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Política
O Estado do Maranhão - São Luís, 16 de fevereiro de 2015 - segunda-feira
Economia
George Vidor
Sem alternativa
economia brasileira está no momento sem vetores
que possam impulsioná-la (ou drives, como gostam
de dizer os economistas). O petróleo, que era uma
forte alavanca, foi atingido por colossal tsunami, envolvendo a queda das cotações internacionais do produto e a crise
que deixou a Petrobras paralisada. No curtíssimo prazo, o
comércio exterior pouco pode contribuir. Assim, o fundamental agora é que a política econômica demonstre mesmo
que mudou de rumo, afastando do horizonte a possibilidade de perda do grau de investimento no conceito das agências internacionais que avaliam risco para credores.
A inflação é sempre motivo de preocupação, porém, agora é a ocasião mas adequada para realinhamento de preços
domésticos. É que o resto do mundo vive uma onda de deflação (os Estados Unidos possivelmente vão registrar uma
queda de 1,5% nos seus índices de preços em 2015), que deverá amortecer, por exemplo, os efeitos da desvalorização
do real. Alguns especialistas até acreditam que no segundo
semestre os índices de inflação no Brasil recuarão para um
ritmo anualizado de 5,5%.
O real mais desvalorizado evitará que a agropecuária tenha uma considerável perda de renda este ano em decorrência da queda das cotações em dólar. Parte da indústria
também está se beneficiando com a substituição de importações, reativando linhas de produção, porque antes era mais
barato comprar os mesmos componentes lá fora e, agora,
com o dólar a R$ 2,80, deixou de ser. No médio prazo, deve
ocorrer alguma recuperação de exportações, estimulada pelo câmbio desvalorizado.
O jeito então é apostar na correção do rumo da política
econômica. A presidente Dilma não tem alternativa, simpatize ela ou não com essa política.
A
Ninguém decide
Não são apenas as denúncias da operação Lava-Jato que
vêm deixando o setor de petróleo cada vez mais tenso. E
nem a suspensão de futuros investimentos pela Petrobras.
Quem tem algo a receber da estatal está penando para que
a empresa ponha os pagamentos em dia, mesmo de obras
em curso. Não chega a ser um problema de caixa da companhia, mas sim porque os gestores da empresa pararam de
tomar decisões até mesmo sobre obras que não estão no foco das denúncias.
Melhor que a China
Corretor de seguros é uma das mais antigas ocupações
no sistema financeiro brasileiro. Por muitos anos, os corretores foram o único canal de vendas das seguradoras. Para
o cidadão comum, contratos de seguro costumam ser um
mistério, e os corretores sempre foram úteis em ajudar a destrinchá-los. Mas, pela pequena dimensão do mercado, no
passado a escolha de corretores esteve mais vinculada ao
"compadrio" do que a critérios puramente profissionais. Essa realidade mudou, pois o mercado de seguros passou a
crescer aceleradamente. É um dos raros setores da economia que ainda se expande mais do que dois dígitos (acima
de 10% ao ano). O mercado se abriu e hoje concorrem no
setor corretoras estrangeiras, de olho no segmento de resseguros ou nos tipos de seguros contratados por empresas.
Os negócios da JLT inglesa, por exemplo, cresceram nada
menos que 40% no ano passado. Nem na China teriam alcançado esse percentual de expansão.
Especialistas dizem que o
debate sobre impeachment
de Dilma ainda é prematuro
Cientistas políticos acreditam que falta de provas de participação da presidente
nos escândalos da Petrobras enfraquece tese de cassação do mandato da gestora
Divulgação
Fernando Cazian
Da Folha Online
RASÍLIA - Manifestações
de rua programadas para
o próximo mês poderão
encorajar a oposição a voltar a falar na abertura de um processo
de impeachment da presidente
Dilma Rousseff (PT), tema que
entrou nas conversas dos políticos com a queda da sua popularidade e as dificuldades que ela
enfrenta na economia.
Grupos oposicionistas organizados nas redes sociais que promoveram protestos contra a presidente no fim do ano passado,
logo após sua reeleição, convocaram novas manifestações contra
Dilma para o dia 15 de março, um
domingo, em pelo menos 50 cidades, incluindo São Paulo e as
principais capitais.
Segundo especialistas, três fatores costumam contribuir para
esse tipo de pressão: crise econômica, uso indevido de recursos
públicos e a presença massiva do
povo nas ruas.
"Prematura", "imoral", "golpista" e "fora de hora" são expressões usadas hoje por especialistas para qualificar a tese do impeachment. Até o jurista Ives
Gandra Martins, que estimulou
a discussão com parecer favorável à abertura de um eventual
processo, afirma não ver "ambiente" para isso.
Ele afirmou que o parecer em
que Martins diz haver fundamentos para o impeachment por causa do escândalo da Petrobras foi
encomendado por José de Oliveira Costa, advogado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Mesmo se levado adiante,
Martins vê como mínimas as
chances contra Dilma. "Diante
da necessidade de dois terços dos
votos de parlamentares para o
impeachment, até o Collor teria
se livrado se tivesse trabalhado
B
Presidente Dilma Rousseff tem maioria no Congresso Nacional, o que também dificultaria uma cassação
um pouco", afirma o especialista. O ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) foi o único mandatário deposto em um
processo desse tipo no Brasil.
Para o jurista Tales Castelo
Branco, considerar a possibilidade de impeachment hoje é uma
atitude "imoral por parte dos derrotados na eleição e totalmente
contrária à ética política".
