
os novos desafios que surgem após a cirurgia,
como o reconhecimento de sinais e sintomas
associados com infeção e rejeição.
Dessa forma, os objetivos deste estudo
foram identificar os principais fatores que
interferem na qualidade de vida dos pacientes
que realizaram transplante renal no Hospital
do Rim de Montes Claros – MG no período de
2005 a 2007 e os objetivos específicos:
identificar as limitações físicas e/ou emocionais destes pacientes e sua interferência nas
atividades da vida diária e nas relações sociais.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de campo com
caráter exploratório. O campo de investigação
foi o Hospital do Rim de Montes Claros – MG,
hospital de referência na região Norte de Minas
Gerais para o tratamento de doenças renais e
terapias renais substitutivas.
Amostra
A população para este estudo consistiu em
44 pacientes que realizaram o transplante renal
no Hospital do Rim de Montes Claros - MG, no
período de 2005 a 2007, com idade entre 20 e
50 anos. Foram definidos como critérios de
exclusão da pesquisa os casos de óbitos,
retorno à hemodiálise e não aceitar participar
da pesquisa.
Contudo, o estudo foi concluído com a
participação efetiva de 42 pacientes transplantados renais que fazem acompanhamento no
Hospital do Rim de Montes Claros – MG que
atenderam os critérios de inclusão e exclusão
deste estudo. Foi excluído um paciente que
retornou à hemodiálise e outro que não aceitou
participar da pesquisa. O tempo médio
utilizado para as respostas foi de 10 minutos e
os entrevistados não apresentaram dificuldades
no entendimento dos questionamentos.
Para a realização desta pesquisa foram
cumpridos os requisitos da Resolução CNS
196/96, em que foi apresentado à instituição o
termo de concordância para a realização da
52 | M.T.V. Carvalho, A.P.L. Batista, P.P. Almeida, D.M. Machado, E.O. Amaral
pesquisa e, no momento da aplicação do
questionário, foi apresentado ao paciente o
termo de consentimento livre e esclarecido. As
entrevistas foram realizadas somente com o
consentimento dos mesmos.
O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética em pesquisas com seres
humanos da Universidade Estadual de Montes
Claros - Unimontes, de acordo com a Resolução CNS 196/96 com o parecer nº 1602/2009.
Instrumentos
O instrumento utilizado para avaliar a
qualidade de vida em pacientes pós-transplante
renal foi o questionário SF-36 (Medical
Outcome Survey - Short-Form 36, Rand Corp,
EUA), uma medida genérica amplamente
utilizada no mundo todo. Este instrumento
avalia a qualidade de vida relacionada à saúde
abordando seus oito conceitos: capacidade
funcional (CF), aspetos físicos (AF), dor física
(DF), estado geral de saúde (EGS), vitalidade
(VT), aspetos sociais (AS), aspetos emocionais
(AE) e aspetos mentais (AM) (Ciconelli,
Ferraz, Santos, Meinão, & Quaresma, 1999).
Os dados foram coletados no período de
setembro de 2009 a novembro de 2009, no
momento em que os pacientes aguardavam a
consulta para o acompanhamento médico e/ou
após estas consultas.
Para a avaliação dos resultados foi atribuído
um valor a cada questão, o qual, posteriormente, foi transformado em escores de 0 a 100,
onde o valor zero corresponde a um pior
estado de saúde, e 100 a um melhor, sendo
analisada cada dimensão em separado. Não
existe um único valor que resuma toda a
avaliação, e que corresponda a um estado geral
de saúde melhor ou pior (Ciconelli et al.,
1999).
Análise Estatística
Todos os dados foram digitalizados num
programa de estatística SPSS, versão 13.0 para
Windows e posteriormente submetidos a
tratamentos estatísticos específicos. O nível de
significância considerado nos testes estatísticos
foi fixado em 95% (p < .05). Para comparação
das médias das dimensões, foi utilizado o teste
t de Student.
