OS USUÁRIOS DOS SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS DA UFPI E SEUS
PROCEDIMENTOS COTIDIANOS DE MANUTENÇÃO DE SAÚDE BUCAL
Aniele Carvalho Lacerda, UFPI
Jamylle Brasil Rocha da Paz, UFPI
Regina Ferraz Mendes, UFPI
INTRODUÇÃO
Durante muito tempo o tratamento das doenças bucais foi baseado em procedimentos
eminentemente curativos com obtenção de benefícios limitados. Entretanto, nos últimos anos,
com os investimentos em saúde coletiva expressivos ganhos nos níveis de saúde bucal têm
ocorrido (KRIGER,1997).
Hoje, a Odontologia desmistifica a idéia de que é natural ter cárie, doenças da
gengiva e que perder dente faz parte do processo natural do envelhecimento e incorpora a
filosofia de promoção e manutenção da saúde (BUISCHI, 2000). Promover saúde é atuar na
melhoria da qualidade de vida das pessoas, e saúde é muito mais do que a cura da doença,
abrange um estado de completo bem-estar físico, mental e social.
Assim, cabe ao profissional de saúde desenvolver na população a capacidade e a
habilidade para manutenção de sua saúde, estabelecendo um processo de mudanças de atitudes
e crenças que possam proporcionar nível satisfatório de saúde bucal ao indivíduo.
Contudo, antes da elaboração de qualquer programa educativo-preventivo, deve-se
promover a observação do conhecimento da população alvo para que procedimentos adequados
sejam exercitados, pois os programas de saúde que visam mudança de comportamentos obtêm
sucesso somente se a população compreender bem a importância de modificá-los (PINTO,
2000).
É nessa premissa que este trabalho se embasa, tendo como propósito avaliar o
conhecimento popular e as práticas cotidianas em saúde bucal de usuários das clínicas de
Odontologia da Universidade Federal do Piauí, esperando assim obter subsídios para futuras
estratégicas em educação para saúde.
METODOLOGIA
O projeto, aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da UFPI, foi desenvolvido no
período de agosto de 2005 a julho de 2006 e caracterizou-se pelo preenchimento de um
formulário com 24 perguntas abertas relativas à informação sobre saúde bucal referentes às
doenças bucais, aos hábitos prevenção e terapêutica. Foram entrevistados 120 pacientes,
abordados nas salas de espera das clínicas de Odontologia da UFPI. Foram solicitados a
assinar Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, condição para sua participação.
RESULTADOS
Na observação das características pessoais dos pacientes estudados verificou-se
predominância do sexo feminino (70,0%), sendo a grande maioria entre a faixa etária de 21 a
30 anos e mais da metade (54,2%) se definiram como solteiros. Quanto à escolaridade, 35,8%
possuíam ensino médio completo.
Também foi categorizada a avaliação que os próprios pacientes fazem quanto a sua
saúde bucal. De acordo com as respostas obtidas a cárie dentária foi o problema bucal mais
conhecido pelos entrevistados (36,7%).
Dos entrevistados, 95% afirmaram já ter tido dentes tratados, apenas 5% nunca
foram ao dentista, sendo a primeira vez que procuravam atendimento. Os participantes foram
interrogados sobre a realização de tratamento em consultório dentário particular ou utilização
de algum tipo de convênio, sendo que 52,5% responderam que nunca tiveram acesso a estes
tipos de serviço.
Grande parte dos entrevistados (48,3%) acreditava ter cárie. Quase 72% acreditavam
que a cárie é uma doença. A freqüência de escovação diária relatada é de três vezes para
59,2%. Entretanto, quase metade (48,3%) não usava fio dental e 65,8% não possuíam o
costume de ir ao dentista.
Observou-se que o flúor não era desconhecido pela maioria dos entrevistados (65%).
Quanto ao seu uso, 79,2% responderam que não usavam. Em relação à pergunta “Sabe onde se
encontra flúor?” 55,8% afirmaram que sim. E 65% acreditavam saber a função do flúor.
A análise mostrou que 66,7% dos entrevistados já perderam algum dente
permanente, sendo que 63,7% destes acreditavam que essa perda poderia trazer algum
problema no futuro. Em relação à pergunta ”Acha que os dentes podem durar a vida toda?”
72,5% achava que sim, desde que fossem tratados, cuidados, que se fosse ao dentista
regularmente, enquanto que 27,5% não acreditavam na durabilidade.
Ao serem interrogados sobre o conceito e o que se deve fazer com a placa dental
bacteriana, 80,8% dos entrevistados não souberam defini-la. Em relação a que providência
tomar a seu respeito, 73,3% não responderam. Os meios de comunicação como jornais,
panfletos, rádio responderam por 30% dos meios mais utilizados pelos pacientes da UFPI
como fonte de informação a respeito dos cuidados que se deve ter com saúde bucal.
DISCUSSÃO
Nesta pesquisa, pôde-se perceber a necessidade da educação em saúde para a
manutenção da saúde bucal e consequentemente a de todo o corpo. “Constitui grande equívoco
considerar a saúde da boca um problema isolado, que deva receber prioridade especial em
comparação com outros problemas. A saúde oral deve ser vista como parte integrante e
inseparável da saúde geral” (CHAVES, 1977).
