AVALIAÇÃO DA SAÚDE OCUPACIONAL DOS GARIS DE
HIDROLÂNDIA, GOIÁS.
Germano Augusto de Oliveira1, Harlen Inácio dos Santos2
RESUMO
Esta pesquisa tem o objetivo de avaliar os problemas da saúde ocupacional dos garis da
cidade de Hidrolândia, que estão sendo assistidos em um modelo de desenvolvimento,
no qual a saúde e a segurança do colaborador, nem sempre é objeto de preocupação da
Administração Pública. Nesse sentido, o trabalho foi desenvolvido com aplicação de
questionário que envolve possíveis riscos socioambientais e avaliação em campo. Após
a execução da pesquisa pôde-se então, identificar diversos riscos que os colaboradores
da limpeza pública estão sujeitos por falta de uma estrutura de segurança adequada. Por
meio desses estudos, a pesquisa sugere medidas e recomendações para melhoria quanto
à saúde humana e social da categoria.
Palavras-chaves: Saúde Ocupacional, Garis e Segurança do Trabalho.
ABSTRACT
This research has the objective to evaluate the problems of the occupational health of
garbage workers of Hidrolândia, that are being attended in a model of development
which the health and the security of the worker not always is object of concern of the
public administration. In this direction, the work was developed with a questionnaire
application that involves possible partner-ambient risks and assessment. After the
execution of the research, we could identify many risks that the garbage workers are
being subject because of the lack of a structure of adequate security. Through this study,
the research it suggest what has to be done and the recommendations for the
improvement of the human health and social of the class.
Keywords: Occupational health, Garbage workers and Workers security.
1
2
Graduando do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Goiás. [email protected]
Biólogo, Doutor, Professor orientador da disciplina de Projeto Final de Curso. [email protected]
1 INTRODUÇÃO
A produção de resíduos sólidos urbanos vem crescendo nas últimas décadas
principalmente pelo aumento do consumo de produtos industrializados e pela
proliferação dos “descartáveis” que fazem parte dos costumes ocidentais, que são
responsáveis pela geração de imensas quantidades de resíduos, transformando-os em um
dos maiores problemas da sociedade moderna (ABEQ, 2001).
Os principais problemas gerados pela disposição inadequada dos resíduos se
relacionam à saúde pública e a degradação ambiental. Os resíduos sólidos urbanos, ou
lixos orgânicos e inorgânicos são acumulados de forma contínua no ambiente, isso
favorece a proliferação de animais transmissores de doenças como moscas, ratos e
baratas. Tudo que ameaçam a população, a degradação pela ação conjunta de
mecanismos físicos, químicos e biológicos, resultando em vetores de poluição, como a
contaminação de águas subterrâneas e superficiais (IDEC, 2001).
Embora não existam dúvidas sobre a importância da atividade de limpeza urbana
para o meio ambiente e para saúde da comunidade, esta percepção não tem sido
traduzida em ações efetivas quando se diz respeito a mudanças quantitativas e
qualitativas na situação de segurança e saúde dos colaboradores da limpeza pública.
Particularmente, as funções de garis e coletores de lixo municipal, que todos os dias
estes profissionais percorrem ruas e bairros da cidade, expondo sua vida e sua saúde a
diversos riscos, enfrentando as mais variadas situações, que vão desde mordida de cães
a cortes em mãos ou pés ocasionadas pela má postura dos usuários. Enfim, seu trabalho
afeta diretamente a sua saúde, devido às condições inadequadas e pelas atividades que
são realizadas em céu aberto, bem como pela falta de orientação quanto à segurança no
serviço diário.
Assim, a segurança do trabalho pode ser observada como um conjunto de medidas
adotadas visando a minimização dos acidentes na rotina diária, as doenças ocupacionais,
bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do colaborador.
2
2 OBJETIVOS
Esta pesquisa tem o objetivo de identificar e avaliar a saúde ocupacional dos garis
e coletores de lixo através de um questionário estruturado sobre os riscos
socioambientais3. Cada colaborador da limpeza pública respondeu as questões objetivas
e também os relatórios de campo sobre a existência de equipamentos de proteção
individual (EPI’s). A partir das discussões e resultados da pesquisa iremos sugerir
medidas e recomendações para melhorar a saúde humana e social dos profissionais.