Esta análise descritiva foi realizada para se
comparar as diferenças quanto à resposta ao
tratamento pós-transplante entre homens e
mulheres, diferenças desta resposta quanto à
idade dos pacientes envolvidos e diferenças na
resposta ao tratamento quanto ao tempo de
transplante renal. Para isto foi utilizada a
relação aos escores das dimensões do
questionário SF-36 utilizando-se o test t de
Student, análise de variância one-way ou coeficiente de correlação de Pearson. O teste t pareado foi utilizado para comparação dos escores
das dimensões do questionário SF-36.
RESULTADOS
Quarenta e dois pacientes preencheram os
critérios de elegibilidade para este estudo,
apresentando os seguintes resultados.
Análise descritiva dos dados
De acordo com a tabela 1, a amostra de 42
pessoas foi constituída por uma idade média
desses pacientes de 33.07 anos (20-50 anos),
uma mediana de 32.50 e desvio padrão de 9.06.
As menores e maiores idades encontradas
foram 21 e 50 anos, respetivamente.
A dimensão capacidade funcional obteve
uma média de 55.97, mediana de 61.51, desvio
padrão de 23.95, escore mínimo, 0 e máximo,
100. Foi analisado quanto à dificuldade,
principalmente, em realizar atividades vigorosas que exige muito esforço, tais como
correr, levantar objetos pesados, participar em
esportes árduos e atividades moderadas, tais
como mover uma mesa, jogar bola, etc.
A dimensão aspetos físicos obteve uma
média de 52.97, mediana 50.00, desvio padrão
de 37.93, escore mínimo, 0 e máximo, 100.
Sendo analisada sobre a dificuldade de realizar
seu trabalho, diminuição da quantidade de
tempo dedicado ao trabalho ou a outras
atividades, ou ainda, realização de menos
tarefas do que gostaria como consequência de
sua saúde física.
Qualidade de vida de transplantados renais | 53
Tabela 1.
Análise descritiva dos dados
Dimensões
Média
Mediana
Desvio Padrão
Mínimo
Máximo
Idade
Capacidade funcional
33.07
55.97
32.50
61.51
9.06
23.95
21
0
50
100
Aspetos físicos
52.97
50.00
37.93
0
100
Dor
78.21
84.00
24.71
0
100
Estado geral de saúde
66.39
67.88
25.84
0
100
Vitalidade
64.18
58.30
30.24
0
100
Aspetos sociais
72.38
100.00
34.69
0
100
Aspetos emocionais
54.69
66.00
41.53
0
100
Saúde mental
65.90
72.22
29.63
0
100
Já a dimensão dor obteve uma média de
78.21 entre os entrevistados, uma mediana de
84.00, desvio padrão de 24.71, escore mínimo,
0 e máximo, 100; demonstrando uma redução
significativa da dor, após a realização dos
transplantes.
A dimensão estado geral de saúde obteve
uma média de 66.39, mediana de 67.88, desvio
padrão de 25.84, escore mínimo, 0 e máximo,
100. A maioria dos entrevistados define sua
saúde como ruim, e dizem adoecer um pouco
mais facilmente que as outras pessoas.
A dimensão vitalidade obteve uma média
entre os entrevistados de 64.18, mediana de
58.30, desvio padrão de 30.24, escore mínimo,
0 e máximo, 100. Dessa forma, foi calculado
para mais os entrevistados que responderam se
sentirem cheios de vigor, cheios de vontade e
cheios de força, mesmo que, apenas, em
algumas partes das vezes. E calculado para
menos aqueles que responderam estarem se
sentindo esgotados e cansados.
A dimensão aspetos sociais obteve média de
72.38, mediana 100, desvio padrão de 34.69,
escore mínimo, 0 e máximo, 100. Sendo
questionado de que maneira a saúde física ou
problemas emocionais interferiram nas atividades sociais normais, em relação a família,
vizinhos, amigos ou em grupo.
A dimensão aspetos emocionais obteve uma
média de 54.69, mediana de 66, desvio padrão
de 41.53, escore mínimo, 0 e máximo, 100;
demonstrando que os problemas com o
trabalho ou com outras atividades regulares
diárias, ainda acarretam muitos problemas
emocionais, como sentir-se deprimido ou
ansioso.