Em relação às características pessoais, como visto nos resultados, houve a
predominância do sexo feminino, o que pode ser explicado pela priorização da atenção à
mulher e a criança através dos serviços públicos oferecidos como pediatria e obstetrícia.
Pinto (2000), afirma que os adultos constituem a larga maioria da população,
demandam fortemente por serviços odontológicos e influenciam de maneira decisiva o
comportamento de seus dependentes.
Os dados obtidos sugerem a importância do esclarecimento à população sobre o
processo saúde-doença bucal, uma vez que a maioria dos indivíduos da amostra desconhece a
evolução das patologias bucais.
Segundo Buischi (2000), alguns fatores devem ser considerados na avaliação do
risco de cárie: quantidade de placa, tipo de bactéria, tipo de dieta, freqüência de carboidratos,
secreção salivar, capacidade tampão da saliva e fluoretos. Assim também como fatores
circunstanciais tais como desemprego, situação econômica ruim, falta de conhecimento,
controle irregular da saúde bucal.
Ainda segundo a mesma autora a escovação é o meio mecânico mais difundido para
o controle não profissional de placa e o uso diário da escova de dente é frequentemente
confundido como limpar os dentes. O uso freqüente da escova não é sinônimo de limpeza, nem
evita, por si só a perda dos dentes. Mais importante que a limpeza é a qualidade da mesma.
Embora a utilização do flúor seja o método mais reconhecido e recomendado à
prevenção da cárie dentária, 79,2% dos pacientes da UFPI afirmam não fazer uso deste, apesar
de 65% afirmarem conhecer o produto. Isto devido ao fato de muitos desconhecerem a
presença do flúor na água de beber e dentifrícios. Embora a maioria dos pacientes conheça seu
papel na prevenção da cárie dentária, os resultados indicam o desconhecimento da função
terapêutica do flúor, fato constatado também em outros estudos.
Com relação aos dados a cerca da importância dos dentes, pôde-se observar que
existe um paradoxo entre o número de pessoas que perderam dentes permanentes e acreditam
na durabilidade definitiva destes. Com relação a problemas futuros que a perda dentária pode
ocasionar, a dificuldade de mastigação é vista como a conseqüência mais perceptível.
Ao serem questionados sobre o conceito de placa dental bacteriana, somente poucos
definiram “massa ao redor dos dentes”, no entanto, sem saber sequer tratar-se ela de acúmulo
de microrganismos, enquanto 80,8% não souberam nem do que se tratava.
Segundo Pinto (2000), a educação em grupo tem um poder multiplicador muito
maior do que se deseja ensinar, uma vez que reforça e motiva com ênfase as mudanças de
hábitos. Os meios de comunicação de massa, como jornais, televisão, rádio usados
favoravelmente à saúde têm enorme valor. Apesar de ser uma fonte significativa de informação
de promoção de saúde, o que foi constatado também por esta pesquisa, respondendo por 30%,
não significa dizer que sejam repassadas somente mensagens adequadas e positivas por esta
via.
Por fim, há a necessidade de investimentos maiores na política de saúde pública em
nível nacional, permitindo a orientação e educação do indivíduo passando por um processo de
mudanças de atividades e crenças para atingir o nível de saúde bucal favorável e propiciar ao
paciente o poder de autocurar-se.
CONCLUSÃO
Dentre várias conclusões que este trabalho nos permite, pode-se afirmar que:
¾ A maioria dos usuários entrevistados é de adultos jovens, do gênero feminino e que
concluíram o ensino médio.
¾ Os pacientes não possuem conhecimentos necessários para a manutenção de sua
saúde bucal, já que desconhecem o processo saúde-doença das patologias bucais.
¾ As práticas bucais rotineiras como freqüência de escovação diária e uso de fio
dental apesar do valor positivo obtido, não se refletem na prática, já que não
correspondem ao nível de saúde bucal observado.
PALAVRAS-CHAVES: Promoção de saúde. Cárie. Saúde bucal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUISCHI, Y. Promoção de saúde bucal na clínica odontológica. São Paulo: Artes
Médicas: EAP-APCD, 2000.
CHAVES, M. M. Odontologia social. 3ª ed. Rio de Janeiro: Artes Médicas, 1977.
KRIGER L. Promoção de saúde bucal. 1ª ed. São Paulo: Artes Médicas-Aboprev,
1997.
PINTO, V. G. Saúde bucal coletiva. 4. ed. São Paulo: Santos, 2000.
ANIELE CARVALHO LACERDA, aluna do nono período de odontologia da UFPI,
[email protected].
JAMYLLE BRASIL ROCHA DA PAZ, aluna do nono período de odontologia da UFPI,
[email protected].
RAIMUNDO ROSENDO PRADO JÚNIOR, professor doutor da disciplina Dentística e do
estágio supervisionado da UFPI, [email protected].
REGINA FERRAZ MENDES, professora doutora da disciplina Dentística e do estágio
supervisionado da UFPI, [email protected].
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