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Até o início do século passado, o lixo gerado – restos de comida, excrementos de
animais e outros materiais orgânicos, reintegravam-se aos ciclos naturais e serviam
como adubo para agricultura. Porém, com a industrialização e a concentração da
população nas grandes cidades, o lixo foi se tornando um problema. A sociedade
moderna rompeu os ciclos da natureza. Por um lado, extraímos mais e mais matérias
primas e por outro, facultamos o crescimento de montanhas de lixo. E como todo esse
rejeito não retorna ao ciclo natural, transformando-se em novas matérias-primas, podese tornar uma perigosa fonte de contaminação para o meio ambiente ou proliferação de
doenças (IDEC, 2001).
Tanto a forma de ocupação do solo, quanto o crescimento populacional causam
impacto direto nas políticas de coleta, processamento e destinação final do lixo.
Enquanto a forma de ocupação territorial seguir dificultando o acesso da população aos
serviços de coleta do lixo e modificando o custo de transporte dos resíduos coletados, o
aumento populacional será superior à quantidade de lixo produzida, significando maior
custo para manutenção dos serviços (GUIZARD, 2005).
3
- ver anexo nº1
3
Dentre as soluções convencionais, os lixões continuam sendo ainda a opção mais
utilizada. Apesar dos graves prejuízos que trazem ao meio ambiente, à saúde e a
qualidade de vida da população. Já a coleta seletiva, reciclagem de entulho e
compostagem simplificada, embora sejam mais complexas do ponto de vista da sua
operacionalização, conseguem incorporar questões mais amplas como preocupação com
a perspectiva de gênero, emprego e renda, parcerias com outros setores governamentais
e com a sociedade civil (ABEQ, 2001).
No entanto, existem poucos estudos epidemiológicos sobre a saúde dos
colaboradores dos sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos municipais, mesmo
nos países desenvolvidos. Apesar disso, algumas populações podem ser identificadas
como suscetíveis de serem afetadas pelas questões ambientais, com redução da
qualidade de vida e ampliação dos problemas de saúde. A primeira população a ser
considerada é aquela que não dispõe de coleta domiciliar regular e que, ao desfazer-se
dos resíduos produzidos, os lançam no entorno da área em que vivem, gerando um meio
ambiente deteriorado com presença de fumaça, mau cheiro, vetores transmissores de
doenças, animais que se alimentam dos restos, numa convivência promíscua e deletéria
para saúde (RUBERG & PHILIPPI JR., 1999).
Os colaboradores, diretamente envolvidos com os processos de manuseio,
transporte e destinação final dos resíduos, formam uma população exposta. A exposição
se dá, notoriamente, pelos riscos de acidentes de trabalho provocados pela ausência de
treinamento, pela falta de condições adequadas de trabalho e pela escassez de tecnologia
utilizada à realidade dos países em desenvolvimento. Os riscos de contaminação pelo
contato direto e mais próximo do instante da geração do resíduo, têm maiores
probabilidades de presença ativa de microrganismos infecciosos (FERREIRA, 1997;
VELLOSO et al., 1997).
A adoção do modelo mundial de terceirização e/ou privatização dos serviços de
limpeza urbana nos países em desenvolvimento pode ter um reflexo negativo sobre a
saúde dos colaboradores, já que, além de uma redução nos seus padrões salariais, a
rotatividade é extremamente elevada nas empresas privadas do setor. Isso inviabiliza
programas de treinamento e de prevenção, podendo resultar em um aumento no número
de
acidentes
e
na
deterioração
dos
padrões
de
saúde
dos
referidos
colaboradores(FERREIRA, 1997).