A dimensão saúde mental obteve uma
média de 65.90, mediana de 72.22, desvio
padrão de 29.63, escore mínimo, 0 e máximo,
100. Calculou-se para mais, quando os entrevistados respondem se sentirem felizes, calmos
ou tranquilos durante a maioria do tempo e
para menos, quando se sentem muito nervosas, deprimidas, desanimadas e abatidas, na
maioria do tempo.
Diferenças entre o sexo masculino e feminino
Nesta pesquisa foi constatada uma
acentuada diferença entre pacientes do sexo
masculino e feminino que participaram da
pesquisa, sendo homens 71% e mulheres 29%.
A tabela 2 compara a média das dimensões
em relação ao sexo.
Sendo assim, a dimensão capacidade
funcional obteve uma média de 59.05 para o
sexo masculino, 49.81 para o sexo feminino e
.243 para o valor de p. Apesar da grande
diferença entre estes números, quando
avaliados através do valor de significância, não
apresentam diferenças entre estes grupos, visto
que, possui p > .05.
A dimensão aspetos físicos obteve uma
média de 58.92 para o sexo masculino, 41.07
54 | M.T.V. Carvalho, A.P.L. Batista, P.P. Almeida, D.M. Machado, E.O. Amaral
Tabela 2.
Comparação das médias das dimensões em relação ao sexo
Dimensões
Masculino
Feminino
p
Capacidade
funcional
59.05
49.81
.243
Aspetos físicos
58.92
41.07
.153
Dor
79.07
76.50
.755
Estado geral de
saúde
69.10
60.97
.343
Vitalidade
66.31
59.91
.525
Aspetos sociais
72.50
72.14
.975
Aspetos
emocionais
58.25
47.56
.438
Saúde mental
67.78
62.14
.568
para o sexo feminino e .153 para o valor de p.
Apresentou a situação citada anteriormente,
não ocorrendo diferenças entre os grupos
estudados porque possui p > .05. A dimensão
dor apresentou o valor 79.07 para o sexo
masculino, 76.50 para o sexo feminino e .755
para o valor de p, também não apresentou
diferenças entre os grupos. A dimensão estado
geral de saúde obteve uma média de 69.10,
para o sexo masculino, 60.97, para o sexo
feminino e .343 para o valor de p, evidenciando
mesma resposta para ambos os sexos.
A dimensão vitalidade obteve uma média de
66.31 para o sexo masculino, 59.91, para o
sexo feminino e .525 para o valor de p,
apresentando mesma resposta ao tratamento
para ambos os sexos. A dimensão aspetos
sociais obteve uma média de 72.50 para o sexo
masculino, 72.14 para o sexo feminino e .975
para o valor de p, não apresentou diferenças
entre os grupos analisados.
Já a dimensão aspetos emocionais obteve
uma média de 58.25 para o sexo masculino,
47.56 para o sexo feminino e .438 para o valor
de p, contudo, não apresentou diferenças entre
os grupos. A dimensão saúde mental obteve
uma média de 67.78 para o sexo masculino,
62.14 para o sexo feminino e .568 para o valor
de p, também não apresentou diferenças entre
os grupos estudados. Os resultados das
variáveis saúde mental e aspetos emocionais
mostram sua deterioração (estatisticamente
não-significante) na avaliação pós-transplante.
Diferenças entre o tempo de transplante
Na tabela 3, em relação à dimensão
capacidade funcional tivemos uma média de
51.07 para pacientes que realizaram o
transplante em até dois anos, 58.69 para
pacientes que realizaram o transplante acima
de três ou quatro anos e .329 para o valor de p;
para dimensão aspetos físicos tivemos uma
média de 50 para pacientes que realizaram o
transplante em até dois anos, 54.62 para
pacientes que realizaram o transplante acima
de três ou quatro anos e .710 para o valor de p;
para dimensão dor tivemos uma média de
73.66 para pacientes que realizaram o
transplante em até dois anos, 80.74 para
pacientes que realizaram o transplante acima
de três ou quatro anos e .381 para o valor de p;
para dimensão estado geral de saúde tivemos
uma média de 64.03 para pacientes que
realizaram o transplante em até dois anos,
67.70 para pacientes que realizaram o
transplante acima de três ou quatro anos e
.665 para o valor de p.