Provas- Segundo vários especialistas, não há provas concretas do
envolvimento de Dilma nas duas
frentes que poderiam gerar um
processo: sua participação direta nos desmandos da Petrobras
ou que ela soubesse que parte do
dinheiro desviado da estatal teria
ido parar no caixa do PT, financiando sua reeleição.
O cientista político Fábio Wanderley Reis considera "prematu-
ra" a discussão neste momento.
Mas não partilha da opinião de
que seria "golpe" abordar o tema.
Assim como outros, o cientista político Marcus Melo, da Universidade Federal de Pernambuco, lembra que processos de impeachment costumam ser "políticos". Ele considera que Dilma
pode estar ingressando no que
chama de "tempestade perfeita".
"Dilma sofre de perda massiva de popularidade, de fratura na
sua base de sustentação e enfrentará uma situação econômica extremamente adversa", diz Melo.
"E há um componente importante de 'estelionato eleitoral' (ao
adotar medidas amargas no pós
eleição) que pode colocar a população contra ela."
Melo cita estudo de sua colega canadense Kathryn Hochstetler, da Universidade de Waterloo,
mostrando que, entre 1978 e
2007, 40% dos mandatários latino-americanos sofreram tentativas de impeachment tendo como "pré-requisitos" crise econômica, indícios de irregularidades
e manifestações.
O cientista político Cláudio
Gonçalves Couto afirma que
"não é a hora" de falar sobre impeachment e que isto seria "temerário". Ele espera, porém, um
desgaste cada vez maior de Dilma na área econômica e um "aumento da insatisfação, com cada
vez mais gente na rua".
Seu colega da FGV-SP Fernando Abrucio diz não existir
"nenhuma implicação legal"
contra Dilma que justifique um
processo de impeachment. Embora afirme que esse tipo de processo seja predominantemente
político.
Carnes, sucos, calçados
Por falar em China, na semana que vem, em São Paulo,
o Conselho Empresarial Brasil-China divulga um estudo sobre oportunidades de negócios com os chineses, que não se
limitam, daqui para lá, ao minério de ferro, à soja, ao petróleo e à celulose (produtos que respondem hoje por 80% do
que a China importa do Brasil). No estudo, que teve a colaboração dos economistas Cláudio Frischtak e André Soares,
foram identificadas oportunidades especialmente nas carnes (bovina, suína e de frango), nos sucos, e nos calçados.
O ritmo de crescimento chinês vem diminuindo, mas ainda se espera que 250 milhões de pessoas migrem do campo
para a cidade, formando um mercado consumidor urbano
ainda a explorar, que ultrapassa a população somada do
Mercosul.
Os chineses comem basicamente carne suína (64%). A
segunda opção é o frango (21%), pois são, simultaneamente, os segundos maiores produtores e importadores mundiais. O consumo de carne bovina é relativamente novo na
China, impulsionado pelo surgimento de churrascarias. Mesmo assim, nenhuma rede brasileira se aventurou ainda por
lá, talvez porque só em julho do ano passado o embargo à
importação de carne bovina daqui tenha sido suspenso. Os
chineses estão também começando a tomar café.
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Maioria da comissão da reforma
política quer fim da reeleição
Agência Câmara
Enquete mostra opinião
de deputados que vão
discutir mudanças
nas regras eleitorais
Brasília - Dos 34 deputados titulares integrantes da recém-instalada comissão especial sobre a
reforma política, pelo menos 23
são favoráveis ao fim da reeleição
do presidente da República, dos
governadores e dos prefeitos. A
maioria, cerca de 22 deputados,
também é favorável à coincidência da data das eleições, conforme enquete realizada pela Agência Câmara, que mostra a tendência anterior ao início dos debates da comissão. Responderam
ao questionário 28 dos 34 membros titulares.
O fim da reeleição e a coincidência das eleições municipais
com as eleições estaduais e federal a partir de 2018 estão previstos na Proposta de Emenda
à Constituição (PEC)352/13, que
será a base do início dos debates da comissão especial. "Acredito que o fim da reeleição é um
ponto de convergência de quase todos os parlamentares", opina o deputado Victor Mendes
(PV-MA).
Deputados da comissão especial que analisará a PEC da reforma política dizem que fim da reeleição é consenso
O deputado Henrique Fontana (PT-RS), que foi relator da reforma política na legislaturapassada, destaca que só é a favor do
fim da reeleição se forem instituídos mandatos mais longos, de
cinco anos.
Favoráveis ao fim da reeleição, o líder do Solidariedade, Arthur Maia (BA), e os deputados
Benito Gama (PTB-BA) e Milton
Monti (PR-SP) também defendem mandatos mais longos, de
cinco anos. Monti é a favor da
realização de eleições em uma
data única: "Desse modo, certamente teríamos possibilidades
de desenvolver um trabalho melhor, seria mais útil para o Brasil”, disse.
Mais
A PEC 352/13, apresentada por um grupo de trabalho da Câmara, também prevê o fim do voto obrigatório, instituindo o
voto facultativo. Esse ponto é rejeitado por 15 integrantes da
comissão especial, como os petistas Rubens Otoni e Henrique
Fontana; os deputados do PP Espiridião Amin e Renato Molling (RS); e Marcelo Castro (PMDB-PI), que acreditam que o voto deve continuar sendo uma obrigação do cidadão. "Por enquanto, o país não está preparado para o voto facultativo; ainda precisamos melhorar o ensino, a nossa cultura", argumenta Molling.
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Especialistas dizem que o debate sobre impeachment de Dilma