4
Segundo Velloso (1995), estudando os riscos sócio–ambientais mais freqüentes
nos resíduos sólidos urbanos e nos processos dos sistemas de seu gerenciamento, foi
possível encontrar em sua pesquisa quatro agentes que são capazes de interferir na
saúde humana e no meio ambiente, definidos como:
a) Agentes físicos
O odor emanado dos resíduos pode causar mal-estar, cefaléias e náuseas em
trabalhadores e pessoas que se encontrem próximas aos equipamentos de coleta ou de
sistemas de manuseio, transporte e destinação final. Ruídos em excesso, durante as
operações de gerenciamento dos resíduos, podem promover a perda parcial ou
permanente da audição, cefaléia, tensão nervosa, estresse e hipertensão arterial, assim
como, a exposição ao sol sem o uso do protetor solar pode ocasionar doenças
relacionadas a pele (câncer de pele e queimaduras). A poeira que pode ser responsável
por desconforto e perda momentânea da visão, e por problemas respiratórios e
pulmonares.
b) Agentes químicos
Nos resíduos sólidos municipais podem ser encontrados um grande número de
resíduos químicos, dentre os quais merecem destaque pela presença mais constante:
pilhas e baterias, óleos e graxas, pesticidas/herbicidas, solventes, tintas, produtos de
limpeza, cosméticos, remédios e aerossóis. Uma significativa parcela destes resíduos é
classificada como perigosa e pode ter efeitos deletérios à saúde humana e ao meio
ambiente, como, metais pesados (chumbo, cádmio e mercúrio), que se incorporam à
cadeia biológica, têm efeito acumulativo e podem provocar diversas doenças como
saturnismo e distúrbios no sistema nervoso, entre outras. Pesticidas e herbicidas têm
elevada solubilidade em gorduras que, combinada com a solubilidade química em meio
aquoso, pode levar à magnificação biológica e provocar intoxicações agudas no ser
humano (são neurotóxicos), assim como efeitos crônicos.
5
c) Agentes biológicos
Os agentes biológicos presentes nos resíduos sólidos podem ser responsáveis pela
transmissão direta e indireta de doenças. Microrganismos patogênicos ocorrem nos
resíduos sólidos municipais mediante a presença de lenços de papel, curativos, fraldas
descartáveis, papel higiênico, absorventes, agulhas, seringas descartáveis e camisinhas,
originados da população, dos resíduos de pequenas clínicas, farmácias e laboratórios e,
na maioria dos casos, dos resíduos hospitalares, misturados aos resíduos domiciliares.
d) Agentes Acidentais/ocupacionais
A saúde do colaborador envolvido nos processos de operação do sistema de
gerenciamento dos resíduos sólidos municipais está relacionada não só aos riscos
ocupacionais inerentes aos processos, mas também às suas condições de vida (ANJOS
et al., 2000; VELLOSO, 1995). Nos países latino-americanos não existem dados e
informações sistematizados sobre acidentes de trabalho. Quanto a doenças relacionadas
ao trabalho com resíduos sólidos municipais, as informações praticamente são
inexistentes (FERREIRA, 1997).
Os riscos de acidentes e de agravos à saúde dependem da atividade exercida pelo
colaborador. Alguns dos acidentes mais freqüentes entre colaboradores que manuseiam
diretamente os resíduos sólidos municipais (FERREIRA, 1997; VELLOSO et al., 1997)
são descritos a seguir:
• Cortes com vidros: caracterizam o acidente mais comum entre colaboradores da
coleta domiciliar e das esteiras de catação de usinas de reciclagem e compostagem, e
também entre os catadores dos vazadouros de lixo. As estatísticas deste tipo de acidente
são subnotificadas, uma vez que os cortes de pequena gravidade não são, na maioria das
vezes, informados pelos colaboradores, que não os consideram acidentes de trabalho. A
principal causa destes acidentes é a falta de informação e conscientização da população
em geral, que não se preocupa em isolar ou separar vidros quebrados dos resíduos
apresentados à coleta domiciliar. A utilização de luvas pelo colaborador atenua, mas não
impede a maior parte dos acidentes, que não atingem apenas as mãos, mas também
6
braços e pernas.
