A construção do bem comum, responsabilidade da Igreja
Reflectir sobre este tema é desde logo desafiante. Aparentemente abstracto é, no
entanto, um assunto na ordem do dia embora nem sempre com o mesmo significado.
Daí que importa colocar algumas questões para orientar esta reflexão. O que é o Bem
Comum para a Igreja? E de que falamos quando falamos de Igreja? Da Instituição? Do
Povo de Deus?
De acordo com a Doutrina Social da Igreja o Bem Comum é entendido como “o conjunto
das condições de vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada um dos seus
membros, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” ou ainda por outras
palavras, “é o conjunto de condições que permitem e favorecem nos homens o
desenvolvimento integral da personalidade”. Ou seja, trata-se portanto da construção de
um conjunto de condições adequadas e flexíveis porque necessárias para que cada
pessoa possa viver plenamente na dignidade que lhe é inerente.
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Diz-nos ainda a Doutrina Social da Igreja que a responsabilidade de construção deste
conjunto de condições é de cada um de nós em particular e de cada sociedade em geral.
Fácil é deduzir que é também responsabilidade da Igreja. Mas julgo que é bom ir mais
além porque será a Igreja a ter esta Missão (a da construção do Bem Comum) ou há uma
Missão anterior à própria Igreja?
Estou em crer que se trata de uma missão anterior à própria Igreja porque se na sua
génese está Jesus, o Filho de Deus feito Homem, e se acredito que este (O Homem) está
feito como imagem e semelhança de Deus então é necessário tirar daí consequências.
Logo, não basta criar condições para humanizar os contextos em que vivemos mas é
necessário sonhar e concretizar condições para que possamos divinizar a humanidade
em geral e cada contexto em particular.
Assim sendo, falar de bem comum, é muito mais que falar de condições materiais que
permitam uma vida justa e com igualdade de oportunidades (considero que estas
também são fundamentais). É acima de tudo aceitar o desafio de estar sempre alerta para
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Quinta do Cabeço, Porta D - 1885-076 Moscavide - Tel./Fax: 218 855 498
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denunciar toda e qualquer condição que impeça o homem e a mulher de viver todo o
potencial que encerra em si mesmo, no seu contexto e no seu tempo. É, para além da
denúncia, o anúncio de possibilidade se trilhos de esperança que ajudem o homem e a
mulher a encontrar motivos e razões que os levem a sair de si para, em conjunto com
outros próximos, construírem estruturas de comunhão onde ninguém fique para trás.
Se a Igreja poderia viver sem ser em prol da construção do Bem Comum? Provavelmente
podia mas não seria a mesma coisa; não seria Igreja organização ao serviço do Homem
imagem e semelhança de Deus. Por isso, sim é responsabilidade da Igreja agir no sentido
de consciencializar estruturas e pessoas para a necessidade e responsabilidade de todos
e de cada na criação das condições necessárias para que o desenvolvimento de cada
pessoa seja pleno porque divino.
Dir-me-ão que este é o caminho que está a ser feito. Sim é verdade, ainda que com altos
e baixos, típicos de um povo que caminha. Mas é fundamental ter um olhar atento e
questionar porque é que no momento de tão grande progresso civilizacional, tantas
Pessoas vivem abaixo do limiar da sua dignidade?
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É inegável que a Igreja tem assumido de múltiplas formas esta sua responsabilidade que
lhe é intrínseca, quer através do pensamento que produz (a título de exemplo vejam-se
as interpelações lançadas nas duas últimas encíclicas e as implicações que delas podem
surgir se levadas à prática), quer da sua acção concretizada nas formas mais
espontâneas às mais organizadas. No entanto, nunca será demais lembrar que a Igreja
somo nós e como tal, a responsabilidade na Construção do Bem Comum, é bem concreta
porque se enquanto homens e mulheres “fomos criados como plenitude e sentido da
criação” por outro lado todos estamos chamados a ser “co-criadores desta obra que é de
todos”.
Henrique Joaquim
Professor e investigador, Universidade Católica Portuguesa
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