Tabela 3.
Comparação das médias das dimensões em relação ao sexo
Dimensões
Até 2
anos
Acima de
2 anos
p
Capacidade
funcional
51.07
58.69
.329
Aspetos físicos
50.00
54.62
.710
Dor
73.66
80.74
.381
Estado geral de
saúde
64.03
67.70
.665
Vitalidade
64.30
64.11
.985
Aspetos sociais
71.33
34.84
.886
Aspetos
emocionais
46.52
59.23
.349
Saúde mental
60.52
68.89
.387
Já para a dimensão vitalidade tivemos uma
média de 64.30 para pacientes que realizaram o
transplante em até dois anos, 64.11 para
pacientes que realizaram o transplante acima
Qualidade de vida de transplantados renais | 55
de três ou quatro anos e .985 para o valor de p;
para a dimensão aspetos sociais tivemos uma
média 71.33 para pacientes que realizaram o
transplante em até dois anos, 34.84 para
pacientes que realizaram o transplante acima
de três ou quatro anos e .886 para o valor de p;
para a dimensão aspetos emocionais teve-se
uma média de 46.52 para pacientes que
realizaram o transplante em até dois anos,
59.23 para pacientes que realizaram o
transplante acima de três ou quatro anos e
.349 para o valor de p; e para a dimensão saúde
mental tivemos uma média de 60.52 para
pacientes que realizaram o transplante em até
dois anos, 68.89 para pacientes que realizaram
o transplante acima de três ou quatro anos e
.387 para o valor de p.
Todas as dimensões não apresentaram
diferença estatística, pois os valores obtidos
para p foram superiores a .05.
DISCUSSÃO
A amostra de 42 pessoas foi constituída por
uma idade média desses pacientes de 33.07
anos (20-50 anos), uma mediana de 32.50 e
desvio padrão de 9.06. Em outras literaturas
foram encontradas médias de idade maiores,
como na pesquisa de Lôbo e Bello (2007), que
ao analisar 124 pacientes a média foi de 40
anos; na pesquisa de Bittencourt, Filho,
Mazzali e Santos (2004), foram entrevistados
100 pacientes transplantados renais em
acompanhamento ambulatorial com idade
média de 40 anos; já na pesquisa de Ravagnani
et al. (2007) a média de idade para os
pacientes que realizaram o transplante renal foi
de 37.9, com idades entre 23 e 55 anos.
Nesta pesquisa foi constatada uma
acentuada diferença entre pacientes do sexo
masculino e feminino que participaram da
pesquisa, sendo homens 71% e mulheres 29%.
O mesmo ocorreu em estudo realizado por
Bittencourt et al. (2004), em que, foram
entrevistados 100 pacientes transplantados
renais em acompanhamento ambulatorial,
sendo 65 homens e 35 mulheres. Na pesquisa
de Lôbo e Bello (2007) também se constatou
uma diferença acentuada entre os sexos, em
124 pacientes, encontramos 78 homens
(62.9%) e 46 mulheres (37.1%).
Isso é realidade, visto que está aumentando
a cada dia as políticas públicas voltadas para o
sexo masculino, a saúde do homem, logo, os
homens preocupam menos com sua saúde em
relação às mulheres, procurando ajuda apenas
quando perdem a capacidade de trabalhar, pois
acreditam que nunca vão adoecer (Ministério
da Saúde, 2008).
Ainda que não tenha sido encontrada diferença estatisticamente significante entre os
escores de qualidade de vida pós-transplante
renal, a análise da média dos escores aponta
semelhança na avaliação da qualidade de vida
para ambos os sexos, após o transplante.