• Cortes e perfurações com outros objetos pontiagudos: espinhos, pregos, agulhas
de seringas e espetos são responsáveis por corriqueiros acidentes envolvendo
colaboradores. Os motivos são semelhantes aos do item anterior.
• Queda do veículo: a natureza dos trabalhos no sistema de limpeza urbana, em
especial na coleta domiciliar e operações especiais de limpeza de logradouros, acaba por
obrigar o transporte dos colaboradores nos mesmos veículos utilizados para a coleta e
transporte dos resíduos. Isso faz com que as quedas de veículos sejam comuns. Dois
aspectos são importantes como causas destes acidentes (muitos dos quais fatais): a
inadequação dos veículos para tal transporte, onde o exemplo maior é o veículo de
coleta em que os trabalhadores são transportados dependurados no estribo traseiro, sem
nenhuma proteção (os veículos de coleta são construídos com base na tecnologia dos
países desenvolvidos, onde a coleta é realizada por guarnições de no máximo dois
homens, que viajam na cabine junto com o motorista) (ROBAZZI et al., 1992).
• Atropelamentos: a eles estão expostos tanto os colaboradores da coleta
domiciliar e limpeza de logradouros como os trabalhadores de locais de transferência e
destinação final dos resíduos. Além dos riscos inerentes à atividade, contribuem para os
atropelamentos a sobrecarga e a velocidade de trabalho a que estão sujeitos os
trabalhadores e o pouco respeito que os motoristas em geral têm para os limites e regras
estabelecidas para o trânsito. Também deve ser lembrada a ausência de uniformes
adequados (roupas visíveis, sapatos resistentes e antiderrapantes) como um fator de
agravamento dos riscos de atropelamento.
• Outros: ferimentos e perdas de membros por prensagem em equipamentos de
compactação e outras máquinas, mordidas de animais (cães, ratos) e picadas de
formigas também fazem parte da relação de acidentes com resíduos sólidos municipais.
Especificar doenças ocupacionais relacionadas aos resíduos sólidos municipais é
tarefa complexa. Os colaboradores dos sistemas de limpeza urbana estão expostos a
poeiras, a ruídos excessivos, ao frio, ao calor, à fumaça e ao monóxido de carbono, à
adoção de posturas forçadas e incômodas e também a microrganismos patogênicos
presentes nos resíduos municipais.
7
Além disso, entende-se que as condições de trabalho devem ser consideradas de
“forma mais integrada e global, onde as cargas de trabalho são determinadas por fatores
relativos ao processo de trabalho – a organização do trabalho e as condições ambientais;
e por fatores relativos ao indivíduo – sexo, idade e condições de inserção na produção,
nível de aprendizagem, condições de vida, estado de saúde física e emocional,
motivação e interesse” (MATTOS, 1992).
Um aspecto praticamente ainda não estudado é o da carga fisiológica de trabalho
que as várias atividades desempenhadas pelos colaboradores dos sistemas de limpeza
urbana representam para o ser humano e o desgaste que podem provocar. A interação
destes fatores com a exposição ocupacional pode aumentar o risco dos
colaboradores(ANJOS & FERREIRA, 2000). Na coleta domiciliar, por exemplo, as
características do processo de trabalho podem determinar hábitos alimentares bastante
irregulares para os garis (tanto com relação ao horário como com relação à qualidade do
alimento ingerido) que, associados a outros hábitos como o tabagismo e o consumo de
álcool, podem ter efeitos deletérios à sua saúde, bem como ampliar os riscos de
acidentes.
Com relação a doenças ocupacionais relacionadas às atividades com resíduos
sólidos municipais, as micoses são comuns, aparecendo mais freqüentemente nas mãos
e pés, onde as luvas e calçados estabelecem condições favoráveis para o
desenvolvimento de microrganismos. Índices relativamente altos de doenças
coronarianas e hipertensão arterial têm sido detectadas entre colaboradores da limpeza
urbana (principalmente entre colaboradores da coleta domiciliar). Velloso (1995) em
sua pesquisa relacionada a doenças ocupacionais encontrou 6,5% de hipertensão arterial
e 2,2% de doenças coronarianas; e ANJOS et al. (2000) encontraram 46% com algum
grau de hipertensão arterial, dos quais 20% com sintomas moderados ou severos, nos
colaboradores da coleta domiciliar em uma gerência do Município do Rio de Janeiro.
Apesar de maiores do que na população em geral, essas relevâncias não
comprovam uma relação definitiva de causa-efeito. Em todas as operações, a exposição
a poeiras orgânicas e microrganismos pode ser causadora de doenças do trato
respiratório. Estudo realizado em uma planta de separação de resíduos na Dinamarca
revelou que 53% dos trabalhadores desenvolveram doença pulmonar durante os oito
primeiros meses de produção (ANJOS et al., 2000).
8
No Brasil, observa-se uma grande dificuldade em estabelecer uma real taxa de
freqüência e de gravidade dos acidentes, e até mesmo de identificar quantos
estabelecimentos hospitalares possuem em seus quadros os Serviços Especializados em
Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). As ações de Vigilância, Segurança e
Saúde do Trabalhador, no âmbito dos estabelecimentos de saúde, encontram-se como
em outros ramos de atividade, em fase de desenvolvimento, onde se detectam alguns
estabelecimentos com serviços bem estruturados, outros somente para cumprir preceitos
legais e outros onde eles não existem (TAKADA, 2003).
4 METODOLOGIA
A metodologia de estudo de caso pode ser detalhada da seguinte forma:
•
levantamento do espaço amostral por meio da Administração Pública em
seguida implantação de questionário individual4 nos quais os autores ficaram
encarregados da elaboração e aplicação e também da observação “in loco” de
indicadores que venham a comprometer a saúde ocupacional e a segurança dos
colaboradores da limpeza pública;
•
avaliação por meio de questionário explorando os riscos individuais e
ocupacionais a partir da data de admissão ao cargo de gari e também
observando durante a entrevista informações que possam chegar a um resultado
satisfatório à saúde pública, além de definir melhorias ao Departamento de
Limpeza Pública;
•
definição de melhorias à saúde ocupacional dos garis através dos dados obtidos e
a interpretação das falhas dos colaboradores conforme figuras e tabelas e;
•
sugestão de medidas e recomendações de melhorias a saúde humana e social dos
colaboradores através da categorização dos tipos de riscos (biológicos, físicos,
químicos, ocupacionais/acidentais e sociais) observados.
4
- ver quadro 1
9
A Figura 1 representa o fluxograma das etapas de desenvolvimento do trabalho:
Levantamento do espaço amostral.
Avaliação por meio de questionário
e observar “in loco”.
Tabulação e Correlação dos
dados obtidos na pesquisa.
Definição de melhorias à saúde
ocupacional dos garis.
Recomendação de melhorias a saúde
socioambiental dos colaboradores.
Figura 1: Fluxograma das etapas de desenvolvimento do trabalho
O município de Hidrolândia possui uma área total de 1.027,25 km² (PREF.
MUNICIPAL DE HIDROLÂNDIA, 2006) e faz parte da região metropolitana de
Goiânia, localizada na porção central do Estado de Goiás, abrigando uma população de
14860 habitantes dos quais 13086 encontram-se na área urbana, com uma taxa de
urbanização de 88,06 % (IBGE, 2000). O município apresenta diferentes realidades nas
diversas regiões da cidade, fruto de um padrão de crescimento urbano que se processou
sob os auspícios dos interesses do capital agroindustrial e aliado às várias frações do
capital agropastoril.
A Quadro 1 mostra como foi aplicado o modelo de questionário individual para
melhor dimensionamento e elaboração dos gráficos e, consequentemente classificação
das respostas dos entrevistados de acordo com os riscos obtidos.
Quadro 1: Modelo de questionário individual.