Os resultados das variáveis saúde mental e
aspetos emocionais mostram sua deterioração
(estatisticamente não-significante) na avaliação
pós-transplante, dado compatível com os
resultados obtidos em outros estudos
realizados na área em que, tanto pacientes
quanto cuidadores avaliaram o transplante
como a criação de mais mudanças favoráveis
que negativas na qualidade de vida, dado
também encontrado por outros autores
(Bittencourt et al., 2004; Ravagnani et al.,
(2007).
O tempo de transplante parece ser também
uma variável importante na determinação da
qualidade de vida. A literatura aponta que os
primeiros seis meses após a cirurgia são
preocupantes, pelo risco mais alto de rejeição
neste período, visitas constantes e necessárias
ao hospital e ajustamento do paciente à
medicação e seus efeitos colaterais. Entretanto,
estudos indicam que a qualidade de vida é
geralmente avaliada de forma superior pelos
pacientes neste período (Suddarth & Bare,
2009).
É possível que isso ocorra porque, com o
desenvolvimento da doença crônica e início do
tratamento dialítico, o paciente coloca toda a
sua esperança no transplante, sentindo-se
aliviado ao realizá-lo, fato que ameniza
avaliação negativa dos problemas presentes
56 | M.T.V. Carvalho, A.P.L. Batista, P.P. Almeida, D.M. Machado, E.O. Amaral
neste período. Os resultados deste estudo são
compatíveis com o estudo realizado por
Ravagnani et al., (2007), que também utilizaram o SF-36 e não obtiveram resultados
significantemente diferentes entre pacientes
que aguardavam transplante e pacientes já
transplantados. A análise dos dados deste
estudo indica que os pacientes continuaram a
experimentar estresse em relação à saúde no
período pós-transplante. Isto é esperado, pelas
complicações que podem ocorrer neste período, bem como pela necessidade de ajustes,
adaptação ao tratamento e efeitos colaterais da
medicação, podendo ser confirmado através da
tabela 03.
Em estudo realizado por Bittencourt et al.
(2004), a avaliação de qualidade de vida comprovou uma perceção de melhor qualidade de
vida nos pacientes transplantados com enxerto
funcionante, comparada com aqueles que
retornaram para tratamento dialítico. Isso é
compatível, pois a qualidade de vida dos
pacientes transplantados renais está muito
próxima da qualidade de vida vista na
população normal.
Através deste estudo foi possível constatar
que a QV possui amplas definições, não
restringindo apenas à saúde ou bem-estar, mas
depende também da influência da doença na
vida do paciente. Visto que o paciente renal
crônico convive com bruscas mudanças em seu
viver e várias limitações em suas atividades
diárias devido ao tratamento dialítico, acabam
desenvolvendo transtornos mentais e sofrimento emocional, tornando-se desesperados,
desanimados e descrentes quanto à vida.
Dessa forma, ainda que não tenha sido
encontrada diferença significante entre os
escores de qualidade de vida pós-transplante
renal, os dados parecem indicar relevância
clínica, uma vez que os pacientes avaliaram de
formas superiores, após o transplante, diversas
variáveis associadas à qualidade de vida.
Ganhos, mesmo que pequenos, em aspetos
como capacidade funcional para realizar tarefas
do dia a dia, redução da dor, estado geral de
saúde, vitalidade e aspetos sociais podem ter
impacto importante sobre o funcionamento
diário do paciente e seu bem estar.
Assim, apesar, das inúmeras limitações
vivenciadas por eles, o transplante renal
continua sendo a melhor opção de tratamento
definitivo para a IRC, já que oferece uma
melhora na qualidade de vida, mesmo que
pouco significativa. Pois, é importante lembrar
que mesmo reduzindo os estressores, a
interferência da diálise na vida diária e
facilitando a vida social e profissional destes
pacientes através do transplante, eles ainda
convivem com uma doença crônica, com
medicações contínuas e acompanhamentos
regulares.
Agradecimentos:
Nada a declarar.
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Nada a declarar.
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