RISCOS
CLASSIFICAÇÃO
SOCIOAMBIENTAIS
A - Tipos de Doenças
1
2
3
4
B - Atestados Médicos
1
2
3
4
C - Odor ao Lixo
1
2
3
4
D - Incômodo ao Serviço
1
2
3
4
QUÍMICOS
E - Ferimento
1
2
3
4
OCUPACIONAIS/
ACIDENTAIS
F - Objetos Cortantes
1
2
3
4
G - Rotina Diária
1
2
3
4
SOCIAL
H - Percepção Social
1
2
3
4
BIOLÓGICOS
FÍSICOS
10
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A política de limpeza urbana é toda coordenada pela Administração Pública
Municipal, reduzida à coleta de resíduos domésticos e à varrição de ruas da cidade,
serviços esses feitos em dias não definidos e no itinerário diurno, ou seja, sazonalmente
durante o mês e todos os dias das 7 horas às 16hs, respectivamente, assim formados
num total de 22 garis, sendo que 05 estão de licença/atestados ou férias e 01 surdo e
mudo, totalizando 16 entrevistados. Ainda, a cidade conta com 02 caminhões de coleta
de lixo (sendo, 01 caminhão compactador 5 ton. e 01 de carroceria aberta)
(PREFEITURA MUNICIPAL HIDROLÂNDIA, 2006).
Neste contexto, desde 2002, o Departamento de Limpeza Pública desapropriou
uma área para a disposição de seus resíduos urbanos, um lixão a céu aberto, situada a 4
km do núcleo urbano, às margens da estrada vicinal que dá acesso ao distrito de Oloana,
em uma situação que é progressiva, já que o município possui um plano diretor recente
e ainda não dispõe de uma conduta de gerenciamento desses resíduos. Tudo isso pode
gerar impactos e degradação ambiental, poluindo o solo, o ar e os recursos hídricos
superficiais e subterrâneos da região. Após a avaliação de campo e a aplicação do
questionário foram observados os resultados descritos a seguir:
Na avaliação de campo a não-conformidade na utilização dos Equipamentos de
Proteção Individual (EPI’s) foi evidente, em decorrência da Administração Pública
disponibilizar apenas quando necessário, uniformes, bonés (com logomarca da gestão
atual) e luvas. Os calçados antiderrapantes, máscaras e coletes sinalizadores nunca
foram adotados por nenhum gestor municipal, assim os garis ficam sujeitos a riscos
diversos e a morbidade coletiva.
Quanto às doenças identificadas na Figura 2 nota-se que 75% dos entrevistados
têm algum problema relacionado à coluna e aos braços. Isto significa que, 12
entrevistados possuem este problema e estão sujeitos a uma aposentadoria prematura e
de futuras complicações a integridade física dos mesmos em decorrência dos serviços
prestados.
11
Para diminuir esses casos, a sugestão seria adotar a Norma Regulamentadora –
NR4, que trata de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do
Trabalho – SESMT, que estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas
de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho,
embasados juridicamente pelo artigo 162 da Consolidação de Leis Trabalhistas – CLT
(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007).
13%
75%
6%
6%
Gripes
Diarréias
Dermatites
Coluna e Braços
Figura 2. Doenças adquiridas pelos garis.
Nota-se na Figura 3 uma igualdade em 31% entre garis que utilizam de 2 a 4
vezes/ano e aqueles que nunca utilizaram atestados médicos. Isso se deve pelo relato de
que alguns entrevistados utilizam o atestado médico para o uso próprio e outros com o
pretexto de levar suas crianças ao médico, já que existe um grande número de mães que
fizeram parte da amostra de entrevistados.
Para evitar furos e fraudes nos atestados a Administração Pública deveria adotar a
Norma Regulamentadora - NR7, que trata de Programas de Controle Médico de Saúde
Ocupacional (PCMSO), que estabelece a obrigatoriedade da instituição em promover a
preservação da saúde dos seus trabalhadores, embasados juridicamente pelos artigos
168 e 169 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) (MINISTÉRIO DO
TRABALHO E EMPREGO, 2007).
12
31%
13%
25%
31%
Nunca utilizei
2 a 4 vezes/ano
1 vez /ano
Acima de 5 vezes/ano
Figura 3. Quantidade de atestados médicos durante o ano.
Nos riscos químicos foi observado que nunca houve ferimento dos garis por
produtos químicos, ou seja, 100% nunca sofreram quaisquer tipos de acidentes com esse
tipo de produto durante o manuseio e/ou transporte do mesmo. Isso se deve pelo fato de
tratar de características de lixo urbano e conseqüentemente, possuírem insignificantes
volumes de resíduos químicos.
Na identificação dos problemas decorrentes da inalação de odor dos resíduos
coletados, observa-se na Figura 4 que, 56% dos entrevistados estão acostumados com o
mal cheiro do lixo e que no início do serviço 25% sentiam ou ainda sentem cefaléias
diárias.
6%
25%
56%
13%
Nada, já acostumei
Mal-estar
Cefaléias
Náuseas
Figura 4. Problemas relacionados ao odor de resíduos.
13
No contato diário com resíduos e outros fatores físicos durante o serviço, pôde-se
observar na Figura 5 que, 37% dos trabalhadores da limpeza pública se sentem
incomodados com os particulados suspensos no ar, especialmente com as poeiras
inspiradas, pois podem causar problemas ao trato respiratório, e outros 25% têm a visão
prejudicada.
25%
13%
37%
25%
Não há incômodo
Odor
Poeira (olhos)
Poeira (nariz)
Figura 5. Incômodos diários em serviço.
Durante o manuseio e o transporte dos resíduos diários foi observada na Figura 6
a freqüência que o entrevistado se acidenta com objetos cortantes ou perfurocortante e
notou que 74% dos entrevistados nunca tiveram qualquer tipo de acidente dessa
natureza. Pode se dizer isto, pelo fato de todos eles terem contato indireto com o objeto
cortante, manuseando por meio de pás, vassouras e/ou carrinho para coleta.
13%
74%
13%
0%
Nunca
1 vez/semana
Sim, 1 vez/mês
Acima de 3 vezes/ semana
Figura 6. Freqüência de cortes com objetos ou vidros.
14
Na identificação dos riscos ocupacionais diários foi perguntado ao entrevistado
quanto à ergonomia durante o tempo de serviço. Observou-se conforme Figura 7 que,
69% dos entrevistados têm algum problema de má postura relacionado ao equipamento
de uso diário (carrinho, pá e/ou vassouras), ou seja, 11 garis num total de 16. Isso se
deve ao fato das ferramentas serem inadequadas à estatura dos garis e a posição
incorreta de varrição ou coleta diária.
Nota-se, que não está em conformidade com o que prevê a Norma
Regulamentadora – NR17, que visa estabelecer parâmetros que permitem a adaptação
das condições de trabalho às condições psicofisiológicas, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente dos colaboradores, embasados
juridicamente pelos artigos 198 e 199 da Consolidação de Leis Trabalhistas – CLT
(MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007).
0%
31%
0%
Má postura
Não há má postura
69%
Quedas
Atropelamentos
Figura 7. Riscos ocupacionais diários.
Observa-se na Figura 8 a percepção do entrevistado em relação ao serviço de gari
e nota-se então, uma disparidade entre eles. Pois, 38% dos garis relatam que sentem
muito discriminados pela população e uma outra maioria de 56% dizem que a sociedade
gosta do que fazem, ou seja, em uma mesma classe de trabalhadores observam-se
opiniões opostas quanto à percepção social. Isso se deve talvez, pelo fato da ignorância
intelectual do entrevistado diante da visão social e a incapacidade de observação
externa.
15
38%
6%
0%
56%
Gostam do que fazem
Pouco discriminado
Indiferente
Muito discriminado
Figura 8. Percepção social do serviço de gari.
Na Figura 9, após pesquisa em campo nota-se que 16 entrevistados, ou seja, 100%
não utilizam coletes sinalizadores e também se observa a inadequação quanto ao
restante dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), na utilização diária pelos
colaboradores de limpeza pública. Isto se deve pela má conduta da gestão do
Departamento de Limpeza Pública que não fornece com freqüência os equipamentos
adequados a seus colaboradores e/ou a desobediência dos garis quando é fornecido.
Estando em desacordo com as normas regulamentadoras (NR’s), em particular as
NR6 e NR26, que prevê a obrigatoriedade de fornecimento de EPI’s a seus empregados
sempre que as condições de trabalho o exigir e a sinalização de segurança nos ambientes
de trabalho, embasados juridicamente pelos artigos 166, 167 e 200 da CLT,
respectivamente (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007).
Nº de garis entrevistados
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Calçados
Luvas
Bonés
Col. Sinalizadores
Uniformes
Figura 9. Número de garis referente à ausência de algum tipo de EPI.
16
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O espaço amostral para este trabalho foi insuficiente para uma correlação
confiável e consistente entre saúde ocupacional e segurança do trabalho, em função do
quantitativo entrevistado, capacidade de auto-avaliação e carência de dados no universo
de possíveis doenças adquiridas ao longo do tempo de serviço.
Observou-se então, um acentuado risco à saúde dos garis de Hidrolândia devido à
falta de instrumentos que auxiliam na melhoria da qualidade coletiva e na otimização
dos serviços prestados.
Para maior proteção desses colaboradores, notou-se a necessidade da implantação
da NR 5 referente à uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que estabelece a obrigatoriedade das
empresas públicas e privadas organizarem e manterem em funcionamento, por
estabelecimento, e constituída exclusivamente por empregados com o objetivo de
prevenir infortúnios laborais. Através dessa comissão o trabalhador poderá apresentar
sugestões e recomendações ao empregador para que melhore as condições de trabalho, e
assim eliminar as possíveis causas de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais,
embasadas juridicamente nos artigos 163 a 165 da Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT).
17
REFERÊNCIAS
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todo o estado de Alagoas, 2001. Disponível em: <http://www.abeq.org.br> Acesso em:
set.2006.
ANJOS, L. A. & FERREIRA, J. A. A avaliação da carga fisiológica de trabalho na
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Cadernos de Saúde Pública, 1997.
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ANEXO 1: Questionário
PESQUISA SOCIOAMBIENTAL DA SAÚDE OCUPACIONAL DOS GARIS DE
HIDROLÂNDIA-GO
ENTREVISTADO:
IDADE:
DT. ADMISSÃO:
ITINERÁRIO:
RISCOS BIOLÓGICOS
a) O Senhor(a) já teve algum tipo de doença, como:
1- Gripes 2- Diarréia 3- Dermatites 4- Coluna e Braços (Osteomuscular)
b) Qual foi a freqüência que o Senhor(a) utilizou atestados médicos para
a ausência ao serviço:
1-Nunca 2- Uma vez/ ano 3- De 2 a 4 vezes/ ano 4- Acima de 5 vezes/ ano
RISCOS FÍSICOS
b) Quanto ao odor do resíduo no momento do manuseio e transporte,
costuma sentir:
1- Sinto bem, estou acostumado 2- Mal-estar 3- Cefaléias 4- Náuseas
c) O que mais te incomoda no dia a dia de trabalho?
1- Não há incômodo 2- Odor 3- Poeira (olhos) 4- Poeira (Nariz)
RISCOS QUÍMICOS
d) Já se feriu ou houve algum tipo de desconforto no manuseio ou
transporte de:
™
Pilhas, baterias, óleos e graxas, solventes, tintas, remédios e
outros.
1- Nunca 2- Raramente 3- Poucas vezes 4- Freqüentemente
RISCOS OCUPACIONAIS E ACIDENTAIS
e) Ao manusear ou transportar os resíduos diários, já houve acidentes:
™ Cortes com vidros, materiais perfurocortantes ou pontiagudos.
1-Nunca 2- Sim, 1 vez/ mês 3- 1 vez/ semana 4- 3 ou mais vezes/ semana
f) Na rotina diária já houve:
1-
Má postura ao equipamento 2- Quedas 3- Ferimentos 4- Atropelamento
RISCOS SOCIAIS
g) Qual é a percepção do serviço do Senhor(a) em relação a sociedade:
1- Sinto bem 2- Indiferente 3- Pouco discriminado 4- Muito discriminado
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AVALIAÇÃO DA SAÚDE OCUPACIONAL DOS GARIS